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LEGISLAÇÃO E ÉTICA

PROFISSIONAL

Ana Paula Maurilia dos Santos


Princípios éticos do
estudante de educação física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os princípios éticos do estudante de educação física.


 Apontar as especificidades da conduta ética para estudantes de
educação física.
 Explicar a importância da ética na formação de profissionais de edu-
cação física preparados para o mercado de trabalho.

Introdução
Neste capítulo, você vai ler um pouco mais sobre os princípios éticos dos
estudantes de graduação em educação física, além de outras especifici-
dades da conduta ética que são essenciais para a atuação futura e que
explicam muito sobre a importância da ética na formação de profissionais
de educação física preparados para o mercado de trabalho.
Você conhecerá os seus compromissos éticos e como a formação
profissional tem trabalhado para desenvolver esses valores essenciais à
oferta de serviço à sociedade, tão importantes quanto o conhecimento
técnico da profissão. Você compreenderá também que, uma vez que o
estudante está sendo preparado para desempenhar todas as funções
inerentes à área, muitas das temáticas aqui abordadas, dizem respeito
ao estudante recém-formado — e por isso, já com o dever de exercer
sua função com profissionalismo, dada a relevância da competência
técnica e da responsabilidade social abordadas durante a sua preparação
profissional e tão defendidas pelo órgão regulador da profissão — o
Conselho Federal de Educação Física (Confef).
2 Princípios éticos do estudante de educação física

Princípios éticos na preparação profissional


De acordo com o Confef (2014), os princípios fundamentais exigíveis a todo
estudante do curso da educação física são os mesmos constantes do Código de
Ética do Profissional de Educação Física, uma vez que o estudante está sendo
preparado para exercer todas as funções inerentes à área, desde a responsa-
bilidade social até a diligência com os que participam de seus momentos de
aprendizado acadêmico-profissional.
No entanto, isso não significa dizer que os estudantes estejam aptos a
desempenhar as funções dos profissionais. Pelo contrário, os estudantes de
graduação são considerados como indivíduos não capazes de assumirem
legalmente responsabilidades profissionais e sociais, por isso o alerta feito aos
estudantes é que a prestação de serviços sem ter a competência necessária ou
sem estar atento para que esta se consubstancie comete infração aos princípios
da ética (MARTINS, 2015).
Nesse contexto, os estudantes de educação física devem ter conheci-
mento sobre as delimitações de competências e espaços da sua intervenção
profissional futura, compreender a sua responsabilidade social e estudar o
código de ética profissional. “Essas necessidades integram o conjunto de
saberes que articulam a formação acadêmica e o exercício profissional e
primam por uma visão integradora do mundo acadêmico e do mundo do
trabalho, do ensino superior e do exercício profissional” (MARTINS, 2015,
documento on-line).
Segundo Tojal, Costa e Beresford (2004), faz-se necessária a preocupação
com a preparação de profissionais éticos, cuja conduta esteja amparada na
responsabilidade social e no desenvolvimento de atitudes éticas na comu-
nidade. Para o Confef (2014), é inquestionável que a prática profissional
precisa do conhecimento técnico para se materializar, mas a dimensão
pessoal, o pensamento e as posturas críticas e reflexivas, assim como o
compromisso social, são insubstituíveis no processo de profissionalização
de uma categoria.
Além dos princípios fundamentais que norteiam a conduta ética dos pro-
fissionais — e dos estudantes — de educação física, existem outras especi-
ficidades da conduta ética essenciais para a atuação futura e que explicam
muito sobre a importância da ética na formação de profissionais de educação
física preparados para o mercado de trabalho. Drumond (2006) os intitula
como decálogo de compromissos éticos (Quadro 1).
Princípios éticos do estudante de educação física 3

Quadro 1. Decálogo de compromissos éticos

A prática da virtude da excelência. Não há qualidade


1. Competência
possível sem a busca da excelência; afinal, é esse o
profissional
encontro da qualidade com a ética.

A relação do profissional de educação física com o seu


cliente deve estar permeada pela sinceridade e hones-
2. Honestidade
tidade de propósitos, razão primeira da confiabilidade
e confidencialidade.

O princípio moral pelo qual o profissional se compro-


mete a manter na esfera do segredo particular tudo
3. Confidencialidade
o que ouvir ou inferir durante o exercício da profissão,
excetuando-se os casos de dever legal ou justa causa.

Relacionada à proteção do cliente, vedando ao profis-


4. Manutenção das
sional a obtenção de quaisquer vantagens pessoais,
relações apropriadas
que possam ser consideradas espúrias, nas relações
como o cliente
com o seu cliente.

Influenciada por vários fatores, desde a natureza do


5. Melhoria da serviço até a infra- estrutura disponível e as possibilida-
qualidade de des financeiras do cliente. O profissional deve procurar
atendimento evitar qualquer tipo de restrição que possa prejudicar
o seu beneficiário.

Os profissionais devem fazer valer os direitos dos


cidadãos. Devem passar a exigir que todo cidadão
6. Melhoria do acesso
tenha acesso à educação física, sem discriminação de
à educação física
qualquer espécie — raça, opção política e ideológica,
gênero ou condição social.

Ainda que não seja responsável pelas políticas de


7. Adequada educação e saúde do País, o profissional de educa-
disponibilização ção física, por seu compromisso com a justiça social,
dos recursos para deve pugnar pelo princípio da equidade, visando à
a educação física melhoria da qualidade de vida e à inclusão social dos
cidadãos de menor poder aquisitivo.

Dever moral de atualização técnica permanente a


8. Conhecimento fim de manter os padrões científicos da sua profissão.
científico Estímulo ao desenvolvimento da pesquisa científica
para produção de novos conhecimentos.

(Continua)
4 Princípios éticos do estudante de educação física

(Continuação)

Quadro 1. Decálogo de compromissos éticos

O profissional deve se manter infenso a quaisquer vantagens


pessoais, profissionais, financeiras, etc. em relação à indústria
9. Credibilidade
e ao comércio de equipamentos esportivos, a empresas de
eventos e a empresas farmacêuticas, por exemplo.
Necessidade de se trabalhar em regime de cooperação
para que seja eficiente a intervenção no cliente, exigindo-
10. Responsabilidade
-se respeito aos colegas e demais profissionais nas suas
respectivas áreas de atuação.

Fonte: Adaptado de Drumond (2006).

Podemos pressupor que as informações contidas nesse quadro representam,


principalmente, a qualidade e as competências necessárias ao profissional desde
o início de sua participação no mercado de trabalho, o que lhe possibilitará que
entenda e assuma sua responsabilidade ética e civil em todos os procedimentos
(TOJAL; BARBOSA, 2006).
A partir desse entendimento faz-se necessário tratar de questões que envol-
vem a sua preparação acadêmica, já que, ao concluir o período de preparação
(graduação), deve demonstrar ter a capacidade mínima exigida para desem-
penhar a atuação profissional, “[...] sem que para isso disponha de tempo ou
mesmo de oportunidades para titubear, entendido como falta de oportunidade
de experimentar/fazer experiências, uma vez que não existem limites mínimos
para a sua atuação, a não ser a sua ética profissional, que deve ser, exclusi-
vamente, uma ética do conhecimento” (TOJAL; BARBOSA, 2006, p. 93).

Preparação profissional é o processo a que se submetem certos grupos de pessoas,


na busca de identificar, analisar, estudar, entender e desenvolver conhecimentos cien-
tíficos, que favoreçam a resolução de problemas. Essa preparação é desenvolvida nas
universidades, que apresentam possibilidades de ensino e participação em projetos de
extensão, envolvendo o conhecimento adquirido no curso e a experiência identificada
junto à comunidade, o que permite a participação em projetos de iniciação cientifica
e o desenvolvimento de pesquisas, que contribuirão para a melhoria da preparação
profissional oferecida (CAZELATO, 2006).
Princípios éticos do estudante de educação física 5

Assim se estabelece que ética profissional é a melhor e mais qualificada


capacidade de atenção, avaliação, intervenção e resolução de questões e pro-
blemas, com total competência, dedicação e responsabilidade, oferecidas
ao cliente pelo profissional, que deverá ouvir a voz da razão — o “deve” e o
“pode” (CAZELATO, 2006).
Diante do exposto, faz-se necessária a oferta de uma formação que
contemple não só aspectos técnicos, e por isso eleva-se a necessidade de
a ética fazer parte de um núcleo comum, assumindo importante papel na
construção moral e política do estudante, constituindo-se em uma ferramenta
diferencial à falta da ética. De acordo com Tojal, Costa e Beresford (2004),
a ética vai além de ser um conteúdo necessário à formação profissional;
trata-se de uma questão de atitude que se adota a partir do conhecimento
científico e generalizado sobre o ser humano, a sociedade e as suas causas
e possibilidades.

O ensino da ética na formação superior


Na atualidade, o ensino da ética na formação superior tem se tornado cada vez
mais um ponto de consenso entre intelectuais e docentes. Há uma compreensão
explícita da importância desse conhecimento, tanto na dimensão maior da
formação humana quanto no âmbito da preparação profissional específica,
quando os códigos de ética das profissões são analisados e os estudantes têm
as primeiras noções sobre os seus direitos e deveres profissionais perante a
sociedade em geral (MARTINS, 2015).
Estar graduado em educação física significa ser um profissional que,
ao egressar de uma faculdade, consiga, após a conclusão dos seus estudos,
ingressar no mercado de trabalho sem necessidade imediata de novos co-
nhecimentos mais especializados. Ou seja, de acordo com Tojal e Barbosa
(2006), o conhecimento adquirido durante a formação profissional deve ser
suficientemente capaz de oportunizar aos recém-formados a prestação de
serviços de qualidade à sociedade, que incluem as funções profissionais
discriminadas a seguir.

 Identificar: a necessidade de saber quem é, ou o que é, e ainda de que


se trata — estabelecimento do primeiro contato com o seu beneficiário
(cliente), seja ele uma pessoa ou um grupo de pessoas ou ainda um
serviço ou qualquer tipo de instituição. Como primeiro passo, deve
6 Princípios éticos do estudante de educação física

conseguir desenvolver uma anamnese para compreender as condições


e analisar se dispõe dos conhecimentos necessários visando ao aten-
dimento para que foi procurado.
 Diagnosticar: após a análise do problema que lhe foi apresentado, o
profissional deve desenvolver o próximo passo, um dos mais importantes
e definidor das suas possíveis ações. O diagnóstico é um procedimento
de identificação, com a maior segurança possível, das causas que le-
varam ao problema que deu origem ao atendimento. O diagnóstico
define exatamente o nível de envolvimento de um profissional que se
apresente capaz de solucioná-lo.
 Prescrever: devem-se elencar os procedimentos indicados para a re-
solução das questões e/ou problemas do cliente, informando sobre as
condições e procedimentos indicados, devendo anotar em prontuário
próprio e entregar uma cópia por escrito ao beneficiário, para que este
se decida sobre a continuidade ou não do atendimento.
 Planejar: organização de um planejamento que favoreça a busca por
sanar o problema. Devem constar todas as condições necessárias e in-
dispensáveis para o desenvolvimento do melhor atendimento, tais como
a modalidade do atendimento; a intensidade; a duração; a frequência
semanal; a progressão das atividades; a frequência mínima (periodici-
dade) de sessões desejáveis por semana e/ou mês; equipamentos a serem
utilizados; tempo de reavaliação; custos operacionais; e outros dados
indicados para cada tipo de atendimento. O profissional deve informar
ainda, com exatidão, quais benefícios poderão ser ou serão alcançados
a cada etapa do atendimento.

Assim, os autores constatam que seria impensável a qualquer indivíduo


que pretenda atuar como profissional de educação física — uma profissão
de nível superior e regulamentada por lei — não dispor de conhecimentos
específicos e especializados para o atendimento da população (TOJAL;
BARBOSA, 2006). E ao não se aceitar que qualquer profissional diletante
possa atuar na profissão educação física, não se pratica um procedimento
de exclusão, mas se procura resguardar a qualidade do atendimento que é
prestado à sociedade pelos profissionais graduados em educação física, sejam
eles licenciados ou bacharéis.
Princípios éticos do estudante de educação física 7

Enquanto a licenciatura prepara o profissional para atividades voltadas à educação e


à pesquisa em educação física, o bacharelado existe para atender a comunidade na
promoção direta da saúde, lazer, cultura e atividades físicas, recreativas ou esportivas
em geral, entre outros, buscando o bem-estar social:

A formação em licenciatura é voltada às atividades de docência, pes-


quisa e prática pedagógica, garantindo conhecimentos e competências
requeridas para a docência na educação infantil, no ensino fundamental
e no ensino médio, sem prescindir de estudos específicos das diferentes
áreas do conhecimento.
Quanto ao bacharelado, confirma o imperativo da centralidade na
formação para desenvolver ações de: prevenção, promoção, proteção
e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e da reedu-
cação motora, do rendimento físico-desportivo, do lazer, da gestão de
empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e es-
portivas, além de outros campos que promovam ou venham a promover
a prática de atividades físicas, recreativas ou esportivas (MARTINS,
2015, documento on-line).

Dentro da temática proposta por este capítulo, percebe-se uma estreita e


efetiva relação entre o exercício da profissão e a formação superior. Essa relação
“[...] é marcada, entre outros aspectos determinantes, pela consequência natural
da conclusão de um curso de graduação, ou seja, a inserção dos egressos no
mundo do trabalho com elevado nível de competências científica, técnica,
ética e cidadã” (MARTINS, 2015, documento on-line).
Segundo o mesmo autor, no documento intitulado “Intervenção profissional
e formação superior em educação física”, no âmbito da formação profissional,
vale ressaltar o papel do estágio curricular pelo seu desenvolvimento de acordo
com as áreas específicas de intervenção profissional (MARTINS, 2015). Nele, a
aplicação das atividades propostas para o estagiário, incluindo a correspondente
responsabilidade ética, deve favorecer o aprendizado e a vivência de atitudes,
competências e habilidades próprias da profissão, preparando o aluno para o
exercício profissional futuro. Nesse contexto, acredita-se que o estágio, junto
com as demais disciplinas ofertadas, oferece a articulação necessária para a
qualidade do exercício profissional.
8 Princípios éticos do estudante de educação física

A importância da ética e do profissionalismo


Até o momento, podemos verificar que a questão da ética profissional
em educação física exige uma preparação adequada e de acordo com as
necessidades emergentes de todo profissional iniciante. A conclusão da
graduação não deve dispensar a busca por continuidade da preparação
em programas de pós-graduação, tipo especialização profissionalizante,
quando se pretende ampliar ou modificar o campo de atuação e visando
referenciar as condições de complexidade de vivência da sociedade (CA-
ZELATO, 2006).
O profissionalismo e a produção do conhecimento são partes fundamentais
no espaço da educação física, evidentemente, descritos a partir da ética. Muito
mais que a importância da regulamentação da profissão, é fundamental a com-
petência profissional. Entende-se que essa competência apenas será completa
se estiver embasada em um corpo de conhecimento que dê suporte teórico
(científico) e prático ao profissional que atua no mercado. Os profissionais de
educação física devem ser capazes de oferecer serviços confiáveis e de qua-
lidade e ter uma nova postura ética e profissional, que leve a transformações
políticas e econômicas (ANTUNES, 2015).
Para Drumond (2006), uma profissão, para ser exercida, deve estar alicer-
çada em três pilares simétricos:

1. a técnica;
2. o aprimoramento profissional;
3. a ética.

A técnica é o resultado da formação científica e cultural originada de um


conhecimento específico ou particular da ciência, que podemos denominar
lex artis profissional. O aprimoramento ou excelência profissional está re-
lacionado à atualização permanente da técnica, que é demandada de modo
continuado pelos avanços do conhecimento científico. Já a ética profissional
se configura como um conjunto de valores morais adotados por uma sociedade
e aplicados especificamente à prática de um determinado ofício.
O autor destaca, ainda, que o profissionalismo em educação física, de
igual modo ao profissionalismo em medicina, por exemplo, deve ter a sua
conformação ética balizada por três princípios fundamentais, associados
a um conjunto definido de responsabilidades sociais (DRUMOND, 2006).
Veja-os a seguir.
Princípios éticos do estudante de educação física 9

 Bem-estar: está alicerçado na dedicação do profissional de educação fí-


sica em favor do interesse do beneficiário. Esse altruísmo deve se constituir
no caráter da profissão, contribuindo decisivamente para o desenvolvi-
mento da confiabilidade, elemento central na relação profissional-cliente.
 Autonomia: respeito que o profissional deve ter para com a liberdade
de decisão do cliente. É preciso ser honesto e sincero com o cliente,
permitindo-lhe o exercício democrático de um direito inalienável e funda-
mental — o de tomar decisões a respeito da intervenção que lhe é proposta.
 Justiça social: contribuição ativa para a eliminação das inúmeras práticas
de discriminação do ser humano nos sistemas de educação e saúde, as
quais geralmente se baseiam em questões de raça, gênero, situação socio-
econômica, etnia, religião ou outra categoria social (DRUMOND, 2006).

Nesse contexto, o profissional de educação física contemporâneo deve reco-


nhecer que esta é uma área do conhecimento cuja inserção é na prática social;
que a intencionalidade, em qualquer das suas atividades, é educativa; e que a
concepção de educação que norteia as suas ações está em uníssono com uma
prática reflexiva, crítica e criativa, concretamente praticada em defesa da vida.
Portanto, os três princípios bioéticos — beneficência, autonomia e justiça —,
mais do que referências intelectivas, são, na prática, desdobrados em atos qua-
lificados de sentido, atos morais e consequente imagem de profissão cuja práxis
se mostra, social e gradativamente, inclusiva e incluída (DRUMOND, 2006).

ANTUNES, A. C. Mercado de trabalho e educação física: aspectos da preparação pro-


fissional. Revista de Educação, [s. l.], p. 141-149, 2015. Disponível em: http://files.antunes.
webnode.com.br/200000004-6c0cb6d068/MERCADO%20DE%20TRABALHO.pdf.
Acesso em: 23 abr. 2019.
CAZELATO, J. A. M. Preparação profissional para uma intervenção ética. In: TOJAL, J. B.;
BARBOSA, A. P. (org.). A ética e a bioética na preparação e na intervenção do profissional
de educação física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006.
CONFEF. Guia dos princípios éticos dos estudantes de educação física: disposição é o
que não falta para praticá-la. Rio de Janeiro: Sistema CONFEF/CREFs, 2014. Disponível
em: https://www.listasconfef.org.br/arquivos/guia.principios.2014.pdf. Acesso em:
23 abr. 2019.
10 Princípios éticos do estudante de educação física

DRUMOND, J. G. F. O profissionalismo em educação física. In: TOJAL, J. B.; BARBOSA, A.


P. (org.). A ética e a bioética na preparação e na intervenção do profissional de educação
física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006.
MARTIS, I. M. L. (org.). Intervenção profissional e formação superior em educação física:
articulação necessária para a qualidade do exercício profissional. Rio de Janeiro: Sistema
CONFEF/CREFs, 2015. E-book. Disponível em: https://www.listasconfef.org.br/arquivos/
INTERVENCAO_DOCUMENTO_FINAL.pdf. Acesso em: 23 abr. 2019.
TOJAL, J. B. (org.).; COSTA, L.; BERESFORD, H. (ed.). Ética Profissional na educação física.
Rio de Janeiro: Shape, 2004.
TOJAL, J. B.; BARBOSA, A. P. (org.). A ética e a bioética na preparação e na intervenção do
profissional de educação física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006.

Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação
Superior. Resolução nº. 6, de 18 de dezembro de 2018. Institui Diretrizes Curriculares
Nacionais dos Cursos de Graduação em Educação Física e dá outras providências.
Diário Oficial da União, 19 dez. 2018. Disponível em: https://www.semesp.org.br/wp-
-content/uploads/2018/12/RESOLU%C3%87%C3%83O-CNE_CES-N%C2%BA-6-DE-18-
-DE-DEZEMBRO-DE-2018.pdf. Acesso em: 23 abr. 2019.
BRUM, L. R. Ética e corpo na formação docente em educação física. 2009. Dissertação
(Mestrado em Educação) — Programa de Pós-graduação em Educação, Universi-
dade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, 2009. Disponível em: https://repositorio.
ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/506/Dissertacao%20Lisiane%20Reis%20Brum.
pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 23 abr. 2019.
NUNES, M. P.; VOLTRE, S. J.; SANTOS, W. O profissional em educação física no Brasil:
desafios e perspectivas no mundo do trabalho. Motriz, Rio Claro, v. 18, n. 2, p. 280-290,
abr./jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/motriz/v18n2/v18n2a08.pdf.
Acesso em: 23 abr. 2019.
VILELA, R.; BOTH, J. Associação entre a faixa etária e as preocupações dos estudantes-
-estagiários em educação física — bacharelado. Revista Brasileira de Ciência e Movimento,
[s. l.], v. 24, n. 2, p. 45-54, 2016. Disponível em: https://bdtd.ucb.br/index.php/RBCM/
article/view/5344/4392. Acesso em: 23 abr. 2019.
ECOLOGIA E
ANÁLISES
AMBIENTAIS

Alana Maria Cerqueira de Oliveira


Saúde humana e
educação ambiental
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os principais efeitos da degradação ambiental na saúde


humana.
 Listar os impactos a longo prazo da degradação ambiental na saúde
e no desenvolvimento humano.
 Descrever as metas de educação ambiental.

