Vista Do Carta de I. Kant A Marcus Herz

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‘vacusao de Paulo R Licht dos Santos Carta de I. Kant a Marcus Herz! ff10.129 ff Tustrissimo Senhor, Cara amigo®: Se estiver descontente com a total auséncia de minhas respostas, certamente Jo comete nenhura injustiga, mas, se tira dai conclusdes desagradaveis, tiesse caso, eu gostaria de poder apelar para seu proprio conhecimento do meu modo de pensar Em vez de desculpas, quero oferecerlhe um breve relato de como meus pensamentos me tém ocupado, a razao de eu adiar, nas horas livres, a correspondéncia. Depois de sua partida de Kanigsberg, examinei mais uma vez, nos intervalos entre o trabalho ¢ 0 descanso de que tanto necesito, o projeto das consideragdes que tinhamos discutido, tanto para adequa-lo a filosofia como um todo ¢ a outros conhecimentos, quanto para compreender a extensio € os limites desse projeto. Em relago a distin- cao entre sensivel e intelectual na moral ¢ aos principios dai decorrentes, eu ja 1. Fata traduggo torou como base @ edigao da Acaderia Real Prussiana de Ciencias (Br, AA 10-129-135) ¢ beneficiou-se da revisio de Viviane Marx e de mumerosas sugestées de Luciana Codato. Indicarcos entre barras, no texto, a paginacdo da ediclo original da academia. Muitas das nnotas desta tracluggo se baselam nas notas da edicao da Academia (Br, 44 13:55-54), assim como ras notas das tradugdes da carta @ Herz’ em francés, de R. Verneaw (Paris: aubler Montaigne, 1968) ¢ de]. Rivelaygue (Peris: Gellimard, 1980); ero inglés, de A. Zweig (Cambridge: Cambnidge University Press, 1999). Além dessas, também foram consultades es seguintes tradugdes: “Carta a Mateus Herz’, trad. Antonio Marques, in: Dissertagdo de 1770, segunda edigao, Lisboa Imprensa Nactonal-Casa de Moeda, 2004, “Carta a Marcus Herz", im “La forma y los principtas deb mivida senstaie y del bebgibile’, tred. J. Saenz, Colombia: Urivesidade Nacional de Colorebie, 1980, “La lettre a Marens Here", trad Alexis Philonenko, in’ La Dissertation de 1770, Paris: Win, 1995 Adotamos de todas esas tradugtes uma ou outra solugéo sempre que julgamas oportuna 2 Marcus Herz (1747-1602), médico e fildsofo nascido em Berlien, foi disctpulo © amigo de Kant, Para a defesa piiblica da Dissertagio de 1770, Kack o incurcbiu de responder erm seu nome as chjesbes de outros tres estudantes, de acondo com as normras academicas da époce, Em 1771, Herz publicou um comentario sobre a Dissertagao intitulado Consideragées sobre filsofta especa- lativa Betvachuungen aus der spekutettven Weltwelshele. Konlgsberg, 1771. Relmpr. li: Phiteephische Hullothek, Bd. $24, Hareb urg! Fell Melner, 1990). Herz enviou-o a Kant em de julho de 1771, |/untamente com uma carta, que ficou sexn resposta ‘Carta do, Kant a Maraus Ho tinha ide, antes, razoavelmente longe®, Tambern ha muito ja timha esbogado, para minha razoavel satisfagao, os principios do sentimento, do gosto e do poder dejulgar, com os seus efeitos, o agradavel, o belo e 0 bem, ¢ plansjava ent&o umm obra que poderia ter por titulo algo como: Os limites da sensibili- dade e da rardo* como outros, havia deixado de considerar em minhas longas investigagées metalisicas ¢ que constitvi, na verdade, a chave de toda o segredo da metali- té entao ainda oculto a ela propria Perguntei a mim mesmo: Se a representagao contém apenas o modo como o sujeito € afetado pelo objeto, entdo ¢ facil compreender nao apetias coro ela é conforme ao objeto®, a saber, coma um efeito é comforme a sua causa, ras tambérn como essa determinagio de nossa mente pode representar algo, isto é, ter um ob Ste. Pode ze comprccndr porns, tnt clade que a representa 3 Sobre o carster nao empirico da moral, cf, Dissertagéo, § 9 (MSI, AA 02:206) ¢ carta a Larebert de 2 de setetrbro de 1770 @r, 44 10:97) 4. Ese pmjeto ja émencionado por Kant em carta a Here de 7 de janeino de 1771 (Br, AA 10117) 5 Sobre a proposta de uma fenomenologia erm geral (pharnsmenologia generalis), cf carta de Kant a Lambert de 2 setembra de 1770 (Br, AA 10: 98). 