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O Evangelho Da Prosperidade - Vida Nova
O Evangelho Da Prosperidade - Vida Nova
O Evangelho Da Prosperidade - Vida Nova
PROSPERIDAD
E
Alan B. Pieratt
tradução de
Robinson Malkomes
Conteúdo
Capítulo 1. Considerações Introdutórias 08
1. Visão Geral 09
2. Antecedentes Históricos 16
3. Prévia do Conteúdo 28
1. Autoridade Espiritual 33
2. Saúde e Prosperidade 47
3. A Confissão Positiva 61
1. Autoridade Espiritual 95
2. Saúde e Prosperidade 125
3. A Confissão Positiva 153
Bibliografia 230
Kenneth Hagin
Ele diz a seus seguidores que, logo depois disso, recebeu uma
revelação do "verdadeiro" significado de Marcos 11.23, 24 e da
natureza da fé cristã. A essência dessa revelação era que, para
obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz
alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido
respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que
a oração foi atendida. Uma vez feita a oração, o fiel deve afirmar
constantemente a resposta, até que surja a prova. Essa é, por
certo, a essência daquilo que é hoje ensinado como "confissão
positiva". Hagin afirma que a fonte disso não foi outra senão o
próprio Senhor.
E. W. Kenyon
Hagin nega de modo inflexível que isso seja verdade. Ele diz que
nunca plagiou Kenyon e que seus ensinos vieram diretamente da
boca do Senhor. Somente depois de 1979, quando as
semelhanças entre os livros foram apontadas por vários leitores,
ele veio a admitir ter lido as obras de Kenyon. Mesmo assim, ele
tem certeza de que não estudou nenhum dos escritos de Kenyon
antes de 1950, ou seja, 13 anos depois de ter recebido a revelação
que fez seu ministério decolar. Então, como ele explica as
semelhanças? Hagin diz que elas se devem ao fato de ambos os
escritos serem a Palavra de Deus.
3. Prévia do Conteúdo
Os quatro capítulos restantes deste livro assumem a seguinte
forma: no capítulo dois, os ensinos da teologia da prosperidade
serão apresentados de maneira sistemática. As fontes estarão
quase inteiramente limitadas aos escritos de Hagin, muitos dos
quais se encontram em português. Estes serão ocasionalmente
complementados com aquilo que escrevem R. R. Soares ou Ken
Copeland, mas Hagin é merecidamente conhecido como o pai da
doutrina da prosperidade, e até esta data seus escritos fornecem a
melhor exposição de suas idéias.
1. Autoridade Espiritual
A semelhança de muitas igrejas carismáticas e pentecostais,
Hagin ensina que Deus está ungindo profetas nos dias de hoje.
Tais homens são porta-vozes de Deus e, portanto, trazem consigo
a autoridade do próprio Senhor. "Deus ainda está ungindo
profetas hoje. Esses profetas são porta-vozes dEle..." (Unção, 9).
Ele ridiculariza aquelas denominações que ensinam que a
autoridade apostólica cessou com a morte dos Doze, dizendo que
"o diabo já ludibriou denominações inteiras", fazendo-as pensar
que esse dom cessou com os Doze (Nome, 51), Não nos
surpreende o fato de Hagin afirmar ser um desses porta-vozes
escolhidos, e seus sermões e escritos estão repletos de mensagens
e visões da parte de Deus. As expressões encontradas com maior
2
Os textos extraídos dos livros de Hagin em português e os do livro de R. R. Soares serão
citados na íntegra, incluindo os erros gramaticais, freqüentes naquelas publicações (nota do
tradutor).
freqüência em seus livros são: "tive uma visão", "tive uma visão
espiritual rápida" ou "o Senhor me disse". Algumas vezes essas
visões são de natureza espetacular, à semelhança da vez em que
ele foi levado ao inferno três vezes num único dia.
Ele soube com antecedência, por meio de uma visão, com quem
iria se casar e os filhos que iria ter (Planos, 33).
2.1 Saúde
A teologia da prosperidade não se cansa de repetir que nem
doenças nem problemas financeiros são da vontade de Deus para
o cristão, nem é necessário que este se confronte com eles
durante a vida.
