WALD, Arnoldo. Considerações Sobre A Responsabilidade Das Companhias Abertas

You might also like

Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 25
EDICAO COMEMORATIVA PELOS 40 ANOS DA LEI N° 6404/1976 CONSIDERACGES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABEATAS NO DIREITO BRASILEIRO ‘Arnoldo Wald DIREITO A INFORMACAO DO ACIONISTA E A SUSPEITA DE CORRUPGAD Fabio Ulhoa Coelho ASOCIEDADE ANONIMA E 0S ATOS DE LIBERALIDADE José Edwaldo Tavares Borba DESCONSIDERAGAO DIRETA E INVERSA Jorge Lobo PODE A CVM ANALISAR O MERITO DA DELIBERACAO SOBRE REMUNERAGAO DOS ADMINISTRADORES? Nelson Eizirik 0S ORGANISMOS DE INVESTIMENTO COLETIVO EM PORTUGAL Paulo Camara LANUEVA LEY DE SOCIEDADES DE CAPITAL ESPANOLA ‘Amétia Rodriguez Gonzalez TRADUGAO DE /ST DER KLEINAKTIONAR KEIN AKTIONAR, DE HERBERT WIEDEMANN Erasmo Valladao Azevedo e Novaes Franga, Bruno Di Dotto A SEM CRISE AOS 40: A CVM EM BREVE PASSEIO PELA MEMORIA Alexandre Pinheiro dos Santos, Julya Sotto Mayor Wellisch ALMEDINA REVISTA DE DIREITO DAS SOCIEDADES E DOS VALORES MOBILIARIOS Almedina, 2016 COORDENACAO: Erasmo Valladao Azevedo ¢ Novaes Franca ¢ Nelson Bizirik CONSELHO EDITORIAL: Brasmo Valladao Azevedo ¢ Novaes Franca, Nelson Eizirik, Otavio Yazbek, Joseph McCahery, Marcelo Vicira Von Adamek, Andre Antunes Soares Camargo, Ana Claudia Karam Abdallah, Evandro Fernandes Pontes, rik Frederico Oioli, Luis Andre de Moura Azevedo, Jose Romeu Garcia do Amaral, Marcelo Godke Veiga e Igor Muniz DIRETORIA EXECUTIVA: Evandro Fernandes Pontes, Erik Frederico Oioli e Jose Romeu Garcia do Amaral DIAGRAMACAO: Almedina DESIGN DE CAPA: FBA ISSN: 2446-6166 Este periédico segue as regras do novo Acordo Ortogrifico da Lingua Portuguesa (1990), Todos os direitos reservados, Nenhuma parte deste livro, protegido por copyright, pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida de alguma forma ou por algum meio, seja eletrénico ou mecénico, inclusive forocopia, gravagio ou qualquer sistema de armazenagem de informagSes, sem a permissio expressa ¢ por escrito da editora Novembro, 2016 EDITORA: Almedina Brasil Rua Jose Maria Lisboa, 860, Conj.131 e 132, Jardim Paulista CEP: 01423-001 Sao Paulo, Brasil editora@almedina.com.br worw.almedina.com.br 1A ALMEDINA, INDICE 5 EDITORIAL 9 DOUTRINA NACIONAL ul Consideragées sobre a Responsabilidade das Companhias Abertas no Direito Brasileiro Arnoldo Wald 53 Direito 4 informagao do acionista e a suspeita de corrupgio Fébio Uthoa Coelho 67 A Sociedade Anénima ¢ os Atos de Liberalidade José Edwaldo Tavares Borba 79 Desconsideragao Direta e Inversa Jorge Lobo 107 Pode a CVM Analisar 0 Mérito da Deliberagio sobre Remuneragao dos Administradores? Nelson Bizirik 127 DOUTRINA ESTRANGEIRA 129 Os Organismos de Investimento Coletivo em Portugal Paulo Cimara Fr CONSIDERACOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS NO DIREITO BRASILEIRO ARNOLDO WALD Advogado. Parecerista. Professor Catedratico de Direito Civil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutor honoris causa da Universidade de Paris II. Resumo: Este artigo analisa a responsa- bilidade da companhia em decorréncia dos atos ilicitos praticados pelos seus érgios e pela desinformagao dos acio- nistas, conferindo ao investidor, a prote- gio prevista na legislacio. Analisando a Lei das Sociedades Andnimas, a Lei do Mercado de Capitais e a Lei n? 7913/89, que dispGe especificamente sobre a res- ponsabilidade por danos causados aos investidores do mercado de valores mo- bilidrios. L Introdugio E muito oportuna a publicacio do numero especial da Revista de Direito das Sociedades e dos Valores Mobilidrios, coordenada pelos meus queridos amigos, os Professores ERasMO VALLADAO AZEVEDO € NELSON EIZIRIK, a respeito da Lei das Sociedades Anénimas que comemora os seus 40 anos, tendo chegado & sua maturidade, mas precisando ser mais divulgada e dis- cutida especialmente em alguns dos seus efeitos, diante das modificagdes ocorridas no direito comparado, no mundo e na sociedade brasileira. Escolhemos para debater um dos assuntos pouco tratados, que se refere 4 responsabilidade da companhia, tanto pelos atos ilicitos praticados pelos seus 6rgios como, em geral, pela desinformagao do acionista, questio que passa a ter especial atualidade no momento em que se pensa em fortalecer 0 mercado de capitais, assegurando a protec4o adequada ao investidor. As principais leis que regulam o nosso mercado de capitais sao as de n® 6.385 e 6.404, ambas de 1976. A primeira ¢ a “Lei de Mercado de Capitais”, ARNOLDO WALD que cria a Comissio de Valores Mobiliérios (CVM)', ao passo que a segunda recebeu a denominagao de “Lei das Sociedades Andnimas” (ou, simples- mente, “Lei das $/A’). Ambas completam 40 (quarenta) anos de existéncia, durante os quais a sociedade brasileira se transformou e evoluiu para se adaptar as necessi- dades da populagao, cabendo, pois, ao Direito acompanhar pari passu tais evolugdes. Sao leis que datam de uma fase embrionéria do nosso mercado de capi- tais, tendo a Lei das $.A. sido elaborada, numa visio relativamente prospec- tiva, Ora, em quatro décadas houve, no Brasil, como na Europa, uma grande aproximagao entre o direito bursdtil e a responsabilidade civil que, nos Esta- dos Unidos, ocorreu ha seis décadas com o New Deal. Como se vera mais adiante, a interpretagio do direito positivo deve vir acompanhada do recurso as outras fontes do direito, - como a doutrina e a jurisprudéncia ¢ até os dados econémicos -, a fim de que eventuais lacunas e obsolescéncias normativas sejam superadas ¢ a legislagéo ¢ a regulamen- tagao oferegam solugdes adequadas ¢ consentineas ao contexto no qual sao inseridas. 2. A Legislagao ¢ a Regulamentagao 2.1. A Protegao do Investidor ALei das S.A. assegura aos acionistas minoritérios um tratamento equitativo, que abrange o dircito & plena informacio, devendo a contabilidade e todas as operagées sociais serem transparentes para garantir os direitos dos sécios que nao controlam a sociedade, Essa obrigagao, que data do século XIX, faz ' “Art, 2¢.(..) § 3* Compete & Comissto de Valores Mobilidrios expedir normas para a execugio do dis- ‘posto neste artigo, podendo: I exigir que os emissores se constituam sob a forma de sociedade anénima; IT ~exigir que as demonstragdes financeiras dos emissores, ou que as informagdes sobre o emprecndimento ou ‘projeto, seam auditadas por auditor independente nela registrado; III dispensar, na distribuigaio publica dos valores mobilidrios referidos neste artigo, a participagio de sociedade integrante do sistema previsto no art, 1S desta Let; 1V— estabelecer padraes de cldusulas e condigdes que devam ser adotadas nos titulos ou contratos de investimento, destinados & negociagao em bolsa ou balcdo, organizado ou nao, erecusar a aadmissao ao mercado da emisso que nao satisfaga a esses padrées”. R CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS com que 0 minoritario saiba exatamente qual é a sua situagao ¢ possa receber os dividendos aos quais faz jus. A legislacio brasileira trata do assunto, ha longo tempo, mas, a partir da segunda metade do século passado, o regime da informagio se tornou mais rigido ¢ explicito nos textos legais. Assim, a lei societéria estabeleceu a responsabilidade da empresa, do controlador e dos administradores pelos atos ilicitos por eles cometidos. Por outro lado, obrigou a empresa a divul- gar os seus resultados nos balangos, assegurando aos acionistas, como direito essencial “o de fiscalizar a gestato dos negécios sociais” (Lei 6.404/79, Art. 109, II), proibindo-a de “orientar a sua atividade para fim estranho ao objeto social” (Art. 117, a). Quanto 4 responsabilidad de companhia por ato ilicito, manteve-a nos termos do Cédigo Civil. Esclarece TAVARES GUERREIRO que na Lei das S.A. “Especial énfase foi dada ao regime de informagao aos acionistas, mediante a deter- minacao de padroes explicitos e mais amplos para as demonstragées financeiras (arts. 176.a 188), sob a égide do principio da full disclosure.’ Do mesmo modo, a Lei n° 6.385, que criou a Comissio de Valores Mobilirios, Ihe da poderes para exigir das companhias abertas que as suas demonstragées financeiras sejam auditadas (Art. 2°, § 3°, inc. II) e determina que, tanto a CVM como o Conselho Monetirio Nacional, exergam as suas atribuig6es para: “Art. 4° (...) IV — proteger os titulares de valores mobilidrios e os investidores do mercado contra: 4) emissées irregulares de valores mobilidrios; ) atos ilegais de administradores acionistas controladores das companhias abertas, ou de administradores de carteira de valores mobilidrios. ©) 0 uso de informagao relevante nao divulgada no mercado de valores mobilidrios. (Alinea incluida pela Lei n® 10,303, de 31.10.2001) ? GuERREIRO, José Alexandre ‘Tavares. Direito das minorias na Sociedade Anénima. Revista de Direito Mercantil, Sao Paulo, n. 63, p. 110, jul,/set. 1986. ARNOLDO WALD. V~evitar ou coibir modalidades de fraude au manipulagao destinadas a criar con- digdes artificiais de demanda, oferta ou preco dos valores mobilidrios negociados no mercado; VI-assegurar 0 acesso do priblico a informagées sobre os valores mobilidrios nego- ciados e as companhias que os tenham emitido; VII ~ assegurar a observancia de praticas comerciais equitativas no mercado de valores mobilidrios;” Finalmente, a Lei n® 7.913, de 07.12.1989, que dispée especificamente sobre a responsabilidade por danos causados aos investidores no mercado de valores mobilidrios, esclarece que: “Art. 1° Sem prejutzo da agao de indenizagao do prejudicado, 0 Ministério Publico, de oficio ou por solicitagao da Comissito de Valores Mobilidrios - CVM, adotard as medi- das judiciais necessdrias para evitar prejutzos ou obter ressarcimento de danos causados aos titulares de valores mobilidrios e aos investidores do mercado, especialmente quando decor- rerem de: I- operagito fraudulenta, prdtica nao equitativa, manipulagao de pregos ou criagito de condigées artificiais de procura, oferta ou preco de valores mobilidrios; I~ compra ou venda de valores mobilidrios, por parte dos administradorese acionistas con- troladores de companhia aberta, utilizando-se de informagao relevante, ainda nao divul- _gada para conhecimento do mercado ou a mesma operagio realizada por quem a detenha em razito de sua profissito ou fungao, ou por quem quer que a tenha obtido por intermédio dessas pessoas; ILL - omissao de informacao relevante por parte de quem estava obrigado a divulgd- la, bem como sua prestacao de forma incompleta, falsa ou tendenciosa. Art. 2° As importancias decorrentes da condenagdo, na aco de que trata esta Lei, reverterdo aos investidores lesados, na proporciio de seu prejutzo.” (grifos nossos). E preciso enfatizar que, embora a lei trate, no plano processual, da agao civil publica, ela também se refere ao direito material do investidor, ou seja, & aco individual do lesado quando, no inicio do art.l¥, esclarece que o faz “sem prejuizo da agao de indenizagao do prejudicado”, a0 qual também garante a indenizagao nos casos citados. CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS ; alids, o que também ocorre no Cédigo de Defesa do Consumidor - CDC (Lei n® 8.078, de 11.09.1990) quando, apés definir os requisitos para que seja intentada a ago publica, esclarece, no art. 83, que: “Art. 83. (..) para.adefesa dos direitos e interesses protegidos por este cédigo sito admissiveis todas as espécies de agdes capazes de propiciar sua adequada e ofetiva tutela”. Omesmo diploma legal, que, tio somente para este fim, equipara o com- prador de agdes a0 consumidor, considera direito basico deste: “Art. 6%.) II - a informagao adequada ¢ clara sobre os diferentes produtos e servicos, com espe- cificagdo correta de quantidade, caracteristicas, composigdo, qualidade, tributos incidentes e prego, bem como sobre os riscos que apresentem; ()” Ainda 0 artigo 47 da Lei n® 12.529, de 30.11.2011, esclarece a respeito do direito de agao que: “Art. 47. Os prejudicados, por si ou pelos legitimados referidos no art. 82 da Lei n’ 8.078, de 11 de setembro de 1990, poderdo ingressar em juizo para, em defesa de seus interesses indi- viduais ou individuais homogéneos, obter a cessagao de priticas que constituam infragao da ordem econémica, bem como o recebimento de indenizagao por perdas e danos softidos, independentemente do inquérito ou proceso administrativo, que nao serd suspenso em vir- tude do ajuizamento de aga Finalmente, so no mesmo sentido, as varias Instrugées da CVM, em par- ticular as de n's 8/79, 358/02, 457/07 e 480/09, sendo que esta iltima carac- teriza como infragao grave: “Art. 60. (...) 1a divulgagao ao mercado ou entrega a CVM de informagoes falsas, incompletas, imprecisas ou que induzam o investidor a erro; H~a inobservincia reiterada dos prazos fixados para a apresentagao de infarmagoes perié~ dicase eventuais previstas nesta instrugdo; ¢ IE —a inobservancia do prazo fixado no art. 132 da Lei n* 6.404, de 1976, para a realiza- a0 da assembleia geral ordindria.” ARNOLDO WALD. Acresce que nas Resolugées da CVM se prevé a possibilidade da autar- quia determinar a retificagao das informagées dadas ao mercado, sendo que esta obrigacao recair4 evidentemente sobre a empresa. Em varias empresas, o dever de informar consta também do seu Cédigo de Etica, como se verifica no caso da Petrobras, pelas determinagdes cons- tantes no item III referente aos Princfpios Eticos e no seu item 1.2 que trata do exercicio da Governanga Corporativa, tendo respectivamente as seguin- tes redag6es: “Princip10s Ericos DO SISTEMA PETROBRAS III. A honestidade, a integridade, a justica a equidade, a verdade, a coeréncia entre o dis- curso e a prdtica referenciam as relagdes do Sistema Petrobras com pessoas e instituigdes, No EXERCICIO DA GOVERNANCA CORPORATIVA, 0 SISTEMA PETROBRAS COMPRO- METE-SEA: 1.2 conduzir seus negécios com transparéncia ¢ integridade, cultivando a credibilidade junto a seus acionistas, investidores, empregados, fornecedores, clientes, consumidores, ‘poder puiblico, imprensa, comunidades onde atua e sociedade em geral, buscando alcangar crescimento e rentabilidade com responsabilidade social e ambiental.” 2.2. A Responsabilidade dos Administradores da Companhia e a Juris- prudéncia sobre Responsabilidade da Companhia pelos Prejuizos por Eles Causados a Terceiros A jurisprudéncia relativa 4 responsabilidade da empresa pelos prejuizos causados aos acionistas e a terceiros é relativamente reduzida e a maioria dos casos se refere a atos ilfcitos ou irregulares dos administradores prati- cados em relagao a terceiros, aos quais esto equiparados os acionistas quando diretamente lesados pelos atos 8 Trataremos dessa equiparagio no item 128, do presente artigo. 