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RESUMO 3º TRIMESTRE

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM

Sumário
ETAPA 1......................................................................................................3
AU1 - Psicologia do desenvolvimento........................................................................3
SEÇÃO 1: O conceito de Psicologia do Desenvolvimento...................................3
SEÇÃO 2: As áreas de abrangência da Psicologia do Desenvolvimento............4
SEÇÃO 3: O enfoque da Psicologia do Desenvolvimento....................................5
SEÇÃO 4: As controvérsias da Psicologia do Desenvolvimento.........................6
SEÇÃO 5: Os métodos da Psicologia do Desenvolvimento.................................7
SEÇÃO: RECAPITULANDO................................................................................8
AU2 - O conceito de desenvolvimento humano........................................................9
SEÇÃO 1: O conceito de desenvolvimento humano............................................9
SEÇÃO 2: O processo de desenvolvimento e a questão da periodização...........9
SEÇÃO 3: Etapas da vida dos sujeitos – parâmetros de desenvolvimento......10
SEÇÃO 4: A importância do contexto para a etapização do desenvolvimento
.................................................................................................................................11
SEÇÃO 5: A construção da singularidade dos sujeitos.....................................12
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................13
AU3 - O desenvolvimento na perspectiva de Jean Piaget......................................14
SEÇÃO 1: Quem foi Jean Piaget.........................................................................14
SEÇÃO 2: A Epistemologia Genética de Jean Piaget........................................15
SEÇÃO 3: As etapas do desenvolvimento na perspectiva piagetiana..............16
SEÇÃO 4: O conceito de conflito cognitivo e as práticas educativas...............17
SEÇÃO 5: O jogo e o simbolismo infantil...........................................................18
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................19
AU4 - O desenvolvimento Psicológico na perspectiva de Vygotsky......................20
SEÇÃO 1: Quem foi Lev Vygotsky......................................................................20
SEÇÃO 2: A teoria histórico-cultural de Vygotsky...........................................21
SEÇÃO 3: O conceito de mediação......................................................................22
SEÇÃO 4: Desenvolvimento e aprendizagem na perspectiva vygotskyana.....23
SEÇÃO 5: O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal.........................23
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................24
AU5 - O desenvolvimento psicológico na perspectiva de Henri Wallon...............25

1
SEÇÃO 1: Quem foi Henri Wallon......................................................................25
SEÇÃO 2: A psicologia da pessoa na perspectiva de Wallon............................26
SEÇÃO 3: O papel da afetividade no desenvolvimento humano segundo
Wallon.....................................................................................................................27
SEÇÃO 4: As etapas do desenvolvimento segundo Wallon...............................28
SEÇÃO 5: A importância do movimento na constituição da pessoa................29
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................30
AU6 - A Escola Sociológica Europeia......................................................................31
SEÇÃO 1: Quem foi Skinner................................................................................31
SEÇÃO 2: O estudo do comportamento humano..............................................33
SEÇÃO 3: Os reforçadores na teoria de Skinner...............................................33
SEÇÃO 4: Os usos do Behaviorismo...................................................................34
SEÇÃO 5: O uso de reforçadores e a construção da autonomia dos sujeitos..35
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................36
ETAPA 2....................................................................................................37
AU7 - O desenvolvimento psicológico na perspectiva de Carl Rogers.................37
SEÇÃO 1: Quem foi Carl Rogers........................................................................37
SEÇÃO 2: A teoria Humanista............................................................................38
SEÇÃO 3: A relação entre o ensino e a aprendizagem......................................39
SEÇÃO 4: O relacionamento interpessoal como promotor da aprendizagem 40
SEÇÃO 5: Elementos facilitadores da aprendizagem........................................41
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................42
AU8 - O Desenvolvimento Psicológico na Primeira Infância................................43
SEÇÃO 1: O conceito de primeira infância........................................................43
SEÇÃO 2: Desenvolvimento físico e psicomotor até os dois anos de idade.....44
SEÇÃO 3: Desenvolvimento cognitivo até os dois anos de idade......................45
SEÇÃO 4: O desenvolvimento da linguagem.....................................................46
SEÇÃO 5: O desenvolvimento socioafetivo nos dois primeiros anos de vida. .47
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................48
AU9 - O desenvolvimento na perspectiva de Jean Piaget......................................49
SEÇÃO 1: Quem foi Jean Piaget.........................................................................49
SEÇÃO 2: A Epistemologia Genética de Jean Piaget........................................49
SEÇÃO 3: As etapas do desenvolvimento na perspectiva piagetiana..............49
SEÇÃO 4: O conceito de conflito cognitivo e as práticas educativas...............49
SEÇÃO 5: O jogo e o simbolismo infantil...........................................................49
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................49
AU10 - O desenvolvimento Psicológico na perspectiva de Vygotsky....................49

2
SEÇÃO 1: Quem foi Lev Vygotsky......................................................................49
SEÇÃO 2: A teoria histórico-cultural de Vygotsky...........................................49
SEÇÃO 3: O conceito de mediação......................................................................49
SEÇÃO 4: Desenvolvimento e aprendizagem na perspectiva vygotskyana.....49
SEÇÃO 5: O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal.........................49
SEÇÃO: RECAPITULANDO..............................................................................49

ETAPA 1

AU1 - Psicologia do desenvolvimento


SEÇÃO 1: O conceito de Psicologia do Desenvolvimento

A psicologia do desenvolvimento tem como objeto de estudo a conduta humana,


tanto no que se refere aos seus aspectos externos e visíveis quanto aos seus aspectos
internos e não diretamente perceptíveis., com ênfase nas mudanças psicológicas pelas
quais o indivíduo passa ao longo de sua vida.
As mudanças que se constituem como objeto de estudo da psicologia do
desenvolvimento são aquelas que se relacionam aos processos de desenvolvimento das
pessoas a seus processos de crescimento e suas experiências vitais significativas.
Essas mudanças se caracterizam por ter um caráter normativo ou seminormativo,
o que significa que os processos estudados por essa área da psicologia são aplicáveis a
todos ou a quase todos seres humanos e por estar em relacionadas com a etapa da vida
na qual eles se encontram.
Além da etapa da vida na qual o sujeito se encontra as mudanças estudadas pela
psicologia são influenciadas por outros dois fatores, contexto no qual o sujeito está
inserido e as experiências particulares de cada indivíduo.
Fator etário é um elemento de homogeneização dos indivíduos que se encontram
na mesma etapa da vida, caráter biológico do desenvolvimento torna semelhantes e não
iguais todos os indivíduos que se encontram na mesma etapa do desenvolvimento.
O segundo fator torna semelhantes os indivíduos inseridos em um mesmo
contexto, seja ele histórico, cultural ou social.
Nos dias atuais uma menina que aos treze anos manifesta o desejo de se casar
possivelmente será desestimulada por seus pais tendo em vista que socialmente o
matrimônio acontece mais tarde, dados do portal de estatísticas do estado de São Paulo
referentes ao ano de 2017, mostram que a Idade Média das Mulheres que se casaram no
estado era de 32 anos.
Algumas gerações, essa era considerada uma idade apropriada para contrair
matrimônio e constituir uma nova família.
Se os dois primeiros fatores de alguma forma tornam semelhantes indivíduos
que se encontrem na mesma etapa da vida ou que estejam inseridos em um mesmo
contexto, o terceiro fator é o que faz com que cada indivíduo se torne único.
Sujeitos que se encontram na mesma etapa da vida, que estejam inseridos em um
mesmo contexto social, histórico e cultural, não terão o mesmo percurso de
desenvolvimento, isso ocorre porque cada indivíduo se relaciona de uma maneira
diferente com o que está posto à sua volta, tornando-se único.

3
No mais que os indivíduos avançam em seus percursos de desenvolvimento mais
irão se constituindo como sujeitos únicos, a crescente individualização dos sujeitos
explica por que os aportes teóricos da psicologia do desenvolvimento encontramos uma
quantidade maior de escritos sobre as menores idades, uma quantidade menor sobre as
maiores.
Quanto mais nos distanciamos do predomínio de caráter biológico característico
das idades mais precoces, mais nos diferenciamos dos outros indivíduos a nossa espécie.
SEÇÃO 2: As áreas de abrangência da Psicologia do Desenvolvimento

Durante muito tempo a psicologia evolutiva se dedicou exclusivamente ao


estudo dos processos de desenvolvimento psicológico característicos da infância e da
adolescência. Uma vez que se acreditava que após esse período os fatos evolutivos
deixavam de ocorrer, apenas progressivamente é que os psicólogos evolutivos foram
aceitando o fato de que as transformações ocorrem ao longo de toda a vida dos
indivíduos, constatação que se deu a partir da observação das condutas de adultos e
idosos.
Os primeiros estudos sobre os percursos evolutivos humanos surgiram entre a
segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, período durante o
qual foram publicados livros sobre a infância, sobre adolescência, sobre a idade adulta e
sobre a velhice.
Contudo, as bases teóricas da psicologia remontam um período bastante anterior,
mais precisamente no século XVII e XVIII, nesse período filósofos como J. Locke e D.
Hume já se debruçavam sobre o estudo da natureza humana, produzindo conhecimentos
que constituiriam as bases dos estudos realizados séculos depois.
Para esses filósofos, o indivíduo da espécie humana ao nascer se assemelharia a
uma tábula rasa ou a um receptáculo vazio e a experiência adquirida como fruto do
contato com o meio bem como a estimulação recebida, se constituiriam como
determinantes a todo momento ao conteúdo do psiquismo.
Essas ideias nortearam o trabalho de psicólogos de orientação condutista,
embasaram os modelos mecanicistas de desenvolvimento, segundo os quais, o
desenvolvimento se limita a ser uma história de aprendizagens carecendo de dinâmica
interna própria.
Na Europa pensadores como Rousseau e Kant em uma posição bastante
diferente defendiam a existência de características inatas ao ser humano as ideias desses
pensadores, embasaram os posicionamentos adotados pela psicologia evolutiva
duzentos anos depois conhecidos como organismos ou organicistas.
No final dos anos 1970, a psicologia evolutiva adotou explicações baseadas nos
modelos mecanicistas e organicistas, houve um predomínio das explicações de caráter
organicista tendo em vista pouca sensibilidade dos modelos mecanicistas em relação aos
aspectos evolutivos.
No final dos anos 1970, um grupo de estudiosos começou a apresentar críticas
aos modelos existentes na psicologia evolutiva tradicional., sobretudo por conta de suas
limitações, baseados em uma tradição originada no século XIX, esses estudiosos
elaboraram uma nova proposta intitulada de modelo do ciclo vital.

Modelo Mecanicismo

4
Os psicólogos behavioristas são adeptos de um modelo mecanicista. O
organismo humano assemelha-se a uma máquina que reage passivamente às imposições
do meio externo que determinam as suas progressivas modificações. São as
aprendizagens que o indivíduo efetua no contacto com as situações ambientais que
determinam as diferenças qualitativas que ocorrem nas reações comportamentais ao
longo da vida.
Em suma, psicólogos como Watson e Skinner fazendo “tábua rasa” dos
processos maturacionais, negligenciam qualquer interferência de fatores internos
associados ao organismo. Reduzindo o comportamento ao binómio S → R, acreditam
que as diferenças detectadas na evolução do indivíduo se devem exclusivamente às
situações do meio. A este propósito recordemos a célebre convicção de Watson de ser
capaz de fazer de qualquer criança saudável um adulto do tipo que entendesse.

Modelo Organicismo

Os psicólogos que defendem o modelo organicista assumem uma perspectiva


interacionista, considerando que o desenvolvimento é um processo dinâmico em que
fatores maturacionais, genéticos e da experiência externa se combinam no decorrer dos
diferentes estádios por que o indivíduo passa ao longo da vida.
O modelo organicista realça o carácter adaptativo do processo de
desenvolvimento dado considerar que, ao progredir na sequência dos estádios, o
organismo dispõe de mecanismos psicológicos diferentes e qualitativamente superiores
de intervenção no meio. Essas intervenções, por sua vez, contribuem para reorganizar os
mecanismos psicológicos, fazendo com que o indivíduo fique mais bem apetrechado
para ajustar adequadamente os comportamentos às exigências do meio.
A teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud e a teoria do
desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson adoptam o ponto de vista organicista.
Porém, a teoria construtivista do desenvolvimento cognitivo de Piaget é o exemplo mais
representativo deste modelo, rompendo definitivamente com a dicotomia:

SEÇÃO 3: O enfoque da Psicologia do Desenvolvimento

Os anos 1970 se constituíram como um marco para a psicologia evolutiva, foi


nessa década que se consolidaram os princípios da psicologia evolutiva do ciclo vital,
que se constitui como uma ruptura com os modelos clássicos de desenvolvimento
adotados até então.
A perspectiva do ciclo vital surge em decorrência do questionamento a três dos
principais postulados da psicologia evolutiva adotados até então.
 O desenvolvimento psicológico ocorrendo apenas na infância e na
adolescência.
 O desenvolvimento como um progresso sequencial em direção a uma
meta evolutiva universal
 A ênfase nas variáveis maturativas e na universalização dos percursos de
desenvolvimento.
Questionamento da ideia de que o desenvolvimento psicológico afetaria somente
crianças e adolescentes, fundamenta se no fato de que fatos evolutivos importantes
também ocorrem na vida adulta e na velhice. A ideia de que fatos evolutivos e
importantes ocorrem desde o nascimento até a morte deu origem ao conceito dos ciclos
de vida.

5
Em contraposição a ideia de que os organismos humanos se desenvolvem
sempre numa mesma direção a perspectiva do ciclo de vida defende que o
desenvolvimento humano não possui nem metazônicas nem universais.
A crítica, ênfase nas variáveis e universais fundamenta-se na importância
atribuída as variáveis, históricas e culturais no percurso de desenvolvimento, indivíduos
que se encontram na mesma etapa da vida, tem percursos de desenvolvimento bastante
distintos se inseridos em diferentes contextos históricos e culturais. Como exemplo,
podemos citar os bebês, do ponto de vista biológico, eles são bastante parecidos, no
entanto, em diferentes culturas eles são tratados de maneiras distintas, podemos
encontrá-los dormindo em berços, em redes ou em esteiras no chão, onde essas
diferenças irão atribuir características diferentes ao percurso de desenvolvimento de
cada um deles.
Um outro exemplo diz respeito à adolescência, historicamente houve um tempo
no qual ela não existia tal qual a concebemos hoje., sempre houve o jovem, contudo o
que hoje entendemos como adolescência é uma construção histórica que se refere ao
momento que estamos vivendo.
A ideia dos ciclos de vida é bem mais promissora para a compreensão do
fenômeno do desenvolvimento do que a ideia dos estágios na medida em que não
remete a uma passagem por um por um percurso natural da vida humana, mas sim a um
percurso contextualizado, histórica e culturalmente.
Ainda que as discussões psicológicas continuem versando sobre as questões da
infância, da adolescência, da vida adulta e da velhice a perspectiva dos ciclos de vida
permite que os sujeitos que se encontram em cada uma dessas etapas sejam pensados de
maneira concreta a partir da inserção no mundo social em situações históricas e
culturais determinadas.

SEÇÃO 4: As controvérsias da Psicologia do Desenvolvimento

Desde o surgimento da psicologia do desenvolvimento várias controvérsias têm


estado presentes nas discussões evolutivas, sem a pretensão de aprofundar as discussões
sobre cada uma delas apresentaremos aqui as principais controvérsias para que se
constituam como objetos de reflexão.
A primeira dessas controvérsias diz respeito à questão herança meio, durante
todo o século vinte vigorou a discussão sobre a origem das características psicológicas
com duas visões antagônicas uma delas defendia a ideia de que as características
psicológicas dependiam unicamente da hereditariedade, enquanto a outra
responsabilizava o meio pela sua constituição.
No século vinte e um essa dualidade foi superada das discussões realizadas
resultou a clareza de que algumas capacidades humanas são dadas como possibilidades,
que irão se concretizar ou não dependendo das oportunidades oferecidas pelo meio no
qual o sujeito estiver inserido.
Uma outra controvérsia diz respeito à sincronia heterocronia, a perspectiva
sincrônica do desenvolvimento diz respeito aos modelos clássicos da psicologia
evolutiva europeia pautados pelas descrições dos estágios de desenvolvimento. São
pressupostos da perspectiva sincrônica a ocorrência de mudanças qualitativas ao longo
do percurso de desenvolvimento humano.
A caracterização de cada estágio pro conjunto homogêneo de conteúdos, a
previsibilidade da cronologia da sequência dos estágios o pressuposto de integração e
superação pelos estágios superiores das conquistas precedentes.

6
Os adeptos da perspectiva heterocrônica afirmam que os fatos psicológicos não
podem ser caracterizados de maneira sincrônica, sendo independentes e heterocrônicos.
Uma posição mais conciliatória tem defendido a ideia de que alguns domínios ou
conjunto de conteúdos como alguns aspectos da linguagem são sincrônicos enquanto
outros como a linguagem e a memória são heterocrônicos.
A continuidade e descontinuidade é uma controvérsia que deve ser objeto de
reflexão, ela pode ser pensada a partir de duas questões:
Podemos prever o desenvolvimento de uma pessoa em um momento
determinado se conhecermos como foi seu desenvolvimento em um momento anterior?
Podemos nos libertar do nosso passado evolutivo se ele foi adverso?
Os estudos da psicologia evolutiva revelam que embora estejamos sujeitos às
mudanças é possível prever tendências de desenvolvimento num determinado período se
conhecermos as características do período anterior uma vez que há uma tendência de
continuidade no desenvolvimento psicológico humano.
No que se refere a segunda questão proposta durante muito tempo acreditou-se
que as experiências prévias sobretudo aquelas vivenciadas nos primeiros anos de vida
deixariam marcas irreversíveis no psiquismo dos sujeitos, os estudos realizados sobre o
tema mostraram que essa irreversibilidade não é real.
Os estudos revelaram também que sujeitos concretos lidam de maneiras
diferentes com o mesmo tipo de experiência revisitando as diferentes formas ao longo
de seus percursos de desenvolvimento.

SEÇÃO 5: Os métodos da Psicologia do Desenvolvimento

Os métodos são processos organizados, lógicos e sistemáticos utilizados em


pesquisas, investigações, na educação, entre outros.
Na construção de teorias psicológicas, diferentes métodos são utilizados para
elaboração de teoria sobre as condutas humanas. A psicologia do desenvolvimento
utiliza alguns métodos comuns a outras áreas da psicologia para o estudo das condutas
humanas e outros que lhe são próprios.
Abordaremos aqui alguns dos métodos que são comuns a outras áreas da
psicologia:
 O método de observações sistemáticas consiste na observação de
condutas em contextos naturais, no pátio da escola, no local de trabalho
ou na residência dos indivíduos. Ou a partir de situações estruturadas
propostas pelo observador, por exemplo, a resolução de um problema pra
uma criança ou uma atividade colaborativa entre uma criança e um
adulto.
 Os métodos psicofisiológicos permitem o estabelecimento de relações
entre aspectos psicológicos e biológicos do organismo humano. A partir
da análise de situações que traduz em relações biológicas quantificáveis.
Os parâmetros fisiológicos mais utilizados são atividade cerebral e o
ritmo cardíaco.
 A resolução de problemas padronizados consiste na proposição de uma
mesma situação problema para diferentes indivíduos, com as mesmas
instruções, com as mesmas restrições de tempo pra responder e na
verificação da resposta dada por cada um.
 As entrevistas clínicas são entrevistas semiestruturadas que as perguntas
vão se ajustando às respostas dadas pelos entrevistados. O entrevistador
tem hipóteses prévias sobre o que o entrevistado irá responder e orienta a

7
realização da entrevista no sentido de confirmá-las ou refutá-las, o
interrogatório é aberto e guiado pelas hipóteses que o entrevistador vai
formulando.
 Os questionários, testes e altos relatos consistem na aplicação de
instrumentos organizados de acordo com os propósitos pretendidos, com
diferentes graus de padronização, de estruturação interna e de sistema de
categorização das respostas.
 O método de estudos de caso consiste na análise de casos singulares em
que os aspectos qualitativos e de ossincrásicos são considerados
fundamentais.
 As descrições etnográficas se referem às atividades de observação
participante, durante as quais são realizadas anotações que
posteriormente serão utilizadas para descrição pormenorizada.
Os dados a partir da utilização dos diferentes métodos podem ser analisados
tanto do ponto de vista mais qualitativo quanto quantitativo. No entanto o que garante
que uma pesquisa é evolutiva não é nenhum método utilizado para coleta de dados nem
as estratégias utilizadas para a sua compilação e análise.
A garantia de que uma pesquisa seja evolutiva é dada pela utilização de formatos
em que a variável idade assume um papel organizador importante.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Nesta unidade, pudemos aprofundar os nossos conhecimentos sobre a Psicologia


do Desenvolvimento, uma importante área da Psicologia, que se dedica ao estudo das
transformações pelas quais os seres humanos passam ao longo de suas vidas.
Nosso ponto de partida foi a discussão sobre o conceito de desenvolvimento e os
fatores com os quais eles se relacionam.
Analisamos, historicamente, os enfoques adotados pela Psicologia do
Desenvolvimento até que passasse a adotar a perspectiva dos ciclos de vida.
Discutimos as diferentes controvérsias que permeiam as discussões acerca do
desenvolvimento humano, dentre as quais, o papel da hereditariedade e do meio, a
sincronia e a heterocronia dos fatores psicológicos e a continuidade e a descontinuidade
das características do psiquismo humano no desenvolvimento dos sujeitos.
Encerramos nosso percurso conhecendo os diferentes métodos utilizados pelos
pesquisadores para a coleta de dados que, devidamente analisados, permitem a
elaboração de teorias sobre o desenvolvimento humano.

