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126 —_Homandoz Sampior, Forndaz Collada & Baptista Lucio Exemplos Hz "0s jovens do mais importncia ao atrativo fisico em suas celacdes de casal do que as jovens.” Ho: “08 jovans ndo do mais importancia ao atrativo fisico am suas relagbes de casal do que as jovens.” He: "0s jovens dio menos importincis go atrative fisico em suas relacdes de casal do que es jovens.” Neste ultimo exemplo dos jovens, se a hipotese nula tivesse sido formulada da seguinte ma Exemplo Hg "0s jovans no dio mais ou manos importancia ao atativo fisico om suas relagdes de casal do que as jovens." Nao haveria possibilidade de formular uma hip6tese alternativa, pois as hipoteses de pesqui sa ea nula englobam todas as possibilidades. As hipéteses alternativas sto, conforme podemos ver, outras hip6teses de pesquisa adicionais, a hipétese de pesquisa original (% SERA QUE & POSSIVEL FORMULAR HIPOTESES DE PESQUISA, HIPOTESE NULA E ALTERNATIVA EM UMA MESMA PESQUISA? [Nao existem regras universais a esse respeito, nem mesmo consenso entre ox pesquisadores, Pode- ‘mos ler em artigo de alguma revista cientifica no qual apenas a hipotese de pesquisa é formuladas e, em outra, encontrar um artigo somente com a hipétese nula, Um artigo em uma terceira revista no qual podemos encontrar apenas as hipoteses de pesquisa ea nula, mas nao as alternativas. Em uma quarta publicagio, outro artigo que contenha a hipétese de pesquisa e as alternativas. E mais outro ‘no qual aparecam hipoteses de pesquisa, nulas e alternativas. Essa situagio é similar nos relat6 apresentados por um pesquisador ou uma empresa, O mesmo acontece em dissertagdes de mestr do ¢ teses de doutorado, estudos de divulgacéo popular, relatérios de pesquisas governamentais, li- vyros ¢ outras formas de apresentar estudos de diversos tipos. Em estudos que contém andlise de dados quantitativos, a opao mais comum € incluir somen, te a ou as hipdteses de pesquisa (Degelman, 2005, consultor da American Psychological Associ tion). Alguns pesquisadores somente enunciam uma hipétese nula ou de pesquisa quando pressu- poem que o leitor de seu relat6rio ira deduzir a hipdtese contrdria, Nossa recomendacao é que, embora as hipdteses de pesquisa sejam incluidas de maneira ex- lusiva, todas estejam presentes, ndo s6 quando sdo formuladas, mas durante todo o estudo, Iss0 ajuda a fazer com que 0 pesquisador esteja sempre alerta para todas as possiveis descrigOes ¢ expli- es do fendmeno considerado; assim ele poder ter um panorama mais completo daquilo que analisa ‘A American Psychological Association (2002) recomenda que, para decidir que tipo de hips- tese deve ser incluido no relatério, € preciso consultar os manuais ou um assessor qualificado de sua universidade ou as normas de publicagoes. Metodologia de pesquisa 127 vj] QUANTAS HIPOTESES DEVEM SER FORMULADAS EM UMA PESQUISA? Cada pesquisa € diferente. Algumas contém grande variedade de hipéteses porque problema de pesquisa é complexo (p.ex., pretendem relacionar 15 ou mais varidveis), enquanto outras contém ‘uma ou duas hipéteses. Tudo depende do estudo que sers realizado. ‘A qualidade de uma pesquisa nao est necessariamente relacionada com o niimero de hipote- ses que ela contém. Nesse sentido, devemos ter o mimero de hipéteses necessirias para guiar 0 es- tudo, nem uma a mais nem uma a menos. v{ EM UMA MESMA PESQUISA £ POSSIVEL FORMULAR HIPOTESES DESCRITIVAS DE UM DADO PROGNOSTICADO EM UMA VARIAVEL, HIPOTESES CORRELACIONAIS, HIPOTESES DA DIFERENCA ENTRE GRUPOS E HIPOTESES CAUSAIS? A resposta ¢ sim, Em uma mesma pesquisa ¢ possivel estabelecer todos 0s tipos de hipéteses, porque 0 problema de pesquisa assim o exige. Vamos supor que alguém elaborou um estudo em uma cidade a tino-americana e suas perguntas de pesquisa ¢ hipdteses poderiam ser as mostradas na Tabela 6.2 Nesse exemplo, encontramos todos 0s tipos gerais de hipéteses. Também podemos observar que nio ha perguntas que nao sio traduzidas em hipéteses (escolaridade e sua diferenca por géne- 10). Isso talvez se deva ao fato de que é dificil estabelecé-las, pois nao dispomos de informagio a esse respeito, (Os estudos que comegam e terminam como descritivos vao formular ~ caso prognostiquem tum dado — hipéteses descritivas; os correlacionais poderao estabelecer hipéteses descritivas por es timativa, correlacionais e de diferenga entre grupos (quando estas nao explicam a causa que provo- caa diferenga); jé os explicativos poderao incluir hipéteses descritivas de prognésticn, correlacio- nais, de diferenca entre grupos e causais. Nao podemos esquecer que uma pesquisa pode abordar parte do problema de maneira descritiva e parte explicativa. Mas também precisamos salientar que 05 estudos descritivos nao costumam conter hipéteses e isso se deve ao fato de que as vezes ¢ dificil precisar o valor que pode se manifestar em uma variavel TABELA 6.2 Exemplo de um estudo com varias perguntas de pesquisa e hipéteses eee Hipst ‘Qual seré, no final do ano, a taxa de desemprego na A tara de desemprego na cidade de Baratilo seré de 5% no cidade de Baratilo? final do ano (Ht: % = 6). ‘Qual ¢ 9 taxa médis da renda familiar mensal na ‘A taxa mécia ds renda familar mensal oscia entre 650 e 700 cidade de Baratilo? dilares (H: 650 < X < 700). Existem diferengas ene os distitos (bsrros ou equivalentes) 4a cidade de Baratilo quanto & taxa de desemorego? (Exstem barra ou cistritos com masiores indices de desemorego?) ‘Qual ¢ a taxa de escolaridade médias dos jovens e das jovens que ‘vivem em Baratilo? Existem difereneas por gtnero esse respeto? (0 aumento de deknquéncia dessa cidade esté relaconedo com 0 desemprego? ‘A taxa de desemprego provoca uma rejicSo conta a politica fiscal do goverra? “N.de RTL: A notaglo tyy refer Existem diferengas quanto & taxa de desemprego entre 08, istrtos da cidade de Baratillo : Indice 1 + Indice 2 x Indice 3 + indice K).. Se no dispomos de informaglo, nfo estabelecemos hindteses. Pra maior desemprepo, maior dlinquéncia FOr, (0 desemprego provaca uma rejeiedo contra a pottica fiscal do governo fH: X > V1. se 4 correlagio de Pearson entre as variaveis x e y (ver Capitulo 10) 128 Hernandez Sampieri, Feméndez Coliado & Baptista Lucio Os tipos de estudo que nao estabelecem hipéteses sio os exploratérios. Nao podemos pres: supor (afirmando) algo que ainda vamos explorar. E como se antes do primeiro encontro com ‘uma pessoa totalmente desconhecida do género oposto, comecssemos a conjecturar © quanto € simpatica, quais interesses e valores ela tem, etc. Nao poderfamos nem mesmo antecipar o quan: to ela seria atraente para nés,¢ talvez no primeiro encontro nos deixassemos levar por nossa ima- sginacdo; mas na pesquisa isso ndo pode acontecer. Se ela nos proporcionar mais informacio (lu- gates onde gosta de ir, ocupacio, religido, nivel socioecondmico, tipo de miisica que gosta e gru- Pos aos quais ¢ associada), podemos criar mais hipéteses, embora estejamos nos baseando em esteredtipos. E se nos dessem informacio muito pessoal e intima sobre ela, poderiamos sugerir hipéteses sobre que tipo de relagao vamos estabelecer com essa pessoa ¢ por qué (explicagoes provisérias). [MJ 0 QUE SIGNIFICA TESTAR HIPOTESES? Conforme mencionamos desde o inicio deste capitulo, as hipéteses do processo quantitative s30 submetidas a teste ou escrutinio para determinar se sto apoiadas ou refutadas, de acordo com aqui- lo que o pesquisador observa. E ¢ por isso que elas s30 formuladas na tradicto dedutiva. Ent30, nao podemos realmente provar se uma hip6tese € verdadcira ou falsa, mas argumentar se foi aprovada ou nio de acordo com certos dados obtidos em uma pesquisa especifica. Do ponto de vista técnico, ‘uma hipétese nao € aceita por meio de um estudo, mas pela evidéncia que apresentamos a favor ou contra ela. Quanto mais pesquisas apoiarem uma hipotese, mais credibilidade ela terd;e, claro, sera vida para o contexto (Iuigar, tempo ¢ participantes ou objetos) em que foi comprovada. Pelo me- nos probabilisticamente. No enfoque quantitativo, as hipéteses sio submetidas a teste na "realidade” quando aplicamos ‘um desenho de pesquisa, coletamos dados com um ou virios instrumentos de medicio e analisa- ‘mos e interpretamos esses mesmos dados. E, conforme diz Kerlinger (1979), as hipdteses sio ins- trumentos muito poderosos para o avanco do conhecimento, pois, embora sejam formuladas pelo ser humano, podem ser submetidas a teste e demonstradas como provavelmente corretas ou incor- retas, sem a interferéncia dos valores e das crencas do individuo. [MJ Quat £ A UTILIDADE DAS HIPOTESES? £ provivel que alguém pense que com o que foi exposto neste capitulo seja possivel saber claramen- te qual ¢ 0 valor das hipéteses para a pesquisa, No entanto, achamos que ¢ necessério aprofundar ‘um pouco mais nesse ponto, mencionando as principais fungdes das hipsteses. 1, Em primeiro lugar, sio as orientagées de uma pesquisa no enfoque quantitativo. Formul-las nos ajuda a saber 0 que estamos tentamos buscar, testar. Elas proporcionam ordem e légica 20 estudo. So como os objetivos de um projeto administrativo: as sugestoes formuladas nas hipdteses podem ser solugdes para os problemas de pesquisa. Se elas sio ou no, essa é exata- mente a tarefa do estudo (Selltiz et al. 1980). ‘2. Em segundo lugar, tém uma fungio descritiva e explicativa, dependendo do caso. Toda vez ‘que uma hipdtese recebe evidéncia empirica a seu favor ou contra, ela nos diz algo sobre 0 fendmeno com o qual se associa ou faz referéncia. Se a evidencia for a favor, a informacao sobre ‘© fenomeno aumenta; ¢ mesmo se a evidéncia for contra descobrimos algo sobre o fenémeno que antes ndo sabiamos. 