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INTRODUÇÃO

VITORIANOS: DO KITSCH AO COOL

Vitorianos e modernistas

Faz algum tempo que a expressão Cool Britannia saiu de moda. Nos anos
1990, designava a percepção de que “a cultura britânica reivindicava sua posição
no centro artístico do mundo” (Rachel, 2019, p. 10). 1 No entanto, para citarmos
um romancista escocês daqueles tempos, “começamos com grandes esperanças,
mas depois nos acovardamos” (Welsh, 1993, p. 89).2 Kate Moss se aposentou.
Hugh Grant é pai de cinco filhos. David Beckham e Michael Owen nunca ganharam
uma Copa do Mundo. Os irmãos Gallagher, em cujas microfonias se depositavam
as melhores esperanças do rock’n’roll, hoje só conseguem chamar a atenção de
paparazzi e colunistas de fofoca, que diligentemente registram suas diatribes e
seus excessos etílicos. A coalizão informal de artistas pós-modernos e profunda-
mente experimentais, conhecida pelo epíteto de Young British Artists, agora des-
fruta das benesses proporcionadas pelas cifras multimilionárias angariadas no
mercado das artes. A chamada terceira via de Tony Blair e Gordon Brown, que
alegadamente superaria o antagonismo entre esquerda e direita, esgotou-se nos
escombros da invasão do Iraque, da crise financeira de 2008 e na polarização das
redes sociais (Black, 2017, p. 175 e ss.). A saída do Reino Unido da União Europeia,
o malfadado Brexit, contaminou a percepção internacional do país, que deixou de
ser cool. De acordo com o relatório elaborado pela Escola de Relações Internacio-
nais da Universidade do Sul da Califórnia, o maior tumulto político das últimas déca-
das no Reino Unido abalou a sua reputação global. Em 2019, deixou de ser o país com
o maior soft power do mundo, perdendo o trono para seu rival hereditário, a França

1
Trecho integral: “The nineties was the decade when British culture reclaimed its position at the artistic
centre of the world”. Salvo menção em contrário, todas as traduções são de nossa autoria.
2
“We start oaf wi high hopes, then we bottle it.”

11
(Brown, 2019, p. 42).3 Até mesmo a União entre Inglaterra e Escócia, sem a qual não
há Britannia, parece encontrar-se no limiar da dissolução.
Seria errôneo, no entanto, ler as manifestações intelectuais e culturais da
Grã-Bretanha dos anos 1990 apenas pelas lentes da frustração ou da nostalgia. Uma
das contribuições mais importantes do período, ainda que relativamente ignorada
pelo grande público, é a apreciação da complexidade, das contradições, da eferves-
cência cultural e da inesgotável ressonância da chamada era vitoriana (1837-1901).
Tamanha reversão na fortuna é condensada pela provocadora formulação de Herbert
Sussman (2005, p. 322): “os vitorianos se tornaram sexy”.4
Por que, no entanto, ficamos por tanto tempo indiferentes ao seu suposto
charme? Sem correr o risco de exagero, pode-se afirmar que, durante boa parte
do século XX, o escrutínio da cultura e da sociedade vitorianas foi mediado por
noções, generalizações e categorias derivadas da psicanálise e do modernismo.
Com efeito, não é apenas nos famosos e deliciosamente ácidos escritos de Lytton
Strachey (1984, p. 13), para quem a “Idade Média voltava à vida” em alguns “vi-
torianos eminentes”, que se toma a Grã-Bretanha vitoriana como monolitica-
mente obtusa, cruel, repressora e piegas.5 O próprio Oxford English Dictionary
(OED) registra que, a partir da década de 1930, o adjetivo “Victorian” (entrada A,
2 do verbete) passa a designar aquilo que é “semelhante ou típico das atitudes
supostamente características da era vitoriana; pudico; estrito; antiquado; obso-
leto”.6 Trata-se de uma acepção que se cristaliza em diversos escritos ficcionais e
não ficcionais na primeira metade do século XX.
A correlação entre “vitorianismo” e repressão sexual é um topos do pen-
samento de matriz freudiana e do senso comum de que havia uma aceitação quase
unívoca e subserviente das rígidas normas de conduta moral. Na sua versão mais
elaborada, da pena de um historiador e biógrafo de Sigmund Freud, Peter Gay
(1993, p. 5-8), “as crenças, os princípios [e] as platitudes retóricas”7 da burguesia
vitoriana eram, acima de tudo, uma canalização do eros e de um impulso agres-
sivo, muitas vezes “abafados por medo, prudência, lições bem ensaiadas de de-
coro ou ferroadas censórias do superego”.8 Tal correlação se encontra repetida e
destilada em compêndios, manuais e breviários introdutórios ao pensamento de
Freud. De fato, “temos uma dívida para com [Freud] por levantar o véu do purita-
nismo vitoriano e transformar o sexo num assunto que pode ser discutido de