6 Bim ver de “ela” Gir), 0 original de Rant trar "ele" (er) (wie er dlosem als eine Warkang seiner Ursacke gemass sed), tornando diiicl a compreensto da passagern, pols o Ainico relerente grama- tical possivel de er le) e seiner (seu) seria o antecedente der Gegestande (0 objeto). A edigto da Acaderita (Br, 4A 15:55), assumnindo tratanse de urn equivoco de Kant, oferece duas corresdes possivels, Friteiro, em vez de er poder se-ta ler es, cujo referente seria das Subjekt © sujetto}, de modo que a conformidade seria do sujekto como objeto, que o determina causalmente, Seundo, rho lugar de er, poder-se-ia ler sie Ge, dic Vorsteitang @ representa¢ao) e ihrer (dela), de modo que a conformnidede seia da representecdo com o objeto, causa de representecdo. Des treducdes con- sultadas, optam pela primeira eltermativa A. Philonenko (Paris: Vrin, 1995) ¢ Antonio Marques (Lisboa Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1962), pela segunda, R- Verneaux (Paris: Aubier Montaigne, 1958), J. Rivelaygue (Paris: Gallimard, 1980}e GH. Vasquer (Colérchia: Universidae de Nacional de Colombia, 1980) A. Zweig (Cambridge: Cambridge University Press, 1399), em ‘bora registre em neta as duas posstbilidaces, afircra ter mais sentido a segoncia Uc passagem da Reflexdo 4473 (de cerca de 1772) parece apolar essa escolha, tarnbérn segulda por nossa trad ugao: *Que uma representacdo corresponda a0 abjeto do qual é, ela propria, umefelto, & perfaltarnente compreenstvel” (Refl AS 17:564). O aque noefee pensar n®72, decembro de 2012 ry a Paulo R. Lidit dos Santos. tradugto }o mesmo moda, sec que emnosse chama representagao fosse ative em relagio pelo menos possivel entender a possibilidade do intellactus archetypus, sobre cuja intuicdo se fundam as proprias coisas, berm como a do intellectus ectypus?, que extrai da intuigdo sensivel das coisas os data de seu procedimento légi- co! Todavia, nosso entendimento nao é, por suas representagdes, causa do objeto (@ excegao, na moral, dos fins que sao bons), nem o objeto é causa das representagdes do entendiment (in sensu reali) #!. Os conceitos puros do entendimento nao devem ser, portanto, abstraidos das impresses dos senti- dos nem exprimir a receptividade das representagdes por meio dos sentidos, mas devem ter a sua fonte na natureza da alma”, sem que, nessa medida, sejam produzidos pelo objeto ov engendrem o proprio objeto. Na Dissertacdo, tinha me contentado em exprimir de mancira meramente negativa a natureza das representagdes intelectuais, dizendo que nao eram modificagdes da alma pelo objeto Mas deixei de lado 2 questao de 7 CA. Dissortacdo, 8 3 (MSI, AA 02:392), & Sobre 2 questo dos dois modos posstvels de compreender a conformidade da representagio como objeto, of Reflesata 4473 (eprouinnademente de 1772; Refl, AA 17: 564) @ Crtica da raza para, 88 14627 (Kv, A 92/8 124 €B 166) @ Acercado contraste entre entendimento humanoe o divino, ef. Dissertagdo, & 10 (MSI, 8 02: 296), Critica da ravi pura (KTV, B 72, B 135-136 8 B 139) ¢ Crtica do Juteo, 8 17 (KU AA 05407), 10 Sobre o uso logico do erendimento, ef, Dissertagao, 8§ 3e § 23 (MSI, 48.02: 393 ¢ MSI, AG (2410-411) 11 Neo sendo a causa real, 0 objeto Genstvel) ¢ apenas a causa orastonal dos concettos puros do entendimento: segundo a Dissertacda, eles sto adquitides ‘por ocasiio da experiencia” (MSI, AA 02395) 12 CF Dusseriagan, § 8 (MSI, 46 02:39). 