6 SONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS ‘Assim, no particular, discutiu-se, no passado, a validade de avais ou outras garantias dadas por diretores, sem autorizacio dada pelos estatutos. A juris- udéncia se firmou, com decisdes do STE, no sentido de se distinguir a responsabilidade interna, na qual a empresa podia cobrar do culpado o prejuizo causado, € a externa em virtude da qual a empresa devia ser responsabilizada em beneficio do terceiro lesado, acionista ou nao, sem prejuizo da eventual agao regressiva que teria contra seu funcionario. Poder- -se-ia dizer que, no caso, a empresa era simultaneamente vitima (do ato ili- cito do administrador) e responsive (pela indenizagéo em favor do lesado). Um dos leading case é de 1971, tendo como relator o Ministro THomp- SON FLORES e presidente 0 Ministro ALIOMAR BALEEIRO. Trata-se do RE n® 69.028/RS, julgado em grau de embargos no plenério e cuja ementa é a seguinte: “SOCIEDADE COMERCIAL - Anénima— Titulo de crédito —Aval de um dos dire- tores em desaten¢do ao contrato social, em prol de terceiro de boa-fé— Validade— Motivagao — Embargos ndo conhecidos. Ainda que o desvio da finalidade da firma, ou a infragao do seu contrato social, resulte de ato de uma tinica pessoa dirigente da mesma, o abuso por ela cometido néo exonera a sociedade de responsabilidad em face de terceiro de boa-fé. Compete a empresa zelar ¢ observar os atos praticados por seus sécios dirigentes, nio Ihe sendo lcito ale- gar ignorancia de tais atos, em prejutzo de terceitos. Recurso Extraordindrio n. 69.028 —RS~ Tribunal Pleno ~Embargante: Transportadora Mayer S/A - Embargado: Amaury Schmitt”. (RT 443/345)* ‘No mesmo sentido, tratando inclusive de outras hipéteses, so numerosos os acérdios de todo o pais, firmando sempre a tese da responsabilidade da empresa pelos atos dos adminis tradores, mesmo quando ilicitos, itregulares ou contrérios aos estatutos, desde que o terceiro esteja de boa-fé. Assim, decidiu o ST) que: “B valida a fianga prestada por sécio-diretor de empresa com poderes de administragao, sendo certo que a existéncia de vedagio no contrato social pertine as relagies entre os sécios, nao tendo condo de prejudicaro terciro de boa-f.” (REsp 180,301/SP, Rel. Min. Gu.son Dipr, presidente Min. José ARNALDO DA FONSECA, j, 19.08.1999, Dy 13/09/1999, p. 92). 3..As limitagoes estatutérias ao exercicio de atos por parte da Diretoria da Sociedade Anonima, €m principio, sto, de fato, matéria interna corporis, inopontveis a terceiros de boa-fé que com a socie~ dade venham a contratar. ARNOLDO WALD Embora a responsabilidade da empresa fosse geralmente invocada em casos nos quais os lesados nao eram sécios ou acionistas da mesma, a tese se aplica ao sécio quando sofre prejuizo individual, sendo entao considerado 4. Por outro lado, a adequada representagio da pessoa juridica ea boa-fé do terceiro contratante deve ser somadas ao fato de ter ou nao a sociedade praticado 0 ato nos limites do sew objeto social, por inter- médio de pessoa que ostentava ao menos aparéncia de poder. 5, A moldura fatica delineada pelo acérdao ndo indica a ocorréncia de qualquer ato de ma-fé por parte da autora, ora recorrida, além de deixar estampado o fato de que 0 subscritar do negécio juridico ora impugnado ~ Gerente de Suprimento - assinou o apontado “aditivo contratual” na sede da empresa e no exercicio ordindrio de suas atribuigdes, as quais, alids, faziam astentar a nétida aparéncia a terceiros de que era, deveras, representante da empresa. 6. Com efeito, nao obstante o fato de o subscritor do negécio juridico néo possuir poderes esta- tutdrios para tanto, a circunstincia de este comportar-se, no exercicio de suas atribuigies ~ ¢ somente porque assim o permitiu a companhia -, como legitimo representante da sociedade atrai a responsabilidade da pessoa juridica por negécios celebrados pelo seu representante puta- tivo com terceiros de boa-fé. Aplicagao da teoria da aparéncia, 7 Recurso especial improvido.” (REsp 887.277/SC, Rel. Min. Luts Freie SaLomao, j. 04.11.2010, DJe 09/11/2010, RT 907/Si1). Resumindo, em acordao recente, de dezembro de 2014, a jurisprudéncia do STJ, esclareceu que: “(.4) Isso porque as teorias que envolvem os chamados atos ultra vires ou os praticados com excesso de poder visam, de forma imediata, ao estabelecimento dos casos em que a companhia responde perante terceiros. E, em linha de principio, tem-se reconhectdo que a pessoa juridica se obriga perante terceiros de boa-fé por atos praticados por seus administradores com excesso de poder (EDcl no AgRg no AREsp 161.495/R], Rel. Ministro Ricarvo Vittas Boas Cueva, Terceira Turma, julgado em 17/12/2013, Dje 12/02/2014; REsp 704.546/DE, Rel. Ministro Lurs Petre SaLomAo, Quarta Turma, julgado em 01/06/2010, DJe 08/06/2010; REsp 293.836/PE, Rel. Ministro Cartos ALHERTO MENEZES Direrro, Terceira Turma, julgado em 10/08/2006; REsp 1.695/MS, Rel. Ministro Nruson Naves, Terceira Turma, julgado em 13/03/1990, DJ 02/04/1990; REsp 4095/SP, Rel. Ministro Aros Canetno, Quarta Turma, julgado em 11/09/1990; REsp 180.301/SP, Rel. Ministro Greson Dir, Quinta Turma, julgado em 19/08/1999, DJ 13/09/1999). Ora, parece ser uma conseguéncia légica da responsabilidade externa corporis da companhia para com terceiros contratantes a respon- sabitidade interna corporis do administrador perante a companhia, em relagto as obrigagdes contrat das com excesso de poder ou desvio do objeto social”. (REsp 1.349.233/SP, Rel. Min. Luts Feure SALOMAO, j. 6.11.2014, DJe 05/02/2015, RT 956/404). Lembrando as ligdes de Eunarro BorGks ¢ de Rubens ReQuido e a jurisprudéncia mansa ¢ pacifica dos tribunais, o Professor Leas esclarece que: .) O dinamismo irrefredvel dos negécios, exigindo rapidez e confianga, aliado ao crescente miimero de operagées @ distancia, impée a necessidade de se oferecer protegdo ao terceiro que, de boa-fé, celebre negocio juridico com sociedade, que seja representada por diretor ou sicio-gerente que aparente poderes CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS como tercciro para este fim. Hi assim a responsabilidade da companhia em relacao aos prejuizos diretamente causados, a sécios ou nio sécios, por atos ilicitos ou irregulares de diretores ou administradores. E 0 que esclarece 0 parigrafo 72 do art. 159 da Lei n® 6.404, quando afirma que a faculdade do acionista de promover a responsabilidade dos administradores, nao exclui a aio que 0s acionistas e terceiros “diretamente prejudica- dos” podem mover contra os administradores ¢ a companhia. Por nao ficar evidenciado o prejuizo direto do acionista, varios julgados entenderam que descabia a agao do acionista contra a companhia no caso de atos ilicitos praticados contra a companhia que causassem prejuizos & mesma, mas s6 indiretamente alcangassem os acionistas minoritarios. Em relagao aos prejuizos causados a sociedade pela gestio normal dos seus administradores, os tribunais decidiram que descabe a ago dos minori- tarios