3. A terceira funcao € testar teorias. Quando varias hipéteses de uma teoria recebem evidéncia positiva, a teoria vai se tornando mais forte; e, quanto mais evidéncia houver a favor daquelas, mais evidéncia havera a favor desta. 4. Uma quarta funcio sugerir teorias. Diversas hipdteses nio estio associadas com teoria al- _guma mas o que pode acontecer é que como resultado do teste de uma hipétese seja possivel construir uma teoria ou stas bases. Isso no é muito comum, mas ji chegou 2 acontecer. Metodologia de pescuisa [VJ 0 QUE ACONTECE QUANDO NAO SE TRAZ EVIDENCIA A FAVOR DAS HIPOTESES DE PESQUISA? Nao é raro escutar uma conversa como esta entre duas pessoas que acabam de analisar os dados de sua tese (que € uma pesquisa): Elisa: Os dados nao apoiam nossas hipéteses. Gabriel: E agora, 0 que vamos fazer? Nossa tese nao € util. Blisa: Teremos de fazer outra tese. (Os dados nem sempre apoiam as hipéteses. Mas 0 fato de que estes nao tragam evidéncia a fa- vor das hipsteses formuladas nao significa, de maneira alguma, que a pesquisa nio tem utilidade. la- +o que todos ficamos contentes quando aquilo que supomos condiz com a nossa “realidade’: Se fizer- ‘mos afirmagies como: “eu gosto da Mariana’, “o grupo mais popular de miisica nesta cidade & 0 meu grupo favorito’, “tal equipe vai ganhar o proximo campeonato nacional de futebol”; “Paola, Chris, Sergio e Lupita vio me ajudar muito a vencer este problema’, para nés seri satisfatério que elas sejam cumpridas. Existe também aquele que formula uma pressuposicio ¢ depois a defende a qualquer cus- to, mesmo tendo consciéncia de que se equivocou. Isso é humano; porém, na pesquisa o objetivo final € 0 conhecimento e,nesse sentido, os dados contra uma hipétese também oferecem entendimento. O importante € analisar por que nio se apresentou evidéncia a favor das hipdteses. Alias, é bom citarmos Van Dalen e Meyer (1994, p. 193): Para que as hip6teses tenham utilidade, n3o é necessirio que as respostas para os pro- ‘blemas apresentados sejam corretas. Em quase todas as pesquisas o estudiose formula ‘ria hipdteses e espera que alguma delas dé uma solugdosatisfatéria para 0 proble- ‘ma. Ao climinar cada uma das hipdteses, ele vai estreitando 0 campo no qual devers ‘encontrar a resposta, E acrescentam: (© teste de “hipdteses falas” [que preferimos chamar de hipsteses que nto receberam ‘evidéncia empirica] também ¢ util quando direciona a atencio do pesquisador ou de ‘outros cientistas para fatores ou relagBes imprevistas que, de alguma maneira, pode ram ajudar a resoher o problema, A American Psychological Association (2002, p. 16) diz o seguinte, 0 mencionar a apresenta- «a0 das descobertas em um relatério de pesquisa: “Mencione todos os resultados relevantes, in- cluindo aqueles que contradizem as hipéteses” [M1 AS VARIAVEIS DE UMA HIPOTESE DEVEM SER DEFINIDAS COMO PARTE DE SUA FORMULACAO? Ao formularmos uma hipétese ¢ indispensivel definir os termos ou variaveis incluidos nelas. E isso necessirio por Varios motivos: 1. Para queo pesquisador, seus colegas, os usuarios do estudo ¢, geralmente, qualquer pessoa que ird ler a pesquisa possam dar o mesmo significado para os termos ou as varisveis incluidas nas hipéteses, é comum que um mesmo conceito seja empregado de diferentes manciras. O termo novios” pode significar para alguém uma relacio entre duas pessoas de géneros opostos «que se comunicam de maneira interpessoal com a maior frequéncia que thes é possivel, que quando estao “cara a cara” se beijam e se dio as maos, que se sentem atraidos fisicamente € compartilham informagao que ninguém mais possui. Para outros poderia significar uma relagao entre duas pessoas de géneros opostos que tém como finalidade contrair matrimonio, “ N.de'T.: Novio em espanhol pode ser usado tanto para namorado como para noivo. No Brasil diferenga € que noivo implica um compromisso maior, uma etapa anterior a0 casamento. 129 130 Hernandez Sampieri, Feméndez Coliado & Baptista Lucio Para um terceiro, uma relagio entre dois individuos de géneros opostos que mantém relagies sextais, e alguém mais poderia ter outra concep¢ao. E, no caso de pensarmos em realizar um cestudo com casais de novios, nao conseguirfamos saber com exatidao a quem incluir ou no esse estudo, a nao ser que definissemos com a maior precisio possivel 0 conceito de novios. ‘Termas como “atitude’,“inteligéncia” e “aproveitamento” podem ter virios significados ou ser definidos de diversas manciras. 2. Paratermosa certeza de que as variiveis podem ser medidas, observadas, avaliadas ou inferidas, ‘ou seja, que podemos obter delas dados da realidade. 3. Confrontar nossa pesquisa com outras similares. Se ji temos nossas variaveis definidas, pode- ‘mos comparar nossas definigdes com as de outros estudos para saber “se estamos falando da ‘mesma coisa’, Se a comparagio for positiva, vamos confrontar os resultados de nossa pesquisa com 0 resultados das demais. 4. Avaliar de maneira mais adequada os resultados de nossa pesquisa, porque as variaveis, ¢ no 6 as hipoteses, estdo contextualizadas. Em sintese, sem a definicdo das varidveis nao ha pesquisa. As varidveis devem ser definidas de duas formas: conceitual e operacional. [M1 DEFINIGAO CONCEITUAL OU CONSTITUTIVA ‘Uma definigao conceitual dé outros nomes para a variavel. Assim, inibigio proativa poderia ser de- finida como: “a dificuldade de recordar que aumenta com o tempo”; e poder como: “exercer mais influéncia sobre os demais do que estes sobre uma pessoa’. Sio definigies de dicionérios ou de li vvr0s especializados (Kerlinger, 2002; Rojas, 2001), que quando descrevem a esséncia ow as caracte- risticas de uma variavel, objeto ou fendmeno sto chamadas de definicées reais (Reynolds, 1986). Estas sito a adequacio da definicao conceitual as exigéncias priticas da pesquisa. Dessa forma, o ter- mo atitude seria definido como “uma tendéncia ou predisposicio para avaliar de alguma maneira ‘um objeto ou um simbolo desse objeto” (Haddock e Maio, 2007; Kahle, 1985; Oskamp, 1991). Se ‘nossa hipétese fosse: “Quanto maior for a exposigio dos cleitores indecisos as entrevistas televisivas concedidas pelos candidatos, mais favoravel sera a atitude em relagio ao ato de votar’, teriamos de contextualizara definigio conceitual de “atitude” (formular a definigao real). A“atitude” em relagio 20 ato de votar poderia ser definida como a predisposigao para avaliar como positivo 0 fato de vo- tarem uma eleigao. ‘Alguns exemplos de definicdes conceituais sto mostrados na Tabela 6.3. Essas definigies sao necessirias, mas insuficientes para definir as variaveis da pesquisa, por- que ndo nos vinculam diretamente com “a realidade” ou com “o fendmeno, contexto, expresso, co- munidade ou situacio”, Nao tem jeito, elas continuam se parecendo com conceitos. Os cientistas precisam ir além: eles devem definir as varidveis utilizadas em suas hipéteses de tal maneira que possam ser comprovadas ¢ contextualizadas. F isso é possivel quando utilizamos o que se conhece como definicées operacionais, [MW] DEFINICOES OPERACIONAIS ‘Uma definicao operacional ¢ 0 conjunto de procedimentos que descreve as atividades que um ob- servador deve realizar para receber as impressbes sensoriais, que indicam a existencia de um con- ceito teérico em maior ou menor grau (Reynolds, 1986, p. 52). Em outras palavras, ela especifica quais atividades ou operagdes devem ser realizadas para medi uma varidvel. Uma definicao opera- ional nos diz que para coletar dados sobre uma varidvel é preciso fazer isso e mais isso, além de ar- ticular os processos ou as ages de um conceito que sio necessarios para identificar seus exemplos (MacGregor, 2006). Assim, a definicio da varidvel “temperatura” seria o term6- DEFINICKO OPERACIONAL Conjunto J metTo: € “inteligéncia” seria definida operacionalmente como as respostas para de procedimentos e atividades que J} wm determinado teste de inteligtncia (p. ex., Stanford-Binet ou Wechsler). Quan- deeenetvemos pera mecir ume to A “satisfagio sexual de adultos’, existem vérias definigoes operacionais para variével. ‘mensurar esse constructo: The Female Sexual Function Index (Indice da Fungao Sexual Feminina, FSF1) (Rosen et al., 2000) aplicavel a mulheres; Golombok Rust Metodologia de pesquisa 134 TABELA 6.3 Exemplos de definicbes conceituais Inteignca _Capacidae para reconhecere controlar nossas emorSes, assim como condui com mais habia nossas femocional elas (Goleman, 1996). Produto ‘A soma de todos 0s bens e servos finals produzios em uma economia durante um peiodo determinado, que Jntemo Sruto pode ser trimestral ou anual. O PIB pode ser ciassificado como nominal ou real. No primeiro, os bens e servicos (PB) ‘inais so calculados pelos precos vigentes durante o periodo em questo, enquanto no segundo os bens € servicos finais sio calculados pelos precos vigentes em um ano base (CIDE, 2004). ‘Abuso sexual A utlizaco de um menor para a sstistacso dos desejos sexuais de um adulto responsdvel pelos cuidados da infantil ctianga elou em quem ela confia (Barber, 2005), ‘Allizacdo de um menor de 12 anos para a satistacdo sexual. 