Gustavo IUD Complications Article 2023 v06

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FAMP – FACULDADE MORGANA POTRICH

SCHOLA FÉRTILE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
VIDEOLAPAROSCOPIA E VIDEOHISTEROSCOPIA EM GINECOLOGIA

GUSTAVO DIAS

ABORDAGENS NAS COMPLICAÇÕES RELACIONADAS


AOS DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS PERDIDOS

GOIÂNIA – GO
2023
GUSTAVO DIAS

ABORDAGENS NAS COMPLICAÇÕES RELACIONADAS


AOS DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS PERDIDOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Programa de pós-graduação da Faculdade
Morgana Potrich - Schola Fértile como requisito
parcial para a obtenção do título de pós-graduação
Lato Sensu em. Videolaparoscopia e
Videohisteroscopia em Ginecologia.

Orientador: Prof. Dr. º Waldemar Naves do


Amaral

GOIÂNIA – GO
2023
RESUMO

Introdução: Os dispositivos intrauterinos (DIU) são um dos métodos contraceptivos mais


utilizados na atualidade. Embora os DIUs sejam eficazes, complicações podem ocorrer e
incluem uma ampla gama de apresentações, tais como um mau posicionamento que pode
ser classificado em expulsão, deslocamento, incorporação e perfuração. Objetivos:
verificar a prevalência de DIU perdido e citar os principais sítios em que o DIU foi
encontrado. Resultados: Foram avaliados 20 prontuários divididos em procedimentos de
histeroscopia diagnóstica (HSC DX) e laparoscopia (VDL). Em 6% das pacientes o DIU
era de cobre e em 25% era medicamentoso. A idade média das pacientes submetidas à
VDL foi de 31 anos, 44% usavam DIU de Cobre e 56% DIU medicamentoso. O epiplon
foi a localização mais prevalente nessas pacientes. No caso da HSC DX, a técnica ver-e-
tratar foi utilizada para retirá-lo do óstio tubário esquerdo em uma paciente. Houve apenas
uma paciente com idade de 35 anos, histórico de gravidez e parto cesariano em que o DIU
que estava no orifício tubário direito foi retirado na HSC CIR. O tipo de DIU não estava
identificado no laudo. A prevalência do DIU perdido no presente estudo foi de 1%. Em
30% das pacientes o DIU identificado foi o de cobre, já o medicamentoso esteve presente
em 25% delas. O principal sítio de localização do DIU foi o epiplon (30%). Os demais
sítios contribuíram com 1% cada. Conclusões: A prevalência do DIU perdido no presente
estudo foi de 1%. Em 30% das pacientes o DIU identificado foi o de cobre, já o
medicamentoso esteve presente em 25% delas. O principal sítio de localização do DIU
foi o epiplon (30%). Os demais sítios contribuíram com 1% cada.

Palavras-chaves: Dispositivos Intrauterinos. Dispositivos Intrauterinos de Cobre.


Dispositivos Intrauterinos Medicados. Saúde da Mulher. Laparoscopia. Contracepção
Reversível de Longo Prazo
ABSTRACT

Introduction: Intrauterine devices (IUDs) are one of the most widely used contraceptive
methods today. Although IUDs are effective, complications can occur and include a wide
range of presentations, such as malposition that can be classified into expulsion,
dislocation, incorporation, and perforation. Aims: To verify the prevalence of lost IUDs
and identify the main sites where they were found. Results: We evaluated 20 medical
records divided into diagnostic hysteroscopy (HSC DX) and laparoscopy (VDL)
procedures. In 6% of the patients, we found Copper IUD and medicated IUD in 25%. The
mean age of patients undergoing VDL was 31 years, 44% used a Copper IUD and 56%
used a medical IUD. Epiploon was the most prevalent location in these patients. In the
case of HSC DX, the see-and-treat technique was used to remove it from the left tubal
ostium in one patient. There was only one patient aged 35 years, history of pregnancy and
cesarean delivery in which the IUD that was in the right tubal orifice was removed in the
HSC CIR. The type of IUD was not identified in the report. The prevalence of lost IUDs
in the present study was 1%, and 30% of the patients used Copper IUD, while the
medication one was present in 25% of them. The main location of the IUD was the
epiploon (30%). The other sites contributed with 1% each. Conclusions: The prevalence
of lost IUDs in the present study was 1%. In 30% of the patients, the IUD identified was
the Copper one, while the medication was present in 25% of them. The main location of
the IUD was the epiploon (30%). The other sites contributed with 1% each.
Keywords: Intrauterine Device. Medicated Intrauterine Device. Copper Intrauterine
Device. Women's Health. Laparoscopy. Long-Acting Reversible Contraception.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5
2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 7
2.1. Tipo de estudo ...................................................................................................... 7
2.2. Local do estudo ..................................................................................................... 7
2.3. População do estudo ............................................................................................. 7
2.4. Critérios de inclusão............................................................................................. 7
2.5. Critérios de exclusão ............................................................................................ 8
2.6. Período da pesquisa .............................................................................................. 8
2.7. Coleta de dados..................................................................................................... 8
2.8. Análise de dados ................................................................................................... 8
2.9. Aspectos éticos ...................................................................................................... 8
3. RESULTADOS ....................................................................................................... 8
4. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 12
5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 14
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 15
ANEXO ..................................................................................................................... 17
5