Introdução
Saúde humana e degradação ambiental são dois temas globais em
ampla discussão no momento. Nesse contexto, é importante examinar
as diversas conexões potenciais entre esses dois tópicos. Teoricamente,
quanto mais rica a biodiversidade, maior a variedade de patógenos
que circulam na fauna, aumentando a probabilidade de infectarem
o ser humano. Entretanto, pesquisas têm demonstrado o contrário,
que mais espécies significam menos doenças, como se diluíssem os
vetores. Assim, uma vasta biodiversidade é garantia de proteção para
espécies que evoluem juntas; o problema surge apenas quando há
um desequilíbrio ou perturbação do sistema natural, resultando em
novas patologias, com saltos interespécies, passando a incluir muitas
vezes o ser humano.
Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de entender as estreitas
relações entre degradação ambiental e saúde humana e suas consequên-
cias a curto e longo prazos, além da importância da educação ambiental
na redução do problema.
2 Saúde humana e educação ambiental

1 Degradação ambiental e a saúde humana


A degradação ambiental não é uma preocupação recente, mas tem aumen-
tado de forma rápida e contínua, resultando em redução da biodiversidade,
poluição atmosférica e alterações climáticas, além de redução dos serviços
ecossistêmicos, com consequências para a saúde humana, podendo reduzir
nossa expectativa de vida. A redução da biodiversidade tem consequência
direta na saúde, principalmente decorrente do transbordamento de patologia
antes exclusivamente selvagem, passando a zoonoses e adaptando-se para
transmissão homem–homem. Por sua vez, a redução de serviços ecossistêmicos
afeta indiretamente a saúde, já que atinge o fornecimento e a qualidade de
água, ar limpo e alimentos.
O desmatamento, na maioria das vezes, é seguido de incêndios. Mudanças
climáticas, incluindo aumento da temperatura, contribuem para condições mais
quentes e secas, o que aumenta o risco de incêndios florestais. “Os efeitos
dos incêndios florestais sobre a saúde variam de lesões térmicas diretas à
exacerbação de sintomas respiratórios agudos e crônicos devido à exposição
à fumaça” (WATTS et al., 2019, p. 1842, tradução nossa).

Redução da biodiversidade
A degradação ambiental tem nítido efeito sobre a saúde humana e, portanto,
tem sido uma preocupação eminente. Os biomas estão sendo devastados em ve-
locidade ascendente e as áreas de preservação que restam acabam sendo muito
simplificadas. A degradação do ecossistema resulta em extinção de diversas
espécies e, como agravante, em extinção de predadores de topo, abalando a
cadeia alimentar e consequentemente privilegiando espécies mantenedoras
de patógenos. Tais espécies, facilmente adaptáveis às mudanças ambientais,
aproximam-se mais facilmente do ser humano, que passa a fazer parte de um
ciclo, tornando-se hospedeiro acidental de um ciclo originalmente silvestre.
Muitas patologias emergentes e reemergentes estão ligadas diretamente ao
desmatamento e ocorrem onde áreas suburbanas se espalham para terras
recém-desmatadas. Também podem ser causadas pela caça e por associação
a mercados de vida selvagem e criação intensiva de animais. Alguns vetores
aumentam a incidência em terras recentemente desmatadas, como aqueles
que causam patologias como malária, dengue, a doença de Lyme e o vírus
do Nilo Ocidental.
“Ao conduzir estradas para florestas, fragmentar ecossistemas, minerar em
áreas remotas e incentivar o comércio global, não estamos apenas destruindo
Saúde humana e educação ambiental 3

a vida selvagem, mas criando as condições perfeitas para que novas doenças
surjam e se voltem contra nós” (VIDAL, 2020, tradução nossa). Para Johnson et
al. (2020), os elementos de risco associados ao transbordamento e surgimento
de novas patologias são os mesmo desencadeantes da redução da população
silvestre e do risco de extinção, tais como: domesticação de animais, invasão
humana em habitats ricos em biodiversidade selvagem e caça de animais
silvestres. O risco de propagação de vírus em larga escala é sustentado pela
probabilidade de interações animal–humano.

A redução da biodiversidade também é gerada por sistemas agrícolas de alta intensi-


dade. A pecuária e a avicultura são constantemente o produto final de uma perda de
biodiversidade. Ao serem selecionados exemplares geneticamente semelhantes, que
geralmente vivem em condições intensivas, caso sejam susceptíveis a determinado
patógeno a doença acabará se espalhando de maneira acelerada (VIDAL, 2020).

Quase 75% de todas as doenças infecciosas emergentes que afetam ou


ameaçam a saúde humana são zoonóticas. Muitas transbordam de reservatórios
de vida selvagem diretamente para seres humanos ou por meio de animais
domésticos e depois humano–humano. O desequilíbrio do habitat natural
silvestre por expansão agrícola, desmatamento e urbanização aumenta a
taxa de contato entre populações humanas, animais domésticos e animais
selvagens, criando maiores oportunidades para a ocorrência de eventos de
transbordamento (FIELD, 2009).
Johnson et al. (2020) relatam que a quantidade de vírus zoonóticos detecta-
dos em espécies de mamíferos aumenta com a abundância global de espécies,
sugerindo que o risco de transmissão de vírus é maior em espécies animais
que se proliferaram e até expandiram seu alcance, adaptando-se a paisagens
dominadas por humanos. Os pesquisadores enfatizam que a detecção do trans-
bordamento de patógenos selvagens para o ser humano não é fácil, pois existe
muita subnotificação, além de algumas patologias incluírem sintomas leves,
inespecíficos ou semelhantes a outra patologia já comum ao ser humano. Para
muitos especialistas, a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade é a
única alternativa de evitar novas doenças fatais e com potencial de pandemia
como a Covid-19.
4 Saúde humana e educação ambiental

Apesar de um recente aumento na preocupação entre degradação am-


biental e saúde humana, esse não é um tema novo. Em 1997, incêndios na
ilha de Bornéu devastaram uma área de floresta tropical intocada e com
grande biodiversidade. Como consequência, milhões de pessoas sofreram
graves doenças respiratórias. O incêndio só foi eliminado meses depois, com
a chegada da temporada de chuvas. Entretanto, com os incêndios, as espécies
que sobreviveram tiveram que migrar para poder garantir sua alimentação,
incluindo uma espécie de morcegos frutíferos, que migrou centenas de qui-
lômetros até as proximidades da cidade de Sungai Nipah, na Malásia, onde
foram observados pousando nas árvores e jogando pedaços de frutas meio
comidas sobre a criação suína local. Segundo cientistas, foram responsáveis
por uma doença misteriosa altamente infecciosas que atingiu porcos e depois
humanos, cujos sintomas característicos eram convulsões e dores de cabeça,
o que resultou na morte de 105 pessoas e sacrifício de milhões de porcos. Em
2004, os cientistas concluíram que a transmissão para os porcos se deu por
frutas e urina do tal morcego (VIDAL, 2020).
O caso de Sungai Nipah chama a atenção, já que morcegos são reservatórios
de diversos vírus e importantes hospedeiros zoonóticos, já tem sido vincu-
lados ao surgimento de doenças mortais como ebola e febre hemorrágica de
Marburg, na África. A lista de patologias que podem ser fatais para o homem
e que são decorrentes da ação antropogênica não é pequena: incluem algumas
das doenças mais mortais já encontradas pelos seres humanos, como HIV,
ebola, febre de Lassa, doença de Chagas, machupo, hantavírus, síndrome
respiratória do Oriente Médio (MERS), síndrome respiratória aguda grave
(SARS) e Covid-19 (VIDAL, 2020).
A transmissão da doença de Chagas também tem sido relacionada à degra-
dação ambiental. Com o desmatamento para o plantio de açaí, os animais de
topo da cadeia alimentar (predadores) somem, ocasionando uma proliferação
de gambás e roedores, que são bons vetores de Trypanosoma cruzi e têm grande
capacidade de adaptação a ambientes alterados. Outra questão é a preferência
dos barbeiros pelas palmeiras, que são muito comuns em áreas degradadas.
Com o surgimento de populações nas proximidades, estabelece-se o elo de
aproximação com o ser humano, gerando novos ciclos em localidades onde
até então a doença não existia.
Saúde humana e educação ambiental 5

Na doença de Lyme, uma espécie de veado é o reservatório da doença. Também


conhecida como borreliose de Lyme, é uma zoonose emergente transmitida por
carrapatos Ixodes ricinus (carrapatos dos veados), inicialmente identificada em 1975,
na cidade de Old Lyme, Estados Unidos. A doença é causada por espiroquetas Borrelia
burgdorferi. O paciente pode apresentar dores nas articulações e nos músculos, dor de
cabeça, febre, erupção cutânea, fadiga, inchaço nas articulações, entre outros sintomas.
Com o desaparecimento de seus predadores naturais por ação do ser humano, os
veados que são reservatório da doença começaram a se proliferar. Com o povoamento
humano nas redondezas das florestas onde vivem essas populações, criou-se o elo
necessário para a transmissão ao ser humano.

Figura 1. Eritema migratório, um dos sintomas da doença de Lyme.


Fonte: Santos et al. (2010, documento on-line).

Poluição atmosférica
O sistema respiratório superior é o primeiro a responder negativamente à
poluição atmosférica, apresentando inativação do batimento ciliar e alteração
do olfato. Assim, doenças se desenvolvem e enfermidades pré-existentes são
agravadas. Uma das mais comuns nesse caso é a asma brônquica, que ocorre
devido à resistência das vias aéreas. Assim, crises asmáticas se devem ao
estreitamento dos bronquíolos decorrente do aumento da mucosa e do espes-
samento das secreções. Após a crise, os bronquíolos retornam ao tamanho
6 Saúde humana e educação ambiental

original. Na bronquite crônica, por sua vez, manifesta-se uma inflamação


das vias aéreas, com presença elevada de muco nos bronquíolos e tosse por
pelo menos três meses, até dois anos consecutivos. Já no enfisema pulmonar
ocorre a ruptura dos alvéolos, responsáveis pela troca de oxigênio. Por fim,
os efeitos da poluição podem levar até mesmo a câncer dos brônquios, uma
doença agressiva em que ocorre o crescimento celular anormal e desordenado
das células da membrana brônquica, obstruindo os bronquíolos e sendo muitas
vezes fatal.
Afora o sistema respiratório, poluentes atmosféricos perigosos ainda são
responsáveis por diversas outras patologias, como danos ao sistema nervoso
central e imunológico e malformação congênita. O mercúrio, por exemplo,
liberado na combustão do carvão, atinge o rim, o intestino e o cérebro, e
a exposição de gestantes a esse elemento leva a problemas na criança, tais
como mau desempenho em tarefas neurocomportamentais (manutenção da
atenção), em motricidade fina, em competência linguística, em habilidades
visuais e espaciais e em memória verbal. Por sua vez, o benzeno, o amianto
e o arsênico podem resultar em câncer.
No organismo humano, o monóxido de carbono (CO), um dos poluentes
atmosféricos mais comuns, compete com o oxigênio, pois a afinidade da he-
moglobina é maior pelo CO, formando carboxihemoglobina (COHb). Quando a
carboxihemoglobina atinge 5 a 10%, prejudica os reflexos, a visão e a atenção.
São mais sensíveis pessoas com patologias cardiovasculares e pulmonares
crônicas e os fetos (DAVIS; MASTEN, 2016).
Já o chumbo tem o agravante de ser cumulativo. Além de poder ser ina-
lado, também é ingerido nos alimentos e na água. Seu acúmulo no organismo
resulta em fadiga, irritabilidade, cefaleia, palidez, anemia, redução do quo-
ciente de inteligência (QI), constipação e câimbras abdominais, encefalopatia,
convulsões, coma e parada cardiorrespiratória, podendo levar à morte.
Os oxidantes fotoquímicos também são nocivos ao organismo humano,
com destaque para o ozônio (O3), o nitrato de peroxiacetila (PAN), a acroleína,
os nitratos de peroxibenzoila (PBzN), os aldeídos e os óxidos de nitrogênio.
O ozônio é utilizado como indicador da quantidade total de oxidantes pre-
sentes. Pequenas concentrações de ozônio causam irritação nos olhos, tosse
e desconforto no tórax. Os óxidos de enxofre (dióxido de enxofre, trióxido de
enxofre e seus respectivos ácidos) elevam os sintomas da bronquite crônica.
Níveis elevados de material particulado aumentam as hospitalizações,
elevando a incidência de asma, perda de função pulmonar e pneumonia, além
de aumentar o risco de morte por câncer e por complicações respiratórias e
cardiovasculares (DAVIS; MASTEN, 2016).
Saúde humana e educação ambiental 7

Poluição hídrica
A poluição hídrica afeta diretamente a saúde humana. São diversas as atividades
humanas que prejudicam a qualidade da água, como atividade agrícola, indus-
trial e mineradora, o despejo de efluentes domésticos, o deposito inadequado
de resíduos sólidos, entre outros.
O efeito direto da poluição hídrica na saúde humana não é recente. Em 1854,
o médico britânico John Snow investigou as causas de uma epidemia de cólera
na região central da cidade de Londres. Ele observou que no seu bairro havia
duas empresas fornecedoras de água diferentes, a Southwark e a Lambert.
Assim, relacionou os doentes com o local de abastecimento e demonstrou
que a cólera era transmitida pela água fornecida pela empresa Southwark,
que captava água do rio Tâmisa na parte mais poluída, enquanto a Lambert
captava água do rio Tâmisa antes da ejeção de excrementos (JOHNSON, 2008).
As patologias transmitidas pela água aos seres humanos decorrentes da
poluição hídrica podem ser classificadas conforme a forma de transmissão:

 ingestão de água, o que inclui a transmissão fecal-oral;


 contração durante o banho;
 por contato com água e decorrente do aumento de reprodução de vetores
que se reproduzem na água.

Assim, essas doenças resultam da baixa qualidade da água utilizada para beber,
para a higiene e outras finalidades. Entre as patologia estão diversas doenças
entéricas e diarreicas, doenças parasitarias, virais e bacterianas. Além disso,
altas concentrações de nutrientes, como nitratos, podem resultar em patologias
como metemoglobinemia infantil (síndrome do bebê azul), câncer de estomago,
distúrbios de tiroide, defeitos congênitos e distúrbios reprodutivos (BRASIL, 2013).
Diversos contaminantes orgânicos e inorgânicos também exercem impac-
tos na saúde humana, como os metais mercúrio, cobre e zinco, encontrados
naturalmente no meio ambiente. A longa exposição a elevados teores desses
metais pode resultar em consequências diretas aos seres humanos. O cádmio
está relacionado a distúrbios de função renal e fragilização óssea, o que resulta
em fraturas. O mercúrio inorgânico tem sido relacionado a doenças coronárias,
danos renais e distúrbios imunológicos. O chumbo tem sido relacionado com
problemas no desenvolvimento de fetos, vômitos, lesões celebrais, lesões nos
rins, danos ao sistema nervoso, distúrbios sanguíneos e morte. O arsênio, por
sua vez, pode resultar em cânceres e lesões na pele, enquanto o cobre provoca
irritação estomacal, náusea, vômito e diarreia (BRASIL, 2013).
8 Saúde humana e educação ambiental

Poluição do solo
A contaminação do solo afeta direta e indiretamente a saúde humana, seja
pela contaminação decorrente de dejetos humanos, diferentes resíduos sólidos
e utilização de agrotóxicos. O acúmulo de agrotóxicos tem o potencial de
promover a absorção de elementos minerais, sobretudo em solos expostos,
o que reduz seu grau de fertilidade. Se estiverem presentes no solo, nos
alimentos, na água ou no ar, podemos absorvê-los por ingestão, contato
com a pele ou inalação.
No Brasil, a Lei nº. 11.936, de 14 de maio de 2009, proibiu a fabricação, a
importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso
de diclorodifeniltricloretano (DDT) (BRASIL, 2009). Um questão preocupante
era a bioacumulação e biomagnificação do DDT na cadeia alimentar. Inseticidas
organoclorados podem permanecer no solo por mais de três décadas após sua
aplicação. Um dos efeitos no organismo humano é decorrente da atuação no
sistema nervoso central, o que pode resultar em distúrbios sensoriais e da
atividade da musculatura involuntária, perda de equilíbrio e depressão dos
centros vitais, particularmente da respiração. A intoxicação aguda pode levar
a cloracne, cefaleia, doença de Alzheimer, tonturas, convulsões, insuficiência
respiratória, câncer de pâncreas, potencialização de tumores cancerígenos
pré-existentes, câncer de próstata, câncer de mama, câncer de pâncreas e
óbito (GOBBO, 2019).

2 Impactos a longo prazo


Segundo o Ministério da Saúde ([201-?]), a poluição atmosférica afeta a saúde
em proporção à exposição (crônica ou aguda), agravando problemas respirató-
rios, cardíacos e oftalmológicos e potencializando patologias pré-existentes.
Portanto, a poluição atmosférica pode resultar em óbito e hospitalização re-
corrente por patologias respiratórias e cardiovasculares, além de problemas de
fertilidade, congênitos, câncer, restrição do crescimento fetal, etc. Além disso,
esse tipo de poluição pode levar a restrições de crescimento intrauterino quando
o primeiro trimestre da gestação ocorre no período mais seco da temporada.
E quanto maior o nível de poluição, maior a probabilidade de nascimentos de
meninas do que de meninos, devido ao estresse oxidativo gerado que reduz a
motilidade e altera a morfologia dos gametas).
Saúde humana e educação ambiental 9

O Ministério da Saúde ([201-?]) divide os efeitos da poluição na saúde


humana em:

 Problemas de curto prazo (nos dias de alta concentração de poluentes)


— irritação nas mucosas do nariz e dos olhos; irritação na garganta
(com presença de ardor e desconforto); problemas respiratórios com
agravamento de enfisema pulmonar e bronquite.
 Problemas de médio e longo prazos (15 a 30 anos vivendo em locais
com muita poluição) — desenvolvimento de problemas pulmonares e
cardiovasculares; desenvolvimento de cardiopatias (doenças do cora-
ção); diminuição da qualidade de vida; diminuição da expectativa de
vida (em até dois anos); aumento das chances de desenvolver câncer,
principalmente de pulmão.

O relatório de 2019 “Countdown on health and climate change” da revista


Lancet (WATTS et al., 2019) sobre saúde e mudança climática relata efeitos
diversos das alterações climáticas, enfatizando que na última década ocorreram
8 dos 10 anos mais quentes já registrados, com 9 dos 10 anos mais propícios
para a transmissão da dengue registrados desde 2000 e com aumento de 9,9%
na adequação global para difusão de cólera. O aumento da temperatura já re-
sultou em mudanças climáticas e ambientais extremas, com fortes tempestades
e inundações, ondas de calor e secas prolongadas e doenças infecciosas novas
e emergentes, o que trará reflexos à saúde humana, de crianças a idosos. As
consequências fisiopatológicas do aumento de temperatura incluem lesão renal
aguda, exacerbação de insuficiência cardíaca congestiva, estresse, insolação
e, em crianças pequenas, doença renal, desequilíbrio eletrolítico, doença
respiratória e febre (WATTS et al., 2019).
As crianças são as primeiras a sentirem o impacto dessas mudanças devido
a desnutrição ( decorrente da queda da produção), vulnerabilidade a diarreia
e efeitos mais graves da dengue. Já na adolescência, a poluição do ar — prin-
cipalmente causada por combustíveis fósseis e exacerbada pelas mudanças
climáticas — tem reflexo direto na saúde, danificando o coração, os pulmões
e todos os demais órgãos vitais, com efeitos acumulativos que se refletem na
vida adulta em mortes decorrentes da poluição atmosférica. Com o aumento
da frequência e severidade das condições climáticas extremas, as mulheres
estão entre os mais vulneráveis em uma variedade de contextos sociais e
culturais. Em decorrência disso, em 2018, 133,6 bilhões de horas potenciais de
trabalho foram perdidas globalmente. A Índia e a China sofreram os maiores
10 Saúde humana e educação ambiental

aumentos na exposição diária da população a incêndios florestais. Há maior


vulnerabilidade a extremos de calor por populações com 65 anos e condições
médicas pré-existentes (WATTS et al., 2019).
Os efeitos das mudanças climáticas variam de acordo com a localização
geográfica. Efeitos positivos do aumento da temperatura são controversos e,
mesmo que ocorram, são de curto prazo, como na Austrália, onde o benefício
da fertilização com CO2 é pequeno e torna-se inexistente, porque com as fre-
quentes secas a produção agrícola é interrompida e as altas concentrações de
CO2 prejudicam a qualidade dos grãos. A seca prolongada é um determinante
ambiental determinante para a mortalidade prematura, afetando a higiene e o
saneamento, além de resultar em redução da produção agrícola, insegurança
alimentar e desnutrição (WATTS et al., 2019).

