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CREATINA
A anatomia de uma mentira
Y R regressão à média
ilusão estatística
s
extrapolação fisiológica
o
fragilidades
metodológicas
CREATINA
A anatomia de uma mentira
1
Creatina e queda de cabelo
Grupo Creatina
Receberam 25 gramas de creatina por dia durante uma semana, e
depois consumiram 5 gramas de creatina por dia durante duas semanas
(chamado tempo de manutenção).
Grupo Placebo
Receberam doses idênticas ao grupo creatina, mas de placebo, todos
os dias nas três semanas.
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À primeira vista, pode parecer que a creatina realmente foi capaz de
aumentar os níveis de hormônios androgênicos - no entanto, a conclusão
mais adequada é um pouco diferente após uma inspeção minuciosa. Nessa
inspeção, vamos nos atentar a três pontos:
Interpretação dos resultado
Ilusão estatística (regressão à média
Extrapolação fisiológica
Diferenças
entre grupos
Diferenças
intra-grupos
3
Diferenças
intra-grupos
É o resultado da subtração da média de alguma variável em um grupo no
final do estudo, pela média desta mesma variável neste mesmo grupo no
início do estudo. Em outras palavras: é uma mudança ao longo do tempo,
também chamado de "antes e depois" ou "pré e pós tratamento".
Exemplo:
Em um estudo comparando semaglutida e placebo, a diferença média de
peso corporal ao longo do tempo no grupo placebo foi de -2,6 kg e,
no grupo intervenção, de -15,3 kg.
-2,6
-15,3
Começo do
Final do
Começo do
Final do
Diferenças
entre grupos
É a subtração do valor médio de alguma variável entre o grupo intervenção
e o grupo controle, em determinado momento no tempo. Em um ECR
controlado por placebo, o resultado desta subtração pode ser atribuído ao
efeito da intervenção sendo testada.
4
Exemplo:
Em um estudo comparando semaglutida e placebo, a diferença média
entre os grupos ao final do acompanhamento de 68 semanas foi de 12,7
kg (favorável ao grupo semaglutida). Semaglutida foi responsável por
uma redução de 12,7 kg a mais do que placebo em 68 semanas.
Placebo
Semaglutida
12,7 diferença
Começo do
Final do
estudo estudo
5
Ora, então como os autores interpretaram os próprios resultados? Como
podem dizer que a creatina causou aumento de 56% no DHT? De onde surgiu
este número?
Simples:
0,98 nmol/L.
Qual foi a média de DHT neste mesmo grupo, no dia 7?
1,53 nmol/L.
Faça a conta na calculadora para descobrir o aumento ao longo do
tempo (diferença intra-grupo) no grupo creatina.
Certo, pelo menos descobrimos de onde o valor de 56% surgiu. Mas: será
que é este o resultado que realmente importa?
6
Qual foi a média de DHT no grupo creatina no dia 7?
1,53 nmol/L.
1,09 nmol/L.
Ilusão Estatística
Todo estudo científico está sujeito a vieses e problemas que podem
prejudicar a validade de suas conclusões, até mesmo um estudo "padrão
ouro" como o ensaio clínico randomizado.
7
Trocando em miúdos: se um exame está muito alterado (tanto pra cima
quanto para baixo), a tendência é que a próxima aferição seja mais próxima
da normalidade.
8
A média aritmética da amostra inteira (incluindo participantes do
grupo creatina + placebo) ao início do estudo seria de 15,76 nmol/L
(testosterona) e 1,12 nmol/L (DHT).
Testosterona
DHT (nmol/L)
2 1.26 | Média (placebo)
Média da amostra inteira (1.12 nmol/L)
1
0.98 | Média (creatina)
0
DIA 0
9
Os gráficos para níveis média de Testosterona e DHT após 0, 7 e 21 dias
de suplementação com creatina ficariam assim:
Testosterona
(nmol/L)
18 16.69
16.08
Média da amostra
inteira.
15 (15.76 nmol/L)
14.44 regressão à média
0
DIA 0 DIA 7 DIA 21
DHT (nmol/L)
2
1.53 1.38
Média da amostra
inteira.
1 (1.12 nmol/L)
regressão à média
0.98
0
DIA 0 DIA 7 DIA 21
10
De todo modo, os grupos são
muito diferentes em média no
início do estudo. Seria análogo
a uma corrida de 100 metros
rasos, em que um atleta
começa com uma vantagem de
10 metros do outro no
momento em que o tempo
começa a contar.
Extrapolação Fisiológica
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A resposta, curta e grossa: não.
Resumão
O mito da creatina e queda de cabelo é baseado em um único ensaio
clínico, pequeno e com fragilidades metodológicas. É o estudo mais citado
sobre o impacto da creatina nos hormônios androgênicos, e ao mesmo tempo
está longe de comprovar o que as pessoas veementemente (e repetidamente)
alegam existir. Não, a evidência não demonstra que creatina impacta nos
níveis de DHT ou testosterona, e muito menos impacto direto nos folículos
capilares ou queda de cabelo.
12
Um mito criado e perpetuado por graves problemas de interpretação
estatística básica, sobretudo pela conclusão dos autores, que se baseia na
comparação entre creatina no dia 7 e creatina no dia 0, ignorando totalmente
o grupo controle. Essa é uma prática comum de spin (módulo 10 do
Interpretando Evidência), em que os autores enfatizam uma diferença intra-
grupo ao longo do tempo, enquanto ignoram os resultados da comparação
entre grupos (creatina vs. placebo).
O fato de você ter chegado até aqui significa que você faz parte de um
grupo seleto de pessoas, que não estão satisfeitas com conversinha de "um
estudo mostrou" e "na prática clínica eu vejo que funciona".
Só toma atenção: em pouco tempo, a turma vai virar e o preço vai mudar.
Aproveite a oportunidade.
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Te encontro no IE. :)
Um abraço,
Igor.