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Nelson Eizirik Ariédna B. Gaal Flavia Parente Marcus de Freitas Henriques ( t Mercado de Capitais i Regime Juridico 4 | 3° Edigio ) Revista e ampliada RENOVAA 2 Rio de Janeiro « Séo Paulo » Recife 2011 de médio € longo prazos das empresas, que poderio direcionar os re- cursos obtidos, entre outras aplicagées, para a execugio de projetos e/ou adequacio de seu passive. As ofertas secundarias, por sua ver, sio aquelas em que 0s acionis- tas da companhia ou titulares de outros valores mobilidrios de sua emissio vendem ao mercado, também mediante apelo a0 piblico, os titulos de sua propriedade jé emitidos pela companhia, Nesse caso, 08 recursos pagos pelos investidores para adquirir as agées ou os outros valores mobiliérios ofertados nao so destinados a companhia emisso- ra, mas aos préprios ofertantes. As ofertas secundérias constituem, normalmente, a forma utilizada pelos acionistas controladores ou ous tros investidores estratégicos que realizaram investimentos na compa: nhia para obter 0 seu retorno financeiro e/ou dar liquidez aos titul de sua propriedade. Note-se, ainda, que é bastante comum a existéncia, na prética mercado, de ofertas mistas, isto é, aquelas em que parte dos val mobilidrios ofertados provém de uma nova emissio da companhia outra parte tem origem em titulos jé emitidos. A distingio entre ofertas primérias e secundérias, contudo, € vante apenas em termos econdmicos, tendo em vista as diferentes nalidades por elas visadas. Juridicamente, nao hé distingio entre duas modalidades de ofertas puiblicas, ja que a Lei n° 6.385/1976 regulamentacéo expedida pela CVM (Instrucéo CVM n° 400/2( tratam, de maneira uniforme, a oferta de novos valores mobil pela companhia emissora e a oferta de valores mobilirios de emis da companhia jé existentes por seus titulares. 4.2. A relevancia do sistema de registros perante a CVM Considerando que um dos objetivos basicos do mercado de tais consiste em permitir o acesso das sociedades anénimas & a popular, torna-se fundamental prover aos investidores um adi do sistema de protecio. Por outro lado, tal protecio aos investi nao pode restringir demasiadamente a possibilidade de capt recursos pelas companhias, sob pena de inviabilizar 0 préprio namento do mercado de capitais. A tutela estatal, visando a 2A propésito, consultar 6 Capitulo 1 140 estes dois objetivos, di-se, basicamente, a partir de uma eficiente po- litica de disclosure de divulgagao de informacao. A implementagio da politica do disclosure esté, a seu turno, fun- = damentada na existéncia de um sistema de registros perante 2 CVM, fk por meio dos quais sio canalizadas as informaces consideradas neces- os sérias para o piblico investidor efetuar suas decises de investimento 7 de maneira consciente. = Como regra geral, primeiro registro a ser obtido por uma compa- = nhia para ter acdes ou outros valores mobilirios de stua emissao ofer- 7 tados a generalidade de investidores constitui o registro inicial de ue companhia aberta, por meio do qual visa a CVM a assegurar o forneci- tas mento a0 mercado de informagées periédicas ¢ eventuais sobre a los ‘companhia emissora e os negécios por ela desenvolvidos. A negociagio de qualquer valor mobilidrio emitido por sociedade andnima no mer- as cado de valores mobilidrios depende da obtencio, pela emissora, do registro como companhia aberta perante a CVNP. O registro de companhia aberta, mediante o qual a sociedade and- nnima obtém da CVM a autorizacao para que os valores mobilisrios por ela emitidos sejam aptos & negociagao em bolsa de valores ou no mer. cado de balcéo, encontra-se disciplinado nos artigos 21 da Lei n° .385/19764 e 4°, § 1°, da Lei n® 6.404/1976°, atualmente regulamen- fos pela Instrucio CVM n° 480/209, Além do registro de companhia aberta, faz-se necesséria, para que possa promover a oferta