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AU2 - O conceito de desenvolvimento humano
SEÇÃO 1: O conceito de desenvolvimento humano

O desenvolvimento humano tem se constituído como objeto de estudo da


psicologia já há bastante tempo como fruto das pesquisas realizadas e das teorias
elaboradas diferentes definições e caracterizações de desenvolvimento foram
apresentadas, bem como diferentes maneiras de compreender os fatores que estão
relacionados a ele.
De acordo com César Kohl, essas diferenças corresponderiam respectivamente a
uma caracterização do desenvolvimento como o processo necessário e como um
processo imediatizado. Os estudiosos adeptos da visão do desenvolvimento como
processo necessário, conseguem o desenvolvimento e a educação como dois processos
completamente independentes, cada um com identidade e características diferentes.
Nessa perspectiva o desenvolvimento é fruto de um processo natural e
espontâneo decorrente de fatores internos, sobretudo de caráter biológico. Sendo o
caráter biológico, o principal determinante do desenvolvimento dos indivíduos, o papel
atribuído à educação é menor, não sendo de grande relevância, os estudiosos da visão do
desenvolvimento como fruto de processos de mediatização defendem a existência de
uma estreita relação entre o desenvolvimento dos indivíduos e os processos educativos.
O desenvolvimento entendido como necessário seguiria uma sequência de
mudanças relativamente estáveis e até certo ponto pré-programadas se dariam a partir de
uma visão biológica. Por outro lado, o desenvolvimento entendido como mediatizado,
significaria que a sequência e os tipos de mudanças que ocorrem ao longo da vida das
pessoas são fortemente imediatizadas e marcadas pelo contexto social, cultural e
histórico no qual elas estão inseridas.
Nessa perspectiva programa biológico de cada indivíduo irá se concretizar de
maneiras diferentes dependendo das interações oportunizadas pelo meio no qual ele está
inserido.
Conceitos de desenvolvimento como sendo necessário e fruto de determinantes
biológicos vigorou durante muito tempo nos aportes da psicologia do desenvolvimento.
Nessa concepção o desenvolvimento se caracteriza por uma sequência de mudanças
globais na conduta das pessoas que vão sendo incorporadas e tornando-se
predominantemente e reversíveis.
Por terem caráter natural acredita-se que as pessoas não têm controle nem
consciência dessas mudanças que ocorrem de maneira paralela ao próprio processo de
crescimento físico e orgânico, a concepção do desenvolvimento como sendo natural,
universal, individual e necessário passou a ser questionada a partir de alguns marcos
teóricos, sobretudo aqueles que adotam uma perspectiva sociocultural.
Inspirada no trabalho de Vygotsky e seus colaboradores, a principal
característica dessa perspectiva é atribuição de uma grande importância aos fatores
sociais e culturais, no comportamento e no desenvolvimento das pessoas.
Sendo assim, atividade humana está sempre inserida em um marco cultural
organizado o que a diferencia do comportamento das outras espécies animais.

SEÇÃO 2: O processo de desenvolvimento e a questão da periodização

9
Há várias teorias da psicologia do desenvolvimento que elaboraram modelos
apoiados em etapas de desenvolvimento que se encadeiam de maneira universal e
atemporal.
No percurso histórico da psicologia evolutiva, esses modelos foram
predominantes na maior parte do tempo. Os modelos que se apoiam na periodização do
desenvolvimento são embasados pelo conceito de desenvolvimento necessário de
caráter predominantemente biológico. A descrição do desenvolvimento como processo
necessário alguns fatores importantes para a constituição dos sujeitos não são
valorizados como os relacionados a experiência social e a comunicação os aportes
teóricos da perspectiva sociocultural apontam justamente a importância desses fatores
para a compreensão do desenvolvimento humano e fundamentam as críticas aos
modelos de periodização que apresenta o percurso de desenvolvimento como sendo
universal e atemporal.
De acordo com os teóricos da abordagem sociocultural, o desenvolvimento pode
assumir características bastante diferentes em contextos distintos, não se trata de negar o
papel de se componentes biológicos do desenvolvimento. Trata-se de pensarmos como
possibilidade de desenvolvimento que irão se concretizar ou não dependendo das
oportunidades oferecidas pelo meio no qual o sujeito está inserido, em outras palavras,
trata-se de articular os componentes biológicos do desenvolvimento cujo demais fatores
que interagem na constituição do indivíduo da espécie humana.
Por exemplo, do ponto de vista biológico todos os indivíduos da espécie humana
que não tenham qualquer tipo de deficiência podem aprender a ler e a escrever.
Contudo, indivíduos que fazem parte de sociedades ágrafas (sem escrita), bastante raras
na atualidade, não aprenderão a ler e escrever pois nunca terão a possibilidade e a
necessidade de interação com materiais escritos.
Isso significa que os fenômenos do desenvolvimento originalmente provenientes
das características da espécie ou das fases do desenvolvimento individual, recebem
significados diferentes e tratamentos peculiares dentro de cada cultura e em cada
momento histórico. Além dos fatores culturais, sociais e históricos que interferem no
percurso de desenvolvimento dos sujeitos, não podemos deixar de considerar a
construção de suas singularidades e tornam sujeitos únicos.
As singularidades são frutos das experiências particulares de cada indivíduo são
únicas, que fazem com que o desenvolvimento psicológico seja repetível. Sujeitos que
se encontram na mesma etapa da vida estejam inseridos em um mesmo contexto terão
percursos de desenvolvimento semelhantes, mas não iguais, pois maneira pela cada um
deles interagirá com o que está posto a sua volta fará com que suas experiências sejam
únicas.
Se atentar para a construção das singularidades dos sujeitos é fundamental para
que as influências dos contextos social, histórico e cultural não passem a ser vistos
como fatores determinantes do percurso do desenvolvimento humano. A construção do
desenvolvimento humano deve ser vista como resultante de uma combinação única dos
fatores psicológicos, sociais, históricos e culturais, impossível de ser repetida.

SEÇÃO 3: Etapas da vida dos sujeitos – parâmetros de desenvolvimento

Durante muito tempo predominou na psicologia do desenvolvimento a ideia de


que os condicionantes biológicos eram determinantes do percurso do desenvolvimento
essa ideia embasou a criação de diversas teorias caracterizadas pela periodização do
desenvolvimento.

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Para determinação das etapas do desenvolvimento os autores utilizavam como
critério etapa da vida na qual os indivíduos se encontravam, como elemento divisória
entre as etapas, o fator etário. Atualmente é sabido que as etapas do desenvolvimento se
constituem como parâmetros e devem ser articulados com outros fatores para que seja
possível a compreensão das condutas humanas.
As etapas do desenvolvimento continuam se constituindo como importantes
parâmetros para compreensão do desenvolvimento humano uma vez que sinalizam
aquilo que pode ser esperado do ponto de vista biológico do seu organismo da espécie
humana.
Para que possamos compreender melhor a importância da etapa da vida na qual
o sujeito se encontra para o seu desenvolvimento, vamos nos remeter aos referenciais
teóricos de Vygotsky um dos mais importantes da perspectiva sociocultural da
psicologia.
Para Vygotsky que há quatro fatores que influenciam o desenvolvimento
humano considerados como planos genéticos do desenvolvimento:
A filogênese refere-se à história do ponto de vista de limites e possibilidades de
cada espécie animal
A ontogênese refere-se à história do ponto de vista biológico de cada indivíduo
de uma determinada espécie animal.
A sociogênese prefere-se as possibilidades e limitações oferecidas pelo contexto
no qual o desenvolvimento ocorre., abrange os contextos culturais, sociais e históricos
nos quais o indivíduo está inserido.
A microgênese refere-se a história das aprendizagens individuais que constituem
as singularidades dos sujeitos
A etapa da vida na qual o indivíduo se encontra traz possibilidades e limitações
dadas pela ontogênese. Quando sabemos em qual etapa da vida o sujeito se encontra
temos a possibilidade de saber o que podemos esperar dele do ponto de vista biológico.
Jean Piaget ao elaborar uma teoria na qual o desenvolvimento humano está
organizado em períodos enunciou que uma criança só desenvolve a capacidade de
abstração por volta dos sete anos de idade, na educação infantil não é incomum
encontrarmos propostas de ensino que tem início com o traçado dos números em geral
em atividades para cobrir pontilhados acompanhados da recitação do nome dos
números.
Se essas atividades não são precedidas por outras atividades que possibilitam a
construção do ponto de vista cognitivo do conceito do número e se são propostas para
crianças com idades inferiores apontadas por Piaget podemos inferir essas atividades
não promovem aprendizagem, mas sim a memorização e a mecanização de
procedimentos.
Veremos na discussão dos outros fatores que interferem no desenvolvimento que
não podemos afirmar que a capacidade de abstração ocorre aos sete anos, tendo em vista
que para algumas crianças ela poderá ocorrer antes e para outras depois, dependendo
das oportunidades oferecidas pelo meio o qual estão inseridas.

SEÇÃO 4: A importância do contexto para a etapização do desenvolvimento

Obs: etapização significa implantação de infraestrutura básica

Ao afirmarmos que o desenvolvimento da capacidade de abstração poderia


variar de criança para criança dependendo das oportunidades oferecidas pelo meio, nos
referimos a importância do contexto para a definição dos percursos de desenvolvimento.

11
Na perspectiva de Vygotsky esse plano genético é chamado de sociogênese e
determina limites e possibilidades de desenvolvimento para os indivíduos que estão
inseridos em um determinado contexto, quando nos referimos ao contexto estamos
levando em consideração as variáveis sociais, culturais e históricas.
Se a etapa da vida torna semelhante os indivíduos que se encontram em uma
mesma faixa etária do ponto de vista do desenvolvimento biológico o contexto torna
semelhantes os indivíduos que estão inseridos em uma mesma realidade. A constatação
que contextos variados oferecem diferentes oportunidades de desenvolvimento, traz
elementos para que a etapização apresentada por algumas teorias psicológicas seja
analisada criticamente.
Um exemplo que pode ser utilizado para ilustrar a relatividade dos períodos de
desenvolvimento apresentados como sendo universais e atemporais desrespeito a
linguagem.
Para Piaget a primeira etapa do desenvolvimento humano intitulada período
sensor e motor vai do nascimento até os dois anos de idade, o que marca o final desse
período e o início do próximo chamado de período pré-operatório é o aparecimento da
linguagem, entendido aqui como a fala.
A criança se começa a falar antes dos dois anos de idade outras que falam depois
dessa idade, o desenvolvimento da fala tem um componente que é biológico e diz
respeito a maturação do aparelho fonador, mas há também a influência do contexto no
qual a criança está inserida. Crianças submetidas a um ambiente falante rico em
estímulos e interações verbais significativas, sentem se mais estimuladas a falar e
apresentam o universo vocabular mais amplo do que crianças submetidas a um ambiente
menos estimulante.
Se o ambiente tem o papel determinante no desenvolvimento da fala infantil,
assumir que todas as crianças falam aos dois anos de idade significa desconsiderar as
diferenças individuais e os diferentes ritmos de aprendizagem, resultantes da interação
do sujeito com o meio no qual está inserido.
Um cuidado especial deve ser tomado em relação a influência do meio no
percurso de desenvolvimento dos sujeitos para que ela não se constitua como um fator
de preconceito em relação as capacidades de desenvolvimento de indivíduos de
contextos sociais menos privilegiados.
Durante muito tempo na história da educação brasileira o pertencimento às
classes sociais menos favorecidas foi utilizado como justificativa para o fracasso escolar
dos indivíduos. Essa justificativa não é procedente, indivíduos de classes sociais menos
favorecidas tem o seu ambiente de origem menos oportunidades de interação com
objetos de conhecimentos variados, contudo, isso não minimiza suas capacidades de
aprendizagem.
O meio familiar no qual o indivíduo está inserido é apenas um dos contextos de
desenvolvimento, cabe a escola ciente do meio social originário de seus alunos
proporcionar as oportunidades que eles não teriam fora da escola. Somente assim a
escola se constituirá como elemento minimizador das diferenças sociais.

SEÇÃO 5: A construção da singularidade dos sujeitos

Os dois primeiros fatores do desenvolvimento, a etapa da vida na qual o


indivíduo se encontra e o contexto social, cultural, histórico no qual ele está inserido,
tornam semelhantes e não iguais, indivíduos que se encontram em uma mesma etapa em
um mesmo contexto.

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O que determina a não igualdade entre o sujeito de uma mesma faixa etária
inseridos em um mesmo contexto, são as particularidades dos sujeitos. São elas que
tornam as experiências individuais e repetíveis e os sujeitos únicos.
Vygotsky que atribuem a esse plano genético do desenvolvimento o nome de
microgênese, a microgênese é caracterizada pela emergência do psiquismo individual a
partir da articulação entre os fatores biológicos, históricos, sociais e culturais do
desenvolvimento. A microgênese se refere a história das aprendizagens realizadas por
um indivíduo longo de um período relativamente curto. Assim são exemplos de
manifestações da microgênese, aprendizagem de uma nova palavra, uma nova
habilidade apresentada por uma criança, como amarrar o próprio sapato.
Vygotsky se refere-se a microgênese como sendo situações únicas vivenciadas
de maneira particular que modificam a atividade das funções mentais superiores
levando o indivíduo a outros níveis de desenvolvimento.
A microgênese articula os demais fatores relacionados ao desenvolvimento, uma
vez que cada aprendizagem individual ocorre de maneira contextualizada. A
microgênese de aprender a andar de bicicleta na infância por exemplo articula as
capacidades motoras do aprendiz numa determinada etapa da sua vida, num contexto
histórico e cultural no qual essa aprendizagem é valorizada num contexto social no qual
o indivíduo tem acesso ao objeto bicicleta.
Essa microgênese irá ocorrer mais cedo ou mais tarde, dependendo da
articulação de todos esses fatores ou pode nunca ocorrer caso um deles se constitua
como um impeditivo. Indivíduos que se encontram em uma mesma etapa do
desenvolvimento e que estejam inseridos em um mesmo contexto, terão microgêneses
distintas em relação ao mesmo objeto de aprendizagem.
Isso justifica que no contexto escolar crianças da mesma idade inseridas em um
mesmo contexto histórico-cultural e social não aprendam da mesma maneira. Essas
crianças têm experiências únicas e maneiras únicas de interagir com as situações de
aprendizagem disponibilizadas.
Sendo a porta aberta para a construção das singularidades do sujeito, a
microgênese se constitui como um dos principais elementos para o embasamento das
críticas aos modelos de desenvolvimento organizados em etapas. Ele contradiz, por
exemplo, a ideia de que o fator etário pode ser utilizado como critério para separação
entre as etapas do desenvolvimento e que as etapas podem ser pensadas de maneira
descontextualizadas.
Essa consideração também é fundamental para que o docente compreenda por
que nem todos os alunos aprendem do mesmo jeito e ao mesmo tempo. Os métodos
utilizados nas abordagens tradicionais de ensino partiram desse pressuposto e
desconsideravam as diferenças individuais.
Reconhecer as diferenças individuais a partir da construção das singularidades é
fundamental para que elas sejam respeitadas e contempladas.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Ao longo da história da Psicologia, diferentes teorias foram desenvolvidas para


conceituar o desenvolvimento humano.
De um modo geral, podemos classificar essas teorias em dois grupos, sendo que
o primeiro concebe o desenvolvimento como sendo natural e o segundo, como
sendo mediado.

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Na perspectiva do desenvolvimento como sendo natural, o principal fator que
determina o seu percurso é de origem biológica. Dessa ótica, o desenvolvimento
acontece sempre da mesma maneira: universal e atemporalmente.
Essa perspectiva deu origem a modelos de desenvolvimento organizados em
períodos ou etapas, que não mudam ao longo da história da humanidade.
Na perspectiva do desenvolvimento mediado, outros fatores são levados em
consideração para a sua compreensão, como o contexto no qual o indivíduo está
inserido e as particularidades de cada sujeito.
A adoção dessa perspectiva relativiza as etapas do desenvolvimento, colocando-
as como parâmetros que devem ser analisados em conjunto com os demais fatores.
A compreensão da influência dos fatores na constituição dos percursos de
desenvolvimento humano é fundamental para que as práticas educativas possam ser
pensadas levando em consideração as diferenças individuais, de maneira que atendam às
demandas de aprendizagem de todos os alunos.

AU3 - O desenvolvimento na perspectiva de Jean Piaget


SEÇÃO 1: Quem foi Jean Piaget

Jean Piaget foi um menino prodígio, sempre foi muito estudioso. Com onze anos
de idade publicou o seu primeiro artigo sobre um pardal albino que ele havia observado
em um parque público.
Piaget nasceu 09 de agosto de 1896 na Suíça, aos dezenove anos ele licenciou-se
em ciências naturais e logo em seguida em filosofia, nessa época também apresentava
grande interesse por temas ligados a sociologia, as religiões e a psicologia.
Três anos depois concluiu sua tese de doutoramento na área de biologia, no ano
seguinte mudou-se para França e dedicou-se a estudar psicopatologia lógica e

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epistemologia e filosofia da ciência. Foi nesse momento que o Piaget entrou em contato
com o método de pesquisa e entrevista clínica técnica que passou a utilizar no
desenvolvimento de suas pesquisas posteriores. Nessa época fui convidado a trabalhar
com Alfred Binet, importante psicólogo francês e um dos responsáveis pela criação dos
conhecidos testes de QI, (quociente da inteligência).
Iniciou então seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo e percebeu uma
evolução gradativa nesse desenvolvimento de acordo com a idade da criança, foi a partir
dessa constatação que viajou começou a se interessar pelo desenvolvimento infantil e a
observar as respostas dadas por grupos de crianças de uma mesma idade nos testes
propostos por ele, utilizando a técnica da entrevista clínica.
Os estudos de Piaget sobre a inteligência infantil revolucionaram os
conhecimentos sobre cognição realizados até então, ao mostrar que as crianças não
pensavam como os adultos e que construíam o próprio aprendizado.
Aos vinte e cinco anos Jean Piaget retornou a Suíça para dirigir o Instituto Jean-
Jacques Rousseau, iniciou as pesquisas que deram origem a sua teoria intitulada
epistemologia genética.
As influências de sua formação inicial na área das ciências naturais e da biologia
podem ser percebidas em sua obra mais importante. Sobretudo no que diz respeito a
organização do desenvolvimento em etapas pensadas a partir das etapas da vida
humana.
Uma das importantes contribuições das descobertas piagetianas para a área da
educação diz respeito a apontamento das limitações das práticas pautadas pela
transmissão de conhecimentos.
De acordo com a perspectiva piagetiana se por um lado essas práticas não podem
fazer com que as crianças aprendam aquilo que elas ainda não têm condições de
absorver por outro mesmo tendo essas condições se elas não se sentirem motivadas a
mobilizar suas capacidades cognitivas para dar conta da nova aprendizagem não
ocorrerá.
As ideias piagetianas ao demonstrarem a inadequação das metodologias
tradicionais de ensino que priorizavam a recepção passiva de conhecimentos embasaram
a revisão das práticas de ensino e levaram a concepção da abordagem construtivista de
ensino, também chamada de construtivismo.
Abordagem construtivista de ensino coloca o aluno em um papel ativo no
processo de construção de novos conhecimentos e pressupõe atividades educativas nas
quais o professor assume o papel de mediador entre os educandos e os objetos de
conhecimento.
Jean Piaget faleceu em 17 de setembro de 1980 em Genebra aos oitenta e quatro
anos, mas suas ideias ainda são bastante discutidas nos cenários educacionais
brasileiros.