3 Educação ambiental
A educação ambiental é uma necessidade em todos os segmentos. Nos noticiários
atuais e recentes — brasileiros ou mundiais — pelo menos um dos temas a seguir
estará presente: epidemia, queimadas, desmatamento, seca e/ou desabasteci-
mento, tráfico de espécies exóticas ou animais silvestres, extinção de espécies,
poluição atmosférica, doenças emergentes ou reemergentes, entre outras ações
antropogênicas que são consequências da exploração irrestrita e irresponsável
do meio ambiente. Isso deixa ainda mais clara a necessidade de se falar sobre as
alterações decorrentes da ação antrópica, com o intuito de formar uma mentalidade
sustentável. No Brasil, a legislação que determina as metas da educação ambiental
é a Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999), o que demonstra que a
preocupação em reverter as ações antropogênicas não é recente. Em seu artigo
5º, ela estipula como os objetivos fundamentais da educação ambiental:

I — o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em


suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psico-
lógicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
II — a garantia de democratização das informações ambientais;
III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a proble-
mática ambiental e social;
IV — o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e respon-
sável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa
da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
V — o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro
e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente
Saúde humana e educação ambiental 11

equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade,


democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;
VI — o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;
VII — o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solida-
riedade como fundamentos para o futuro da humanidade (BRASIL, 1999,
documento on-line).

Além disso, a legislação divide a educação ambiental em duas vertentes:

 Ensino formal — “Entende-se por educação ambiental na educação


escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de
ensino públicas e privadas” (BRASIL, 1999, documento on-line).
 Ensino não formal — “Entendem-se por educação ambiental não formal
as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade
sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa
da qualidade do meio ambiente” (BRASIL, 1999, documento on-line).

A preocupação com o meio ambiente, a conscientização da relevância da


conservação e as consequências da degradação para a própria saúde humana só
são possíveis com a educação. Portanto, a educação ambiental passou a ser tema
obrigatório e interdisciplinar na educação escolar, sendo enquadrado como matéria
transversal, e não como disciplina específica no ensino formal da educação básica.
Na educação ambiental não formal, as diretrizes, aplicações, normas e crité-
rios ficam no âmbito dos governos estaduais e municipais. A educação ambiental
é um processo contínuo e dinâmico de conscientização, que envolve diversas
instâncias administrativas visando a consolidação no coletivo. De acordo com
o Art. 15 da Lei nº. 9.795 (BRASIL, 1999, documento on-line), são atribuições
do órgão gestor de coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental:

Art. 15 [...]
I — definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional;
II — articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos
na área de educação ambiental, em âmbito nacional;
III — participação na negociação de financiamentos a planos, programas e
projetos na área de educação ambiental.

A educação ambiental é de grande relevância em muitas comunidades


ribeirinhas (Figura 2), muitas das quais ocupam as redondezas de nascentes
e áreas de preservação. Nesses locais, a escola pode ser atuante na mudança
de hábitos e valores ambientais.
12 Saúde humana e educação ambiental

Figura 2. Nas comunidades ribeirinhas, a conscientização ambiental é


de extrema importância, pois somente assim seus moradores entendem
a importância de cuidar do meio ambiente ao seu redor.
Fonte: Cruz e Barros (2017, documento on-line).

A Figura 3 retrata a poluição hídrica, que pode ser evitada pela conscien-
tização da importância da água e os efeitos negativos à saúde da população.
Novamente, a educação ambiental pode ser um instrumento eficaz para evitar
ou reduzir a poluição da água.

Figura 3. Exemplo de poluição hídrica.


Fonte: Soffiati (2020, documento on-line).
Saúde humana e educação ambiental 13

Um exemplo de projeto educação ambiental pode ser encontrado na escola rural


municipal Maria Flora Guimarães da Silva, no Pará. A comunidade não entendia a
importância da água filtrada ou fervida e de preservação do rio local, por acreditar
que o rio jamais seca. Assim, foi realizado um trabalho de conscientização tanto
no âmbito de educação ambiental formal quanto não formal (escola e comunidade),
com o projeto Água, um Bem Finito. Toda a comunidade foi convidada a participar,
e as crianças, juntamente com professores, montaram um herbário. Durante seis
meses, estudantes coletaram amostras de água em diversos pontos espalhados
pelo igarapé e relacionaram a cor, a poluição local e o ponto de coleta, facilitando
o entendimento da qualidade da água para o consumo. A comunidade contribuiu
transmitindo conhecimento tradicional e cultural da região, enquanto os especia-
listas ambientais realizaram palestras para moradores, abordando diversos tema,
como água, erosão, assoreamento e poluição (IBRAHIN, 2014).
Outro exemplo interessante foi promovido pela Empresa Brasileira de Pes-
quisa Agropecuária (Embrapa). Em 2010, a entidade criou o Espaço de Educação
Ambiental (EEA), proporcionando à população de Londrina e região, no Paraná,
uma oportunidade de interagir com a natureza e de aprender e se conscientizar
sobre os valores ambientais, vivenciando a história da região. Entre as atividades,
pode-se passear por uma trilha ecológica interpretativa (Figura 4).

Figura 4. Estrutura do espaço EEA da Embrapa em Londrina, Paraná.


Fonte: Embrapa (2017, documento on-line).
14 Saúde humana e educação ambiental

Em agosto de 2015, foi concluído pela Organização das Nações Unidas


(ONU) o plano de ação global para mudar o mundo até 2030, com as negocia-
ções da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
resultando em 17 objetivos com 169 metas definidas, envolvendo temáticas
diversificadas, com destaque para a educação ambiental (ITAMARATY,
s.d., p. 5–13).

[...] até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilida-
des necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre
outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de
vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma
cultura de paz e não violência, cidadania global, e valorização da diversidade
cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável.
[...] até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando
despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos,
reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas, e aumentando
substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.
[...] até 2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de
todos os tipos, especialmente a advinda de atividades terrestres, incluindo
detritos marinhos e a poluição por nutrientes.
[...] reforçar a parceria global para o desenvolvimento sustentável complementa-
da por parcerias multissetorias, que mobilizem e compartilhem conhecimento,
experiência, tecnologia e recursos financeiros para apoiar a realização dos
objetivos do desenvolvimento sustentável em todos os países, particularmente
nos países em desenvolvimento.

Recentemente, ocorreram no Brasil dois eventos de rompimento de barragens, ambos


em Minas Gerais: em Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019, na barragem de rejeitos
da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale S.A.; e em Mariana, em no dia 5 de
novembro de 2015, na Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, subsidiária da
Vale S.A.
Em Brumadinho, os impactos foram além das mortes, ferimentos e traumas humanos
imediatos, incluindo também alterações e contaminações ambientais, com imensuráveis
impactos sobre a biodiversidade e sobre o ciclos de vetores, hospedeiros e reservatórios
de doenças. Rios inteiros foram atingidos, perturbando toda a organização social e os
tradicionais modos de vida e de trabalho locais, com claros efeitos sobre a saúde das
populações (FREITAS et al., 2019). Na Figura 5, por sua vez, pode ser observada uma
sistematização dos potenciais efeitos relacionados à saúde decorrentes dos impactos
e riscos ambientais causados pelo desastre de Mariana.
Saúde humana e educação ambiental 15

Figura 5. Sistematização dos potenciais efeitos na saúde relacionados aos impactos e riscos
ambientais causados pelo desastre de Mariana.
Fonte: Freitas et al. (2019, documento on-line).

BRASIL. Cuidando das águas: soluções para melhorar a qualidade dos recursos hídricos.
2. ed. Brasília: ANA, 2013. (E-book).
BRASIL. Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui
a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, 27 abr. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9795.htm. Acesso em: 21 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº. 11.936, de 14 de maio de 2009. Proíbe a fabricação, a importação, a
exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso de diclorodifeniltri-
cloretano (DDT) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 15 maio 2009.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2009/lei-11936-14-maio-2009-
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CRUZ, N.; BARROS, A. Cheia dos rios muda rotina de ribeirinhos do Amazonas. Em tempo,
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DAVIS, M. L.; MASTEN, S. J. Princípios de engenharia ambiental. 3. ed. Porto Alegre:
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16 Saúde humana e educação ambiental

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SOFFIATI, A. A morte em vão do Paraíba do Sul. Folha 1, 2020. Disponível em: http://
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VIDAL, J. Pandemics: humans are the culprits. 2020. Disponível em: https://www.caryinstitute.
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WATTS, N. et al. The 2019 report of The Lancet countdown on health and climate
change: ensuring that the health of a child born today is not defined by a changing
climate. The Lancet, v. 394, nº. 10211, p. 1836–1878, nov. 2019.

Leituras recomendadas
ANDRADE, A. L. M.; LIMA, E. R.; GOMES, A. C. A. A importância do desenvolvimento de projetos
e tecnologias sociais na promoção da educação ambiental na comunidade Requenguela,
Icapuí-CE. Cadernos de Ciências & Tecnologia, v. 1, nº. 3, p. 318–331, dez. 2019. Disponível em:
https://revistas.uece.br/index.php/CCiT/article/view/2073/1858. Acesso em: 21 jul. 2020.
BRASIL. Objetivos de desenvolvimento sustentável. 2016. Disponível em: http://www.
itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/20160119-ODS.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020.
Saúde humana e educação ambiental 17

CARVALHO, D. L. Educação ambiental na avaliação de impacto ambiental: análise dos


programas de educação ambiental no âmbito do licenciamento ambiental federal de
hidrelétricas. 2019. 90 f. Dissertação (Mestrado em Qualidade Ambiental) — Instituto
de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2019. Disponível
em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/25175/1/Educa%c3%a7%c3%a3o
AmbientalAvalia%c3%a7%c3%a3o.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020.
EVANS, T. S. et al. Suspected exposure to filoviruses among people contacting wildlife
in southwestern Uganda. The Journal of Infectious Diseases, v. 218, suppl. 5, dez. 2018.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6927880/. Acesso
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GARCIA, R.; CARVALHO, V. B. de; CARNEIRO, W. Práticas em educação ambiental no
ensino médio: o uso e destilação de fermentado de caldo de cana de açúcar como
ferramenta didática para a educação básica. Revista Brasileira De Educação Ambiental,
v. 14, nº. 2, p. 268–276, jun. 2019. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.
php/revbea/article/view/6830/6983. Acesso em: 21 jul. 2020.

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RECREAÇÃO
E
LAZER

Patrick Gonçalves
Áreas de atuação e o
mercado de trabalho
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever o papel do professor como agente ativo na promoção


do lazer.
„„ Elencar as possibilidades no mercado de trabalho no âmbito do lazer
para profissionais de educação física.
„„ Identificar as principais tendências para o profissional de educação
física nas áreas do lazer e da recreação.

Introdução
O profissional do lazer costuma ser visto como um sujeito simpático e
pronto a atender e acolher as solicitações dos seus clientes. Entretanto,
as habilidades e competências desses profissionais vão muito além do
que manter uma boa relação interpessoal. Sua tarefa ocorre no sentido
de conhecer procedimentos e conhecimentos que são produzidos nos
diversos campos da expressão do lazer, como os processos manuais,
sociais, intelectuais, artísticos, físico-esportivos e turísticos. Assim, um
profissional capacitado nesse setor deve compreender qual é a relevância
de sua profissão para a sociedade, identificando os locais e os modos de
operação e compreendendo as principais tendências no mercado de lazer.
Neste capítulo, você vai estudar quais os principais papéis e objetivos
que devem orientar a atuação do profissional de educação física que
atua no mercado do lazer, as principais colocações diante do mercado
de trabalho e, ainda, vai ver uma breve análise das tendências que o
mercado do lazer apresenta.
2 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

O papel do professor de educação física


Historicamente, o lazer foi vinculado apenas aos momentos de descanso e
prazer. Essa visão reducionista dessa área da ciência dispensava o papel de
profissionais que pudessem, por meio do seu conhecimento, promover ativi-
dades de modo a formular e atingir objetivos específicos, pautados de acordo
com as necessidades de cada indivíduo. Atualmente, o campo da recreação
e do lazer tem sido abordado por diversos campos do conhecimento. Desse
modo, não podemos pensá-lo em uma perspectiva que não seja multidisciplinar
e interdisciplinar. Isto é, o campo do lazer deve estar em pauta na formação
e na atuação de profissionais diversos, dentre eles aqueles que atuam na área
da educação física, da pedagogia, da psicologia, da hotelaria, do turismo, da
administração, da arquitetura e da sociologia.
Seguindo esse formato interdisciplinar, um dos principais aspectos dos
profissionais voltados à área de atuação do lazer é reconhecer que essa é uma
área que pode vir a necessitar dos conhecimentos produzidos por diversos
ramos da ciência (MARCELLINO, 2002). Com isso, as abordagens acerca do
lazer são diversas e levam em consideração desde a análise de espaços para sua
prática até as possibilidades como desenvolvimento biológico, entendendo-o
como fenômeno sociocultural.
Com isso, embora não abordemos as especificidades de cada área do
conhecimento, muitas delas poderão se encontrar presentes e são possíveis de
análises e interpretações no campo da educação física, o qual dedicaremos mais
espaço nesta seção. Por muitos anos, a atuação do profissional de educação
física no campo do lazer ficou limitada à interpretação de que se concretizava
para a recuperação física e mental, possibilitando o retorno dos sujeitos, em
plenas condições, ao trabalho. Entretanto, o entendimento de que a educação
física é um campo do conhecimento que utiliza movimentos corporais para
atingir objetivos diversos, como as possibilidades diante dos aspectos cogni-
tivos, físicos, sociais e afetivos, por exemplo, abre espaço para pensar a sua
atuação em muitos espaços, com sujeitos diversos e abrangendo o lazer em
todas as suas formas de expressão, por meio de atividades lúdicas, brincadeiras,
atividades recreativas, entre tantas outras possibilidades (STOPPA, 2000).
Assim, analisaremos alguns dos papéis que podem ser desempenhados pelo
profissional de educação física para algumas dessas propostas de trabalho.
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 3

Lazer como atividade de interações humanas


Ao seguirmos em frente quanto às habilidades do professor de educação física
nas atividades de lazer, devemos entender que tais atividades são pautadas por
interações humanas. Isto é, a promoção do lazer, enquanto atividade social,
só ocorre a partir da ação do ser humano. Dessa forma, uma das pistas que
o profissional deve buscar antes de desenvolver seu trabalho é conhecer os
aspectos fundamentais que orientam o desenvolvimento dos indivíduos.
De forma geral, podemos realizar uma breve análise a partir das faixas
etárias em que cada um se encontra, possibilitando uma aproximação a seus
interesses e suas demandas, adaptando, assim, estratégias e objetivos na ela-
boração de atividades. Assim, as características apresentadas pelos diferentes
sujeitos quanto a sua maturação biológica e psicológica, assim como seus
interesses e suas necessidades para uma melhor qualidade de vida, devem
pautar os modos de agir do profissional e de pensar e desenvolver atividades
aos diferentes grupos (MARCELLINO, 2002). Por exemplo, crianças que
ainda se encontram nos primeiros anos de vida tendem a brincar sozinhas,
sem a capacidade de participar de jogos que requerem grande quantidade
de sequência de ações, enquanto adultos têm maior tendência às atividades
coletivas e se encontram na plenitude do seu desenvolvimento cognitivo.
Cabe salientar que o lazer não se trata apenas de uma atividade inte-
racionista, mas também de uma atividade dotada de aspectos culturais. A
dimensão que o lazer toma atualmente foge a um caráter estritamente voltada
ao entretenimento, sendo abordado a partir da possibilidade de intervenção
cultural, formando cidadãos mais críticos e promovendo uma sociedade cada
vez mais democrática.

Um dos fatores que ajudam a compreender o papel do profissional na promoção de


atividades de lazer é a capacidade de identificar nos diferentes grupos os diversos
aspectos que diferenciam os sujeitos entre si.
4 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

Lazer como atividade de saberes técnicos


Ao realizarmos uma análise do profissional de educação física na promoção
do lazer, nos deparamos historicamente com sua vinculação como promotor
de momentos de descanso e revigoramento ao trabalho, ainda, como mero
animador. Isto é, as concepções históricas desses profissionais trazem consigo
uma percepção de que estes devem desempenhar um trabalho assistencialista
ou funcionalista, promovendo certo revigoramento por meio de atividades
físicas e/ou esportivas. Entretanto, a ramificação das concepções do lazer
e a crescente oferta de empresas prestadoras de serviços que buscam nessa
atividade atrair clientes têm fomentado a necessidade de profissionais dotados
de saberes técnicos para atuar nas mais diversas instituições e com públicos
diferenciados, como hotéis, escolas, associações beneficentes, entre outras.
Nesse sentido, percebemos que a atuação do profissional que desenvolverá
atividades ao lazer é pautada pelas práxis, ou seja, alicerçada nas teorias
existentes acerca dos jogos, da ludicidade, do prazer, do brincar, dos esportes,
entre outros componentes, guiando sua ação concreta e sendo esta objeto da
constante reflexão, de modo que sua ação acompanhe os movimentos sociais
(SILVA; GONÇALVES, 2017). Essa perspectiva se articula com a necessidade
de desenvolver uma sociedade pautada pelos avanços éticos e democráticos.
Contudo, o que percebemos nem sempre vai na direção das possibilidades
de reflexão dos profissionais acerca do autogerenciamento do seu trabalho.
Em muitos espaços que promovem atividades lúdicas ou de lazer, o que
podemos observar é a incumbência desses profissionais em seguir ritos e
procedimentos que são elaborados por seus superiores e que, em grande parte
das vezes, não partilham da formação técnica que os agentes promotores de
lazer têm. Nesse sentido, muito arraigada à noção dos profissionais de lazer
está a ideia de que estes são meros animadores, como sujeitos que devem
levar às diversas pessoas momentos de prazer e que propiciem o esquecimento
dos problemas enfrentados no dia a dia (STOPPA, 2000). Assim, a ação do
profissional de educação física, numa proposta reducionista de seu ofício, fica
restringida à organização de jogos, brinquedos e brincadeiras e à promoção
de momentos de alegria em festas, sendo caracterizado como aquele que
sempre tem um sorriso no rosto, que exalta a alegria e o pensamento otimista,
independentemente da situação.
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 5

Ainda que o trabalho voltado para a promoção do lazer seja pautado pelo entusiasmo,
pela alegria e pela descontração, ele não pode deixar de ser entendido como um
ofício. O lazer é uma das possibilidades de reconhecer e enfrentar desafios, problemas
e mazelas que perduram na sociedade, sendo, também, um dos papéis que devem
pautar o trabalho do profissional que atua nessa área.

Cabe salientar que essa visão que diminui o papel do profissional de lazer,
muitas vezes, é reforçada pelos próprios trabalhadores. A possibilidade de
trabalhar em ambientes em que o jogo e a descontração imperem faz com
que muitos sujeitos procurem esse trabalho, no sentido de desfrutar, nos seus
momentos de trabalho, o lazer. A inclinação em gostar de um trabalho que
proporciona lazer, possibilitando momentos de alegrias e brincadeiras, faz
com que muitas pessoas escolham essa profissão por considerarem “fácil”,
descaracterizando a maioria dos trabalhos (MARCELLINO, 2002). Se faz
necessário, então, que essa linha tênue que se apresenta diante do profissional
de lazer fique clara, fazendo com que não realize ações descontextualizadas
com a realidade que o cerca e que promova a mobilização dos seus saberes
acumulados, de forma a promover uma sociedade voltada ao enfrentamento
das desigualdades que ainda encontramos.
O intuito de alertar acerca da responsabilidade social dos profissionais que
trabalham no campo do lazer não institui a desconstrução de um profissional
que tenha apreço e alegria no trabalho que desempenha, mas ressalta que essa
atividade está pautada em um sentido que mobiliza mais do que um sujeito
simpático promotor de momentos de alegria (STOPPA, 2000). O profissional
de educação física que deseja atuar no campo do lazer deve reconhecer que
essa prática emerge a partir de concepções técnicas, políticas, pedagógicas e
filosóficas, promovendo momentos que sejam embasados na crítica sociocul-
tural, reconhecendo, potencializando ou reconstruindo valores que, por meio
de sua práxis consciente, podem proporcionar o avanço social.