3
Textualmente: “after the most politically tumultuous year in decades”.
4
“[...] The Victorians Became Sexy.” A expressão é empregada numa discussão sobre as exposições (à
época) recentes de figurações vitorianas do nu.
5
“[...] the Middle Ages lived again.”
6
“Resembling or typified by the attitudes supposedly characteristic of the Victorian era; prudish, strict; old-
fashioned, out-dated.”
7
“[...] beliefs, principles, rhetorical platitudes [...].”
8
“[...] dampened down by fear, prudence, well-rehearsed lessons in decorum, or the censorious prodding of
the superego.”

12
maneira séria e aberta” (Storr, 2001, p. 152),9 como fizeram os modernistas do
início do século XX. Seguindo o pensamento freudiano, escritores e intelectuais
como D. H. Lawrence, que se confrontaram abertamente com as formulações da
psicanálise, aderiram a uma tendência de vislumbrar a era vitoriana como per-
meada pela frustração sexual. Em Psychoanalysis and The Unconscious, Lawrence
(2004, p. 1) evoca o momento em que “o psiquiatra charlatão demonstrou com
veemência”, no início do século XX, “que a serpente do sexo enrolava-se na raiz
de todas as nossas ações”.10 Para Lawrence (2004, p. xx), em romances do século
XIX, como os de Charlotte Brontë, busca-se apagar ou remover o sexo da figuração
da experiência, estabelecendo-se “um estado em que colapsam os instintos mais
fortes, e o sexo se torna algo mais ou menos obsceno, a ser permitido, mas des-
prezado”. Assim, a “paixão sexual” que o Sr. Rochester sente por Jane Eyre “não é
‘respeitável’ até que o Sr. Rochester seja queimado, cego e desfigurado, e reduzido
a uma dependência impotente” (Lawrence, 2019, p. 427).11 Nos romances de
Lawrence, a negação da sexualidade, frequentemente associada de maneira ex-
plícita à Weltanschauung vitoriana, corresponde à negação da vida. Em Sons and
Lovers (1913), a puritana Gertrude Morel, uma mulher incapaz de aceitar o sen-
sualismo de seu marido e que patologicamente se contrapõe às relações amoro-
sas de seus filhos, é nominalmente comparada a uma “pequena rainha Vitória”
(Lawrence, 2009, p. 279).12
Paul Morel, o protagonista desse romance, é um jovem nascido nas últi-
mas décadas do período vitoriano que almeja tornar-se um artista. Ironicamente,
é provável que os pintores que admirara em seus anos de formação se encontras-
sem relativamente desprestigiados no momento em que consegue vender seu pri-
meiro quadro, aos vinte e três anos de idade. Com efeito, o crítico Roger Fry des-
denhava, numa aula de 1908, das concepções artísticas de John Collier e “seus
estimados colegas” (Fry, 1996, p. 62).13 Intimamente associado aos chamados
Pré-Rafaelitas, Collier definira “a arte da pintura” como “a arte de imitar objetos
sólidos sobre uma superfície plana por meio de pigmentos” (cf. Fry, 1996, p. 61).14
Fry depreciava a estética da pintura vitoriana justamente porque ela tentava
apresentar um isomorfismo entre obra e mundo, em vez de explorar a “forma
pura”, que não necessariamente se adéqua ao conteúdo da obra. Pioneiro na

9
“[...] we do owe [Freud] a considerable debt for having lifted the covers of Victorian prudery and made
sex into a subject which can be openly and seriously discussed.”
10
“[...] the psychiatric quack [...] vehemently demonstrated the serpent of sex coiled round the root of all
our actions.”
11
Trecho integral: “[...] in the state where the strongest instincts have collapsed, and sex has become some-
thing slightly obscene, to be allowed in, but despised. Mr Rochester’s sex passion is not ‘respectable’ till Mr
Rochester is burned, blinded, disfigured, and reduced to helpless dependence”.
12
“[...] a little Queen Victoria.”
13
“[...] his esteemed colleagues.”
14
Trecho integral: “The art of painting is the art of imitating solid objects upon a flat surface by means of
pigments.”