SEÇÃO 2: A Epistemologia Genética de Jean Piaget

Um bebê ao nascer possui poucas habilidades e nenhum conhecimento sobre o


mundo que o cerca. Nasce dotado de reflexos inatos que garantir sua sobrevivência e
que exercitados na interação com o ambiente se tornam esquemas cada vez mais
eficazes na ação sobre o mundo na construção de conhecimentos.
Ao final do segundo ano de vida esse bebê já possui um amplo repertório de
conhecimento sobre o mundo que o permite até começar a falar sobre as coisas que
estão a sua volta. Mas como? Em tão pouco tempo o bebê aprende tantas coisas. Qual a
origem do conhecimento e como ele é construído por nós?

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A resposta para esses questionamentos pode ser encontrada em várias teorias
psicológicas. Dentre as quais a epistemologia genética.
Epistemologia genética, teoria criada por Jean Piaget, recebe esse nome porque
tem como fontes conhecimentos científicos, a epistemologia e a gênese desse
conhecimento, a genética.
O foco da epistemologia genética é o sujeito epistêmico, ou seja, sujeito da
aprendizagem e os processos utilizados por ele para a construção de conhecimentos.
Para isso que a Piaget estudou como os indivíduos passam de um estado de
conhecimento para outro que é chamado de transcurso de desenvolvimento.
Dessa forma definiu a epistemologia genética como sendo a disciplina que
estuda os mecanismos e os processos pelos quais o indivíduo passa em seu aprendizado.
Partindo dos estágios de menor conhecimento para os estágios de conhecimentos mais
elevados em direção aos conhecimentos científicos.
A teoria piagetiana foi elaborada com base na observação das relações contínuas
estabelecidas entre o sujeito e os meios físico e social, as quais um constitui o outro e
ambos se transformam mutuamente. Sendo assim, as ideias piagetianas iam de encontro
com as teorias que defendiam que o conhecimento era inato aos seres humanos e
aquelas que achavam que aprendizagem era uma cópia fiel da realidade externa,
transmitida por alguém mais experiente da espécie.
Para ele a aprendizagem só poderia ocorrer por intermédio de interações com o
ambiente a partir das quais ocorrem trocas recíprocas entre o sujeito e o meio, nessa
perspectiva o meio assume um papel de grande relevância no percurso de
desenvolvimento dos sujeitos. Os estudos realizados para elaboração da epistemologia
genética, Piaget realizou investigações sobre a construção do conhecimento humano
desde o nascimento até a idade adulta, dando uma ênfase maior aos processos mentais
ocorridos na infância.
Em suas pesquisas, observou que as crianças que se encontravam em uma idade
próxima tinham os mesmos erros nos testes aplicados por ele, por ocasião das pesquisas
realizadas. Na aplicação de testes começou a se interessar pelas respostas erradas dadas
pelas crianças. E a perceber que elas só eram consideradas como tal porque eram
analisadas do ponto de vista dos adultos.
Como fruto de suas investigações, Piaget desenvolveu sua teoria epistemológica
na qual descreve diferentes níveis de desenvolvimento pelos quais o indivíduo passa ao
longo de sua vida, denominados estágios ou etapas de desenvolvimento.
Piaget descreveu quatro grandes estágios de desenvolvimento sequenciados e
que tem critérios etários de separação:
 Período sensório-motor de zero a dois anos,
 Período pré-operatório de dois aos sete anos,
 Período operatório concreto dos sete aos doze anos,
 Período operatório formal, os doze anos em diante

SEÇÃO 3: As etapas do desenvolvimento na perspectiva piagetiana

Nos primeiros dois anos de vida a criança age sobre o mundo e o explora
utilizando suas sensações e seus movimentos. Essa construção é muito atrelada ao aqui
e agora, uma vez que ela não possui ainda recursos para representar os objetos do
mundo.
Por volta dos dois anos a criança começa a falar e junto com ela aparecem
funções simbólicas importante desenho, jogo simbólico, entre outras. Que lhe permitem
agir sobre o mundo de uma outra maneira.
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Na perspectiva piagetiana, desenvolvimento cognitivo de sujeitos se constitui
como uma sucessão de estágios e sub estágios nos quais os esquemas mentais se
organizam e se combinam entre si, formando estruturas. Piaget apresentou seus aportes
teóricos quatro estágios de desenvolvimento sequenciados e separados entre si por
fatores etários, que representam os marcos de transformações qualitativas nas estruturas
cognitivas dos sujeitos.
Primeiro estágio descrito por Piaget é o sensório motor que tem início no
nascimento do bebê e se estende até os dois anos de idade. Uma das principais
características desse período é que a criança conhece o mundo por meio da
manipulação, da percepção e dos movimentos.
Período sensual e motor é seguido pelo período pré-operatório que vai dos dois
aos sete anos aproximadamente, esse período é marcado pelo aparecimento da
linguagem que provoca grandes transformações nas áreas social, afetiva e intelectual. A
linguagem permite que a criança se despregue progressivamente na realidade imediata
que possa representá-la. O egocentrismo se faz presente nessa etapa do desenvolvimento
e o pensamento mistura realidade e fantasia.
Aos sete anos tem início o período operatório concreto que se estende até os
onze, doze anos aproximadamente. E que durante muito tempo coincidiu com o início
da escolarização formal, essa é uma etapa decisiva de avanços mentais para criança,
uma vez que tem início uma fase ininterrupta de novas construções. Esse período é
marcado por início da construção lógica, entendida como a capacidade do sujeito para
realizar uma ação física ou mental dirigida para um objetivo e de revertê-la para o seu
início. Embora a criança crie condições para abstração nesse período a manipulação de
situações concretas ainda se faz necessária.
O último período descrito por Piaget tem início aos doze anos e é chamado de
operatório formal, nesse período o indivíduo apresenta o pensamento formal e não há
mais a necessidade da manipulação física dos objetos. Marca a entrada dos indivíduos
na adolescência e representa um grande salto qualitativo no desenvolvimento cognitivo
do sujeito. É nesse momento que surge o pensamento abstrato ou pensamento hipotético
dedutivo, esse pensamento se manifesta quando o indivíduo é capaz de raciocinar
logicamente mesmo que o conteúdo do seu raciocínio seja falso. Dessa forma, depois
dos onze ou doze anos na adolescência e até a vida adulta, o pensamento abstrato se
torna possível e vai se desenvolvendo.
É importante ressaltar que embora a descrição das etapas piagetianas não aborde
especificamente as idades posteriores adolescentes o desenvolvimento continua
ocorrendo permitindo que os indivíduos adquiram novos conhecimentos até o final de
suas vidas.

SEÇÃO 4: O conceito de conflito cognitivo e as práticas educativas

Uma das principais contribuições dos estudos realizados por Jean Piaget para a
área educacional diz respeito a constatação de que o sujeito participa ativamente no seu
processo de construção de conhecimentos acerca da realidade externa. Que a interação
entre os sujeitos é fundamental para o desenvolvimento afetivo e intelectual.
A transposição dessas ideias para as práticas educativas coloca o educando suas
ações, seus modos de agir e pensar num lugar central no processo de aprendizagem. A
valorização das interações coloca o professor e os pares como figuras fundamentais para
promoção de avanços no percurso de construção de novos conhecimentos.
A partir dos anos 1980 a concepção construtivista do desenvolvimento de Jean
Piaget invadiu as escolas do mundo, em especial as do Brasil, dando origem ao que foi

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chamado nas escolas brasileiras de construtivismo piagetiano. De acordo com Nogueira
Leal a epistemologia genética piagetiana auxilia o professor no planejamento de
atividades que sejam adequadas em termos cognitivos para as diferentes etapas do
desenvolvimento, uma vez que a oferece um referencial do que pode ser esperado em
cada uma delas.
Além disso, a descrição piagetiana de como ocorre a aprendizagem humana
permite ao professor identificar os elementos que devem ser contemplados nas situações
educativas para que a aprendizagem efetivamente ocorra.
Para Piaget quando o indivíduo domina tudo que está posto a sua volta, ou seja,
quando não há nada desconhecido ele se encontra no estado de equilíbrio ou
equilibração cognitiva. Ao se deparar com um novo elemento, um objeto, uma palavra,
uma situação, esse equilíbrio cognitivo é rompido e é gerado um conflito cognitivo, o
conflito cognitivo gera um desequilíbrio cognitivo.
Assim, toda vez que o indivíduo se encontra em desequilíbrio cognitivo, ele
mobiliza suas capacidades para superar o conflito cognitivo, o primeiro movimento na
busca pela superação é a tentativa de assimilação entendida como a tentativa de
superação do desconhecido a partir de sua aproximação com os conhecimentos que já
haviam sido construídos anteriormente.
Quando isso acontece a criança passou por um processo de acomodação
entendido como uma modificação de suas estruturas cognitivas para incorporação de um
novo elemento e retorna ao estado de equilibração cognitiva.
Para Piaget se não houver conflito cognitivo não há mobilização das capacidades
do sujeito e aprendizagem não ocorre. Essa afirmação piagetiana é fundamental para
que o professor possa propor, boas situações de aprendizagem nas quais o conflito
cognitivo mobilize os alunos de maneira que participem ativamente do processo de
construção de novos conhecimentos.
A necessidade de gerar conflito cognitivo leva o questionamento e ao
consequente abandono das práticas escolares tradicionais nas quais a ação do aluno
estava restrita a cópia a mecanização de procedimentos e a memorização dos conteúdos.

SEÇÃO 5: O jogo e o simbolismo infantil

O estágio pré-operatório descrito por Piaget tem seu início marcado pelo
aparecimento da linguagem que permite a criança uma nova forma de ação sobre o
mundo.
Uma outra conquista de grande importância nesse período é o que Piaget
chamou de função simbólica e que envolve três outros aspectos além da linguagem, o
desenho, o jogo simbólico e a imitação.
O aparecimento da linguagem permite que a criança não precise mais do objeto
concreto nem do momento presente para realizar a sua representação. Assim a criança
pode pegar um pedacinho de madeira e utilizá-lo como se fosse um carrinho, pode
brincar de casinha ou de médico imitando situações do seu dia a dia ou ainda imitar uma
pessoa do seu convívio.
Segundo Uzun (2010, p. 146), função simbólica infantil se manifesta quando a
criança consegue diferenciar significantes e significados, por meio de suas
manifestações a criança torna-se capaz de representar um significado, objeto,
acontecimento através de um significante diferenciado e apropriado para essa
representação.
Progressivamente a criança de dois a sete anos passa a ter a possibilidade de
representar ações, situações e fatos da vida dela, manifestando-as por meio da

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construção da imagem mental, da imitação diferida, do jogo simbólico, da linguagem e
do desenho.
Piaget descreve a evolução do jogo simbólico infantil em três fases distintas:
 A primeira fase tem início com a projeção dos esquemas simbólicos nos
novos objetos, ou seja, a criança passa a atribuir a outras pessoas e as
outras coisas o esquema que se tornou familiar. Sendo assim nessa fase é
como uma criança fazer a boneca dormir, comer e tomar remédio, é
comum também ela transformar simbolicamente um objeto em outro,
potinhos em personagens, pedrinhas em comidinhas e assim por diante.
O aparecimento dessas representações mostra que o simbolismo está
desligando-se do exercício sensual e motor e assumindo formas de
representação independentes.
 A segunda fase, segundo Piaget tem início por volta dos quatro anos é
marcada pelas construções lúdicas. Nessa fase as crianças apresentam o
progresso na coerência das cenas no estabelecimento da ordem que se
apresenta. Há uma preocupação maior em relação a imitação fidedigna
da realidade, manifestada por um cuidado maior com os detalhes que
compõe cada cena lúdica. Também é característica do jogo simbólico
nessa fase se estende até por volta dos sete anos, o início do simbolismo
coletivo, uma diferenciação e ajustamento de papéis. Os jogos nessa fase
favorecem a socialização e possibilitam uma representação mais coerente
e ordenada das ideias.
 A terceira fase que vai dos sete, oito anos até os onze, doze anos, é
caracterizada pelo declínio do simbolismo lúdico. Nessa fase, ele dá
lugar aos jogos de regras e as construções simbólicas cada vez mais
próximas à realidade, há um considerável avanço nas construções, nos
trabalhos manuais e nos desenhos que se apresentam cada vez mais
adaptados ao real.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Jean Piaget foi um importante epistemólogo suíço que se dedicou a estudar a


origem e o desenvolvimento da inteligência humana.
Através da utilização da técnica de pesquisa intitulada entrevista clínica, Piaget
coletou dados sobre as construções psíquicas dos indivíduos em diferentes etapas da
vida e elaborou uma teoria chamada Epistemologia Genética.
Na Epistemologia Genética, o desenvolvimento humano está organizado em
quatro etapas, que têm características próprias: período sensório-motor; período pré-
operatório; período operatório concreto e período operatório formal. Na perspectiva
piagetiana, o sujeito da aprendizagem participa, ativamente, do processo de construção
de conhecimentos.
Ele constatou, também, que para que a aprendizagem ocorra, é necessário que
haja o conflito cognitivo. O conflito cognitivo tira o indivíduo do estado de equilíbrio
cognitivo e faz com que ele mobilize suas capacidades para dar conta do novo.
Essas ideias provocaram a revisão das práticas educativas tradicionais. Piaget
chamou a atenção, também, para a importância do jogo simbólico no percurso de
desenvolvimento infantil, que tem início com o aparecimento da linguagem.

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AU4 - O desenvolvimento Psicológico na perspectiva de Vygotsky
SEÇÃO 1: Quem foi Lev Vygotsky

Vygotsky que nasceu em 1896 numa cidade pequena da antiga Bielorrússia, era
membro de uma família judia, sendo o segundo de oito irmãos.
Seu pai era chefe de departamento em um banco e representante de uma
companhia de seguros. Enquanto sua mãe era professora formada, mas não exercia a
profissão. Membro de uma família bastante culta e com uma situação financeira
privilegiada sua educação primária foi conduzida por um preceptor particular.
Somente os últimos anos do ensino secundário foram realizados em uma escola
particular judaica, seu interesse pelos estudos e por diversas áreas do conhecimento teve
início cedo, ele organizava grupos de estudos com seus amigos, eram assíduos
frequentadores da biblioteca local e aprendeu diversos idiomas dentre os quais o
esperanto.
Vygotsky iniciou seus estudos no curso de medicina e Moscou por influência de
sua família, logo pedindo transferência para o curso de Direito. Após a conclusão do
curso de Direito, passou a se dedicar a licenciatura e aos estudos da psicologia. Seus
estudos o tornaram renomado psicólogo e fizeram com que ele retornasse ao curso de
medicina.
Na faculdade de medicina exerceu vários cargos políticos e científicos, além de
ter realizado diversas intervenções com crianças com deficiências físicas e mentais. Da
mesma forma que sua atividade acadêmica foi diversificada sua atuação profissional
também o foi, atuou como professor e pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia,
filosofia, licenciatura, deficiência física e mental e pedologia.
Os aspectos característicos da psicologia de bigodes que passaram a ser
conhecidos no Brasil a partir dos anos 1980. Durante toda a sua vida profissional
Vygotsky que manteve uma vida intelectual intensa, dedicando se a grupos de estudos e
participando de atividades literárias e teatrais.
Em 1924 Vygotsky casou-se e teve duas filhas.

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Em 1920 Vygotsky que havia contraído tuberculose, doença com qual conviveu
por catorze anos e que provocou sua morte aos trinta e sete anos. Os textos escritos por
Vygotsky que são densos, cheios de ideias e misturam reflexões filosóficas com
imagens literárias, proposições mais gerais e datas de pesquisa que às vezes
exemplificariam.
Embora façamos referência a teoria vygotskyana, seus escritos não chegaram a
se constituir como tal, na medida em que sua morte prematura interrompeu a sua
produção. Muitas de suas ideias ainda em processo de desenvolvimento na ocasião de
sua morte continuaram a ser desenvolvidas por um grupo de outros pesquisadores que já
vinham trabalhando com Vygotsky.
Apesar do tempo transcorrido desde a sua morte as ideias de Vygotsky que
continuam tendo grande relevância tanto no campo da psicologia quanto da educação.
Seus estudos deram origem a uma nova abordagem na psicologia conhecida como
psicologia, histórico-cultural.

SEÇÃO 2: A teoria histórico-cultural de Vygotsky

A evolução russa ocorrida em 1917 e os problemas que deram ao decorrer


tiveram grande influência na elaboração da teoria de Vygotsky no final deste período a
sociedade russa se debateu com as contradições decorrentes do entrelaçamento da
Revolução Proletária e da Revolução Democrática Burguesa.
Ao estudar os principais representantes da psicologia clássica da época
Vygotsky, começou a enunciar elementos para elaboração de uma nova concepção de
desenvolvimento que levasse em consideração a gênese e a natureza social, as funções
psicológicas superiores, preocupando-se com os processos de construção das
singularidades dos sujeitos inseridos em uma determinada cultura.
O processo de reconstrução da sociedade no qual por vezes prevaleciam as
características burguesas por outras as socialistas, foi o fio condutor para análise da
psicologia de Vygotsky, tomando como base a sociedade os acontecimentos da época,
Vygotsky passou a analisar as tendências predominantes da psicologia da época e
propôs a criação de uma nova psicologia mais geral que abarcasse os conhecimentos
particulares e específicos desta.
Vygotsky que propôs em 1924 o que a nova psicologia fosse baseada nos
princípios do materialismo histórico-dialético. Materialismo histórico e dialético de
Marx vinha sendo estudado por outros teóricos na década de 1920, mas que foi o
primeiro teórico a relacioná-lo com as questões psicológicas concretas.
De acordo com Vygotsky, é na relação com a sociedade que o homem
internaliza o mundo material e passa a ter condições de interpretá-lo de acordo com a
sua subjetividade uma vez que o homem é ao mesmo tempo histórico, cultural e
individual.
A nova psicologia proposta por Vygotsky, apoia em três ideias principais:
As funções psicológicas humanas têm um suporte biológico na medida em que
são produtos da atividade cerebral.
O funcionamento psicológico encontra fundamento no estabelecimento de
relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, as quais são desenvolvidas em um
processo histórico.
A relação entre o homem e o mundo não é direta, ela é mediada por sistemas
simbólicos.

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Nessa perspectiva o cérebro é a base do funcionamento psicológico humano.
Sendo assim, o homem possui uma existência material de base biológica que define
limites e possibilidades de desenvolvimento.
Contudo, o cérebro humano não possui uma estrutura fixa e imutável, ele é um
sistema aberto de grande plasticidade cuja estrutura e modo de funcionamento são
moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual.
Sendo assim, na perspectiva Vygotskyana os homens se transformam de
biológicos em sócio históricos em um processo no qual a cultura é fundamental para a
constituição da natureza humana. Nesse processo a relação do homem com o mundo a
sua volta não se dá de forma direta, mas sim mediada por instrumentos signos.

