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25 Benjamin - e - o - Poder - Do - Tempo - Completo
25 Benjamin - e - o - Poder - Do - Tempo - Completo
Benjamin
e o poder do tempo
Porto Alegre
2009
Todos os direitos desta edição reservados à Editora Leandro & Stormer. É proibida a
reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob qualquer meio, sem a autorização
expressa da editora.
Nota do editor:
Devido à variação da taxa de juros ao largo do tempo, optamos por um valor
fixado em 10% ao ano para uso nos exemplos.
CDU 087.5
“
Agradeço ao Sr. Gabriel Rico por encontrar em
sua atribulada agenda um espaço para dar-nos um
prefácio.
Luiz Otavio Roxo
Prefácio
Luiz Otavio Roxo, 29 anos, inicia sua trajetória como escritor de forma auspiciosa,
junto ao seu irmão, Luiz Fernando Roxo, 32 anos, economista e escritor. Benjamin e o
poder do tempo irá deliciar e surpreender os leitores. Já li muitas obras que tratam da
relação dos indivíduos com o dinheiro, incluindo alguns best-sellers, mas nenhuma delas
foi tão criativa quanto a história do personagem Benjamin e de seus amigos de infância,
pré-adolescência e adolescência. A leitura prende a atenção do leitor da primeira à última
página, deixando um sabor de quero mais ao final.
Benjamin e o poder do tempo não é um livro infantil, mas uma leitura para crianças,
adolescentes, pais e avós. Cada um de nós estabelecerá forte empatia com os personagens
e se verá presente nas situações à medida que nos lembrarmos dos inevitáveis erros e
descuidos que cometemos com o órgão mais sensível do nosso corpo: o bolso.
Como um garoto sem a menor vivência e guiado por um raciocínio tão simples pode
ter trajetória de tanto sucesso no mundo dos negócios? Como ele pode e não eu... mas,
se eu tivesse... veja bem...
À medida que as páginas vão sendo viradas, o leitor começa a se apaixonar pela cres-
cente sabedoria do pré-adolescente Benjamin. Para as pessoas de todas as idades, fica o
aprendizado de que tudo começa pelo senso de observação e a perspicácia de fazermos as
perguntas corretas. Só o simples funciona. Tudo parece se tornar tão simples que até uma
criança poderia fazê-lo. E, neste caso, como fez bem feito! Aí se insere a criatividade dos
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autores e o inusitado da obra. Seus personagens infantis se constituem em fio condutor
dos conceitos básicos da boa gestão do dinheiro, expostos de forma clara e crescente,
evidenciando o inevitável poder multiplicador do dinheiro. Mais uma vez, cada um de
nós se questionará: por que esses meninos fizeram o que eu nunca cogitei fazer?
Simplicidade e linguagem muito acessível no trato dos cuidados com o dinheiro e os
recursos escassos refletem elaborada didática para expor os temas, sem deixar de lado a
seriedade e a precisão dos conceitos. A obra está situada no momento atual, incorporan-
do a tecnologia como facilitador das transações comerciais, a moradia em condomínios,
o poder da mídia e a degradação da ética movida pela ganância e pela desonestidade.
O livro deixa um rastro de esperança mobilizadora dentro de cada leitor: podemos
fazer melhor, ainda é tempo. O empreendedorismo e o tirocínio dos grandes empresá-
rios estão presentes no Benjamin e em cada um de nós. Muito boa leitura!
Luiz Gabriel Rico
Luiz Gabriel Rico, 62 anos, fez carreira como executivo em grandes empresas internacionais
e brasileiras. Atualmente, é CEO da AmchamBrasil, a maior câmara americana de comércio
entre as 104 existentes em todo o mundo.
De quem é esse livro?
De quem gosta ou já
gostou de carrinho ou de
boneca; ou de bola e de
café da manhã.
De quem tem ou teve
medo daquele tipo de som-
bra que se mexe e que pa-
rece que tem olho e parece
que persegue a gente de
noite.
De quem fica pensando
nas coisas e gosta de co-
nhecer palavra nova e dá ri-
sadas com palavra estranha
que nem taquígrafo, ou ma-
caco, ou... de quem gosta
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Benjamin e o poder do tempo
de inventar palavra que ninguém nem conhece ainda, que nem calandra, ou buganda-
giba, ou mesmo de quem nem gosta de nada dessas coisas.
De quem tem melhor amigo e de quem tem melhor amiga.
De quem gosta de ficar acordado até todo mundo ir dormir e mesmo de quem gos-
ta de dormir bem cedo quando fica de noite e acordar quando clareia.
Agora, trata mesmo é do Benjamin, que tinha seis anos quando ganhou as pri-
meiras moedas.
Benjamin juntou dinheiro e ainda ganhou mais dinheiro, tanto que comprou até
a fábrica de carrinhos.
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Capítulo
1
No dia 10 de fevereiro, nasceu Benja-
min. Benjamin foi um bebê comum. É uma
criança comum. Para os pais, Benjamin é
uma criança especial.
Na quarta-feira; a mesma em que nin-
guém foi assaltado na Rua 15 de Abril e a
moça tropeçou no toco batendo o queixo
no asfalto ali ao lado; aquela quarta-feira
em que o tempo fechou e choveu, fez sol
com chuva antes de abrir, de vez, o céu
azul; foi quando o pai de Benjamin almo-
çou bisteca e correu até a maternidade
para assistir ao parto, enquanto pensava
que esses meteorologistas acertam pou-
co demais.
O pai do Benjamin chama-se Marcelo
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Benjamin e o poder do tempo
Alma; na época, era um sujeito grande de ossos largos, pesadão, diferente do vô, o
Dr. Cláudio – que, a cada ano, parecia um tipo menor e mais magro, como se um dia
ainda sumisse.
Vovó estava mais cega e falava bastante, gostava de segurar na mão de Benjamin
e não soltar. Era uma sensação boa, mas a mão dela tremia um pouco e era muito
diferente da mão do Benjamin – as mãos dela eram meio moles e frias. Vovó gostava
muito de ficar junto de Benjamin.
Vovó morava em um apartamento espaçoso – com um piano! E tinha a Romualda,
que cozinhava feito o diabo e era grande e carinhosa. Ela gostava quando Benjamin
ia visitar e passar o dia com a vó. Romualda adorava fazer comida para a vó, mas
gostava mesmo era de ver Benjamin brincando com as fichas no tapete vermelho que
nem fruta madura.
As mãos da Romualda eram mais firmes, gorduchas, parecia que alguém tinha
soprado nelas como se fossem bexigas, estufando a pele. Ela cheirava a tempero e su-
ava, por causa do forno sempre quente, de onde vinha cada delícia! Bolinho de sonho
com açúcar por cima, bolo de chocolate molhado, bolo de amendoim que grudava na
mão, pastelzinho de queijo.
O tapete era persa. Benjamin sabia disso por causa das mulheres que vinham visitar a
vovó de vez em quando e entravam na sala gritando: “Que persa lindo esse carmim!”.
Depois de um tempo, Benjamin descobriu que carmim é vermelho e que tapetes
persas são chamados de tapetes persas porque são feitos na Pérsia.
A Pérsia era um deserto muito longe, onde pessoas passavam a vida tecendo ta-
petes caros e bonitos, vestindo um lenço enrolado na cabeça.
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Luiz Otavio Roxo
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Capítulo
2
O tempo correu, e Benjamin percebeu, então, que as pessoas compravam.
– Quero dois desse. Isso. Quanto custa?
– Dez.
– Toma vinte.
– Aqui o seu troco, dez.
– Muito grato.
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Benjamin e o poder do tempo
A vó era muito econômica, apesar de ter herdado um dinheirão, porque era filha
de um banqueiro importante. Ainda assim, ela vivia de forma simples, sempre morou
no mesmo apartamento.
O divertido era que a vó tinha o mesmo carro havia mais de quinze anos. A cada
ano que passava, os carros iam ficando mais modernos e bacanas, e o carro da vó mais
velho e esquisitão, mas Benjamin achava uma delícia.
Era um Landau azul, lindo. Benjamin adorava o Landau da vó, porque ninguém
mais tinha um carro igual.
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Benjamin e o poder do tempo
O DINHEIRO
No começo, as pessoas trocavam coisas, como se, hoje, a gente fosse à loja levan-
do um saco de arroz para trocar por uma blusa de lã. Os estudiosos chamaram isso de
escambo, troca.