1. INTRODUÇÃO

Desde que o primeiro dispositivo intrauterino (DIU) foi inventado na Alemanha


em 1920, já se passaram 102 anos 1. Os DIUs se tornaram um método de contracepção
popular devido a sua alta eficiência, conveniência, baixo custo e eficácia a longo prazo
1,2
.
Eles se enquadram na categoria dos métodos contraceptivos de longa duração
(Long-Acting Reversible Contraception – LARC). Os DIUs são considerados altamente
2,3
eficazes com taxas de duração contraceptiva igual ou superior a três anos . A eficácia
independe da ação do médico ou da usuária 2,3.
No Brasil, dois dispositivos intrauterinos mais comumente utilizados são o DIU
de Cobre (TCu380A) e DIU de Levonorgestrel 20 mcg (Mirena®). O efeito pode variar
de 3 a 7 anos para o DIU de Levonorgestrel e de 10 anos para o de Cobre 1–3.
O mecanismo de ação do DIU de Cobre reside na liberação de pequena quantidade
de metal na cavidade uterina que leva a uma reação do endométrio ao corpo estranho
presente com produção de prostaglandinas e citocinas no útero. Essa reação leva à
formação de uma “espuma” biológica na cavidade uterina que irá ter um efeito tóxico
sobre os espermatozoides e óvulos 2,3.
A presença do cobre no muco cervical vai afetar a motilidade e viabilidade dos
gametas masculinos, alterando a capacidade de fertilização desses gametas. Entretanto,
nenhuma mudança na natureza cíclica dos ciclos menstruais irá ocorrer. A perda
sanguínea da paciente vai variar de 50 a 80 mL. Em termos de efeitos adversos, as cólicas
menstruais costumam ser mais graves e o fluxo mais intenso 2,3.
O TCu380A pode ser indicado para pacientes nulíparas e, inclusive, adolescentes.
As contraindicações absolutas para o uso do TCu380A são: gravidez, doença inflamatória
pélvica (DIP); infecções sexualmente transmissíveis (ITS) atuais, recorrentes ou recente
(nos últimos três meses); sépsis puerperal; inserção imediatamente após aborto séptico;
hemorragia vaginal inexplicada; câncer cervical ou endometrial, doença trofoblástica
maligna e alergia ao cobre 2,3. As contraindicações relativas são a presença de fatores de
risco para ITS ou HIV, imunodeficiência, inserção nas primeiras 48 h até quatro semanas
após o parto, câncer de ovário e doença trofoblástica benigna 2,3.
As contraindicações para o uso do DIU de Levonorgestrel incluem câncer de
mama ou alergia ao levonorgestrel, DIP atual ou recorrente, infecção do trato genital
6