SEÇÃO 3: O conceito de mediação

Um conceito central na teoria de Vygotsky é o conceito de mediação para


Vygotsky que a mediação é entendida como processo de intervenção de um elemento
intermediário em uma relação, nesse caso a relação deixa de ser direta e passa a ser
mediada por esse elemento.
Um exemplo de mediação é a relação estabelecida entre uma criança e uma vela
acesa, se a criança ainda não tem noção de que pode se queimar ou entrar em contato
com a chama da vela é bem provável que ela coloque a mão e se queime. Nesse caso a
relação entre ela e a vela é direta, não mediada.
Porém quando uma criança está próxima de colocar sua mão na chama da vela é
advertida sobre o perigo por um adulto tem a sua relação com a vela mediada por esse
adulto. Para Vygotsky que a relação entre os homens e o mundo é mediada e a forma
pela qual essa mediação ocorre nos distingue das outras espécies animais.
A mediação ao imundo é feita por meio de mediadores, ou seja, de ferramentas
auxiliares à atividade humana.
O conceito de mediação adotado por Vygotsky encontra sua filiação teórica nos
postulados marxistas, que vem no surgimento do trabalho e na formação da sociedade
humana com base no trabalho o processo básico que irá marcar o homem como espécie
diferenciada.
Para Vygotsky há dois tipos de mediadores, os instrumentos e os signos.
O instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto do seu
trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. Ele é feito ou
buscado especialmente para um certo objetivo, carregando consigo a função para qual
foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo.
Como tal, é um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.
Da mesma maneira que os instrumentos são criados para ampliar as capacidades
humanas no plano concreto os signos são criados como meios auxiliares para solucionar
problemas no plano psicológico. Como lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, entre
outros.
Eles se constituem como marcas externas que auxiliam o homem em tarefas que
exigem a memória e atenção. São exemplos da utilização de signos. Fazer uma lista de
compras por escrito, usar um mapa para encontrar um local determinado, fazer um
diagrama para orientar a construção de um objeto, entre outros.
A linguagem humana é constituída por um conjunto de signos quando utilizamos
a palavra bicicleta por exemplo, ela não é o objeto representado, mas nos remete a ele.
Em síntese, enquanto os instrumentos são elementos externos ao indivíduo
voltados para fora dele com a função de provocar mudanças nos objetos e controlar
processos da natureza, os signos ou instrumentos psicológicos são orientados para o

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próprio sujeito dirigindo-se ao controle das ações psicológicas quer sejam do próprio
indivíduo ou de outras pessoas.

SEÇÃO 4: Desenvolvimento e aprendizagem na perspectiva vygotskyana

O desenvolvimento humano, o aprendizado e a relação entre ambos são temas


centrais na obra de Vygotsky.
Ao mesmo tempo em que manifesta uma preocupação consta com a questão do
desenvolvimento em sua obra Vygotsky que enfatizam a importância dos processos de
aprendizado.
Para Vygotsky o aprendizado é considerado fundamental no processo de
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Para ele desde o nascimento do
indivíduo o aprendizado se encontra relacionado ao desenvolvimento e sem ele as
funções psicológicas tipicamente humanas não se desenvolveriam.
Como ilustração da relação entre desenvolvimento e aprendizagem, podemos
nos remeter ao exemplo de um indivíduo que estivesse inserido em uma sociedade
isolada que não dispusesse de um sistema de escrita. Esse indivíduo não seria submetido
ao aprendizado da leitura da escrita e, portanto, não teria ativados os mecanismos do
desenvolvimento de que dispõe para aprender a ler e escrever.
Por outro lado, se esse mesmo indivíduo fosse tirado do seu meio original
inserido em uma sociedade letrada, uma vez submetido ao aprendizado da leitura e da
escrita, teria seu percurso de desenvolvimento alterado.
Na perspectiva vygotskyana as oportunidades oferecidas pelo meio para
aprendizagem são fundamentais uma vez que todas as aprendizagens ocorrem
primeiramente no plano interpessoal entre pessoas fora do indivíduo para só depois
serem internalizadas, passando ao plano intrapessoal.
Um exemplo desse processo diz respeito ao desenvolvimento da linguagem a
criança que começa a falar o faz porque sente a necessidade de se comunicar com as
pessoas que estão a sua volta. Sendo assim a linguagem aparece no plano interpessoal
para atender a necessidade oposta pelo meio.
Somente num segundo momento a criança internaliza essa linguagem e a coloca
a serviço do pensamento no plano intrapessoal.
A relação entre aprendizado e desenvolvimento é analisada sobre dois ângulos
na teoria vygotskyana . Uma mais geral e a outra especificamente no contexto escolar.
Vygotsky defende a ideia de que as aprendizagens acontecem em diversos
contextos e não só na escola. A interação com os objetos de conhecimento dadas as
oportunidades oferecidas pelo meio, o indivíduo constrói conhecimentos.
No entanto a escola se constitui como um lugar privilegiado para que as
aprendizagens ocorram, uma vez que ela se constitui como um espaço no qual há uma
intenção explícita de promovê-las.
Se a aprendizagem se constitui como a mola propulsora do desenvolvimento a
escola tem um papel fundamental no delineamento do percurso de desenvolvimento dos
indivíduos cabe a ela portanto identificar os aspectos fundamentais para que a
aprendizagem ocorra e propor situações nas quais esses aspectos estejam presentes de
maneira a oportunizar o pleno desenvolvimento dos educandos.

SEÇÃO 5: O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal

Um conceito central na teoria vygotskyana que ficou bastante conhecido na


educação é o de zona de desenvolvimento proximal pensado a partir de dois outros

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níveis de desenvolvimento. A zona de desenvolvimento real e a zona de
desenvolvimento potencial.
Para Vygotsky na zona de desenvolvimento real estão todas as aprendizagens já
realizadas pelo sujeito, ou seja, tudo aquilo que ele já consegue fazer sozinho sem ajuda
de outras pessoas. Uma criança que já saiba amarrar sapatos, por exemplo, tem a
capacidade de realizar essa ação como parte da sua zona de desenvolvimento real.
Nas zonas de desenvolvimento potencial se encontram as capacidades que estão
em vias de serem incorporadas pelos sujeitos, mas para as quais ele ainda precisa de
ajuda de alguém mais experiente.
Uma criança que saiba andar de bicicleta com rodinhas tem essa capacidade
como parte da sua zona de desenvolvimento real num determinado momento um adulto
decide que já é hora de tirar as rodinhas a vez retiradas por um tempo o adulto precisará
ajudá-lo.
Quanto a criança demanda ajuda do adulto, andar de bicicleta sem rodinhas faz
parte da sua zona de desenvolvimento potencial, a partir do momento em que ela
consegue fazê-lo sem ajuda essa capacidade passa a fazer parte da sua zona de
desenvolvimento real.
Para Vygotsky que entre aquilo que o indivíduo consegue fazer desde que é
auxiliado por alguém mais experiente da espécie, zona, desenvolvimento potencial. É
aquilo que ele consegue fazer sozinho, zona de desenvolvimento real, há um espaço
intermediário ao qual ele deu o nome de zona de desenvolvimento proximal.
A zona de desenvolvimento proximal se constitui então como caminho a ser
percorrido pelo indivíduo para o desenvolvimento das funções que estão em processo de
amadurecimento e que estão consolidadas no nível do desenvolvimento real.
O conceito de zona desenvolvimento proximal começou a ser bastante discutido
nos contextos educacionais, uma vez que o professor precisa intervir nela para
promover a aprendizagem de seus alunos, para que possa intervir na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos, professor precisa identificar aquilo que o aluno
já sabe sobre o que será ensinado, ou seja, aquilo que já faz parte da sua zona de
desenvolvimento real.
Feito isso ele precisa prever aquilo que o aluno é capaz de saber desde que é
auxiliado pelo professor, ao fazer isso o professor está identificando aquilo que faz parte
da zona de desenvolvimento potencial do seu aluno, quando não parte dessa
identificação o professor não consegue promover a construção de novos conhecimentos.
Vale ressaltar que para Vygotsky que a intervenção do outro social mais
experiente não é necessariamente do professor, para ele a intervenção na zona de
desenvolvimento proximal pode ser fruto da interação com qualquer outra pessoa com o
saber diferente.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Vygotsky foi um importante estudioso da psicologia que propôs uma nova


vertente, baseada no materialismo histórico e dialético de Marx.
Na perspectiva de Vygotsky, o homem deixou de ser visto como produto do
meio e passou a ser concebido como um ser histórico e cultural.
Para ele, as funções psicológicas superiores, que nos distinguem das demais
espécies animais, passaram a ser desenvolvidas quando o homem deixou de ser apenas
biológico e passou a ser sócio-histórico, iniciando o processo de produção de história
e cultura.

24
Um conceito que ficou bastante conhecido na obra de Vygotsky foi o conceito
de Zona de Desenvolvimento Proximal, por suas implicações para as
práticas educativas.
Segundo o estudioso, a Zona de Desenvolvimento Proximal é um espaço
intermediário entre aquilo que o indivíduo consegue fazer sozinho (Zona de
Desenvolvimento Real) e aquilo que ele consegue fazer, desde que auxiliado por
alguém mais experiente (Zona de Desenvolvimento Potencial). É nessa Zona que,
segundo Vygotsky, as intervenções de outros indivíduos promovem a aprendizagem.
Para Vygotsky, as aprendizagens são fundamentais no processo de constituição
humana, na medida em que são elas que promovem o desenvolvimento.
Essas ideias provocaram a revisão das práticas educativas tradicionais. Piaget
chamou a atenção, também, para a importância do jogo simbólico no percurso de
desenvolvimento infantil, que tem início com o aparecimento da linguagem.

AU5 - O desenvolvimento psicológico na perspectiva de Henri Wallon


SEÇÃO 1: Quem foi Henri Wallon

Henri Wallon nasceu em 1879 na França e morreu em 1962. Ao longo de sua


vida, dedicou-se a filosofia a medicina, a psicologia e a política francesa.
Durante o período que realizou sua produção intelectual, o aluno presenciou as
duas grandes guerras mundiais. Na primeira, Wallon esteve presente como médico e na

25
segunda como participante do movimento de resistência francesa contra a invasão dos
nazistas.
Aos vinte e três anos Wallon se formou em filosofia e começou a atuar como
docente no ensino secundário, em sua atuação manifestou discordância em relação aos
métodos autoritários utilizados pela supervisão nas escolas para o controle disciplinar
que poderia levar ao obscurantismo e a desconfiança sua discordância das práticas
vigentes decorria de sua formação humanista, vivenciada no seio de uma família de
tradição universitária e republicana.
Sua intensa vida política foi marcada por posicionamentos pessoais explícitos
em relação aos regimes vigentes na época, ao perceber que os partidos da esquerda se
constituíam como uma alternativa ao fascismo, Wallon se filiou ao Partido Socialista
tendo logo depois se desligado dele por discordar de suas posturas eleitoreiras.
O Wallon começou a participar do círculo da Rússia Nova, um grupo de
intelectuais que se dispõe a se aprofundar nos estudos do materialismo dialético. A
intenção de Wallon era de verificar as possibilidades oferecidas por esse referencial
teórico para as diferentes áreas do conhecimento.
Durante a segunda grande guerra por conta de sua participação no movimento de
resistência francesa, Wallon passou a ser perseguida pela gestada passando a viver na
clandestinidade. Nessa época ele se filiou ao Partido Comunista e se manteve como
parte dele até o final da sua vida.
O interesse de valor pela psicologia começou já no seu curso secundário, mas
como não havia na universidade um curso específico de psicologia, ele optou por cursar
Medicina, Wallon atuou como médico até 1931, em Instituições psiquiátricas
atendendo principalmente crianças com distúrbios neurológicos e do comportamento.
Paralelamente a sua atuação como médico e psiquiatra, o interesse Wallon pela
psicologia infantil foi crescendo, Wallon fundou um laboratório voltado para pesquisa e
para o atendimento de crianças consideradas anormais.
Durante quatorze anos esse laboratório funcionou junto a uma escola da periferia
de Paris, para que a criança pudesse ser estudada de maneira contextualizada. Essa
proximidade colocou Wallon em contato com importantes questões da educação.
Para Wallon entre a psicologia, pedagogia, deveria haver um movimento de
ajuda mútua e constante, escreveu diversos artigos sobre temas ligados à educação.
Participou ativamente dos debates educacionais da sua época e elaborou um importante
projeto de reforma educacional.

SEÇÃO 2: A psicologia da pessoa na perspectiva de Wallon

Wallon é um dos representantes da abordagem interacionista do


desenvolvimento que defende a ideia de que o percurso de desenvolvimento é definido
pela interação entre o indivíduo e o meio no qual ele está inserido.
Para ele todos os aspectos do desenvolvimento humano decorrem da interação
das predisposições genéticas características da espécie com a variedade dos fatores
relacionados ao meio.
Ao levar em consideração os aspectos biológicos e os aspectos contextuais a
teoria desenvolvida por Wallon permite a compreensão do indivíduo em sua totalidade.
Seus estudos fizeram com que eles se aproximassem progressivamente das questões
relativas a educação, o que o levou a apontar a importância das práticas educativas na
constituição de sujeitos do ponto de vista cognitivo, afetivo e motor.

26
A teoria walloriana é conhecida como psicologia da pessoa completa, uma vez
que visa a produção de um saber psicológico que leva em conta a totalidade da pessoa
em suas condições concretas de existência.
Por considerar o homem como um ser indissociavelmente biológico e social os
estudos realizados por Wallon sobre psiquismo humano se situam entre os campos das
ciências naturais e sociais. Para ele a formação da inteligência é fruto da genética e das
interações sociais.
Para Wallon o ambiente social e os aspectos biológicos têm uma relação de
reciprocidade e de interdependência na constituição do indivíduo da espécie humana.
Wallon apresenta em sua teoria a ideia de três campos funcionais, afetivo, motor
e cognitivo que funcionam de forma integrada. Para ele, a pessoa é o todo que integra
esses campos, sendo ela própria um campo funcional.
Para Wallon o desenvolvimento da pessoa se dá de maneira progressiva pela
sucessão de fases nas quais hora predomina os aspectos afetivos, poros cognitivos. É
esse predomínio de um aspecto sobre o outro, Wallon dá o nome de predominância
funcional, esse predomínio é orientado pelo princípio da alternância funcional.
De acordo com o Wallon cada uma das fases do desenvolvimento tem suas
particularidades definidas pela predominância de um tipo de atividade, as
predominâncias estão relacionadas aos recursos que a criança tem em cada fase para
interagir com o ambiente.
Por exemplo, o primeiro ano de vida a um predomínio das emoções no
desenvolvimento infantil, porque esse é o único recurso que os bebês dispõem para
mobilizar os adultos que estão à sua volta.
A partir do segundo ano de vida, o aparecimento da linguagem, a criança passa a
dispor de recursos cognitivos para atuar sobre o mundo, vale dizer que o aparecimento
da linguagem e o consequente predomínio da razão só se faz possível pela incorporação
das aprendizagens realizadas na etapa anterior.
Cada um dos estágios de desenvolvimento oportuniza novas conquistas
decorrente das interações vivenciadas na etapa anterior. Constituindo-se ao mesmo
tempo num processo de integração e diferenciação.

SEÇÃO 3: O papel da afetividade no desenvolvimento humano segundo


Wallon

O estudo das emoções humanas tem um papel central na teoria de Wallon. Seu
interesse pelo tema foi despertado porque como médico ele sabia que o comando das
emoções estava localizado em uma área nobre do cérebro humano e pela observação de
que no primeiro ano de vida das crianças eram as emoções que garantiriam a
sobrevivência dos bebês pela sua capacidade de mobilização dos adultos.
O início de suas investigações sobre o papel das emoções no desenvolvimento
humano se deu em um momento em que historicamente eram atribuídos juízos de valor
a elas como sendo ruins ou boas sem que houvesse uma discussão mais aprofundada
sobre as suas funções.
Para Wallon a lógica mecanicista das teorias sobre as emoções existentes na
época não dava conta de sua complexidade, as teorias existentes na época se
enquadravam duas tendências a primeira via as emoções como reações incoerentes que
tinha um efeito tumultuador sobre as atividades motora e intelectual.
Na posição oposta, a segunda tendência considera as emoções como sendo
reações positivas, lotadas de poder agregador para os adeptos dessa tendência, as

27
emoções provocam uma descarga de adrenalina na corrente sanguínea que aumenta a
disponibilidade de glicose e oferece maior disponibilidade energética ao organismo.
Para que pudesse compreender o papel das emoções no desenvolvimento
humano, Wallon dirigir o seu foco de análise para a criança, uma vez que no adulto a
manifestação das emoções aparece reduzida.
No início da vida do bebê, sua dependência em relação ao adulto é total e sua
primeira atividade eficaz é desencadear no outro ações de ajuda para satisfazer as suas
necessidades. Seus movimentos expressam suas disposições orgânicas e seus estados
afetivos de bem ou de mal-estar os adultos interpretam as expressões do bebê e atendem
as suas necessidades.
Além de atender o bebê, os adultos estabelecem intencionalmente uma
comunicação com ele, e pouco a pouco vai demonstrando o funcionamento da vida em
sociedade.
Um exemplo desse processo diz respeito a manifestação das emoções pelo bebê,
nos primeiros meses o sorriso infantil é fruto de uma descarga motora e o bebê sorri
mesmo que não estando na presença de outras pessoas.
É um sorriso fisiológico, como fruto das interações por volta dos três meses o
bebê começa a sorrir na presença de outras pessoas passando a apresentar um sorriso
social.
No segundo semestre de vida já é possível perceber a manifestação de emoções
bem diferenciadas, como alegria, o medo, a raiva e a perplexidade pelo bebê como fruto
das aprendizagens realizadas até então.
Um outro aspecto para o qual Wallon chamou a atenção se refere as emoções diz
respeito aos efeitos que ela suscita no ambiente, segundo o autor, as reações que as
emoções suscitam no ambiente se constituem como uma espécie de combustível para a
sua manifestação.

SEÇÃO 4: As etapas do desenvolvimento segundo Wallon

Durante a década de 1940, apesar da turbulência causada pela Segunda Grande


Guerra, Wallon publicou suas obras mais importantes, em 1941 o valor publicou o livro
A Evolução Psicológica da Criança no qual escreveu as cinco fases de desenvolvimento
enunciadas por ele.
1. No estágio impulsivo emocional do nascimento até um ano de idade ha
predomínio dos aspectos emocionais, nele inicia-se o percurso de
construção do eu, o desenvolvimento é marcado por uma grande
impulsividade motora, no início de maneira desordenada, seguida por um
controle cada vez maior.
2. O estágio sensoriomotor e projetivo de um a três anos ao predomínio dos
aspectos cognitivos surgem a marcha e a linguagem, o desenvolvimento
da linguagem permite o aparecimento da função simbólica e a
consequente capacidade de representação da realidade, os atos mentais
projetam-se em atos motores e a criança se torna, progressivamente, mais
independente do adulto.
3. No estágio do personalismo em três a seis, sete anos há um novo
predomínio das emoções, há uma maior consciência de si e leva a uma
maior diferenciação em relação as outras pessoas e ao mundo. Essa
conscientização se faz perceptível que uma mudança no uso dos
pronomes pessoais e possessivos, a criança que até pouco tempo se
referia a si próprio utilizando o próprio nome, passa a utilizar com

28
bastante ênfase os pronomes eu e meu, a maior consciência de si leva
também a uma maior consciência corporal.
4. No estágio categorial sete, onze anos, o predomínio é da razão, ele é
caracterizado por uma maior disciplina mental, nele são manifestados
dois tipos de pensamento, o pré categorial e o categorial:
 O pensamento pré-categorial é caracterizado pelo
sincretismo no qual a criança mistura fantasia e realidade
sem distinção para explicar as coisas que estão a sua
volta.
 Pensamento categorial é o tipo de pensamento que
permite a criança dar explicações lógicas para diferentes
situações.
5. O estágio da adolescência dos doze anos em diante predominou as
emoções por se constituir como um período importante na
individualização dos sujeitos caracterizada por uma ambivalência de
sentimentos. Ao mesmo tempo em que o adolescente se sente dependente
dos adultos, ele se opõe a eles para firmar suas posições.Esse é um
período fundamental para a escolha dos valores morais e vigorarão na
vida adulta, nele a um fortalecimento do pensamento categorial e uma
reorganização do esquema corporal.
Ao apresentar os estágios de desenvolvimento infantil Wallon explicita a sua
ideia de que em cada etapa há um tipo diferente de interação da criança com o meio.
Passagem dos estágios para ele acontece de forma progressiva, mas não linear,
caracterizada por um movimento de reformulações.