Acontece que, aí, começou um problema:
– Ah, aí não! Quero cinco ovos em troca deste chapéu aqui! Olha a belezura do
chapéu! Só três ovos não vai dar! Quero cinco ovos!
– Ih, mas você pensa que ovo dá em árvore, é?
Dou quatro ovos, e não se fala mais nisso!
– Ovo a galinha dá todo dia. Agora, quero ver você fazer um chapéu desses num
dia só...
Algumas coisas começaram a valer mais do que outras, e aí estava feita uma
enorme confusão. Então, se resolveu escolher coisas especiais para servirem como
unidades de valor. O sal, por exemplo: esse chapéu vale dez sacos de sal.
Engraçado que, até hoje, a gente usa a palavra salário por causa disso. As pesso-
as, nessa época, recebiam por seu trabalho em sacos de sal. A América antiga usou o
cacau; o Egito, milho.
Logo, o metal substituiu o sal – e as trocas e os pagamentos passaram a ser fei-
tos em ouro, prata, bronze, cobre, porque era mais fácil de carregar. As pessoas que
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Capítulo
3
– Ah, filho! Venha cá! Pegue mais este aqui e compre um carrinho novo para você.
Seu Carmelo, vá junto com meu neto, por favor.
A primeira impressão de Benjamin, quando pegou no dinheiro, não foi totalmente
boa. Na verdade, ele achou que o dinheiro era feio.
A nota que a vó deu era velha, faltava um pedaço, meio rasgada e sem cor. Então,
Benjamin passou a imaginar o dinheiro pensando em um, dois, três, quatro...
camisa azul-clara, dando a impressão de que os botões sairiam voando, ficou para trás.
Benjamin entrou na padaria gritando.
– Três pães e um carrinho!
Dali a algum tempo, Seu Carmelo chegou e ergueu Benjamin pelos braços para que
ele conseguisse olhar por cima do balcão o sujeito dono daquilo tudo.
– Como é, garotão?
– Oi?
– Oi, diga lá, grande garoto, o que vai ser desta vez?
– Três pãezinhos e um carrinho.
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Luiz Otavio Roxo
Uma nota comprou três pães mais um carrinho e virou aquele monte de outras
notas, de um, de dois, até nota de dez tinha no troco e não era uma só, não. “Nossa...
o dono das coisas que as pessoas compram deve ser muito rico, olha quantas coisas
ele tem”, pensou Benjamin. “Se uma nota de dinheiro pode comprar tantas coisas e
ainda virar tantas notas no troco... Se o dono das coisas que as pessoas compram,
que tem um monte de coisas que as pessoas compram, troca todas as suas coisas por
dinheiro... E ele não é nada bobo... Então, o dinheiro vale mais do que as coisas que
as pessoas compram. Deve ser melhor ter dinheiro, porque até o dono das coisas está
trocando tudo por dinheiro”.
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Benjamin e o poder do tempo
Na casa da vó:
– Esse troco, filho, fica para você.
Voltou para casa tratando de arrumar uma caixa de papelão parecida com aquela
que viu na casa da sua vó – e colocou as notas dobradas ali.
– Para que quer essa caixa, meu filho? – a mãe, curiosa.
– Para guardar...
– Vai começar uma coleção?
– Coleção? O que é isso, mãe? Que palavra mais engraçada: co-le-ção.
– É quando a gente junta vários tipos de uma mesma coisa, filho. Por exemplo,
seus carrinhos são uma coleção. As pessoas fazem coleção de tudo.
– Isso mesmo, mamãe, estou começando uma coleção.
Dormiu pensando nessa coisa engraçada que era o dinheiro.
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Capítulo
4
Sonhou que brincava com fichas
coloridas, divertido, sonho daqueles
de dormir sorrindo. Foi quando um
garoto metido meteu-se no meio da
brincadeira – garoto espichado com
cara de bravo.
uma ficha para cima, embolsou uma das verde-escuras, olhou bem no fundo e falou,
cuspindo saliva:
– Esta daqui agora é minha, viu?
O sonho virou um pesadelo mesmo, tão pesadelo que até as sombras-monstro
apareceram nele.
As sombras-monstro não são sombras normais, como as que não se mexem, são
monstros que moram nas sombras das paredes, não nas sombras de lâmpada – aquelas
que aparecem quando a gente acende a lâmpada –, não, essas são as sombras normais,
as sombras normais não
pegam ninguém, mas as
sombras-monstro ficam
no escuro dos cantos
das paredes, quando
não tem nenhuma luz
acesa.
As sombras-mons-
tro nem sempre têm
cara. Às vezes, ficam
tão escondidas que não
dá nem para ver a cara
delas, mas elas têm
cara sim e é uma cara
feia de verdade.
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Luiz Otavio Roxo
aquele era desses sonhos teimosos que grudam e não deixam a gente acordar, por
mais que tente.
Sorte foi que, bem de longe no início, mas, aos poucos mais forte, uma voz pare-
cida com a da mãe do Benjamin...
– Filho... filho, acorde.
Um chacoalhão.
– Filho, que cara é essa? Está bem? Dormiu bem?
Quando o garoto ia amassando um punhado das notas do dinheiro dele, Benjamin
conseguiu abrir os olhos e aquilo acabou!
Era mesmo a mãe de Benjamin, e ela estava cheia de pressa e de ordens na-
quele dia.
– Vamos levantando dessa cama, que a Márcia já ligou e está vindo para pegar você.
– Márcia?
Benjamin gostava da prima mais velha, a Márcia.
– Isso mesmo, trate de melhorar essa cara que ela está vindo lhe buscar... a não
ser que você não queira passear com ela!
– Eu quero!
– Márcia teve folga do banco hoje...
A mãe do Benjamin falava para o espelho. Fazendo bico e caras, puxando a
franja enquanto tirava a roupa do filho para colocá-lo debaixo da ducha quente, não
quente demais, porque Benjamin gostava de banho morno e de contar os azulejos
verdes da parede.
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Luiz Otavio Roxo
Nesse dia, ele riu sozinho – tão alto que chamou a atenção da mãe.
– Ge-ren-te? Mãe, gerente é engraçado. Gerente? Ge-ren-te! Que engraçado!
– Não ria, meu filho. Estou falando uma coisa séria e você vai ficar aí rindo assim
da sua prima?
– Gerente, gerente, ge-ren-te! Gerente é engraçado, mãe!
– Gerente é o que sua prima é, Benjamin. É uma coisa importante. Gerente é uma
pessoa que toma conta de outras. Sua prima é gerente de banco.
– De banco?
– É... Ela toma conta de outras pessoas no banco.
– No banco?
– É, meu filho, chega de palhaçada e vamos saindo dessa bacia aí, vem cá!
A mãe de Benjamin gostava de enxugar bem as orelhas e o cabelo do filho. Benja-
min achava que aquilo doía e evitava de todo jeito, punha as mãos no ouvido, gritava
que não queria – então, ela precisava colocar mais força ainda, era uma luta.
– Pare, mãe, pare! Ah, chega! Não quero!
Nesse dia, enquanto sua mãe lhe vestia a roupa – o colete marrom de caçador com
a camiseta verde e a bermuda laranja –, Benjamin pensava na prima tomando conta
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Luiz Otavio Roxo
O vô, que a cada ano parecia ainda mais magro e quieto, ficava no quarto até a
hora das refeições e pouco tinha gosto de brincar com os netos, apesar de fazer ques-
tão de dar um beijo na bochecha de cada um e dar bala doce.
– Olhe lá, filho, sua prima chegou. Veja lá se ela entra um pouquinho...
Benjamin corria feito um doido para o carro da prima, achava o máximo a prima
dirigir que nem seu pai.
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Capítulo
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– Mamãe disse que é para você entrar!
– Smack! – tascava cada beijo na bochecha do primo, que ele até fazia careta.
– Fale para ela que depois eu entro um pouquinho, a vó está esperando...
– Está bem!
Benjamin olhava a prima, enquanto ela dirigia e falava como se fosse com ele, que
se perdia olhando a rua passar rápido, de dentro do carro vendo cachorro passeando,
outra criança andando, uma pessoa de bicicleta, mais outro carro; olhar dentro dos
outros carros, o que as pessoas ficavam fazendo, engraçado as pessoas conversando
dentro dos carros, fazem caretas enquanto falam.