em defesa dos seus proprios interesses, pois, embora os danos direta- mente causados & sociedade, em regra, tenham reflexos indiretos em relagio atodos os seus acionistas, é de se esperar que as perdas dos acionistas pudes- sem passar a ser revertidas com o ressarcimento dos prejuizos 4 companhia’. Embora seja a situago que costuma ocorrer e que se justifica, em rélagio aos atos ordinarios de gestao, ou em relagao as hipdteses de danos decor- rentes de forga maior ou caso fortuito, é também possivel que o prejuizo da sociedade nao se. confunda com o do acionista e vice-versa. Assim, se 0 auto- mével do acionista é destruido na garagem da companhia por um garagista imprudente, empregado da empresa, 0 prejuizo direto é do acionista pro- prietério do automével, que teré uma agao contra a empresa, sem prejuizo da regressiva que ela tera contra 0 causador do dano. Como ja afirmamos, em tais casos, a companhia é simultaneamente vitima do ato ilicito do seu pteposto e responsavel perante 0 acionista dono do carro, que sofreu um prejuizo direto, bastantes.” (Lwaxs, Luiz Gastéo Paes de Barros, O alcance das limitagdes estatutitias a0 poder de representacao dos diretores, Revista de Direito Mercantil, Sao Paulo, n. 113, p.27-28, jan./mar. 1999). SREsp n® 1,014.496/SC 2007/0294327, julgado 04.03.2008, Relatora Ministra Nancy AnpricHt, DJe 01.04.2008, ARNOLDO WALD Embora a Lei das S.A. tenha enfatizado os casos de responsabilidade dos acionistas majoritarios, dos controladores ¢ dos administradores, a da empresa continua a ser regida pela legislagao comum, comercial e civil, na qual os érgaos da sociedade nao s6 a representam, mas a “presentam’” na ter- minologia de Pontes pz Miranpa’. E, nos termos do Cédigo Civil, a socie- dade responde pelos prejuizos causados a terceiros, inclusive acionistas por atos ilicitos dos seus drgaos. Somente ficam ressalvados em relagao a estes liltimos os atos que tenhamensejado prejuizo a empresa, mas nao direta- mente aos sécios, Efetivamente, os acionistas devem correr os riscos normais do negécio ao qual aderiram ao adquirirem as ages’. Na interpretacao da Lei n® 7.913 de 1989, decorridos mais de vinte € cinco anos, foram poucas as aces relevantes tendo sido intentadas pelo Ministério Piiblico. Sao duas dezenas de processos que nao apresentavam relevancia juridica, nem econédmica, nao obstante a existéncia de um livro® e de varios outros trabalhos doutrindrios a respeito do assunto”. 6 “H4 poderes de representagio ¢ de acdo juridica, desde o de praticar atos juridicos uni- laterais e de concluir contratos até o de administrar, que permitem que os atos de alguém tenham eficacia na esfera juridica de outrem, como se fossem atos dese, ou, até, como atos desse. Quem representa pratica atos que nao sio do representado, mas perfazem relagdes juridicas em que o representado figura, Nao é 0 que se passa, certamente, com os érgaos das pessoas juridicas: esses presentam, nio representam”. (PonTES DE Mixanpa, B.C. Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1963, t. XLII, p. 11). 7 GUERREIRO, José Alexandre Tavares, Responsabilidade dos administradores de Sociedades Andnimas, Revista de Direito Mercantil, So Paulo, n. 42, p. 83, abr./jun. 1981. ® Zacuis, Lionel. Protecito coletiva dos investidores no mercado de capitais. Sao Paulo: Revista dos Tribunals, 2007. ° Mancuso, Rodolfo de Camargo. Agio civil publica para tutela dos interesses dos titulares de valores mobilidrios e investidores do mercado. Uma analise da Lei 7913 de 07.12.89. Revista dos Tribunais, Sio Paulo, n. 650, p. 31-39, dez. 1989; Tou epo, Paulo Fernando Campos Salles de, A Lei 7913 de 07.12.1989. A tutela judicial do mercado de valores mobilidrios. Revista de Direito Mercantil, Sao Paulo, n. 80, p. 138-148, out/dez. 1990; Erzirix, Nelson. O conceito de valor mobilidtio ¢ o alcance da Lei n. 7913/89. In: Aspects modernos do direito societério, Rio de Janeiro: Renovar, 1992, p. 147-163; Mazziutt, Hugo Nigro. Defesa dos investidores no mercado de valores. In: A defesa des interesses difusos em juizo. 7 ed. S40 Paulo: Saraiva, 1995, p. 524-527; Vergosa, Haroldo Malheiros Duclerc. Notas sobre o regime juridico das ofertas 20 piiblico de produtos e servicos e valores mobilidrios no direito brasileiro: uma questao de complementacao da protegao de consumidores e de investidores. Revista de Direito Mer- cantil, Sio Paulo, n. 105, p. 74-83, jan./mar, 1997; Bruscato, Wilges. A protegio judicial aos 2 CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS Estamos convencidos de que, aps um quarto de século, o diploma legal, necessita de uma reforma, considerando o papel mais amplo assegurado 4 CVM ea protegio efetiva que deve ser dada diretamente ao investidor. A grande evolugio decorrente da Lei de 1989 em relagao aos diplomas anteriores, consiste no fato que a sua protecdo nao se limitou aos acionistas, mas passou a abranger os investidores no mercado de valores e enfatizou anecessidade de divulgagio da informagao, que jé constava da legislagao das S.A., mas nao era téo especifica em relagio ao dever de ressarcimento pela companhia. Tal fato foi reconhecido pela jurisprudéncia recente do Superior ‘Tribu- nal de Justica, inclusive para fins penais e a fortiori no campo do direito civil. Entendeu o STJ que: “6, Em termos gerais, os arts. 155, § If, da Lei n, 6.404/1976 ¢ 2° da Instrugao n, 358/2002 da CVM definem o que vem a ser informagao relevante, assim como a dou- trina patria, que leciona ser idénea qualquer informagdo capaz de “influir, de modo ponde- revel, na decisao dos investidores do mercado”, gerando “apeténcia pela compra ou venda de ativos’, de modo a “influenciar a evolugao da cotagao” (CasTELLAR, Jodo Carlos. Insider investidores no mercado de valores mobiliarios. Revista de Direito Bancério e do Mercado de Capi- tais, S40 Paulo, n. 28, p. 124-145, abr. jun. 2005; GIDI, Antonio. A class action como instrumento de tutela coletiva dos direitos. Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 2007; FRangouin, Wanessa de Cassia. Aco civil piblica: foco na responsabilidade por danos causados 20s investidores n0 mercado de valores mobiliarios (Lei 7913/89). Revista de Processo, Sto Paulo, n. 157, p. 243+ 260, mar. 2008; Canp1a, Eduardo, Tutela jurisdicional coletiva dos investidores no Mercado de Valores Mobiliarios; quem sio 0s colegitimados ativos para a agio civil publica? Revista de Direito Bancdrio e do Mercado de Capitais, S40 Paulo, n. 52, p. 77-92, abr./jun. 2011; GRiNO- vex, Ada Pellegrini. A tutela coletiva dos investidores no mercado de valores mobiliérios: questdes processuais. In: YARSHELL, Flavio Luiz; Peretra, Guilherme Sctoguti J. (Coord.). Processo societdrio, So Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 27-58; ALmetpa, André de; Yos#1a, Natalie; WALDMAN, Chet B3 Maborr, Emily. Mecanismos legais de protegao a investidores no mercado de capitais dos EUA ~ Estudo comparado com regulamentagio brasileira, Revista de Direito Bancdrio ¢ do Mercado de Capitais, Sio Paulo, n. 60, p. 115-126, abr,/jun. 2013; CARPENA, Heloisa. Ago civil piiblica objetivando a tutela de investidores do mercado financeiro. Revista de Direito do Consumidor, Sao Paulo, n, 90, p. 519-532, nov./dez. 2013; OtoL1, Erik Frederico; Lenazo Fino, José Afonso. Os empecilhos & tutela judicial dos investidores do mercado de capitais ¢ a class action no Brasil. In: YarsHett, Flavio Luiz; Perera, Guilherme Setoguti J. (Coord.). Processo societdrio II. Adaptado ao novo CPC — Let n® 13105/201S. Sao Paulo: Quartier Latin, 2015, p.167-194. ARNOLDO WALD. Trading ¢ os novos crimes corporativos, Rio de Janeiro: Editora Ltimen Juris, 2008, p. 112/113)?” () “9, Diante do quadro delineado na origem, constata-se que a conduta do recorrente se sub- sume A norma prevista no art. 27-D da Lei n. 6.385/76, que foi editada justamente ‘para assegurar a todos os investidores o direito d equidade da informagéo, condigao inerente a garantia de confiabilidade do mercado de capitais, sem a qual ele perde a sua esséncia, notadamente a de atrair recursos para as grandes companhias.”" 