SEÇÃO 5: A importância do movimento na constituição da pessoa

Um dos campos funcionais apresentados por Wallon é o movimento, no início


do percurso de desenvolvimento, os movimentos são desordenados passando
progressivamente a serem mais controlados e ajustados às demandas do meio.
O aperfeiçoamento dos movimentos permite as crianças perceber cada parte do
seu corpo os objetos que estão à sua volta, para ele o movimento apresenta três formas
igualmente importantes na evolução do psiquismo infantil e que se condicionam
mutuamente, podendo combinar-se de diferentes formas, variando de pessoa para
pessoa, são elas:
 Movimento passivo ou exógeno, refere se os deslocamentos que
possibilitam ao corpo atingir o seu equilíbrio.
 Movimento ativa ou autógeno, prefere-se aos deslocamentos intencionais
do corpo ou de partes dele no tempo e no espaço.
 Movimento das reações posturais, esse movimento é caracterizado por
mímicas ou expressões corporais e faciais, tem origem na variação das
emoções e seus deslocamentos são pouco perceptíveis, uma vez que
ocorrem no plástico da musculatura, não envolvem mudanças corporais
no tempo e no espaço.
Movimento também desempenha um papel fundamental na fertilidade e na
cognição, para compreender os múltiplos papéis do movimento é necessário vincular
seu estudo ao músculo, responsável por sua realização.
Para Wallon a musculatura tem duas funções, a função cinética e a função
postural:

29
 A função cinética regula o estiramento e encurtamento das fibras
musculares é responsável pelo movimento propriamente dito.
 A função postural ou tônica é responsável pela variação no grau de tônus
dos músculos.
No desenvolvimento humano, antes de agir sobre o meio físico, o movimento
atua sobre o meio humano mobilizando as pessoas por intermédio do seu teor
expressivo. A primeira função do movimento no desenvolvimento infantil é afetiva, só
no final do primeiro ano, quando há o maior domínio do ato motor, o movimento se
torna instrumento de exploração do mundo físico e passa a ter uma dimensão cognitiva.
A função muscular postural também está associada a atividade intelectual, sendo
que as variações tônicas refletem o curso do pensamento humano a percepção também
está intimamente relacionada a função tônica.
As pessoas modificam suas posturas corporais na busca da melhor posição para
perceber os estímulos do meio no qual estão inseridas. Essa relação entre o pensamento
e o movimento é mais evidente na criança no percurso de desenvolvimento à medida
que os progressos cognitivos avançam o movimento passa a se integrar a inteligência,
com isso a criança torna-se cada vez mais capaz de prever mentalmente a sequência dos
atos motores complexos.
É muito difícil que a criança contenha voluntariamente seus movimentos, a
consolidação das disciplinas mentais é um processo lento e gradual e que demanda
amadurecimento cerebral, o desenvolvimento cognitivo e a interação com o meio.
Assim cabe a escola não exigir prematuramente a contenção dos movimentos
pelas crianças e ao mesmo tempo oferecer elementos para quê? Progressivamente elas
possam ter disciplina mental.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Henri Wallon foi um importante teórico da Psicologia que desenvolveu uma


teoria intitulada “Psicogênese da Pessoa Completa”. Seus estudos foram considerados
inovadores por enfocar aspectos que não haviam sido aprofundados em outras teorias,
como as emoções e o movimento.
Wallon apresentou, em sua teoria, quatro campos funcionais que interagem no
desenvolvimento da pessoa: a cognição, a afetividade, o movimento e a própria pessoa.
Nos aspectos afetivos, as emoções merecem um lugar de destaque uma vez que,
segundo o autor, nas etapas do desenvolvimento humano, emoção e razão
se alternam. Para Wallon, as emoções são constitutivas do ser humano e têm papel
fundamental para a constituição dos indivíduos.
Na teoria walloniana, o desenvolvimento está organizado em cinco etapas,
pensadas em termos das transformações nas formas de interação entre o indivíduo e o
meio, tendo o critério etário como fator de delimitação.
Os estágios propostos por Wallon são:
 Estágio impulsivo emocional (0-1 ano);
 Estágio sensório-motor e projetivo (1-3 anos);
 Estágio do personalismo (3-6/7 anos);
 Estágio categorial (7-11 anos);
 Adolescência (12 anos em diante).

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AU6 - A Escola Sociológica Europeia
SEÇÃO 1: Quem foi Skinner

O behaviorismo, a teoria behaviorista, é uma teoria psicológica que se dedica a


estudar o comportamento dos indivíduos em sua relação com o meio.
Skinner é um dos psicólogos norte-americanos mais destacados do século XX,
com essa teoria. O behaviorismo de Skinner tem influenciado muitos psicólogos
americanos e de vários outros países nos quais a psicologia americana tem grande
penetração., como é o caso do Brasil.
Sua linha de estudo ficou conhecida como behaviorismo radical, termo adotado
pelo próprio Skinner em 1945 para nomear uma filosofia da ciência do comportamento
por meio da análise experimental do comportamento.

31
Seu primeiro livro intitulado O Comportamento dos Organismos foi lançado em
1938 e constituiu-se como um marco de uma nova vertente do comportamentalismo,
durante mais de cinquenta anos pós a publicação do seu livro suas teorias foram
desenvolvidas, elaboradas e submetidas a críticas e reelaboradas.
Burrhus Frederic Skinner nasceu em 1904 na Pensilvânia nos Estados Unidos,
foi criado em um ambiente de disciplina bastante severa e sempre se mostrou como um
estudante rebelde.
Na adolescência interessava-se pela poesia e pela filosofia, com a pretensão de
se tornar um escritor, sua primeira formação acadêmica foi na área de literatura, como
suas tentativas de escrever foram frustradas, eles se aproximaram da área da psicologia,
que cursou em Harvard, local no qual entrou em contato com o behaviorismo.
Seu gosto pela leitura o levou a entrar em contato com os referenciais teóricos
desenvolvidos por John B. Watson sobre o comportamentalismo e sobre suas
consequências epistemológicas, vertente teórica da qual se tornaria um dos principais
representantes.
Seu início de carreira na área da psicologia foi marcado por anos dedicados a
experiências com ratos e pombos, paralelamente a produção de livros. O método que
desenvolveu para observar os animais de laboratório e suas reações aos estímulos levou
a criar pequenos ambientes fechados e ficaram conhecidos como caixas de skinner.
Ingressou no doutorado em filosofia em Harvard em 1928, nessa época uma
nova visão do mundo e é nele se configurando, antes mesmo que descobrisse ou
construísse o essencial de sua teoria: "O universo dos operantes, as respostas, os
reforços e os estímulos discriminativos".
Skinner viveu em um ambiente social obscuro, caracterizado pela superação da
grande depressão dos anos 1930 e a posterior vitória na guerra, foi esse o contexto que
despertou o seu interesse pelo comportamentalismo uma vez que Skinner acreditava que
quanto maior fosse o conhecimento sobre as condutas humanas maiores seriam as
possibilidades de utilizar esse conhecimento para superação dos problemas.
Ao longo de toda a sua vida, Skinner nunca deixou de propor ideias originais e
criativas nos mais diversos âmbitos, suas reflexões ganhavam formas de modo prático,
concreto e técnico.
A educação se constituiu como uma das suas preocupações em diversas
atividades como no desenvolvimento de projetos de um berço infantil de máquinas de
ensinar e de ensino programado. Quando sua segunda filha nasceu Skinner desenvolveu
o berço para ela, visando uma grande liberdade de movimento e encorajamento da
autonomia desde cedo que ficou conhecido como Aeroberço.
Sua invenção constituiu em uma caixa com controle de temperatura de umidade
e com um painel de vidro na qual o bebê sem qualquer fralda ou lençol poderia ser
posto para dormir.
Embora não fosse a sua intenção submeter a filha a um experimento em uma
caixa sob condições controladas a invenção de skinner foi bastante criticada por conta
das comparações com os equipamentos utilizados por ele em suas experiências em
laboratório com animais.
Em 1948 aceitou o convite para ser professor em Harvard, no curso de
psicologia, permaneceu nesse cargo até o final de sua vida. Morreu em mil novecentos e
noventa em ativa militância a favor do behaviorismo.

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SEÇÃO 2: O estudo do comportamento humano

Skinner é considerado um dos mais importantes representantes dos teóricos


comportamentalistas que se dedicaram ao estudo do comportamento humano.
As vertentes teóricas voltadas para os estudos do comportamento humano
ficaram conhecidas sob o nome de teorias behavioristas ou behaviorismo, o termo
behaviorismo tem origem no termo behavior do inglês que significa comportamento.
Embora seja associado a Skinner o termo behaviorismo foi inaugurado por John
Watson num artigo publicado por ele em 1913 intitulado “Psicologia: como os
behavioristas a veem”
Watson foi o responsável por posturar o comportamento humano como sendo
objeto de estudo da psicologia, as conquistas de Watson foram fundamentais para que a
psicologia passasse a ser vista como uma ciência e com isso pudesse romper
definitivamente com a sua tradição filosófica.
O behaviorismo inaugurado por Watson deu visibilidade ao termo
comportamento ao colocá-lo como objeto de estudo da psicologia, ao longo de sua
história essa teoria psicológica foi modificando o sentido desse termo.
Os psicólogos behavioristas postularam os termos resposta e estímulo para
fazerem referência aquilo que é feito pelo organismo e as variáveis do ambiente que
interagem com o sujeito. Sendo assim, aos diferentes estímulos oferecidos pelo
ambiente, são dadas diferentes respostas pelo organismo.
Os estímulos nada mais são do que aspectos do ambiente correlacionados as
respostas dos indivíduos.
As respostas são ações ou conjunto de ações dos indivíduos na sua relação com
o ambiente.
Adoção dos termos mencionados pode ser explicada tanto por razões
metodológicas quanto históricas.
No que se refere às razões metodológicas, os analistas do comportamento
utilizaram como técnica prioritária de investigação, um método experimental e analítico,
com isso eles sentiram a necessidade de dividir o objeto de análise para fins de
investigação chegando a unidades de análise, nesse contexto estímulo se constitui como
uma unidade de análise e a resposta dada como outra.
Da mesma forma na perspectiva de Skinner comportamento é o objeto de estudo
e o ponto de partida para realização dos estudos da ciência do comportamento.
O homem é estudado na sua interação com o ambiente e com os estímulos que
ele oferece, sendo ao mesmo tempo produtor e produto dessas interações.
Ao estudar o comportamento humano, Skinner buscou estabelecer a relação
entre as respostas oferecidas pelo meio aos comportamentos humanos e os
comportamentos propriamente ditos.

SEÇÃO 3: Os reforçadores na teoria de Skinner

No estudo da relação entre o comportamento e o meio, Skinner apresentou dois


tipos de comportamento: o respondente e o operante
 Comportamento respondente também chamado de reflexo estaria
relacionado as interações do tipo estímulo resposta entre o ambiente e o
sujeito incondicionadas. Os arrepios provocados pelo frio e as lágrimas
provocadas pelo corte da cebola no preparo dos alimentos são exemplos
desse tipo de comportamento., o conceito de comportamento respondente
se tornou a unidade básica de análise para Skinner.

33
 O comportamento operante, a aprendizagem dos comportamentos será
propiciada pela ação do organismo sobre o meio e o seu efeito.
Comportamento operante opera sobre o mundo por assim dizer quer seja
direta ou indiretamente, dessa forma o comportamento operante pode ser
compreendido como todo comportamento realizado de forma desejada e
intencional como ler um livro, escrever um email, tocar um instrumento,
entre outros.
A ideia de comportamento operante na teoria de Skinner, possibilita a criação do
conceito de condicionamento operante. Para Skinner o condicionamento operante
consiste no planejamento de um mundo no qual o indivíduo faça coisas que afetem esse
mundo ao mesmo tempo em que é afetado por ele.
A consequência que produz tal efeito recebe o nome de reforço ou
reforçador, entende-se como reforço qualquer estímulo que possibilita o aumento
da probabilidade da resposta.
Para a Skinner há dois tipos de reforçadores, positivos e os negativos:
 São reforçadores positivos os estímulos que promovem o comportamento
desejado representando recompensa e ou prazer, por exemplo, se o aluno
tira uma nota boa nas avaliações escolares e recebe um presente dos pais,
presente se constitui como um reforçador positivo.
 O reforçador negativo visa reduzir o eliminar determinada resposta, na
perspectiva de skinner a redução ou eliminação da resposta se deve ao
fato de que os estímulos assim considerados afugentam os organismos.

Skinner afirma também que aos reforçadores primários e os secundários:


 Recompensas físicas diretas são características dos reforçadores
primários, uma vez que satisfazem nossas necessidades primárias, como
a fome e a sede, entre outras;
 São considerados reforçadores secundários os estímulos neutros
associados aos reforços primários atuando como recompensa como é o
caso do dinheiro.
Embora Skinner tenha constatado o efeito dos reforçadores positivos e negativos
do comportamento humano, ele condenava o uso de punições. Para ele as punições
forneciam aos sujeitos punidos informações sobre o que não fazer, sem oferecer
elementos sobre os comportamentos corretos a serem adotados.
Skinner atribuiu as punições um papel impeditivo para uma aprendizagem real
na medida em que segundo ele os comportamentos punidos não desapareciam, mas sim
retornavam associados a novos comportamentos.

SEÇÃO 4: Os usos do Behaviorismo

Os conceitos cunhados pela teoria behaviorista têm sido utilizados em diferentes


áreas entre as quais a educação.
Para Skinner educar consiste em estabelecermos nos indivíduos comportamentos
que lhe serão vantajosos no futuro, é a educação que consiste na utilização de técnicas
de controle pelas diferentes agências educacionais
Para ele a primeira agência responsável pela educação das crianças é a família, a
quem caberia a utilização de reforçadores primários como água e alimento e de
reforçadores condicionados como aprovação, afeição e atenção para que a criança se
tornasse um membro útil na sua cultura.

34
Essa aplicação se faz pela utilização do ensino programado pelo controle e
organização das situações de aprendizagem e pela elaboração de uma tecnologia de
ensino.
A instrução programada baseada nas ideias skinnerianas visa a
aprendizagem dos educandos tendo por princípios básicos:

 A proposição de pequenas etapas, os conteúdos e informações que


serão acessados pelos alunos devem ser apresentados em quantidade
pequena de etapas e de fácil realização. A proposição dessas etapas parte
do pressuposto que elas facilitam a emissão das respostas a serem
reforçadas e diminuem a probabilidade de erros.
 Resposta ativa, pressupõe a participação ativa do sujeito no processo de
aprendizagem entendida como as respostas dadas pelos alunos aos
questionamentos realizados pelo professor durante a realização das
atividades.
 Verificação imediata, parte do princípio de que a aprendizagem é mais
efetiva quando o aluno consegue verificar imediatamente se a resposta a
data está correta ou não, ela é realizada através de questionamentos
realizados pelo professor logo após a finalização das atividades, visa
também a correção imediata dos erros.
 Ritmo próprio a instrução programada permite que o aluno realize as
atividades propostas no seu tempo
 Teste do programa, sendo realizado por meio da atuação do aluno nas
atividades programadas, demanda que as questões apresentadas sejam
bastante claras para os alunos.

A observação desses princípios faz com que os alunos possam aprender no seu
tempo sendo reforçados pelas aprendizagens realizadas. Cabe ao professor supervisionar
as ações e se colocar à disposição para as eventuais dúvidas que venham a surgir.
Outras áreas do conhecimento também têm recebido a contribuição das técnicas
e conceitos advindos do Behaviorismo como o caso de treinamentos realizados em
empresas, técnicas terapêuticas aplicadas em clínicas psicológicas, trabalho educativo
realizado com crianças com deficiências, estratégias utilizadas na publicidade, dentre
outras aplicações.
No Brasil as ideias behavioristas têm sido bastante utilizadas na área clínica
tanto para descrever os comportamentos em diferentes situações, bem como para
modificá-los. Nessa vertente o terapeuta modela o comportamento do paciente pela
oferta de reforçadores positivos, extingue os indesejados pelo reforçamento negativo.

SEÇÃO 5: O uso de reforçadores e a construção da autonomia dos sujeitos

Um dos principais objetivos da educação é formar sujeitos autônomos, ou seja,


sujeitos capazes de se autogovernar.
Autonomia pressupõe a adoção dos comportamentos adequados a diferentes
situações pelo reconhecimento de sua importância, o desenvolvimento infantil, a
autonomia construída progressivamente mediante intervenções de outras pessoas.
Ao nascer, a criança se encontra em um estado de total anômia, ou seja, em um
estado de ausência de regras em uma sociedade regida por regras, ela ainda não tem
conhecimento delas e nem condições de respeitá-las.

35
Num segundo momento as crianças começam a entrar em contato com as regras
pela mediação dos adultos, são eles que mostram para as crianças o que é certo e o que é
errado, o que pode e o que não pode ser feito, assim por diante.
Nesse momento as crianças são heterônimas, ou seja, as regras estão fora das
crianças e elas as obedecem porque tem alguém dizendo para que isso seja feito.
Objetivo das intervenções dos adultos é que as crianças possam compreender a
importância das regras para a vida em sociedade, internalizem-nas e passem a utilizá-las
independentemente da presença de outras pessoas, quando ela é capaz de fazer isso, ela
se encontra num estado de autonomia.
A escola deveria ser um local privilegiado para formação de sujeitos autônomos,
mas historicamente isso não tem ocorrido. Skinner afirmou que na educação o
reforçamento positivo deveria ser oferecido pelo prazer de aprender.
Para ele aprender deveria ser tão prazeroso que o educando teria vontade de
aprender sempre mais. Skinner se posicionou contra a utilização de punições nos
variados contextos alegando que elas poderiam causar traumas e situações vexatórias
para os indivíduos punidos.
Apesar disso a partir de uma leitura um tanto enviesada da obra de Skinner a
escola sobretudo no ensino tradicional lançou mãos de punições e premiações para fazer
com que os educandos adotassem as condutas valorizadas por ela.
Durante algum tempo foram aplicados castigos físicos no ambiente escolar
visando a melhoria dos resultados apresentados pelos alunos ou a supressão de
comportamentos considerados indisciplinados.
Por outro lado, alunos bem-comportados ou que apresentavam as melhores notas
da turma eram premiados com medalhas, tinha o nome registrado no painel da escola ou
ganhavam carimbos de incentivo a continuar.
O uso de punições como reforçadores negativos e de premiações como
reforçadores positivos no ambiente escolar precisa ser analisado criticamente, embora se
o uso seja bastante naturalizado os reforçadores não contribuem para a formação de
sujeitos autônomos agindo na formação de sujeitos heterônomos.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Skinner foi um dos mais conhecidos psicólogos norte-americanos. Filiado aos


aportes Behavioristas, desenvolveu uma teoria chamada, por ele mesmo, de
Behaviorismo Radical.
Ele estudou a relação entre o homem e o ambiente no qual está inserido,
evidenciando a relação entre os estímulos oferecidos pelo meio e as respostas dadas
pelos organismos.
A partir desses estudos, mostrou que o comportamento humano pode ser
condicionado mediante a proposição de reforçadores positivos e negativos. Os
reforçadores positivos se constituem como elementos para a manutenção dos
comportamentos, enquanto os reforçadores negativos, para a sua extinção.
As ideias desenvolvidas por Skinner foram aplicadas em diferentes áreas do
conhecimento, sobretudo, na educação.
A partir dos elementos do Behaviorismo, ele criou métodos de ensino (as
máquinas de ensino e a instrução programada) para otimizar as aprendizagens e
respeitar os ritmos individuais dos alunos.
Skinner se mostrou avesso a punições e premiações no contexto educacional,
mas ainda assim, historicamente, a escola lança mão desses elementos para conseguir os
comportamentos considerados adequados à vida escolar.

36
A questão que se coloca é que o uso de reforçadores no contexto escolar reforça
a heteronomia dos sujeitos, impedindo a formação de sujeitos autônomos.