As doenças e as enfermidades não são da vontade de Deus
para o Seu povo. Ele não quer que a maldição paire sobre
os Seus filhos por causa da desobediência; Ele quer
abençoá-los com a saúde... Não é da vontade de Deus que
fiquemos doentes. Nos dias do Antigo Testamento, não era
da vontade de Deus que os filhos de Israel ficassem
doentes, e eles eram servos de Deus. Hoje, somos filhos de
Deus. Se Sua vontade era que nem sequer Seus servos
ficassem doentes, não pode ser Sua vontade que Seus filhos
fiquem doentes! As doenças e as enfermidades não provêm
do amor. Deus é amor... Nunca diga a ninguém que a
enfermidade é a vontade de Deus para nós. Não é! A cura e
a saúde são a vontade de Deus para a humanidade. Se a
enfermidade fosse a vontade de Deus, o céu estaria cheio de
enfermidades e doenças. (Redimidos, 18-20.)
A Morte e os Médicos
Embora os cristãos tenham direito à saúde, isso não significa que
possamos evitar a morte ou que ela não seja real, conforme
ensina a Ciência Cristã. Hagin interpreta a morte como parte da
maldição decorrente da queda de Adão, a qual todos temos de
enfrentar. Mas, embora o cristão precise morrer, a morte deve ser
uma experiência indolor, não ligada às doenças, que ocorre
depois de uma vida "plena e longa" (Zoe, 37), sendo que sua
duração é de "70 ou 80 anos" (El Shaddai, 39). Uma
conseqüência disso e que há pouca necessidade de médicos entre
os cristãos adeptos da doutrina da prosperidade. É exatamente
essa a conclusão a que Hagin chega. Para aqueles que atingiram
uma fé madura, nem a medicina nem os conselhos médicos
devem ser necessários.
2.2 Prosperidade
No campo das finanças, Hagin segue exatamente o mesmo
raciocínio que utiliza em suas afirmações sobre saúde. A
prosperidade financeira é um direito do cristão, pois faz parte da
expiação efetuada por Cristo. Assim como o cristão tem direito à
saúde, ele também tem direito de ser próspero. Exatamente da
mesma forma como as enfermidades nunca representam a
vontade de Deus para o fiel, assim também a pobreza ou as
dificuldades financeiras de qualquer espécie. O pastor de hoje
tem o dever de pregar essa mensagem com toda sua força, pois
no passado a igreja deu destaque demasiado ao lado espiritual da
salvação. O direito de sermos financeiramente prósperos precisa
ser cada vez mais proclamado dos púlpitos. Depois de citar Josué
1.8, Hagin diz:
3. A Confissão Positiva
Nunca é demais enfatizar que o direito que o cristão tem às
riquezas e à saúde não é desfrutado automaticamente. Há
condições a serem satisfeitas e procedimentos a serem seguidos.
Conforme gostam de dizer os economistas, "não existe almoço
gratuito". Isto se aplica até mesmo ao evangelho da prosperidade.
Não basta apenas crer em Cristo, ser batizado, freqüentar uma
igreja, orar e viver uma vida piedosa. Esses elementos sozinhos
não podem trazer aquilo que o cristão tem por direito. A maneira
como vive a maioria dos cristãos torna isso óbvio. A maior parte
deles em todo o mundo é pobre e, à semelhança dos não-cristãos
que os cercam, passa por todos os problemas físicos e doenças
conhecidos pela sociedade em que vive. Na questão da saúde ou
da prosperidade, há poucas diferenças entre cristãos e não-
cristãos. Sempre foi assim. Se existe alguma diferença, esta se
encontra no fato de, através dos séculos, os cristãos tenderem a
ser, como observam Paulo e Tiago (1 Co 1.26; Tg 2.5), menos
sábios, menos poderosos, menos prósperos. Entretanto, segundo
a doutrina da prosperidade, os apóstolos estavam enganados
quanto à vontade de Deus nesse sentido. Deus pode ter escolhido
os pobres e os de condição inferior deste mundo, mas nunca
pretendeu que eles continuassem assim.
Alguém disse: "Irmão, acho que sou outro Jó". O que você
quer dizer com ser outro Jó? Louvado seja Deus, se você é
o Jó de Deus, você receberá sua cura. Jó foi curado.