Características do profissional do lazer


A atuação do profissional de lazer, para atingir objetivos maiores do que
meramente proporcionar momentos divertidos, deve ser acompanhada pelas
6 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

constantes atualizações em cursos da área. Como dito, o lazer é uma atividade


que exige conhecimentos técnicos que são necessários para desenvolver habi-
lidades que abrangem tanto o uso e a identificação das tecnologias necessárias
para as práticas de lazer quanto a obtenção de conhecimentos mais precisos
acerca das formas de desenvolver sua profissão. Além disso, deve ter conheci-
mento cultural aprofundado, podendo eleger e adaptar atividades e ferramentas
de modo a melhor contemplar as necessidades do grupo com que desenvolve
suas funções. Nesse sentido, Silva e Gonçalves (2017) apontam algumas
características imprescindíveis para atuar no campo da recreação e do lazer:

„„ Compreender as etapas amplas — Um evento que proporcione ati-


vidades de lazer, basicamente, engloba três momentos principais: uma
fase em que se reconhece os recursos físicos e humanos disponíveis,
assim como as características do público a ser atendido; uma fase em
que as atividades propriamente ditas são desenvolvidas; e uma fase
em que é realizada uma avaliação acerca do trabalho desenvolvido, de
modo a refletir e qualificar a sua atuação.
„„ Apresentação — Por se tratar de uma atividade pautada por interações
humanas, o profissional deve se apresentar de forma simpática e res-
peitosa, primando pelos aspectos éticos que regem a nossa sociedade.
„„ Socialização — Promover e liderar momentos que se constituam em
experiências positivas a todos os participantes, prevenindo e inibindo
situações que possam constranger ou promover alguma situação que
potencialize as situações de desigualdade que atravessam a sociedade
contemporânea.
„„ Estar preparado para os imprevistos — Saber lidar com as variáveis
que regem as relações sociais, que vão desde o gerenciamento de con-
flitos até as noções de primeiros socorros, tendo em vista que situações
adversas podem surgir durante as atividades.
„„ Criatividade — Ter a capacidade de criar e recriar atividades, de forma
a promover experiências positivas para todos, independentemente do
surgimento de situações que não foram planejadas.
„„ Zelo — Ser cuidadoso ao propor atividades, não expondo os partici-
pantes a riscos, assim como zelar pelo patrimônio material disponibi-
lizado. Além disso, o profissional deve tomar cuidados para não expor
os praticantes a situações vexatórias ou que possam causar alguma
degradação referentes a seus aspectos físicos, cognitivos ou culturais.
„„ Integridade — O profissional deve seguir e estabelecer alguns aspectos
éticos morais, garantindo a sua integridade física e mental, afastando-se
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 7

de substâncias que possam comprometê-las, como cigarros e bebidas


alcoólicas, sendo o exemplo a ser seguido pelos demais participantes.
„„ Ciência — Realizar pesquisas acadêmicas sobre recreação e lazer, de
modo a manter a constante formação, implicando-se e identificando
novas tendências e abordagens nessas áreas.

Além desses fatores, o profissional deve gostar de sua atividade, de liderar


e atuar junto às pessoas. Embora seja uma atividade em que a diversão e o
entretenimento se façam presentes muitas vezes, ela deve ser encarada com
a seriedade e o comprometimento que qualquer outra área da ciência exige.

Possibilidades no mercado de trabalho


Em tempos passados, o lazer era visto como uma forma de ocupar-se durante
o ócio, como forma de entreter-se ou de recuperar as energias necessárias para
o trabalho, sendo realizado individualmente ou em grupos, sem a contratação
de serviços ou profissionais ligados à área. Atualmente, o lazer ganha outra
dimensão, pois a busca por uma melhor qualidade de vida movimentou a
indústria do lazer, de modo a tornar esse mercado um dos que mais movimenta
dinheiro e emprega pessoas (STOPPA, 2000). A grande procura por momentos
e locais de lazer, aliada às reduções de sua prática nos meios urbanos, impul-
sionou esse mercado, fazendo surgir empresas que oferecem os mais variados
serviços. Nesse sentido, as possibilidades de atuação são bastante amplas nos
diversos setores, sejam elas em instituições públicas, privadas, filantrópicas
ou até mesmo por meio de iniciativas autônomas.
Cabe lembrar que o conceito de lazer pode ser entendido a partir de diversas
concepções e áreas diferentes. Para o Dumazedier (1980), o lazer abrange seis
facetas culturais, sendo elas: manuais, sociais, intelectuais, artísticas, físico-
-esportivas e turísticas. Assim, as possibilidades de desenvolver atividades e
serviços voltados ao lazer são diversas, sendo um dos deveres dos profissionais
saber articular cada um dos conteúdos ao seu campo de atuação. Como exemplo
de atividades em que os profissionais de educação física podem atuar em cada
um destes conteúdos, podemos citar:

„„ Manuais: confecção de tecnologias voltadas aos movimentos corporais,


como redes, bolas, figurinos e coreografias, podendo ser utilizada tam-
bém para fins terapêuticos, como estourar plásticos-bolha, massagens,
entre outros.
8 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

„„ Sociais: práticas que promovam a integração social, como os jogos


cooperativos.
„„ Intelectuais: dinâmicas voltadas à reflexão de diversos fenômenos
da sociedade, como a gincana ambiental, as práticas junto à natureza,
os esportes com materiais reciclados e a problematização dos padrões
físicos de beleza.
„„ Artísticas: apresentações em festas e eventos, como as diversas formas
de dançar, a percussão corporal, as atividades rítmicas e expressivas,
entre outras.
„„ Físico-esportivas: atividades físicas voltadas ao bem-estar, como as
danças, as ginásticas, os esportes, as lutas, os jogos populares, entre
outras.
„„ Turísticas: a exploração de ambientes naturais por meio de atividade
físicas, como o nado, o trekking e o montanhismo, também podendo
utilizar atividades urbanas por meio de passeios ciclísticos, corridas
de rua, caminhadas, etc.

Dessa forma, as possibilidades de trabalho ganham tons diversos, sendo


possível pensar a atividade de lazer para públicos diferenciados, com objetivos
diferentes, em que o perfil profissional também se modifica nas propostas e
nos conhecimentos técnicos exigidos A seguir, faremos uma breve discussão
sobre cada uma dessas possibilidades.

Animação
As atividades de animação são comuns com crianças e sujeitos que se encon-
tram no início da adolescência. O gosto por atividades divertidas e brincadeiras
está aflorado nessa fase. Por outro lado, encontram-se também aqueles adultos
e idosos que prezam por atividades divertidas e dinâmicas. Assim, o campo
de atuação é vasto. Os profissionais que atuam nessa área são os principais
responsáveis pelo divertimento em festas, clubes, hotéis, resorts, cruzeiros,
condomínios residenciais, escolas, espaços kids em shoppings, entre outros
espaços em que haja alguma festa, baile ou atividades correlatas. Dessa forma,
podem ser considerados animadores os recreacionistas que atuam em festas
infantis, os DJs, os atores, os artistas, os mágicos, os monitores de brinquedos
infantis, entre outros que podem atuar nesses mesmos espaços e lugares.
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 9

Promotores de eventos
Na área do lazer, como vimos, todas as ações têm uma intencionalidade e
seus objetivos devem ser cuidadosamente planejados. Embora os promotores
não atuem diretamente no entretenimento junto às pessoas que desfrutarão
dos momentos de lazer, sua tarefa é de extrema importância, pois é por meio
deles que as pautas que guiarão os eventos serão planejadas, desenvolvidas
e avaliadas. Muitas empresas, como casas noturnas, clubes, associações e
empresas contratam promotores de eventos, que devem ter noções de admi-
nistração de recursos e de gestão de pessoal bem desenvolvidas, de modo a
promover festas, encontros e eventos diversos com a garantia de que todos os
imprevistos e riscos sejam minimizados.

Qualidade de vida
Nesse setor, encontram-se aqueles profissionais que atuam diretamente na
busca pela saúde e pela qualidade de vida das pessoas. São os sujeitos que
trabalham em academias, residências, clubes, empresas, e espaços fitness
de condomínios, promovendo momentos de atividades físicas saudáveis,
como ginástica laboral, musculação, práticas de relaxamento, treinamentos
funcionais, entre outras atividades que visam à busca da saúde aliadas a um
sentimento de bem-estar. A abordagem dos profissionais nessa área pode ser
individual ou coletiva, dependendo do contrato firmado e do espaço disponível
para desenvolver seu trabalho. Além de conhecer os aspectos biodinâmicos e
fisiológicos, deve ter um perfil de bom relacionamento, de modo a promover
o entusiasmo nas pessoas com quem desenvolve seu trabalho.

Lazer turístico
Este campo é voltado para o público que gosta de conhecer novas cidades e
interagir com novas culturas. Além disso, com a redução dos espaços de lazer
nos grandes centros urbanos e a procura por opções próximas das residências,
o ecoturismo, especialmente em meio rural, também tem ganhado força. Nesse
campo, os profissionais que atuam com lazer desenvolvem suas atividades
guiando as diversas pessoas em parques, praias, museus e demais pontos tu-
rísticos. Também é uma possibilidade para animadores e profissionais voltados
à promoção de qualidade de vida que atuam em hotéis, pousada, cruzeiros
10 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

e resorts. Além de compreender bem os aspectos geográficos e históricos


das regiões onde atua, guiando e apontando aos turistas os melhores locais
a serem visitados, é imprescindível que esse profissional tenha uma grande
aceitação e conhecimento de culturas diversas, além de ter conhecimentos
avançados em línguas estrangeiras. Ainda, esses profissionais que desenvolvem
esportes e atividades junto à natureza, além das habilidades citadas, devem
conhecer os procedimentos técnicos de execução e segurança das atividades
proporcionadas.

Em 2017, o número aproximado de turistas estrangeiros que visitaram o Brasil foi de


6,5 milhões de pessoas. Esse número é um recorde na história brasileira, superando,
inclusive, os índices obtidos nos anos das realizações da Copa do Mundo de Futebol,
em 2014, e dos Jogos Olímpicos de Verão, em 2016.

Lazer em clubes
Embora as pessoas que buscam clubes recreativos se aproximem muito da-
quelas que buscam os espaços de qualidade de vida citados, as possibilidades
de atividades se diferem. O amplo espaço que, de modo geral, dispõem os
clubes associativos faz com que promovam atividades de piscinas e de quadras
e campos diversos. Assim, as atividades desempenhadas pelos profissionais
são diversas, podendo promover monitoria em equipamentos aquáticos, como
tobogãs, momentos de hidroginástica, passeios a cavalo ou partidas esportivas.
Nesse aspecto, os profissionais devem conhecer os diversos procedimentos
técnicos e de segurança para cada uma dessas funções.

Locação de espaços
Dentre essas possibilidades de trabalho se encontram os profissionais que
apenas alugam os espaços, ou seja, os pequenos, médios e grandes empresários.
Suas tarefas não envolvem a organização do evento em si, nem o contato direto
com o público que desfrutará das atividades infantis. Nesse aspecto, um dos
setores que tem crescido é a oferta de espaços voltados às festas infantis, em que
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 11

o proprietário, por meio da locação de espaços, possibilita a realização de festas


e eventos. Também é comum observar espaços voltados à prática esportiva,
principalmente o futebol, em que quadras e ginásios se encontram disponíveis
para aluguel. Assim, os profissionais que atuam nesse setor devem dominar os
aspectos administrativos, além de estar atento às mudanças comportamentais
dos possíveis clientes, readaptando seu espaço e seus equipamentos conforme
as tendências atuais. Esses espaços se apresentam como uma forma para o
profissional de educação física, que domina as características peculiares que
envolvem o lazer e a recreação, se tornar um empreendedor administrando
locais e promovendo momentos recreativos com qualidade.
Além dessas possibilidades apresentadas, cabe ressaltar que ainda existem
aqueles profissionais que atuam no desenvolvimento de mídias digitais de
entretenimento. Os jogos para videogames e smartphones têm adentrado cada
vez mais o cotidiano das pessoas, à medida que a democratização do acesso e
o uso destas ferramentas avança. Assim, equipes de desenvolvedores procuram
identificar as demandas sociais e desenvolver jogos voltados ao lazer de uma
sociedade cada vez mais informatizada.
Com isso, o que podemos observar é que as possibilidades na área do lazer
são diversas, envolvendo muitos interesses e pessoas com muitos perfis diferen-
tes. Para o profissional de lazer, o desenvolvimento de competências técnicas
mais amplas é extremamente importante. Como dito, o lazer se articula em
diferentes campos e não deve ser visto apenas como um momento que previna
a desocupação ou proporcione o mero entretenimento, mas como uma atividade
que tem uma relevância considerável na construção e na reconstrução cultural.

Tendências profissionais nas áreas do lazer


e da recreação
Certamente, o lazer tem se modificado ao longo dos anos. Esse movimento,
que anteriormente era realizado em parques, praças e outros locais de acesso
coletivo nas horas em que as pessoas não estavam desempenhando o seu
trabalho, hoje está presente em todo lugar, estreitando as fronteiras entre o
descanso, o trabalho e o lazer. Cada vez mais percebemos que há uma propensão
em desenvolver o lazer durante as atividades laborais e buscar atividades que
possibilitem os momentos de lazer.
Além disso, o que podemos perceber, atualmente, é que as famílias va-
lorizam os momentos e as ferramentas que possibilitam o lazer, investindo
cada vez mais nesses momentos. De modo geral, todas as atividades de lazer
12 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

necessitam de algum investimento. Mesmo para realizar uma caminhada em


um parque, são necessárias roupas que possibilitem essa prática. Ainda, há o
gasto com o deslocamento e com possíveis refeições e hidratações que também
podem demandar gastos. Assim, o lazer, ainda que proporcionado pelo Poder
Público, requer algum gasto direto ou indireto. O Quadro 1 mostra o gasto
médio por família em algumas atividades que promovem momentos de lazer.

Quadro 1. Média de despesa mensal com lazer per capita e total por família

Renda Renda familiar


familiar de Renda familiar acima de
Despesa (em até 3 salários de 3 a 5 salários 5 salários
R$ mensais) mínimos mínimos mínimos

Recreação 14,53 9,86 19,28


e cultura

Brinquedos 7,41 11,71 19,94


e jogos

Celular e 14,69 12,58 31,49


acessórios

Periódicos, 5,29 21,66 43,05


livros e revistas
não didáticos

Viagens 10,02 65,53 283,59


esporádicas

Recreações 7,89 110,60 353,40


e esportes

Jogos e apostas 10,03 5,98 14,05

Cerimônias 15,53 9,86 19,28


e festas

Despesa total 274,10 474,64 2.578,46


por família

Fonte: Adaptado de IBGE, 2008-2009 (2010).


Áreas de atuação e o mercado de trabalho 13

Como aponta o último levantamento de orçamento familiar do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constituído de uma amostra de
aproximadamente 58 milhões de famílias brasileiras, podemos constatar que
as famílias, em todas as faixas de renda, investem algum valor em atividades
e/ou equipamentos que possibilitem o seu uso recreativo. Diante disso, as
empresas que promovem tais atividades e tecnologias têm voltado a atenção
de modo a oferecer produtos e serviços para todas as pessoas que têm algum
poder aquisitivo. Além disso, percebemos que a procura por momentos por
recreação e esportes que demandam algum gasto financeiro é percebido com
maior ênfase nas famílias com renda maior. Nesse sentido, é possível pensar
que a alta oferta de empresas e serviços que possibilitam o lazer aos diversos
sujeitos e o investimento que as famílias fazem para desfrutar desses momentos
são reflexos de uma sociedade que reconhece e realiza a procura por essas
atividades, como forma de atingir objetivos diversos, que passam desde ocupar
o seu tempo livre, até conhecer novas culturas e novos países. Assim, esta
seção se dedica a apontar algumas das tendências que pautam a sociedade
atual na busca de momentos de lazer, a partir da natureza dessas atividades.
Ainda, os dados apontam que as atividades esportivas e recreativas, as
viagens, as festas e outras atividades de desenvolvimento cultural, em que é
possível encontrar um campo de atuação para o profissional de educação física,
seguem em pauta nas despesas familiares. Além disso, o baixo gasto com
atividades recreativas e esportes das famílias com até três salários mínimos
não significa que não percebam nessas atividades momentos de diversão, en-
tretenimento e busca de qualidade de vida, mas podem se ver impossibilitadas
de realizar em razão dos demais gastos que estão presentes na realidade de
cada núcleo familiar, como conta de luz, conta de gás, impostos, entre outros.
Com isso, para esse público, cresce a necessidade da atuação do profissional de
educação física em programas proporcionados por meio de políticas públicas
que promovam momentos de lazer e recreação.

Mercados de lazer
As opções de lazer nas últimas décadas têm ganhado possibilidades diver-
sas. Entretanto, cabe salientar que ainda perduram alguns mecanismos de
segregação ao uso e acesso aos locais e equipamentos de lazer. Por exemplo,
viagens a países distantes e que têm aspectos culturais muito diferentes ao
Brasil são possíveis de serem realizadas, na maioria das vezes, por famílias
que têm uma renda consideravelmente mais alta em relação à média brasileira.
14 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

Nessa perspectiva, Camargo (2001) entende que alguns aspectos contribuem


ao não acesso a todos os espaços de lazer, entre eles a própria renda familiar,
a situação socioeconômica, a escolaridade e o local de moradia.
Com isso, o futuro do lazer ainda está muito relacionado às condições de
igualdades sociais, em que, à medida que as mazelas contemporâneas forem
sendo superadas, maior será a democratização desse direito constitucional. No
entanto, a falta de preservação de ambientes naturais pelos setores públicos e
a exploração desenfreada pelo setor privado, que descaracterizam os aspectos
nativos das regiões onde o contato com a natureza era possível, fomentam a
busca por viagens a locais onde ainda predominam as características exóticas.
Com isso, as possibilidades dessa prática de lazer ainda são restritas a pessoas
que não vivem em situações empobrecidas. Um dos grandes desafios futuros
é a manutenção desses locais e a possibilidade de acesso para todos.
Essa dinâmica da industrialização em detrimento de atividades naturais
abre espaço para o avanço tecnológico e de fornecimento de serviços voltadas
ao lazer. Segundo a Organização Mundial do Turismo (BENI, 2003), as ten-
dências do mercado de lazer para o futuro passam pelos seguintes aspectos:

„„ busca por lugares com características naturais intactas;


„„ momentos em que toda família pode desfrutar, tendo em vista que as
limitações que a intensificação do trabalho exerce atualmente diminuem
os tempos e os espaços para participação de programas em família;
„„ uso de tecnologias digitais nos momentos de lazer;
„„ realização de viagens curtas, tendo em vista o fracionamento das férias
de grande parte da população;
„„ busca por lugares e atividades, assim como compra de ingressos e
pacotes por meios eletrônicos;
„„ oferecimento de produtos personalizados, de modo a capturar e fidelizar
clientes com gostos diversos;
„„ ampliação do ecoturismo como consequência da preocupação ambiental
que pauta a sociedade;
„„ atividades, produtos e programas para a população idosa, como con-
sequência do envelhecimento populacional atual.

