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A Batalha Dos Missais o Sacrificio Da Missa
A Batalha Dos Missais o Sacrificio Da Missa
O Sacrifício
da Missa
Avenida Higienópolis, 174, Centro
86020-908 — Londrina/PR ADAPTAÇÃO
editorapadrepio.org
Fábio Gonçalves
AUTOR IA
Padre Paulo Ricardo
A BATALHA DOS MISSAIS I: CAPA
O SACR IFÍCIO DA MISSA Klaus Bento
DIAGRAMAÇÃO
© Todos os direitos desta edição Eduardo de Oliveira
pertencem e estão reservados à
Editora Padre Pio DIR EÇÃO DE CR IAÇÃO
Luciano Higuchi
Redempti ac vivificati Christi sanguine, nihil Christo EDIÇÃO E R EVISÃO
præponere debemus, quia nec ille quidquam nobis præposuit. Éverth Oliveira
SUMÁRIO
1. O QUE É SACRIFÍCIO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
I. Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
II. Por que os protestantes odeiam a Santa Missa?. . . . . . . . . . . . . 8
III. O que é sacrifício?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
IV. O sacrifício e a natureza humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
V. A oferta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
VI. A transformação da coisa ofertada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
VII. O legítimo oferente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
VIII. Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
BIBLIOGRAFIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Abreviaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
A BATALHA
DOS MISSAIS I:
O SACRIFÍCIO DA MISSA
PADRE PAULO RICARDO
1. O QUE É SACRIFÍCIO?
I. Apresentação
Este é um livro sobre o santo sacrifício da Missa. Entendemos
que ele seja necessário porque vimos surgir na internet, princi-
palmente depois que o Papa Francisco publicou a Carta Apos-
tólica Traditionis Custodes, um intenso debate a respeito dos
dois missais: o de Paulo VI e o de Pio V.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
1.Vale dizer que nós católicos também aceitamos que a justificação se dá pela fé,
mas — e aqui está a discordância fundamental — não somente por ela. Além disso,
o conceito de fé inventado por Lutero resume-se a uma confiança subjetiva, psico-
lógica, espécie de crença no poder da mente. Isso não é de maneira nenhuma a fé
verdadeira, a fé teologal.
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
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V. A oferta
Voltemos, pois, à nossa definição de sacrifício, agora com as
noções mais esclarecidas. O sacrifício é uma oferta, é uma
oblação. Oferta e oblação são a mesma palavra em latim. Of-
ferre e oblatum são formas do mesmo verbo: offero — “eu ofe-
reço”; oblatum — “oferecido”. E o que é essa oferta? É trazer
diante dos olhos de alguém uma coisa, um dom. O que é o
Ofertório da Missa? O Ofertório é quando pegamos aqueles
dons e os trazemos diante de Deus, colocando-os debaixo do
seu olhar. O ofertório propriamente dito, no sentido estrito da
palavra, acontece durante a Oração Eucarística.
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
7. Os sacrifícios pacíficos são aqueles em que você pega uma parte do animal e a
come, porque está fazendo uma espécie de refeição com Deus, uma ceia com Deus.
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
coração, como que dizendo: “Não quero dar, não quero dar”;
ou se, ao invés de pegar o melhor cordeiro do rebanho, ofe-
recemos a ovelha manca e defeituosa, nós estamos dando de
má vontade. Isto não é um sacrifício. Não estamos oferecendo
como Melquisedec ofereceu pão e vinho; não estamos ofe-
recendo esses “ázimos de sinceridade” de que fala São Paulo.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
Missa é estritamente privada. De fato, um padre sozinho celebrando Missa está ofe-
recendo um sacrifício público porque o faz em nome do povo, pela Igreja inteira.
Público tampouco quer dizer que estamos na praça pública, mas simplesmente que
o estamos oferecendo em nome de todo o Corpo de Cristo. Para isso, no sentido
específico da palavra sacrifício, verdadeiro e próprio, é necessário que haja um sa-
cerdote delegado.
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1 . O q u e é s ac r i f í c i o ?