15 Sobre a definigio negativa do entendircento, ef. Dissertagdo, @ 3 (MSI, AA 02392), cf. tb. ‘Metaphysik-L, SEMev Heinze Aa 28:241) Carta del. Fanta Meraus He | 48 como aperecem, 28 inteleduatis, como elas S30". Por que meio, porém, estas coisas nos sao dadas se nao 9 sao pelo modo como nos afetam?, fe que concordem com eles, sem que essa concordancia tenha pedido amparar- -se na experiencia? Ma matemdtica é assim que acontece: pois os objetos diante de nés s80 grandezas e podem ser tepresentados como grandezas somente na medida em que podemos engendrer a representagéo deles, ao tomar uma eae diversas vezes. Par isso, berm como os seus id ose. Bueseodensecodentaale como o meu entendi- mento deve formar a ‘or si mesmo conceitos de coisas [Dingen] com os quais necessariamente as coisas [Sachen] devern concordar? Como deve o entendimento esbocar princtpios reais sobre a possibilidade delas, com os quais a experiéncia tem de concordar fielmente, muito embora eles sejam i ‘iéncia? Essas questées sempre trazem uma. Platdo supos, como fonte originaria dos conceitos do entendimento e dos principios, uma intuigao espiritual pretérita da divindade. Malebranche", uma intuigZo continua e ainda presente desse ser originario’’. Diferentes ma- valistas fizeram exatamente o mestno com relagao 4s leis morais'® Crusius® SupOs certas regras insitas para julgar e certos conceitos que Deus ja teria implantado na alma humana tal como t#m de ser para harmonizar-se com as 14 CE Dissertagio, $4 (MSI AA 02392). Cf th. Metaphysit L, (ViMel/Heinze AA 26:241) 15 Cf Dissertagas, § 12 (MSI, 4A 02.397) 16 Cf Malebranche, De ia recherche de ta-verte, iro III 2, cap. VI, VII e ss. Kant tarebsrn men. ciona Malebranche na Dissertagdo (MSI, 48 02:410). 17 Para atradugao de Urvesen como ser orfginarlo, of. Crea da razaa pura (KrV A 3TE/ B 60) & Os progrestas da metafisica (FM, AA 20301), antbas trazemn ens origmaybus como o conespandente. latino do alemiio Urwesen. 18 Segundo a edigae da Academic, tratar-se-ia dos troralistes ingleses (Br, 44 13:32) 19 Cf Christian August Cruslus, Wey cur Gewtsshelt und Zuvertassiglet der menschitschen Erleenne tiniss", 2. ed, Leipzig, 1762, $4421, 432. Reimpr Hidelshetmn: G. Olms, 1995 O aque noefee pensar n®72, decembro de 2012 4% Paulo R. Lidit dos Santos. tradugto coisas”. O primeiro desses sistemas poderia ser denominado injluxus hyper- physicus, o ultimo, por sua vez, harmonia praestabilita intellectualis. No entan- to, o deus ex machina é, na determinagao da origem e da validade de nossos conhecimentos, o que ha de mais absurdo que jamais se poderia escolher e, alern do circulo vicioso na cadeia de inferéncias de nossos conhecimnentos*!, tem ainda a desvantagem de incentivar todo desvaria ou quimera piedosa ou especulativa Enquanto procurava dessa maneira as fontes do conhecimento intelectual, 1/10:132//, sem as quais no se podem determinar a natureza e os limites da ‘metafisica reportei essa ciéncia a segdes essenciahmente distintas ¢ procure: reduzir a filosofia transcendental, ou seja, todos os conceitos da razzo com- pletamente pura, a certo numero de categoras; nao, porém, como Aristételes que, ern seus 10 predicamentos as justapés a0 acaso tal como as encontrou, mas sim como elas proprias, mediante algumas poucas leis fundamentais do entendimento, se dividern por si mesmnas em classes. Sem me alongar por ora na explicacao da série inteira de uma investigaga avancou até seu fir ultimo, posso dizer que aleanc ente vou elaborar a primeira parte dessa critica, que contém as fontes da metafisica, seu método e limites, para em seguida elaborar os grinctpios puros da moralidade; no que diz respeito a primeira parte, irei publicé-la dentro de mais ou menos trés meses. Em uma ocupagao tao delicada da mente nao ha entrave maior do que ccuparse intensamente com pensamentos que estejam fora desse campo Nos momentos tranguilos ou mesmo alegres, a mente deve estar continua ininterruptamente aberta, mesmo que nem sempre concentrada, para qual- quer observagdo casual que possa oferecer-se. Os estimulos € as distragdes 20 Kant volte # evaminar essa hipotese na Critca da rato pura (KV, B 167-168). 