inferior, endometrite pós-parto, aborto infectado durante os últimos três meses; cervicite;
displasia cervical; tumor maligno uterino ou cervical; tumores progesterona dependentes;
sangramento uterino anormal não-diagnosticado; anomalia uterina congênita ou
adquirida, incluindo leiomiomas, quando estes causarem deformação da cavidade uterina;
condições associadas ao aumento de susceptibilidade a infecções; doença hepática aguda
ou tumor hepático; hipersensibilidade ao princípio ativo ou a qualquer um dos excipientes
3,4
.
Os efeitos adversos mais comuns são dor de cabeça, descarga mamária, escape
sanguíneo, sensibilidade mamária e náusea. Além disso, pode haver expulsão parcial ou
completa com sangramento e dor, perfuração ou penetração no corpo uterino ou na
cérvice durante a inserção ou dias ou meses pós inserção e perda dos fios de remoção 4.
Outras reações adversas já relatadas foram dores, sangramentos, reações vasovagais
relacionadas à inserção, tais como tonturas ou síncope, bem como precipitação de
convulsões em paciente epilépticas 4.
Apesar de serem considerados métodos seguros de contracepção, algumas
complicações podem existir e merecem atenção. Os sinais indicativos de possíveis
complicações são a presença de sangramento importante ou dores abdominais nos
primeiros 3 a 5 dias após a inserção (esses sinais podem indicar uma perfuração ocorrida
no momento da inserção ou ainda a possibilidade de se estar diante de uma infecção, e
até mesmo um deslocamento do DIU) 3.
Outros indicativos incluem sangramento irregular ou dores em todos os ciclos
(indicativo de deslocamento ou expulsão parcial), febre ou calafrios (com ou sem
descarga vaginal que pode indicar a presença de infecção). Dor persistente durante as
relações (pode indicar uma infecção, perfuração ou expulsão parcial), atraso menstrual
com sintomas de gravidez ou um DIU em expulsão (possibilidade de se estar diante de
uma gravidez intra ou extrauterina) e fios do DIU mais longos ou não visíveis (provável
deslocamento do DIU ou gestação)2,3,5–9.
Os relatos de complicações, incluso as perfurações, são raros até o momento,
independentemente da idade ou tipo de DIU. Ocorrem na taxa de 1,3 para cada 1.000
inserções. O cuidado com a técnica no momento da inserção é considerado como o
principal fator protetivo.
A ultrassonografia transvaginal (USTV) ajuda bastante tanto no momento da
inserção do dispositivo, quanto na comprovação de que ele está inserido corretamente 2,3.
7

Além disso, auxilia na identificação das perfurações uterinas e, com isso,


possibilita uma conduta mais adequada a cada caso. Quando se está diante de uma
perfuração parcial e as manobras de tração para retirada não são bem-sucedidas, a
histeroscopia é indicada para a remoção desse DIU perdido. No caso de perfuração
completa ou que ultrapassa a serosa uterina, indica-se a laparotomia ou videolaparoscopia
(VDL) para a exata localização do DIU e sua retirada 2,3.
Diante do exposto, os objetivos do presente trabalho foram verificar a prevalência
de DIU perdido, descrever a conduta realizada nos casos identificados e citar os principais
sítios intra e extrauterinos em que o DIU perdido foi encontrado destacando a prevalência
desses sítios.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Tipo de estudo


Estudo do tipo coorte transversal, analítico e retrospectivo.

2.2. Local do estudo


Centro de referência em atendimento feminino em Goiânia – Goiás que oferece
histeroscopia diagnóstica e referência pacientes para setor de cirurgia minimamente
invasiva.

2.3. População do estudo


Pacientes atendidas na clínica Fértile para investigação de doenças do trato
ginecológico por ultrassonografia e/ou histeroscopia diagnóstica e/ou cirúrgica. no setor
de cirurgia minimamente invasiva.

2.4. Critérios de inclusão


• Todas as mulheres que foram referidas para investigação de DIU perdido
no período de janeiro de 2020 a janeiro de 2022.
• As variáveis analisadas foram: idade, número de
gestações/partos/abortos, tipo de parto (cesariano ou normal).
8

2.5. Critérios de exclusão


• Mulheres submetidas a outro tipo de cirurgia que não a de extração do
DIU perdido;

2.6. Período da pesquisa


Os prontuários elegíveis para a realização dessa pesquisa foram os do período
de janeiro de 2020 a janeiro de 2022.

2.7. Coleta de dados


A coleta de dados foi realizada por meio do banco de dados das cirurgias
minimente invasivas realizadas para identificação do local exato do DIU e sua retirada.
Esse banco de dados está presente na divisão de cirurgia minimamente invasiva da Clínica
Fértile.

2.8. Análise de dados


O n amostral foi por conveniência temporal e os dados foram analisados no
programa Excel para a confecção de cálculos e tabelas.

2.9. Aspectos éticos


A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética por meio da plataforma Brasil
respeitando os princípios éticos que regulamentam a pesquisa em seres humanos
(Resolução 466/12).