0 abuso sexual na inféncia pode inclit Contato fisico, masturbacSo, relecées sexuais inclusive penetracéo) elou contato anal ou oral, Mas também pode incluir 0 exibicionismo, voyeurismo, a pomografia e/ou a prostituicdo infantil IPPF, 2000). lima ‘Conjunto de percepcdes compartihads pelos empregados em relacdo aos fatores de seu ambiente de trabalho ‘rganizecional _(Heméndez Sempien, 2005). Par ideal (nas _Prottipo de ser humano que os individvos consideram que possui os atibutos mais valrizados por eles © que reiogdes ‘epresentaria a opcio perfeita para se envoiver em uma relacSo amorosa roméntica e intima de longo prazo ‘oménticas! —_—_(casar-se ou a0 menos morar junto} (Hemandez Sampieri e Mandonza, 2008). Inventory of Sexual Satisfation (Inventirio de Satisfaco Sexual de Golombok e Rust, GRISS) (Rust € Golombok, 1986; Meston e Derogatis, 2002) e El Inventario de Satisfacin Sexual (Alvarez-Gayou, 2004)’, para ambos os géneros. ‘A variavel “renda familiar” poderia ser operacionalizada ao se perguntar sobre a renda pessoal de cada um dos membros da familia e depois somar as quantidades que cada um indicou. Em um concurso de beleza 0 atrativo fisico € operacionalizado ao se aplicar uma série de critérios que um jurado utiliza para avaliar as candidatas; os membros do jari do uma nota para as concorrentes em cada critério ¢ depois obtém uma pontuagio total do atrativo fisico. ‘Quase sempre se dispde de varias definigées operacionais (ou formas de operacionalizar) de ‘uma varidvel. Para definir operacionalmente a varidvel “personalidad” temos diversas alternativas 6s testes psicomeétricos, como as diferentes versoes do Inventério Multifisico de Personalidade de Minnesota (MMPI); testes projetivos coma o teste de Rorschach ou o teste de apercepgao temética (TAT), etc. E possivel medir a ansiedade de um individuo por meio da observacao direta dos especialis- tas, que avaliam o nivel de ansiedade dessa pessoa; com medic6es fisiolégicas da atividade do siste ma psicol6gico (pressao sanguinea, respiragoes, etc.) ¢ com a andlise das respostas para um questio: nirio de ansiedade (Reynolds, 1986, p. 52). A aprendizagem de um aluno em um curso de metodo: logia de pesquisa seria medida com o emprego de varias provas, um trabalho, ou uma combinagdo de provas,trabalhos e praticas. ‘Alguns exemplos de definicSes operacionais estio incluidos na Tabela 6.4 (mostramos so- ‘mente os nomes e algumas caracteristicas). ‘Quando o pesquisacor dispoe de varias opydes para definir operacionalmente uma variavel, ele deve escolher aquela que proporciona mais informacio sobre a varidvel, que capte melhor sua esséncia, adapte-se a0 seu contexto e seja mais precisa. Ou, ainda, uma mistura dessas alternativas. (s critérios para avaliar uma definigao operacional sio basicamente quatro: adequagio a0 contetido, capacidade para captar os componentes da variavel de interesse, confiabilidade e valida de, Iremos falar a esse respeito no Capitulo 9, “Coleta dos dados quantitativos”. Uma selec corre ta das definigdes operacionais disponiveis ou a criacao da propria definicao operacional esto mui- to relacionadas com uma revisdo adequada da literatura. Quando esta foi cuidadosa, temos mais opgies de definicdes operacionais para escolher ou mais ideias para desenvolver uma nova defini- «a0. E quando também podemos contar com essas definigdes,o trajeto para a escolha do ou dos ins 132 Heméndex Sampieri, Ferinder Collado & Baptista Lucio TABELA 6.4 Exemplos de definicSes operacionais cmc ‘inteigéncia _—_—Emotiona Inteligence Test (EIT). Teste com 70 itens ou assertivas.. Aceleracio ——_Acelerémetro. ‘Abuso sexual Children's Knowledge of Abuse Questionnaire Ravisod (CKAQ-Al. Versio em espanhol. 0 CKAQ-R tem 36 perguntas, infant ‘que devem ser respondidas com verdadeirofalso,e cinco extres para serem feitas a meninos e meninas de 8 ‘anes em dante. Pode ser apicado em qualquer crianea sem prévia instruedo. ime Escala Cie UNI com 73 tens pare medi as sequintes cimensbes do lime organizecions: estado de esniito, Organizacional _apcio de direclo, inoverso, percepcio da empresa-identidade identficaSo, comunicacSo, percepco do * Apéndices > Apéndice 3) 1. Procure um artigo referente a um estudo quantita: tivo em uma revista cientifica de seu campo ou drea de conhecimento que contenha pelo menos uma hipétese e responda: Ais) hipStesels) est (estéo) ‘ecigicas adequadamente? Séo inteligiveis? De que tipo elas séo (de pesauisa, nula ou altemativa: des critiva de um dado ou valor que se prognostica, cor felacional, de diferenga entre grupos ou causal? Quois so sues veriiveis e como estio definidas, conceitual ou operacionaimente? © que poderiamos ‘methorar no estudo em relacdo és hipsteses? 2. Ahipdtese: “As crances de 4 » 6 anos que passam ‘8 maior quantidade de tempo vendo televisio desen- volvem mais vocabulério do que as criancas que ‘vem menos televisio” ¢ uma hipétese de pesquisa: A hipétese: “As crianeas de éreas rurais da provin- cia de Antioqua, Colémbia, veem diariamente em média tes horas de televisdo". & uma hipotese de J —— Redija uma hipotese de diferenca entre grupos @ lindique quals so 2s variavels que a integram. Que tipo de hipétese ¢ a seguinte: "A motivacSo inarinseca em relacSo a0 trabalho por parte dos exe- Ccutivos de grandes inddstras infiuencia sua produti vidade e sua mobilidade ascendente dentro da orga- nizagio"? Formule as hipéteses que correspondem Figura 6.8. Formule a hip6tese nula e a alterativa que corres- onderiam a seguinte hipdtese de pesquisa: Metodologia de pesquisa 135 Hi: “Quanto mais assertiva for uma pessoa em suas telacdes interpessoais intimas, maior ndmero de ccontlitos verbais tera.” 8. Formule uma hip6tese e defina conceitual © opera- Cionalmente suas variéveis, de acordo com 0 pro- blema que voc# desenvolveu em capulos anterior res dentro da seco de exercicios. Apatia | ses Baixas defesas do FIGURA 6.8 Formulacdo de hipstese. Exemplos desenvolvidos ‘organismo A televisdo e a crianca ‘Alqumas das hipéteses que poderiam ser formuiadas so: Hi: “As ctiancas da Cidade do México vem, em média, mais de trés horas didrias de televiséo.” Hy: “As criangas da Cidade do México nio veem, em média, mais de tes horas didras de televisto. Hg: "As criangas da Cidade do México vem, em média, menos de tés horas disrias de televiséo.” Hi: “0 meio de comunicag3o de massa mais utiizado pelas criancas da Cidade do México 6 a televisBo.” Hi: “Quanto maior for a idade, maior serd 0 uso da He televiséo.” “As criancas da Cidade do México vem mais tele- visto de segunda a sexta-feira do que nos finais de semana.” He "0s meninos e as meninas diferem quanto a0s con- teUdos televisives preteridos.* © par e a relagso ideais Embora alguns estudos conduzidos no campo das rela- ‘¢6es interpessoais e do amor tenham encontrado alguns Os pesquisadores opinam Uma das principais qualidades de um pesquisador 6 a ccuriosidade, embora também precise cultivar a observa- ‘$80, para que seja capaz de detectar ideias que o moti- ‘vem a pesquisar. fatores e atributos para descrever tanto 0 per como a ‘elagéo ideal, por exemplo: Weis ¢ Stemberg (2007) ¢ Fletcher e colaboradores (1989), nés consideramos que ‘estes foram conduzidos em contextos diferentes 30 do latino-americano, razéo pela qual ¢ preferivel partir de ‘uma perspectiva exploratéria-descritiva e no estabele- ‘cer hinoteses sobre quais fatores irdo surgir. 0 abuso sexual infantil Hi ‘Para meninas @ meninos de 4 a 6 anos, ¢ mais cconfidvel e vilido avakar os programas de preven ‘¢30 do abuso infantil com uma escala comporta- ‘mental do que com uma cognitiva, ‘Outra maneira de expressar essa hipdtese: Hi: “As escalas comportamentais que avaliam 08 pro- ‘gramas de prevencio do abuso sexual infant ter6o ‘maior validade e confiablidade do que as escalas ‘cognitivas.” Seja em uma pesquisa bisica ou aplicada, um bom ‘vabalho ¢ aquole em que a equipe especialista colocou ‘todo seu empenho na busca de conhecimento ou solu- 136 Hernandez Samper, Fernéndez Collado & Baptista Lucio ‘s80s, mantendo sempre a objetividede e a mente aberta para tomar decisdes adequadas. ‘Nas pesquisas de cardter multidisciplinar, quando 0 Propésita € encontrar a verdade a partir de diversos “Anguios do conhecimento, ¢ passivel mesclar 0 enfoque ‘quanttativo © 0 quaitativo; pois, 2 partir do enfoque aplicado, cada ciéncia mantém seus préprios métodos, categoras © especialdade. ‘Mesmo que a pesquisa realizada em meu pals ainda nfo sejasuficiente, a qualidade sempre pode ser melho- rada. Para incentivarprojetos em todas as seas neces: Sitamas do trabalho conjunto das universidades, do governo ¢ da indistria. Gladys Argentina Pineda Professora de tempo integral Facultad de Ingenieria Universided Catdica Nuestra Senora de fa Paz ais Em pesquisa, 0 estudante deve empregar acdes para descartar hipdteses desnecessarias e sair do empirismo equivocads. O docente poderé tacilitar essa tareta se orienté-lo no desenvolvimento e inicio de um projeto. Uma boa pesquisa seré obtida 8 medida que 0 espe- cialista saiba claramente 0 que quer fazer, suas ideiss, ‘suas formulacées @ sua viablidade. Para aqueles que optaram pels pesquisa quantita- tiva, além de ela representar um processo de coleta e andlise de dados com poucas margens de erro, a produ: ¢0 de dados estatisticos permite controlar 0 surgi- mento de respostas e obter resultados positives, desde ‘que possa contar com recomendarSes para melhorar os ‘abalnos quantificaveis. 