13
disseminação na Inglaterra de tendências impressionistas, expressionistas e moder-
nistas, Fry antecipa a duradoura associação en bloc das artes do período vitoriano ao
kitsch. Na famosa formulação de Clement Greenberg (1989, p. 3-21), feita em 1939, a
arte modernista explorava a lógica de seu próprio meio, libertando-se de elementos
que, em tese, eram-lhe estranhos, tendendo ao abstracionismo (Prettejohn, 2005, p.
180-191): “o melhor das artes plásticas contemporâneas é abstrato” (Greenberg,
1940, p. 296).15 O kitsch, por sua vez, operaria por fórmulas e usaria “de matéria-
prima os simulacros degradados e academicizados da cultura genuína” (Greenberg,
1989, p. 10).16 Greenberg enxerga tais simulacros como um dos traços distintivos das
artes pictóricas do período vitoriano, porquanto marcadas pelo academicismo (Pret-
tejohn, 2010, p. 215).
As objeções dos modernistas ao apego vitoriano à representação não se
esgotavam na crítica e na análise das artes pictóricas. Decididamente, estendiam-
se a avaliações literárias. Na biografia de seu grande amigo Roger Fry, Virginia
Woolf (1940, p. 164) rememora com incontido entusiasmo o enfado de Fry ante
as realizações da ficção inglesa. De acordo com Woolf, Fry julgava a maioria dos
romances ingleses (“ele lia pouquíssimos”)17 tão ruim quanto o quadro de Wil-
liam Powell Frith, The Derby Day (1858) (Woolf, 1940, p. 240): “‘Por quê’, ele per-
guntava, ‘não havia um escritor inglês que levasse sua arte a sério? Por que são
tão absortos com problemas infantis de representação fotográfica?’” (Woolf,
1940, p. 164).18
A crítica e a análise de romances, pondera Woolf (1947b, p. 92-93) em outro
lugar, se beneficiariam imensamente do desapego de vãs tentativas de apreender a
figuração da “vida” na obra e, “assim como o Sr Roger Fry aponta sua varinha para
uma linha ou cor”,19 concentrassem-se no meio da ficção: nomeadamente, as pala-
vras. Em “On Re-reading Novels”, Woolf (1947a, p. 126) testa as implicações de sub-
meter “um longo romance vitoriano”20 a uma análise centrada estritamente na “téc-
nica” (Woolf, 1947a, p. 134).21 Reler um romanção vitoriano, Woolf (1947a, p. 126)
confessa, produz, antes de tudo, “tédio”.22 Vanity Fair, David Copperfield ou Harry
Richmond, ela insinua, suscitariam nada mais que um “enlevo distraído”,23 bastante
superficial, que se esvai ao revisitarmos suas páginas “para discernir qual seria a

15
“[...] the best of contemporary plastic art is abstract.”
16
“[...] raw material the debased and academicized simulacra of genuine culture.”
17
“[...] he read very few”.
18
“Why, he demanded, was there no English novelist who took his art seriously? Why were they all en-
grossed in childish problems of photographic representation?”
19
“[...] as Mr. Roger Fry points with his wand at a line or colour.”
20
“[...] a long Victorian novel.”
21
Trecho integral: “the novelist explores and perfects his technique.”
22
“[...] boredom.”
23
“[...] careless rapture.”

14
qualidade permanente, se é que há, que legitima esses longos livros em prosa sobre a
vida moderna” (Woolf, 1947a, p. 127).24
A ambivalência de Woolf, Fry, Strachey e das vanguardas modernistas
acerca da arte, literatura e costumes vitorianos ajudaram a consolidar uma visão
monolítica desse período. Muitos leram a orientação ostensivamente mimética da
literatura e das artes vitorianas, somada à sua confrontação explícita com ques-
tões de ordem moral ou ideológica, como imperdoável mácula composicional.
Como observava Christopher Clause (1988, p. 228), em um artigo para The
Sewanee Review:

O modernismo, como movimento, não durou muito, mas as teses de


seus autores sobre excelência literária e cultural continuaram a ser per-
petuadas pelos críticos mais influentes, que, no mais das vezes, viam
pouca serventia nos vitorianos.25