A prima que até dirigia carros que nem seu pai, a prima que falava cada coisa
legal e que lhe beijava na bochecha com tanta força que ele até fechava a cara
enquanto – smack! – ficou o tempo todo tentando imaginar a prima mais velha to-
mando conta das pessoas no banco.
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Benjamin e o poder do tempo
– Márcia...
– Oi, lindo! Que foi, o que você quer para
me falar com essa vozinha assim, hein?
– Sabe o que é?
– Pergunte...
– É que eu nunca imaginei que você fos-
se escolher... tomar conta de pessoa no ban-
co...
– Ãh? Como assim? É uma coisa séria
o que faço, viu, quem falou sobre isso para
você... sua mãe?
– É, ela disse que você trabalha tomando
conta das pessoas... no banco...
– E você não achou legal? Sabia que tem um monte de gen-
te que queria ser gerente de banco e não consegue? Sabia? Tive que trabalhar muito
para conseguir.
– Ah, até eu!
– Como assim?
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Luiz Otavio Roxo
Benjamin uma vez até tinha ido com a mãe em um lugar desses, mas não lembrava
que chamava banco, fazia tanto tempo. Quando ele ouviu a prima falando que as pesso-
as tinham medo de deixar o dinheiro solto por aí, lembrou-se do pesadelo que teve.
– Márcia, Márcia... Então, lá nesse banco, você toma conta... de dinheiro?
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Benjamin e o poder do tempo
O BANCO
Na medida em que surgiram as moedas, algumas pessoas passaram a oferecer o serviço
bancário. No entanto, esse serviço era visto de forma ruim pela sociedade da época.
Com o florescimento do comércio no fim da Idade Média, a função de banqueiro se
tornou comum na Europa. Nas feiras da Europa Central, quando as pessoas chegavam com
valores em ouro para trocar por outro produto, era o banqueiro que fazia a pesagem de
moedas e avaliava a autenticidade e a qualidade dos metais – tudo em troca de comissão.
Posteriormente, co
ma
criação do papel-m
oeda,
a vida dos banque
iros se
tornou bem mais fá
cil.
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Capítulo
6
A vó sempre tomava uma xícara de caldo de feijão e um suco da casca da lima-da-
pérsia com uma pedra de gelo.
A lima-da-pérsia veio do mesmo lugar que o ta-
pete vermelho da vó – aquela terra onde as pes-
soas enrolam panos na cabeça e passam a vida
pintando tecidos e fazendo tapetes persas. A
lima-da-pérsia é bem clarinha e doce; Benja-
min e Márcia não gostavam muito, mas a vó
sempre repetia que aquele suco era um santo
remédio. O suco era feito da casca da fruta – e,
depois do almoço, a vó comia a lima, que parecia
muito uma laranja enjoada.
O doce predileto do Benjamin e da Márcia se chamava Quarto Centenário, e a Ro-
mualda fazia quando iam passar o dia lá.
Quando Benjamin ouviu Quarto Centenário pela primeira vez, ficou muito curioso,
achou engraçado. Depois, explicaram que quarto era quase igual a quatro e era mes-
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Benjamin e o poder do tempo
mo, e que centenário era quase igual a cem e era mesmo, mas cem era um número que
Benjamin ainda não entendia direito. O que importava era que o Quarto Centenário
era bom demais.
4 ovos
1 colher de sobremesa de manteiga sem sal
3 xícaras de leite condensado
3 xícaras de leite normal
2 xícaras de coco
8 colheres de sopa de açúcar
raspa de 1 limão pequeno
– Ah... ufa!
– Comeu direitinho, benzinho?
Romualda gostava de ver quando
comiam com gosto. Ela tinha orgulho
de cozinhar para aquela família e de
saber fazer tantas coisas.
A vó gostava de colocar um disco
de música clássica na vitrola – a vitro-
la dela era um negócio de tocar discos
antigos e chiados – e de descansar um
pouco no sofá depois do almoço.
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Luiz Otavio Roxo
O QUE É COMÉRCIO
Comércio é quando compramos ou vendemos alguma coisa, mais ainda quando
compramos alguma coisa já pensando em vender.
Imagine que você queira comprar um chapéu. Acontece que a pessoa que faz esse
chapéu fica lá no México, e imagine que o México fica bem longe.
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Benjamin e o poder do tempo
Pois a loja desse comerciante fica perto da sua casa. Até lá dá para você ir para
comprar o chapéu do México.
Agora, o moço não faria tudo isso por nada. Então, ele vende a você o chapéu do
México por R$ 600.
R$ 100 do custo do chapéu
R$ 400 das passagens de avião
R$ 100 de lucro
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Capítulo
7
Benjamin se deu conta de que a maioria das crianças da sua idade ainda não tinha
percebido que as coisas eram trocadas por dinheiro.
– Filho, vou comprar as coisas da sua escola, quer ir passear comigo?
– Quero!
Foram até o lugar da pessoa que tinha as coisas da lista das escolas e que trocava
todas as coisas que tinha da lista das escolas pelo dinheiro das mães.
Benjamin aproveitou para prestar atenção em como funcionava a troca do dinhei-
ro pelas coisas.
Tinha uma máquina que fazia um bipe e somava os preços.
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Capítulo
8
Chegou o dia de ir ao banco com a Márcia. Benjamin
pulou da cama, tomou banho. Já esperava, desde cedo,
a hora de sair. Sete horas da manhã.
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Capítulo
9
Logo depois da senhora, sentou um moço.
– Olá.
– Olá! Em que posso ajudá-lo?
– É o seguinte, Márcia: eu recebi aumento no meu salário. Então, vou começar a
depositar R$ 164 por dia em uma conta-poupança... me ajude a fazer uma conta, por
favor? Se eu fizer isso por dez anos, quanto vai ter nessa conta?
– Vamos lá... terá um milhão, quatro mil, trezentos e oitenta e três reais e oitenta
e quatro centavos.
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Benjamin e o poder do tempo
Benjamin, que já tinha superado seu problema de confundir o seis com o nove,
ainda não conhecia esse tal de milhão.
– Márcia, Márcia. Que negócio é esse de milhão?
Márcia, mais feliz porque se aproximava a hora do almoço, sorria. Atrás de sua
mesa, tinha um quadro branco e canetões. Ela escreveu lá para o primo ver.
– Ó, um milhão é assim, um: 1. Depois, vêm três zeros: 000. Mais três zeros: 000.
Fica assim: 1.000.000. São muitos zeros, primo...
– Nossa... isso é muito, não é?
– Para mim é sim, Benjamin, mas tem gente que tem tanto dinheiro que acha
normal, tem gente que acha até pouco...
No carro, enquanto voltavam para casa, Benjamin tinha um sorriso na cara e uma
imagem que não lhe saía da cabeça: o dinheiro crescendo.
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e Luiz Fernando Roxo
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Luiz Otavio Roxo
Capítulo
10
O dia seguinte foi o primeiro dia de aula na escola. Antes, ele só tinha ido à es-
colinha, e a escola era bem maior que a escolinha.
Na classe do Benjamin, havia 13 meninos e 17 meninas. O dia passou rápido; a pro-
fessora, com cabelos que pareciam couve-flor chacoalhando, falou, falou, até que o sino
tocou, e Benjamin voltou para casa se lembrando, durante o caminho, do rosto averme-
lhado da menina que ficou sua melhor amiga. Ela disse que tinha sete anos, como ele.
De tarde, ficou com sua mãe, supermercado, cabeleireiro... mas o legal mesmo do
dia foi depois da janta. Seus pais estavam distraídos contando do dia um para o ou-
tro. De fininho, Benjamin pegou seu Ovomaltine, saiu da mesa e, sem fazer barulho,
foi andando até o sofá. Ligou o aparelho da tevê a cabo e a televisão.
Coisa mais estranha apareceu... Um homem falando e aquela coisa esquisita se
mexendo, pulsando.
– Também conhecida como Sarcodíneo, palavra que vem do latim sarcodes, que
significa carnoso. As amebas são o primeiro animal que estudaremos. As amebas, a
certa hora, partem-se no meio e viram duas, e cada uma dessas duas vira outras duas,
que viram duas...
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Benjamin e o poder do tempo
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Luiz Otavio Roxo
O segredo da poupança
é guardar uma parte do
dinheiro que você ganha
todos os meses.