0 avanco em pesquisa qualitativa foi no sentido de forialectla, pois possui diferentes opedes para que ‘possa sor reaizada, isso ndo acontece com a coats de dados mateméticos exatos. Em cada modelo experimental consideramos os ele- mentos mais apropriados para ela, e ambos podem ser mesclados: por exemplo, quando em um projeto de publicidede ou marketing precisamos defini uma série de problemas primérios € secundérios, tal conjuncSo permitiré obter melhores resultados. Para realizar uma pesquisa de mercado utiizo um pecote de andlise qualitativa, algo que muitas pessoas ‘vem como ums operarao para obter informarso e ddados, « eu concordo com isso, porque quando os resul- tados ndo so favordveis reforeamos a ideia da utlidade limitads desse pesquisa. Também apliquei a andlse qualitative em questdes propagandisticas académicas. No Panamé, esse tipo de pesquisa ¢ utlizado principalmente em relac3o 20 ccoméscio e para sondar as opinides polticas.. tic Del Rosario J. Diretor do Relaciones Publicas Universidad Tecnotigica de Penamé a Se Universidad interamericane de Panamé Professor de marketing, publicidede y vendes Columbus University de Penamé Panam Hoje, mais do que nunca, s60 necesstrios novos conhe- ‘cimentos que permitam tomar decisbes sobre os proble- mas sociais, ¢ isso 6 pode ser conseguido por meio da Pesquisa. Para obter éxito a0 realizar um projeto é necessario comecar com uma boa formulaco do problema 2, con- forme 0 tipo de estudo, definir 0 enfoque que este ter. ‘Algumas pesquisas como as de mercado ou de negécios abordam go mesmo tempo aspectos qualita- (Vj NOTAS ‘tivos © quantitatives. Nesses casos ¢ possivel utilizar ‘ambos os enfoques, sempre e de maneira complemen: tar. Mario Teresa Buitrogo Departamento de Economie Universidad Auténoma de Colombia Manizales Colémbie 1. Alguns pesquisadores consideram que essas hipdteses sio afirmacdes wnivariadas. Argumentam que as Varidveis nio se relacionam. Eles dizem que, mais do que relacionar as varidveis,o importante é saber ‘como uma variivel rd se manifestar em uma constante (no final, o grupo medido de pessoas ou abjetos € constante). Esse raciocinio tem alguma validade, por isso deixamos a crtério de cada leitor. 2. Claro que os nomes si ficticios.Sealguma novela teve esse nome (ou teri no futuro) é mera coincidencia. 3. _Asvarliveis foram retiradas de Price (1977) ¢ Hernindee Sampieri (2005) 4. O sentido que ese livre did ipdtese nula €0 mais usual: de negagdo da hipétese de pesquisa proposto por Fisher (1925). Néo propomos outras conotagies ou usos do termo (por exempla, especificar um [Parimetro zero) porque provocaria confusdes entre estudantes que se iniciam na pesquisa. Para aqueles que desejam saber mais sobre 0 tema, recomendamos as seguintes fontes: Van Dalen ¢ Meyer (1994, p. 403-404) c, sobretudo, Henkel (1976, p. 34-40). Metodologia de pesquisa 137 define certo padrao que sera encontrado nos dados, ¢ a anilise estatistica ¢ desenhada para avaliar o grau posigdcsa esse respeilo, “7 Concepcao ou escolha do desenho de pesquisa Passo 6 Escolha ou desenvolvimento do desenho apropriado para a pesquisa: ‘experimental, nao experimental ou multipia + Precisar o desenho especifico. Processo de pesquisa quantitative OQ _ Objetivos da aprendizagem ‘Ao conclu este capitulo, 0 aluno sera capaz de: 1. definir 0 significado do termo “desenho de pesquisa”, assim como as implicacBes por escolher um ou outro tipo de desenho; 2. compreender que em um estudo podem ser incluidos um ou varios desenhos de pesquis: 3. conhecer os tipos de desenhos da pesquisa quantitativa ¢ relaciond-los com os alcances do estudo; 4. compreender as diferencas entre 2 pesquisa experimental ¢ 2 no experimental; 5. anaisar os diferentes desenhos experimentais e seus graus de validade; 6. anaisar os diferentes desenhos néo experimentais e as possibilidades de pesquisa que cada um oferece; 7. realizar experimentos e estudos no experimentais; ‘8. compreender como 0 fator tempo altera a natureza de um estudo. Sintese Para que o pesquisador consiga responder as perguntas de pesquisa apresentadas e ating os objetivos do es- tudo, ele deve selecionar ou desenvoiver um determinado desenho de pesquisa. Quando estabelecemos e for- mulamos hipdteses, os desenhos também servem para submeté-las a teste. Os desenhos quantitativos podem Ser experimentais ou no experimentais Propamos uma classificaclo de desenhos no experimentais na qual consideramos: {a} 0 fator tempo ou o niimero de vezes em que os dados so coletades. 1b) 0 alcance do estudo. ‘Também deixamos claro que nenhum tipo de desenho ¢ intrinsecamente melhor do que outro, mas que formudagéo do problema, os alcances da pesquisa ¢ a formulacSo ou nBo de hipéteses e seu tipo determi ‘nam qual desenho é mais adequado para um determinado estudo, sendo também possivel utilizar mais de ‘um desenho. Desenho de pesquise eo eee ae aks moe ens tt eee ea Cea Satna eee Caracteristica Propésito. —e No CD anexo (Material comple rentario > Capit parte’, que detalha os contetidos desenvolvidos neste Capitulo emparelhamento,¢ também a séries cronolé anteriores, neste Pré-experimentos * Quase experimentos © Experimentos *“puros” aaa ‘© Tem um grau minimo de controle * Implicam grupos intactos ‘© Manipulacso intencional de varidveis (independentes) Medico de varidveis lependentes) Controle e validade ois ou mais grupos de comparacso Participantes sorteados Coleta de dados em um dnico momento Exploratérios * Descritivos | + Correlacionais ‘Analisar mudancas 80 longo do tempo ‘© Desenhos de tendéncia (trend) Desenhos de andlise evolutiva de grupos (corte) Desenho tipo painel co Cte ee ey Preece 0s) oleitor encontrard o Capitulo 5, Disefios experimentales: segunda principalmente no que se refere a técnica de sorteio cas, fatoriais ¢ quase experimentos. Parte do material que estava cm ed tuo, foi atualizada e transferida para o CD (ou seja, ndo foi eliminada), Pee eer eet eres > 14.0 Homandoz Sampior, Fornander Collado & Boprista Lucio oa: DESENHO Plano de cea ou estratégia que desenvolvermos para obtor a informago que ueremos em uma pesquisa. Oa? Oa; _¥/ 0 QUE é UM DESENHO DE PESQUISA? Quando a formulacao do problema se tornau mais precisa, o alcance inicial da pesquisa foi defini- do ¢ as hipoteses foram formuladas (ou ndo, devido a natureza do estudo), entao o pesquisador deve pensar em uma maneira pritica e concreta de responder as perguntas de pesquisa, além de atingir 05 objetivos fixados. Isso implica selecionar um ou mais desenhos de pesquisa e aplici-los a0 contexto especifico de seu estudo, O termo desenho se refere ao plano de acio ou estratégia criado pata obter a informagio que se deseja. No enfoque quantitativo, o pesquisador utiliza seu desenho ou desenhos para analisar se as hipoteses formuladas em um contexto determinado estao corretas ou para fornecer evidéncia a res peito das diretrizes da pesquisa (desde que ela ndo tenha hipdteses). Para quem esta iniciando na pesquise, sugerimos que comece com estudos baseados em um s6 de senho, para depois desenvolver indagacoes que impliquem mais de um desenho, desde que a situagao de pesquisa assim exigit. Utilizar mais de um desenho aumenta consideravelmente 05 custos da pesquisa. Para conseguir visualizar mais claramente essa questo do desenho, vamos lembrar uma per- gunta coloquial do capitulo anterior: Sera que Paola gosta de mim? Por que sim ou por que nao? F a hipétese: “Paola me acha atraente porque fica sempre me olhando” desenho seria 0 plano de ago ou a estratégia para confirmar se € ou nao correto que sou atraente para Paola (o plano de agao incluiria procedimentos ¢ atividades propensas a encontrar a resposta para a pergunta de pesquisa). Nesse caso, poderia ser: amanha vou bus car Paola depois da aula de estatistica, vou me aproximar dela, direi que ela esta muito bonita c a convidarei para tomar um café. Quando estivermos na cafeteria ‘vou segurar sua mao, ¢, s¢ ela nao retird-la, eu a convidarei para jantar no proxi- mo fim de semana; caso ela aceite, no local onde estivermos jantando comentarei que a acho atraente e perguntarei se ela me acha atraente. Entao, posso selecionar ou criar outra estratégia, tal como convidé-la para dangar ou ir a0 de jantar; ou, ainda, caso conheca varias amigas de Paola e também seja amigo delas, posso pergun- tar se elas acham que sou atraente para Paola. Na pesquisa, dispomos de diferentes tipos de dese~ hos preconcebidos ¢ devemos escolher um ou varios entre as alternativas existentes, ou desenvol- ver nossa propria estratégia (p. ex., convidi-la para ir a0 cinema e dar um presente para observar qual ¢ sua reagéo ao reccbé-lo).. Seo desenho foi cuidadosamente elaborado,o produto final de urn estudo (seus resultados) teré mais possibilidades de éxito para gerar conhecimento, Pois selecionar um tipo de desenho ou outro faz toda diferenga: cada um possui suas caracteristicas préprias, conforme poderemos ver a seguit. "Nao € 0 mesmo perguntar diretamente a Paola se ela me acha atraente do que perguntar a suas ami- gas; ou em ver de interrogé-la verbalmente pode-se analisar sua conduta nao verbal (como me clha, quais sdo suas reagdes quando a abraco ou quando me aproximo dela, etc.). Como também nao sera ‘omesmo se a questiono diante de outras pessoas do que se pergunto estando somente os dois. A pre- cisdo, a extensio ¢ a profundidade da informagio obtida variam em fungi do desenho escolhido. 