Bem-estar
Uma das grandes preocupações atuais e que tende a se manter no futuro é a
atividade voltada ao bem-estar físico, mental e espiritual. A busca pela qua-
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 15

lidade de vida é uma grande preocupação para a população atual e, tendo em


vista que esses momentos são possíveis principalmente durante os momentos
livres, é possível pensar que as buscas por momentos de lazer se darão no
sentido de aliar atividades que previnem patologias e promovem o pleno
condicionamento físico, mental e espiritual.
Cabe ressaltar que o mercado tem grande variedade de produtos e serviços
para esse fim, como revistas, programas de televisão, canais de divulgação
de informação em meio eletrônicos, cursos em academias e outros locais
de práticas de atividades físicas, entre outros. Beni (2003) destaca que esse
ramo do lazer se ampliará, pois os riscos de realizar as atividades em espaços
públicos, em razão da violência dos centros urbanos, têm crescido. Além
disso, os processos de arquitetura, engenharia e urbanização têm voltado suas
atenções para a criação de espaços voltados ao lazer em prédios e condomínios
horizontais residenciais. Assim, uma das grandes tendências para o lazer é
a oferta desses momentos por meio de atendimentos residenciais, de forma
individual ou em pequenos grupos de vizinhos ou familiares.
Além disso, a expectativa de vida tem aumentado gradualmente, resultando
em uma população cada vez mais idosa. O envelhecimento populacional
também é causado pela diminuição das taxas de natalidade. Logo, é possível
presumir que em breve teremos uma quantidade maior de idosos e menor de
crianças e adolescentes. Com isso, as atividades e os espaços de lazer para
a terceira idade são uma das grandes tendências nessa área. Atualmente, já
podemos ver o avanço desse fenômeno por meio de passeios e viagens de
ônibus e cruzeiros com uma programação totalmente voltada ao público idoso.
Do mesmo modo, aumentam também a oferta de casas de repouso e clínicas
geriátricas, que têm qualificado seus espaços, com atividades de entretenimento
diversas, de modo a atingir uma melhor qualidade de vida para esse público.
Todas essas possibilidades requerem um profissional que tenha conhecimentos
específicos sobre o desenvolvimento humano e o envelhecimento aliados aos
conhecimentos de lazer, recreação e manutenção da saúde. Assim, esta pode
ser considerada uma das maiores tendências para os profissionais de educação
física que queiram se dedicar a promover momentos de recreação e lazer.

Cultura
Conejo (2007) aponta o lazer cultural como uma das grandes tendências da
América Latina. Nesse aspecto, o turismo ganha o protagonismo de promover
atividades voltadas à exploração e ao contato com culturas diversas. Os países
pertencentes ao Mercosul têm uma grande quantidade de culturas diversas e
16 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

ainda apresentam aspectos naturais ricos em beleza e diversidade. A fuga de


espaços cada vez mais urbanizados, que têm aspectos culturais restritos ao
processo de urbanização e que apresentam riscos aos praticantes em razão de
fatores diversos, fazem com que as viagens a locais distantes sejam desejadas
por aqueles que vivem em grandes metrópoles e sofrem as consequências de
trabalhos cada vez mais intensos.
Os locais como fazendas, hotéis, estâncias e pousadas afastadas das cida-
des urbanizadas acabam sendo um dos prováveis destinos de viajantes que
buscam no lazer momentos de integração com a natureza e de eliminação
do estresse produzido no seu estilo de vida cotidiano. Essas possibilidades,
aliadas às experiências locais, como ouvir um cantor nativo ou degustar
sabores locais, ganham potência. Além disso, as influências que parecem
ditar o interesse nesses locais e nessas atividades parecem surgir a partir
de propostas midiáticas que colocam o meio ambiente em degradação e sua
necessidade de preservação, abrindo espaço para o ecoturismo como promotor
da consciência ambiental. Assim, a presença do profissional de educação física
ganha diversas possibilidades. Ele pode atuar junto a outros profissionais,
em caráter multidisciplinar, promovendo dinâmicas e momentos voltados à
preservação ambiental, como caminhadas, acampamentos e outras atividades
em que o movimento humano esteja presente em ambientes naturais. Outra
forma de atuação relevante é a promoção de momentos que visem a difundir
diferentes culturas, como no preparo e no desenvolvimento de uma dança ou
demais atividades expressivas.

Mídias digitais
As buscas por ambientes seguros, muitas vezes, fazem com que as pessoas
procurem atividades de lazer em suas residências. Historicamente, as reuniões
de família, os jogos de tabuleiro, o rádio e a televisão ocupavam boa parte do
tempo das pessoas, garantindo horas de entretenimento enquanto estavam em
casa. Atualmente, essas formas de desenvolver atividades têm se modificado
à medida que os avanços tecnológicos vão se modificando, atingindo cada vez
mais pessoas, e aquelas que rejeitavam o uso de novas tecnologias digitais, no
início de sua expansão há algumas décadas, vão deixando de existir.
Os computadores, assim, têm se demonstrado cada vez mais presentes em
boa parte do dia a dia da maioria das pessoas. Por meio dessas ferramentas,
Áreas de atuação e o mercado de trabalho 17

os indivíduos podem interagir com outras culturas, filtrar conteúdos com


base em seu interesse e obter informações diversas sobre qualquer assunto
em qualquer lugar (VASCONCELOS, 2005). Diante dessas possibilidades,
é bastante comum que profissionais atuem de modo digital, criando espaços
de compartilhamento de informações e de pleno contato com seus clientes
na internet. Com isso, a atuação do profissional de educação física pode se
dar por meio da prática e da demonstração de uma modalidade esportiva, de
algum jogo ou alguma atividade, explicando regras e técnicas de movimentos,
apontando locais ideais para a prática de atividades de recreação e lazer,
disseminando informações. Além disso, com a possibilidade de oferecer um
conteúdo que atinja muitos públicos, o profissional de educação física pode
promover reflexões que partam de uma perspectiva da cultura corporal do
movimento, problematizando as relações e os fenômenos que se apresentam
na sociedade contemporânea.
Outro ponto a se destacar é o setor do marketing, que tem investido
fortemente em propagandas na internet, tendo em vista que é uma forma de
publicidade em que o gasto com recursos materiais é mínimo e as pessoas
atingidas são muitas, possibilitando, inclusive, direcionar seus conteúdos
a partir do filtro de interesse de cada um. Dessa forma, as tendências pro-
fissionais no campo do lazer têm se modificado rapidamente, atendendo
às demandas exigidas e às possibilidades influenciadas pela sociedade
contemporânea, em que o meio digital é um dos principais promotores de
programas e atividades de fácil acesso às pessoas. Contraditoriamente, nessa
mesma sociedade cada vez mais informatizada, na qual o fluxo de relações
interpessoais e de informações é muito grande, a procura por lugares junto
à natureza e culturas exóticas tem aumentado. Assim, cabe ao profissional
ligado ao lazer identificar esses movimentos contemporâneos de forma a
direcionar suas ações e seus objetivos, acompanhando o ritmo e a direção
que o mercado toma a cada dia.
Dessa forma, as áreas de atuação do profissional de educação física têm
se ampliado. No entanto, essa profissão ainda conserva características funda-
mentais, isto é, é dotada de interações humanas e de saberes técnicos. Cabe,
portanto, ao educador físico saber lidar com as transformações que a sociedade
vem apresentando nas formas de interação social, identificar as principais
tendências referentes ao lazer e à recreação e reconhecer suas características
como forma de aperfeiçoá-las, buscando atingir o pleno desenvolvimento de
cada indivíduo.
18 Áreas de atuação e o mercado de trabalho

BENI, M. C. Globalização do turismo: megatendências do setor e a realidade brasileira.


São Paulo: Aleph, 2003.
CAMARGO, L. O. L. Sociologia do lazer. In: ANSARAH, M. G. R. (Org.) Turismo, como
aprender, como ensinar. São Paulo: SENAC, 2001.
CONEJO, G. O planejamento estratégico no turismo cultural: uma opção para a Amé-
rica Latina. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DIVERSIDADE CULTURAL: Práticas
e Perspectivas, Brasília, 2007. Organização: Ministério da Cultura; Organização dos
Estados Americanos; Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação do Brasil. Anais... Brasília: 2007.
DUMAZEDIER, J. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: Sesc, 1980.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Diretoria de Pesquisas,
Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009
– POF. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
MARCELLINO, N. C. Lazer & empresa: múltiplos olhares. 3. ed. Campinas: Papirus, 2002.
SILVA, T. A.; GONÇALVES, K. G. F. Manual de lazer e recreação: o mundo lúdico ao alcance
de todos. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2017.
STOPPA, E. A. Lazer e mercado de trabalho. Revista Licere, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p.
176-181, 2000.
VASCONCELOS, Y. Uma viagem futurística. Revista Virtual Mundo Estranho. ed. 36. São
Paulo: Abril, 2005.

Leituras recomendadas
GALBRAITH, J.; DOWNEY, D.; KATES, A. Projetos de organização de dinâmicas. Porto
Alegre: Bookman, 2011.
MACEDO, L.; PETTY, A. L.; PASSOS, N. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
WATT, D. Gestão de eventos em lazer e turismo. Porto Alegre: Bookman, 2007.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
Educação Ambiental
Revista e ampliada
E21 Educação ambiental [recurso eletrônico] : abordagens múltiplas /
organizador, Aloísio Ruscheinsky. – 2. ed., rev. e ampl. –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Penso, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012.


ISBN 978-85-63899-87-3

1. Educação ambiental. I. Ruscheinsky, Aloisio.

CDU 37:502

Catalogação na publicação: Fernanda B. Handke dos Santos – CRB 10/2107


198 Aloisio Ruscheinsky (org.)

Isso pode ser atingido com a integração da educação ambiental


aos sistemas de treinamento já existentes, o que é corroborado pelas re-
comendações da Conferência de Tbilisi,9 ao considerar que “o meio de
trabalho constitui o meio natural de aprendizagem de grande parte da
população adulta, sendo, portanto, um excelente ponto de partida para a
educação ambiental de adultos” (Recomendação no 15) bem como pela
Agenda 21, que considera que o treinamento se embasa na ação, além
de tê-lo como um de seus objetivos10, respectivamente:

O treinamento é um dos instrumentos mais importantes para desenvolver


recursos humanos e facilitar a transição para um mundo mais sustentável.
Ele deve ser dirigido a profissões determinadas e visar preencher lacunas
no conhecimento e nas habilidades que ajudarão os indivíduos a achar em-
prego e a participar de atividades de meio ambiente e desenvolvimento. Ao
mesmo tempo, os programas de treinamento devem promover uma cons-
ciência maior das questões de meio ambiente e desenvolvimento como um
processo de aprendizagem de duas mãos. (Agenda 21, Cap. 36.12)
Promover uma força de trabalho flexível e adaptável, de várias idades,
que possa enfrentar os problemas crescentes de meio ambiente e desen-
volvimento e as mudanças ocasionadas pela transição para uma socie-
dade sustentável. (Agenda 21, Cap. 36.13.b)

Um exemplo da integração da educação ambiental no contexto do


sistema produtivo é a área de segurança e saúde dos trabalhadores. Esse é
um espaço muito importante para ações de educação ambiental, já que os
impactos sobre os trabalhadores irão repercutir sobre o meio ambiente cir-
cundante, ao mesmo tempo em que um ambiente contaminado afetará os
trabalhadores.11 Ambas as áreas têm muitos pontos em comum, uma vez
que se preocupam com o indivíduo de forma integral (condições de traba-
lho e de vida). Dessa forma, têm sido a principal porta de entrada para a
implantação da educação ambiental nos sistemas produtivos em geral.

A GESTÃO AMBIENTAL COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A educação ambiental no setor produtivo emerge da confluência en-


tre três diferentes áreas – o meio ambiente, a educação, o trabalho. As inter-
-relações entre as mesmas vêm a constituir os contextos da Educação Am-
biental, da Educação Profissional¹² e da Gestão Ambiental (Figura 9.1).
Educação ambiental 199

EDUCAÇÃO

Educação
Ambiental
no setor
produtivo

TRABALHO AMBIENTE
Gestão Ambiental

Figura 9.1 As três áreas (Educação, Trabalho, Ambiente) e os seus contextos pedagógicos
(Educação Profissional, Educação Ambiental e Gestão Ambiental).

A educação ambiental de adultos trabalhadores, por envolver um


novo contexto, que emerge da interação entre essas três diferentes áreas,
exige uma abordagem que leve em conta as novas peculiaridades. Sendo
assim, consideramos que os contextos pedagógicos da Educação Profissio-
nal, Educação Ambiental e da Gestão Ambiental devem se transformar em
contextos ecopedagógicos (âmbitos de ensino-aprendizagem que incorpo-
ram a dimensão socioambiental) por meio de uma abordagem ecossistêmi-
ca, conceito utilizado por Minayo (2007) para indicar estratégias transdis-
ciplinares, participativas e integradoras no trato de problemas ambientais.
Em um paralelo com o que a autora considera para o pensamento sistêmi-
co, podemos dizer que a abordagem ecossistêmica, não sendo uma técni-
ca, é uma visão epistemológica que permite usar os recursos da ciência
tradicional, mas com uma abordagem diferente, pois nega a visão unidi-
mensional, a mente compartimentalizada e as regularidades e normas,
ressaltando as interações, a comunicação entre oposições e as transforma-
ções (Minayo, 2007).
A partir da discussão das temáticas que interligam educação e tra-
balho, é importante estabelecer as inter-relações entre os contextos da
educação ambiental e da gestão ambiental, considerando esta última
um espaço privilegiado para a educação ambiental de adultos trabalha-
dores.
Um dos princípios a serem atendidos para que a Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA) alcance os seus objetivos é a “educação am-
biental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambien-
te” (Lei 6.938/81, Inciso X, Art 2o). A necessidade dessa participação é evi-
200 Aloisio Ruscheinsky (org.)

dente, considerando-se que o poder de decisão e de intervenção na trans-


formação do ambiente, assim como os benefícios e custos decorrentes es-
tão distribuídos de modo assimétrico na sociedade, onde os detentores de
poder econômico e político possuem maior capacidade de influenciar na
transformação da qualidade do meio ambiente (Quintas, 2007).
A participação é definida por Loureiro, Azaziel e Franca (2003)
como “um processo social que gera interação entre diferentes atores so-
ciais na definição do espaço comum e do destino coletivo”, devendo ser
individual e coletiva, permanente e responsável, como previsto na Políti-
ca Nacional de Educação Ambiental (Inciso IV, Art. 5o da Lei 9.795/99).
Essas características estão presentes nos conceitos de gestão ambiental e
de educação ambiental, que são, respectivamente,
um processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais que
interagem em um dado espaço com vistas a garantir a adequação dos
meios de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e so-
cioculturais – às especificidades do meio ambiente, com base em princí-
pios e diretrizes previamente acordados/definidos (Almeida, 2009);
uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de va-
lores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento
da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais in-
dividuais e coletivos no ambiente (Loureiro, Azaziel e Franca, 2003).

A partir desses conceitos, ficam evidentes as conexões entre a ges-


tão ambiental e a educação ambiental, sendo aquela um espaço que exi-
ge e ao mesmo tempo propicia condições para o desenvolvimento de
processos educativos ambientais.
Tais processos estão condicionados aos espaços nos quais se desen-
volvem a gestão ambiental, quais sejam, o público, exercido pelo poder
público, e o da gestão ambiental privada, exercido pelo setor produti-
vo.12 O âmbito da gestão ambiental pública tem sido avaliado por Quin-
tas (2002; 2004; 2007), Uema (2006), Layrargues (2002), Loureiro
(2009), todos articulando esse espaço aos processos da educação am-
biental. A gestão ambiental na esfera da atividade produtiva é configura-
da por Layrargues (2003) e Pedrini e colaboradores (2008), que avaliam
os limites e as possibilidades da educação ambiental nesse espaço.
A partir desses referenciais, fica evidente o principal papel da ges-
tão ambiental pública, que deve mobilizar para a ação participativa, de-
senvolvendo conhecimentos, habilidades e atitudes que fortaleçam as co-
munidades que sofrem efeitos ambientais adversos ou que podem ser
Educação ambiental 201

afetadas pelos mesmos. Por sua vez, a educação ambiental de âmbito


empresarial apresenta grandes desafios ao atendimento dos princípios e
objetivos da educação ambiental expressos, respectivamente, no Art. 4o e
no Art. 5o da Lei 9.795/99.
Apesar dos principais documentos que traçam a política pública na-
cional em educação ambiental, como a PNEA (Lei 9.795/99) e o Programa
Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), identificarem espaços da edu-
cação ambiental junto às empresas (âmbito não formal), ainda há resistên-
cias a ocupá-los, em especial por parte do meio acadêmico, mais ligado ao
âmbito da educação ambiental escolar (âmbito formal) e pela ideia de que a
ecologização do setor empresarial é um mero mecanismo de autorregulação
para evitar o aprofundamento da crise ecológica (Layrargues, 1998), limi-
tando com isso o papel da educação ambiental nesse contexto.
No entanto, assim como a escola não deve ser espaço da reprodu-
ção das relações materiais e sociais de produção, conforme evidenciado
por Althusser (1989), da mesma forma, empresas e fábricas não devem
ser locais de trabalho alienado e nem fonte de impactos, na dupla explo-
ração do ser humano e da natureza. Ambas, escolas reprodutivistas e
corporações poluidoras, são instituições que não cumprem o seu papel
adequadamente. Sendo assim, é exatamente por isso que devem receber
todas as atenções para a superação dessas insuficiências.
O desafio é levar em conta os diferentes espaços e tempos de se
fazer educação ambiental, sem relativizar discursos e práticas de acordo
com a situação e os interesses que possam estar em pauta. Esse desafio é
maior quando se trata de ações de educação ambiental (não formal) de-
senvolvidas no e pelo âmbito empresarial, situação onde ficam mais evi-
dentes os conflitos entre crescimento econômico (visto como sinônimo
de desenvolvimento) e a base natural e social que lhe dá sustentação.
Nesse contexto, as ações de educação ambiental podem ser apropriadas
e servirem de instrumento de justificativa e validação de práticas socio-
ambientais injustas e impactantes. Identificar tais práticas, evitando atuar
junto às mesmas, é outro desafio dos educadores ambientais comprometi-
dos com os princípios da educação ambiental que vêm sendo construídos
desde a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (em
Tbilisi, 1977), e que estão consolidados na Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
INTRODUÇÃO
À PROFISSÃO:
EDUCAÇÃO FÍSICA

Juliana K. M. Teixeira
O papel do profissional: lei
do exercício profissional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar a regulamentação da profissão, conhecendo a trajetória da


lei do exercício profissional de educação física.
 Distinguir as especificidades da lei e as determinações do Conselho
Federal de Educação Física.
 Reconhecer a exigência legal do atendimento nas atividades físicas
e desportivas por profissional da educação física.

Introdução
Cada profissão é composta por direitos e deveres atribuídos aos traba-
lhadores de sua respectiva área. A profissão que possui regimento em
legislação própria é considerada uma profissão regulamentada. A edu-
cação física foi regulamentada por meio da lei do exercício profissional,
decretada em 1º de setembro de 1998.
Neste texto, você irá compreender a regulamentação, as disposições
legais, as determinações dos conselhos que regulam a profissão e a ética
que envolve todos os aspectos do papel do profissional.

Sobre a regulamentação das profissões


Cada profissão é composta por direitos e deveres atribuídos aos trabalhadores
de sua respectiva área. Algumas profissões possuem regulamentação pelo
Ministério do Trabalho, aquelas que possuem regimento em legislação própria
são consideradas profissões regulamentadas.
Sendo regulamentada, essa profissão traz benefícios aos seus trabalhadores,
como as licenças, o uso da carteira profissional, um piso salarial e a determi-
nação de uma jornada de trabalho definida. Essas profissões regulamentadas

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66 O papel do profissional: lei do exercício profissional

podem definir as exigências quanto à formação e aos certificados exigidos


para a comprovação da formação.
Algumas profissões podem incluir testes de proficiência e/ou conhecimentos
técnicos para que sejam exercidas. Dentro das áreas profissionais com regu-
lamentação em legislação específica temos: administração, direito, aviação,
agronomia, arquivismo, arquitetura, serviço social, futebol, entre outras.
A regulamentação tem sido feita em diversas profissões, principalmente
pelos benefícios que proporcionam. No site do Ministério do Trabalho, constam
68 profissões regulamentadas, mas a cada ano esse número aumenta. Não
apenas para assegurar os direitos do trabalhador, a regulamentação também
existe para garantir o direito à sociedade de ser atendida por um profissional
que tenha habilitação para exercer a função (Figura 1).

Figura 1. Profissionais com habilitação específica nas suas respectivas áreas.


Fonte: PNG (2015).

