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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS / CONTEÚDOS

A cultura do espaço virtual

A arte contemporânea desenvolveu-se no contexto das grandes ruturas e


mudanças políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XX. Resultante do
fenómeno da globalização e marcada pela sociedade de consumo massificada, também
a produção artística refletiu a uniformização dos formatos. A influência das novas
tecnologias, a assimilação de novos meios de comunicação e de expressão (televisão,
vídeo, revistas), com a ligeireza dos seus conteúdos, aproximou-a da atual indústria
artística das sociedades contemporâneas.

Dan Flavin American - Diagonal de 25 de maio de 1963 (para Robert Rosenblum)

Daniel Flavin foi um dos representantes da chamada arte minimalista das décadas de
1960 e 1970 nos Estados Unidos. A classificação foi usada pela primeira vez pelo filósofo
Richard Wollheim no ensaio “Minimal Art” em 1965 para agrupar obras que, como os
ready-mades de Duchamp, não pretendiam representar uma realidade externa: o objeto
exposto deveria ser entendido como obra por si e a experiência do espectador não deveria
depender de associações a outros fatores. (https://www.archdaily.com.br/br/924214/como-a-luz-
pode-transformar-o-espaco-conheca-a-obra-do-artista-dan-flavin)

Frágeis, efémeros e perecíveis, os objetos artísticos perderam o seu caráter


absoluto e de autorreferência, banalizaram os seus conteúdos e rejeitaram a áurea de

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eternidade. Não só, as intervenções artísticas começaram a aparecer muito
frequentemente indexadas ao espaço e ao momento da apresentação, como são
exemplo as instalações, as performances, os happenings, também intituladas de artes e
acontecimento devido à sua natureza transitória, como também, prescindiram de uma
reação erudita e especializada do público deixando de prestar a função de
contemplação e a satisfação dos sentidos.

Na verdade, a arte contemporânea repousa cada vez mais nos efeitos


circunstanciais, nas sensações puras e nos significados instantâneos, dispensando
análises iconográficas, formalistas ou outras. Em suma, a arte é agora dirigida e
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produzida a uma escala global em função do consumidor no geral e não apenas para
uma elite de pessoas.

Este percurso iniciou-se, sem dúvida, com a Pop Art e as suas contundentes
transformações de produtos vulgares em objetos artísticos, celebrando a era da
banalidade ou a crise da arte face à concorrência feroz de uma sociedade voltada para
o espetáculo do seu próprio sucesso.

As tendências que lhe sucederam, do Minimalismo à Arte Conceptual, da Land


Art à Body Art ou às intervenções no quotidiano, não pretenderam senão ultrapassar
definitivamente as formas tradicionais de apresentação da obra de arte.

A desmaterialização da obra de arte, a interferência das novas tecnologias nos


processos criativos e, sobretudo, o papel globalizante da internet, reformularam
radicalmente as condições quer da produção quer da receção do objeto artístico num
contexto, normalmente, referido como Pós-Modernismo.

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A década de 80 (1980) constitui uma época de confronto ideológico na qual
críticos, artistas e teóricos questionam a noção de obra de arte e a sua relação com a
História e com o Mundo. Formam-se, assim, as bases do sistema artístico que ainda
hoje está em voga. Um sistema, entretanto, suportado por um agressivo mercado de
arte que transforma as obras em «objetos de culto» e, portanto, de especulação.

Dividido entre os Estados Unidos e a Europa, o panorama artístico revela uma


constante dinâmica e uma relação descomplexada com a cultura e com a sociedade.

No mundo atual, nada pode ser permanente, estático ou fixo.

O artista é, antes de tudo, um militante, um ativista de memória, de experiências


e de espaços. Um artista à escala planetária que viaja, que projeta e que joga com as
nossas referências. No limite, ele é um agente social que reflete sobre a essência da
nossa identidade, que ilustra o vazio do mundo que habitamos e que se interroga
sobre a miscigenação cultural em que se converteram as sociedades contemporâneas.
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A desmaterialização do «objeto artístico» ou a


conceptualização da «obra de arte»

Nas décadas de 1970 e 1980, podemos dizer que experiências como o


Minimalismo, Instalação, Land Art, Earthworks, Landscape, Arte Povera, Performance,
Happening ou Body Art, entre outras, procuraram emancipar o artista relativamente à
materialização da ideia, isto é, à concretização formal do «objeto» – até então, a
finalidade última da arte –, o que veio proporcionar uma multiplicidade de novas
possibilidades para a elaboração do projeto artístico. Mas não só. Para além de
facultarem a autonomia relativamente ao conceito tradicional de «objeto artístico» e à
extensão da sua ação criativa no espaço envolvente, estas intervenções favoreceram
uma inter-relação entre a obra e o meio – fosse ele o edifício, a cidade ou a paisagem –,
interferindo ou dependendo dele para afirmarem o seu discurso programático. São,
portanto, obras que, situando-se no registo da Arte Conceptual pelas metodologias e
estratégias que as suportam, não deixam de invadir domínios contíguos a outras
disciplinas como a arquitetura, aproximando-se de valores, conceitos e métodos que
lhe são caros e imanentes.

Verificamos, pois, que um dos maiores paradoxos de algumas produções


artísticas das últimas décadas do século XX, foi o de serem legítimas enquanto tal,
exatamente na medida em que os seus objetos se afastaram da condição de «obra de
arte», na ação tradicional do termo. De modo geral, tratou-se de programas artísticos
cujos objetivos – nem sempre enunciados – deram lugar ao afastamento das
linguagens, das formas e das técnicas convencionalmente atribuídas à atividade
artística.

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Porventura, a obra precursora destas correntes vanguardistas foi Fountain (de
1917), em que, para lá de toda a irreverência nela contida, Marcel Duchamp introduziu
uma «técnica» – o ready-made – cujo maior atributo era o despojamento de qualquer
qualidade estética, simbólica ou comunicativa, provocando no espetador a indiferença
absoluta relativamente a qualquer ordem de valores ou juízos. Sem intervenção nem
modificação de qualquer tipo, Duchamp não podia ter recolhido um objeto mais
anacrónico do que um vulgar urinol para aceder ao espaço de um museu.

Fountain ( 1917), de Marcel Duchamp

A Duchamp, devemos não só a expansão do conceito de arte, que com o ready-


made atribui uma conceção nominalista ao objeto artístico, ou seja, a obra reduzida à
sua essência e ao seu «nome próprio», bem como, a ele devemos a desvirtualização da
abordagem estética e da desmistificação dos valores e conceitos mais convencionais
inerentes ao fenómeno artístico.

A estratégia de «deslocalizar» objetos de uso quotidiano para, com a mínima ou


nenhuma intervenção do artista, os reposicionar ou contextualizar livres de toda a sua
função, representação ou significado, não só conduziu a uma importante corrente
artística que se desenvolveu ao longo do século – a Arte Conceptual –, como também
permitiu alargar os horizontes de intervenção e criação de outras expressões
artísticas.

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