As visões das vanguardas sobre a era vitoriana consolidaram-se não so-


mente como um lugar comum, mas também estabeleceram-se com força nas uni-
versidades e, consequentemente, na crítica literária. Northrop Frye (2005, p. 307-
308), por exemplo, escreveu que “[o]s grandes realistas vitorianos subordinam
sua habilidade para contar histórias à sua habilidade de representação”.26 O re-
sultado seriam obras seriíssimas, investidas na crítica social, mas de pouco ou
nenhum apelo ao leitor que não se ocupa das questões que a narrativa mobiliza.
Na Inglaterra, F. R. Leavis, “o messias do modernismo” (Watson, 1997, p. 227-
241),27 desdenhava do apreço do grande público pela ficção vitoriana, da sua pre-
sença constante nos jornais e nas transmissões de rádio e tevê: “Trollope, Char-
lotte Yonge, [Elizabeth] Gaskell, Wilkie Collins, Charles Reade, Charles e Henry
Kingsley, Marryat e Shorthouse — todos os romancistas menores daquele perí-
odo são recomendados à nossa atenção” (F. R. Leavis, 1950, p. 1-2).28 Mal sabia
Leavis que, décadas mais tarde, essa presença seria ainda mais contundente. A
partir da década de 1980 e, sobretudo, na década de 1990, o interesse pelos vito-
rianos era impulsionado pelo pós-modernismo e seu sedento anseio de revisitar
o passado a partir de suas contradições e exclusões.

24
Trecho integral: “we shall find ourselves hard pressed to make out what it is the lasting quality, if such
there be, which justify these long books about modern life in prose.”
25
“Modernism as a movement did not last long, but its authors' notions of literary and cultural excellence
have continued to be perpetuated by the most influential critics, critics who have had little use on the whole
for the Victorians.”
26
“The great Victorian realists subordinate their story-telling skill to their representational skill.”
27
“The Messiah of Modernism”. O artigo de Watson é uma recapitulação demolidora da vida e das ideias
de F. R. Leavis.
28
“Trollope, Charlotte Yonge, Mrs. Gaskell, Wilkie Collins, Charles Reade, Charles and Henry Kingsley,
Marryat, Shorthouse—one after another the minor novelists of that period are being commended to our
attention [...].”

15
Os vitorianos na contemporaneidade

Na virada do milênio, tais lamúrias modernistas decerto encheriam de


estupefação ou perplexidade até mesmo o mais distraído dos diletantes, qualquer
que fosse a sua área de seu (casual) interesse. No centenário da morte de Vitória,
em 2001, já se consolidara uma disposição, tanto nas universidades quanto na
indústria cultural, para repensar os vitorianos, seus feitos e seu legado. O pará-
grafo de abertura de uma obra de historiografia popular, redigida por um jorna-
lista da BBC, captura de maneira eloquente a subversão de longevos consensos
sobre o período vitoriano:

Suponha que tudo que julgamos saber sobre os vitorianos está errado.
Que, no século que transcorreu desde 1901, interpretamos mal a sua
cultura, a sua história, as suas vidas — talvez de maneira de deliberada,
para satisfazer nossa apreciação de nós mesmos como modernos
cheios de desprendimento. É reconfortante imaginar que escapamos de
sua influência, liberamo-nos de seu mundo de espartilhos e golas altas,
rejeitamos seus puritanismos e preconceitos. Mas e se eles foram pes-
soas substancialmente diferentes do que imaginávamos? E se foram
mais liberais e menos neuróticos do que nós? Divertiam-se mais e eram
menos hipócritas em relação ao sexo do que nós? E se as imagens po-
pulares do período vitoriano — patriarcas austeros a infelicitar as suas
mulheres e crianças, apresentadores malévolos a bater nas aberrações
expostas ao público, mulheres de corpete a cobrir, por pudor, as pernas
do piano [...] — obscurecem uma verdade muito diferente? (Sweet,
2001, p. ix.)29

Dos dois lados do Atlântico, as estantes das livrarias estavam apinhadas


de romances que, embora recém-publicados, engajavam-se — “no nível do en-
redo ou da estrutura, ou ambos”30 (Hadley, 2010, p. 4) — com o período vitoriano.
Por exemplo: Possession (1990) de A. S. Byatt e a trilogia neovitoriana de Sarah
Waters — Tipping the Velvet (1998), Affinity (1999) e Fingersmith (2002). O su-
cesso dessas obras comprovou-se no interesse da indústria cinematográfica em
suas adaptações: o romance de Byatt foi lançado em filme em 2002, enquanto
Affinity estreou nos cinemas em 2008 e os outros dois romances de Waters sobre