3. RESULTADOS

No período de janeiro de 2021 a dezembro de 2021 foram realizadas 843


histeroscopias diagnósticas e em 10 (1%) delas o objetivo foi a identificação da
localização do DIU. No mesmo período foram realizadas dez cirurgias para retirada de
DIU heterotópico. O total de prontuários avaliados, portanto, foi de 20. As pacientes dos
prontuários cirúrgicos de videolaparoscopia e histeroscopia cirúrgica não foram as
mesmas dos prontuários da HSC DX.
9

Combinando as informações da HSC DX com a HSC CIR e a VDL (10 cirurgias


para a retirada do DIU heterotópico), verificou-se que em 6 (30%) pacientes o DIU de
cobre estava presente e em 5 (25%) o DIU era medicamentoso (Tabela 01).
A idade média das pacientes submetidas apenas à HSC DX foi de 36 anos (25-46)
e em 2 (20%) o DIU de cobre foi identificado, um no canal cervical e outro tópico, com
fio intracavitário. Não há descrição do tipo de DIU nas demais pacientes que realizam a
HSC DX para investigação da localização (Tabela 01).
Tabela 01 – Distribuição dos achados nas histeroscopias diagnósticas e cirúrgicas com
relação à localização do DIU
HSC DX VDL
Variável Variável
idade, anos ( ) 36 idade, anos ( ) 31
n(%) n(%)
DIU DIU
Cobre 2(20%) Cobre 4(44%)
Medicamentoso n/a Medicamentoso 5(56%)
Outro 8(80%)
Localização Localização
Tópica 5(50%) FSP 1(10%)
Cavidade endometrial 1(10%) FSD à D 1(10%)
Parede uterina E 1(10%) Messosalpinge e paramétrio 1(10%)
OTE 1(10%) Cavidade peritoneal 1(10%)
n/a 2(20%) Epiplon 3(30%)
Tratamento Mesogástrio e alça do intestino delgado 1(10%)
Retirada one-stop 5(50%) Mesogástrio 1(10%)
Não retirada 5(50%)
HSC DX: histeroscopia diagnóstica. VDL: videolaparoscopia. DIU: dispositivo intrauterino. E: esquerda.
OTE: óstio tubário esquerdo. FSP: fundo de saco posterior. FSD: fundo de saco de Douglas (escavação
retouterina ou recesso retrouterino).

Em 30% (3/10) dessas pacientes o DIU estava em localização heterotópica. Um


(1/3, 33%) estava localizado na região cervical e dois (2/3, 67%) na região fúndica. Dos
localizados na região fúndica, um estava adentrando o óstio tubário esquerdo e o outro
encontrava-se com a haste esquerda inserida parcialmente na parede uterina homolateral.
O que estava localizado no óstio tubário esquerdo foi retirado no momento da HSC DX
(técnica ver-e-tratar) (Tabela 01).
No caso das pacientes com relato de DIU tópico, 67% (4/6) foram retirados sendo
que em uma (25%, 1/4) usou-se a ultrassonografia como técnica auxiliar para a retirada
(Tabela 01).
10

Na análise dos prontuários cirúrgicos das pacientes que realizaram a


videolaparoscopia, a idade média das pacientes foi de 31 anos (18-47). Dessas, 44% (4/9)
estavam em uso de DIU de cobre e 56% (5/9) utilizavam DIU medicamentoso.
A idade média das que usavam DIU de cobre foi de 28 anos e apenas uma delas
tinha histórico de gravidez e cesariana. Nessa paciente o DIU foi visualizado no
mesossalpinge e paramétrio (Fig. 01).

Fig. 01 – DIU com inserção parcial dentro da mesossalpinge e paramétrio à direita

As outras localizações do DIU de cobre foram no intestino delgado e mesogástrio


(Fig. 02). Nessa paciente em particular foi necessário o auxílio de um cirurgião
gastrointestinal no momento cirúrgico.

Fig. 02 – DIU de cobre envolvido em alça do intestino delgado e no grande epiplon no mesogástrio. Nessa
paciente foi necessário a presença de um cirurgião do trato gastrointestinal para revisar as alças intestinais.

Em outra paciente em que o DIU foi identificado no epiplon houve a necessidade


de lise de aderências e hemostasia (Fig. 03).
11

Fig. 03 – DIU de cobre envolvido pelo grande epiplon na fossa ilíaca esquerda. Foi necessário lise de
aderências e hemostasia.

As demais cinco (5/9, 56%) usavam DIU medicamentoso. A média de idade


dessas pacientes foi de 32 anos. Três delas (3/5, 60%) tinham histórico de gravidez e
cesariana. Nessas pacientes, o DIU foi localizado no epiplon e em uma delas (1/3, 33%)
foi realizada a laqueadura tubária bilateral nas regiões ístmicas (Fig. 04).