'W COMO DEVEMOS APLICAR 0 DESENHO ESCOLHIDO OU DESENVOLVIDO? Dentro do enfoque quantitativo, a qualidade de uma pesquisa esta relacionada ao miimero de veres que aplicamos o desenho tal como foi preconcebido (principalmente no caso dos experimentos). Assim, em qualquer tipo de pesquisa o desenho deve ser adaptado diante de possiveis contingéncias ‘ou mudangas na situacao (p. ex., um experimento no qual 0 estimulo experimental nao funciona, este deverd ser modificado ou adaptado), ‘NO PROCESSO QUANTITATIVO, DE QUAIS TIPOS DE DESENHOS DISPOMOS PARA PESQUISAR? ‘Na literatura sobre a pesquisa quantitativa, é posstvel encontrar diferentes classificagdes dos desenhos. Nesta obra adotamos a seguinte classificacio:! pesquisa experimental e pesquisa nao experimental. primeira pode ser dividida como as clissicas categorias de Campbell e Stanley (1966) em: pré-experi- mentos, expetimentos “puros” e quase experimentos” A pesquisa nao experimental & subdividida em Merodolagia do pasouisa 141 desenhos transversais e desenhos longitudinais, Dentro de cada classificagio comentaremos as dese- rnhos especificos. Sobre os desenhos da pesquisa qualitativafalaremos em outro item do livro, Em termos gerais, nao consideramos que um tipo de pesquisa ~e 0s seus respectivos desenhos —seja melhor do que outros (experimental versus nao experimental). Como mencionam Kerlinger «Lee (2002), ambos slo relevantes € necessirios, jf que tém um valor préprio. Cada um possui st caracteristicas, ea decisio sobre que tipo de pesquisa e desenho espeeifico selecionaremos ou de- senvolveremos depende da formulagao do problema, o alcance do estudo ¢ as hipsteses formuladas. [W/ DESENHOS EXPERIMENTAIS que é um experimento? © termo expetimento possui pelo menos duas acepgées, uma geral e outra especifica. A goral se re- fere a “escolher ou realizar uma aso” e depois observar as consequéncias (Babbie, 2009). Esse uso do termo ¢ muito coloquial: assim, falamos de “experimentar” quando misturamos substancias quimicas e vemos 2 reagio provocada, ou quando mudamos de penteado e observamos o efeito qui essa transformagio suscita em nossos amigos. A esséncia dessa concepgio de experimento & que exige « manipulagdo intencional de uma a¢ao para analisar scus possiveis resultados. Uma acepeao especifica de experimento, mais de acordo com um sentido cientifico do termo, ‘a um estudo em gue sio manipuladas intencionalmente uma ou mais variveis indepen dentes (supostas causas-antecedentes). para analisar as consequéncias que a manipulagao tem so bre uma ou mais variveis dependentes (supostos efeitos-consequentes), dentro de uma situagao de controle para o pesquisador. Essa definigao talvez possa parecer complexa; no entanto, conforme formos analisando seus componentes seu sentido se tornard mais claro (ver Figura 7.1), Causa feito (varidvel independente} (varidvel dependente) x —<$_______________» FIGURA 7.1 Esquema de experimento e variavels. Creswell (2009) denomina os experimentos como estudos de intervengao, porque um pes- quisador cria uma situacao para tentar explicar como ela afeta aqueles que participam delz em comparacéo com aqueles que nao participam. E, possivel experimentar com seres humanos, seres vivos € certos objetos, Os experimentos manipulam tratamentos, estimulos, influéncias ou intervengies (denomi- nadas variaveis independentes) para observar seus efeitos sobre outras vatidveis (as dependentes) em uma situagao de controle. Vamos vé-los graficamente na Figura 7.2, (Ou seja, os desenhos experimentais sio utilizados quando o pesquisador pretende determinar 6 possivel efeito de uma causa que manipula. Mas, para determinar influéncias (p. ex. dizer que tratamento psicol6gico reduza depressao), é necessirio preencher varios requisitos que serao mos trados a seguir Entao, existem ocasioes em que nao podemos ou nao devemos experimentar, Por exemplo, ino podemos avaliar as consequéncias do impacto — deliberadamente provocado — de um meteori to sobre um planeta, o estimulo ¢ impossivel de ser manipulado (quem consegue enviar um meteo: tito em determinada velocidade para que se choque com um planeta?). Também nao podemos ex- perimentar com fatos passados, assim como nao devemos realizar determinado tipo de experimen- tos por questdes éticas (p. ex., experimentar em seres humanos um novo virus para conhecer sua evolugao). Claro que jd foram realizados experimentos com armas bacteriolégicas e bombas atomi «as, eastigos fisieos com prisioneiros, deformagies no corpo humane, etc., mas sio situagies que 10 devem ser permitidas em citcunstincia alguma, Qual é 0 primeiro requisito de um experimento? primeiro requisito é2 manipulagao intencional de uma ou mais varidveis independentes. A varisvel independente é a que se considera suposta causa em uma relagao entre varidveis, € condi dente, ¢ 0 efeito provocado por essa causa ¢ denominado de varidvel dependente (consequente). 142 Homandez Sampieri, Feréndez Colado & Baptista Lucio interveneéo, etc. Variével ‘nf em... Ng del eee independente (suposta causa) ee FIGURA 7.2 Exempios da relacio de varidveis independente @ dependents. E como foi mencionado no capitulo anterior referente as hipéteses, 0 pes- quisador pode incluir em seu estudo duas ou mais varidveis independentes. Quando realmente existe uma relagio causal entre uma variével independente e ‘uma dependente, ao variar intencionalmente a primeira, a segunda também iri ‘arar, Por exemplo, ea motivacio for a causa da produtividade, a0 varia a mo- tivacto a produtividade devera varar =u ‘Um experiment é realizado para analisar se uma ou mais varidveis inde- cee ralia dependents | pendentes afetam uma ou mais varlaves dependentes por que fazem iss. Por (efeitos) enquanto, vamos simplificar o problema de estudo em uma varidvel independen- te e uma dependente. Em um experimento, a variavel independente é mais inte- ressante para o pesquisador, pois hipoteticamente seré uma das causas que pro- duzem o suposto efeito. Para obter evidéncia dessa suposta relagio causal, o pesquisador manipula a varidvelindependentee observa sea dependente varia ou nao. Aqui, manipilar¢ sindnimo de fa zer variar ou dar diferentes valores 4 variavel independente. EXPERIMENTO Situacdo de controle na qual manipulamos, de ‘maneira intencional, uma ou mais variaveis independantes (causas} para analisar as consequéncias Exemplo ‘Se um pesquisador quisesse analisaro possiveleteito dos conteddos televisivas antissociais na conduta ‘apressiva de determinadas criancas, ole podesia fazer que um grupo visse um programa de televisio com ‘258 tipo de contaado « outro visse um programa com conteado pr6-social, e depos ria observar qual dos ois grupos apresenta mais conduta agressiva. A hipdtese de pesquisa poderia mostrar o seguinte: “A exposico das criancas a conteddos antssocisis, terd a tendéncia de provocar um aumento em sua conduta agressive”. Desse modo, caso descubra que o ‘grupo que viu o programa antissocial apresenta mais conduta agiessiva em relacSo 20 grupo que vu o programa pré-social, ¢ que no hd outra possivel causa que possa ter afetado os grupos de maneira desi- ‘ua, ee comprovaria sua hipdtese (© pesquisador manipula ou faz oscil a vaidvel independente para observaro efeito na dependente, @ {az isso dando a ola dois valores: presenca de conteddos antissociais na tetevisto (programa antisocial) © ‘auséncia de contedos antissociais na televiséo (programa pré-sociall. O experimentador realize 2 vaiarb0 ‘de mansira proposital (ndo ¢ casual: possui o controle dreto sobre a manipulacSo # cria as condigBes para oferecer 0 tipo de variagso desejaco. Metodologia de pesquisa 143 Em um experimento, para que uma varidvel saja consderada independente, ela deve preencher 16s requistos: 1. amteceder a dependente: 2. vasiar ou ser manipulada; 3. poder controlar essa variaSo. A varidvel dependente pode ser medida A varlivel dependente ndo pode ser manipulada, mas medida, para ver o efeito que a manipulagio da variavel independente tem sobre ela. Isso pode ser esquematizado da seguinte maneira: Manipulagao da Medigdo do efeito sobre variivel independente a varidvel dependente Xa ¥ X5 A letra “X costuma ser utilizada para simbolizar uma varidvel independente ou um trata- ‘mento experimental, eas letras ou subindices “s,y..” indicam diferentes niveis de variagao da inde- pendente, a letra “Y”é utilizada para representar uma variavel dependente. Niveis de manipulacdo da variavel independente ‘A manipulagio ou variagio de uma variivel independente pode ser realizada em dois ou mais ni- veis. O nivel minimo de manipulagio é de presenga-auséncia da varidvel independente. Cada nivel ou grau de manipulagdo envolve um grupo no experimento. Presenga-auséncia Esse nivel ou grau implica que um grupo se expoe a presenga da varidvel e 0 outro nado, Posterior- mente, os dois grupos sio comparados para saber se o grupo exposto a varidvel independente dife- re do grupo que nio foi exposto. Por exemplo, para um grupo de pessoas com artrite se administra o trata- mento médico e para 0 outro grupo, nao. O primeiro grupo é conhecido como grupo experimental, eo outro, no qual a varidvel independente estd ausente, é de- nominado grupo controle. Mas, na verdade, ambos os grupos participam do ex- perimento, Depois observamos se houve ou nio alguma diferenga entre os grupos no que se refere a cura da doenga (artrite). A presenca da varidvel independente normalmente é chamada de “tratamento experimental’, “intervengao experimental” ou “estimulo experimental”. Ou seja, 0 grupo experimental recebe 0 tratamento ou o estimulo experimental ou, 0 que dé no mesmo, é exposto a variavel independente; © grupo controle nao recebe o tratamento ou o estimulo experimental. Entio, 0 fato de que um dos grupos nao se exponha ao tratamento experimental no sig- | gaupo experimental € aquele nifica que sua participacao no experimento seja passiva. Ao contrério, significa J que recebe 0 tratamento ou 0 que realiza as mesmas atividades que o grupo experimental, exceto ser submetido | estimulo experimental a0 estimulo. No exemplo da violéncia televisionada, se o grupo experimental vai ‘GRUPO CONTROLE Também ‘conecide como grupo testemunha. 