ETAPA 2

AU7 - O desenvolvimento psicológico na perspectiva de Carl Rogers


SEÇÃO 1: Quem foi Carl Rogers

Carl Ransom Rogers nasceu em Ilinois, nos Estados Unidos, em janeiro de 1902,
foi importante psicólogo clínico e psicoterapeuta norte-americano que atuou também
como docente em cursos de psicologia em seu país.
Foi considerado por alguns autores da área da psicologia como o mais influente
psicólogo e psicoterapeuta da história americana.
Sua notoriedade e reputação bem como o seu reconhecimento acadêmico e
público sobretudo a partir da década de 1940, nos Estados Unidos decorreram da
abordagem produzida por ele e aplicada no campo da psicoterapia, a que chamou de
terapia centrada no cliente ou abordagem centrada na pessoa.
Sua dedicação à psicologia começou em 1928 quando começou a trabalhar com
crianças e adolescentes carentes em Rochester, onze anos depois em 1939 Rogers
publicou o seu primeiro livro intitulado Tratamento Clínico da Criança Problema no

37
qual apresentou suas reflexões e considerações sobre o trabalho desenvolvido em
Rochester.
O ano seguinte tornou-se professor na Universidade Estadual do Ohio nesse
período utilizou para o trabalho didático com seus alunos entrevistas gravadas de
sessões de psicoterapia que foram posteriormente analisadas e supervisionadas.
Entre 1944 e 1957 Rogers exerceu a docência no curso de psicologia da
Universidade de Chicago, nessa mesma instituição Rogers fundou um centro de
aconselhamento. Foi nesse período que ele publicou a obra que impulsionou a
divulgação de suas ideias para além dos Estados Unidos, olivro lançado era intitulado
Terapia Centrada no Cliente.
Sua abordagem era bastante inovadora para a época e se opunha as ideias
características das abordagens convencionais utilizadas com mais frequência, que era o
behaviorismo e a psicanálise.
Abordagem proposta por Rogers apresentava uma visão holística, ecológica,
organismo e sistêmica da pessoa, levando ao desenvolvimento de uma psicologia
humanista.
Rogers fundamentou sua nova abordagem nas filosofias existencialistas e
personalistas, bastante presente nas discussões acerca da psicologia na época. Ele
também se destacou na luta pelo fim do monopólio da atividade psicoterapeuta exercida
até então exclusivamente por médicos e médicos psiquiatras.
Entre 1957 e 1963 Rogers foi docente da Universidade de Visconde, ao mesmo
tempo em que realizou pesquisas com indivíduos psicóticos e com indivíduos sem
qualquer tipo de patologia psicológica.
Em 1964 com sessenta e dois anos Rogers decidiu afastar-se da docência
universitária e dedicar-se apenas as pesquisas e publicações faleceu em 5 de fevereiro
de 1987 em La Jolla, Califórnia, local no qual passou a morar desde que decidiu se
afastar da do senso universitária.
As ideias de Roger continuam atuais e ainda permeiam as discussões na área da
psicologia, em sites especializados, em associações e outras organizações que partilham
os seus princípios e o seu legado.

SEÇÃO 2: A teoria Humanista

A teoria humanista desenvolvida por Carl Rogers surgiu como uma terceira via
entre as duas abordagens predominantes na psicologia e meados do século XX, de um
lado estavam os representantes da psicanálise criada por Freud e do outro os
representantes do behaviorismo que teve em Skinner um dos seus maiores
representantes.
Foi a contraposição as ideias de Freud que a teoria de Roger fosse considerada
humanista por se basear em uma visão otimista do ser humano. Para ele a sanidade
mental e o desenvolvimento pleno das potencialidades pessoais são tendências naturais
da evolução humana, uma vez removidos eventuais obstáculos nesse processo as
pessoas retomam a progressão construtiva.
Para Rogers o organismo humano possui uma tendência atualização que objetiva
a autonomia, em sua teoria essa é a única força motriz dos seres vivos e no caso dos
seres humanos, ela foi responsável pela criação da sociedade e da cultura.
A sociedade e a cultura se tornaram forças independentes dos indivíduos e como
tal podem trabalhar a favor ou contra o desenvolvimento de suas potencialidades.
Rogers criou um método terapêutico não diretivo no qual o terapeuta deveria assumir
uma postura incondicional e empática nessa perspectiva o cliente ter um adotado por

38
Rogers é visto como um ser dotado de capacidade para se autocompreender, para
compreender o mundo a sua volta.
Rogers defendia a ideia de que a própria pessoa era responsável pela sua cura,
sua posição era contrária defendida por Freud para quem o ser humano é fortemente
comandado pelo seu inconsciente e por forças instintivas, Rogers por sua vez não
acreditava na força do inconsciente, mas sim na perspectiva humanista.
A concepção de terapia apresentada por Rogers não poderia deixar de causar
polêmicas, na medida em que ela firmava o contrário do que era disseminado no seio da
profissão.
Para Roger embora as experiências infantis e os processos de aprendizagem
pudessem ajudar ou prejudicar a formação e autotransformação da personalidade de
cada sujeito a personalidade humana era moldada pelo presente pela maneira como ela
era percebida pelo indivíduo, conscientemente.
Autoatualização: termo cunhado por Carl Rogers para nomear a força do
indivíduo que provoca o desenvolvimento pleno de todas as suas potencialidades.
Funcionamento pleno: termo utilizado por Rogers para designar o “estado” do indivíduo
que, tendo consciência de si e do mundo à sua volta, consegue relacionar-se com todos e
com tudo, de maneira harmônica.
Na perspectiva rogeriana a estima positiva recebida pela criança seria
responsável pelo desenvolvimento de uma espécie de autoestima denominada por
Rogers de autoatualização.
Para Rogers autoatualização é o nível mais alto da saúde psicológica e alcançada
por um processo denominado por ele de funcionamento pleno. Abordagem psicológica
proposta por Rogers despertou críticas, inspirou a realização de pesquisas colaborativas
e foi amplamente utilizada na psicologia clínica.
Seu legado é visto como um dos principais responsáveis pela busca de uma
maior humanização da área da psicologia.

SEÇÃO 3: A relação entre o ensino e a aprendizagem

As ideias de Carl Rogers para a educação se constituem com uma extensão da


teoria desenvolvida como psicólogo, tanto na psicologia quanto na educação, as ideias
de Roger foram originais e se opuseram as concepções e práticas vigentes nos
consultórios e nas escolas em sua época.
As práticas terapêuticas propostas por Rogers eram definidas como não
diretivas, centradas nos clientes que segundo ele eram os responsáveis pela condução e
pelo sucesso do tratamento. Sua proposta para educação aproxima o papel do professor
do papel do terapeuta e o papel do aluno do papel do cliente.
Sendo assim, cabe ao professor facilitar o processo de aprendizado que será
conduzido pelo aluno a seu modo, Rogers elencou alguns princípios sobre
aprendizagem que ajudam na compreensão de sua proposta educativa, a saber:
 Todos os indivíduos têm um desejo e uma potencialidade natural para a
aprendizagem.
 Aprendizagem significativa ocorre quando o que é ensinado é percebido
como relevante significativo para ele e quando a ação do sujeito sobre o
objeto de conhecimento.
 Aprendizagem provoca mudanças na percepção de si mesmo, como tal,
mostra-se ameaçadora e pode provocar resistências.
 As aprendizagens consideradas ameaçadoras são mais facilmente
assimiladas quando as ameaças externas são reduzidas.

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 A diminuição dos fatores de ameaça do eu agem como facilitadores da
aprendizagem;
 A aprendizagem significativa demanda a ação do sujeito sobre o objeto
de conhecimento;
 A participação do sujeito no processo de aprendizagem se constitui como
um facilitador da aprendizagem
 As aprendizagens que envolvem sentimentos e razão tendem a ser mais
duradouras e abrangentes.
 Autocrítica e autoavaliação realizadas pelo indivíduo agem como
facilitadoras da independência, da criatividade e da autoconfiança.
 Aprendizagem que deve ser mais valorizada é a do próprio processo de
aprender, uma vez que ela permitirá o sujeito continuar seu processo de
mudanças continuamente.
Rogers apontou aspectos importantes que devem ser levados em consideração na
proposição de situações de aprendizagem, mas não manifestou uma grande preocupação
em definir práticas para a área da educação.
Sua maior atenção recaiu sobre a relação professora aluna, para Rogers essa
relação deveria ser impregnada de confiança e destituída de noções de hierarquia. Para
Rogers a escola deveria oportunizar aos alunos apropriação dos conteúdos escolares de
maneira pessoal e significativa por meio de uma visão crítica daquilo que estava sendo
ensinado.
Aprendizagem significativa para Rogers é aquela que provoca modificações quer
seja no comportamento do indivíduo, na escolha da ação futura, nas suas atitudes ou na
sua personalidade. É uma aprendizagem que não se limita a uma acumulação de fatos
ou ao aumento de conhecimentos, mas que penetre o indivíduo.
Embora anticonvencional a pedagogia rogeriana não significa abandonar os
alunos a si mesmos, na perspectiva do autor cabe ao professor dar apoio para que os
alunos caminhem sozinhos.

SEÇÃO 4: O relacionamento interpessoal como promotor da aprendizagem

O relacionamento interpessoal tem sido apontado em diferentes teorias da


psicologia como um facilitador dos processos de aprendizagem.
Entende-se por relacionamento interpessoal no contexto escolar que é
estabelecido entre o professor e o aluno entre o aluno e seus pares. Na Teoria humanista
de Rogers esse tipo de relacionamento também é mencionado como sendo fundamental
ao desenvolvimento humano importante para a promoção das aprendizagens.
Rogers cunhou o termo tendência atualizante para descrever a força motriz dos
seres humanos em direção ao desenvolvimento de suas potencialidades e tornou essa
ideia o alicerce básico da tendência psicológica centrada na pessoa.
Para Rogers essa tendência se constitui como um processo natural de
manutenção ou de crescimento do organismo, segundo ele a tendência atualizante pode
ser impedida, mas não pode ser destruída, nem destruir o organismo.
Mesmo que o indivíduo viva em condições adversas e desfavoráveis, ele tende a
continuar empenhado na busca pelo seu desenvolvimento utilizando os recursos que
julga ter disponíveis.
Rogers viu o homem de uma maneira holística (completo, inteiro ), na qual sua
tendência atualizante ultrapassa as necessidades imediatas de sobrevivência inclui
manifestações de expansão e crescimento do organismo na sua totalidade incluindo o
físico e o psicológico.
40
A ênfase na visão global do homem presente na teoria de Rogers coloca os
sentimentos e a experiências num lugar de destaque no percurso de desenvolvimento do
ser humano.
Essa visão foi apontada como uma das principais contribuições de Rogers para
educação apesar de ter suscitado dúvidas quanto as possibilidades de integração da
emoção, a dimensão racional.
Na discussão das contribuições da teoria humanista para a questão da emoção e
da ação pedagógica na infância Rogers afirma que o contato direto da pessoa com seu
ser emocional tem um papel de grande relevância uma vez que os aspectos emocionais
do indivíduo influenciam seus percursos de aprendizagens, é importante também
ressaltar que em uma perspectiva holística da educação pensada a partir das ideias
rogerianas não há sentido em promover na escola uma separação entre a razão e a
emoção.
O desafio que se coloca para o professor nessa perspectiva é de provocar nos
alunos uma imersão positiva nas situações de sala de aula na qual ideias e emoções
sejam articuladas em prol de uma aprendizagem significativa.
A partir da ideia de tendência atualizante e consequentemente da crença em que
as pessoas têm capacidade para fazer escolhas que as levem ao desenvolvimento pleno
de suas capacidades, Rogers atribui em sua teoria o papel central para os
relacionamentos interpessoais.
Para ele os relacionamentos interpessoais são fundamentais para o
desenvolvimento humano e quando não há condições favoráveis para desenvolvimento
de relações humanas positivas possivelmente haverá uma ruptura na tendência
atualizante.

SEÇÃO 5: Elementos facilitadores da aprendizagem

A relação entre o professor e o aluno na teoria de Rogers tem o lugar de


destaque, estabelecimento dessa relação pode se constituir como elemento facilitador
das aprendizagens, contudo para que a relação professor aluno se constitua como um
promotor de novas aprendizagens de acordo com Rogers professor deve ser capaz de ter
atitudes essenciais se jamais adotar posturas arrogantes.

Professor deve entender o seu papel de mediador das aprendizagens e não


pode se ver como centro do processo ou como detentor absoluto do saber, Rogers
apontou as atitudes que o professor deve adotar para que a aprendizagem dos
alunos seja facilitada, são elas: congruência, aceitação e empatia.

 Ser um professor congruente significa ser um professor que está em


concordância com a percepção que o indivíduo tem de si e da sua própria
experiência, garantindo que esses dois elementos estejam em
correspondência. Professor congruente na perspectiva rogeriana não se
reveste de uma fachada tendo sentimentos ao seu alcance e disponíveis a
sua percepção, ele é capaz de vivenciar os sentimentos e comunicá-los.
Com isso, seu encontro com o aluno é direto, pessoal, de pessoa para
pessoa. Para Rogers, a congruência é a atitude mais importante no
contexto escolar, uma vez que caso o professor não se sinta empático e
não aceite determinados comportamentos dos alunos, em determinados
momentos será mais importante ser real do que simular uma fachada de
interesse.

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 Aceitação na perspectiva rogeriana diz respeito à confiança básica no
organismo humano e a crença de que o outro é digno de confiança.
Aceitação ou consideração positiva referem-se a aceitação do outro
indivíduo como uma pessoa separada que tem valor próprio, o professor
que tem aceitação respeita seus alunos e os envolvem um clima de
confiança. A adoção dessa atitude em sala de aula contribui para a
substituição do clima autoritário para um clima de confiança e de
segurança que é muito menos ameaçador para os alunos.
 A compreensão empática é outro elemento apontado por Rogers para o
estabelecimento de um clima para aprendizagem significativa, a empatia
faz com que os alunos se sintam valorizados por se sentirem
compreendidos. Para que o professor seja empático ele precisa se colocar
na situação do aluno e ver pelos olhos dele os elementos contextuais do
seu entorno e as possíveis implicações de suas múltiplas experiências em
situação de sala de aula. A empatia requer por parte do professor o
desenvolvimento da habilidade de escuta atenta do outro no caso do
aluno. Roger se chama-se Escuta Tenta de Escuta Ativa pela qual é
possível verificar se aquilo que está sendo dito corresponde efetivamente
ao que está sendo compreendido.

A congruência, aceitação e a empatia enquanto características do professor,


instrumentaliza-o para assumir o seu papel como facilitador das aprendizagens e como
apoiador do percurso de construção de conhecimentos pelos alunos.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Carl Rogers foi um teórico da área da Psicologia que se tornou bastante


conhecido e importante ao desenvolver a teoria Humanista.
Sua construção teórica na área da Psicologia foi bastante polêmica por contrariar
as principais ideias vigentes na área, na época. Rogers, contrariando as ideais da
Psicanálise e do Behaviorismo, colocou o cliente (termo utilizado por ele, ao invés de
paciente), como o responsável pelo sucesso do processo terapêutico e o terapeuta, como
um facilitador desse processo.
A responsabilidade atribuída ao cliente era decorrente de sua crença na tendência
humana de sempre se mover em direção ao desenvolvimento pleno de suas capacidades.
Na área educacional, Rogers defendeu a necessidade de que a ação educativa
também fosse centrada no educando e que o professor assumisse o papel de facilitador e
apoiador das aprendizagens realizadas.
Para que cumprisse o seu papel, na perspectiva rogeriana, o professor deveria
assumir três atitudes: a congruência, a aceitação e a empatia. Feito isso, suas ações se
constituiriam como facilitadoras do processo de aprendizagem e promoveriam uma
aprendizagem significativa

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AU8 - O Desenvolvimento Psicológico na Primeira Infância
SEÇÃO 1: O conceito de primeira infância

Desde o momento em que é concebido no útero materno até a morte o indivíduo


da espécie humana encontra-se constantemente submetido a um processo de mudanças,
que caracteriza o percurso de desenvolvimento humano.
Durante muito tempo na história da psicologia do desenvolvimento o percurso
do desenvolvimento humano foi caracterizado como sendo universal e atemporal,
podendo ser descrito por uma sequência de etapas que tinham como critério de
separação fator etário.
Adoção desse fator destacava a importância do fator biológico do
desenvolvimento e as teorias que se baseavam nele passaram a ser criticadas na década
de 1970. As críticas foram pautadas na observação de que diferentes contextos
promovem diferentes percursos de desenvolvimento, indivíduos de uma mesma idade
submetidos a diferentes contextos históricos, culturais e sociais não se desenvolverão da
mesma maneira.
Essas críticas constataram que o desenvolvimento humano resulta da interação
entre as características biológicas de cada indivíduo e os fatores contextuais do
ambiente no qual o indivíduo está inserido, ou seja, devem ser considerados os
contextos social, histórico e cultural.

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A partir dessa constatação a psicologia do desenvolvimento passou a adotar uma
perspectiva dos ciclos de vida, entendidos como parâmetros de desenvolvimento que
levam em consideração a interação do indivíduo com o meio no qual está inserido.
A separação do desenvolvimento em etapas organizadas pelos critérios etários só
se justifica quando há um interesse de estudo num determinado período da vida humana,
para destacar as características mais comumente encontradas nele.
A denominação primeira infância é bastante variada nas diferentes teorias
psicológicas podendo ser utilizada em referência aos dois primeiros anos de vida ao
período entre os dezoito e os trinta e seis meses de vida ou aos três primeiros anos de
vida.
Em outras áreas do conhecimento, como é o caso do direito, esse termo é
utilizado para designar um período maior que vai desde o nascimento até os seis anos de
idade, utilizaremos o termo primeira infância para nos referir ao período que vai do
nascimento até aproximadamente os dois anos de idade.
Segundo Dias e colaboradores o desenvolvimento humano é um processo
holístico e contextualizado, que ocorre ao longo de toda a vida dos indivíduos
acarretando mudanças progressivas, contínuas e cumulativas que provocam no
indivíduo reorganizações constantes ao nível das suas estruturas físicas, psicológicas e
sociais que evoluem num contínuo faseado integrativo.
Sendo um processo holístico e contextualizado que ocorre ao longo de toda a
vida o desenvolvimento humano acarreta mudanças progressivas, contínuas e
cumulativas no indivíduo.
Período da infância, das primeiras experiências da vida do indivíduo enquanto
criança tem um papel fundamental na determinação daquilo que o ser humano será
como adulto uma vez que é nesse período que o sujeito aprende sobre si, sobre os outros
e sobre o mundo que o cerca.

SEÇÃO 2: Desenvolvimento físico e psicomotor até os dois anos de idade

Analisaremos diferentes dimensões da condição humana separadamente, apenas


para fins didáticos e metodológicos.
No entanto não podemos perder de vista que essas dimensões estão articuladas
entre si e que as transformações ocorridas em uma provocam mudanças também nas
demais.
O crescimento do bebê é extremamente acentuado nos dois primeiros anos de
vida, em comparação com outros períodos da vida de um ser humano, nesse período há
grandes conquistas tanto do ponto de vista físico como psicomotor.
O crescimento físico que ocorre nesse em outros períodos do desenvolvimento é
um processo bastante organizado o qual as coisas ocorrem, uma sequência determinada
de acordo com o calendário maturativo. Ele é determinado predominantemente pelos
fatores biológicos, mas também é influenciado por fatores do meio no qual a criança
está inserida.
Processo de desenvolvimento é gradual e contínuo, sendo que quando a criança
nasce ela tem pouco controle sobre o seu corpo e seus movimentos são bastante
desordenados. Nos dois primeiros anos de vida grandes conquistas são realizadas do
ponto de vista motor e ao final da primeira infância é possível observar um quadro
totalmente diferente no desenvolvimento da criança.
O objetivo do desenvolvimento psicomotor é o controle do próprio corpo, esse
controle permite os indivíduos extrair dele todas as possibilidades de ações e expressões
sejam possíveis a cada um.

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Esse desenvolvimento requer articulação entre fatores internos ou simbólicos do
organismo e fatores externos que são construídos tanto por meio da maturação do
organismo como de suas interações com o mundo a sua volta.
O desenvolvimento psicomotor está sujeito em primeiro lugar a uma série de leis
biológicas fortemente relacionadas ao calendário maturativo do sujeito, contudo, isso
não significa que o desenvolvimento psicomotor seja apenas uma realidade biológica.
Assim como ocorre com o desenvolvimento físico em geral, o desenvolvimento
dos aspectos psicomotores também está sujeito as interações e consequentemente a
estimulação.
Dessa forma há neles certos componentes maturativos relacionados ao
calendário maturacional do cérebro e certos componentes relacionais referentes ao meio
no qual a criança está inserida.
Os componentes relacionais decorrem do fato de que é por meio dos seus
movimentos e das suas ações que a criança entre em contato com as pessoas e com os
objetos os quais se relaciona de forma construtiva.
Cientes da importância da psicomotricidade nos dois primeiros anos de vida, os
educadores devem criar situações nas quais as crianças possam experimentar diferentes
objetos, materiais e espaços, explorando as múltiplas possibilidades do seu corpo e dos
seus movimentos.
Ao disponibilizar os materiais, organizar os espaços, realizar boas intervenções
no sentido de possibilitar as crianças múltiplas experiências, o educador está
contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento psicomotor na primeira infância.