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Capítulo
11
No segundo dia de aula, a mãe de
Benjamin teve um pequeno problema,
e ele teve que ficar esperando e espe-
rando até que todo mundo já tinha
ido embora e só ficou ali a senhora
que cuidava da saída e o Murilo.
Murilo gostava de agito e foi logo
conversando com Benjamin, que, tí-
mido, demorou a responder.
– Ei, qual seu nome? O meu é Mu-
rilo, quer jogar?
Tirou da mochila uma bola de pa-
pel amassado. Murilo sabia que sua
mãe demoraria e estava torcendo para
alguém ficar esquecido com ele.
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Benjamin e o poder do tempo
– Tchau! Ei, tchau! Qual seu nome, mesmo? O meu é Murilo! Qual seu nome?
Mesmo com vergonha, respondeu já quase dentro do carro.
– É Benjamin.
Chegando à sua casa naquele mesmo dia, Benjamin decidiu que era hora de começar.
Dois foram os pontos iniciais para ele:
1. As pessoas compram coisas de que gostam.
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Luiz Otavio Roxo
Chegando lá, nada de Romualda, que já tinha ido embora. Então, ele resolveu
conversar primeiro com sua vó; afinal, a Romualda era empregada da vó, fazia senti-
do pedir sua autorização – além disso, na família de Benjamin, foi ensinado que as
pessoas mais velhas têm sabedoria e devem ser consultadas sempre que se pensa em
fazer algo novo.
– Vó, sabe o que é? Vou contar uma coisa para senhora...
– Nossa, que coisa mais séria, filho, nem parece um menino... o que foi?
– Eu tomei uma decisão na minha vida!
A vó tentou conter o riso, mas não conseguiu.
– Desculpe, filho, é que... ai, ai, ai. Você ainda me mata!
– Eu, vó?
– Não é isso, filhinho, é um jeito de falar, você é muito engraçado. É assim: um
dia você ainda me mata de tanto rir, entendeu?
– Mas, vó, eu estou falando muito sério.
– Está certo, filho, diga lá...
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Capítulo
12
A vó se divertia, achando que era uma brincadeira de neto. Fingia que entendia...
e seguia fazendo cara de séria, dando corda.
– Ah, entendi, a Romualda... a fábrica... hm.
– Isso mesmo, vó. Que bom que a senhora está entendendo. Ela vai ser a fábrica,
pode ser?
– Ah, claro, filho, pode sim. Amanhã, você explica isso a ela.
– Oba! Então, amanhã, depois da escola, eu posso almoçar aqui e combinar tudo?
– Pode sim, filho, eu peço ao Seu Carmelo que vá lhe buscar.
– Legal, vó! Agora, só mais uma coisa...
– Diga, filho.
– Posso usar esse seu computador para fazer uns preparativos?
– Bom, foi sua mãe que me comprou esse bicho aí. Eu não sei se funciona, nunca
nem liguei. Se você conseguir ligar, pode mexer sim... à vontade.
Onze horas da noite, a vó levou um leite quente e pediu-lhe que desligasse o
computador, porque já era tarde.
– Ainda nesse troço, filho? Vai ficar com a cara quadrada. O que tanto faz aí, hein?
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Benjamin e o poder do tempo
– Ei, cuidado onde anda, garoto. Um dia, vai bater feio com a cabeça, correndo
desse jeito, sem olhar.
– Desculpe, senhor. Eu queria falar com meu amigo Benjamin.
– Ah, você é amigo do Benjamin aqui. Então, eu já posso ir embora. Benjamin,
vou deixar você com o garotão distraído aqui... Sua vó me disse para vir buscá-lo ao
meio-dia, é isso mesmo?
– Isso mesmo, Seu Carmelo. Muito obrigado!
Entraram na aula. Era dia de matemática.
– Meninos, meninas, vocês já devem ter percebido que vivemos em um mundo
cheio de números... não é mesmo? Vejam só que curioso... respondam-me, por favor,
mas um de cada vez. Que dia é hoje? Hein? Quem souber levante a mão.
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Benjamin e o poder do tempo
De repente, uma voz tão estridente que doeu nos ouvidos dos meninos e levou a
professora a fechar os olhos veio lá do fundo da sala. Todo mundo até olhou para lá,
fazendo cara de ai, meu ouvido.
– Eu seeeei!
Mas era uma menina esquisita com força, tinha uns cabelos grandes que eram
qualquer coisa entre o liso e o encaracolado, qualquer coisa que ainda não tinha nem
nome; só ela tinha um cabelo tão cabeludo daqueles.
Seus óculos eram maiores que o rosto, ficavam caindo, como eram óculos de grau
9, os olhos caramelo-avermelhados pareciam atrás de lupas de detetive, imensos.
Era um pouco gordinha e não se penteava; até porque... como iria pentear aquilo
que lhe crescia como praga?
– Tudo bem, mas não precisa gritar! – a professora respondeu também gritando,
estridente, contagiada com o berro da coleguinha de classe de Benjamin.
– Está bem! – de novo, a menininha gritou, a menininha dos cabelos cabeludos
e dos óculos gigantes.
– Eu não vou gritaaar! – a essa altura, metade das crianças da sala imitava a pro-
fessora e tapava o ouvido com o dedo. – Hoje é terça-feira.
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que viver com números. Então, é melhor irem se acostumando, gostando, porque
é isso mesmo, essa vida é cheia deles. Digo mais: com números, podemos fazer um
monte de coisas. Vocês verão.
O sinal tocou, e todos correram até o pátio. Benjamin assustou-se novamente com
a quantidade de gente que saía das salas na hora do recreio.
Murilo logo correu atrás, insistia em ficar junto de Benjamin, mas como Benjamin
já não respondia mais as perguntas, Murilo aquietou-se, e os dois ficaram sentados
em uma muretinha comendo e olhando o movimento.
Talvez por ver os dois tão quietos e sozinhos em cima daquele muro, outra criança
se aproximou: era a garotinha esquisita dos olhos gigantes e dos cabelos avermelha-
dos que não eram nem lisos nem encaracolados.
Sentou-se ali e ficou comendo sua... sua... o que será que era aquilo que ela comia?
Uma coisa meio grudenta e roxa; uma massa? Um pão molhado de beterraba? Sabe-se
lá... O fato é que ela ficou comendo aquela coisa que lhe grudava nos dedos e que esti-
cava que nem queijo derretido e era realmente fora de série. A coisa que ela comia era
tão bizarra que os dois se pegaram olhando-a com as bocas abertas e em silêncio.
Quando Fátima percebeu que os dois a olhavam, parou de comer por um segundo
e retribuiu com a mesma cara.
71
Benjamin e o poder do tempo
O RISCO
Risco é o que pode acontecer de ruim.
Por exemplo:
1. Vamos brincar de pular do balanço quando ele estiver bem lá no alto?
2. Vamos jogar futebol?
3. Vamos correr até aquela árvore?
A vida é cheia de riscos, desde que a gente acorda até a hora em que a gente vai
dormir. Nos casos acima, por exemplo, quais são os riscos?
72
Luiz Otavio Roxo
Porém, nos dois casos, se a gente tiver muito medo e não fizer nada, o que aconte-
cerá? Perderemos a chance de ganhar. E se ficarmos morrendo de medo de brincar, por-
que podemos cair de cara, e aí não brincarmos? Perderemos a chance de nos divertir!
74
Capítulo
13
Foram até o mercadinho e Benjamin comprou uma série de coisas. O moço achou
um barato um garoto daquele tamanho comprando tão direitinho.
Saiu de lá cheio de sacolas e contando o troco, agora que achava que já sabia
fazer contas de mais e de menos.
Chegou à casa da vó meia hora atrasado. Ela estava toda preocupada.
– Filho, mas que absurdo, a comida vai esfriar toda. Você me deixou aqui imagi-
nando cada coisa... Onde foi que vocês andaram? Hein? Como pôde?
A vó já nem lembrava mais aquilo que achava que tinha sido uma brincadeira de
palavras do neto.
– Ah, vamos já para a mesa. Depois, você vai me explicar direitinho esse negócio.
Romualda, que vinha trazendo o caldinho de feijão da vó e o suco de lima-da-
75
Benjamin e o poder do tempo
– Explique, filho... Não entendi mesmo. Você quer aprender a fazer doce, é isso?