144 Hemandez Sampiei, Fersndex Colado & Baptista Lucio ‘ver um programa de televisio com contetide violento, o grupo controle poderia ver © mesmo pro- sgrama, mas sem as cenas violentas (outra versio do programa). Se a ideia fosse experimentar com ‘um medicamento, o grupo experimental iria consumir 0 medicamento, enquanto 0 grupo contro- Je consumiria um placebo (p. ex., uma suposta pilula que na verdade é uma bala com baixo teor de agicar). Geralmente, em um experimento ¢ possivel afirmar o seguinte: se em ambos os grupos tudo foi “igual” menos a exposicio a variivel independente, é muito razoivel pensar que as diferencas entre 0s grupos sio devido presenca-auséncia dessa varidvel. Mais de dois niveis Outras vezes, é possivel fazer variar ou manipular a varidvel independente em quantidades ou nic veis. Vamos supor mais uma vez que queremos analisar 0 possivel efeito do contetido antissocial na televisio sobre a conduta agressiva de determinadas criangas. Poderiamos fazer com que um grupo fosse exposto a um programa de televisto extremamente violento (violencia fisica e verbal); um se- gundo grupo fosse exposto a um programa medianamente violento (apenas violéncia verbal terceiro a um programa sem violéncia ou pro-social. Nesse exemplo, haveria trés niveis ou quanti- dades da varidvel independente, que ¢ representado da seguinte maneira: X, (programa extremamente violento) X: (programa medianamente violento) = (auséncia de violéncia, programa pré-social) Manipular a varifvel independente em virios niveis tem a vantagem de ndo s6 podermos de- terminar se a presenca da variavel independente ou o tratamento experimental tem um efeito, mas também se diferentes niveis da variivel independente produzem efeitos diferentes. Ou seja, se 0 ta- manho do efeito (¥) depende da intensidade do estimulo (X;, X» Xp ete.). Entio, quantos niveis de variacio devem ser incluidos? Nao existe uma resposta exata, depen- de da formulagao do problema e dos recursos disponiveis. Do mesmo modo, os estudos prévios ¢ a experiéncia do pesquisador podem nos dar uma luz nesse sentido, pois cada nivel envolve um gru- po experimental a mais. Por exemplo, no caso do tratamento médico, dois niveis de variagao podem ser suficientes para testar seu efeito, mas se tivermos de avaliar os efeitos de diferentes doses de um medicamento, vamos ter tantos grupos quanto doses e,além disso, 0 grupo controle. Modalidades de manipulacéo em vez de niveis Existe outra forma de manipular uma varidvel independente, que consiste em expor os grupos ex- perimentais.a diferentes modalidades da varidvel, mas sem que isso envolva quantidade. Por exem- plo, experimentar com tipos de sementes, meios para comunicar uma mensagem a todos 0s execu- tivos da empresa (e-mail versus telefone celular ou celular versus memorando escrito), vacinas, esti- Jos de argumentagdes de advogados em tribunais, procedimentos de construgao ou materiais. As vezes, a manipulagio da varidvel independente provoca uma combinagio de suas quantidades ‘emodalidades Os designers de automéveis fazem experiéncia com o peso do chassi (quantidade) eo ma- terial com 0 qual éconstruido (modalidade) para conhecer seu efeito na aceleracio de um veiculo, Finalmente, precisamos insistir que cada nivel ou modalidade envolve, pelo menos, um gru- po. Se houver trés niveis (graus) ou modalidades, teremos no minimo trés grupos. [] COMO DEFINIMOS A MANEIRA DE MANIPULAR AS VARIAVEIS INDEPENDENTES? Quando manipulamos uma varidvel independente é necessério especificar qual é 0 significado dessa variavel no experimento (definicao operacional experimental). Ou seja, transferir 0 concei- Metodologia de pesquisa 145 to te6rico para um estimulo experimental. Por exemplo, se a variivel independente a ser mani- pulada for a exposicao a violencia televisionada (em adultos), o pesquisador deve pensar como iré transformar esse conceito em uma série de operagées experimentais. Nesse caso, poderia ser: a violéncia televisionada ser operacionalizada (transportada para a realidade) mediante a expo- sigio a um programa no qual haja brigas e pancadas, insultos, agressies, uso de armas de fogo, crimes ou tentativas de crimes, portas arrombadas, pessoas aterrorizadas, perseguicdes, etc. A partir dai, selecionamos um programa em que essas condutas sejam mostradas (p. ex., CSI, Pri- sion break ou Law & order, ou uma novela produzida na América Latina ou uma série espanhola em que esses comportamentos sejam apresentados). Assim, 0 conceito abstrato se transforma em um referente real. ManipulacSo intencional de uma ‘ou mais varidveis independentes: Medir 0 eteito que uma ou -Procurar a validade “mais variveis independentes tém Sane ‘externa da situacdo. ‘sobre uma ou mais devendentes etate ieor: experimental FIGURA 7.3 Requisitos de um experimento. ‘Vamos ver como um conceito te6rico (grau de informagao sobre a deficiéncia mental) foi tra- duzido, na pritica, em dois niveis de manipulacio experimental. Exemplo aves e Poplawsky (1984) elaboraram um experimento para testar a sequinte hipStese: “Quanto maior for © grau de informaco do sujeito comum sobre a deficincia mental, menor serd a evitaco na interaco com 0 deficiente mental” + ‘A varisvol indopendente foi “o grau de informago sobre a deficitacia mental” (ou, melhor dizendo, Ccapacidade mental diferente); © a dependente, “a conduta de evitacSo na interaco com pessoas com Ccapacidades mentais sho dferentes”. A primeira foi manipulada por dois niveis de informacdo: 1) informa ‘glo cultural ¢ 2) informaco sociopsicoldgica sobre esse tipa de capacidade mental. Portanto, teve dois informagSo cultural e outro com intormagdo sociopsical6gica. O primeiro grupo ndo rece- e informacko sabre 2 deficincia mental ou a capacidade mental diferente, pois a supo- Sicdo foi: “que tode individuo, por pertencer & determinada cultura domina esse tipo de informacio, que Consiste em noctes gerais e normalmente estersctipadas sobre a deficdncia mental; © que podemos con- Clie com isso & que, se um sujeito baseia suas previsdes sobre a conduta do outro no nivel cultural, obteré uma precis3o minima e poucas probabilidades de controlar o evento comunicativo” (Naves e Poplawsty, 1984, p. 119). 0 segundo grupo foi a um centro de tiinamento para pessoas cujas capacidades mentais sio diferen- tes onde teve uma reuniio com #s, que proporcionaram informacSo sociopsicolégica (algumas contaram seus problemas no trabalho e suas reaches com superires e colegas, e também trataram de temas como © amor ¢ a amizade). Esse grupo pode observar 0 que ¢ a “deficiéncia mental ou capacidade mental dife- rente”, como ela ¢ tratada clnicamente e seus efeitos no dia a dia de quem a possui, aiém de recebor informacSo sociopsicotégica a respeit. Depois, todos os partcipantes foram expostos a uma interagSo surpresa com um suposto individu ‘com eapacidade mental diferente (que, na verdade, ere um ator treinado para se comportar como “def ‘iente mental” @ com conhecimento sobre o assunto.* A situaclo experimental foi rigorosamente contro, 146 Homandez Sampiari, Feréndex Colado & Baptista Lucio lada e as interagdes foram filmadas para medir 0 grau de evitacio em relacSo 20 sujeito com capacidade ‘mental diterente,utiizando quatro dimensdes: a) distancia tsiea, 'b) movimentos corporais que denotavam tensio, } conduta visual @ ) conduta verbal. A hipStese foi comprovada, pois 0 grupo com informarSo cultural mostrou uma maior conduta de evi- taco que 0 grupo cam infarmacko sociopsicalégica Dificuldades para definir como as varidveis independentes sero manipuladas As vezes, nao € tio dificil transferir © conceito te6rico (varidvel independente) para operagies praticas de manipulagao (tratamentos ou estimulos experimentais). Manipular o saldrio (quan- tidades de dinheiro pago), o feedback, o reforco e a administracio de um medicamento nao é muito dificil. No entanto, as vezes, ¢ realmente complicado representar 0 conceito teérico na re- alidade, sobretudo com variveis internas, variiveis que podem ter diversos significados ou vari- dveis que sejam dificeis de alterar. A socializagao, a coesio, a tolerincia, o poder, a motivagao in dividual e a agressio sto conceitos que exigem um esforco enorme do pesquisador para que pos- sam ser operacionalizados. Guia para superar as dificuldades Para definir como iremos manipular uma variavel € necessirio: 1. Consultar experimentos antecedentes para ver se neles a forma de manipular a varidvel inde- pendente foi bem-sucedida. Nesse sentido, é imprescindivel analisar se a manipulacdo desses estudos pode ser aplicada ao contexto especfico do nosso, ou como poderia ser extrapolada para nossa situasdo experimental, 2. Avaliar a manipulasio antes de realizar o experimento. Existem varias perguntas que 0 experimentador deve fazer para avaliar sua manipulacdo antes de realizd-la: as operacoes experimentais representam a variével conceitual que se tem em mente? Os diferentes niveis de variagao da varidvel independente fardo com que 0s sujeitos de