SEÇÃO 3: Desenvolvimento cognitivo até os dois anos de idade

As investigações mais recentes realizadas sobre as capacidades cognitivas de


bebês trouxeram duas perspectivas de grande interesse para a psicologia do
desenvolvimento, provocando a revisão de algumas ideias vigentes na área.
A primeira perspectiva diz respeito à ideia de que a vida dos bebês se restringia a
longos períodos de sono intercalados com curtos períodos de vigília, hoje é sabido que
embora as crianças pequenas passem muitas horas dormindo elas têm um mundo
perceptivo cognitivo bastante rico, complexo e ordenado.
A segunda perspectiva refere-se a natureza das habilidades e competências
perceptivas cognitivas das crianças pequenas, vistas no passado como frutos da
causalidade atualmente é notório que elas estão a serviço da relação da criança com o
mundo quer seja o mundo dos objetos como das pessoas.
Nos dois primeiros anos de vida da criança grandes conquistas cognitivas são
alcançadas, elas decorrem do interesse que a criança manifesta pelo mundo ao seu redor
e da necessidade de comunicação. Por volta dos quatro meses de idade a criança já é
capaz de se concentrar no que vê, toque ouve sem perder o controle.
Fazendo uso do seu aparato sensorial a visão, a audição, o paladar, o tato e o
olfato, a criança rapidamente aprende a usar e a compreender os sinais são expressos
pelas pessoas ao seu redor por meio do comportamento, da expressão corporal e da
postura corporal.
Ao interagir com os objetos e com as pessoas ao seu redor a criança vai
construindo um amplo repertório de conhecimentos que se constituirão como a base
para o aparecimento da linguagem, por volta dos dois anos de idade.
A criança que começa a falar só o faz porque tem sobre o que falar. Na
epistemologia genética, a teoria é desenvolvida por Jean Piaget para descrever o
percurso de desenvolvimento da inteligência humana a etapa da vida que vai do

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nascimento até os dois anos de idade é chamada de período sensório-motor, na
perspectiva piagetiana nesse estágio a criança constrói conhecimento sobre o universo
que acerca por meio da percepção e dos movimentos.
Para Piaget este é um período de grandes conquistas e de grande
desenvolvimento cognitivo, uma das principais funções da inteligência nesse período é
justamente a diferenciação entre os objetos externos e o próprio corpo.
Esse período caracteriza-se também pela ausência da função semiótica simbólica
já que a inteligência é prática a criança conquista por meio da percepção e dos
movimentos o universo a sua volta.
Criança ao nascer é dotada de reflexos hereditários e natos que pelo exercício
realizado na interação com o meio vão se transformando em esquemas motores que
apresentam uma eficiência cada vez maior.
Quanto maiores forem as possibilidades de exercitação mais amplas serão as
possibilidades de desenvolvimento, os conhecimentos construídos se constituem como a
base para o aparecimento da linguagem e para consequente adoção de uma nova ação
sobre o mundo.

SEÇÃO 4: O desenvolvimento da linguagem

O aparecimento da linguagem é visto como marco característico do fim da


primeira infância ocorrendo por volta dos dois anos de idade.
Vygotsky um dos teóricos interacionistas que mais se dedicaram ao estudo da
linguagem e a relação entre ela e o pensamento. Para ele os processos mentais
superiores são aqueles que nos destinem dos demais animais e que caracterizam o
pensamento tipicamente humano, sendo mediados por sistemas simbólicos.
A linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos ao qual o
Vygotsky atribui duas funções a de intercâmbio social e de pensamento generalizante.
A função de intercâmbio social decorre do fato de que os sistemas de linguagem
foram criados pelo homem para se comunicar com os seus semelhantes, é a necessidade
que o bebê sente de se comunicar com as pessoas a sua volta que impulsiona o
desenvolvimento da linguagem.
Para que a comunicação entre os indivíduos seja efetiva não basta apenas que os
estados mais gerais como os de prazer e desprazer sejam manifestados pelo bebê para
que isso ocorra é necessário que sejam utilizados signos compreensíveis pelas outras
pessoas, que traduzam ideias, sentimentos, vontades e pensamentos de maneira bastante
precisa.
É a partir dessa ideia que Vygotsky que apresenta a segunda função da
linguagem que é de pensamento generalizante, a linguagem como elemento ordenador
do real capaz de agrupar todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos
e situações sob uma mesma classe conceitual.
Vygotsky afirma que o pensamento e a linguagem têm origem diferentes e que
se desenvolvem de acordo com trajetórias diferentes e independentes até que se atrelem
e não se separem mais.
Na criança pequena antes da linguagem o pensamento se associarem existe uma
fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento, numa fase pré-intelectual, o
desenvolvimento da linguagem.
Antes de dominar a linguagem, a criança já demonstra a capacidade de resolver
problemas práticos, bem como de utilizar instrumentos e meios indiretos para conseguir
alcançar algum objetivo.

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Na perspectiva de Vygotsky que a criança pré-verbal demonstra um tipo de
inteligência prática que lhe permite agir sobre o ambiente sem a mediação da
linguagem.
Nesta fase mesmo sem dominar a linguagem enquanto o sistema simbólico a
criança já utiliza manifestações verbais. Por meio do choro, do riso e do balbucio, as
crianças pequenas encontram alívio emocional e estabelecem contatos sociais de
comunicação difusa com as pessoas.
Em um determinado momento do desenvolvimento infantil por volta dos dois
anos de idade os percursos do desenvolvimento da linguagem se encontram dando início
a uma nova forma de funcionamento psicológico.
A fala torna-se intelectual com função simbólica, generalizante e o pensamento
se torna verbal, mediado por significados dados pela linguagem, a partir de então, o
indivíduo da espécie humana passa a ter a possibilidade de um modo de funcionamento
psicológico mais sofisticado mediado pelo sistema simbólico da linguagem.

SEÇÃO 5: O desenvolvimento socioafetivo nos dois primeiros anos de vida

O desenvolvimento da criança ocorre em vários contextos com características


específicas que se referem às regras, as atitudes, aos valores e aos modos de estar e ser
concretos.
Desde o primeiro dia de sua chegada ao mundo, o bebê começa a ter consciência
de que existe um mundo externo a si. É esse mundo que possibilita aprendizagem sobre
si mesmo, sobre como estar nele e como se comunicar com os outros, assim a primeira
infância é um período de grandes e significativas conquistas no desenvolvimento social
infantil.
A criança ao nascer é bastante indefesa e sua sobrevivência depende do grupo
social no qual está inserida, embora em defesa ela apresenta uma grande capacidade de
aprendizagem, seu o sistema perceptivo se encontra relativamente organizado e ela se
sente atraída pelos estímulos advindos do meio no qual pertence.
Esses três fatos isso é ser indefesa, ter uma grande capacidade de aprendizagem
e se sentir atraída pelos estímulos sociais fazem com que a criança esteja em condições
ideais para iniciar seu processo de socialização ou assimilação dos valores, das normas e
das formas de agir que seu grupo social lhe transmitirá.
Essa criança apresenta uma série de necessidades básicas que ainda não
consegue satisfazer ou resolver sem a ajuda do seu grupo social, essas necessidades
fazem com que a criança fique motivada, tanto biológica como socialmente para a sua
inserção em um grupo social.
Diferentes agentes sociais interagem com a criança durante o seu processo de
socialização, dentre eles podemos citar algumas pessoas como pais, mães, irmãos,
outros familiares, colegas e amigos, os professores e outros adultos, algumas
instituições como a família escola, alguns meios de comunicação em especial a
televisão e alguns objetos, por exemplo, os brinquedos, os livros, entre outros.
A forma de ação desses agentes sociais varia de acordo com os fatores
contextuais de inserção do indivíduo, definindo diferentes percursos de socialização.

São fatores contextuais determinantes de diferentes percursos de


socialização:

 A classe social ao qual o indivíduo pertence;

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 Fatores geográficos de nascimento de vivência, como o país, a cidade, a
zona geográfica
 E de determinados fatores pessoais por exemplo o gênero, as aptidões
físicas e psicológicas, entre outros.
Dessa forma, o processo de socialização da criança é fruto da interação dela com
seu meio, cujos resultados dependem das características da própria criança, da forma de
agir dos agentes sociais e das características do contexto no qual essa interação ocorre.
Nos dois primeiros anos de vida o processo de socialização é bastante intenso e a
criança passa por uma intensa construção de conhecimento sobre o funcionamento da
sociedade na qual está inserida.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Durante muito tempo, a primeira infância – entendida aqui como os dois


primeiros anos de vida da criança – foi muito mal compreendida, ao ser tratada como
uma fase na qual a vida do bebê se resumia a longos períodos de sono, sem
acontecimentos importantes.
Estudos da Psicologia do Desenvolvimento demonstraram que esse é um período
de grande importância na vida humana, caracterizado por notáveis conquistas do ponto
de vista físico, psicomotor, cognitivo, socioafetivo e de desenvolvimento da linguagem.
Nesse período há um intenso crescimento da criança, impulsionado pelos fatores
biológicos do desenvolvimento. Há também um grande desenvolvimento psicomotor: a
criança, que ao nascer é bastante inapta nesse quesito, chega ao final do seu segundo
ano de vida com um considerável domínio do seu corpo e dos seus movimentos.
Ao nascer, o ser humano apresenta formas difusas de linguagem que permitem a
mobilização das pessoas que estão à sua volta para o atendimento de suas necessidades
e para a garantia de sua sobrevivência.
Quando o adulto se dedica à criança, não apenas garante suas necessidades
básicas, como promove o seu processo de socialização e a repertoria para que possa se
apropriar da linguagem como sistema simbólico.

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AU9 - O desenvolvimento na perspectiva de Jean Piaget
SEÇÃO 1: Quem foi Jean Piaget

Jean Piaget foi um menino prodígio, sempre foi muito estudioso. Com onze anos
de idade publicou o seu primeiro artigo sobre um pardal albino que ele havia observado
em um parque público.
Piaget nasceu 09 de agosto de 1896 na Suíça, aos dezenove anos ele licenciou-se
em ciências naturais e logo em seguida em filosofia, nessa época também apresentava
grande interesse por temas ligados a sociologia, as religiões e a psicologia.
Três anos depois concluiu sua tese de doutoramento na área de biologia, no ano
seguinte mudou-se para França e dedicou-se a estudar psicopatologia lógica e
epistemologia e filosofia da ciência. Foi nesse momento que o Piaget entrou em contato
com o método de pesquisa e entrevista clínica técnica que passou a utilizar no
desenvolvimento de suas pesquisas posteriores. Nessa época fui convidado a trabalhar
com Alfred Binet, importante psicólogo francês e um dos responsáveis pela criação dos
conhecidos testes de QI, (quociente da inteligência).
Iniciou então seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo e percebeu uma
evolução gradativa nesse desenvolvimento de acordo com a idade da criança, foi a partir
dessa constatação que viajou começou a se interessar pelo desenvolvimento infantil e a
observar as respostas dadas por grupos de crianças de uma mesma idade nos testes
propostos por ele, utilizando a técnica da entrevista clínica.
Os estudos de Piaget sobre a inteligência infantil revolucionaram os
conhecimentos sobre cognição realizados até então, ao mostrar que as crianças não
pensavam como os adultos e que construíam o próprio aprendizado.
Aos vinte e cinco anos Jean Piaget retornou a Suíça para dirigir o Instituto Jean-
Jacques Rousseau, iniciou as pesquisas que deram origem a sua teoria intitulada
epistemologia genética.
As influências de sua formação inicial na área das ciências naturais e da biologia
podem ser percebidas em sua obra mais importante. Sobretudo no que diz respeito a
organização do desenvolvimento em etapas pensadas a partir das etapas da vida
humana.
Uma das importantes contribuições das descobertas piagetianas para a área da
educação diz respeito a apontamento das limitações das práticas pautadas pela
transmissão de conhecimentos.
De acordo com a perspectiva piagetiana se por um lado essas práticas não podem
fazer com que as crianças aprendam aquilo que elas ainda não têm condições de
absorver por outro mesmo tendo essas condições se elas não se sentirem motivadas a
mobilizar suas capacidades cognitivas para dar conta da nova aprendizagem não
ocorrerá.
As ideias piagetianas ao demonstrarem a inadequação das metodologias
tradicionais de ensino que priorizavam a recepção passiva de conhecimentos embasaram
a revisão das práticas de ensino e levaram a concepção da abordagem construtivista de
ensino, também chamada de construtivismo.
Abordagem construtivista de ensino coloca o aluno em um papel ativo no
processo de construção de novos conhecimentos e pressupõe atividades educativas nas

49
quais o professor assume o papel de mediador entre os educandos e os objetos de
conhecimento.
Jean Piaget faleceu em 17 de setembro de 1980 em Genebra aos oitenta e quatro
anos, mas suas ideias ainda são bastante discutidas nos cenários educacionais
brasileiros.

SEÇÃO 2: A Epistemologia Genética de Jean Piaget

Um bebê ao nascer possui poucas habilidades e nenhum conhecimento sobre o


mundo que o cerca. Nasce dotado de reflexos inatos que garantir sua sobrevivência e
que exercitados na interação com o ambiente se tornam esquemas cada vez mais
eficazes na ação sobre o mundo na construção de conhecimentos.
Ao final do segundo ano de vida esse bebê já possui um amplo repertório de
conhecimento sobre o mundo que o permite até começar a falar sobre as coisas que
estão a sua volta. Mas como? Em tão pouco tempo o bebê aprende tantas coisas. Qual a
origem do conhecimento e como ele é construído por nós?
A resposta para esses questionamentos pode ser encontrada em várias teorias
psicológicas. Dentre as quais a epistemologia genética.
Epistemologia genética, teoria criada por Jean Piaget, recebe esse nome porque
tem como fontes conhecimentos científicos, a epistemologia e a gênese desse
conhecimento, a genética.
O foco da epistemologia genética é o sujeito epistêmico, ou seja, sujeito da
aprendizagem e os processos utilizados por ele para a construção de conhecimentos.
Para isso que a Piaget estudou como os indivíduos passam de um estado de
conhecimento para outro que é chamado de transcurso de desenvolvimento.
Dessa forma definiu a epistemologia genética como sendo a disciplina que
estuda os mecanismos e os processos pelos quais o indivíduo passa em seu aprendizado.
Partindo dos estágios de menor conhecimento para os estágios de conhecimentos mais
elevados em direção aos conhecimentos científicos.
A teoria piagetiana foi elaborada com base na observação das relações contínuas
estabelecidas entre o sujeito e os meios físico e social, as quais um constitui o outro e
ambos se transformam mutuamente. Sendo assim, as ideias piagetianas iam de encontro
com as teorias que defendiam que o conhecimento era inato aos seres humanos e
aquelas que achavam que aprendizagem era uma cópia fiel da realidade externa,
transmitida por alguém mais experiente da espécie.
Para ele a aprendizagem só poderia ocorrer por intermédio de interações com o
ambiente a partir das quais ocorrem trocas recíprocas entre o sujeito e o meio, nessa
perspectiva o meio assume um papel de grande relevância no percurso de
desenvolvimento dos sujeitos. Os estudos realizados para elaboração da epistemologia
genética, Piaget realizou investigações sobre a construção do conhecimento humano
desde o nascimento até a idade adulta, dando uma ênfase maior aos processos mentais
ocorridos na infância.
Em suas pesquisas, observou que as crianças que se encontravam em uma idade
próxima tinham os mesmos erros nos testes aplicados por ele, por ocasião das pesquisas
realizadas. Na aplicação de testes começou a se interessar pelas respostas erradas dadas
pelas crianças. E a perceber que elas só eram consideradas como tal porque eram
analisadas do ponto de vista dos adultos.
Como fruto de suas investigações, Piaget desenvolveu sua teoria epistemológica
na qual descreve diferentes níveis de desenvolvimento pelos quais o indivíduo passa ao
longo de sua vida, denominados estágios ou etapas de desenvolvimento.

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Piaget descreveu quatro grandes estágios de desenvolvimento sequenciados e
que tem critérios etários de separação:
 Período sensório-motor de zero a dois anos,
 Período pré-operatório de dois aos sete anos,
 Período operatório concreto dos sete aos doze anos,
 Período operatório formal, os doze anos em diante

SEÇÃO 3: As etapas do desenvolvimento na perspectiva piagetiana

Nos primeiros dois anos de vida a criança age sobre o mundo e o explora
utilizando suas sensações e seus movimentos. Essa construção é muito atrelada ao aqui
e agora, uma vez que ela não possui ainda recursos para representar os objetos do
mundo.
Por volta dos dois anos a criança começa a falar e junto com ela aparecem
funções simbólicas importante desenho, jogo simbólico, entre outras. Que lhe permitem
agir sobre o mundo de uma outra maneira.
Na perspectiva piagetiana, desenvolvimento cognitivo de sujeitos se constitui
como uma sucessão de estágios e sub estágios nos quais os esquemas mentais se
organizam e se combinam entre si, formando estruturas. Piaget apresentou seus aportes
teóricos quatro estágios de desenvolvimento sequenciados e separados entre si por
fatores etários, que representam os marcos de transformações qualitativas nas estruturas
cognitivas dos sujeitos.
Primeiro estágio descrito por Piaget é o sensório motor que tem início no
nascimento do bebê e se estende até os dois anos de idade. Uma das principais
características desse período é que a criança conhece o mundo por meio da
manipulação, da percepção e dos movimentos.
Período sensual e motor é seguido pelo período pré-operatório que vai dos dois
aos sete anos aproximadamente, esse período é marcado pelo aparecimento da
linguagem que provoca grandes transformações nas áreas social, afetiva e intelectual. A
linguagem permite que a criança se despregue progressivamente na realidade imediata
que possa representá-la. O egocentrismo se faz presente nessa etapa do desenvolvimento
e o pensamento mistura realidade e fantasia.
Aos sete anos tem início o período operatório concreto que se estende até os
onze, doze anos aproximadamente. E que durante muito tempo coincidiu com o início
da escolarização formal, essa é uma etapa decisiva de avanços mentais para criança,
uma vez que tem início uma fase ininterrupta de novas construções. Esse período é
marcado por início da construção lógica, entendida como a capacidade do sujeito para
realizar uma ação física ou mental dirigida para um objetivo e de revertê-la para o seu
início. Embora a criança crie condições para abstração nesse período a manipulação de
situações concretas ainda se faz necessária.
O último período descrito por Piaget tem início aos doze anos e é chamado de
operatório formal, nesse período o indivíduo apresenta o pensamento formal e não há
mais a necessidade da manipulação física dos objetos. Marca a entrada dos indivíduos
na adolescência e representa um grande salto qualitativo no desenvolvimento cognitivo
do sujeito. É nesse momento que surge o pensamento abstrato ou pensamento hipotético
dedutivo, esse pensamento se manifesta quando o indivíduo é capaz de raciocinar
logicamente mesmo que o conteúdo do seu raciocínio seja falso. Dessa forma, depois
dos onze ou doze anos na adolescência e até a vida adulta, o pensamento abstrato se
torna possível e vai se desenvolvendo.

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É importante ressaltar que embora a descrição das etapas piagetianas não aborde
especificamente as idades posteriores adolescentes o desenvolvimento continua
ocorrendo permitindo que os indivíduos adquiram novos conhecimentos até o final de
suas vidas.

SEÇÃO 4: O conceito de conflito cognitivo e as práticas educativas

Uma das principais contribuições dos estudos realizados por Jean Piaget para a
área educacional diz respeito a constatação de que o sujeito participa ativamente no seu
processo de construção de conhecimentos acerca da realidade externa. Que a interação
entre os sujeitos é fundamental para o desenvolvimento afetivo e intelectual.
A transposição dessas ideias para as práticas educativas coloca o educando suas
ações, seus modos de agir e pensar num lugar central no processo de aprendizagem. A
valorização das interações coloca o professor e os pares como figuras fundamentais para
promoção de avanços no percurso de construção de novos conhecimentos.
A partir dos anos 1980 a concepção construtivista do desenvolvimento de Jean
Piaget invadiu as escolas do mundo, em especial as do Brasil, dando origem ao que foi
chamado nas escolas brasileiras de construtivismo piagetiano. De acordo com Nogueira
Leal a epistemologia genética piagetiana auxilia o professor no planejamento de
atividades que sejam adequadas em termos cognitivos para as diferentes etapas do
desenvolvimento, uma vez que a oferece um referencial do que pode ser esperado em
cada uma delas.
Além disso, a descrição piagetiana de como ocorre a aprendizagem humana
permite ao professor identificar os elementos que devem ser contemplados nas situações
educativas para que a aprendizagem efetivamente ocorra.
Para Piaget quando o indivíduo domina tudo que está posto a sua volta, ou seja,
quando não há nada desconhecido ele se encontra no estado de equilíbrio ou
equilibração cognitiva. Ao se deparar com um novo elemento, um objeto, uma palavra,
uma situação, esse equilíbrio cognitivo é rompido e é gerado um conflito cognitivo, o
conflito cognitivo gera um desequilíbrio cognitivo.
Assim, toda vez que o indivíduo se encontra em desequilíbrio cognitivo, ele
mobiliza suas capacidades para superar o conflito cognitivo, o primeiro movimento na
busca pela superação é a tentativa de assimilação entendida como a tentativa de
superação do desconhecido a partir de sua aproximação com os conhecimentos que já
haviam sido construídos anteriormente.
Quando isso acontece a criança passou por um processo de acomodação
entendido como uma modificação de suas estruturas cognitivas para incorporação de um
novo elemento e retorna ao estado de equilibração cognitiva.
Para Piaget se não houver conflito cognitivo não há mobilização das capacidades
do sujeito e aprendizagem não ocorre. Essa afirmação piagetiana é fundamental para
que o professor possa propor, boas situações de aprendizagem nas quais o conflito
cognitivo mobilize os alunos de maneira que participem ativamente do processo de
construção de novos conhecimentos.
A necessidade de gerar conflito cognitivo leva o questionamento e ao
consequente abandono das práticas escolares tradicionais nas quais a ação do aluno
estava restrita a cópia a mecanização de procedimentos e a memorização dos conteúdos.