VIII. Conclusão
Temos aí o status quæstionis, para poder debater com clareza.
A controvérsia é esta: Lutero aceita que os pastores protestan-
tes sejam sacerdotes por sacerdócio batismal, sacerdócio no
sentido amplo, mas não no sentido verdadeiro e próprio; aceita
que a Missa seja um sacrifício de louvor, um sacrifício de ação
de graças etc., isto é, um sacrifício em sentido amplo, mas não
no sentido verdadeiro e próprio, de algo material que é ofere-
cido a Deus por um sacerdote deputado, em que há modificação
na vítima sensível.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
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2. A DOUTRINA PROTESTANTE
SOBRE A MISSA
I. Apresentação
Como já dissemos, na internet o pessoal fica discutindo sobre
os vários missais, especialmente o Missal de Pio V e o Missal
de Paulo VI. Ora, o Papa Bento XVI fez um Motu Proprio per-
mitindo o rito antigo, mas o Papa Francisco fez outro restrin-
gindo-o. Afinal de contas, o que está por trás desse debate?
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9. WA 15 [1899] 774.
10. Foram feitos estudos estatísticos para ver como, sociologicamente, se conseguiu
implantar a revolução protestante. E o critério adotado para verificar o sucesso do
protestantismo numa cidade era se ali havia parado a celebração da Missa. Isto é:
parou de celebrar Missa, pronto, prevaleceu ali a heresia protestante, a revolução
venceu, cessou o santo sacrifício. (Mais sobre isso, na aula “Lutero Universitário”, do
curso Lutero e o Mundo Moderno, disponível aqui: <https://padrepauloricardo.org/
aulas/lutero-universitario>.)
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2 . A d o u t r i n a p ro t es ta n t e s o b r e a M i s s a
Por essa razão, para nós, católicos, faz sentido a Missa ser ce-
lebrada por um padre sozinho ou acompanhado apenas de
um coroinha. Afinal, o padre está oferecendo algo agradável a
Deus, algo que tem sentido em si mesmo: o único sacrifício de
Cristo renovado no altar.
11. Antigamente, os luteranos usavam a palavra Missa, como no novo ritual criado
por Lutero, a Deutsche Messe, a chamada missa alemã, que era um culto protestante.
Mas, aos poucos, eles deixaram de lado essa linguagem e hoje em dia o que eles dizem
é Gottesdienstes, o culto a Deus. É um culto, como a gente usa na língua portuguesa.
12. A Oração Eucarística I, conhecida como Cânon Romano, foi a única a ser reza-
da por séculos. Toda ela está baseada na convicção de que a Missa é um sacrifício.
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Em seu núcleo fundamental, ela é de época apostólica, sendo citada em seu nú-
cleo já por Santo Ambrósio. Depois, houve o seu desenvolvimento com os Santos
Padres (São Gregório Magno e outros), que foram acrescentando mais coisas.
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2 . A d o u t r i n a p ro t es ta n t e s o b r e a M i s s a
13. Vamos recordar brevemente o que é sacrifício em sentido estrito. Primeiro, deve
haver um sacerdote no sentido verdadeiro e próprio, ou seja, um homem que rece-
beu uma delegação, uma deputação para oferecer um sacrifício em nome do povo,
um sacrifício público. Os protestantes não aceitam isso, não aceitam o sacerdócio
católico, o ministro. Eles só aceitam o sacerdócio batismal, o sacerdócio no sentido
amplo da palavra. Cada um é seu sacerdote, mas não é sacerdote no sentido estrito
da palavra porque não recebeu a delegação de oferecer o sacrifício em nome de
todos. Você oferece o seu sacrifício, o outro oferece outro sacrifício; então não se
trata de sacrifício no sentido estrito da palavra. Segundo, para que haja sacrifício
no sentido estrito da palavra deve haver uma coisa sensível, um objeto sensível,
seja um cordeiro, um boi, um touro, pão e vinho, enfim, uma coisa externa que
seja oferecida. Ou o Cristo que oferece o seu corpo para ser sacrificado na Cruz.
