Co Luna Alex Sousa

You might also like

Download as docx, pdf, or txt
Download as docx, pdf, or txt
You are on page 1of 6

As crônicas de Alex Sousa

Logo depois de ter postado a coluna dessa semana, o editor Alexandre


apontou-me novas colaborações de Alex Sousa (bom-despachense ausente?).
Como não sei quem é esse simpático cronista que faz serenatas, convido-o a
mandar sua foto e contar sua vida. Seguem-se o seu recado e as crônicas:

Olá professor Lúcio Emílio Jr, sempre estou por aqui para acompanhar
as notícias da nossa Terra Querida, de tantas histórias, estórias e memórias
afetivas. Alguns casos participei e outros ouvi; as lembranças vão sendo
reavivadas. Não sou Forrest Gump nem Pantaleão, mas me lembro de alguns
“causos”:

SERENATA III – REGIÃO DA CHÁCARA DA PEDREIRA

Nessa eu não estava, mas ouvi os amigos contarem a presepada. Eles


chegaram de mansinho para tentar fazer uma surpresa, salvo engano no
aniversário de uma garota. Pularam a grade e adentraram na varanda do
imóvel.

Sabiam que não havia cachorro na casa; cachorro é danado para


estragar serenata latindo, uivando em 2ª voz ou botando a turma para correr. É
bom se prevenir.

Mas em serenata que é serenata tem que haver algum rolo. Na casa
visitada já se sabia que não havia cachorro, mas um “jerico com ideias”
acompanhou a turma. Todo “requenguela”.

Havia na varanda uma cadeira de ferro e o camarada resolveu dar uma


espreguiçada antes do primeiro acorde no violão. A cadeira de ferro tombou
para trás com o sujeito e foi aquele barulhão; luzes se acenderam e o pai da
moça abriu a janela. O “jerico” de pernas para o ar no chão e as “ideias”
esparramadas na varanda.
– Ainda bem que são vocês. Levei um susto danado pensando que
fosse ladrão. Vocês querem entrar?

– Não, não. Nossa intenção não era incomodar, disse alguém. Tocaram
umas duas canções, colocaram a viola no saco e foram embora rindo daquilo
tudo. E o “jerico com ideias” se justificando.

FOGUETE ACESO DENTRO DO BAR

Nos idos de 1970, como contava uma galera animada da região do


“Jardim Sem Flor”, o pessoal decidiu constituir uma turma de carnaval.
Reuniram os amigos e mandaram fazer camisas. Melhor não mencionar os
nomes; apenas o feito. Um conhecido meu, ao ser chamado, sempre respondia
desconfiado: – “Oi, pode falar. Sei de nada, nem vi nada. Se perguntarem eu
nego tudo”.

Ninguém bebia. Mas deram à turma o nome de “Canabrava”. Ansiosos


para curtir a festa saíram com as camisas na sexta-feira para um esquenta ali
não região do antigo Posto Pajé, mais precisamente no Gato Preto Bar (muitos
conheceram o lugar como Perdidos na Noite).

Era um bar sempre bem movimentado, com algumas mesas ao ar livre;


no interior paredes sempre limpas e um balcão arredondado. No teto havia
uma linda treliça de madeira envernizada. Um show. Marcou época na cidade.

Ocorre que um “Canabrava” comprou um foguete e ficou com aquilo na


mão no interior do bar, sob a treliça; outro “Canabrava”, mesmo com o bar
lotado, entendeu que era boa ideia chegar no pavio um cigarro aceso sem o
companheiro ver. O artefato foi detonado e foi uma correria geral, com
acionamento da polícia.

Os “Canabravas” vazaram e esconderam as camisas. Alguém acionou a


polícia; o nome da turma ficou em evidência. Naquele tempo, auge da ditadura,
se alguém dava alteração nos eventos de carnaval costumava ser preso no
xadrez e solto só na quarta-feira de cinzas; se o Zorro fosse preso e faltasse
vaga liberavam alguém para recolher o mascarado. Até isso era difícil.

A polícia saiu à procura dos integrantes da turma por causa da treta no


Gato Preto Bar; haviam “atravessado o samba e desafinado”. Foi este o triste
fim dos “Canabravas do Jardim Sem Flor e Sem Carnaval”. Dizem por aí que o
bar, pelo susto, virou Gato Branco até meia-noite; mas se recuperou, ficou bem
e continuou Gato Preto.

ÉTER COM MERTIOLATE NO TRASEIRO RALADO

Um calor danado no “Campo da Associação” e rolava uma preliminar


dos famosos “cascudinhos”. Para quem não entende de futebol amador, cabe
um registro: o cascudinho era formado pela turma “pé-de-rato”, por ex-
jogadores do quadro principal e pelos jovens que estavam começando no time.

Ruim de bola como sempre fui joguei em alguns “cascudinhos”; a


ruindade era tanta que eu era reserva.