SEÇÃO 5: O jogo e o simbolismo infantil

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O estágio pré-operatório descrito por Piaget tem seu início marcado pelo
aparecimento da linguagem que permite a criança uma nova forma de ação sobre o
mundo.
Uma outra conquista de grande importância nesse período é o que Piaget
chamou de função simbólica e que envolve três outros aspectos além da linguagem, o
desenho, o jogo simbólico e a imitação.
O aparecimento da linguagem permite que a criança não precise mais do objeto
concreto nem do momento presente para realizar a sua representação. Assim a criança
pode pegar um pedacinho de madeira e utilizá-lo como se fosse um carrinho, pode
brincar de casinha ou de médico imitando situações do seu dia a dia ou ainda imitar uma
pessoa do seu convívio.
Segundo Uzun (2010, p. 146), função simbólica infantil se manifesta quando a
criança consegue diferenciar significantes e significados, por meio de suas
manifestações a criança torna-se capaz de representar um significado, objeto,
acontecimento através de um significante diferenciado e apropriado para essa
representação.
Progressivamente a criança de dois a sete anos passa a ter a possibilidade de
representar ações, situações e fatos da vida dela, manifestando-as por meio da
construção da imagem mental, da imitação diferida, do jogo simbólico, da linguagem e
do desenho.
Piaget descreve a evolução do jogo simbólico infantil em três fases distintas:
 A primeira fase tem início com a projeção dos esquemas simbólicos nos
novos objetos, ou seja, a criança passa a atribuir a outras pessoas e as
outras coisas o esquema que se tornou familiar. Sendo assim nessa fase é
como uma criança fazer a boneca dormir, comer e tomar remédio, é
comum também ela transformar simbolicamente um objeto em outro,
potinhos em personagens, pedrinhas em comidinhas e assim por diante.
O aparecimento dessas representações mostra que o simbolismo está
desligando-se do exercício sensual e motor e assumindo formas de
representação independentes.
 A segunda fase, segundo Piaget tem início por volta dos quatro anos é
marcada pelas construções lúdicas. Nessa fase as crianças apresentam o
progresso na coerência das cenas no estabelecimento da ordem que se
apresenta. Há uma preocupação maior em relação a imitação fidedigna
da realidade, manifestada por um cuidado maior com os detalhes que
compõe cada cena lúdica. Também é característica do jogo simbólico
nessa fase se estende até por volta dos sete anos, o início do simbolismo
coletivo, uma diferenciação e ajustamento de papéis. Os jogos nessa fase
favorecem a socialização e possibilitam uma representação mais coerente
e ordenada das ideias.
 A terceira fase que vai dos sete, oito anos até os onze, doze anos, é
caracterizada pelo declínio do simbolismo lúdico. Nessa fase, ele dá
lugar aos jogos de regras e as construções simbólicas cada vez mais
próximas à realidade, há um considerável avanço nas construções, nos
trabalhos manuais e nos desenhos que se apresentam cada vez mais
adaptados ao real.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

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Jean Piaget foi um importante epistemólogo suíço que se dedicou a estudar a
origem e o desenvolvimento da inteligência humana.
Através da utilização da técnica de pesquisa intitulada entrevista clínica, Piaget
coletou dados sobre as construções psíquicas dos indivíduos em diferentes etapas da
vida e elaborou uma teoria chamada Epistemologia Genética.
Na Epistemologia Genética, o desenvolvimento humano está organizado em
quatro etapas, que têm características próprias: período sensório-motor; período pré-
operatório; período operatório concreto e período operatório formal. Na perspectiva
piagetiana, o sujeito da aprendizagem participa, ativamente, do processo de construção
de conhecimentos.
Ele constatou, também, que para que a aprendizagem ocorra, é necessário que
haja o conflito cognitivo. O conflito cognitivo tira o indivíduo do estado de equilíbrio
cognitivo e faz com que ele mobilize suas capacidades para dar conta do novo.
Essas ideias provocaram a revisão das práticas educativas tradicionais. Piaget
chamou a atenção, também, para a importância do jogo simbólico no percurso de
desenvolvimento infantil, que tem início com o aparecimento da linguagem.

AU10 - O desenvolvimento Psicológico na perspectiva de Vygotsky


SEÇÃO 1: Quem foi Lev Vygotsky

Vygotsky que nasceu em 1896 numa cidade pequena da antiga Bielorrússia, era
membro de uma família judia, sendo o segundo de oito irmãos.
Seu pai era chefe de departamento em um banco e representante de uma
companhia de seguros. Enquanto sua mãe era professora formada, mas não exercia a
profissão. Membro de uma família bastante culta e com uma situação financeira
privilegiada sua educação primária foi conduzida por um preceptor particular.
Somente os últimos anos do ensino secundário foram realizados em uma escola
particular judaica, seu interesse pelos estudos e por diversas áreas do conhecimento teve
início cedo, ele organizava grupos de estudos com seus amigos, eram assíduos
frequentadores da biblioteca local e aprendeu diversos idiomas dentre os quais o
esperanto.

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Vygotsky iniciou seus estudos no curso de medicina e Moscou por influência de
sua família, logo pedindo transferência para o curso de Direito. Após a conclusão do
curso de Direito, passou a se dedicar a licenciatura e aos estudos da psicologia. Seus
estudos o tornaram renomado psicólogo e fizeram com que ele retornasse ao curso de
medicina.
Na faculdade de medicina exerceu vários cargos políticos e científicos, além de
ter realizado diversas intervenções com crianças com deficiências físicas e mentais. Da
mesma forma que sua atividade acadêmica foi diversificada sua atuação profissional
também o foi, atuou como professor e pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia,
filosofia, licenciatura, deficiência física e mental e pedologia.
Os aspectos característicos da psicologia de bigodes que passaram a ser
conhecidos no Brasil a partir dos anos 1980. Durante toda a sua vida profissional
Vygotsky que manteve uma vida intelectual intensa, dedicando se a grupos de estudos e
participando de atividades literárias e teatrais.
Em 1924 Vygotsky casou-se e teve duas filhas.
Em 1920 Vygotsky que havia contraído tuberculose, doença com qual conviveu
por catorze anos e que provocou sua morte aos trinta e sete anos. Os textos escritos por
Vygotsky que são densos, cheios de ideias e misturam reflexões filosóficas com
imagens literárias, proposições mais gerais e datas de pesquisa que às vezes
exemplificariam.
Embora façamos referência a teoria vygotskyana, seus escritos não chegaram a
se constituir como tal, na medida em que sua morte prematura interrompeu a sua
produção. Muitas de suas ideias ainda em processo de desenvolvimento na ocasião de
sua morte continuaram a ser desenvolvidas por um grupo de outros pesquisadores que já
vinham trabalhando com Vygotsky.
Apesar do tempo transcorrido desde a sua morte as ideias de Vygotsky que
continuam tendo grande relevância tanto no campo da psicologia quanto da educação.
Seus estudos deram origem a uma nova abordagem na psicologia conhecida como
psicologia, histórico-cultural.

SEÇÃO 2: A teoria histórico-cultural de Vygotsky

A evolução russa ocorrida em 1917 e os problemas que deram ao decorrer


tiveram grande influência na elaboração da teoria de Vygotsky no final deste período a
sociedade russa se debateu com as contradições decorrentes do entrelaçamento da
Revolução Proletária e da Revolução Democrática Burguesa.
Ao estudar os principais representantes da psicologia clássica da época
Vygotsky, começou a enunciar elementos para elaboração de uma nova concepção de
desenvolvimento que levasse em consideração a gênese e a natureza social, as funções
psicológicas superiores, preocupando-se com os processos de construção das
singularidades dos sujeitos inseridos em uma determinada cultura.
O processo de reconstrução da sociedade no qual por vezes prevaleciam as
características burguesas por outras as socialistas, foi o fio condutor para análise da
psicologia de Vygotsky, tomando como base a sociedade os acontecimentos da época,
Vygotsky passou a analisar as tendências predominantes da psicologia da época e
propôs a criação de uma nova psicologia mais geral que abarcasse os conhecimentos
particulares e específicos desta.
Vygotsky que propôs em 1924 o que a nova psicologia fosse baseada nos
princípios do materialismo histórico-dialético. Materialismo histórico e dialético de

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Marx vinha sendo estudado por outros teóricos na década de 1920, mas que foi o
primeiro teórico a relacioná-lo com as questões psicológicas concretas.
De acordo com Vygotsky, é na relação com a sociedade que o homem
internaliza o mundo material e passa a ter condições de interpretá-lo de acordo com a
sua subjetividade uma vez que o homem é ao mesmo tempo histórico, cultural e
individual.
A nova psicologia proposta por Vygotsky, apoia em três ideias principais:
As funções psicológicas humanas têm um suporte biológico na medida em que
são produtos da atividade cerebral.
O funcionamento psicológico encontra fundamento no estabelecimento de
relações sociais entre o indivíduo e o mundo exterior, as quais são desenvolvidas em um
processo histórico.
A relação entre o homem e o mundo não é direta, ela é mediada por sistemas
simbólicos.
Nessa perspectiva o cérebro é a base do funcionamento psicológico humano.
Sendo assim, o homem possui uma existência material de base biológica que define
limites e possibilidades de desenvolvimento.
Contudo, o cérebro humano não possui uma estrutura fixa e imutável, ele é um
sistema aberto de grande plasticidade cuja estrutura e modo de funcionamento são
moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual.
Sendo assim, na perspectiva Vygotskyana os homens se transformam de
biológicos em sócio históricos em um processo no qual a cultura é fundamental para a
constituição da natureza humana. Nesse processo a relação do homem com o mundo a
sua volta não se dá de forma direta, mas sim mediada por instrumentos signos.

SEÇÃO 3: O conceito de mediação

Um conceito central na teoria de Vygotsky é o conceito de mediação para


Vygotsky que a mediação é entendida como processo de intervenção de um elemento
intermediário em uma relação, nesse caso a relação deixa de ser direta e passa a ser
mediada por esse elemento.
Um exemplo de mediação é a relação estabelecida entre uma criança e uma vela
acesa, se a criança ainda não tem noção de que pode se queimar ou entrar em contato
com a chama da vela é bem provável que ela coloque a mão e se queime. Nesse caso a
relação entre ela e a vela é direta, não mediada.
Porém quando uma criança está próxima de colocar sua mão na chama da vela é
advertida sobre o perigo por um adulto tem a sua relação com a vela mediada por esse
adulto. Para Vygotsky que a relação entre os homens e o mundo é mediada e a forma
pela qual essa mediação ocorre nos distingue das outras espécies animais.
A mediação ao imundo é feita por meio de mediadores, ou seja, de ferramentas
auxiliares à atividade humana.
O conceito de mediação adotado por Vygotsky encontra sua filiação teórica nos
postulados marxistas, que vem no surgimento do trabalho e na formação da sociedade
humana com base no trabalho o processo básico que irá marcar o homem como espécie
diferenciada.
Para Vygotsky há dois tipos de mediadores, os instrumentos e os signos.
O instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto do seu
trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. Ele é feito ou
buscado especialmente para um certo objetivo, carregando consigo a função para qual

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foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo.
Como tal, é um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.
Da mesma maneira que os instrumentos são criados para ampliar as capacidades
humanas no plano concreto os signos são criados como meios auxiliares para solucionar
problemas no plano psicológico. Como lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, entre
outros.
Eles se constituem como marcas externas que auxiliam o homem em tarefas que
exigem a memória e atenção. São exemplos da utilização de signos. Fazer uma lista de
compras por escrito, usar um mapa para encontrar um local determinado, fazer um
diagrama para orientar a construção de um objeto, entre outros.
A linguagem humana é constituída por um conjunto de signos quando utilizamos
a palavra bicicleta por exemplo, ela não é o objeto representado, mas nos remete a ele.
Em síntese, enquanto os instrumentos são elementos externos ao indivíduo
voltados para fora dele com a função de provocar mudanças nos objetos e controlar
processos da natureza, os signos ou instrumentos psicológicos são orientados para o
próprio sujeito dirigindo-se ao controle das ações psicológicas quer sejam do próprio
indivíduo ou de outras pessoas.

SEÇÃO 4: Desenvolvimento e aprendizagem na perspectiva vygotskyana

O desenvolvimento humano, o aprendizado e a relação entre ambos são temas


centrais na obra de Vygotsky.
Ao mesmo tempo em que manifesta uma preocupação consta com a questão do
desenvolvimento em sua obra Vygotsky que enfatizam a importância dos processos de
aprendizado.
Para Vygotsky o aprendizado é considerado fundamental no processo de
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Para ele desde o nascimento do
indivíduo o aprendizado se encontra relacionado ao desenvolvimento e sem ele as
funções psicológicas tipicamente humanas não se desenvolveriam.
Como ilustração da relação entre desenvolvimento e aprendizagem, podemos
nos remeter ao exemplo de um indivíduo que estivesse inserido em uma sociedade
isolada que não dispusesse de um sistema de escrita. Esse indivíduo não seria submetido
ao aprendizado da leitura da escrita e, portanto, não teria ativados os mecanismos do
desenvolvimento de que dispõe para aprender a ler e escrever.
Por outro lado, se esse mesmo indivíduo fosse tirado do seu meio original
inserido em uma sociedade letrada, uma vez submetido ao aprendizado da leitura e da
escrita, teria seu percurso de desenvolvimento alterado.
Na perspectiva vygotskyana as oportunidades oferecidas pelo meio para
aprendizagem são fundamentais uma vez que todas as aprendizagens ocorrem
primeiramente no plano interpessoal entre pessoas fora do indivíduo para só depois
serem internalizadas, passando ao plano intrapessoal.
Um exemplo desse processo diz respeito ao desenvolvimento da linguagem a
criança que começa a falar o faz porque sente a necessidade de se comunicar com as
pessoas que estão a sua volta. Sendo assim a linguagem aparece no plano interpessoal
para atender a necessidade oposta pelo meio.
Somente num segundo momento a criança internaliza essa linguagem e a coloca
a serviço do pensamento no plano intrapessoal.
A relação entre aprendizado e desenvolvimento é analisada sobre dois ângulos
na teoria vygotskyana . Uma mais geral e a outra especificamente no contexto escolar.

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Vygotsky defende a ideia de que as aprendizagens acontecem em diversos
contextos e não só na escola. A interação com os objetos de conhecimento dadas as
oportunidades oferecidas pelo meio, o indivíduo constrói conhecimentos.
No entanto a escola se constitui como um lugar privilegiado para que as
aprendizagens ocorram, uma vez que ela se constitui como um espaço no qual há uma
intenção explícita de promovê-las.
Se a aprendizagem se constitui como a mola propulsora do desenvolvimento a
escola tem um papel fundamental no delineamento do percurso de desenvolvimento dos
indivíduos cabe a ela portanto identificar os aspectos fundamentais para que a
aprendizagem ocorra e propor situações nas quais esses aspectos estejam presentes de
maneira a oportunizar o pleno desenvolvimento dos educandos.

SEÇÃO 5: O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal

Um conceito central na teoria vygotskyana que ficou bastante conhecido na


educação é o de zona de desenvolvimento proximal pensado a partir de dois outros
níveis de desenvolvimento. A zona de desenvolvimento real e a zona de
desenvolvimento potencial.
Para Vygotsky na zona de desenvolvimento real estão todas as aprendizagens já
realizadas pelo sujeito, ou seja, tudo aquilo que ele já consegue fazer sozinho sem ajuda
de outras pessoas. Uma criança que já saiba amarrar sapatos, por exemplo, tem a
capacidade de realizar essa ação como parte da sua zona de desenvolvimento real.
Nas zonas de desenvolvimento potencial se encontram as capacidades que estão
em vias de serem incorporadas pelos sujeitos, mas para as quais ele ainda precisa de
ajuda de alguém mais experiente.
Uma criança que saiba andar de bicicleta com rodinhas tem essa capacidade
como parte da sua zona de desenvolvimento real num determinado momento um adulto
decide que já é hora de tirar as rodinhas a vez retiradas por um tempo o adulto precisará
ajudá-lo.
Quanto a criança demanda ajuda do adulto, andar de bicicleta sem rodinhas faz
parte da sua zona de desenvolvimento potencial, a partir do momento em que ela
consegue fazê-lo sem ajuda essa capacidade passa a fazer parte da sua zona de
desenvolvimento real.
Para Vygotsky que entre aquilo que o indivíduo consegue fazer desde que é
auxiliado por alguém mais experiente da espécie, zona, desenvolvimento potencial. É
aquilo que ele consegue fazer sozinho, zona de desenvolvimento real, há um espaço
intermediário ao qual ele deu o nome de zona de desenvolvimento proximal.
A zona de desenvolvimento proximal se constitui então como caminho a ser
percorrido pelo indivíduo para o desenvolvimento das funções que estão em processo de
amadurecimento e que estão consolidadas no nível do desenvolvimento real.
O conceito de zona desenvolvimento proximal começou a ser bastante discutido
nos contextos educacionais, uma vez que o professor precisa intervir nela para
promover a aprendizagem de seus alunos, para que possa intervir na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos, professor precisa identificar aquilo que o aluno
já sabe sobre o que será ensinado, ou seja, aquilo que já faz parte da sua zona de
desenvolvimento real.
Feito isso ele precisa prever aquilo que o aluno é capaz de saber desde que é
auxiliado pelo professor, ao fazer isso o professor está identificando aquilo que faz parte
da zona de desenvolvimento potencial do seu aluno, quando não parte dessa
identificação o professor não consegue promover a construção de novos conhecimentos.

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Vale ressaltar que para Vygotsky que a intervenção do outro social mais
experiente não é necessariamente do professor, para ele a intervenção na zona de
desenvolvimento proximal pode ser fruto da interação com qualquer outra pessoa com o
saber diferente.

SEÇÃO: RECAPITULANDO

Vygotsky foi um importante estudioso da psicologia que propôs uma nova


vertente, baseada no materialismo histórico e dialético de Marx.
Na perspectiva de Vygotsky, o homem deixou de ser visto como produto do
meio e passou a ser concebido como um ser histórico e cultural.
Para ele, as funções psicológicas superiores, que nos distinguem das demais
espécies animais, passaram a ser desenvolvidas quando o homem deixou de ser apenas
biológico e passou a ser sócio-histórico, iniciando o processo de produção de história
e cultura.
Um conceito que ficou bastante conhecido na obra de Vygotsky foi o conceito
de Zona de Desenvolvimento Proximal, por suas implicações para as
práticas educativas.
Segundo o estudioso, a Zona de Desenvolvimento Proximal é um espaço
intermediário entre aquilo que o indivíduo consegue fazer sozinho (Zona de
Desenvolvimento Real) e aquilo que ele consegue fazer, desde que auxiliado por
alguém mais experiente (Zona de Desenvolvimento Potencial). É nessa Zona que,
segundo Vygotsky, as intervenções de outros indivíduos promovem a aprendizagem.
Para Vygotsky, as aprendizagens são fundamentais no processo de constituição
humana, na medida em que são elas que promovem o desenvolvimento.
Essas ideias provocaram a revisão das práticas educativas tradicionais. Piaget
chamou a atenção, também, para a importância do jogo simbólico no percurso de
desenvolvimento infantil, que tem início com o aparecimento da linguagem.

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