29
“Suppose that everything we think we know about the Victorians is wrong. That, in the century which has
elapsed since 1901, we have misread their culture, their history, their lives — perhaps deliberately, in order
to satisfy our sense of ourselves as liberated Moderns. It comforts us to imagine that we have escaped their
influence, freed ourselves from their corseted, high-collared world, cast off their puritanisms and prejudices.
But what if they were substantially different from the people we imagine them to have been? What if they
were more liberal and less neurotic than us? Had more fun than us, and were less hypocritical about sex than
us? What if the popular images of the Victorian period — straitlaced patriarchs making their wives and
children miserable, vicious showmen beating their freak exhibits, whaleboned women shrouding the piano
legs for decency’s sake [...]— obscure a very different truth?”
30
Trecho integral: “fiction that engages with the Victorian era, at either the level of plot, structure, or both”.

16
a era vitoriana, Tipping the Velvet e Fingersmith, foram adaptados como séries te-
levisivas para a BBC em 2002.
No cinema, havia uma profusão de filmes ou ambientados no século XIX,
como O Piano (1993), de Jane Campion, e Topsy-Turvy (1999), de Mike Leigh, ou
que adaptavam textos vitorianos, como Bram Stoker’s Dracula (1992), de Francis
Ford Coppola, ou The Wings of The Dove (1997), de Iain Softley. Como observavam
Diane F. Saddoff e John Kucich (2000, p. x), ao lançarem um olhar retrospectivo
para a década que se encerrava, “filmes a partir de romances vitorianos saturam
o circuito middlebrow e de arte desde o início dos anos 1990”.31 Tratava-se de
uma tendência que, em diversos países, estendia-se para a tevê, em cujas telas
havia uma abundância de séries, reality shows e novelas que recriavam repertó-
rios e experiências do século XIX. Citaremos apenas uma série exibida pela BBC:
Great Expectations (1999), que estrelava o então jovem ator galês Ioan Gruffud.
Na academia, o campo disciplinar “Victorian Studies” era reenergizado
pelo influxo, que começara na década de 1980, de metodologias, questões e abor-
dagens provenientes da guinada culturalista e neo-historicista dos estudos literá-
rios (Anderson, 2005, p. 196). Nas palavras de Martin Hewitt (2001, p. 136), “pro-
gramas de mestrado e centros de estudos vitorianos se multiplica[vam]”.32 Nessa
toada, apareciam novos periódicos voltados exclusivamente para o período, como
Victorian Literature and Culture, Victorian Review, AVSA Journal, Rivista di Studi
Vittoriani, Journal of Victorian Culture, Nineteenth Century Studies e Nineteenth
Century Contexts (Hewitt, 2001, p. 136 e 156, n. 1). O reconhecimento da inesca-
pável porosidade da obra ou do texto a formações discursivas ou ideológicas so-
bre economia, sexualidade, religião, política e tecnologia, numa tessitura mediada
por condicionantes temporais, espaçais, materiais, afetivos e de formato (Saddoff;
Kucich, 2000, p. xv), forçosamente levava pesquisadores e intelectuais a privile-
giar ou celebrar práticas e artefatos da cultura, do pensamento e da literatura do
período vitoriano.
Revigorava-se o interesse pelos vitorianos exatamente pelos motivos
que, no passado, levaram ao seu desprestígio: “A literatura vitoriana”, escreveria
Philip Davis ao final da década de 2000, “e em particular o romance realista, é a
mais acessível de todas em termos de seu comprometimento com a vida ordinária
e mundana” (Davis, 2008, p. 14).33 Com isso, permite aos leitores irem “ao livro
para internalizá-lo, de maneira emotiva e pessoal, como se lá pudessem encontrar
revelada uma versão secreta de suas vidas” (Davis, 2008, p. 14).34 Em outro nível,

31
“[...] films of Victorian novels have saturated the middlebrow and art-house movie circuit since the early 1990s.”
32
“Master’s programmes and Victorian Studies centres multiply.”
33
“[...] Victorian literature, and in particular the realist novel, is the most accessible of all, in terms of its
commitment to a recognizably ordinary, mundane life.”
34
“[...] readers go to the book to internalize it, personally, emotionally, as if they might just find revealed
there a version of the secrets of their lives.”

17
enxergava-se nas últimas décadas do século XX, e enxerga-se nas primeiras déca-
das do século XXI, uma atualização de fenômenos que marcaram o período vito-
riano: triunfo do (neo)liberalismo, oligopolização do capitalismo, comercializa-
ção da vida, imigração em massa e explosão de novos meios para transmissão,
difusão e criação do conhecimento (Bergmann, 2020, p. 35-36).35 Não é à toa que
hoje há quem diga que “os vitorianos estão por toda parte” (Middeke; Pietrzak-
Franger, 2020, p. 14).36 Ou quase.