2.3 As ages judiciais previstas na lei das sociedades anénimas O art, 158 da Lei das $/A, em seu inciso I, consagrou a opgao do legislador pitrio pelo regime de responsabilidade subjetiva dos administradores das sociedades andnimas nos casos da pratica de atos formalmente regulares de gestao. Em regra, 0 administrador nao é pessoalmente responsivel pelas obriga- Ges que contrai em nome da sociedade, a nao ser que aja com dolo ou culpa; neste caso, ainda que dentro da sua esfera de atribuigdcs ¢ competéncia, tornar-se-4 civilmente responsivel pelos atos danosos que praticar". A hipétese que excepciona a regra da auséncia de responsabilidade pes- soal dos administradores veio prevista no inciso II do referido artigo, de acordo com o qual a atuagao em violagao a lei ou ao estatuto social da com- panhia os torna também, pessoalmente responsaveis, em regime de solida- riedade com a sociedade. Tal sistematica remonta, alids, ao século XIX, quando, no art. 109 do Decreto n.¢ 434/1891, j4 havia previsto expressa de solidariedade entre os administradores a sociedade, em relagao aos terceiros prejudicados quando houvesse violago da lei ou do estatuto, incorporando redagao que adveio da Lei n.2 3.150/1882, do Decreto n.° 8821/1882 e do Decreto n.° 164/1890". °© REsp 1,569.171/SP, Rel. Ministro Gurcet De Farta, Quinta Turma, julgado em 16.02.2016. “Art, 158. O administrador nit é pessoalmente responsével pelas obrigagdes que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestao; responde, porém, civilmente, pelos prejutzos que causar, quando proceder: I- dentro de suas atribuigdes ou poderes, com culpa ox dolo; (.). ® Lucena, José Waldecy. Das Sociedades Andnimas: comentarios & Lei, Rio de Janeiro: Renovar, 2009, v. 2, p. 598. 2 CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS Outrossim, a aplicagio da Teoria da Aparéncia também justifica a res- ponsabilidade da companhia. De acordo com OrLanpo Gomes, a regra se aplica: “em relagio as sociedades porque, sendo pessoas juridicas, praticam atos por intermédio de seus Orgaos, os quais nao podem estar constitutdos regularmente, ou se comporem com limi- tages de poderes ignorados por terceiros”". Ainda neste esteio, FRAN Martins esclareceu com lapidar ¢ irretocavel acerto, que: “Como gestor da sociedade, 0 administrador pratica atos normais de administragdo, fazendo, assim, com que a pessoa jurtdica desempenhe suas atividades como entidade que ‘possui patriménio préprio. Por tal razdo, as obrigagoes que o administrador contrai em nome da sociedade ou em virtude de ato regular de gestao sao de responsabilidade da pessoa juridica, que atua através dos seus administradores. A vontade expressa pelos administradores, quando realizam atos normais relativos a gestdo da sociedade, éa vontade da pessoa juridica, nao a sua propria, donde poder o interesse da pessoa jurtdica ultrapassar ou contrariar, mesmo, os interesses particulares dos administradores. Em se tratando de pes- soas diferentes, com patriménios diversos, sempre que o administrador assume obrigagdo em nome da sociedade, em virtude de ato regular de gestao, estard obrigando a sociedade, nito a si proprio, pois dela estd exprimindo a vontade’."* “ Gomes, Orlando. Transformagées gerais do Direito das Obrigagées. Sao Paulo: Revista dos Tri- bunais, 1967, p. 106. ¥ Martins, Fran, Comentdrios a Lei das Sociedades Aninimas. 4.ed. Rio de Janciro: Forense, 2010, p. 595. Omesmo autor esclarece ainda que, no seu entender: “Aleiatual reconheceu, de modo direto, o dever deinformar por parte dos administradores das sociedades ‘andnimas; como aqueles sto érgéos da sociedade, os acionistas ficardo cientes, por intermédio dos mesmnos, dos negocios soviais ou outros assuntos relativos @ companhia. Nado quis lei reconhecer & propria socedade Oo dever de prestar informagdes aos acionistas mas tratou do assunto como sendo cle um dever que o administrador assume, ao acetar o cargo para que foi leita, A faltado cumprimento dessedever ndo serd imputada, asi trata de um dever pessoal, Data propria sociedade poder mover agto contra o administrador se do ndocumprimento, ‘or parte deste, do dever de informar gue a lei the impos advierprejuizo para a sociedade (art. 159). De igual modo, 0 ‘cionista prejudicado teréasao contra administrador; se, entretanto, nao lograr éxito na sua acto, poderd sociedade mas ao administrador da mesma, jd que se 2B ARNOLDO WALD. Justamente em virtude da importancia da fungdo desempenhada pelo administrador da companhia, o legislador destinou outros dispositivos da Lei das S/A para regular seus deveres sociais. Abrangem as obrigagdes de cuidado e diligéncia (art. 153"), atuago em conformidade com o interessa da companhia, com as exigéncias do bem piblico ¢ com a fungio social da empresa (art, 154"), bem assim os deveres de lealdade (art. 155") e de infor mar (art. 157, §4°%). Consequentemente, a companhia sera, em ultima anilise, legalmente responsavel por atos danosos de seus administradores que presumidamente atuam em conformidade com a vontade social. A depender da atuagio do administrador no caso conereto é que se extrairé a conclusao pela responsabilidade exclusiva da comipanhia- quando seus representantes tiverem praticado atos regulares de gestao — ou solidd- ria, nas situagdes em que os atos foram praticados em violagio legal ou do estatuto e, por conseguinte, dos préprios limites do objeto social perseguido agir contra a sociedade, visto como o administrador é érgao da mesma e, em tal caso, deixando de prati- car um ato que envolvainteressesacial, « compania poderd ser acionada para responder pelos prejutzos sofridos, ainda que tenha agio regressva contra 0 administrado inadimplente.” (Maxrins, Fran, op. ct, p.590). °5 “Art, 153. Qadministrador da companhia deve empregar, no exerccio de suas fungées, 0 cuidado e dili- _géncia que todo homem ativoe probo costuma empregar na administragao dos seus proprios negéctos” ° “Art, 154, O administrador deve exercer as atribuicdes que a lee o estatuto the conferem para lograr os fins eno interesse da compania, satisfeitas as exigéncias do bem priblico e da fungao social da empresa’. ” “Art, 155. Ocadministrador deve servir com lealdade a compankia e manter reserva sobre os seus neg- cis, sendo-the vedado: I-usar, em beneficio proprio ou de outrem, com ou sem prejuizo para a