comportem de forma di- ferente (Christensen, 2006)? Quais outras maneiras existem para manipular a varidvel? Esta é a melhor? Se o conceito tedrico ndo pode ser transferido adequadamente para a realidade, no final talvez tenhamos realizado outro experimento bem diferente daquele que pretendiamos. ‘Se nossa intengao fosse averiguar o efeito da ansiedade na memorizacao de conceitos, € nossa ‘manipulagao fosse errdnea (em vez de provocar ansiedade, gerasse resisténcia), os resultados do experimento talvez nos ajudassem a explicar a relacio resisténcia-memorizacao de conceitos; ‘mas de maneira alguma servirio para analisar o efeito da ansiedade na memorizagio. E, a0 nao percebermos isso, podemos achar que estamos dando alguma contribuicao quando, na verdade, nao estamos. Do mesmo modo, se a presenga da variavel independente no ou nos grupos experimentais for preciria, provavelmente nao serio encontrados efeitos, mas isso nio significa que eles no cexistam. Se o que pretendemos € manipulara violéncia televisionada e nosso programa nao € realmente violento (inclui um ou outro insulto e algumas sugestbes de violéncia fisica) e no encontramos um efeito, ndo podemos realmente afirmar ou negar que exista um efeito, porque a manipulagao foi preciria, 3. _Incluir veriicagies para a manipulacio. Quando experimentamos com pessoas, existem varias formas de verificar se a manipulacao realmente funcionou. A primeira ¢ entrevistar os parti ¥" ow “X ¥°; isto é, que ha correlagao ou que nao existe nenhuma relagao). Na estratégia de experimentagdo, o pesquisador nao manipula uma varidvel apenas para comprovar a covariagao, 56 que ao efetuar um experimento é necessdrio realizar uma observasao controlada (Van Dalen e Meyer, 1994), Uma terceira forma de dizer isso € que conseguir controle em um experimento significa repri- mira influéncia de outras variéveis estranhas sobre as varidveis dependentes, para assim saber real- mente se as varidveis independentes que nos interessam tém ou nao efeito nas dependentes. [sso po- deria ser esquematizado da seguinte maneira (ver Figura 7.5): (estranhas ¢ fontes de invalidacSo} ‘Controle: | 9 er x X ide interesse, varidvel Vemos seu efeito Y (verivel independente manipu- - dependente mensurada) lsd) ou sua auséncia FIGURA 7.5 Experimentos com controle das variaveis estranhas. (Ou seja,"purificamos”a relagao de X (independente) com ¥ (dependente) de outras possiveis fontes que possam afetar ¥ e“contaminar” o experimento. Isolamos as relagdes que nos interessam. Se 0 que queremos € analisar 0 efeito que um comercial pode ter sobre a predisposi¢ao de comprar Metodologia de pesquisa 149 © produto anunciado, sabemos que talver existam outras razdes ou causas pelas quais as pessoas pensam em comprar 0 produto (qualidade, preco, caracteristicas, prestigio da marca, etc.), Ento, no experimento é preciso controlar a possivel influéncia dessas outras causas, para que assim pos- samos saber se 0 comercial tem ou nao algum efeito. E, no caso contririo, se observamos que a pre- disposicio de compra é elevada e nao existe controle, nao temos como saber se © comercial éa cau sa ou se s4o 0s demais fatores. (0 mesmo acontece com um métode de ensino, quando por meio de um experimento quere- ‘mos avaliar sua influéncia na aprendizagem. Se no houver controle, no poderemos saber se uma boa aprendizagem se deveu a0 método, 20 fato de os participantes serem extremamente inteligen- tes,a0 de terem conhecimentos accitaveis sobre os contetidos ou por qualquer outro motivo. Se nao houver aprendizagem, nio saberemos se isso foi porque os sujeitos estavam muito desmotivados em relagao aos contetidos a serem ensinados, porque eram pouco inteligentes ou por qualquer ou- tra causa. Ou sea, tentamos descartar outras possiveis explicagées para avaliar se a nossa é ou no 4 correta (variaveis independentes de interesse, estimulos ou tratamentos experimentais que tém 0 efeito que nos interessa comprovar). Essas explicagbes rivais sio as fontes de invalidacio interna (que podem invalidar 0 experimento). Fontes de invalidacao interna Existem diversos fatores que talvez nos confundam e sejam 0 motivo de ndo sabermos mais se a pre- senca de uma varidvel independente ou um tratamento experimental provoca ou nio um efeito ver- dadeiro. S20 explicagbes rivais em relagio aquela que diz que as variévels independentesafetam as de- pendentes. Campbell e Stanley (1966) definiram essas explicacées rivais, que foram ampliadas por ‘Campbell (1975), Christensen (2006) e Babbie (2009). Flas sto conhecidas como fontes de invalida- «ao interna porque ameacam (sio contra) precisamente a validade interna de um experimento. Esta se refere ao grau de confianga que temos na possibilidade de interpretar os resultados do experimento € que estes sejam validos. A validade interna esta relacionada com a qualidade do experimento ¢ ela € ‘conquistada quando existe controle, quando os grupos diferem entre si somente na exposi¢io a vari- vel independente (auséncia-presenga ou em niveis ou modalidades), quando as medigées da variavel dependente sto confiaves e vilidas e quando a andliseéa adequada para o tipo de dados com os quais ‘estamos trabalhando. O controle em um experimento é alcansado eliminando essas explicagdes rivais ou fontes de invalidacao interna. Na Tabela 7.1 mencionamos rapidamente algumas dessas fontes de invalidacio: uma explicacio mais detalhada, assim como exemplos ¢ outras fontes potenciaiso leitor poder encontrar no CD anexo > Capitulo 5, “Disefios experimentales: segunda parte”. » [M7 COMO CONSEGUIR 0 CONTROLE E A VALIDADE INTERNA? Em um experimento ¢ 0 controle que consegue a validade interna ¢ cle ¢ alcangado mediante: varios grupos de comparacao (no minimo dois); ._equivaléncia dos grupos em tudo, exceto na manipulayio da ou das variaveis independentes. Varios grupos de comparago Em um experimento é necessirio ter, pelo menos, dois grupos para comparar. Primeiro, porque se ti- vyermos apenas um grupo nao é possivel saber com certeza se as fontes de invalidacao interna tiveram influéncia ou nio. Por exemplo: se com um experimento queremas testar a ipétese:“quanto mais in- formacao psicolégica se tiver sobre uma classe social, menor sera o preconceito em relacio a ela’. Se nossa decisio foi ter somente um grupo no experimento, poderiamos expor os sujeitos a um progra- ma de sensibilizacao no qual fosse proporcionada informagio sobre a maneira como essa classe vive, suas angiistias e problemas, necessidades, sentimentos, contribuigdes para a sociedade, etc; para em seguida observar o nivel de preconceito (o programa incluiria palestras de especialistas filmes e de- poimentos gravados, leituras, etc). Esse experimento poderia ser esquematizado assi 150 Hemandee Samper, Fernindez Colado & Baptista Lucio TABELA 7.1 Momento I Exposigdo ao programa de sensibilizagio Principais fontes de invalidacBo interna® Momento 2 Observacae do nivel de preconceito Maturaco Instabiidade do ‘nstrumento de medica Instabiidade do ambiente experimental Aplicacéo de testes {nstrumentacio Regressio Selerio Morialidade Difusdo de tratamentos Conduta do experimentador Eventos ou acontecimentas que ocorrem durante 0 ‘experiment € inflvenciam somente aiguns dos partctpantes. Os partcipantes podem mudar ou amadurecer durante 0 ‘experimento e isso pode afetar os resultados. Pouca ou nula confiabiidade do instrumento. ‘As condigBes do ambiente do experimenta no sio iguais pera todos os grupos paricipantes. (Que a aplicaco de um teste cu instrumento de medica ‘antes do experimentoinfluencie as respostas dos Individuos quando o teste for aplicado apds 0 experiment Alembrem suas respostas). (Que os testes ou instrumentos aplcados nos diferentes ‘rupos partcinantes néo sejam equivelentes. ‘Selecionarparticipantes que tenham pontuagdes extremas, na vatidvel medida (casos extemos) e que sua avaliacSo ‘eat ndo seja medida. ‘Que os grupos do experimento no sejam equivalentes. (Que os participantes abandonem o experimento (Que os participantes de diferentes grupos se comuniquem € isso afete os resuitados. ‘Que os participantes do grupo controle percebam que ‘no recebem nada e isso 05 desanime @ afete os resultados. (Que o comportamento do experimentadar afete os resultados. Assegurar-se de que os particinantes dos grupos ‘experimentais e controle tenham contato com os ‘mesmos eventos. Selecionar partcipantes para os grupos que smudem ou amadurecam de manera similar durante 0 experimento. Elaborar um instrumento estivele confidvel. Conseguir que as condicées ambientais seam as smesmas pars todos os grupos. Ter testes equivalentes e confidveis, mas que no sejam as mesmas e que 0s grupos comparedos s8jam equiparaveis, AAplicar 0 mesmo teste ou instrumento para todos ‘05 individuos ou grupos particinantes, Escother partcipantes que no tenham pontuares ‘extremas ou que estejam passando por um momento fora do normal. Conseguir que os grupos sejam equivalentes. Recrutar 0 nimero suficiente de participates para todos os grupos. Durante o experimento manter os grupos tio sseparados quanto for possivel. Oferecer beneticos para todos os grupos partcipantes. ‘Agir da mesma forma com todos 0s grupos @ ser ‘objetivo ‘Tudo em um tinico grupo. O que acontece se observamos um nivel baixo de preconceito no grupo? Podemos deduzir com absoluta certeza que foi por causa do estimulo? E claro que nao. Pode ser que o nivel baixo de preconceito se deva ao programa de sensibilizacao, que é a forma de mani pular a variivel independente “informa¢io psicoldgica sobre uma classe social”, mas também a0 fato de que os participantes tinham um nivel baixo de preconceito antes do experimento ¢, na ver dade, o programa nao afetou. E isso no podemos saber, porque nao hé uma mensuraco do nivel de preconceito no inicio do experimento (antes da apresentagdo do estimulo experimental); ou seja, nio existe ponto de comparacio. Mas, ainda que esse ponto de contraste inicial existisse, com apenas um grupo nao poderiamos ter a certeza sobre qual foi a causa do nivel de preconceito. Va Metodologia de pesquisa 151 ‘mos supor que o nivel de preconceito antes do estimulo ou tratamento era alto e, depois do estimu lo, baixo. Talvez o tratamento seja a causa da mudanca, mas talvez tenha acontecido o seguinte: ‘Que o primeiro teste de preconceito tenha sensibilizado os sujeitos participantes einfluenciado ‘suas respostas para o segundo teste. Assim, as pessoas passaram a ter consciéncia sobre como negativo ser preconceituoso a0 responder o primeiro teste (aplicagao de teste). 