– Não, vó! Eu perguntei se a Romualda podia ser a minha fábrica, e a senhora
disse que podia... Prometeu, está prometido!
A cara de Benjamin caiu, ele ameaçou chorar como muitas crianças daquela idade.
76
Luiz Otavio Roxo
77
Benjamin e o poder do tempo
vender, eu vi que tem dois jeitos: ou eu fabrico alguma coisa e vendo ou eu vou à fábri-
ca e compro um monte com desconto, aí vendo mais caro. Não é assim?
– Nossa, filho, que assunto mais sério.
– Mas eu falei que era sério. A senhora me escutou ontem, ora. Eu quero fazer
doces aqui e vender.
– Está bem, só que você vai me prometer uma coisa.
– Eu prometo. O que é?
– Você não vai vender isso na rua. Deixe que eu vou ajudá-lo. Aqui no prédio,
tem muita gente amiga, eu vou indicar você. Então, você vai lá e vende o doce,
está bom assim?
– Está combinado, vó.
Não desconfiou que a sua vó pagava todos aqueles pedaços de Quarto Centenário
que ele vendia. Ela telefonava antes, avisando:
– Oi, sabe o Benjamin, meu neto? Não? Pois é, eu tenho um netinho, o Benjamin,
sabe, ele agora deu para querer vender uns docinhos, sabe? Então, ele vai passar aí
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Luiz Otavio Roxo
79
Capítulo
14
A essas alturas, Benjamin e Romualda
vendiam, em média, dez pedaços de Quarto
Centenário todos os dias. Cada pedaço custa-
va aos fregueses R$ 3. Dez pedaços por dia,
R$ 3 por pedaço, são R$ 30 por dia; sete dias
por semana, porque nos fins de semana ven-
diam ainda mais, faturavam R$ 210 por sema-
na, R$ 840 por mês.
Quando mostrou as contas ao pai, que
alegria! No dia seguinte, ele falava a todos os
colegas de trabalho sobre o filho que faturava
mais de R$ 1.000 por mês – ele aumentava
porque tinha mania de aumentar os números
de qualquer coisa.
Com o faturamento de uma semana, pa-
gavam os ingredientes que usavam no mês
81
Benjamin e o poder do tempo
todo. Aí, Benjamin e Romualda dividiam o dinheiro. Como a ideia tinha sido de
Benjamin, ele ficava com R$ 420 por mês e pagava a Romualda R$ 210 por mês, um
dinheiro que, para ela, fazia muita diferença.
Depois de uma dezena de meses, Benjamin já tinha trocado a caixa de papelão
onde guardava a coleção de dinheiro umas cinco vezes – e a última, que ele tinha
arranjado no supermercado, já não cabia mais no armário.
Telefonou para a Márcia e foi direto.
– Márcia!
– Nossa, que braveza é essa?
– Quando eu fui ao banco, lembra? Você falou para aquela senhora que o dinheiro dela
iria crescer; depois, eu vi na tevê a ameba, e fiquei esperando e esperando e até hoje o
meu dinheiro não aumentou nem um centavo, e olha que eu olho sempre! O que é isso?
Márcia riu, mas riu tanto que ficou sem ar.
– Eu vou tentar explicar para você.
– Hm.
– Como eu posso explicar? Ai, ai, ai... veja bem... O dinheiro tem um valor, que é
o valor da moeda, por exemplo, um real vale um real, certo?
– Dã, isso aí eu sei, né?
– Tá, agora... o dinheiro tem um outro valor, esse outro valor é o valor do dinheiro no
tempo. Benjamin, isso que você está me perguntando as crianças normais não entendem
ainda, mas como você é um menino especial, diferente dos outros, se prestar muita aten-
ção no que eu vou falar, porque é uma das coisas importantes, você pode entender.
– Ahã...
82
Luiz Otavio Roxo
– Certo.
– Tudo bem. Então, esse dinheiro que você tem na mão vale o que vale, mas tem
possibilidade de valer ainda mais amanhã... Entende isso? Possibilidade... Se você
fizesse o que eu disse, ele poderia valer mais...
– Entendi.
– Então, veja só... Tem um monte de gente querendo dinheiro para fazer mais
dinheiro. Por exemplo, para comprar e vender chocolate, pois então, essas pessoas
pensam assim: “Você me dá R$ 10 emprestado; eu vou comprar uns chocolates na
fábrica por R$ 1 hoje; amanhã, eu vendo cada um por R$ 2 e lhe devolvo os R$ 10 que
você me emprestou e ainda lhe dou R$ 2 a mais. Pode ser?”. É aí que o banco entra.
O banco não vai ficar só guardando o seu dinheiro para você. Enquanto o seu dinhei-
ro estiver lá, guardado, se alguém chegar querendo um dinheiro emprestado para
comprar e vender chocolates, por exemplo, o banco vai olhar a vida daquela pessoa
e, se o banco resolver que dá para confiar, ele vai emprestar o seu dinheiro para ela.
Quando ela devolver o dinheiro todo e ainda der ao banco um dinheiro a mais, desse
dinheirinho a mais o banco vai separar um pedaço para você... entendeu?
83
Benjamin e o poder do tempo
– Mais ou menos. Márcia, e se a pessoa não conseguir vender nada e não conse-
guir mais devolver o dinheiro para o banco, eu vou perder?
– Ah, isso é que é legal. O risco é do banco e não seu. Entendeu?
– Risco? Palavra engraçada essa! Então, é como se as pessoas comprassem dinhei-
ro dos outros...?
– Isso, mais ou menos... é por aí... As pessoas compram a chance de ficar com
aquele dinheiro um tempo. Então, veja que, no caso daquela senhora lá, o banco vai
pagar para ela todos os dias um dinheirinho para poder ficar com o dinheiro dela por
trinta anos. Nesses trinta anos, o banco vai emprestar esse mesmo dinheiro várias
vezes, vai comprar e vender coisas, ou seja, vai fazer mais dinheiro. Entendeu?
– Acho que entendi. Então, eu empresto o dinheiro para o banco e ele me paga
todo dia por isso? Não importa o que ele fizer com o dinheiro, ele vai me pagar todo
dia um pouquinho... para sempre?
– Para sempre! As pessoas que estudam os negócios de dinheiro fizeram umas
contas, uns estudos e chamaram isso de juros. Por causa disso, você pode se lembrar
sempre de uma coisa: R$ 1 hoje é a mesma coisa que R$ 40 daqui a vinte anos.
– Que palavra engraçada! Haha... Parece juras de jurar.
– E é mais ou menos isso mesmo, é uma promessa honrada, de que, com o passar
do tempo, o seu dinheiro renderá...
– Posso emprestar para você então?
– Para mim, não, para o banco, você quer dizer, né? Pode sim. Amanhã, eu passo
aí, você me dá o dinheiro e uns documentos de que vou precisar. Então, abrimos a
conta e depositamos em uma poupança.
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Luiz Otavio Roxo
O dinheiro do Brasi
l
é o real. O dinheir
o
da Inglaterra é a li
bra
esterlina. O dinhe
iro dos
Estados Unidos é o
dólar.
85
Capítulo
15
Com aquele negócio do Benjamin passar os dias na casa da vó, sua mãe começou
a ficar enciumada.
– Filho, por que agora você deu para ficar todo dia na casa da sua avó? O que
minha mãe está aprontando dessa vez com você?
– Certo, papai.
– É o seguinte: tem que ter a hora de brincar, entendeu? Porque isso não é um
trabalho, criança não trabalha, criança brinca e estuda, entendeu? E tem mais: se tirar
nota baixa na escola, não importa o que estiver fazendo... está me ouvindo? Não vou
nem querer saber. Se tiver nota vermelha, está tudo cancelado. Preste atenção, sua mãe
anda reclamando dessa coisa de você passar todos os dias o dia inteiro no prédio da sua
avó. Então, é o seguinte: daqui para frente, você só pode ir lá duas vezes por semana!
– Mas, pai, é que a Romualda...
88
Luiz Otavio Roxo
Com Fátima foi mais complicado... Ela morava com a avó, mas chamava a avó de
mãe, porque a mãe dela tinha sumido, mas ela nem ligava, gostava muito da avó e
era meio lelé mesmo, a avó da Fátima era mais jovem que as avós normais, parecia
mãe, a Fátima contava a história da mãe sumida para todo mundo, porque era falante,
falava tudo de tudo até demais.