companhia, «as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razao do exercito de seu cargo; II omitir-se no exercicio ow protec de direitos da compankia ou, visando @ obtengao de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitar oportunidades de negécio de interesse da companhia; IM - adguirir, para revender com lucro, bem ou direito que sabe necessério & companhia, ou que esta tencione adguirir” "8 “Art. 157, O administrador de companthia aberta deve declarar, ao firmar o termo de posse, o ntimero deagdes, bonus de subscrigdo, opedes de compra de acdes e debentures conversfveis em agdes, de emissiio da companhia ede sciedades controladas ou do mesmo grupo, de que sea titular. (..) § 4° Os administra- dores da companhia aberta sao obrigados a comunicar imediatamente 2 bolsa de valores ¢ a divulgar pela imprensa qualquer deliberagdo da assembléia-geral ou dos orgdos de administragao da companhia, ou fato relevante ocorrido nos seus negdcios, que possa influtr, de modo ponderdvel,na decisd0 dos investidores do mercado de vender ou comprar valores mobilidrios emitidos pela companhia” CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS ela companhia, que ndo podem ser contrérios lei, por expressa determi- nagio do art. 2° da Lei das S/A®. Por outro lado, a previsio do §7° indica a possibilidade de qualquer acio- nista ou terceiro, que tenha sofrido prejuizos patrimoniais diretos em razao de atos do administrador, manejar a sobredita agio”. Trata-se, destarte, da agio individual, em que o acionista pleiteia, em nome proprio, um direito pessoal seu que tenha sido diretamente violado por agdo ow omissao do administrador?'”?, 3,A Doutrina O problema se torna mais complexo em relago aos atos ilicitos dos érg’ios da sociedade. Cabe verificar no caso se: a) houve também culpa in eligendo ou in vigilando da sociedade; b) ou se trata de hipdtese em que o ato é da sociedade e a lei estabelece uma responsabilidade objetiva. ” “Art. 2* Pode ser objeto da compankia qualquer empresa de fim lucrativo, no contrério a lei, a ordem piiblica e aos bons costumes”. = Tavares Borsa bem aponta que: “A margem de suas responsabilidades perante a companhia, res- pondem ainda os administradores (art. 159, §7°) pelos prejutzos que causarem a terceiros ou a algurt acionista individualmente, hipdtese em que o interessado terd agao individual contra o administrador cul- padio. (..) Com essa acto, buscard o acionista uma indenizagdo pessoal fundada em dano ou prejutzo que the tenha sido diretamente causado. A matéria objeto dessa agifo nao se confunde nem concorre com a que éobjeto da ago social. Juridicamente, o prejutzo coletivo que afeta a sociedade somente a sociedade diz respeito. O interesse do acionista nesse prejuizo, que é indireto, permite-the agir como substi- tuto processual da companhia, em proveito da companhia (agao social ut singuli). Nao the é dado pleitear pessoalmente, através de agao individual, qualquer quinhio desse prejuizo, pois essa faculdade violaria o princtpio da separagio patrimontal, que é inerente ao direito societdrio. A aco individual concerne a dano direto, pessoal e especifico que a administragdo da sociedade tenha causado a determinado acionista ou grupo de acionistas.” (Boxwa, José Edwaldo Tavares. Direito societario. 12, ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p. 420-421). * Cavatnosa, Modesto. Comentario a Lei das Sociedades Andnimas, S.ed. Sio Paulo: Saraiva, 201l,v.3, p. 472, ® “Independentemente de autorizagio da assembleia, o s6cio diretamente prejudicado pela administragao lesiva tem legitimidade para ingressar com a demanda indenizatoria, garantida pelo (7? do art. 159.” (Rizzarno, Arnaldo. Direito de empresa. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. $48). ARNOLDO WALD No primeiro caso, podemos ter uma presungio juris tantum da empresa, que poder provar que a sua conduta nao foi culposa ou dolosa. No segundo, a presuncio é juris et de jure, respondendo a companhia soli- dariamente com aqueles que praticam o ato ilicito, independentemente de existir ou nao culpa de sua parte. 3.1. Propositura da Agao Individual pelo Prejuizo Direto Como vimos, a agio individual prevista no §7° do art. 159 da Lei das $.A. visa a restauragio de direitos individuais do acionista, que podem ou nao coinci- dir com os direitos de outros acionistas®. A acio individual pode ser intentada com base nos mesmos fatos que podem dar ensejo & propositura da agio social, mas com finalidades diferentes. £ 0 que ja ensinavam os comercialistas do século passado como C, Hou- pin e H. Bosvigux: “nous devons reconnaitre que les faits qui autorisent Vexercice d’une action sociale peuvent donner lieu, en méme temps, a des actions individuelles, s’il en est resulté un préjudice particulier pour certains actionnaires ou pour tous les actionnaires dans des proportions différentes et si ce préjudice est indépendant de celui qu’a éprouvé Ia société”, Por sua vez, na nossa doutrina, os autores do Anteprojeto da Lei das S.A., ALFREDO Lamy F1LH0 e José Luiz BuLHOEs PEDREIRA, indicam que o dano direto ao acionista pode decorrer de atos como: “(u.) a divulgagao de informagées falsas em demonstragoes financeiras, ou relaté- rios, que levem 0 acionista a subscrever ages em aumento de capital por valor supe- rior ao que pagaria se nio fosse induzido a erro por essas informagoes”®, % CaRvALHOSA, Modesto, op. ct, p. 472. * Houptn, C3 Bosvizux, H. Traité Général Théorique et Pratique des Sociétés Civiles et Comamer- ciales et des Associations. Paris : Société du Recueil Sirey,1925, p. 488, % Lamy Fins, Alfredo; Pereira, José Luiz Bulhoes. A Lei das S.A. 2.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, v. 2, p. 406. CONSIDBRAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS No mesmo sentido se coloca FELIPE FERNANDES RIBETRO Mala: “Bvidentemente, a responsabilidade por dano individual estard sempre afetada ao descum- primento de um dever jurédico por parte dos administradores, como, v.g., a auséncia de observincia do dever de informagao (..)”"*. Da mesma forma se posicionam os doutrinadores franceses de direito civil HENRI e LEon Mazeaup e ANDRE TUNC: “Qu’on suppose, au contraire, que Ia publication de faux bilans ait determiné une per- sonne dt acheter ou souscrire des actions de la société; cette personne subit un preju- dice qui lui est particulier”””. » Ma1a, Felipe Fernandes Ribeiro. O dano direto ao acionista minoritério na agio de respon- sabilidade do administrador de $/A: Caso OGX. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos, Belo Horizonte, v. 27, p10, 2013. » Mazeaup, Henri; Mazzaup, Léon; Tunc, André. Traité Théorique et Pratique dela Responsabi- lité Civile Délictuelleet Contractuell, 5.ed, Paris: Montchresteien, 1958, t. Il, p. 822. O Texto completo ¢ o seguinte: «1878-5. Distinction de Faction sociale et de Faction individuelle des associés, ~ Critere. ~ Si un préju- dice est causé & une personne morale, celle-cia une action en reparation; c'est 'action sociale. Mais les lividuellement, agir en responsabilité? Cortes es associssubissent nécessairement un dommage du fait que le groupement supporte un préjudice. C'est vident sl agit d'un prejudice matériel cause 2 une société; chague associé vott par [a diminuer on droit dans le ‘atrimoine social, Cest encore vrai s'il sagit d'un préjudice moral causé a une personne morale quelcongue; [asso- cif est toujours atteint, moralement aussi bien que matérillement, proportionnellemnt @ sa participation dans le groupe. ‘Mais ce dommage subi par les asocts, ces le dommage méme souffert par legroupement. I nfatteint Vasocié que ‘comme partie du groupement et en proportion de sa part. Lassocié n'est pas feappéen tant qu'individu, mais en tant que fraction du groupe. Le préjudice social n’atteint donc pas individuellement les associé; il ne les frappe ‘qu’a travers le groupement, comme membre du groupement. Théoriquement, on ne peut pas plus leur don- ‘er une action qu’aux membres d'un corps humain qui soufftent des conséquences d'un mal génévalisé. La personne morale 'interpose entre les associé et auteur dela faute; elle forme un obstacle insurmontable aux actions individuelles des associés. Par exemple, un préjudice est causé au patrimoine socal par la mauvaise gestion @’um administrateur ou parla faute un ters; uneaction sociale, seule, Texclusion, en principe, de toute action indviduelle, permet d’obtenr la répara- tion du dommage. Qu’on suppose, au contraire, que la publication de faux bilans ait déterminé une personne acheter ou souserire des actions de la société; cete personne subit un préjudice qui ui est particulier; une «action individuelle tui permet de poursuivre les administrateurs responsables de inexactitudes du bilan, associés peuventils de leur cot ARNOLDO WALD Percebe-se, pois, que a violagio do dever de informar’, por parte da socie- dade ou de seus administradores, pode dar causa ao ajuizamento de ago indi Na realidade, a informacao constitui a premissa nao somente da decisio dual pelo acionista, que sofreu um prejufzo em virtude de tal violagao, de adquirir, subscrever ou alicnar valores mobilidrios, mas é essencial tam- bém para as transagées posteriores do acionista, tendo em vista que os inves- tidores pautam suas decis6es de acordo com as informagées levadas pela companhia a conhecimento piblico”. Outra conduta que é amplamente reconhecida como ensejadora da agio individual é a pratica de insider trading, na medida em que também causa um dano direto ao acionista™. De acordo com Moprsro Carvatiosa, a hipétese do uso de informa- g6es confidenciais pelos administradores nao gera dano material significa- tivo para a sociedade, mas sim aos seus acionistas, pois: “G..) dessa pratica (insider trading) surgem danos materiais diretos e efetivos para os acionis- tas em face da manipulagao, no mercado, das ages dos administradores, em detrimento dos direitos de negociagao em igualdade de condigées dos outsiders. Configura-se, pois, a plena legitimidade individual dos acionistas para propor medidas contra os administradores”*, José WaLpecy Lucena se posiciona da mesma maneira: Telle est la distinction de action sociale et de Vaction individuelle, qui, &juste ttre, femporte en doctrine et en juris prudence, » (op. cit, p. 821-822). % “O ofertante estdsujeito a deveres de informar. O fundamento juridico amplo desse dever pode ser recon- ducido ao dever de atuar de boa-fé na celebragdo dos contratos (CC, art. 422), mas tém seus contornos precisados pela regulamentagdo do mercado de capitats.(..) Dessa forma, ainda que os especifcos deve- 15 informativos estejam situados em nivel infralegal, seu descumprimento redunda em uma sangdo civil, ‘isto que representa um descumprimento do dever de boa-fe. (..)”. (BuscHiNELLI, Gabriel Saad Kil, In: Coporniz, Gabriela; Parei.a, Laura (Org,). Comentirios a Lei do Mercado de Capitais ~ Lei 1n®6,385/76, Sio Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 410-411). ® BuscHINeLut, Gabriel Saad Kik, In: Coporntz, Gabriela; PareLta, Laura (Org,). Comenté- rios 4 Let do Mercado de Capitais ~ Lei n® 6.385/76. Sao Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 419. ® LxAks, Luiz Gastdo Paes de Barros. Mercado de Capitaise Insider Trading. S40 Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, passim. 5 CarvaLHosa, Modesto. op. cit., p. 473. 8 CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS “pxemplo cldssico de prejutzo ocasionado pelo administrador diretamente ao acionista ut socii tem-se na condendvel pritica de insider trading (..). Cabe, nesse caso, a agao indivi- dual contra o administrador que, como expée Tavares Guerreiro, infringe o dever de leal- dade, dispondo de informagio relevante, nao divulgada ao puiblico, para obter vantage na venda de agées da companhia no mercado, em detrimento do acionista que, ignorando referida informagao relevante, deixa de vender suas préprias agdes. Se os dados reservados, de que dispde 0 administrador, indicam uma tendéncia baixista das cotagdes das agdes da companhia, 0 acionista sofre prejutzo se retém suas agées, na expectativa contraria, ou seja, na esperanga devalorizacao das mesmas””. Portanto, 4 luz do exposto é certo que, pelo regime da Lei das S/A, exis- tem dois tipos de agdes de responsabilidade, quais sejam, a social, que tem por fundamento 0 prejuizo causado ao patriménio da sociedade e que pode ser proposta pela companhia, ou pelo acionista em substituigao processual aquela, e a individual, que visa 4 reparacao do prejuizo direto do proprio acionista. ‘A contrario sensu, 0 prejuizo indireto somente pode ser reparado por meio da aio social, porquanto a reparacao deve ser igualmente indireta, através da recomposigio do patriménio da companhia, como bem explicam ALFREDO LAMY FILHO e José Luis BuLHOES PEDREIRA® enquanto o pre- juizo direto enseja a propositura da acdo individual. 3.2. Cabimento da Agao de Responsabilidade Civil contra a Companhia Além de ser mencionada expressamente pela lei, a possibilidade de ser acionada diretamente a sociedade pelos acionistas prejudicados, constitui decorréncia légica do regime anteriormente explicitado, sobretudo nas hipéteses de prejuizo direto ¢ nos casos em que a companhia ¢ solida- riamente responsavel, com seus administradores, pelos atos ilicitos que estes praticaram em nome dela ou usando-a para cometé-las. Nio foi por outro motivo que o legislador decidiu fazer mengo expressa, no §3° do art. 109, com a redacao dada pela Lei n. 10.303, de 31.10.2001, * Lucena, José Waldecy, op. cit., p. 615. ® Lamy Fito, Alfredo; Pereira, José Luiz Bulhdes, op. cit,, p. 406 ¢ 409. 