(Redimidos, 12.)
Se você pensa que você é outro Jó, isso significa que você
vai ser uma das pessoas mais ricas das redondezas... Se
você for outro Jó, prosperará. (Limiares, 63.)
3.2 A Firmeza de Fé
Depois do conhecimento de nossos direitos, a segunda condição
para usufruirmos de saúde e riqueza é a fé. Não qualquer tipo de
fé, mas uma fé que possua certa qualidade. R. R. Soares refere-se
ao tipo normal de fé como "a fé da sorte" e descreve-a nos
seguintes termos:
Deus já fez o que tinha que fazer para você... Agora é você
que tem que fazer algo. (Soares, 1987, 26.)
Use este Nome com a mesma liberdade que você usa seu
talão de cheques. O dinheiro já está depositado, você emite
o cheque sem exercer qualquer fé especial; ou seja: você
não está consciente de exercê-la — embora você a esteja
usando. (Nome, 120.)
O raciocínio aqui parece ser este: uma vez que nossos direitos já
foram garantidos na expiação, a vontade de Deus para nós
sempre será de que tenhamos saúde e prosperidade. Hagin
acrescenta seu próprio testemunho de que isso é realmente assim:
A esta altura deve estar claro por que dizer "se for de tua
vontade" não é aceitável na confissão positiva. Isso indica
dúvida, e dúvida destrói a eficácia da fé como força. Por isso, os
membros do movimento da prosperidade que se encontram
doentes nunca admitem ou falam sobre os sintomas da doença.
Em uma seção intitulada "O Medo Abre a Porta Para o Diabo",
Hagin diz:
Resumo
Consideramos até agora os principais temas do evangelho da
prosperidade. Quando visto em sua totalidade, percebemos que
se trata de um sistema surpreendentemente complexo. Em geral,
um sermão baseado na doutrina da prosperidade tocará apenas
um ou dois pontos centrais, especialmente os que dizem respeito
à confissão positiva. Raramente, ou mesmo nunca, o sistema é
visto como um todo. Antes de passar para a análise crítica,
consideramos aqui o lugar apropriado para alguns breves
comentários sobre certos pressupostos espirituais que estão por
trás dessa teologia.
Tudo que Deus diz que você é e tudo que Deus diz que você
tem, já é real na dimensão espiritual. Mas você deseja que
se torne real na dimensão física para então desfrutar o que
já é seu em Cristo. (Combater, 35.)
Introdução
Neste capítulo tentaremos responder a cada um dos pontos
levantados no capítulo anterior. Antes de começarmos, fazem-se
necessárias várias observações. Em primeiro lugar, deve ficar
claro que o evangelho da prosperidade é uma compreensão
realmente nova da fé cristã. Isso só pode significar que a igreja
esteve pregando a mensagem errada durante todos esses séculos.
Toda a tradição teológica estava errada e deve ser abandonada.
Os que foram criados nas denominações tradicionais precisam
desaprender o que lhes foi ensinado na igreja e na Escola
Dominical.
4
Continua válido hoje o comentário de William James sobre os escritos dos pregadores da
cura de sua época, no início do século XX. Ele escreveu que podemos pôr de lado "... a
verbosidade de boa parte da literatura sobre cura pela mente, algumas de um otimismo tão
lunático e expressas de forma tão vaga que até a mente com perícia acadêmica acha quase
impossível lê-las" (Variety of Religious Experience, 94).
positiva descrevem, então, como obter a bênção e completam o
sistema. Consideremos esses pontos em sua seqüência.
1. Autoridade Espiritual
A alegação que Hagin faz de autoridade espiritual é bem clara:
ele não defende sua interpretação da Bíblia com base na erudição
teológica, no raciocínio filosófico cuidadoso ou na pesquisa
sobre a história das doutrinas na igreja. Antes, ele alega possuir a
autoridade de um profeta que falou com Deus. A semelhança de
Paulo, ele foi instruído diretamente por Jesus (Gl 1.12). Essa
afirmação sublime de conhecimento por meio de revelação é
ratificada por muitas histórias de poder espiritual para curar e
operar sinais e maravilhas de todos os tipos. Essa afirmação é
séria tanto hoje quanto nos dias de Moisés, quando foram feitas
as primeiras advertências contra profetas que surgiriam no futuro
(Dt 13.1-3).
