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LINGUÍSTICA Aplicada Ao Ensino de Português
LINGUÍSTICA Aplicada Ao Ensino de Português
APLICADA AO ENSINO
DO PORTUGUÊS
Juliana Battisti
Bibiana Cardoso
da Silva
B336l Battisti, Juliana.
Linguística aplicada ao ensino do português / Juliana
Battisti, Bibiana Cardoso da Silva. – Porto Alegre : SAGAH,
2017.
157 p. : il. ; 22,5 cm.
ISBN 978-85-9502-062-7
CDU 81’33
Introdução
Você já parou para pensar que as aulas de Língua Portuguesa na escola
não mudaram muito ao longo dos anos? Queremos dizer que o ensino
do português ainda é sinônimo de ensino de gramática. Neste texto,
você vai conhecer as características do ensino de língua portuguesa na
escola atual, observando o fato de que, em muitos contextos, esse ensino
ainda está vinculado ao ensino normativo da Gramática Tradicional. A
partir dessa observação, falaremos sobre o papel da variação linguística
como objeto de estudo da aula de língua portuguesa. Temos, então, duas
abordagens de ensino de Língua Portuguesa: uma que legitima apenas
uma variedade do Português Brasileiro, a variedade padrão; e outra que
valoriza a diversidade intrínseca à língua, trabalhando com diferentes
variedades em aula, inclusive a padrão, e enfatizando que não há uma
variedade melhor do que a outra.
Para saber mais sobre o processo de aprendizagem da leitura e escrita, leia a obra A
construção social da alfabetização (COOK-GUMPERZ, 2008).
Para entendermos como a discussão é antiga, esta é uma questão do ENEM de 1998,
que já trata as variedades como adequadas/inadequadas dependendo do contexto
de uso. Esse tipo de questão é fundamental para acabarmos com o discurso do certo/
errado e pensarmos em termos de adequação.
Gnerre (1991, p. 6) afirma que “[...] uma variedade linguística ‘vale’ o que
‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e
da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais.”. Isso justifica
a língua padrão, um sistema ao alcance de uma parte muito reduzida dos
integrantes de uma comunidade, ser considerada a língua de maior prestígio,
pois é falada pela camada da população com maior poder. É também um papel
importante do professor de português mostrar aos alunos as relações de poder
que existem na língua.
Se adotarmos uma posição de que as línguas não mudam e de que qualquer
variação do padrão é erro, estamos dizendo que o português inteiro é um erro
e que deveríamos voltar a falar latim (FIORIN, 1996). Afinal, o português
provém de uma variedade do latim, o chamado latim vulgar, muito diferente
do latim culto. É só lembrarmos disso para nos darmos conta de que as línguas
mudam, sempre mudaram e sempre mudarão. É importante trazer isso para
a aula de Língua Portuguesa, mostrando aos alunos as mudanças que a nossa
língua já teve. A língua se renova incessantemente, portanto, o estudo da
língua deve ser constante e acompanhar suas mudanças e variações.
A língua é heterogênea devido aos aspectos sociais, culturais, econômicos
e geográficos que a compõe. Rodrigues (2002) fala sobre dois tipos de varia-
ção: em função do falante e em função do ouvinte. A variação dialetal, em
função do falante, pode apresentar variantes espaciais (dialetos geográficos
ou diatópicos), variantes de grupos de idade (dialetos etários), variantes
de sexo e variantes de gerações (variantes diacrônicas). Já a variação em
função do ouvinte, Rodrigues (2002) chama de variação de registro e está
Para saber mais sobre variação linguística, leia o capítulo “Mas o que é mesmo variação
linguística?” de Bagno (2007).
n Quais são as variedades usadas por outras pessoas, e por outras camadas
sociais?
n Como é que falam em outras regiões do Brasil, ou em Portugal e Cabo
Verde?
n Qual estilo é usado na escrita? A escrita também varia? De que modo
o estilo usado na escrita difere da língua falada?
n Como é que a gente fala nas diferentes situações sociais?
n Como é que as pessoas indicam pela linguagem que se sentem felizes
ou chateadas ou hostis?
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Leituras recomendadas
BRITTO, L. P. L. A sombra do caos: ensino de língua X tradição gramatical. Campinas:
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