piiblica de distribuicao, a obtencao do re- ores A propésito, verificar a Inst. CVM n° 480, de 07.12.2009: “Art. 1° A nego- Go de valores mobilisrios em mercados regulamentados, no Brasil, depende Drévio registro do emissor na CVM. § 1° O pedido de registro de que trata o pode ser submetido independentemente do pedido de registro de oferta ica de distribuicdo de valores mobilidrios. §2° O emissor de valores mobi deve estar organizado sob a forma de socicdade anénima, exceto quando esta Aispuser de modo divetso. § 3° A presente Instrugio nao se aplica a de investimento, clubes de investimento e sociedades bencficiirias de criundos de incentivos fiscais.” “Ari. 21. A Comissaa de Valores Mobilidrios mantera, além do registro de ta 0 art. 19: 1 —o registro para negociagao na Bolsa; II —o registro para no mercado de baledo, organizado ou ndo. § 1° Somente os valores ios emitidas por companhia registrada nos termos deste artigo podem ser tna Bolsa ¢ no mercado de baledo.” 4° (-) § 1° Somente as valores mobilidrios de companhia registrada na o de Valores Mobilidrias podem ser negociados no mercado de valores ——— ee sistro da oferta propriamente dita. O registro da oferta compreende informacées especificas sobre os valores mobilidrios publicamente distribufdos e sobre a oferta pablica em si. (O registro de oferta publica de distribuicio de valores mobiliérios 6 expressamente previsto no caput do artigo 19, da Lei me 6.385/1976°, bem como no artigo 4°, § 2°, da Lei n° 6.404/1976", sendo, ademais, detalhadamente disciplinado pela Instrucao CVM n® ‘40/2003, alterada pelas Instrugées CVM n°* 429/2006, 42/2006, 472/208, 482/2010 e 488/2010. ‘Os registros anteriormente referidos — de companhia aberta e de oferta piblica de distribuigéo —, “embora distintos, caracterizam-se pela complementaridade das informagées que contém”®; assim, a CVNE apenas apreciaré o pedido de registro de oferta publica de distribuiga para a companhia que mantenha o registro de companhia aberta atuae lizado. "As normas que impéem a obrigatoriedade de registro na CVM, tanto da companhia, quanto da oferta pablica, apresentam nitida fei= do instrumental, j4 que o registro consiste basicamente no meio. dese proceder a prestacdo'de informagées a CVM com vistas 3 sua di Gio a0 piblico investidor. Os tegistros da companhia e da distribuicdo pablica estio i dos no contexto mais amplo da politica de disclosure, que consi fexatamente na divulgacéo de informacées amplas e completas peito da companhia e dos valores mobiliérios por ela publicam ofertados "Assim, 0 registro no é um fim em si mesmo, mas um meio dé proceder 4 ampla divulgacio de informagSes ao pablico. Dat s (que, em principio, a aplicagao de sangio disciplinar, pela CVM, decorre, por exemplo, de mera realizagao de uma distribuigao pil ‘sem registro, mas sim de sua realizacdo sem a prestacao das infé ges necessérias para pleno conhecimento, por parte dos inve dos riscos do empreendimento” 6 no mercado sem prévio registro na Comissao. 7 "Art. 4° (..) § 2° Nenhuma distribuic sfetivada no mercado sem prévio registro na Comissao Be Voto n° 426, do Conselho Monetério Nacional, de 21 de dezembro de $0 cariter instrumental do registro Foi destacado na Exposicao de M Lei n’ 6.385/1976, a0 mencionar que o sistema de registros tem basicam 142 SS 4.3. Os elementos caracterizadores da oferta ptiblica de distribuicao de valores mobilidrios 4.3.1. A distingao entre oferta piblica e oferta privada Conforme referido, a exigéncia de registro das ofertas piblicas de yalores mobilidrios perante agéncias governamentais especializadas ‘isa a proteger os interesses do piblico investidor, assegurando-lhe 0 acesso a informagées sobre a companhia emissora e sobre os valores mobilidrios ofertados a venda que permitam a tomada das decisdes de {nvestimento de maneira consciente. Por outro lado, tendo em vista