Deve haver algo sensível que está sendo oferecido, sinal externo de um sacrifício
interior da vontade, da alma. Se não houver esse sinal externo, não há sacrifício no
sentido estrito da palavra. E deve haver, terceiro, a modificação dessa coisa ou pela
morte do animal ou pelo derramamento do líquido ou, no caso do pão e do vinho
consagrados na Missa, pela transformação, pela transubstanciação e, digamos as-
sim, a separação sacramental do Corpo e Sangue de Cristo pelas duas consagrações
diferentes. Jesus não morre outra vez, nada disso, mas, sacramentalmente (em ra-
zão das consagrações separadas do Corpo e do Sangue), é a morte de Cristo que
acontece na Missa.
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2 . A d o u t r i n a p ro t es ta n t e s o b r e a M i s s a
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V. A posição de Calvino
Para dizer que não é uma coisa só de Lutero (os luteranos
aqui no Brasil são poucos, aqui a maior parte dos protestan-
tes é de matriz calvinista), cito também as Institutas da Re-
ligião Cristã, de Calvino. Num dos capítulos finais, ele fala
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2 . A d o u t r i n a p ro t es ta n t e s o b r e a M i s s a
Ora, quando Lutero fala que somos salvos pela fé, nós, católi-
cos, não podemos estar de acordo com ele, embora a afirmação
seja, em parte, verdadeira. Nós somos salvos pela fé, sem dúvi-
da, mas não pela fé que Lutero inventou. Somos salvos porque
a fé teologal é o instrumento através do qual a salvação entra
na nossa vida.
De fato, não é possível ser salvo sem fé. Sem fé não é possível
agradar a Deus. Mas não é dessa fé teologal que falava o monge
revolucionário. Quando Lutero ainda não tinha sido excomun-
gado, o Cardeal Caetano, que o julgou, percebeu imediatamen-
te o problema. O Cardeal, nada diplomático, achava suficiente
dar uns berros com o frade petulante: Com esse conceito de fé,
você inventou uma nova religião. Isso não é o cristianismo.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
Nós, católicos, por outro lado, cremos que essa redenção obje-
tiva aconteceu na Cruz, há dois mil anos, mas que ela precisa
ser apropriada. É o que chamamos de redenção subjetiva. Em
outras palavras, o remédio está aí, agora precisamos tomá-lo.
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2 . A d o u t r i n a p ro t es ta n t e s o b r e a M i s s a
18. Essas matérias foram objeto do curso A Divina Eucaristia e seus Milagres, disponí-
vel em <https://padrepauloricardo.org/cursos/a-divina-eucaristia-e-seus-milagres>.
19. Nota do Editor: O Ano da Misericórdia foi um ano jubilar extraordinário
proclamado pelo Papa Francisco para toda a Igreja e realizado de 8 de dezembro de
2015 a 20 de novembro de 2016. Como jubileus anteriores, tratou-se de um perío-
do para remissão de pecados e perdão universal, concentrando-se particularmente
no perdão e na misericórdia de Deus. Foi um ano extraordinário porque não havia
sido predeterminado muito antes; jubileus ordinários são geralmente comemora-
dos a cada 25 anos.
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3. O CALVÁRIO E A MISSA
I. Recapitulação
É importante lembrar que não é nosso objetivo tomar as de-
cisões prudenciais que cabem, na verdade, ao Magistério, aos
bispos ou aos próprios padres que vão celebrar usando um ou
outro missal. A ideia é oferecer aos interessados uma base teo-
lógica firme de modo que se possa debater o tema com foco
naquilo que é realmente fundamental.
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3 . O Ca lvá r i o e a M i s s a
21. Os protestantes interpretam este trecho num sentido amplo: São Paulo estaria
falando de sangue, mas não de sangue real; de corpo, mas não de corpo real.
22. Aqui, São Paulo faz uma correlação entre mesa e altar. Quer dizer, é inútil o
debate que surgiu, após o Concílio Vaticano II, para definir se se trata de mesa ou
altar: é as duas coisas. Alguns tradicionalistas negam que o altar seja mesa; alguns
modernistas negam que a mesa seja altar. Mas é os dois ao mesmo tempo.