Fig. 04 – DIU medicamentoso no epiplon.

Em uma das pacientes com histórico de gravidez prévia e cesariana, o DIU


encontrava-se no recesso retrouterino à direita (Fig. 05).

Fig. 05 – DIU no recesso retrouterino à direita.

Houve apenas uma paciente em que o DIU foi retirado na histeroscopia cirúrgica.
Essa paciente tinha 35 anos, histórico de gravidez e parto cesariano. O laudo indicava que
o DIU estava no orifício tubário direito. O tipo de DIU não estava identificado no laudo.
12

4. DISCUSSÃO

A literatura médica recomenda a investigação e remoção de forma eletiva do DIU


10–12
perdido devido ao risco de aderências e obstruções intestinais . A Organização
Mundial de Saúde também recomenda tendo em vista o risco aumentado de lesão aos
órgãos adjacentes.
A migração do DIU pode ser classificada em três tipos. O primeiro diz respeito à
migração parcial em que ele fica parcialmente incrustado no miométrio. No segundo tipo
ele fica completamente incrustado no miométrio. Já no terceiro tipo ele é localizado fora
cavidade uterina, seja na cavidade pélvica ou outras áreas da cavidade abdominal. Essa
última é considerada rara e afeta, principalmente, a bexiga 13,14 (Fig. 06).

Figura 06 - Perfuração uterina. Tipo A: DIU presente na cavidade uterina e no miométrio; Tipo B: DIU
presente inteiramente no miométrio; Tipo C: DIU presente no miométrio e na cavidade peritoneal; Tipo D:
DIU presente nos três compartimentos. O desenho representa um DIU de cobre, mas qualquer tipo de DIU
pode perfurar o útero. O tamanho dos DIUs em relação ao útero foi ligeiramente reduzido para fins
ilustrativos. DIU: dispositivo intrauterino 13.

Perfurações podem ocorrer no momento da inserção ou por causa da reação


inflamatória crônica ao DIU de cobre que leva à erosão gradual através da parede uterina.
E pode ocorrer na região do recesso retrouterino no caso dos úteros antevertidos e na
região da bolsa vesicouterina no caso dos úteros retrovertidos 13.
Exames de imagem têm um papel crucial na avaliação da localização do DIU e na
identificação das complicações. Nesse sentido, a ultrassonografia costuma ser o exame
de primeira linha na investigação, seguido pela histeroscopia diagnóstica, raios X,
tomografia computadorizada ou ressonância magnética. No presente estudo não foi
13

possível correlacionar as imagens de ultrassonografia com as das HSC DX, HSC CIR e
DVL pelo fato de não estarem disponíveis. Portanto, cada prontuário foi avaliado como
entidade única 13 (Fig. 07).

Fig. 07 – Diagrama esquemático representando a direção da migração do DIU 13.

No presente estudo, as pacientes com DIU de cobre apresentaram migração para


epiplon, mesossalpinge e paramétrio, alças do intestino delgado e mesogástrio, e cavidade
peritoneal. Esses dados diferem dos estudos encontrados na literatura. No caso do DIU
localizado no epiplon, apenas dois estudos 15,16 obtiveram resultados similares ao presente
17
estudo. Os demais variaram entre 10% e 16% 18. Um estudo retrospectivo publicado
19
em 2015 que analisou vinte anos de experiência em localização e retirada de DIU
perdido identificaram com sítio principal o recesso retrouterino (33%).
No caso de migração para o intestino delgado, esse sítio é considerado de
ocorrência rara na literatura 20,21, como foi o encontrado aqui nessa série. A diferença do
presente estudo com os casos encontrados na literatura foi que a paciente aqui descrita
não tinha histórico de gravidez. As pacientes descritas por outros autores em que o DIU
de cobre migrou para o intestino eram multíparas e com histórico de cesarianas 20,21. As
mulheres com histórico de cesarianas apresentam uma chance maior, segundo os estudos,
de que o DIU migre e perfure outros órgãos. Nesses casos de migração e perfuração, é
20,21
importante a presença de um cirurgião gastrointestinal no momento da VDL para
auxiliar na reparação das alças e foi o que ocorreu no presente estudo.
Encontrar um dispositivo em duas localizações anatômicas concomitante também
é raro. A paciente tratada por Sasani e Soltani21 tinha parte do DIU no ovário direito, já a
tratada por Orellana et al.20 apresentava parte do DIU dentro de uma fístula útero-jejunal.
14