Era uma aventura jogar: almoçar mais cedo para não ter uma
“congestã”, começar a partida no máximo às 13:15 horas (não havia
iluminação e jogo do 1º Quadro tinha que começar até 15:30 horas). Sol
rachando mamona e nem um bebedouro ou água gelada à disposição na
preliminar; por isso o “cascudinho” também era chamado “esfria sol” ou “2º
quadro”. Mas a gente gostava de jogar.

No estádio até havia um bar, contudo, o responsável sempre tinha a


desculpa pronta: – “Só tem Coca, Fanta, Crush, Grapette e Guaraná quentes;
o cara que entrega o gelo me deu o cano”. Mentira. Ele só ia resolver isso
quando o povo chegava para assistir o jogo do 1º Quadro.

Nessa partida em particular um cabra mais entusiasmado resolveu dar


um “carrinho” para tirar a bola de um adversário; acabou ralando o traseiro e
ficou deitado a rolar no chão.
Aí entrou o “massagista” correndo com uma bolsa; no interior dela a
panaceia contra todas as contusões no futebol amador: um vidrão de éter e um
vidro menor com mertiolate (aquele remédio que as crianças “vazavam na
braquiária” só de ouvir as mães falarem).

Hoje as coisas mudaram, o futebol amador também conseguiu um


pouquinho da “água milagrosa” dos times profissionais.

Voltando ao jogo e ao incidente, a popa ralada do cabra que deu o


carrinho lembrava a música do Djavan (Faltando Um Pedaço); parecia que
haviam passado o traseiro dele no ralo de fazer doce de mamão.

O carinhoso “massagista” chegou e deitou éter com mertiolate no lugar


ralado. Até achei que era bálsamo. O cabra se levantou num pulo. Vi aquilo e
pensei: esse remédio é bom mesmo; o cara estava rolando de dor no chão e já
se levantou xingando e querendo bater no massagista! Sarou.

ATÉ A VOLTA DO CAMINHÃO LEITEIRO

Certa feita juntamos uma turma de meninos da Rua da Olaria e do


Bairro Santa Ângela e embarcamos para um jogo de futebol na Garça; fizemos
o check-in na Praça do Rosário, cada um pagou umas moedas e embarcamos
na carroceria de um caminhão, sobre os latões de leite.

O mais bizarro disso era a duração da partida. O leiteiro tinha uma rota
com muitas fazendas para visitar; enquanto ele ia fazer o percurso recolhendo
o leite a gente jogava. Apontava o leiteiro, o juiz encerrava a partida e nós
subíamos correndo ao caminhão; se ficasse para trás só pegando carona ou
aguardando o leiteiro no dia seguinte. Futebol é ou não é para quem gosta?

CASCAVEL & COLORIDO EM AREIAS


Na comunidade de Areias, Leandro Ferreira, fui passeando, mas acabou
sobrando uma “boca” no cascudinho do Tupi, da Tabatinga. Não era bem uma
“boquinha”; ou jogava eu ou o time ficaria com um a menos, pois faltou uma
pessoa. Então entrei.

Mais ou menos como aquela pelada entre amigos que não pode ser
paralisada. Alguém sempre fala: – “Estou machucado”. – “Sem problema,
respondem, você pega no gol; se marcarem do lado machucado não vale”. O
espetáculo não pode parar.

Fui a campo e a comunidade local reunida no barranco para ver a


partida. Os estimados atacantes Colorido & Cascavel eram os destaques do
cascudinho do time local. Gente boa. Aliás, nas andanças futebolísticas
erámos sempre muito bem acolhidos por onde andávamos. Povo da nossa
região é povo de paz.

Na partida a bola saiu pela linha de fundo. Nosso goleiro retardou a


reposição de bola. Então o bravo Cascavel veio e chutou a bola para o fundo
do nosso gol. Saiu comemorando com o Colorido e os companheiros.

E aí começou a saga do juiz para explicar ao Cascavel que aquele tipo


de gol não valia. E Cascavel insistindo:

– Juiz autorizou, ele não bateu e a bola é nossa. É claro que ele sabia a
regra, mas para ganhar a partida valia tudo, inclusive a balançada de chocalho
do artilheiro Cascavel. Só faltou exigir que fosse “o gol do Fantástico”.

Coisas do futebol amador e do jogo dos cascudinhos: “dois num é falta”,


“prensada é da defesa”, “pode sair e voltar no lugar de outro” e improvisos do
tipo. O juiz tinha que se desdobrar para explicar as coisas; mas sempre havia
alguém parecido com o imparcial e famoso “Cidinho Bola-Nossa” para ajeitar
tudo.

Como dizia o famoso humorista Chico Anysio, “depois eu conto o


resto…” deixando este registro como homenagem a muitos que jogaram nos
“cascudinhos”. Turma boa que nunca reclamava e jogava por prazer. Sem eles
não havia como treinar o 1º Quadro ao longo da semana, sem falar que eles
todos iam para a arquibancada torcer para o Quadro Principal, organizavam a
charanga, recolhiam o material como uniformes e bandeiras. Também aos
povoados nas redondezas de BD e aos amigos aqui lembrados.

You might also like