Os vitorianos nos trópicos

Os vitorianos ainda não se fizeram onipresentes nos meios acadêmicos


por estas bandas. Os meios intelectuais brasileiros por muito tempo também cul-
tivaram um misto de hostilidade e indiferença quanto ao período vitoriano. Num
pequeno ensaio publicado em 1944 pelo Correio da Manhã, por exemplo, Lúcia
Miguel Pereira (1994, p. 106-110) confessa certa surpresa ante sua releitura de
Cranford (1853), de Elizabeth Gaskell. Pondera que romances demasiado investi-
dos na figuração da realidade envelhecem depressa, sobretudo quando se alteram
os hábitos psicológicos e sociais que o informaram. Não seria o caso de Cranford,
talvez pelo seu humorismo: com “seu jeitinho sonso”, Gaskell “soube pôr em des-
taque as incongruências das pobres senhoras de Cranford, tão boas, tão puras, tão
desvalidas, tão simpaticamente ridículas” (Pereira, 1994, p. 110). Mesmo Antonio
Candido, que demonstra enorme apreço pelo romance vitoriano, reservando pa-
lavras elogiosas para Dickens e Thackeray na Formação da literatura brasileira,
acaba por encontrar traços de “vitorianismo” no conto machadiano “Singular
ocorrência”, em que o autor “não ous[a] pôr em cena uma mulher casada” (Can-
dido, 2017, p. 27-28).
Felizmente, já faz algum tempo que os ventos começaram a soprar em
outra direção. A indústria cultural brasileira há muito aclimata a voga neovitori-
ana, com romances como O Xangô de Baker Street (1995), de Jô Soares, filmes
como Mauá — O Imperador e o Rei (1999), de Sérgio Resende, e, mais recente-
mente, a telenovela No Tempo do Imperador (2021), da Rede Globo. Há diversos
estudos acadêmicos de fôlego sobre temas, questões e ressonâncias vitorianas,
como Literatura vitoriana e educação moralizante (2004), de Flávia Domitila
Costa Morais, Gilberto Freyre: um vitoriano nos trópicos (2005), de Maria Lúcia
Garcia Pallares-Burke, Charles Dickens: um escritor no centro do capitalismo
(2008), de Daniel Puglia, A presença inglesa nas finanças e no comércio no Brasil
Imperial (2012), de Carlos Gabriel Guimarães, Barões do ouro e aventureiros

35
Textualmente: “The Victorian age is viewed as a parallel age to the late twentieth and early twenty-first
centuries, or at least as the era in which the current age is rooted”.
36
“[...] the Victorians are everywhere.”

18
britânicos no Brasil (2013), de Fábio Carlos da Silva, e Darwin e a seleção natural:
Uma história filosófica (2019), de Pedro Paulo Garrido Pimenta.
Embora os estudos vitorianos sejam cada vez mais visíveis no país, ainda
se encontram longe do mainstream acadêmico. Os resultados de uma pesquisa
rápida no banco de teses da Capes, feita em setembro de 2021, pelos adjetivos
“vitoriano” e “vitoriana” falam por si: no primeiro caso, há 346 documentos; no
segundo, 109. Passando-se os olhos, vê-se, contudo, que a esmagadora maioria
dos documentos é de autoria, ou sob a orientação, de alguém cujo nome ou sobre-
nome é “Vitoriano” ou “Vitoriana”. Uma consulta ao acervo digital do mais importante
periódico brasileiro de estudos linguísticos e literários em inglês, a revista Ilha do Des-
terro, também é bastante reveladora. Até 2021, a revista publicara menos de dez ar-
tigos sobre autores ou obras do período vitoriano desde seu número inaugural, em
1979. Curiosamente, a maioria desses artigos analisava produções de três escritores:
Joseph Conrad, Thomas Hardy e Edgar Allan Poe.
Ao reunir especialistas de diversas áreas do conhecimento, Vitorianos:
contradições e desdobramentos almeja contribuir para o crescente, mas ainda in-
cipiente, interesse brasileiro pela era vitoriana. Em seu conjunto, os ensaios desta
coleção demonstram que nem Grã-Bretanha vitoriana nem seu controverso le-
gado comportam análises redutoras ou monolíticas. Nas próximas páginas, deli-
neia-se uma sociedade inerentemente contraditória: que simultaneamente de-
fende a extensão das liberdades públicas às minorias e experimenta o aumento
das tensões sociais; combate a escravidão em todos os continentes, mas subjuga
povos de todas as cores ao seu império; dá continuidade aos debates do Ilumi-
nismo e abafa os ecos da Marselhesa; é o centro financeiro do mundo e assiste à
organização de movimentos trabalhistas; volta-se para a estética da Idade Média
e desenvolve novas formas, meios e tecnologias de produção artística; concebe,
editora e distribui livros infantis em níveis industriais e consome pornografia em
larga escala; polariza-se em torno de querelas sobre a família tradicional e vê flo-
rescer uma vibrante e ascendente cena homossexual; começa a dar voz às mulhe-
res e demonstra intensa ansiedade quanto à possibilidade de sua independência
financeira e familiar; encena peças de teatro que clamam pela reforma dos costu-
mes e entretém-se com jornais e livros que representam a vida no submundo da
prostituição e do crime; discute obras que denunciam o parasitismo dos ricos e
teme a sublevação dos pobres.
Como mostra o capítulo escrito por Laura Valladão de Mattos sobre John
Stuart Mill, as reformas propostas pelo filósofo e economista visavam apurar a
coesão social e garantir melhores oportunidades para os mais pobres a partir de
aprimoramentos no sistema educacional, mudanças nas leis que regulavam pro-
priedade e o estímulo na eficácia do sistema econômico. A amplitude do pensa-
mento de Mill é retomada no ensaio de Maria Juliana Gambogi, que, numa