Na avaliação do DIU medicamentoso perdido, a literatura atesta que ele apresenta


menor propensão para desencadear processos inflamatórios e, portanto, aderências. Isso
pode explicar o fato de não terem sido verificadas aderências no presente estudo. Sem
aderências para ancorar o DIU na pelve, ele pode se prender ao omento ou mover-se com
a peristalse intestinal.
Os sítios em que o DIU medicamentoso foi encontrado no presente estudo na VDL
foram no mesogástrio, um livre no fundo de saco posterior e o outro no recesso
retrouterino à direita. Os outros dois foram identificados no peritônio. Não foram
identificadas aderências com esse tipo de DIU, diferente de outros autores que verificaram
uma taxa de aderência que variaram de 20%22 a 29% 18 com o DIU medicamentoso. Na
comparação com outros estudos 19,22 com relação ao recesso retrouterino, as taxas foram
maiores do que a encontrada nos dados aqui apresentados.
O presente estudo apresenta limitações. Em primeiro lugar, o fato de o desenho
ser retrospectivo pode ter levado a um viés de seleção de pacientes o que limita a
generalização dos resultados. Em segundo lugar, a série foi pequena. Apesar da migração
do DIU apresentar baixa incidência na literatura, como foi a identificada aqui, esse
deslocamento pode ter um impacto considerável tanto física como emocionalmente nas
pacientes, além de poder representar um risco de complicações maiores, tais como
infecções, rupturas de vísceras abdominais e outras complicações. As pacientes, portanto,
devem ser aconselhadas a fazer exames regulares após a inserção do DIU, para identificar
quaisquer problemas relacionados aos dispositivos. No caso de suspeita de DIU perdido,
uma investigação cuidadosa deve ser realizada e esses dispositivos devem ser removidos
de forma imediata.

5 CONCLUSÕES

A prevalência do DIU perdido no presente estudo foi de 1%.


Em 30% das pacientes o DIU identificado foi o de cobre, já o medicamentoso
esteve presente em 25% delas.
O principal sítio de localização do DIU foi o epiplon (30%). Os demais sítios
contribuíram com 1% cada.
15

A ocorrência em dois sítios concomitantemente foi de 2% no total (mesossalpinge


e paramétrio, mesogástrio e alça do intestino delgado.

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Surgical removal of intra-abdominal intrauterine devices at one center in a 20-
year period. Int J Gynaecol Obstet, v. 128, n. º 1, pp. 10-3, 2015.

20. Orellana P M, Chavez P V, Orellana P M, Chavez P V. Fístula utero-


yeyunal secundaria a migración de dispositivo intrauterino. Reporte de un caso.
Rev Chil Obstet Ginecol, v. 86, n. º 2, pp. 241–6, 2021.

21. Sasani M, Soltani A. Intrauterine contraceptive device complication:


migration to the small bowl and ovary concurrently. CRCP, v. 5, n. º1, pp. 27-9,
2020.

22. Kaislasuo J, Suhonen S, Gissler M, Lähteenmäki P, Heikinheimo O. Uterine


perforation caused by intrauterine devices: clinical course and treatment. Human
Reproduction, v. 28, n. º 6, pp. 1546–51, 2013.
17

ANEXO
18

Dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O pesquisador, Dr. Gustavo Dias, responsável pela pesquisa, e seu orientador, Prof. Dr.
Waldemar Naves do Amaral, pelo presente documento solicitam a dispensa do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, perante o Comitê de Ética em Pesquisa para o
trabalho de pesquisa sob o título: Abordagens nas Complicações Relacionadas aos
Dispositivos Intrauterinos Perdidos.
O motivo do pedido da dispensa recai no fato de que esse estudo vai coletar dados a partir
de um BANCO DE DADOS. Esse banco de dados contém as informações sobre as
pacientes que já realizaram a cirurgia e, portanto, não se encontram em tratamento no
presente momento. Pela impossibilidade de contactar com essas pacientes para coletar o
Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), os pesquisadores se comprometem
a cumprir todas as diretrizes e normas regulamentadoras descritas nas Resoluções 466 de
2012, e suas complementares, no que diz respeito ao sigilo e confidencialidade dos dados
utilizados, pede-se a dispensa de TCLE. Os dados serão tratados de forma a garantir a
privacidade e a confidencialidade das pacientes e das informações armazenadas por meio
de codificação dos dados sensíveis.

_______________________________________________________
Gustavo Dias
Pós-graduando
Pesquisador

_______________________________________________________
Waldemar Naves do Amaral
Orientador
Pesquisador

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