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O papel do profissional: lei do exercício profissional 67

História da lei do exercício profissional


de educação física
Conforme Oliveira (2017), desde 1984 existem registros de ações concretas
para a regulamentação da lei do exercício profissional de educação física. As
primeiras ações foram feitas pela Federação Brasileira das Associações dos
Profissionais de Educação Física, a FBAPEF.
Nesse período, foi apresentado o Projeto de Lei nº 4559/84, que pedia
a regulamentação da profissão. Esta só foi aprovada em 1989, porém, em
1990, o então presidente José Sarney vetou a lei. Em 1994, tendo em vista o
aumento do número de estudantes da área e da contratação de profissionais,
começaram novamente as ações com interesse de retomar a regulamentação
da profissão.
Em 1995, durante um dos maiores congressos de educação física da
América Latina, o evento da Federação Internacional de Educação Física
(FIEP), em Foz do Iguaçu, houve a proposta de reiniciar o movimento da
regulamentação. A proposta não foi bem vista por todos, mas recebeu apoio
da maioria dos profissionais.
Esse projeto foi analisado, no mesmo ano, pela Comissão de Educação,
Cultura e Desporto. Depois, em 1996, passou pela Comissão de Trabalho,
Administração e Serviço. O então deputado Paulo Paim foi designado relator
do projeto. Este pediu algumas alterações, vetando nessa instância para que
fossem feitos ajustes. Nesse ano, em audiência pública, as instituições de ensino
superior, os órgãos públicos, os profissionais e os estudantes da educação
física foram consultados sobre o projeto.
Em 1997, o projeto foi aprovado por unanimidade e então foi para a análise
da Comissão de Constituição e Justiça, para em 1998 ser aprovado. Passa então
para o Senado, para ser analisado.
Então, em 1º de setembro de 1998, a Lei nº 9696/98 foi sancionada e foi
publicada no Diário Oficial da União em 02 de setembro de 1998. Nesse mesmo
ano foi criado o Conselho Federal da Educação Física (CONFEF) e eleitos os
seus conselheiros (Figura 2).

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68 O papel do profissional: lei do exercício profissional

Figura 2. Lei nº 9696/98 publicada no Diário Oficial da União em 02 de setembro de 1998.


Fonte: BRASIL (1998).

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O papel do profissional: lei do exercício profissional 69

Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998

Art. 1º O exercício das atividades de educação física e a designação


de profissional de educação física é prerrogativa dos profissionais
regularmente registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física.
Art. 2º Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais
de Educação Física os seguintes profissionais:
I - Os possuidores de diploma obtido em curso de educação física,
oficialmente autorizado ou reconhecido;
II - Os possuidores de diploma em educação física expedido por insti-
tuição de ensino superior estrangeira, revalidado na forma da legislação
em vigor;
III - Os que, até a data do início da vigência desta Lei, tenham compro-
vadamente exercido atividades próprias dos profissionais de educação
física, nos termos a serem estabelecidos pelo Conselho Federal de
Educação Física.
Art. 3º Compete ao profissional de educação física coordenar, plane-
jar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e
executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar
serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos
especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisci-
plinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos
nas áreas de atividades físicas e do desporto.
Art. 4º São criados o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de
Educação Física.
Art. 5º Os primeiros membros efetivos e suplentes do Conselho Federal
de Educação Física serão eleitos para um mandato tampão de dois
anos, em reunião das associações representativas de profissionais
de educação física, criadas nos termos da Constituição Federal, com
personalidade jurídica própria, e das instituições superiores de ensino
de educação física, oficialmente autorizadas ou reconhecidas, que serão
convocadas pela Federação Brasileira das Associações dos Profissionais
de Educação Física - FBAPEF, no prazo de até 90 (noventa) dias após
a promulgação desta lei.
Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 1º de setembro de 1998; 177º da independência e 110º da
República.
Fernando Henrique Cardoso
D.O.U. - QUARTA-FEIRA, 02 DE SETEMBRO DE 1998.

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70 O papel do profissional: lei do exercício profissional

Após a regulamentação: a exigência legal


do atendimento nas atividades físicas e
desportivas por profissional da educação física
Na constituição brasileira, é dever do estado incentivar o esporte, bem como
instruir para que este seja sempre orientado por um profissional que tenha a
formação adequada. Portanto, além da promoção, a proteção no que tange a
atividade física bem orientada é um direito do cidadão brasileiro.
No Art. 5º da Constituição Federal, o texto prevê que seja livre o exercício
de qualquer trabalho, ofício ou profissão, porém, exige que sejam atendidas às
qualificações profissionais que a lei venha a estabelecer. Com a Lei nº 9696/98,
o exercício da profissão de educação física é prerrogativa dos profissionais
que estejam registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs),
componentes dos sistemas OFEF/CREFs.
Fica, portanto, definido que toda atividade esportiva e física, bem como
os projetos esportivos, devem ser orientados por profissionais de educação
física. Este atuará orientando, fiscalizando e prescrevendo o exercício físico
em todo país.
Entre as atividades autorizadas e exigidas de um profissional de educação
física, incluem-se: os projetos desportivos; atuar como coordenador e técnico
de equipe desportiva em competições; atividades de lazer com intuito de
promover atividade física com idosos, gestantes e crianças; atividades em
turismo relacionadas a esportes de aventura; trabalhos de alto rendimento
dentro da musculação, hidroginástica e ginástica.
Além da lei do exercício profissional, temos a lei que determina a atuação
de clube e federações esportivas e da profissão de atleta. Essa Lei nº 9.615/98,
conhecida como Lei Pelé, trata sobre o desporto e dispõe sobre regras e con-
dutas relacionados à profissão de atleta. Sua criação teve por intuito dirimir
sobre os clubes, ligas e federações esportivas e regularizar a função dos clubes
para empresas.
Essa lei veio para tomar o lugar da antiga Lei Zico e instituir normas que
esta não dirimia. Apesar de criticada por alguns, essa lei definiu os respon-
sáveis pela fiscalização do cumprimento de suas determinações e tratou do
direcionamento das verbas para o esporte olímpico e paralímpico.
Nela, as agremiações/clubes deverão ter, em seu quadro de profissionais,
indivíduos especializados na formação técnico-desportiva para atuar na for-

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O papel do profissional: lei do exercício profissional 71

mação de atletas. Caso essa exigência não seja atendida, a instituição deverá
acarretar com os danos que por ventura sejam causados por exercícios mal
orientados nessas atividades.

Ética profissional
Para garantir o atendimento de qualidade por profissional formado e também
assegurar os direitos do profissional de educação física, em 1º de setembro
de 1998, foi sancionada a Lei nº 9696/98, que regulamentou o exercício pro-
fissional de educação física. Para apoiar a lei, foi criado o Conselho Federal
de Educação Física (CONFEF) e os Conselhos Regionais de Educação Física
(CREFs). Essa lei, além de fiscalizar o exercício profissional, ajudou também
a organizar a educação física no Brasil.
No Art. 3º dessa lei, encontra-se o seguinte texto:

Compete ao profissional de educação física coordenar, planejar, programar,


supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos,
programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, con-
sultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de
equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos,
científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto.
É, portanto, função do CONFEF, por intermédio dos CREFs, fiscalizar e
controlar para que se mantenha a qualidade na educação física, tomando as
ações necessárias para que os serviços referentes à educação física sejam
prestados por profissionais com a devida capacitação e com a qualificação
técnica exigida. Valorizando o profissional e fazendo com que se cumpra o
Código de Ética profissional da categoria na íntegra.
Cabe aos conselhos federais a punição dos profissionais que não cumpram
o código. Porém, não devemos esquecer que a ética profissional é um ponto
fundamental em qualquer profissão, fazendo a diferença nas relações profis-
sionais e na valorização da categoria.

Código de Ética do profissional


de educação física
A palavra ética vem do grego ethos e significa aquilo que pertence ao bom
costume, ao costume superior ou ao portador de caráter. Segundo o Dicioná-

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72 O papel do profissional: lei do exercício profissional

rio Aurélio, “ética é parte da Filosofia que estuda os fundamentos da moral;


conjunto de regras de conduta” (ÉTICA, [200-?]).
Diferente da palavra moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obedi-
ência, nos costumes e nos hábitos recebidos, a ética busca fundamentar as
ações morais por meio da razão somente.
Os profissionais de educação física há muito tempo discutem esse tema
em seus congressos e seminários, debatendo a conduta dos profissionais que
atuam na área. O profissional, por meio dos valores e dos princípios que
demonstra em sua conduta profissional, mostra a visão de ética que possui.
Essa visão permeia as atitudes profissionais, conduzindo, naturalmente, as
regras de conduta e ação.
Para regular o exercício profissional de educação física, foi criado o Código
de Ética desses profissionais, que é um documento que especifica os deveres
éticos e os padrões morais da área.
O profissional que não atua de acordo com o código prejudica sua imagem
e perde a credibilidade do seu trabalho, prejudicando a sua própria atuação.
Portanto, a intenção do Código de Ética é mais do que controlar, ela também
tem por função orientar o profissional para que este atue de maneira técnica
e ética com seu cliente. Todo dano causado por falta de ética na sua atuação é
de responsabilidade do profissional, sendo essa atuação regulada pelo sistema
CONFEF/CREFs.
Segundo o Parágrafo Único do Código de Ética:

Este Código de Ética constitui-se em documento de referência para os profis-


sionais de educação física, no que se refere aos princípios e diretrizes para o
exercício da profissão e aos direitos e deveres dos beneficiários das ações e
dos destinatários das intervenções.

Para ler mais sobre a ética profissional da educação física,


confira o artigo “A ética na formação do profissional de
educação física” no link ou código a seguir.

https://goo.gl/aMFFjd

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O papel do profissional: lei do exercício profissional 73

A obrigatoriedade do uso da cédula profissional


durante o exercício das atividades profissionais
No Diário Oficial da União, de 14 de setembro de 2012, a Resolução CONFEF
nº 233/2012 determina a obrigatoriedade do uso da cédula de identidade
profissional pelos profissionais de educação física no exercício da atividade:

Consoante o Art. 1º da Resolução em comento, o porte da cédula de identidade


profissional é obrigatório durante o exercício das atividades privativas dos
profissionais de educação física, constituindo prova de identidade civil para
todos os fins legais.

O papel do profissional de educação física


O Dia do Profissional de Educação Física é comemorado no dia 1º de setembro, dia
em que foi aprovada a Lei nº 9696/98, que regulamentou a profissão de educação
física em todo o país. Essa data, além de ser de grande importância para todos os
profissionais de educação física, pois sem esta não teriam seus direitos assegura-
dos, também é marcada por muitas comemorações em todo Brasil, nos conselhos
regionais e nas instituições de formação profissional que possuem o curso.
Porém, não é somente nessa data que vemos o papel fundamental do pro-
fissional de educação física. Durante os jogos olímpicos no Brasil, em 2016,
pôde-se ver a necessidade da atuação firme do profissional, tanto em âmbito
escolar, quanto dentro dos clubes esportivos.
Não podemos esquecer que a educação física escolar é um caminho essencial
para fomentar o interesse pela prática de esportes e, mais a frente, para identifica-
ção e encaminhamento aos clubes, dos(as) meninos(as) que possuem interesse e
potencial, formando atletas para representar o país, quando se trata do profissional
que atende em clubes esportivos, e fomentando o interesse pelo esporte na escola,
que é um dos caminhos para o aumento da prática esportiva no país.
Além disso, atentando-se para a importância dos profissionais de educação
física, podemos destacar o belo trabalho realizado por alguns profissionais
que se dedicam ao atendimento a portadores de necessidades especiais. Os
resultados conquistados pelo país nos jogos paraolímpicos, realizados no
Brasil com um número expressivo de bons atletas, demonstraram que estes
são acompanhados e treinados por excelentes profissionais de educação física.

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O papel do profissional: lei do exercício profissional 74

BRASIL. Lei n.9.696, de 1º de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da


Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos
Regionais de Educação Física. Brasília, DF, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l9696.htm>. Acesso em: 05 set. 2017.
BRASIL. Conselho Federal de Educação Física. Resolução CONFEF n. 233/2012. Brasília,
DF, 2012. Disponível em: <http://www.confef.org.br/extra/revistaef/arquivos/2013/
N47_MAR%C3%87O/01_CEDULA.pdf>. Acesso em: 30 set. 2017.
CÓDIGO de ética. [200-?]. Disponível em: <www.codigo-de-etica.info>. Acesso em:
03 set. 2017.
ÉTICA. In: DICIONÁRIO do Aurélio. 2017. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.
com/etica>. Acesso em: 30 set. 2017.
PNG. Creativos. Profesiones. 2015. Disponível em: <https://pngscreativos.wordpress.
com/tag/profesiones/> Acesso em: 17 out. 2017.
OLIVEIRA, E. E. R. A importância da regulamentação da profissão de Educação Física para
uma categoria profissional: o caso de Minas Gerais. 2017. 107p. Dissertação (Mestrado
em Gestão Desportiva )–Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Porto 2017.

Leituras recomendadas
BARROS, J. M. C. Ética é o Profissional de Educação Física. Revista CREF-SP, São Paulo,
ano 1, n. 2, p. 10, abril 2001.

BRASIL. Conselho Federal de Educação Física. Estatuto do Conselho Federal de


Educação Física: CONFEF. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 237, seção 1, p. 137-
143, 13 dez. 2010. Disponível em: <http://www.confef.org.br/confef/conteudo/471>.
Acesso em: 23 ago. 2017.
CALLEGARI. C. Educação Física. Revista CREF-SP, São Paulo, ano 14, n. 33, p. 13, jun./
ago. 2013.
DALPIAZ, A. L. Altermir Luiz Dalpiaz: Dia do Profissional de Educação Física. 04 set. 2017.
Disponível em: <www.correiodoestado.com.br/opinião/altemir-luiz-dalpiaz-dia-do-
-profissional-de-educação-fisica/310884>. Acesso em: 04 set. 2017.
ÉTICA, fiscalização, normas, portarias e educação. Revista CREF-SP, São Paulo, ano 1,
n. 2, abr. 2001.
FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, Ética & Justiça, São Paulo,
v. 13, n. 1, p. 1-9, 2008.

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INTRODUÇÃO
À PROFISSÃO:
EDUCAÇÃO FÍSICA

Cristiano Lozada
Tracy Freitas
Revisão técnica:

Hans Gert Rottmann


Mestre em Educação
Especialista em Educação Física: Ênfase em Esportes
Licenciado e Bacharel em Educação Física
Técnico de Voleibol Nível III pela Confederação
Brasileira de Voleibol

L925i Lozada, Cristiano.


Introdução à profissão: educação física / Cristiano
Lozada, Tracy Freitas; [revisão técnica: Hans Gert
Rottmann]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
138 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-260-7

1. Educação Física. I. Freitas, Tracy. II.Título.


CDU 796:37

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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UNIDADE 2
A profissão dentro
da área da saúde:
nacional e mundial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Elencar a atuação do profissional de educação física dentro da área


da saúde.
 Reconhecer a posição da Organização Mundial da Saúde em relação à
necessidade mundial de aumento da atividade física, como prevenção
de doenças crônicas provenientes da obesidade e do sedentarismo
na população mundial.
 Identificar o campo e a atuação do profissional de educação física no
âmbito hospitalar e na saúde pública.

Introdução
O campo de trabalho do profissional de educação física é amplo, e sua
atuação se insere em diversos ambientes de trabalho e áreas. Na área
da saúde, existem muitas possibilidades de colocação profissional. Entre
elas, podemos citar a saúde pública, a prevenção de doenças, o apoio na
reabilitação de pacientes no âmbito hospitalar, além da atividade dentro
de grupos de profissionais nos hospitais.
Neste capítulo, você verá a posição da Organização Mundial da Saúde
(OMS) a respeito da importância do profissional da educação física e da
atividade física. Além disso, você vai conhecer a atuação do profissional
de educação física no âmbito da saúde nacional e a ação do Ministério
da Saúde do Brasil, colocando esse profissional no projeto das Unidades

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24 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Básicas de Saúde (UBS) e no Programa Saúde da Família. Também vai


identificar o campo e a atuação do profissional na saúde púbica.
Por fim, você vai observar que o profissional de educação física ainda
precisa ocupar mais esse espaço e terá exemplos de profissionais que
já atuam na área.

A educação física dentro da área da saúde


Áreas de atuação do profissional de educação física na saúde:

 hospitais;
 UBS;
 grupo integrado de profissionais;
 clínicas;
 academias;
 clubes;
 escolas esportivas.

A educação física passou a ser reconhecida como área da saúde em 1997


e foi a partir dessa data que o profissional de educação física passou a ser
autorizado a atuar no Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar dessa profissionalização e do direcionamento para a saúde, ainda
existem muitos espaços para esse profissional assumir. O Conselho Federal de
Educação Física (CONFEF) define a educação física, inclusive a escolar, como
pertencente à área da saúde, pois a formação desse profissional, mesmo que
licenciado, inclui a prevenção de doenças por meio da promoção do esporte
e da atividade física.
Por muito tempo os profissionais de educação física, apesar de ainda não
serem apoiados por lei, já passavam a figurar na área da saúde. Foram cada vez
ocupando mais espaços e atuando em diversas áreas. Verifica-se que na política
e em espaços públicos de saúde falta a participação desse profissional e que
ainda não se vê um número expressivo de profissionais apresentando trabalhos
e pesquisas dentro dos seminários e conferências específicas da área da saúde.

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A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 25

Para atuar nessa área, a necessidade de cursos e de formação direcionada


é cada vez mais exigida, além da formação profissional de ensino superior em
educação física. Diversos são os cursos que se encontram no mercado com a
proposta de preparar e adequar melhor o profissional para atuar tanto na área pri-
vada, quanto na pública, bem como cursos de preparação para concursos e editais
públicos da área. Além da formação de bacharel em educação física, sugere-se
a especialização em saúde pública, saúde coletiva ou em áreas correlacionadas.
O profissional que trabalha com essa área passa da perspectiva profissional/
cliente para profissional/paciente. É importante que direcione seus cuidados ao
paciente, identificando aquilo que o indivíduo necessita e dando flexibilidade
aos objetivos e planos de tratamento preventivo (Figura 1).
O cuidado e a atenção são redobrados, além de uma constante atualização
e aperfeiçoamento para os atendimentos. A área da saúde é encantadora por
seu retorno verificado na melhora do seu paciente, porém, há um caminho
árduo até atingir os objetivos.

Figura 1. Cuidados em saúde do profissional de educação física.


Fonte: [Profissional...], ([2012]).

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26 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Texto do CONFEF extraído do site do conselho, que se encontra em sua revista


E.F. n. 27, de março de 2008 (SANTOS, 2008):

No ano de 1997, o Ministério da Saúde, após profunda e democrática


discussão no Conselho Nacional de Saúde, baixou resolução que apontou
a educação física como profissão de nível superior da área da saúde junto
com outras profissões, como medicina, fonoaudiologia, enfermagem,
biomedicina, farmácia, nutrição, dentre outras.
Em 1998, logo após o nascimento do Conselho Federal de Educação
Física, o tema virou pauta permanente do sistema nascido a partir de
Lei Nº 9.696, de 1° de setembro de 1998, e, logo após a instituição do
Código de Ética profissional, foi criada uma comissão para aprofunda-
mento e discussão do tema. Dela nasceu uma comissão especial para a
implantação dos códigos da profissão de educação física nos códigos
de procedimentos profissionais do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS),
também conhecida com CBO-SUS.

Em 2002, a Organização Mundial da Saúde, em carta aos países que a integram, sugeriu
a construção de políticas públicas que priorizassem a importância da prática de
atividades físicas devidamente acompanhadas e orientadas por profissionais, bem
como a prática de atividade física rotineira para atingir uma qualidade de vida melhor.
O Ministério da Saúde do Brasil instituiu, a partir dessa carta, diversas ações que
integram o profissional de educação física em programas, projetos e grupos de pro-
fissionais da saúde. Também passou a promover ações que estimulam a prática de
atividade física para prevenir as doenças decorrentes de uma vida sedentária.
Por intermédio da Federação Brasileira de Associações dos Profissionais de Educação
Física, muitos anos antes disso, já se discutia a educação física, inclusive a escolar,
como sendo importante para a saúde e para a qualidade de vida. Hoje, em carta, a
OMS pede atenção às práticas da educação física escolar como meio para promover,
no indivíduo, o costume da atividade física.

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A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 27

A profissão na área da saúde no âmbito


mundial e a posição da OMS
A profissão já é reconhecida mundialmente como a solução para um dos
maiores problemas que assola o mundo atualmente: a obesidade.
Entende-se que a melhor maneira de resolver essa questão é investir em
aulas de educação física para fins de prevenção da obesidade infantil.
Grandes estudos estão sendo desenvolvidos com o interesse de analisar o
tempo/período necessário na educação escolar para reverter essa doença que
é a desencadeadora de grande parte dos problemas cardíacos dos adultos.
Segundo a OMS, deve-se observar a atividade física recomendada para
cada faixa etária e tomar uma atitude emergencial em relação à educação física
escolar. Segue a carta da OMS, de fevereiro de 2014, com a recomendação
aos países em relação à prática e à educação física:
Alguns dados importantes devem ser tomados como referência sobre a
razão da atenção especial à atividade física, entre eles:

 A inatividade física é o quarto principal fator de risco de morte no mundo.