19
pesquisa inédita, traz a lume os diálogos e as conexões entre o inglês e o historiador
francês Jules Michelet. Apesar da exígua correspondência entre esses autores,
Gambogi analisa a resenha de Mill dos quatro primeiros tomos do Histoire de
France de Michelet. Mill, além de realizar leitura minuciosa da obra francesa, de-
bate igualmente a conjectura dos estudos históricos naquele momento. Em con-
trapartida ao reformismo de Mill, Bruna Della Torre e Vladimir Puzone refletem
sobre as perspectivas de Karl Marx acerca da Inglaterra no mesmo período, pers-
crutando textos ainda pouco conhecidos do pensador alemão, publicados na im-
prensa americana, e discutindo o papel da literatura na crítica do capitalismo.
A temática sobre o avanço do capitalismo na Inglaterra encontra-se tam-
bém no artigo de Bruno Berlendis de Carvalho, mas na figura do vampiro. Nesse
capítulo, o pesquisador examina essa personagem ao longo do século XIX e as
suas adaptações para a imprensa, para o teatro e, mais tarde, para o cinema. Os
palcos e público vitorianos são, similarmente, os temas centrais da contribuição
de Rosalie Haddad, que discorre sobre a relevância de Bernard Shaw na transfor-
mação do drama na década de 1890 ao subverter convenções da tradição teatral vi-
toriana e escandalizar os espectadores mais conservadores. Igualmente provocador
era John Ruskin, como demonstra Claudio Silveira Amaral em sua discussão sobre As
pedras de Veneza (1851-1853). Segundo Amaral, ao articular a Teoria da Arquitetura
à sua Filosofia da Natureza, Ruskin teria criado uma metodologia própria para a ar-
quitetura e, portanto, sofrido duras críticas de muitos de seus contemporâneos. Em
outro diapasão, John Milton e Nilce M. Pereira tecem reflexões sobre o lugar do enge-
nheiro na sociedade vitoriana, tão ostensivamente investida na celebração do pro-
gresso, por meio da análise de fotografias do período.
Este volume enseja explorar os conflitos e as antinomias da era vitoriana,
que, a despeito da fabulação e imposição de tantos padrões, normas e convenções,
era também um período de contestação e transformação. Principalmente nas úl-
timas décadas do século XIX, a expansão do Império Britânico, o crescimento ur-
bano de Londres e a ascensão das classes médias tornam propícias as condições
para a ampliação de uma indústria editorial e de entretenimento na metrópole.
As contradições dessa sociedade ficam evidentes no artigo de Mariana Bolfarine
sobre o irlandês Roger Casement, o “herói falho” que tem a sua trajetória política
aviltada com a apresentação de diários que supostamente revelariam o envolvi-
mento sexual de Casement com jovens rapazes no exterior. Representante do Im-
pério Britânico, Casement pedira afastamento de seu cargo após denunciar atro-
cidades dos agentes imperiais na extração de borracha na Amazônia peruana
para, mais tarde, juntar-se a movimentos irlandeses pró-independência.
Enquanto a imputação de homossexualidade arruinara a carreira política
do irlandês, em outros lugares, como no West End londrino, ela poderia ser uma
porta de entrada para um submundo sexual e a fama. Júlia Braga Neves escreve