21 Fon nota A sua tradugéo, Rivelaygue explica que o “circulo consiste em farer repousar scbre Deus 2 validade do conhecimenta hiurcano, ao passo que nao posstvel ter acesso 4 existencla € a natureza de Deus sem pressupor a possibilidade de um conhecimento roetafisico” (Paris: Galli mmard, 1980, p. 1529 n. 6) 22 Kent retorna a reestna censura a Aristoteles na Critica da razao pure (KrV, A BL’ B 107), nos Protegimenos (Prol, AA 04:323) ¢ nos Progresses da metafistea (FM, AA 20271) 23 “Cimica" em minnsculo, pols, como arguicenta A. Zweig, tratase nao de win titulo, mas do eeame da razso, uma vez que, na presente carta, Kant atribul outro nome a sua obra (Cambridge: Cambridge University Press, 1999, p 138 n. 7) ‘Carta do, Kant a Maraus Ho devem manter suas forgas flexiveis e em movimento, colocando-nos, assim, em posigao de olhar o objeto sempre por outros lados e de ampliar nosso campo de visao de uma observagao microscopica 2 uma perspectiva geral, a fim de assurmir todos os pontos de vista concebiveis, dos quais um passa verificar mutuamentte a otica do outro. Nao foi outra a causa, meu caro amigo, que me impedin de responder as suas cartas, tio agradaveis para mimy pois no pareceu ser seu desejo que eu lhe escrevesse palavras vazias Quanto 4 seu oprisculo’, escrito com gosta © profunda reflexdo, em muitas partes superou minha expectativa. Mas ndo posso, pelos motivos ja mencionados, discutito #/10:133/ em detalhe No entanto, meu amigo, o efeito no publico instrutdo que empreendimentos desse gener tem, no que diz respeito ao estado das ciémcias, é de tal natureza que, quando comego a inquietarme com o projeto que em grande parte tenho pronto diante de mim para meus trabalhos, que me parecem os mais importantes, por causa das indisposicdes que ameacarn interrompé-lo antes de ser executado, muitas vezes me consola pensar que estatiam perdidos para a utilidade publica tanto se fassern divulgados como se permanecessem para sempre desconhecidos Pois € preciso um escritor de mais reputagao e eloquéncia para fazer com que os leitores se empenhem em refletir sobre o que escreveu Encontrei a resenha de seu escrito no jornal de Breslau e, ha pouco apenzs, no de Gattingen®® Se ¢ assim que o publico julga o espirito eo objetivo prin- cipal de um escrito, todo o esforgo € em vao. A propria censura € para 0 autor mais agradavel, se o resenhista se empenhou em compreender o essencial do esforgo, do que o elogio de um juizo apressado. O resenhista de Gottingen detém-se em algumas aplicacdes da doutrina que em si sio contingentes, des- de entao eu mesmo modifiquei algo delas, ¢, no entanto, o objetivo principal 36 ganhou mais com isso. Uma carta de Mendelssohn ou de Lambert contribui mais para levar o autor a reexaminar sua doutrina do que uma dezena de tais joizos de pena ligeita, O honrado pastor Schultz, a melhor cabega filossfi- ca que conheco em nossa regido, viu bem o objetivo da doutrina?*: gostaria 24 Cf. acho nota 2, Sobre s opiniso de Kent acema do livre de Herz, cf. carta @ Friedrich Nicola de 25 de outubro de 1773 (Br, 48 10: 142) 25 atvibul-se a Feder a resenha publicada no jornal de Gottingen em 30 de agosto de 1771. 26 Kant refere-se 4 resenha que Johann Schultz (1739-1805) escreveu sobre a Dissztagaoe publi- cou no Kenleshergischen Gelehyten and Poitischen Zettungen (Notctas iterartas ¢ peiticas de Konlgs- berg), etn. 22 € 25 de novernbro de 1771. Sobre a opinigo posterior de Kant 2 respelto de Schulz, of 8 Declaracao sobre a Doutrina da cencia de Fichtc, de T de agosto de 1729 (Br, 48 12:370) O aque noefee pensar n®72, decembro de 2012 a a Paulo R. Lidit dos Santos. tradugto que ele pudesse ocupar-se tambem com o opusculo que o senhor escreveu. Encontram-se duas interpretagdes equivocadas no juizo que ele faz sobre a doutrina em questao. A primeira € que 0 espago, em vez de ser a forma puta do fen@meno sensivel, pode ser talvez urna verdadeira intuigdo intelectual e, assim, algo objetive. A resposta clara € esta! a0 se pode conceder que 0 espa- go seja objetivo nem, portanto, intelectual, porque, se analisamos integralmen- te a representag3o do espaco, nZo ercontramos nem uma represeritagao das coisas (como coisas que s6 podem existir no espago), nem uma conexio teal (que também nao pode existir sem as coisas), quer dizer, ndo encontramos come fumdamentos nem efeitos, nem relagdes #10:134/f e, por ccmseguinte, no temos nenhuma representagao de uma coisa [Sache] ow de algo real que seja inerente as coisas [Dingen]: por isso, o espago nao é nada de objetivo. O segundo equivoco leva Schultz a urna objegdo que me deu o que pensar, por- que parece ser a mais importante que se pode fazer a doutrina, abjecao que deve ocorrer a todos muito naturalmente e me foi feita pelo Sr. Lambert?’ E formulada assim’ tmudangas 40 algo real (segundo o testermtmho do sentido interno), ora, elas apenas s30 posstveis sob a pressuposigao do tempo, o tera- po, portanto, é algo real que adere 4s determinagoes das coisas em si mesmes. Por que (perguntei a mim mesmo) nao se concui de acordo com o seguinte argumento paralelo; corpas sao reais (sezundo o testermunha dos sentidos externos), ora, corpos sfo possiveis apenas sob a condigao do espaco; logo, 9 espaco € algo objetivo ¢ real que € inerente as proprias coisas. A razao disso € que se nota muito bem que, em relaggo s coisas externas, nao se pode inferir a realidade dos objetos a partir da realidade da representagao, a0 passo que, no sentido interno, o pensar aw a evisténcia do pensamenta € de men préprio eu sao um so. A chave dessa dificuldade encontra-se no seguinte, nao ha du- vida de que eu nao devo pensar o meu préprio estado sob a forma do tempo e de que, portanto, a forme da sensibilidade interna nao me da o fanomeno das mudangas Ora, estou tio longe de negar que mudancas sejam algo teal quanto de negar que compos sejamalgo-real, emibora so entenda por isso que algo real corresponde ao fenfmeno. No posso sequer dizer: o fendmeno interno muda, pois de que modo pretenderia observar essa mudanga se ela v1a0 aparecesse a meu sentido interno? Caso se queira dizer que dai decorre que tudo no munde € objetive e em si mesrno imutavel, eu entao responderia 27 Cf carta de Lambert a Kant de 13 de outubro de 1770 (Br, AA 10-102), Semelhante objeyso a doutrina da idealidace e subjetividade do tempo tarcbern fol felta por Mendelssolin, ern carta a Rant de 25 de dezembro de 1770 (Br, AA 12:110-111) por Sulzer, em carta de & de dezermbrode 1770 (Br, 24 10:12), Sobrea objecto, cf tb. Critica da ragaa pura, § 7 (KIM A 36-41/B 38-58). ‘Carta do, Kant a Maraus Ho que as coisas do mumdo nao sAo nem mutaveis pois nac pode ser considerado =ob nenburma condigio’ , pois, naquela acepgac, elas nao estio de maneira alguma representadas no tempo. Quanto a isso, porém, ja € 0 bastante. Panece que ningném da ouvides //10:135// a proposigées meramente negativas, senda preciso construir no lugar do que fot demolido ou, 20 menos, uma ve: feita a quimera, corresporidéncia com os amigos, para guardar pare a reflexdo as horas livres que me concede a minha compleicéo muito instével, entregando-me ao curso de meus pensamentos. Renutcie entZo ao seu direito de represélia e nao me prive de suas cartas, por me julgar tao negligente em respondélas Conto com sua duradoura simpatia e amizade, assim como o senhor sempre pode estar seguro de contar coma minha. Se quiser contentar-se com respostas breves, de agora em diante elas nao The devern faltar. Entre nds, a certeza de um interesse leal mutuo deve tomar o lugar das formalidades. Como sinal de sua sincera reconciliagéo, espero em breve uma carta sua, 0 que seria muito agradavel para mim. Escreva-a repleta de noticias, que nao faltarao ao senhor, que se encontra na sede das dénciae®, e perdoe a liberdade com que as pego. Cumprimente os senhores Mendelssohn ¢ Lambert bem como o senhor Sulzer e apresente-lhes minhas desculpas por motivos semelhantes, Seja sempre meu amigo, assim como sempre serei seu. Kémigsberg, 21 de fevereiro de 1772 L Kant 28 Alexander Gottlieb Baumgarten, Mctaphysia, Bditio IV, Halae Magdeburgieae, 1757, $ 18 20 Marens Herz reromou @ Berlina no final de agosto de 1770. O aque noefee pensar n®72, decembro de 2012 a

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