– Você sabia que minha mãe sumiu e que eu chamo minha avó de mãe? Ainda não
falei isso para você? Então, um dia...
Assim, ficaram combinados:
1. A Fátima cuidaria do prédio da avó de Benjamin.
2. O Murilo faria as contas, as compras, pagaria a Romualda e a Fátima, que tam-
bém ganharia R$ 0,35 por pedaço que vendesse.
3. Benjamin abriria o negócio no condomínio onde morava com os pais.
A primeira coisa que aconteceu depois dos acertos foi que a avó de Benjamin teve
um chilique!
90
Capítulo
16
Dentro do banheiro, o barulho
parecia de luta.
– Vai, puxa daí! Humpf. Isso,
agora a gente esticaaaa...
– Isso, Cecília, puxe! Passe o
creme para cá! A escova de madei-
ra, por favor.
– Aí, olhe o meu olho...
Cheiros misturados, lavanda,
creme, xampu.
– Vou cortar só um pouquinho,
filha, não vai doer nada.
– Não, não, ah – ela gritava.
– Calma, segure ela aí, Cecília! Não fuja não!
– Fique aí, menina levada! É para o seu bem. Isso não pode ficar assim não, es-
tava um horror esse cabelo.
91
Benjamin e o poder do tempo
– Calma, calma, está acabando, está acabando. Cecília, pegue o elástico ali, por
favor. Agora, aquela presilha de pérolas, para arrematar, aí. Pronto!
Um silêncio caiu na casa depois daquele pronto. Dava para ouvir a respiração
ofegante das três: Dona Cecília, a camareira, e a vó, ofegando por causa de esforço,
e Fátima de tanto quase chorar.
as coisas eram muito mais baratas e, ainda, entregues em casa. Eram R$ 48 a menos
por mês, valor que usaram para melhorar as vendas novas, que não iam bem. Pedi-
ram à Romualda uma bandeja inteira apenas para distribuírem para as pessoas. O
Quarto Centenário não era um doce conhecido da maioria e, quando comiam, fica-
vam impressionados com o sabor: “Nossa, que delícia!”.
Dessa forma, as coisas começaram: uma pessoa que comprava falava para a outra.
Feliz da vida de ver seu filho ganhando dinheiro e ainda por cima indo bem na escola,
o pai de Benjamin decidiu apoiar. Era o síndico do prédio e autorizou que colocassem
lá no mural um cartaz igual ao da Fátima.
Mês a mês, as vendas melhoravam – agora, com quatro boas freguesias: no condo-
mínio onde Benjamin morava com os pais, havia três grandes torres de apartamentos,
que passaram a consumir o doce das crianças.
– Seu Carmelo, hoje é dia de ir ao banco com o Benjamin, lembra?
– Claro, senhora, toda terça à tarde.
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Luiz Otavio Roxo
98
Luiz Otavio Roxo
E foi assim que a Fátima comprou um sapato novo e Murilo uma chuteira, uma
bola nova e um celular em vez de seis sapatos e duas chuteiras, pois é muito melhor,
ao invés de exagerar, buscar só o necessário.
E até o Benjamin acabou convencido a comprar um celular. Está certo que ele es-
colheu um modelo um pouco mais barato... e ficou feliz com ele. Ainda que tecnologia
não fosse seu forte, gostou de ouvir música, mandar e-mails aos clientes e assistir
vídeos pelo telefone.
Alguns meses depois, outros prédios vizinhos também passaram a pedir os doces
dos meninos e, então, os ganhos saltaram para R$ 2.700 por mês.
Mais um tempo, e já faturavam R$ 3.300 ao mês.
O que aconteceu então?
Aconteceu que as pessoas, aos domingos, passaram a solicitar bandejas inteiras,
pois era o dia em que convidavam a família para as refeições. Então, os convidados
deles, ao experimentarem doce tão doce e macio, tão diferente, que tinha suspiro,
99
Benjamin e o poder do tempo
doce de leite, coco, então logo perguntavam qual o restaurante que tinha feito... e aí
já viu, né? A história do doce também era uma delícia de contar.
Virou lenda: as crianças doceiras. Pediam telefone, cartão de visitas, mas os me-
ninos ainda não tinham nada disso.
Os curiosos tocavam no interfone do prédio, que começou a tocar demais, pedi-
dos de várias bandejas de Quarto Centenário eram deixados na portaria, pedidos pela
cidade toda, muitas bandejas.
Faturando mais de R$ 5.000 por mês, já tinham o suficiente para contratar o ser-
viço de entrega e mandar fazer cartões e cartazes.
O telefone de Benjamin não parava mais, e os pais de Benjamin se renderam.
O CREDOR
O credor é aquele que emprestou a alguém. Ele tem algo a receber, ele pode ter
a receber um favor, um objeto, um dinheiro que emprestou. O credor é respeitado e,
muitas vezes, uma pessoa a quem os outros são gratos e querem muito bem.
O DEVEDOR
O devedor é aquele que está devendo a alguém. Ele pode estar devendo um favor,
um dinheiro, um objeto. O devedor está em falta, ele tem uma obrigação; antigamen-
te, diziam que ele tem uma corda no pescoço.
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Luiz Otavio Roxo
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Benjamin e o poder do tempo
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Capítulo
17
Uma das novas clientes, uma daquelas que tinham vindo almoçar na casa de algum
parente e experimentaram o Quarto Centenário das crianças, era dona de uma empresa
de eventos, que fazia festas e recepções para grandes quantidades de pessoas. Ela
ficou apaixonada pelo doce e pela história das crianças e decidiu incluir o doce no
cardápio de sua empresa. Então, o doce dos meninos logo era servido em casamentos
maravilhosos, coquetéis de fim de ano das empresas... tiveram até que contratar uma
pessoa para ajudar a Romualda e uma pessoa para ajudar o Murilo nas contas, Fátima
já não era mais vendedora, ela ficava no telefone recebendo pedidos.
Como passam rápidos os meses!
104
Luiz Otavio Roxo
Chegando à sua casa, Benjamin contou sua ideia ao Murilo, que tinha um tempi-
nho para pesquisar antes de começar as contas do dia. Benjamin não tinha tempo,
porque, apesar de ter uma pessoa trabalhando com Murilo e uma pessoa trabalhando
com a Romualda, além de sua mãe, ele mesmo fazia as entregas no condomínio e,
duas vezes por semana, fazia entregas com a pessoa que fazia entregas no prédio da
vó. Também gostava de estudar e fazer as lições da escola.
Então, Murilo pesquisou rapidamente na internet e viu que existiam algumas pou-
cas empresas que faziam serviço de passear com os cachorros dos outros. A maioria
delas também oferecia serviços de adestramento. Murilo sorriu ao ver aquilo, Benja-
min tinha tido outra boa ideia.
Fizeram uma reunião. Chamaram o pai de Benjamin, a mãe, a vó e a secretária do
pai do Murilo.
107
Benjamin e o poder do tempo
– Decidimos ajudar as pessoas com uma coisa de que precisam. Vamos nos ofere-
cer para passear com o cachorro dos outros e cobrar R$ 200 por mês de cada cachorro
para passear meia hora por dia três vezes por semana. Vamos usar a internet para
atender os pedidos e vamos chamar alguns amigos da escola para nos ajudar, e cada
um sairá com dois cachorros por vez.
As pessoas não comentavam, mas Benjamin tinha mudado bastante naqueles
anos, claro, tinha crescido, ou será que antes é que não tinham notado como ele era
sério e compenetrado?
Logo, começaram as atividades do
novo serviço. Nesse meio-tempo, a
mãe do Benjamin e a moça que tra-
balhava com o Murilo abriram a nova
empresa.
108
Luiz Otavio Roxo
– Olá, meu nome é Murilo, sou pai do Murilinho e quero acompanhar esse negócio
de vocês mais de perto.
O PERIGO DA ALAVANCAGEM
A alavanca é esse mecanismo aí embaixo:
Ela é usada para que o homem consiga levantar um peso maior do que seria
capaz sozinho.
Como vimos até agora, para ganhar dinheiro, é preciso gastar dinheiro, porque,
caso queiramos vender algo para conseguirmos um lucro, simplificando, temos dois
jeitos, ou compramos esse objeto, ou fabricamos esse objeto. Nesses dois casos, te-
remos que pagar antes de receber, seja para comprar o objeto pronto ou para comprar
os ingredientes necessários para a fabricação – mais ainda, teremos que pagar para as
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Luiz Otavio Roxo
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Capítulo
19
Murilo estava feliz demais e orgulhoso de ter um pai que falava sério e se vestia
bem daquele jeito.