23. Diga-se que a palavra “mesa”, objeto de controvérsia, aparece no original: tra-
pezēs (τραπέζης). Trapeza é mesa em grego. Fala-se, portanto, em mesa, no sentido
próprio da palavra.
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thelō de, “eu não quero então”, hymas koinōnous tōn daimoniōn
ginesthai, “que tenhais” koinōnous, “comunhão”, ou seja: não
quero que vocês comunguem com os demônios (οὐ θέλω δὲ
ὑμᾶς κοινωνοὺς τῶν δαιμονίων γίνεσθαι). O Apóstolo diz isso
pois, no contexto do Antigo Testamento, as carnes eram imola-
das aos ídolos e depois vendidas no mercado. Quem compras-
se, estaria, portanto, em comunhão com os demônios, com os
ídolos — embora São Paulo não lhes reputasse nenhum poder.
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3 . O Ca lvá r i o e a M i s s a
Com isso, o Concílio queria nos lembrar que sempre, até o fim
dos tempos, será necessário oferecer um sacrifício puro. Cristo
o ofereceu de uma vez por todas, estamos de acordo. Mas o
profeta diz que esse sacrifício há de perdurar até o fim dos tem-
pos. E é o que fazemos na Missa, conforme o próprio Cristo
ordenou na Última Ceia.
24. Nota do Editor: Embora הָחְנִמse refira às vezes ao sacrifício de flor de farinha
(e.g. Lv 2, 1) e assim o entendam alguns comentadores de Ml 1, 11 (e.g., Cornélio a
Lápide), a expressão tem em muitas passagens o sentido amplo de oferta, oblação,
dom etc. Ora, se se atende ao uso majoritário que lhe dá a Escritura, o correto seria
restringir o termo à ideia de sacrifício incruento, sem especificar a matéria. De resto,
não parece possível estabelecer a matéria da oblação de Ml 1, 11 tão somente pela
análise do texto. O único que dele se pode inferir, aparentemente, é a instituição
de um sacrifício em sentido próprio, mas incontaminável pela malícia do oferente.
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3 . O Ca lvá r i o e a M i s s a
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É importante bater neste ponto, pois isso que era uma ver-
dade admitida até pelos protestantes tradicionais, hoje é ig-
norado inclusive por católicos — por falta de pregação e de
catequese. As pessoas hoje não olham para a Cruz como um
sacrifício salvador. Olham para Cristo como um homem le-
gal, um cara que veio, pregou o amor, ensinou lá sua doutri-
na, e, no fim, como que num acidente de percurso, padeceu
uma morte injusta. Uma chatice… “Mas — dizem — ainda
bem que Ele ressuscitou e a história teve um final feliz”. Não!
Errado! Não foi acidente nenhum. Cristo não veio do Céu à
terra para outra coisa. Cristo veio exatamente para isso. Cris-
to veio para oferecer na Cruz um sacrifício de amor a Deus,
um sacrifício de adoração, ação de graças, propiciação e in-
tercessão, por amor a nós; sacrifício em que, a um só tempo,
Ele é sacerdote e vítima.
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3 . O Ca lvá r i o e a M i s s a
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28. E aqui cai por terra a acusação maluca dos protestantes clássicos de que a Missa
renovaria, também, o sofrimento de Cristo na Cruz. Claro que não é assim. Se o
fosse, nós também deveríamos abominar a Missa.
29. Para entender a ideia de concomitância, imagine que você vai ao supermercado
para comprar escova de dente, mas ela só pode ser adquirida, necessariamente, num
combo em que a acompanham pasta, fio dental e enxaguante. Esses outros produ-
tos, que não a escova, seriam comprados “por concomitância”.