os custos e o desperdicio de tempo inerentes a0 processo de registro, exigir-se o aludido registro em todas s situacdes que envolvam a emissio ou venda de valores mobilirios oderia acarretar custos desnecessérios ao funcionamento do merca~ lo ¢, inclusive, inibir as sociedades anénimas de promoverem a sua spitalizacéo. Ou seja, hi situacdes em que nio se justifica a exigencia de prévio 0 da oferta de venda de valores mobilidrios, dada a inexisténcia qualquer beneficio para o interesse puiblico. Diante disso, torna-se indispensavel conceituar a oferta piblica de es mobilidrios, a fim de se apurar quais operaces devem ser obri- toriamente precedidas do registro ¢ quais seriam aquelas em que exigéncia nao se faz necesséria, Em regra, a oferta puiblica de venda de valores mobiliérios caracte- Se por ser uma proposta dirigida a generalidade dos individuos. eja, a oferta piiblica tem como destinatérios pessoas indetermina- nao individualizadas, pois qualquer um pode aceitar a proposta"”. Todavia, para se analisar se, em cada caso concreto, deve ou néo exigido 0 prévio registro da operacio de colocacdo de valores mo- ios faz-se necessério identificar os elementos que caracterizam a destinada a0 pablico em geral. os Estados Unidos, tal questo comegou a ser discutida a partir fio do Securities Act de 1933, cuja Section 4(2) isentava do re- te a Securities and Exchange Commision — SEC as opera- DESTO CARVALHOSA. Oferta Pablica de Aquisigéo de Ages. Rio de IBMEC, 1979, p. 23 ges de colocagio de valores mobiliérios que “ndo envolvessem qual- quer oferta priblica” (‘not involving any public offering”). ‘Como 0 Securities Act nao definia expressamente 0 que se deveria entender por public offering, a determinagao dos elementos necessé- rios & caracterizagio da oferta publica foi sendo desenvolvida com base na jurisprudéncia e nas decisses da SEC. leading case sobre a questio foi o processo SEC v. Ralston Pus rina Co."}, julgado pela Suprema Corte em 1953, no qual uma oferta de ages formulada pela companhia a cerca de 300 de seus emprega- dos foi earacterizada como pablica’?. Em tal decisio, a Suprema Corte estabeleceu dois elementos bé- sicos para a verificagéo do cardter piblico de determinada colocagéo 11 No caso da Ralston Purina — empresa voltada & producio de sementes € cereais, com cerca de sete mil empregados espalhados por virios estacos ameri= ‘canos e pelo Canadé — discutiu-se se a oferta de aces em tesouraria feita ‘companhia 2 aproximadamente 300 de seus empregados estaria enquadrada isengio de registro prevista pelo Securities Act. Embora alegasse a empresa que! oferta nio fora efetuads a todos os seus funcionérios, mas téo-somente a ppequeno grupo de key- employees, restara demonstrado que os titulos hay ‘sido adquiridos, dentre outros, por estendgrafos, carregadores e veterinérios, quais, certamente, nio se enquadravam a definicdo de empregados-chave ut da como parimetro. A decisio adotada pela Suprema Corte alicercou-se bas mente numa interpretagio telcol6gica. Fundamentando-se tanto na finalid do Securities Act — qual seja a de proteger o investidor através do disclosure informacdes, bem como na intengio legal de isentar transacoes “where there is practical need for (..) the bill's aplication’ — concluit o Tribunal que apr Conferida pela lei ndo seria necesséria para as hipéteses em qu vado que os investidores em potencial seriam capazes de “fend for themse tornando sem relevincia as informagées eventualmente prestadas pelo re 12. “Exemption from the registration requirements of the Securities Act is (question. The design of the statute is to protect investors By promoting full dis Sure of information thought necessary to informed investment decisions. natural way to interpret the private offering exemption is in light of the st purpose. Since exempt transactions are those as to which there is