Daniel 10.1-19
Isaías 6.1-5
Apocalipse 1.9-17
... o que vem à tona... é que uma linha nítida é traçada entre
as categorias de cura que podem ser obtidas e as
categorias que não podem ser obtidas pela fé, e essa linha é
traçada aproximadamente no exato ponto onde passa a
linha que separa as curas que são obtidas daquelas que não
são obtidas pela mente... Há categorias de doenças que a
cura pela fé pode resolver e categorias que ela não pode.
Num exemplo específico, ela não consegue curar ossos
quebrados, restaurar mutilações ou fazer algo tão simples
quanto recuperar dentes perdidos. (Warfield, 1972, 191.)
2. Saúde e Prosperidade
Ao passarmos da questão da autoridade espiritual para as
promessas da doutrina da prosperidade, precisamos ter cuidado
com aquilo que está sendo questionado. A questão não é se Deus
responde às orações de seu povo. Adoramos e servimos a um
Deus de amor que se preocupa conosco, tanto com a alma como
com o corpo. Somos convidados a levar-lhe nossas necessidades
(1 Pe 5.7) e cremos que ele ouve nossas orações e está conosco,
na saúde ou na doença (Mt 28.20). Portanto, o que está em jogo
nesta seção não é o caráter de Deus nem o valor da oração. A
questão aqui é a validade das promessas feitas ao cristão que crê
na doutrina da prosperidade. Seria válido esperar saúde e riqueza
como parte de nossos "direitos" com Deus? Doença e pobreza
fazem parte da maldição da lei, a qual foi substituída pela bênção
de Abraão? Responderemos a essas perguntas, olhando
primeiramente para Gálatas 3 e, depois, para os textos
específicos usados para defender a idéia de saúde e riqueza.
10
O óleo pode ser símbolo do poder do Espírito ou ser entendido literalmente como recurso
medicinal. Nesse caso, a passagem indica que se devem utilizar todos os remédios
disponíveis em conjunto com a oração. Há muitos versículos que dão apoio a essa idéia.
Isaías 38.21 mostra a recomendação de Isaías a Ezequias para que colocasse um emplastro
de pasta de figo sobre sua úlcera (cf. 2 Rs 20.7). Paulo disse a Timóteo que fizesse uso de
um pouco de vinho para seu estômago, não como bebida, mas como remédio para seu mal.
Em Colossenses 4.14, ele se refere a Lucas como o médico amado. O óleo também pode ser
símbolo da própria oração. Sua aplicação seria um ato simbólico destinado a assegurar á
pessoa doente que ela estava sendo separada para receber atenção especial do Senhor. Há
muitas opiniões em apoio às duas interpretações (veja Biederwolf, 1934. 76, 77). Warfield
defende a idéia de que o óleo é símbolo de remédio e crê que Tiago também poderia ter
escrito simplesmente "dêem-lhe o remédio em nome do Senhor" (Warfield, 1972, 171).
com exceção do fato de que permitimos que a intercessão
formal da igreja caísse em desuso? (Warfield, 1972, 170.)
Por outro lado, a igreja não deve cair no erro de dizer que a
pobreza é boa em si mesma e que, de alguma forma, traz até nós
a graça de Deus. No passado, esse foi o erro do monasticismo, o
qual permanece entre nós até hoje na teologia da libertação. Na
cosmovisão da Bíblia nem a pobreza nem a prosperidade são
virtudes, mas, entre as duas, um acesso relativo à prosperidade
constitui o ideal bíblico. É isso que João desejou para seus
leitores de 3 João 2. A prosperidade contra a qual a Bíblia prega
é aquele acúmulo de bens que vem com a riqueza e que engana a
mente e a alma, fazendo com que se sintam auto-suficientes,
pensando que não devem nada a Deus ou aos homens. A
prosperidade é um bem, se for concebida no sentido de uma vida
ordeira e decente, sem uma preocupação excessiva com
pagamento de contas, consumo e educação, onde sobra o
necessário para ajudar o próximo.