29 ARNOLDO WALD. & possibilidade dos conflitos entre os “acionistas ¢ a companhia” serem resolvidos por arbitragem. Mais ainda, tal possibilidade foi tratada como verdadeiro direito irrenunciavel do acionista™. Logo, se a companhia for acionada por um ou varios dos acionistas, indi- vidualmente, ter4 ela a sua disposigao o direito de regresso contra as pessoas fisicas diretamente envolvidas nos ilicitos. E 0 que ja defendia FkaN Martins ao ensinar que: “externamente, via de regra, com base na teoria da aparéncia ou no princtpio da responsabi- lidade auténoma da pessoa juridica, os prejudicados, desde que provem boa-fé, poderiio cobrar da companhiaa reparagao pelos danos softidos, podendo, a iltima, se for 0caso, acionar o art. 159 da Lei das Sociedades Anénimas (acao de responsabilidade) para se res sarcir perante 0 administrador pelos prejuizos causados"®®, A maioria dos doutrinadores patrios admitem expressamente tal possibi- lidade, a comegar por RUBENS REQUIAO, que sustenta que: “quando o ato ilfcito praticado causa prejutzo diretamente a acionista ou terceiro, terito estes legitimidade para promover a agito contra a companhia ¢ contra 0 admi- nistrador responsdvel solidariamente”®, Ja era alias, o entendimento de TRajaANO DE MIRANDA VALVERDE para quem: “637, O mesmo fato ilicito do diretor pode ocasionar prejutzos diretos a sociedade, aos acionistas, a terceiros, ou diretamente d sociedade e indiretamente aos acionistas. () % “Apt, 109, Nem oestatuto social nem a assembleia-geral poderito privaro acionista dos direitos de: () § 3°O estatuto da sociedade pode estabelecer que as divergéncias entre os acionistas ¢ a companhia, ou entre os acionistas controladores ¢ os acionistas minoritdrios, poderao ser solucionadas mediante arbitra- _gem, nos termos em que especificar.” & Martins, Fran, op. cit. p.597. 8% REQuido, Rubens. Curso de Direito Comercial. Sa0 Paulo: Saraiva, 2008, v. 2, p. 229. 30 CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS. Quando a sociedade responde, perante acionistas ou terceiros, por atos ilicitos de seus diretores, tem ela, € claro, agao regressiva contra eles para reaver a importancia paga ao prejudicado.”” No mesmo sentido se manifestou Cun PEIxoTo que escreveu: “Do que ficou exposto, resulta que a sociedade é responsdvel para com terceiros, mesmo pelos atos praticados em desacordo com o contrato ¢ com a lei, cabendo-Ihe apenas direito regressivo contra o administrador.** i i Mais recentemente, em comentario ao artigo 158 da Lei das S/A, NELSON Erzirik pondera que: “Quando 0 administrador pratica ato regular de gestao, apenas a companhia responde pelos danos eventualmente causados, nao havendo qualquer responsabilidade sua. Se 0 administrador, embora praticando ato regular de gestdo, agir com culpa ou dolo, a companhia responde solidariamente pelos danos, podendo depois prover agao regressiva contra ele. Tal se dd porque nas 2 (duas) hipéteses o administrador atuit como drgio da companhia, Jé quando o administrador age com violagao da lei ou estatuto, a sociedade nao responde pelos danos, exceto se: (i) houver tirado proveito do ato; (ii) houver ratificado o ato; ou (ii) o prejudicado for terceiro de boa-fé. Em tais hipdteses, evidentemente a companhia terd agao regressiva contra o administrador”. Eacrescenta: Assim, a companhia, em tal caso, responde pelos danos causados, podendo o Prejudicado propor acdo solidariamente contra a empresa ¢ 0 administrador. Se a ago * VatverDe, Trajano de Miranda, Sociedade por Agdes. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1953. ¥. 2, p.324-325, “ Cuntta Petxoro, Carlos Bulgéncio da. A Sociedade por Cotas de Responsabilidade Limitada, 2d. Rio de Janciro: Forense, 1958, v1, p. 309. ® Exziruxc, Nelson, A Lei das S/A comentada. Sao Paulo: Quartier Latin, 2011, v. 4, p. 404-405. ARNOLDO WALD for proposta apenas contra a companhia, terd ela posteriormente agao regressiva contra administrador.” Em artigo recente, o Professor LrAxs esclarece, por sua vez que: “4/10. No cumprimento de todos esses deveres de informagao e comunicagao, os admi- nistradores atuam, repita-se, organicamente, ou seja, agem como integrantes de um érgao social, funcionando, assim, como se fossem a propria sociedade. Pois éa companhia, na verdade, quem faz parte do mercado de valores ¢ estd sujeita ao prin- cipio de amplae completa transparéncia (“full and fair disclosure”). Em consequén- cia, em caso de conduta ilfcita de seus administradores, inadimplindo esse dever de divulgagao ao priblico investidor, é a cla, @ sociedade, que cumpre responder pelos danos que porventura tenham sido provocados nos investidores do mercado. Até por- que, dada a magnitude da lesdo, o elemento garantia-responsabilidade deve localizar-se no patriménio social, jd que os bens dos administradores raramente so suficientes para fazer _frente a perda softida pelos investidores, embora reserve d sociedade direito de regresso™". Idéntica é a posigao da recente doutrina francesa que afirma: «328, Tous les préjudices boursiers par désinformation ont en commun la diffu- sion directe ou indirecte d’informations qui s’avérent fausses ou sans fondement économique ou financier. Cette désinformation engendre une altération des cours de Bourse auxquels les transactions boursidres sont réalisées ou sur. a base desquels des déci- sions d’investissement ou de conservation sont prises. Par conséquent, les fautes boursie- res par désinformation sont susceptibles de causer des dommages aux personnes qui investissent sur les marchés boursiers.»” Em virtude do quanto exposto, destarte, afigura-nos cabivel, & luz do ordenamento atual, que a companhia seja responsabilizada pelos prejuizos 40 Byzunrx, Nelson, Questoes de Direito Societtirio e Mercado de Capitais. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 108. 4 Lpaes, Luiz Gastao Paes de Barros. A responsabilidade da sociedade por desinformagio do acionista e a arbitragem. Revista de Arbitragem e Mediagao, S40 Paulo,n.50, jul,/set. 2016, prelo. © Spirz, Nicolas. La réparation des préjudices boursiers, Paris : Revue Banque Baition, 2010, p.209. 32 CONSIDERAGOES SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS COMPANHIAS ABERTAS diretos que forem causados a seus acionistas em razao de atos praticados por seus administradores, pois como vimos, para este fim, 0 acionista é equipa- ado ao terceiro. Cumpre-nos, agora, exemplificar quais so os prejuizos, cuja indenizacao responde a sociedade e se a sua responsabilidade ¢ subjetiva ou objetiva e se éou nao presumida. 3.3 Aspectos regulamentares da responsabilidade da companhia pela violagao dos deveres de divulgar a0 mercado fatos relevantes e de apre- sentar demonstragées financeiras corretas e precisas. principais nor- mas da CVM Como vimos, a Lei das $/A, nos arts. 153 a 157, estabeleceu uma triade das principais obrigages dos administradores das companhias abertas, quais sejam, os deveres de diligéncia, lealdade e de informar. Com efeito, os administradores devem atuar sempre em prol do melhor interesse da sociedade, satisfazendo as exigéncias do bem piiblico e da fun- ao social da empresa e, no que tange 4 lealdade, séo legalmente obrigados exvi do §12 do art. 155 do mesmo diploma legal, a: © “Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exerctcio de suas fungées, 0 cuidado ¢ diligéncia que todo homem ativo ¢ probo costuma empregar na administragao dos seus préprios negécios”. “Art. 154. Oadministrador deve exercer as atribuigdesque a lei eo estatuto lhe conferem para lograr os fins eno interesse da compania, satisfeitas as exigéncias do bem piiblico e da fungao soctal da empresa. § 1° O administrador eleito por grupo ou classe de acionistas tem, para com a companhia, os mesmos deveres que os demais, no podendo, ainda que para defesa do interesse dos queo elegeram, faltara esses deveres, § 2° E vedado ao administrador: a) pratcar ato de iberalidade dcusta da companhia; b) sem prévia autorizagao da assembléia-geral ou do conselho de administraco, tomar por

You might also like