no practical for [the bill's] application’, the applicability of § 4(1) should turn on the particular class of persons affected need the protection of the Act offering 10 those who are shown to be able to fend for themselves transaction ‘not involving any public offering’. (..) ‘The focus of i ‘should be on the need of the offerees forthe protections afforded by reg ‘The employees here were not shown to have access to the kind of information registration would disclose. The obvious opportunities for pressure and im} make it advisable that they be entitled to compliance with § 5. (grifamos). D. SODERQUIST. Securities Regulation ..., pp. 227-228. 144 de valores mobiliarios: (i) a capacidade dos ofertados de defenderem- se por conta prépria (“fend for themselves”); e (ii) 0 acesso dos oferta- dos a0 mesmo tipo de informacdo que seria fornecida caso a operacao tivesse sido registrada perante a SEC". Em 1974, a SEC, visando a estabelecer standards mais objetivos para a caracterizacao das ofertas priblicas, editou a Rule 146, na qual foram disciplinados os principais problemas concernentes & aplicaca0 da dispensa do registro de oferta priblica’. Posteriormente, a Rule 146 foi substituida pela Regulation D, que estabeleceu trés hipsteses expressas em que ofertas de venda de valo- tes mobilidrios nao seriam caracterizadas como ptblicas. De acordo com tal regulacio, passaram a estar isentas da obrigatoriedade de re- 0 perante a SEC ofertas: i) envolvendo valores inferiores a deter- ado limite; ii) realizadas perante um nimero limitado de oferta- dos; ou iit) dirigidas apenas a investidores qualificados A partir da anilise dos precedentes jurisprudenciais e da regulagdo expedida pela SEC, constata-se que os elementos mais importantes configurar 0 cardter piblico de determinada operacio, no direito : (a) a qualificagdo dos ofertados; (b) 0 acesso de- as informacées sobre o valor mobiliério que esté sendo oferecido; (0) a maneira pela qual é efetuada a colocagio'®, "Em outros ordenamentos juridicos, estas premissas também sao, esséncia, consagradas. Com efeito, na legislacio italiana, 0 concei- te para se configurar uma oferta publica de di maobilidrios é o de “sollecitazione al pubblico risparmio” (apelo oupanca popular), definido no artigo 18 da Lei de 07.06.1974, se- a redacao dada pela Lei de 23.03.1983, entendendo-se como Santincio piblico de emissao; a compra ou venda mediante oferta blico; a oferta publica de subscric4o; a oferta pablica de permuta SON EIZIRIK, Aspectos Modernos do Direito Societirio .., p. 19. DNA BOHOMOLETZ GAAL, "A Caracterizaco de Emissio Pablica da de Valores Mobilisrios no Direito Norte-American: de sit, vea-se o entendimento da American Bar Association quanto 2 etpretacio do Securities Act de 1933, “A Position Paper of the Federal of Securities Committee, Section of Corporation, Banking and Bu of the American Bar Association”, reproduzido em LARRY D. St IST. Securities Regulation ..., p. 239. 145 de valores mobilirios; qualquer forma de colocacio “porta a porta’, por meio de circulares e meios de comunicagio de massa em geral. A legislacio francesa, por sua vez, determina no artigo 72 da Lei 537 de 24.07.1966, que se considera que fazem apelo a poupanga po- pular (“appelation publique ‘a l'épargne") as sociedades cujos valores mobilidrios estejam admitidos & negociagio em bolsa de valores. Na hipétese de companhias cujos valores mobilidrios nao estejam cotados em bolsa de valores, o caréter piblico da oferta resulta da difusio dos valores mobilidrios a mais de 300 (trezentas) pessoas ou, inde pendentemente da quantidade de destinatérios, quando houver 0 ree curso, para a colocacio de tais titulos no mercado, de intermedisri financeiros, meios publicitérios, ou venda “porta a porta’. Verifice- que, no direito francés, 0 simples fato de uma companhia ter ag cotadas em bolsa jé