Dar e Receber
3. A Confissão Positiva
Chegamos agora à terceira e última categoria — os métodos e as
regras da confissão positiva. No capítulo dois, vimos que as
promessas de saúde e prosperidade não são colocadas em
funcionamento de forma automática, mas recebidas somente por
meio de alguns procedimentos agrupados pela frase "confissão
positiva". Encontramos aqui os meios ou métodos pelos quais o
cristão consegue ou merece saúde e prosperidade. Eles envolvem
a afirmação dos direitos em voz alta, nunca duvidar, nunca
repetir uma oração, negar qualquer sintoma negativo, etc. O
pressuposto é que essas regras e procedimentos refletem as leis
espirituais que regem o mundo. Uma vez que descubra essas leis,
o cristão pode colocá-las em funcionamento para seu próprio
bem. Elas existem para que o homem de fé possa utilizá-las e
manipulá-las da mesma forma como usa e manipula a lei da
gravidade e da circulação do ar ao andar de avião. Empregando
uma metáfora mais comum para Hagin, é o mesmo que fazer uso
das vantagens das leis da atividade bancária quando preenchemos
um cheque.
de Deus, os quais são revelados no mundo, criados, sustentados e ordenados por meio de
leis naturais, tanto morais como físicas, divinamente sancionadas". O evangelho da
prosperidade é deísta na medida em que acredita que o mundo funciona de acordo com um
conjunto de leis espirituais. Por outro lado, a quinta característica diz: "Não há nenhuma
providência especial; milagres ou outras intervenções divinas não infringem a ordem
natural legal". Nesse sentido, o evangelho da prosperidade não acompanha o padrão de
pensamento deísta. Veja E. G. Waring, ed., Deism and Natural Religion, Ungar, 1967. A
Encyclopedia of Philosophy, Macmillan, 1967, fornece uma extensa bibliografia.
forma autônoma. A Bíblia deixa bem claro que Deus mantém sua
autoridade soberana para tomar decisões em cada área da vida,
incluindo as enfermidades e o sofrimento (cf. Êx 4.11; Dt 32.39;
Jó 5.17, 18; Is 45.7; Lm 3.37). Isso quer dizer que não existem
leis espirituais que funcionem automaticamente, à parte da
vontade pessoal de Deus (Dn 4.34ss., Ef 1,11).
Observe nessa citação que Hagin afirma que a oração que não foi
respondida fracassou por falta de conhecimento. As regras e
procedimentos da magia também afirmam invariavelmente que
recebemos poder mediante o conhecimento de fórmulas secretas
que invocam forças sobrenaturais.
Não adianta muito Hagin negar que o nome de Jesus atue como
magia (Nome, 37). Isso não impede que ele o trate como se fosse
algo mágico. Hagin diz que é importante orar apenas e
exatamente "em nome de Jesus", sem qualquer variação. Mas não
existe diferença lógica entre declarações como "em nome de
Jesus", "por amor de Jesus", "por Jesus" ou qualquer outra
variável. Em cada caso, a frase representa uma sinédoque, figura
de linguagem em que uma expressão mais curta é usada em lugar
de outra mais longa. A sinédoque, nesse caso, está no uso de "em
nome de Jesus" ou "por amor de Jesus" em lugar da frase mais
longa "peço que esta oração seja respondida por amor daquilo
que Jesus fez por mim e afirmo isso como um de seus
seguidores".
12
Bruce Barron escreve o seguinte: "A conhecida história dos três homens na fornalha de
fogo ardente... deu ocasião a algumas interpretações fascinantes no movimento da fé...
Ironicamente, Gloria Copeland cita essa mesma passagem como exemplo da "postura
mental correta". Ao citá-la, ela deixa de fora as palavras cruciais "se não" (se Deus não nos
quiser livrar), do v. 18... sem apoio da passagem, ela afirma que os três "foram para o fogo
com plena intenção de voltar" (p. 108).
Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te
responder. Se o nosso Deus a quem servimos, quer livrar-
nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas
mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos
a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que
levantaste.
Segunda essa opinião, nosso Deus que cria tem uma grande
quantidade de fé, porque fé é isso: força que cria. O homem é
como Deus, ao partilhar com ele a capacidade de criar pela fé.