2. Que osindividuos selecionados ficaram cansados durante o experimento e suas respostas para © segundo teste foram “as pressas” (maturagio). 3. Que durante o experimento os sujeitos preconceituosos sairam ou entdo uma parte importante deles (mortalidade experimental). ‘Ou, ainda, outras razdes. E, caso nao se tivesse observado uma mudanca no nivel de precon- ceito entre o primeiro teste (antes do programa) e o segundo (depois do programa), isso poderia significar que a exposicdo ao programa nao tem efeitos, embora também pudesse acontecer de 0 grupo selecionado ser muito preconceituoso ctalvez 0 programa tenha, sim, efeitos em pessoas com niveis normais de preconceito. Se a mudanga for negativa (maior nivel de preconceito na segunda ‘mensuracio do que na primeira), também poderiamos supor que programa aumenta 0 precon- ceito, mas vamos supor que algo tenha acontecido durante o experimento criando momentanea- ‘mente preconceitos contra essa classe social (um arrombamento no local provocado por um indi- viduo dessa classe), s6 que depois 0s participantes “retornaram” ao seu nivel normal de preconceito (regressio), Também poderiam existir outras explicagoes. ‘Apenas com um grupo nao poderiamos ter a certeza de que os resultados foram por causa do cstimulo experimental ou por outras razdes. A duivida sempre estar presente. Os “experimentos” com um grupo se baseiam em suspeitas ou no que “aparentemente ¢”, mas precisam de fundamen- tos. Quando se tem um tinico grupo, corremos 0 risco de selecionar sujeitos atipicos (os mais inte- ligentes ao experimentar com métodos de ensino, os trabalhadores mais motivados ao experimen tar com programas de incentivos, os consumidores mais criticos, os casais de namorados mais inte- grados, etc.) e de que a hist6ria, a maturacao e as demais fontes de invalidagao interna interfiram, sem que o experimentador perceba. Por isso, 0 pesquisador deve ter, ao menos, um ponto de comparagao: dois grupos, um no qual se aplica o estimulo e outro em que nao se aplica (o grupo controle).’ Conforme foi mencio- nado a0 falarmos sobre manipulacdo, as vezes a exigéncia ¢ ter virios grupos porque queremos ave- riguar o efeito de diferentes niveis ou modalidades da varidvel independente. Equivaléncia dos grupos No entanto, para ter controle, nao basta ter dois ou mais grupos, eles também precisam ser simila- res em tudo, menos na manipulacio da ou das variiveis independentes. O controle implica que tudo permanece constante, salvo essa manipulacio ou intervencio. Se entre dois grupos que for- ‘mam o experimento tudo ¢ similar ou equivalente, exceto a manipulacio da varidvel independente, as diferencas entre os grupos podem ser atribuidas a ela e nio a outros fatores (entre os quais est3o as fontes de invalidagao interna). ‘Vamos imaginar que queremos testar se uma série de programas educativos de televisdo para criancas gera maior aprendizagem se comparado com um método educative tradicional. Um gru- po recebe o ensino com os programas, outro grupo o recebe da instrucao oral tradicional e um ter- ceiro grupo dedica esse mesmo tempo brincando livremente na sala de aula. Vamos supor que as criangas que aprenderam com os programas obtém as melhoras notas em um teste de conhecimen- tos referente aos conteidos ensinados, aqueles que receberam 0 método tradicional obtém notas muito mais baixas ¢ aqueles que brincaram obtém pontuacées de zero ou préximas a esse valor. Aparentemente, 0s programas sto um veiculo melhor de ensino do que a instrugao oral. Mas, se os grupos nao sio equivalentes, entio nao podemos confiar que as diferencas se devam, na verdade, & ‘manipulacio da variivel independente (programas de televisio-instrucio oral) e nao a outros fato- res, ou 3 combinagio de ambos. Por exemplo, porque as criangas mais inteligentes, estudiosas e ‘mais empenhadas foram colocadas no grupo que foi instruido pela televisio, ou simplesmente por- que sua média de inteligincia e aproveitamento era a mais elevada; ou a instrutora do método tra- 152 Hemandez Sempiari, Ferndez Colado & Baptista Lucio EQUIVALENCIA INICIAL Signitica ‘que 0s grupos slo similares no ‘momento em que iniciamos 0 ‘experimento. dicional nao tinha um bom desempenho, ou as criancas expostas a ese diltimo método receberam ‘uma carga maior de trabalho e tinham provas no dia em que 0 experimento foi realizado, etc. Quanto se deveu ao método € quanto a outros fatores? Para o pesquisador, a resposta para essa per- sgunta passa a ser um enigma: nao existe controle. ‘Se fossemos experimentar com métodos de motivacio para trabalhadores ¢ formassemos um grupo com aqueles que trabalham no turno matutino e outro grupo com os do turno vespertino, quem pode nos garantir que antes de iniciar o experimento os dois tipos de trabalhadores estavam igualmente motivados? Talvez existam diferengas na motivacio inicial porque os supervisores dos diferentes turnos motivem de maneira e intensidade diferentes, ou talvez porque os do turno ves pertino preferissem trabalhar de manha ou porque pagam a eles menos horas extras, etc. Se ndo es- tiverem igualmente motivados, talvez o estimulo aplicado aos do turno da manha aparentasse ser 0 ‘mais efetivo quando, na verdade, nao é bem assim. ‘Vamos ver um exemplo que ilustra o resultado tio negativo que pode ter a no equivaléncia dos grupos nos resultados de um experimento. Que pesquisador testaria o efeito de diferentes mé todos para sensibilizar as pessoas sobre quio terrivel pode ser 0 terrorismo, se um grupo estiver for- ‘mado por membros da Al Qaeda e outro por familiares das vitimas dos atentados em Londres, em julho de 2005? ‘Os grupos devem ser equivalentes no inicio e durante todo o desenvolvimento do experimen- to, menos no que se refere A varidvel independente. Os instrumentos de medigao também devem ser iguais ¢ aplicados da mesma mancira. Equivaléncia inicial Significa que os grupos slo similares no momento em que iniciamos o experimento. Se o experi- mento se refere aos métodos educativos, os grupos devem ser equiparaveis em termos de némero de pessoas, inteligéncia, aproveitamento, disciplina, meméria, género, idade, nivel socioecondmico, motivagio, alimentagao, conhecimentos prévios, estado de satide fisica e mental, interesse pelos contetidos, extroversio, etc. Se inicialmente nio sio equipariveis, digamos quanto 4 motivacio ou 0s conhecimentos prévios, as diferencas entre os grupos ~ em qualquer variavel dependente ~ no poderiam com certeza ser atribuidas & manipula¢io da variavel independente. ‘A equivaléncia inicial ndo se refere a equivaléncias entre individuos, por- que temos, por natureza, diferengas individuais, mas & equivaléncia entre grupos. Se tivermos dois grupos em um experimento é claro que haveré, por exemplo, pessoas muito inteligentes em um grupo, mas também haver pessoas assim no outro grupo. Se em um grupo ha mulheres, o outro também deve té-las na mes- ‘ma proporcio. E assim com todas as variaveis que podem afetar a ou as variaveis, dependentes, além da varisvel independente. A média de inteligéncia, motivacao, ‘conhecimentos prévios, interesse pelos contetidos e demais varidveis deve ser a mesma nos grupos de contraste. Mas nao exatamente igual, pois nio pode existir uma diferensa significativa nessas va- ridveis entre os grupos. Equivaléncia durante o experimento Além disso, durante o estudo, os grupos devem permanecer similares nos aspectos relacionados com o desenvolvimento experimental, exceto na manipulagio da variavel independente: mesmas instrugoes (salvo variagbes que sejam parte dessa manipula¢ao), pessoas que mantém contato com s participantes e maneira de recebé-los, lugares com caracteristicas semelhantes (mesmos objetos nas salas, clima, ventilacao, som ambiente, etc.), mesma duracao do experimento, assim como do ‘momento, enfim, tudo aquilo que fizer parte do experimento. Quanto maior for a equivaléncia du- rante seu desenvolvimento, maior controle e possibilidade havera de que, se observarmos ou nao efeitos, estejamos seguros de que cle realmente aconteceu ou nao. ‘Quando trabalhamos simultaneamente com virios grupos, ¢ dificil que as pessoas que dao as instrugSes e observam 0 desenvolvimento dos grupos sejam as mesmas. Entio, devemos procurar fazer com que seu tom de voz, aparéncia, idade, género ¢ outras caracteristicas capazes de afetar os

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