 Aproximadamente 3,2 milhões de pessoas morrem a cada ano em
decorrência da falta de atividade física.
 A falta de atividade física é um fator de risco chave para doenças crônicas não
transmissíveis (DCNTs), como doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.
 A atividade física traz benefícios significativos para a saúde e contribui
para a prevenção das DCNTs.
 No mundo, um em cada três adultos não pratica atividade física suficiente.
 Políticas para combater a inatividade física estão em prática em 56%
dos países membros da OMS.
 Os países membros da OMS acordaram com a redução da inatividade
física em 10% até 2025.

A OMS define atividade física como sendo qualquer movimento corporal


produzido pelos músculos esqueléticos que requeiram gasto de energia – in-
cluindo atividades físicas praticadas durante o trabalho, jogos, execução de
tarefas domésticas, viagens e em atividades de lazer. O termo atividade física
não deve ser confundido com exercício, que é uma subcategoria da atividade
física e é planejada, estruturada, repetitiva e tem como objetivo melhorar ou
manter um ou mais componentes do condicionamento físico. A atividade física
moderada e intensa traz benefícios para a saúde. A intensidade das diferentes
formas de atividade física varia entre as pessoas. A fim de trazerem benefícios

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28 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

para a saúde cardiorrespiratória, todas as atividades físicas devem ser prati-


cadas em sessões de pelo menos dez minutos de duração. A OMS recomenda:

 Para crianças e adolescentes: 60 minutos de atividade física moderada


a intensa por dia.
 Para adultos (maiores de 18): 150 minutos de atividade de intensidade
moderada por semana (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014, p.1).

Texto da OMS a respeito dos benefícios da atividade física e a proposta de


aumento da atividade física (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014):
A atividade física de intensidade moderada – como caminhar, pedalar ou praticar
esportes – traz benefícios significativos para a saúde. Em todas as idades, os benefícios
de ser fisicamente ativo superam os eventuais danos, decorrentes de lesões, por
exemplo. Um pouco de atividade física é melhor do que nenhuma.
Ao se tornarem mais ativas ao longo do dia de maneiras relativamente simples, as
pessoas conseguem facilmente atingir os níveis recomendados.
Níveis regulares e adequados de atividade física:
 Melhoram o condicionamento muscular e cardiorrespiratório;
 Aumentam a saúde óssea e funcional;
 Reduzem o risco de hipertensão, doença cardíaca coronária, AVC, diabetes, câncer
de cólon e de mamas e depressão;
 Reduzem o risco de quedas, bem como de fraturas de quadril ou vertebrais; e
 São fundamentais para o balanço energético e controle de peso.
Como aumentar a atividade física?
Os países membros da OMS acordaram com a redução da inatividade física em 10%
na plataforma do Plano de Ação Global para a Prevenção e Controle de Doenças
Não-transmissíveis 2013-2020. Políticas e planos para o combate à inatividade física
têm sido desenvolvidos em cerca de 80% dos países membros da OMS, embora estejam
em operação em apenas 56% dos países. Autoridades nacionais e internacionais também
estão adotando políticas em diversos setores para promover e facilitar a atividade física.
As políticas para aumentar a atividade física pretendem garantir que:
 Caminhar, pedalar e outras formas de transporte ativo sejam acessíveis e seguras
para todos.
 As políticas de trabalho e de ambiente de trabalho estimulem a atividade física.
 As escolas disponham de espaços e instalações seguras para que os estudantes
possam desfrutar de seu tempo livre de forma ativa.
 A educação física de qualidade (EFQ) ajuda as crianças a desenvolverem padrões
de comportamento que os mantenha fisicamente ativos ao longo da vida.
 As instalações esportivas e de lazer favoreçam oportunidades para que todos
pratiquem esportes.

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A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 29

Portanto, por meio do agente profissional de saúde/profissional de edu-


cação física e sua atuação em academia, clube esportivos e demais espaços,
segundo a OMS, o quadro de obesidade será diferente, baixando os níveis e
melhorando a saúde mundial.

Leia mais sobre as recomendações da OMS no link ou


código a seguir.

https://goo.gl/nhuxwA

O profissional de educação física e sua atuação


na área da saúde em âmbito nacional
Diante dos problemas relacionados à saúde que a sociedade enfrenta, o governo
criou alguns projetos visando a melhorar a qualidade de vida das pessoas. É reco-
nhecido que os custos para tratamento e cura de doenças provenientes de um estilo
de vida sedentário são altos e podem ser evidentes pela análise de custo do SUS.
Tendo em vista a necessidade de transformação nessa área, o governo brasileiro
criou diversos programas que têm como propósito a união de alguns profissionais
para atender a população. Nesses programas, o profissional de educação física tem
papel importante na prevenção de doenças causadas pela falta de prática física.
Com origem no ano de 1994 e proposto pelo governo federal, temos como
exemplo o Programa Saúde da Família (PSF), que foi criado com o objetivo
de implementar a atenção básica que visa à melhora nos serviços e na reorien-
tação das práticas profissionais em nível de assistência, promoção da saúde,
prevenção de doenças e reabilitação.
Dentro do Programa Saúde da Família existe a divisão em dois grupos, cha-
mados de Núcleos de Apoio à Saúde da Família – o NASF. Nesses núcleos, há
espaço para reuniões e atendimentos em conjunto, que, juntamente com as equipes
da saúde da família, contam com momentos de discussão e gestão do cuidado.

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30 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Esses núcleos têm por objetivo dar entrada ao usuário para o sistema do
PSF e também um apoio às equipes de saúde da família. O NASF está dividido
em nove áreas:

 Atividade física/práticas corporais.


 Práticas integrativas e complementares.
 Reabilitação.
 Alimentação e nutrição.
 Saúde mental.
 Serviço social.
 Saúde da criança/do adolescente e do jovem.
 Saúde da mulher.
 Assistência farmacêutica.

Existem dois tipos de NASF:

 NASF 1: envolve, no mínimo, cinco das profissões de nível superior,


como psicólogo; assistente social; farmacêutico; fisioterapeuta; fono-
audiólogo; profissional da educação física; nutricionista; terapeuta
ocupacional; médico ginecologista; médico homeopata; médico acu-
punturista; médico pediatra; e médico psiquiatra;
 NASF 2: deve ser composto por, no mínimo, três profissionais de nível
superior de ocupações não-coincidentes, como assistente social; profis-
sional de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo;
nutricionista; psicólogo; e terapeuta ocupacional.

O professor de educação física, nesse âmbito, entre outros profissionais,


possui um papel fundamental nesse projeto. Não se pode esquecer que o pro-
fissional de educação física, prioritariamente, mesmo em se tratando da área da
saúde, vai atuar na prevenção desta, deixando para os outros profissionais da
equipe a função de prescrição de remédios, a reabilitação e a avaliação médica.
Esse programa é de suma importância na saúde nacional, pois representa uma
alternativa primária de reorientação no modelo de atenção à saúde. Apresenta
um campo bem importante de intervenção para o profissional de educação física,
pois, tanto a atividade física, como a promoção da saúde são atualmente subáreas
da educação física. Observa-se que nos dois núcleos do programa se encontra
o professor de educação física e, dentro dos núcleos, este vai atuar diretamente
com ações que têm o objetivo de promover a saúde e também recuperá-la.

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A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 31

Educação física e saúde pública


Atualmente, de forma ampla, a mídia e os órgãos públicos têm promovido
ações e divulgações com o objetivo de alertar sobre a necessidade da prática
física. Porém, além de praticar uma atividade física, é de suma importância
que essa atividade seja bem orientada por um profissional habilitado, pois a
má prática também pode causar prejuízos para a saúde do indivíduo.
Segundo Stein (2009), em sua análise sobre a situação do processo saúde-
-doença, discutiu-se a preocupação para o desenvolvimento de um trabalho voltado
à prevenção por meio da educação, pois, para se ter alcance preventivo, é necessário
compreender os três níveis de prevenção. Estes são apresentados pela medicina
como prevenção primária, secundária e terciária. Em seu texto, Stein ainda ressalta
que a educação física está presente nesse processo da seguinte forma:
Na prevenção primária, a educação física pode atuar desenvolvendo ações
que apresentem regras sadias de vida, tanto fisiológicas quanto psicológicas,
além de atividades prazerosas. O profissional de educação física deve intervir
antes, de forma preventiva, visando a uma educação para a saúde.
Na secundária, ela pode atuar no desenvolvimento da prevenção primária,
fazendo a manutenção das ações para o alcance dos objetivos pretendidos.
Por fim, na prevenção terciária, esse profissional já atuaria encaminhando
o indivíduo aos especialistas para tratamento e/ou reabilitação das doenças.

Atuação em outros programas de saúde pública


Segundo nota em revista mensal, o sistema CONFEF/CREF (Conselho Fe-
deral de Educação Física e Conselhos Regionais de Educação Física), do
Ministério da Saúde do Brasil, há um grupo de colaboradores formado por
diversos profissionais da área da saúde que atuam no Departamento de HIV/
aids. A educação física é representada por cinco profissionais nesse grupo.
Sua atuação tange em realizar análises sobre atividades físicas e exercícios
físicos para portadores de HIV e aids.
Entre os profissionais que trabalham neste grupo, o prof. Alexandre Lazza-
rotto é um deles. Em sua formação, consta mestrado e doutorado em Ciências
do Movimento Humano, pela federal do Rio Grande do Sul. Esse professor
atua coordenando equipes de pesquisa em HIV/aids, na parte de treinamento
físico e também na prevenção da contaminação pelo HIV no Brasil e na África.

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32 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Citada pelo conselho, a professora de educação física Cristina Calegaro,


que também é integrante do grupo e trabalha com reabilitação cardiopulmonar,
atua na avaliação, na prescrição e no monitoramento de treinamento físico.
Sua especialização é em Reabilitação Cardíaca e Atividade Física para Grupos
Especiais pela FMU-SP. Também em seu currículo há a especialização em
Fisiologia e Cinesiologia Aplicada à Saúde pela Gama Filho-RJ.
Também faz parte do grupo de tratamento e exercícios para pessoas so-
ropositivas, do Ministério da Saúde, o prof. Giovanni Nardin, que atua como
pesquisador do Laboratório de Fisiopatologia do Exercício (Lafiex), do Centro
de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (RS). Segundo
o prof. Giovanni, para atuar nesse campo, treinamento e conhecimentos apro-
fundados são fundamentais.

Educação física nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs)


Em 2006, após a aprovação da Política Nacional de Promoção da Saúde, foi permitida
a atuação do profissional de educação física nas Unidades Básicas de Saúde. Essas
unidades — conhecidas como postos de saúde —, antes dessa data, atuavam apenas
oferecendo atendimento médico e distribuição/aplicação de vacinas e remédios à
comunidade.
Nesses postos de saúde, o profissional de educação física passou a atuar no pla-
nejamento e na execução de aulas de educação física para grupos de portadores
de hipertensão, diabetes, entre outras doenças crônicas. Sua atuação é ampliada
também para promoção de palestras com o intuito de orientar a respeito da pre-
venção dessas doenças.
Para essa ação, cabe bem o dito popular: “É melhor prevenir que remediar”. A atuação
do profissional de educação física é fundamental e é regulamentada e definida pelos
respectivos decretos federais. Tendo em vista a saúde com a prevenção de doenças
crônicas relacionadas à obesidade e ao sedentarismo, esse profissional irá atuar no desen-
volvimento de projetos preventivos e de conscientização, alertando para a necessidade
do hábito da prática física, desde o início da infância até o final da vida do indivíduo.

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A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 35

BRASIL. Ministério da Saúde lança programa para estimular a prática de atividade física.
07 abr. 2011. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/esporte/2011/04/ministerio-
-da-saude-lanca-programa-para-estimular-a-pratica-de-atividade-fisica>. Acesso
em: 09 ago. 2017.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Atividade física. Folha Informativa, Brasília, DF, n.
385, fev. 2014. Disponível em: <http://actbr.org.br/uploads/conteudo/957_FactShee-
tAtividadeFisicaOMS2014_port_REV1.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2017.
SANTOS, L. R. dos. O profissional de educação física e a saúde da família. Educação
Física, Brasília, DF, v.8, n. 27, p. 18-19, mar. 2008. Disponível em: <http://www.confef.org.
br/extra/revistaef/arquivos/2008/N27_MAR%C3%87O/14_PROF_EF_SAUDE_NA_FA-
MILIA.PDF>. Acesso em: 09 ago. 2017.
STEIN et al. Rastreamento do sedentarismo em adultos e intervenções na promoção da
atividade física na atenção primária à saúde. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de
medicina de Família e Comunidade, ago. 2009.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Physical activity. 2017. Disponível em: <http://www.
who.int/mediacentre/factsheets/fs385/en/>. Acesso em: 10 fev. 2017.

Leituras recomendadas
BILIBIO, L. F.; CECCIM, R. B. Singularidades da educação física na saúde: desafios à
educação de seus profissionais e ao matriciamento interprofissional. In: FRAGA, A. B.;
WACHS, F. (Org.). Educação Física e Saúde Coletiva: políticas de formação e perspectivas
de intervenção. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2007. p. 47-62.

Cap_2_Intro_Educacao_Fisica.indd 35 27/10/2017 16:53:35


36 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Básica. Departamento de Atenção


Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2009.
COUTINHO, S. da S. Competências do profissional de educação física na atenção básica
a saúde. 208 f. 2011. Tese (Doutorado em Enfermagem)- Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, 2011.
OLIVEIRA, C. da S. et al. O profissional de Educação Física e sua atuação na saúde
pública. EFDeportes.com: revista digital, Buenos Aires, ano 15, n. 153, fev. 2011.

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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
PRÁTICA
PROFISSIONAL DO
EDUCADOR FÍSICO

Eduardo Natali
Della Valentina
As tendências atuais do
mercado de trabalho
em Educação Física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar o atual mercado de trabalho das áreas de Educação Física.


 Descrever o perfil profissional de Educação Física para o mercado
de trabalho.
 Enumerar as áreas promissoras dentro do mercado de trabalho de
Educação Física.

Introdução
Neste capítulo, você estudará as tendências do mercado de trabalho
de Educação Física, compreendendo como a mídia, a sociedade e a
própria formação do indivíduo proporcionam maiores possibilidades
e oportunidades no mundo atual. Ou seja, você refletirá sobre o atual
mercado de trabalho da Educação Física, identificando o novo perfil do
profissional da área e conhecendo os campos de atuação promissores.

Mercado de trabalho
Desde o final do século XX, o mundo do trabalho, estimulado pela nova
dinâmica capitalista, tem passado por mudanças significativas. A desregu-
lamentação das regras trabalhistas e a flexibilização do mercado elevaram a
tecnologia e o conhecimento científico atrelados à Educação Física a níveis
não explorados, assim como geraram um novo ordenamento no trabalho do
professor de Educação Física, que teve de adquirir novos conhecimentos,
novas habilidades e atitudes.
2 As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física

Se, antes, sua prática profissional resumia-se à docência, com a criação


dos cursos de Bacharelado em Educação Física, o campo de trabalho ampliou-
-se, trazendo novas formas de atuação para a prática profissional da área e
despertando um novo olhar sobre o significado da atividade profissional.
Atualmente, a Educação Física desponta como uma das áreas profissionais
mais promissoras e está entre as mais prováveis de terem espaço crescente no
mercado de trabalho no ano de 2020.
A mídia, seja impressa ou eletrônica, tem divulgado, desde meados da
década de 1970, as transformações que o mundo do trabalho vem sofrendo
sistematicamente. Tais transformações apresentam reflexos nas mais diferentes
dinâmicas da vida individual, social e cultural e foram ocasionadas pelas
medidas que o sistema capitalista promoveu na tentativa de se reerguer, em
face da crise, no seu conjunto organizacional.
De acordo com Antunes (2007), as novas relações de trabalho vêm acu-
mulando mudanças que, em sua maioria, beneficiam o capital especulativo e
financeiro, colocando o indivíduo e o próprio trabalho em segundo plano. A
competição desenfreada e a produção a qualquer custo tornaram-se um novo
padrão na esfera do trabalho, elevando a tecnologia e o conhecimento científico
a um patamar jamais visto antes. Dessa forma, os atributos e as características
do trabalhador, bem como as particularidades dos conhecimentos produzidos,
tornaram-se fundamentais.
Nesse novo contexto, onde observamos a desregulamentação das regras
trabalhistas gerar a terceirização dos serviços, a perda dos direitos trabalhistas
e a contratação por temporada, estão os profissionais de Educação Física
tentando situar-se, praticando sua intervenção e buscando entender, sobreviver
e extrair algum benefício dela (VERENGUER, 2003).
A nova dinâmica capitalista, baseada na flexibilidade dos processos do
trabalho, do mercado, dos produtos e padrões de consumo, é responsável pelo
aparecimento de novos mercados, serviços, tecnologias, etc. (HARVEY apud
CATANI; OLIVIERA; DOURADO, 2001).
Em função da dianteira tomada pela ciência e pelo avanço da tecnologia,
no final do século XX, esse processo de mudanças alterou o arcabouço do
sistema de produção e de contratação e trouxe a necessidade de o profissional
adquirir novos conhecimentos, habilidades e atitudes.
Segundo Nozaki (1999), houve um reordenamento do trabalho do professor
de Educação Física, que, em sua dimensão histórica, pouco teve de conteúdo
de transformação.
As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física 3

Quanto às implicações no mundo do trabalho para a Educação Física


(SILVA; BRITO, 2016), destacam-se a desvalorização da área — principal-
mente na escola pública —, a Educação Física como um diferencial na escola
particular, a regulamentação da profissão, a precarização do trabalho do
professor de Educação Física, a ampliação da atuação do espaço não escolar,
a fragmentação na formação profissional, a Educação Física/cultura corporal
como mercadoria e a criação do Conselho Federal de Educação Física/Conselho
Regional de Educação Física (CONFEF/CREF).
Faria Jr. (2001) demonstrou grande preocupação com a transformação
social e com a construção de uma nova sociedade, mas, também, observou
um conjunto de aspirações em relação ao movimento, que se destinam
à privatização do campo de atuação da Educação Física, à formação do
professor de Educação Física e à transformação da Educação Física em
uma profissão liberal.
No último quarto do século XX, mais especificamente a partir da década de
1980, o Brasil passou por grandes transformações nas relações humanas. Tais
mudanças não afetaram apenas o campo político, econômico e social. O pro-
cesso de redemocratização, denominado “abertura”, influenciou — e muito —
a área educacional. Aproveitando o momento histórico social, a educação e,
consequentemente, a Educação Física no Brasil despertaram, apresentando uma
nova energia em todos os aspectos. Mais estruturada e submetida aos rígidos
critérios da ciência, a Educação Física ficou também conhecida e identificada
como Motricidade Humana (SERGIO, 1987) ou Cinesiologia (TANI, 1996),
adquirindo características marcantes nunca imaginadas. Alavancada pelas
expressões esportivas, fenômenos sociais tidos como dos mais significativos
do século passado (TUBINO, 1992), a Educação Física deixou o estado de
dormência e iniciou um novo conceito que culminou em um novo paradigma
da sociedade atual: “a relevância das atividades físicas sistematizadas na
promoção e na manutenção da saúde”.
A entrada da Educação Física nessa realidade, caracterizada por ex-
cessivas mudanças, constata que, a partir da década de 1980 e apesar da
crise econômica que assolava o país, houve um aumento célere na produção
das atividades físicas, sobretudo nas áreas de atuação não escolar, esti-
mulado pelo discurso da promoção da saúde e permeado pela realização
dos exercícios físicos.
Dentro de uma realidade traçada pela crise econômica, a educação pública
e o magistério experimentaram um processo de desvalorização que ocasionou
reflexos para os profissionais da área. Com a ausência de políticas públicas para
o setor, pôde-se observar, também, um aumento na realização de atividades
4 As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física

físicas, que foram sendo cada vez mais comercializadas — situação evidente
no caso das academias de ginástica (QUELHAS, 2011).
Seguindo a cartilha neoliberal e aproveitando-se do surgimento dos pro-
cessos flexíveis de produção, a iniciativa privada enxergou um novo espaço
de investimento no mercado das atividades físicas (SILVA; BRITO, 2016). A
partir daquele momento, instaurou-se um movimento de “compra” e “venda”
das atividades físicas.
Nesse mesmo período, surgiram modificações na área da Educação Física,
as quais se destacaram: uma nova maneira de se nomear o termo professor
de Educação Física, que acabou substituído pelo termo “profissional de Edu-
cação Física”; os primeiros ensaios sobre a regulamentação da profissão; o
nascimento do curso bacharelado, em 1987. Todas essas modificações termi-
nariam na regulamentação da profissão e na criação dos conselhos federais
(SAUTCHUK, 2005).
Ambientes privilegiados para a realização de atividades corporais siste-
máticas, como as academias, as escolas de esportes e os clubes esportivos,
passaram a se expandir e, hoje em dia, são facilmente encontrados na sociedade
e fazem parte do cotidiano das pessoas.
O avanço da ciência e da tecnologia, assim como a nova ordem na
dinâmica encontrada nos dias atuais para o desenvolvimento econômico,
social e cultural, trouxeram grandes transformações no estilo de vida das
pessoas. O ser humano, que antes se valia da sua capacidade singular de se
locomover de forma eficiente, foi rapidamente atraído pelos “privilégios”
encontrados nos modernos meios de transporte e passou a preterir o hábito
da atividade corporal.
A ação de realizar exercícios físicos, expressões corporais e atividades
desportivas constitui-se em um bem e um direito de todos os cidadãos, portanto
não devem ser um expediente apenas para atletas, nem tampouco devem ser
sucateados pelo poder público, já que se caracterizam como um legítimo meio
para a aquisição de um estilo de vida ativo e são reconhecidos como elementos
importantes para um modelo de uma vida de maior qualidade.
Negada àqueles que não podem adquiri-la, a Educação Física perdeu sua
grande característica de servir a todos. Acompanhando a lógica neoliberal,
que enfraquece o dever do estado de investir em serviços básicos para a
população, os exercícios físicos passaram a fazer parte das responsabilidades
do próprio cidadão.
As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física 5

O termo correto a ser utilizado para denominar o profissional formado na área de


Educação Física não é educador físico, pois este remete apenas à educação do corpo.
A Educação Física é muito mais abrangente do que o corpo, portanto, o termo correto
é “profissional de Educação Física”.