Portanto, a verdadeira fé é como a fé que Deus tem: poderosa,
livre de dúvidas e, por isso, capaz de trazer à existência aquilo
que deseja.
Conclusão
Os dois lados desse ensino são atraentes, mas também vão contra
a doutrina bíblica. As idéias de Hagin serão consideradas sob
quatro aspectos diferentes: primeiro, o dualismo da natureza
humana; segundo, o dualismo do conhecimento humano;
terceiro, o dualismo da redenção; e quarto, uma tendência
dualista à exaltação de Satanás. Por fim, antes de encerrar este
capítulo, veremos que resposta os ensinos da prosperidade
oferecem ao problema do mal.
1. O Dualismo do
Corpo e do Espírito
Hagin ensina que o homem é constituído de três partes: espírito,
alma (ou mente) e corpo: "O homem é um espírito — tem uma
alma — e vive num corpo" (Nome, 89). Cada uma dessas três
partes tem uma função que corresponde aos aspectos espiritual,
mental e físico da vida humana. O espírito lida com a esfera
espiritual, a alma fornece as funções mentais e o corpo provê a
corporalidade.
2. O Dualismo no Conhecimento
Conceitos hierárquicos da natureza humana são quase sempre
acompanhados por uma hierarquia equivalente no campo do
conhecimento humano, e a doutrina da prosperidade não constitui
exceção. Assim como o universo se divide em duas partes, uma
espiritual e outra física, sendo a primeira superior, também o
conhecimento apresenta a mesma divisão. Existe um
conhecimento superior, o espiritual, e outro inferior, o físico. O
primeiro é chamado de "verdade revelacional", enquanto o
inferior é chamado de "conhecimento dos sentidos" (Paz, 9).
Como o leitor poderia prever, Hagin ensina que somente o lado
espiritual do homem pode ter percepção do conhecimento mais
elevado. A mente não tem capacidade de perceber ou entender as
coisas do espírito nem qualquer outra coisa que tenha a ver com
conhecimento de revelação do mundo espiritual (Crescendo,
107).
Seu espírito sabe coisas que sua cabeça não sabe. Porque o
Espírito Santo está no seu espírito. (Dirigido, 65.)
Mas como o cristão pode saber se a voz interior que ele ouve é
verdadeiramente o Espírito de Deus? Não poderia ser aquela a
voz de sua natureza inferior e não completamente redimida?
Hagin responde, dizendo que, para o cristão, não se faz
necessária nenhuma distinção entre seu espírito e a orientação
direta do Espírito de Deus.
3. O Dualismo na Salvação
Deixamos agora as opiniões dualistas de Hagin sobre a natureza
humana e acerca do conhecimento para olharmos sua
compreensão da expiação de Cristo na cruz. Nesse ponto, em
vista de suas pressuposições dualistas, Hagin ensina de forma
coerente que, pelo fato de a natureza humana ser basicamente
espiritual, a expiação também teve um aspecto espiritual. O
sofrimento físico de Cristo podia fazer expiação por nossa
natureza física, mas nosso espírito precisava de algo mais. A
conclusão é de que Jesus morreu duas vezes, uma fisicamente e
outra espiritualmente. Afirma-se que isso aconteceu em duas
etapas. Primeira, Cristo sofreu e teve a morte física na cruz.
Então, ele desceu para o inferno, onde sofreu e morreu
espiritualmente.
Uma vez que Jesus foi feito pecado por nós, Ele teve de
pagar a pena do pecado. Ele teve de morrer espiritual e
fisicamente, o que o levou às regiões dos condenados...
Isaías 53.9 afirma: "designaram-lhe a sepultura com os
perversos... com o rico... na sua morte"... A palavra
"morte" no original hebraico está literalmente no plural.
Jesus passou por duas mortes. Ele morreu física e
espiritualmente. Ao ser feito pecado, ele foi separado de
Deus... Jesus passou três dias e três noites horríveis nas
entranhas dessa terra, readquirindo os direitos e a
autoridade dos homens, ao pagar o preço do pecado
humano. (Copeland, 1983, 35.)