O Sr. Murilo tinha se inclinado e olhava direto nos olhos de Paulo, que, sentado de
frente, lambia um pouco do creme amarelo esquecido no canto da boca, deixado pelo
último sonho devorado. Como Paulo era barrigudo, ele tinha o centro de equilíbrio
um pouco bagunçado e, mesmo sem perceber, quase sempre balançava para frente e
para trás.
– Ãh? – emitiu esse som, quando percebeu que o Sr. Murilo lhe falava coisa tão
séria daquelas.
– Eu quero apoiar esse negócio novo – e puxou aquela mala de couro marrom para
cima do colo e, num barulhão, abriu as trancas de metal dourado, tão rapidamente
que Paulo piscou e balançou para trás até seus joelhos levantarem. Falou tirando uma
caneta preta de dentro do bolso, até a caneta era bonita.
Benjamin, sem saber o que fazer, olhou para seu pai. Aquele parecia ser assunto
de gente mais velha.
– Muito prazer, Sr. Murilo, meu nome é Marcelo Alma, sou pai do Benjamin aqui.
113
Benjamin e o poder do tempo
– O prazer é todo meu – Sr. Murilo tinha aquele jeito de cumprimentar que encara
a outra pessoa até a hora de soltarem as mãos, aquele jeito que aperta a mão com
força. – Podemos conversar um pouco...?
– Sim, claro.
– É o seguinte, eu sei que o senhor é o responsável aqui, mas sei também que o
negócio é do seu filho e ouvi dizer que ele é capaz de negociar... O senhor se importa
se eu falar direto com ele?
Marcelo chamou o filho para expor o assunto. Benjamin aceitou, embora, apesar
de estar ganhando dinheiro já, ainda não soubesse muito bem o que significava a
palavra negociar, sabia que tinha algo a ver com negócio.
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Luiz Otavio Roxo
– Então, meu rapaz... negócio feito? Dou para você os R$ 5.000, e assim não será
preciso mexer no dinheiro de vocês que está no banco. Você me paga quando puder,
não tenha pressa, me pague picado, não precisa me pagar a mais, só os R$ 5.000 mes-
mo. E quando tiver condições. A única coisa que eu quero são três folhinhas daquele
talãozinho, durante uns três meses. Depois, nem precisa mais, sabe...
Estendeu a mão, e ficaram acertados.
– Feito!
O pai de Benjamin andava tão surpreso com o filho, nunca tinha sido comercian-
te. Então, admirado com a figura pomposa do Sr. Murilo, achou tudo ótimo, seu filho
tinha um sócio importante, as coisas estavam andando rápido...
Por um lado, Benjamin adorou a ideia de ter um homem importante como o pai
do Murilo querendo lhe dar aquela quantidade de dinheiro. Gostou mais ainda foi da
ideia de não ter que mexer no dinheiro que a Márcia vinha guardando tão bem lá no
banco e que estava crescendo sozinho.
Cachorros são mesmo uma gracinha, e o trabalho desenvolveu-se muito agradável
no início. Paulo até emagreceu e ficou prosa por estar ganhando dinheiro e traba-
lhando com Benjamin.
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Luiz Otavio Roxo
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Benjamin e o poder do tempo
PREÇO
Existem coisas que aumentam de preço com o passar do tempo e coisas que di-
minuem de preço. Existem, também, coisas que variam muito de preço, e podemos
comprar barato e vender caro várias vezes. Para não confundir, vamos direto ao ponto:
custa porque tem gente que paga. É a lei da oferta e da demanda. Ah, mas o que é
isso? Que papo de doido!
É sim, é simples. Já viu um leilão? Não? Um leilão é o seguinte: alguém chama os
amigos, coloca-os todos sentados em uma sala e começa:
– Eu quero vender este chapéu aqui. Algum de vocês aí quer comprar de mim?
– Eu! – um dos amigos grita. – Eu quero esse chapéu!
– E quanto você paga? – pergunta o dono, o leiloeiro.
– Eu pago R$ 100!
– Opa, pessoal, o nosso amigo ali disse que paga R$ 100, hein? Quem dá mais?
– Eu! Eu pago R$ 200! – uma senhora aflita levanta o dedo.
Perceba que, se ninguém quiser pagar mais pelo chapéu, ele será vendido por
R$ 200 para a senhora. Só que, por outro lado, se mais dez pessoas quiserem aquele
chapéu, ele subirá de preço mais dez vezes. Nesse caso, quem ditará o preço será a
força compradora. Mas, imagine só: e se entrar na sala uma outra pessoa, carregando
um saco cheio de chapéus iguais àquele e, para a comoção geral dos que tanto que-
riam chapéus, anunciar:
– Olhem só: vocês estão fazendo bobagem pagando tanto por esse aí. Eu tenho
vinte desses chapéus e vendo cada um por R$ 50!
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Luiz Otavio Roxo
119
Capítulo
20
Era um dia bonito, e a senhora Escolástica tinha ouvido falar de umas crianças
ali do prédio que costumavam passear os cachorros e cobravam um dinheirinho por
causa disso.
– Alô? Damião?
– Oi, senhora. Estou ouvindo, pode falar.
– Você sabe o número daqueles meninos que passeiam com cachorro?
A senhora Escolástica tinha mania de falar ao interfone ela mesma, apesar de
seus seis empregados: a camareira, a roupeira, a lavadeira, a cozinheira, o mordomo,
o motorista e a governanta.
A senhora Escolástica tinha oitenta e sete anos e vivia sozinha, ou melhor, vivia
com todos esses empregados. Como gostava de berrar:
– Vocês trabalham para mim ou dão trabalho para mim? Que coisa!
E, na falta do que fazer, havia decidido comprar um cachorrinho para lhe fazer
companhia na velhice.
Seu marido havia sido dono de um hospital famoso, era um homem bom demais,
como ela mesma costumava dizer.
121
Benjamin e o poder do tempo
– Oi, o Fifi está tão tristonho. Acho que ele quer passear, vocês podem vir aqui?
– Claro, senhora! Temos horário na segunda-feira às oito horas, pode ser?
– Mas é que se trata de uma emergência, sabe? Quanto custa mesmo?
– Senhora, são R$ 200 por mês para passearmos três vezes por semana.
– Então, se vocês puderem vir agora, eu pago R$ 500 por semana.
– Hm! Ahn... Estamos a caminho, senhora.
Benjamin estava ocupado, Clarisse com quatro dálmatas e Paulo saindo para aten-
der o maltês do prédio.
– Paulo, vou cancelar o seu próximo passeio, vou dar um mês de graça para os
donos desse cachorro e você vai atender essa emergência, por favor, neste endereço.
O nome do cachorro é Fifi.
Paulo buscou Fifi e estavam atravessando a primeira esquina quando cruzaram um
carrinho de churrasco grego.
124
Luiz Otavio Roxo
125
Benjamin e o poder do tempo
PREÇO É VALOR?
Preço não é valor, porque existem coisas que não têm preço, mas valem muito.
Quando se trata de coisas que a gente compra, quanto mais gente quiser comprar uma
mesma coisa e quanto menos gente vendendo essa coisa existir por aí, mais cara ela
será – isso pelo princípio da escassez. Coisas raras serão mais caras quanto mais tempo
passar. Coisas que existem aos montes, que
não fazem falta, serão baratas. Mas preste
atenção agora: isso que falamos é verdade,
mas isso vale para tudo? Não!
Pergunta-se de novo:
– Quanto vale a humanidade toda?
eço,
– Quanto vale o ar que a gente respira? Apesar de não terem pr
m
– Quanto vale o mar? coisas abundantes també
vem
Todas essas coisas são abundantes, têm podem valer muito e de
os
de monte por aí, ainda não fazem falta, ser cuidadas como cuidam
que
mas nem por isso devem ser tratadas como das coisas mais caras de
se fossem coisas baratas. gostamos e damos valor.
126
Capítulo
21
Paulo chorava! Voltou ao prédio derrotado.
– Fá... Perdi o cachorro.
– Ãh?
– Perdi! Ele se soltou da corrente e fugiu tão rápido...