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3 . O Ca lvá r i o e a M i s s a
IV. Conclusão
Ora, na Santa Ceia, a consagração das duas espécies, em sepa-
rado, é o sinal sacramental do sacrifício cruento que ocorreria
na Cruz — em que haveria a separação do Corpo e do Sangue
de Cristo. É isto o que acontece na Missa. O sacerdote católico
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4. A DOUTRINA CATÓLICA
SOBRE A MISSA
I. Recapitulação
Seguimos nossa formação a respeito da Missa como sacrifício
para lançar um pouco de luz sobre todo esse debate que existe
a respeito dos missais, o de São Pio V e o de Paulo VI.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
Ora, não pode haver diálogo com uma pessoa assim. Num
diálogo verdadeiro, uma pessoa está aberta a possibilidades, a
admitir o erro. Mas Lutero diz claramente e em tom polêmico
— não só no De captivitate babylonica Ecclesiæ, mas também
no De abroganda missa privata, em que ele pede a abolição do
Cânon Romano — que Santo Agostinho, São Gregório Magno
e São Bernardo devem ser condenados. Tudo porque afirma-
ram ser a Missa um sacrifício.
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4 . A d o u t r i n a cat ó li ca s o b r e a M i s s a
32. Na aula “Lutero Atormentado”, do curso Lutero e o Mundo Moderno, Padre Pau-
lo Ricardo cita o trecho de um comentário de Lutero à Carta aos Gálatas: “Quando
Satanás me urgia com esses argumentos que quase conspiravam com a carne e com
a razão, quando a consciência se me aterrorizava e desesperava, era preciso entrar
continuamente em mim mesmo e dizer: ‘Mesmo que São Cipriano, Santo Ambró-
sio e Santo Agostinho, mesmo que São Pedro, São Paulo e São João, mesmo que um
anjo do céu te diga outra coisa, uma coisa é certa: eu não ensino coisas humanas,
mas divinas…’ (Lutero, Commentarius in Epistolam S. Pauli ad Galatas I 12: WA 40/I
[1911] 131). A aula em questão está disponível para assinantes em <https://padre-
pauloricardo.org/aulas/lutero-atormentado>.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
Mas isto ainda não é Idade Média, este não é Santo Tomás de
Aquino. Nós estamos no ano 100, na Igreja dos mártires. Di-
zendo bem claramente: ainda não havia nem Bíblia! Como Lu-
tero ia falar de sola Scriptura se o cânon do Novo Testamento
não estava nem definido? Foram esses homens que definiram
os livros da Bíblia; se eles estão errados, a Bíblia inteira está
errada! Esses homens foram discípulos dos Apóstolos! Santo
33. “Carta aos Coríntios”, 44. In: Padres Apostólicos, 1995, p. 32.
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4 . A d o u t r i n a cat ó li ca s o b r e a M i s s a
Com isso nós vemos que a Igreja nasceu católica; ela não se tor-
nou católica com o tempo. Segundo os protestantes, os primei-
ros cristãos iam à igreja todo domingo com a Bíblia debaixo do
braço, até que veio Constantino e inventou o “paganismo católi-
co”. Não. Os cristãos não traziam a Bíblia debaixo do braço. Nes-
sa época ainda não havia Bíblia! Foi a Igreja Católica, foram os
bispos em comunhão com o Papa que definiram os 27 livros do
Novo Testamento. Sem o episcopado católico, sem essas pessoas
que diziam ser a Eucaristia um sacrifício, não haveria Bíblia!
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
36. Como já dissemos, Malaquias está prevendo aqui um sacrifício “entre as na-
ções”, isto é, entre os povos pagãos — uma referência ao cristianismo, pois só com
Nosso Senhor a fé de Israel é espalhada ad gentes, isto é, “aos gentios”. O profeta diz
ainda que o sacrifício será oferecido “em todo lugar” — uma revolução, sem dúvida,
pois até então o sacrifício era oferecido no Templo de Jerusalém. Mais do que isso,
no original hebraico a palavra “sacrifício” descreve um sacrifício feito com grãos de
trigo (ū-min-ḥāh — )הָ֣חְנִמּוexatamente a matéria do pão eucarístico.