Além disso, Cristo não somente morreu duas vezes, mas sua
natureza foi transformada na natureza de Satanás. Realmente
aconteceram duas transformações. A ordem é esta: primeiro,
Jesus foi para a cruz com sua natureza divina intacta. Depois, na
hora em que ele pergunta a Deus por que o havia desamparado,
ele assumiu a natureza satânica, a mesma do homem decaído. Por
fim, depois que a expiação estava encerrada tanto no aspecto
físico quanto espiritual, a natureza divina de Jesus lhe foi
restaurada. Hagin chega a essa conclusão em seus comentários
sobre Atos 13.33 e pela frase "hoje eu te gerei".
Em terceiro lugar, o uso que Hagin faz de Isaías 53.9 como prova
da morte dupla de Cristo não resiste ao escrutínio, Realmente
esse versículo traz a palavra "morte" no plural, mas uma
característica da língua hebraica é colocar no plural substantivos
que devem ser destacados. Em outras palavras, o plural "mortes"
confere intensidade à palavra. Na linguagem de hoje, diríamos
que ele "realmente" morreu (Keil & Delitzsch, 1976).
Também não faz sentido dizer que Cristo nasceu de novo para
uma nova natureza divina. Ele é o autor do novo nascimento, não
seu beneficiário (cf. Jo 1.12, 13; Gl 3.26). Ao encerrar essa
discussão, vale notar que, em cada caso, seja na natureza
humana, no conhecimento ou na expiação, o erro básico da
doutrina da prosperidade começa com sua visão dualista do
mundo. Por considerar a esfera espiritual sempre primária e mais
importante, ela procura uma realidade espiritual mais profunda
por trás de cada ensino. No caso da cruz. pressupõe-se que a
morte física não foi suficiente para fazer a expiação pela
realidade espiritual. Paulo refletiu árdua e demoradamente sobre
o evento e significado da cruz, chegando à conclusão de que não
somos salvos por meio de duas mortes, uma física e outra
espiritual, mas pelo sangue de Cristo (Cl 1.20) ou, como ele
afirma dois versículos à frente, somos salvos "no corpo da sua
carne". Embora tenhamos verificado que Hagin não gosta de ser
comparado com a Ciência Cristã, negar que o sofrimento e a
morte física foram suficientes para fazer expiação pelos nossos
pecados é ensinar a mesma coisa que ela também ensina. Nos
dois casos, trata-se da espiritualização da obra de Jesus, impondo
à Bíblia um ensino que não se encontra nem está insinuado em
suas páginas.
4. O Dualismo de Deuses
Fechamos nossa análise da cosmovisão dualista dos ensinos da
prosperidade, olhando para a tendência de enxergar Satanás
como um deus oposto e quase igual a Jeová. Hagin diz que
"Satanás é o deus deste mundo. Satanás é um deus negativo.
Tudo neste mundo é negativo" (Perdida, 55.) É claro que Hagin
não quer dizer que Satanás é um deus igual ao criador do mundo
e, por essa razão, o leitor deve notar que estamos afirmando que
a teologia da prosperidade tende apenas a enxergar Satanás como
igual a Deus. Ela realmente não ensina que seja assim.
Entretanto, essa é uma tendência forte e ocorre em dois sentidos
distintos. Primeiro, Satanás é acusado de todos os problemas,
sofrimentos e aflições na vida.
5. O Problema do Mal
Uma das questões centrais que qualquer teologia deve enfrentar é
a razão da existência do mal no mundo. Por que coisas ruins
acontecem às pessoas boas, até para cristãos que vivem no centro
da vontade de Deus? Antes de encerrar nossa análise e resposta à
teologia da prosperidade, vale a pena olhar brevemente para a
resposta oferecida por ela. De fato, não se trata de uma resposta,
mas, sim, de uma negação de que o problema surja na vida
daquele que crê. Segundo a doutrina da prosperidade, não há
razão por que o cristão não esteja sempre bem e prosperando. Ele
pode sofrer um pouco, mas isto são apenas vales entre as
montanhas de saúde e prosperidade. Aqueles que passam por
problemas e enfermidades têm somente a si para culpar: ou estão
em pecado ou desconhecem seus direitos ou não têm fé
suficiente. Portanto, o problema do mal não existe para o cristão
vitorioso que conhece seus direitos e deles se apropria. A
intenção dessa divisão é mostrar que essa resposta ao problema
do mal é totalmente inadequada, fornecendo um breve esboço da
solução tradicionalmente oferecida pelo cristianismo.