Perfil profissional para o mercado de trabalho


No tocante à formação do professor de Educação Física, o surgimento do
bacharelado previsto na resolução 03/873 foi protegido pela iniciativa privada,
que antecedeu a importância de formar um profissional para suprir a solicitação
do mercado de trabalho.
A Resolução CNE/CES 7/2004 estabeleceu os padrões legais e norteadores
para a composição do bacharel em Educação Física. Sugeriu uma nova estru-
turação no currículo, apontando-o para a construção de um profissional de
Educação Física qualificado para o seu campo de atuação e dando prioridade
ao conceito de competências. Define que o graduado em Educação Física
deve estar preparado para analisar o contexto social e intervir acadêmica e
profissionalmente nas diferentes manifestações do movimento humano e na
esfera do conteúdo específico.
A preparação profissional em Educação Física passou por mudanças com-
plexas. Há cerca de 13 anos, os cursos de licenciatura em Educação Física
formavam profissionais para atuar no ensino formal e, de certa forma, também
davam conta de preencher os espaços existentes na área que não pertenciam
ao contexto escolar.
Atualmente, deparamo-nos com uma realidade bem alterada, motivada
pelos novos conhecimentos produzidos e discutidos, assim como pelas no-
vas exigências do mercado. Com o surgimento do bacharelado em algumas
instituições de ensino superior, veio um redimensionamento nos currículos
dos cursos de preparação profissional em Educação Física, sacramentando
a diferenciação e a separação do licenciado (professor) e do bacharel (pro-
fissional), buscando atender, do ponto de vista profissional, às exigências do
mercado e da sociedade, ou seja, professores ligados à Educação Física escolar
e profissionais ligados a programas de atividade física no atendimento de
diferentes necessidades da população.
6 As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física

Antunes (2007) salienta que, além do aspecto profissional (mercado de


trabalho), a criação do bacharelado em Educação Física também sofreu in-
fluências das discussões sobre as matrizes teóricas para caracterizá-la como
uma disciplina acadêmica.
A criação dos cursos de bacharelado veio atender a um novo perfil de
profissional que não pertence ao ensino regular, mas a uma nova e crescente
fatia do mercado, constituída por clubes, academias, empresas, condomínios,
hospitais, onde a atuação é direcionada não somente em executar habilidades,
mas em saber como e por que executá-las.
Enraizado quase exclusivamente na prática docente, o profissional de
Educação Física acompanhou, na década de 1980, um novo ordenamento
na sua área de atuação profissional. O campo cresceu e rompeu os limites
escolares, logo após passar por uma divisão na sua formação profissional,
causada pela resolução CNE 03/87, que resultou na separação da área em
licenciatura e bacharelado.
O bacharelado aprovou novas formas de atuação para a prática profissional
na área, trazendo um novo olhar sobre o significado da atividade. Elaborada e
desenvolvida apenas para o contexto escolar, a partir do advento do bacharelado,
a prática teve de ser repensada para outros ambientes, como as academias,
clubes, hospitais, empresas, hotéis, etc.
Surgiram, então, novas áreas relacionadas à saúde e ao esporte. Segmentos
pouco explorados pelo mercado, como academias, clubes, SPAs, entre outros,
ampliaram seus horizontes e adquiriram maior espaço no Brasil, incentivados
pela política de diminuição do papel do Estado, no que diz respeito à garantia
dos direitos sociais — dentre eles, a saúde (BRACHT; CRISORIO, 2003).
Não apenas a Educação Física, mas diversos setores da sociedade passaram
por uma reestruturação na atuação profissional. O cenário foi de mudanças
profundas, provenientes das novas relações encontradas nas atividades eco-
nômicas, políticas, sociais, culturais, etc.
Com exceção do sistema escolar de educação, o bacharel em Educação
Física tem inúmeras possibilidades de atuação nos mais diversos segmentos da
organização social, sejam eles públicos ou privados.=: o técnico em esportes,
que atua da iniciação ao alto nível, do competitivo ao recreativo; o professor
de academias, que atua nas atividades aquáticas, nas ginásticas de solo, na
musculação, no pilates, nas artes marciais, etc. (OLIVEIRA, 2000).
O profissional de Educação Física formado no bacharelado pode também
atuar nos clubes recreativos e esportivos, nas associações atléticas e no desporto
comunitário; nos processos de aprimoramento e desenvolvimento motor de
As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física 7

crianças na primeira infância, na prevenção e promoção da saúde relacionadas


ao processo de envelhecimento físico de pessoas idosas, na inclusão e no
desenvolvimento motor e intelectual dos portadores de necessidades especiais.
Dentre esses novos espaços de atuação do profissional de Educação Física
estão os hospitais — neste ambiente, o profissional trabalhará em programas
de reabilitação —, os hotéis, onde atuarão em programas relacionados aos
jogos, brincadeiras e esportes de aventura, e os SPAs, por meio de programas
de condicionamento físico e controle de peso.
Como personal trainer, embora esta atividade esteja entre as atividades do
professor de academia, há um tipo de intervenção que transcende os limites de
seu primeiro ambiente e estende-se as residências, parques, condomínios, etc.
Também, o profissional pode atuar em programas de ginástica laboral
em empresas e indústrias, minimizando as possíveis doenças causadas pelas
diferentes atividades profissionais, na organização e arbitragem de torneios
esportivos, bem como na organização e supervisão de eventos esportivos.
O mais novo campo de ação do profissional formado em bacharelado é
a gestão desportiva, onde atua no gerenciamento, na direção, na gestão de
pessoas e de recursos humanos, materiais e financeiros de clubes, academias,
associações esportivas entre outros. O profissional desse nicho pode prestar
serviços de consultoria a órgãos públicos ou empreendimentos particulares.
A formação profissional de Educação Física está pautada e organizada se-
gundo as diretrizes curriculares definidas pelo Conselho Nacional de Educação.

Graduação
Está relacionada como um dos patamares de formação superior que se inicia
após o ensino médio ou equivalente e antecede a pós-graduação. É dividida
pelas nomenclaturas licenciatura e bacharelado, para caracterizar a natureza
da formação e sua intervenção profissional.

Licenciatura

A intervenção profissional do egresso de curso de Licenciatura em Educação


Física dar-se-á na docência do componente curricular Educação Física, na
educação básica; ou seja, voltado à formação de professores para atuar em
ambiente estritamente escolar.
8 As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física

Bacharelado

A intervenção profissional do egresso de curso de Bacharelado em Educação


Física dar-se-á nos campos de intervenção profissional da respectiva profis-
são, com exceção do componente curricular Educação Física, ministrado na
educação básica; ou seja, voltada à formação de professores para atuar em
ambiente estritamente não escolar.

Pós-graduação
Curso aberto para diplomados em cursos de graduação. Existem dois focos:
Lato Sensu e Stricto Sensu.

Lato Sensu

Titulação em nível de especialização, tendo objetivo técnico profissional


específico.

Stricto Sensu

Natureza acadêmica e de pesquisa com objetivo essencialmente científico e


tecnológico; dividido em dois níveis de titulação: mestrado e doutorado.

Mestrado
Apresentação de dissertação, onde revele o domínio do tema escolhido e a
capacidade de sistematização. Esta etapa tem enfoque de pesquisa científica.

Doutorado
Esta etapa de desenvolvimento é longa e exige uma discussão para construção
de uma nova ideia de forma longitudinal, que reflita as práticas para a mudança
social. Tem enfoque na formação de pesquisadores na área científica.
As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física 9

Curso de extensão
Extensão é uma atividade acadêmica que não é parte integrante do ensino de
graduação; serve para complementar os conhecimentos de determinada área.

Conheça um pouco mais sobre a função do personal trainer!


Segundo o CONFEF e o CREF, em suas discussões,

baseado em análises e avaliações diagnósticas do quadro físico do be-


neficiário, na identificação de algum fator de risco limitante da prática de
exercícios físicos, bem como na prescrição dos exercícios mais indicados
para alcançar o objetivo de indivíduo, o personal trainer está apto a apon-
tar as condições ideais e específicas para a prática de um programa de
exercícios (CONFEF, 2005).

Perceba que atuar como personal trainer, nos dias de hoje, é uma proposta multifatorial,
pois não limita apenas a um campo de atuação, mas abre um leque de oportunidades
que vão desde a prescrição de exercício para estética até a reabilitação de pacientes
já liberados da fisioterapia.

As áreas promissoras dentro do mercado de


trabalho de Educação Física
De acordo com Wright, Silva e Spers (2010), a Educação Física desponta como
uma das áreas profissionais mais promissoras e entre as mais prováveis de terem
espaço crescente no mercado de trabalho no ano de 2020. Tal destaque deve-se
ao fato de que as profissões com foco em qualidade de vida e relevância na vida
da população terão uma demanda maior. Apontam-se, ainda, oportunidades
também para profissões voltadas aos cuidados com indivíduos idosos.
Durante os últimos 11 anos, os editores da Saúde e Fitness Jornal da ACSM®
têm circulado uma pesquisa eletrônica para milhares de profissionais de todo
o mundo, para determinar as tendências em saúde e fitness.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte exerce grande influência
no mundo fitness, quase sempre sinalizando o caminho a ser percorrido e
auxiliando os estudiosos, os proprietários de academias, as assessorias es-
10 As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física

portivas e os múltiplos empreendimentos fitness, assim como uma parte dos


profissionais de Educação Física, em especial, os que atuam como personal
trainer e coach esportivo, além de toda indústria relativa a esse segmento,
tanto para lançar novos serviços e produtos, como atribuindo novo vigor
àqueles que já são oferecidos.

Os profissionais de Educação Física, atualmente, estão inseridos no mercado de aca-


demias de forma massificada. Assim, outras áreas em ascensão, como trabalhar com
idosos ou atividades de personal trainer, estão se tornando mais “valiosas”, gerando
falta de profissionais qualificados.

Dessa forma, o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, na sigla


em inglês) divulgou, mais uma vez, seu prognóstico anual de propensões de
condicionamento físico, e, sem surpresa, os profissionais sustentaram que a
tecnologia vestível foi, novamente, a principal tendência de fitness para o ano
de 2017. Além das tecnologias, a 11ª edição da pesquisa também contemplou
outras atividades, como treinamento com peso do corpo, yoga, musculação
e treinamento intervalado de alta intensidade (abreviado sob a sigla HIIT).
Pela segunda vez, as tecnologias surgem encabeçando a lista, colocando-
-se à frente de muitas práticas consideradas populares por profissionais da
área — fato curioso, já que, até o final de 2014, quando foram relacionadas
as tendências para 2015, esses instrumentos de controle do exercício sequer
apareciam entre as dez primeiras.
O treino físico de peso corporal, a grande quantidade de atividades inter-
valadas de alta intensidade (HIIT) e os profissionais de fitness bem formados,
intitulados e experientes, permaneceram muito bem classificados na pesquisa.
Essas tendências repercutem o elevado interesse do consumidor em treinamento
de força e condicionamento físico (THOMPSON, 2016).
As 10 principais tendências fitness para 2017, de acordo com a ACSM, foram:

1. Tecnologia wearable: inclui rastreadores de atividade, relógios inteli-


gentes, monitores de frequência cardíaca e dispositivos de rastreamento
GPS.
As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física 11

2. Treinamento de peso corporal: utiliza equipamento mínimo, tornando-


-o mais acessível, não se limitando a apenas flexões, permite que as
pessoas voltem “ao básico” com boa forma.
3. Treinamento de intervalo de alta intensidade (HIIT): envolve curtos
períodos de atividade seguidos por um curto período de descanso ou
recuperação, geralmente são realizados em menos de 30 minutos.
4. Profissionais de fitness instruídos e experientes: dado o grande número
de organizações que oferecem certificações de saúde e condicionamento
físico, é importante que os consumidores escolham profissionais certifi-
cados por meio de programas credenciados pela Comissão Nacional de
Agências de Certificação (NCCA), como os oferecidos pelo ACSM, que
é uma das maiores e mais prestigiadas organizações de certificação
fitness do mundo.
5. Treinamento de força: continua sendo uma ênfase central para muitos
clubes de saúde e uma parte essencial de um programa completo de
exercícios para todos os níveis de atividade física e gêneros (outros
componentes essenciais são exercício aeróbico e flexibilidade).
6. Treinamento em grupo: os instrutores de exercício em grupo ensinam,
lideram e motivam os indivíduos, embora tenham aulas de exercícios
em grupo intencionalmente planejadas; os programas do grupo são
projetados para serem motivacionais e eficazes para pessoas em di-
ferentes níveis de preparo físico, com instrutores usando técnicas de
liderança que ajudam no alcance de metas de condicionamento físico.
7. Exercício é medicina: exercise is medicine é uma iniciativa global de
saúde, focada em encorajar os médicos de atenção primária e outros
profissionais de saúde a incluírem atividades físicas na elaboração de
planos de tratamento para pacientes e encaminharem seus pacientes
para os profissionais do exercício.
8. Yoga: baseado na tradição antiga, utiliza uma série de posturas cor-
porais específicas praticadas para a saúde e o relaxamento, que inclui
power yoga, yogalates, bikram, ashtanga, vinyasa, kripalu, anurara,
kundalini, sivananda e outros.
9. Treinamento pessoal: cada vez mais alunos estão formando-se em cinesio-
logia, o que indica que eles estão preparando-se para carreiras em campos
de saúde aliados, como treinamento pessoal — educação, treinamento e
credenciamento adequado para treinadores pessoais tornaram-se cada vez
mais importantes para as instalações de saúde e fitness que os empregam.
10. Exercício e perda de peso: além da nutrição, o exercício é um compo-
nente-chave de um programa de perda de peso adequado — profissionais
12 As tendências atuais do mercado de trabalho em Educação Física

de saúde e fitness que fornecem programas de perda de peso estão


incorporando cada vez mais exercícios regulares e restrição calórica
para melhor controle de peso em seus clientes.

Você poderá conhecer um pouco mais sobre o mercado profissional de Educação


Física, acessando o link a seguir sob a temática “Gestão de carreira do profissional de
Educação Física”.

https://goo.gl/8LTTQ9

ANTUNES, A. C. Mercado de trabalho e Educação Física: aspectos da preparação


profissional. Revista de Educação, Londrina, v. 10, n. 10, p. 141-149, 2007. Disponível em:
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Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/motriz/
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VERENGUER, R. C. G. Intervenção profissional em Educação Física: expertise, creden-
cialismo e autonomia. Motriz: Journal of Physical Education, Rio Claro, v. 10, n. 2, p.
123-134, maio-ago. 2004. Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.
br/index.php/motriz/article/view/608>. Acesso em: 9 abr. 2018.
INTRODUÇÃO
À PROFISSÃO:
EDUCAÇÃO FÍSICA

Cristiano Lozada
Tracy Freitas
Revisão técnica:

Hans Gert Rottmann


Mestre em Educação
Especialista em Educação Física: Ênfase em Esportes
Licenciado e Bacharel em Educação Física
Técnico de Voleibol Nível III pela Confederação
Brasileira de Voleibol

L925i Lozada, Cristiano.


Introdução à profissão: educação física / Cristiano
Lozada, Tracy Freitas; [revisão técnica: Hans Gert
Rottmann]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
138 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-260-7

1. Educação Física. I. Freitas, Tracy. II.Título.


CDU 796:37

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

Introducao Educacao Fisica BOOK.indb 2 31/10/2017 08:22:16


UNIDADE 3
Entidades de classe:
conselho federal
e conselhos regionais,
associação brasileira
do curso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer o Conselho Federal da Educação Física (CONFEF), seu


histórico e atuação.
 Definir o funcionamento e compreender as atuações dos Conselhos
Regionais de Educação Física (CREF).
 Interpretar as tratativas da Associação Brasileira de Educação Física
(Abrapefe).

Introdução
Na década de 1950, o Conselho Federal foi criado com a missão de garantir
o direito constitucional ao atendimento da sociedade civil por profissio-
nais de educação física. Para valorizar o profissional desta área, surgiu a
Abrapefe, Associação Brasileira de Educação Física, como organização
sem fins lucrativos de direito privado.
Neste texto, você vai estudar um breve histórico da regulamentação
e formação do Conselho, além de compreender a regulação do sistema
CONFEF/CREFs e reconhecer a função dos Conselhos Regionais de Educa-
ção Física, sua atuação e abrangência. Você vai aprender sobre a Abrapefe,
sua função e necessidade na área.

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52 Entidades de classe: conselho federal e conselhos regionais, associação brasileira do curso

Conselho Federal de Educação Física (CONFEF)


O Conselho Federal tem por missão garantir o direito constitucional à sociedade
de ser atendida nas atividades físicas e esportivas somente por profissionais
de educação física.

Um pouco da história da formação do Conselho


Nos anos 1940, pela iniciativa das Associações dos Professores de Educação
Física (APEFs), teve início a regulamentação da profissão e, respectivamente,
a criação do Conselho Federal da Educação Física.
As APEFs eram localizadas nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande
do Sul e São Paulo e juntas, em 1946, fundaram a Federação Brasileira das
Associações de Professores de Educação Física (FBAPEF).
Três etapas dividem a regulamentação da profissão:

 A primeira: de que forma os profissionais se manifestavam a respeito


da necessidade de regulamentação. Nesse momento, ainda não havia
uma ação nesse sentido.
 A segunda: quando começou a tramitar o projeto de lei que previa a regula-
mentação, este foi vetado pelo presidente da república da época (anos 1980).
 A terceira: quando foi aprovada a regulamentação, em 1º de setembro
de 1998.

Entre a segunda e terceira etapa, na década de 1950, surgiu a intenção de se


criar um conselho. Os professores Inezil Penna Marinho, Jacinto Targa e Manoel
Monteiro apresentaram essa ideia, tendo em vista que muitas outras profissões
já possuíam seus conselhos. Porém, a intenção não partiu para uma ação efetiva.
Nesse período, os cursos de educação física eram só de licenciatura e os
currículos eram direcionados somente ao ensino formal. O mercado de trabalho
do profissional formado era essencialmente a escola.
Porém, em 30 de junho de 1998, o Projeto de Lei nº 330/1995 foi aprovado
e, em 1º de julho do mesmo ano, passou a ser apreciado pelo Senado. Final-
mente, em 1º de setembro de 1998, foi sancionada a Lei Federal nº 9696/1998

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