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sobre o romance pornográfico The Sins of the Cities of the Plain, que tem como
personagem central o renomado michê Jack Saul, um “sodomita profissional” que
se tornou célebre pela sua ligação com escândalos sexuais nos quais estavam en-
volvidos membros das classes altas e, até mesmo, da aristocracia britânica. A
noite vitoriana também é tema central no ensaio de Daniel Lago Monteiro, que se
debruça sobre ensaios que tratam da flânerie noturna de Charles Dickens em Lon-
dres. Essas caminhadas ajudam o escritor a burlar a insônia e possibilitam a ex-
periência notívaga da cidade e de seus transeuntes. Na esteira das oportunidades
advindas das multidões e do anonimato, Jean Pierre Chauvin reflete sobre os con-
textos históricos e sociais do romance policial como gênero literário na era vito-
riana. O sucesso do detetive mais conhecido desse período, Sherlock Holmes, não
se limita às fronteiras do mundo anglófono. Como mostra Leandro Antonio de Al-
meida, as histórias de Arthur Conan Doyle chegaram aos trópicos brasileiros en-
tre 1907 e 1909 e suas histórias foram amplamente difundidas pela imprensa e
causaram fascínio no público brasileiro.
O diálogo entre a Inglaterra e a recepção dos vitorianos em terras estran-
geiras são temas de outros capítulos neste volume. Nilce M. Pereira mapeia a pu-
blicação de autores vitorianos, como William Makepeace Thackeray, Thomas Car-
lyle e George Meredith, para o público infantil na revista Tico-Tico, enquanto So-
lange P. P. Carvalho comenta a sua experiência na tradução profissional de diver-
sos romances vitorianos, entre eles Wuthering Heights, de Emily Brontë, Middle-
march, de George Eliot e Bleak House, de Charles Dickens. À luz da recepção de
Nísia Floresta de escritoras como Maria Edgeworth, Thiago Rhys Bezerra Cass
discute a educação feminina no século XIX, bem como a aproximação das mulhe-
res com a escrita e leitura do romance britânico nos séculos XVIII e XIX. Em Por-
tugal, Daniel Bonomo aborda as relações luso-britânicas em diversos gêneros tex-
tuais, da crônica ao relato historiográfico, e mostra como a nostalgia imperial dos
portugueses informa figurações lusitanas da Inglaterra vitoriana.
Vitorianos: contradições e desdobramentos documenta como ideias e im-
pressos vitorianos circularam em Portugal, França, Alemanha e Brasil, estrutu-
rando ou saturando campos discursivos tão diversos quanto a historiografia, a
ciência política, a crônica de jornal e a literatura infantojuvenil. Sobre esse último
gênero, Guilherme Magri da Rocha e Cleide Antonia Rapucci analisam o livro in-
fantil de Christina Rossetti, Speaking Likenesses, uma das inúmeras adaptações de
Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll. A variedade temática e o caráter
multidisciplinar deste livro salientam a atualidade dos estudos vitorianos na con-
temporaneidade. O capítulo que encerra este livro, escrito por Marcelo Pen, trata
justamente da virada do século ao examinar o romance inacabado de Henry
James, The Ivory Tower, que foi publicado postumamente em 1917. Em suas re-
flexões sobre os experimentos formais de James, Pen mostra como essa obra

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póstuma retrata os efeitos da expansão capitalista, do consumo e da monetização
da sociedade no início do século XX.
Entre o kitsch e o cool, a era vitoriana saturou o debate intelectual do sé-
culo XX, mesmo quando os modernistas empenhavam-se em romper com a gera-
ção de seus pais e avós. À luz de nossos tempos, percebemos que o desprezo aos
vitorianos mais reforça do que rasga o vínculo entre os vanguardistas britânicos
e seus antepassados. O fascínio pela era vitoriana e, ao mesmo tempo, a sua recusa
suscitaram, nas últimas décadas do século passado e nas primeiras do presente,
o impulso de revisitar e compreender esse período. Diante desse impulso, fica a
pergunta: a era vitoriana acabou em 1901? Ou suas contradições e seus desdo-
bramentos continuam a estruturar — ou obscurecer — nossos horizontes?

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