37.Justino Mártir, “Diálogo com Trifão”, 41. In: I e II Apologias: Diálogo com Trifão.
São Paulo: Paulus, 1995, p. 102.
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4 . A d o u t r i n a cat ó li ca s o b r e a M i s s a
Santo Irineu de Lyon († 202), por sua vez, diz em seu Adver-38
sus Hæreses:
38. Santo Irineu foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Francisco em 2022, com
o título de Doctor Unitatis. Em seu livro Adversus Hæreses ele também fala da suces-
são apostólica do Papa, dizendo que poderia detalhar a sucessão de todas as Igrejas
do mundo (então conhecido), mas propter potentiorem principalitatem, “por causa
de sua maior importância”, ele detalha a de Roma, fazendo a lista dos sucessores de
Pedro até o Papa de sua época.
39. A palavra “porque” está sendo usada aqui como conjunção de finalidade. Em
outras palavras: “Aconselhando também aos seus discípulos a oferecerem a Deus as
primícias das suas criaturas, não porque precisasse, mas para que eles não se mos-
trassem inoperosos e ingratos…”
40. Irineu de Lyon, “Contra as Heresias”, IV, 17, 5. In: São Paulo: Paulus, 1995, p. 230.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
Não se diga que hoje nós conhecemos esses dados, mas que na
época de Lutero eles eram ignorados. Pois seu contemporâneo
São Roberto Belarmino, nas suas famosas “Controvérsias”, cita
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4 . A d o u t r i n a cat ó li ca s o b r e a M i s s a
Vale frisar mais uma vez: Jesus não morre na Missa. Há até
alguns tradicionalistas bem intencionados que argumentam
contra o bater de palmas na Missa ou contra músicas anima-
43. Cf. Contra Henricum Regem Angliæ (WA 10/2 [1907] 215).
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4 . A d o u t r i n a cat ó li ca s o b r e a M i s s a
está sendo amado como Ele merece ser amado, como jamais
será amado; está sendo amado com o amor, com a veemência,
com a grandeza com que Cristo na Cruz o amou.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
A Eucaristia tem esse poder. Não estou dizendo que vocês devem
comungar em pecado, apenas porque participaram da Missa.
Caso estejam em pecado mortal, não há dúvida: confessem-se.
A certeza do perdão é dada sacramentalmente pela Confissão.
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4 . A d o u t r i n a cat ó li ca s o b r e a M i s s a
Que isso tudo nos ajude a ter uma profunda, uma verdadei-
ra devoção pelo momento da consagração. Precisamos viver
o momento da consagração com essa devoção e intensidade.
Sabemos que está tudo perfeitamente realizado por Jesus: Con-
summatum est (Jo 19, 30). Mas nós, na Missa, estamos aplican-
do isso às nossas vidas.
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5. A REFORMA LITÚRGICA
DE PAULO VI
I. Apresentação
Chegamos ao último capítulo desta formação sobre a batalha
dos missais. Vimos até agora que não está aberto a discussões
45
45. O curso A Batalha dos Missais foi pensado como uma “trilogia”: o primeiro
módulo é este, mais teológico e dogmático, tratando daquilo que mais importa. O
segundo, História da Missa, foi dedicado à história do Missal de Pio V e já se en-
contra disponível em <https://padrepauloricardo.org/cursos/historia-da-missa>.
O terceiro contará a história do Missal de Paulo VI.
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A BATALHA D OS MISSAIS I: O SACRI FÍCIO DA MISSA
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5 . A r ef o r m a li t ú rg i ca d e Pau l o VI
Esta pessoa pode até argumentar que era “só casamento civil”.