A Resposta de Agostinho
Para aquele que opta pela fé, a resposta de Camus não serve. Mas
o que o cristão tem a dizer sobre a presença de tanto sofrimento
no mundo, que parece não ter nada a ver com o pecado da pessoa
que está sofrendo? O sofrimento parece não ter propósito e
exceder a culpa daqueles que passam pelo pior, como, por
exemplo, as crianças. O problema pode ser apresentado de modo
sucinto. Como podemos acreditar num Deus que é Todo-
Poderoso e Todo-Amor, mas que também permite tanta dor e
sofrimento, principalmente no caso de pessoas inocentes? Se ele
é Todo-Poderoso, tem a capacidade de eliminar o sofrimento; se
ele é Todo-Amor, deve querer acabar com o sofrimento. Então
por que ele não faz nada? Muitos teólogos já escreveram sobre
esse assunto, e a maioria reflete variações do pensamento de
Agostinho.14
Tal solução tem sido aceita pela igreja como a resposta teológica
básica ao problema do mal. Entretanto, para que se complete o
ensino bíblico, é necessário que seja acrescentado um elemento:
a cruz. Nela percebemos que Deus não abandonou o homem para
que este simplesmente sofresse as conseqüências de seu pecado.
Na redenção oferecida por meio de Cristo, Deus tomou sobre si o
pecado do homem e pagou o preço exigido pela justiça. O
homem não foi abandonado depois da queda. Deus participa de
seu sofrimento, providenciando a resposta definitiva para ele
(Pannenberg, 1973). Tal pensamento não é encontrado em
nenhuma outra religião. Creio que ela coloca o conceito cristão
de Deus num nível superior a qualquer outro conhecido pelo
homem. É por essa razão, pela redenção de alto preço da raça
humana, que as multidões no céu cantarão "digno e o Cordeiro"
(Ap 5.12, 13).
Conclusão
Tal demagogia não pode ser comparada com a Bíblia nem com a
visão protestante a respeito dela. Na espiritualidade do
protestantismo, o fiel não encontrará apóstolos dos dias de hoje
dirigindo seus seguidores com base em visões. Em vez disso, a
única fonte de autoridade e direção espiritual é a Palavra de Deus
encontrada na Bíblia, nem mais nem menos. Os reformadores
criam com firmeza que as Escrituras são suficientes em matéria
de fé como guia seguro para cada área da vida e da doutrina, e
essa convicção continua sendo fundamental para as igrejas
protestantes de hoje. É claro que isso exige que o fiel se esforce
para aprender e estudar a Bíblia. Ele precisa estudá-la por si e,
desse modo, conhecer a vontade de Deus para sua vida. Por isso
o protestantismo sempre tem dado apoio a livros e programas que
ajudem o membro da igreja a aprender sobre sua fé. Sobretudo,
ele desenvolveu uma longa tradição de estudo bíblico cuidadoso,
porque acredita que a Bíblia resistirá a qualquer escrutínio e
permanecerá para oferecer sempre novas percepções sobre Deus
e sua criação (Mt 13.52). Muitos cristãos de gerações do passado
estudaram as Escrituras com um alto grau de confiança na
inspiração e produziram teologias sintonizadas com a Bíblia e
abertas ao estudo ou questionamento de qualquer fiel.
A aceitação da Bíblia como única fonte de orientação e
autoridade também significa que não pode existir nenhum
conhecimento secreto ou mais elevado que esteja à disposição do
cristão ou de qualquer líder espiritual autonomeado. Não se
permitem revelações externas. Isso quer dizer que qualquer novo
ensino ou interpretação que surja na igreja deve passar
obrigatoriamente pelo crivo do cânon das Escrituras. Nesse
aspecto, a exemplo do apóstolo João, o protestantismo faz uso de
uma hermenêutica de suspeita com relação a novas afirmações
(cf. 1 Jo 4.1). É justamente por ser novo que é motivo de
suspeita, pois não se esperam novas revelações até que o Senhor
volte, mas admite-se que Satanás é um anjo de luz capaz de
transmitir boas novas dos mais diferentes tipos para enganar os
menos atentos.