– Não pode ser!
Nossa, que berreiro. Que choro feio, um moço daquele, de 13 anos...
– Você conta!
127
Benjamin e o poder do tempo
– Ah, não! Você que combinou com essa senhora! Se tivesse me deixado passear
com o cachorro de sempre, não teria acontecido nada disso.
– Ah, mas foi você que perdeu o cachorro, não eu!
– Meu Deus do céu!
Murilo, que lidava melhor com esses problemas de medo e emoção, pegou logo o
telefone e ligou para a casa da senhora Escolástica.
– Senhora Escolástica, boa noite. Meu nome é Murilo Chaves, sou da Cachorros Fe-
lizes e preciso avisar a senhora que o Delfino fugiu da coleira. A senhora... a senhora
não deve se preocupar, pois já acionamos os bombeiros e contratamos uma empresa
de detetives profissionais e... e...
Virou para os amigos:
– Ai, ela desligou na minha cara! Ai, ai, ai... Acho que precisamos correr com isso,
vamos achar esse bendito cachorro antes que o Benjamin volte da fábrica...
128
Capítulo
22
Já chamavam a casa da
vó de fábrica, tantos os doces
que faziam lá.
Enquanto os meninos pas-
savam apuros, lá na casa da
vó, Benjamin resolvia passar
um minuto no quarto do avô,
de quem muitas vezes nem se
lembrava.
Benjamin foi, sentou-se
ao pé da cama do avô e escu-
tou as palavras tão sérias que
foram ditas.
– Sabe, meu filho. Eu te-
nho visto você por todo o
lado, ocupado, trabalhando.
129
Benjamin e o poder do tempo
Quero lhe falar uma coisa. Saiba que o dinheiro vale muito. As pessoas fazem tudo
por dinheiro, mas o dinheiro não é tudo. O caráter vale mais do que o dinheiro, pois
se alguém perde a dignidade, ou quando passa a ser visto como desonesto, não tem
dinheiro no mundo que faça a consciência ficar limpa de novo.
Ele parou, olhou sério para Benjamin e continuou:
– Cuide muito bem da sua honra, tenha valores de verdade, de bondade, de beleza
e não só dinheiro. Se você conseguir ganhar bastante dinheiro sem prejudicar os ou-
tros, sem mentir, sem roubar, então esse dinheiro lhe fará bem, mas se você mentir,
enganar, prejudicar pessoas, então, por mais dinheiro que você junte, não será uma
pessoa boa, porque dinheiro não compra virtudes.
Dando um beijo na bochecha do neto, Dr. Cláudio virou para o canto e continuou
sua soneca, mais tranquilo que antes. Seriam palavras que ficariam na cabeça de Ben-
jamin até os dias em que ele mesmo ficasse velho.
O telefone tocou, e eram os meninos, contando a confusão toda do cachorro Fifi.
Benjamin correu para sua casa com o Seu Carmelo.
Detetive Moreira chegou fazendo pergunta e mais pergunta, tinha um aparelho
comprido, que apitava.
– Clarisse, você acompanha o detetive Moreira?
– Tudo bem.
131
Benjamin e o poder do tempo
133
Benjamin e o poder do tempo
O juiz tinha um cachorrinho parecido com Fifi e tinha ficado emocionado com a
história que ficou conhecendo através do jornalzinho de bairro. Irado, decidiu fazer
justiça e, investigando a microempresa dos meninos, encontrou notas fiscais que não
faziam sentido.
134
Luiz Otavio Roxo
Benjamin estava mesmo disposto a encerrar tudo, deixar o que tivesse restado da
sua parte lá rendendo com o tempo, como as amebas – e, com o dinheiro de mais uns
meses de vendas dos doces, mandar ver no negócio novo das fitas.
Márcia sabia o que significava para ele aquela coleção de dinheiro e ficou com o
coração apertado.
– A parte de Murilo é R$ 59.200 com os juros. A parte de Fátima é R$ 23.000. Para
a Clarisse, são R$ 4.300, e, para o Paulo, R$ 3.600. E sua parte, primo... quer sacar?
– Quanto tem depois do prejuízo todo, prima?
– Olhe, tem R$ 497.233,48.
Os meninos levaram um susto enorme com aquele valor que, para eles, parecia
muito dinheiro, mas que, para Benjamin, era o começo de uma longa coleção, o co-
meço de uma vida.
– Márcia, por favor, dê mais R$ 5.000 para o Murilo pagar ao pai e, por favor, me
dê R$ 1.000 em notas de cinquenta.
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Benjamin e o poder do tempo
Márcia deu o maço de notas ao Benjamin, que, para falar a verdade, não estava tris-
te. Dentro dele, estava contente, porque sabia que, com algumas notas amassadas, tinha
começado sua coleção, e agora iria começar de novo, só que, em vez de algumas notas
amassadas, teria um maço de notas de cinquenta novinhas no valor de R$ 1.000.
– Filho, esse é o Everest. Ele trabalha com a bolsa de valores e quer conhecer você.
– Olá, grande Benjamin! Ouvi muita coisa sobre você, garoto. Eu, quando tinha
sua idade, nem sabia o que era ganhar dinheiro. Parabéns! Seu pai me disse que tem
muito orgulho de você!
Benjamin sempre ficou sem jeito ao ser elogiado, nunca soube lidar bem com isso.
Não entendia direito, porque, para ele, era apenas uma coleção.
– Benjamin, você já ouviu falar na bolsa de valores?
Benjamin fez que não com a cabeça.
– Então, venha cá, meu jovem. Você gosta de mexer com internet?
Benjamin fez que sim com a cabeça.
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Benjamin e o poder do tempo
– Faça suas pesquisas, veja o que consegue descobrir sobre a bolsa de valores.
Daqui a uma semana, eu volto aqui e a gente conversa melhor, certo?
Benjamin estudou.
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Luiz Otavio Roxo
Uma das importantes pessoas que começaram esses estudos foi o Sr. Charles Dow.
Há muito tempo atrás, ele e o Edward D. Jones fizeram um jornal chamado The Wall
Street Journal. Nesse jornal, o Sr. Dow falava sobre o comportamento dos preços.
Esses textos foram reunidos depois, gerando o que pode ser considerado o início da
análise técnica: a teoria de Dow.
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Benjamin e o poder do tempo
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Capítulo
24
A quantidade de dinheiro que passa-
va pela bolsa de valores todos os dias era
impressionante: bilhões. Benjamin, que
tinha começado aprendendo sobre ame-
bas e milhões, assustou-se quando viu,
no Homebroker (o site por onde poderia
negociar pedaços das empresas), a velo-
cidade com que os bilhões mudavam, e
aquilo ficou na sua cabeça, como se fos-
se ideia sua, uma ideia simples, simples
como uma coleção de carrinhos.
Lembrou-se da prima o ensinando e imaginou-a falando sobre o bilhão:
– Ó, bilhão é assim, um: 1. Depois, vêm três zeros: 000. Mais três zeros: 000. E
outros três zeros: 000. Fica assim: 1.000.000.000. São muitos zeros, primo...
No dia de seu aniversário, um ano depois do dia em que a Cachorros Felizes foi
fechada, Benjamin passou no banco da prima.
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Benjamin e o poder do tempo
– Oi, Márcia!
– Benjamin! Que bom ver você aqui! Parabéns! Feliz aniversário! Quantos anos são?
– Quinze, prima...
– Nossa, é um homem!
– Prima, quero fazer uma transferência daquela nossa conta. Tem R$ 10.000 para
transferir?
Fazia tempo que Márcia não via a conta do primo. Naquele dia, Benjamin tinha
R$ 593.751,87. Era mais dinheiro do que ela, sendo gerente de banco, jamais juntaria
a vida toda.
– Tem sim, primo. Dá para fazer essa transferência... Agora, tem uma norma aqui,
eu preciso preencher o motivo da transferência, qual é?
– Abri uma conta em uma corretora de valores, quero ver se aprendo a comprar e
vender ações das empresas.
Como uma lembrancinha, naquela mesma semana, comprou 100 ações da fábrica
de carrinhos e virou acionista, quase sócio do dono. Prometeu a si mesmo: “Essas 100
ações eu não venderei e, um dia, comprarei tantas mais que serei o dono da fábrica
dos carrinhos que o Seu Carmelo comprava para mim quando eu era criança”.
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