Mas a Igreja o reconhece como um casamento válido. Porque
se os dois protestantes quiseram, se tiveram a intenção de se
casar, então o sacramento aconteceu. 46
46. Neste ponto os manuais antigos de Teologia Moral são unânimes. Veja-se, por
exemplo, a obra do Padre Josef Aertnys (sacerdote redentorista e discípulo fide-
líssimo de Santo Afonso de Ligório). Perguntando-se “qual a intenção requerida
e suficiente como objeto da intenção” para a validade de um sacramento, ele diz:
Huiusmodi intentio reperiri potest in hæretico vel infideli, “Esse tipo de intenção pode
ser encontrado num herético ou infiel”. E ainda: Unde hæretici contrahentes matri-
monium Sacramentum efficiunt quamvis existiment non esse Sacramentum, “Daí que
os hereges que contraem matrimônio façam o sacramento, embora estimem que
não seja sacramento [o que eles fazem]”. Essa é a sentença da Igreja quanto à inten-
ção do ministro do sacramento. Basta que haja a intenção de fazer quod facit Ecclesia
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a Christo instituta vel quod Christus instituit, vel quod Christiani faciunt, isto é, “o que
faz a Igreja instituída por Cristo, ou o que Cristo instituiu, ou o que os cristãos fa-
zem” (Aertnys, p. 6).
Outro exemplo comum nos manuais de casuística: você está na prisão e não
é batizado; é um catecúmeno, e vai ser morto. Se não houver nenhum padre para
batizá-lo, mas somente seu companheiro de cela, que é ateu e não é batizado, o que
você pode fazer? Você o ensina. Diz para ele derramar água na sua cabeça e pro-
nunciar: “Fulano, eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, com
a intenção de fazer o que os cristãos fazem. “Mas eu não acredito nisso”, pode dizer
o ateu. Ora, não precisa acreditar, só precisa ter a intenção de fazer o que os cristãos
fazem. Essa é a intenção mínima.
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Há quem possa dizer que isso é muito laxo. Porém, se o laço fos-
se muito estreito nessa questão, o que seria da história da Igreja?
Por esse motivo estou fazendo esse curso, para que Nosso Se-
nhor pare de ser ofendido. Pois, quando você sabe o que está
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5 . A r ef o r m a li t ú rg i ca d e Pau l o VI
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por São Leão Magno etc., sem aqueles acréscimos que vieram
ao longo dos séculos.
47. Tome-se como exemplo sobretudo o capítulo III desta obra, sobre “o altar e a
orientação da oração na liturgia”. É nele que o Cardeal Ratzinger dá a sua conheci-
da sugestão: “Onde não é possível voltar-se colectivamente para o Oriente, pode
a cruz servir como o Oriente interior da fé. Ela deveria encontrar-se no meio do
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IV. Conclusão
Como vamos sair dessa situação embaralhada na qual a Igreja
se encontra, com esses dois ritos, o Missal de Paulo VI e o Mis-
sal de Pio V? Como vamos sair dessa confusão?
altar, sendo o ponto de vista comum para o sacerdote e para a comunidade orante”
(Introdução ao Espírito da Liturgia. 5. ed. Prior Velho: Paulinas, 2012, p. 62).
48. Na continuação deste estudo, eu explico que a liturgia romana teve um cres-
cimento orgânico, um desenvolvimento orgânico ao longo dos séculos. Está tudo
no curso História da Missa, disponível em <https://padrepauloricardo.org/cursos/
historia-da-missa>.
49. A finalidade principal deste estudo, com efeito, não é fazer uma guerra de pu-
rismo litúrgico. É claro, temos o ideal litúrgico, e não estou fazendo pouco caso da
dignidade da liturgia celebrada pelos santos. Não é isso. Mas estamos num caos tão
grande, tão tremendo, que se conseguirmos fazer os padres celebrarem com mais
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dignidade, com mais consciência e mais devoção, com mais clareza do que estão
celebrando, isso já será uma coisa extraordinária.
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BIBLIOGRAFIA
Abreviaturas
DH Denzinger-Hünermann, Compêndio dos símbolos, definições
e declarações de fé e moral (Paulinas, 2013)
Referências
Aertnys, Joseph, Theologia Moralis Juxta Doctrinam S. Alphonsi Ma-
riæ de Ligorio. Tomus II. Tournai [Tornaci]: H et L. Casterman;
’s-Hertogenbosch & Zwolle [Buscoduci & Zwollæ]: W. Van Gu-
lick, 1890.
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