caracteriza como piiblica qualquer oferta de val res mobilidrios por ela formulada O direito portugués estabelece, no artigo 109 do Cédigo dos Vs lores Mobilidrios, que existe oferta piblica quando (i) os valores biliérios sio oferecidos, no todo ou em parte, a destinatirios indet minados, ainda que tal oferta seja realizada através de miltipl comunicacées padronizadas enderecadas a destinatérios individ mente identificados; (ji) os valores mobilidrios sio oferecidos a ‘menos 100 investidores portugueses no qualificados; ou (ii) a oferta for precedida ou acompanhada de promosio publicitiria, prospeccio de intencées de investimento junto a destinatérios i terminados. No Direito Comunitério Europeu, nao foi formulado um con uniforme de oferta publica de distribuicio de valores mobiliri Diretiva 89/298/CEE utilizou um enfoque mais pragmitico, 20 cindir da caracterizagio de uma oferta como piblica ou privada’ tabelecer, em contrapartida, uma série de exceg6es 20 regime de ta publica. O importante, nos termos da Diretiva, nao € a cont do cardter pablico ou privado da oferta, mas sim a verificacio tuagio concreta se beneficia de alguma das referidas excecées. sentido, 0 artigo 2.b da Diretiva estabelece que ela nio se 3 ofertas de distribuigio dirigidas exclusivamente a um grupo red de pessoas, embora nao determine qual seria essa quantidade soas. O direito alemio seguiu a orientacéo da Diretiva, 20 t para o ordenamento juridico germanico por meio da 13.12.1990 (Gesetz ber Wertpapier-Verkaufsprospekte). Tal 146 bém nao contém um conceito de oferta piiblica e excepciona, da mes- ma forma, do seu ambito de aplicacdo, as ofertas dirigidas a um circulo restrito de pessoas, sem determinacio do niimero, O direito inglés, a seu turno, ao adaptar a Diretiva da CEE pela Public Offers of Securities Regulation de 1995, estabelece que nao existe oferta pablica no Reino Unido se, por exemplo, os valores mo- bilidrios forem oferecidos a no méximo 50 (cinquenta) pessoas; quan- do a oferta for dirigida a pessoas que, na pratica de suas atividades profissionais, tenham contato com a aquisigio, gerenciamento, ou alienacao de investimentos, e também nas ocasiées em que a oferta “tenha sido dirigida a um circulo restrito de pessoas, sobre quem 0 ‘ofertante possa razoavelmente presumir terem conhecimento sufi- giente quanto aos riscos inerentes aceitagao da proposta. No direito espanhol, também nao hé um conceito de oferta pabli- A Lei do Mercado de Valores espanhola (Lei 24, de 28.07.1988) segue uma orientacdo parecida aquela adotada pela Diretiva 1/298/CEE. Em principio, toda oferta de distribuicao de valores indeter- iris esta sujeita a obrigacao de anilise e registro pela Comissio Valores Mobilidrios espanhola. Estio isentas, total ou parcialmen- de tais formalidades, determinadas categorias de emissio, em fun- (oda natureza do emissor, do pequeno volume da emissio, do nime- restrito ou das caracteristicas especiais dos destinatérios ou de ou- circunstancias que tornem aconselhavel o estabelecimento de s a0 cumprimento das obrigacées!®. fo ordenamento juridico brasileiro, a caracterizagio das ofertas, licas de venda de valores mobilisrios esté prevista no artigo 19 da 6.385/1976"’, que, ao invés de estabelecer uma distingio con- al entre a distribuicio privada e a distribuigo publica de valores lirics, limitou-se a enunciar algumas hipéteses em que esta lti- vem a se caracterizar. H€ o direito espanhol, conferir LUIZ DE CARLOS BERTRAN. Regimen de las Ofertas Publicas de Suscripcion y Venta de Valores Negocia- Civitas, 1998. ‘Nenhuma emissao piiblica de valores mobilidrios ser distributda lo sem prévio registro na Comissdo. (..) 3° — Caracterizam a emisso =a uilizacdo de listas ou boletins de venda ou subscriga, folhetos, (4 antincios destinados ao piblico; II — a procura de subscritores ou tes para os tirulos, por meio de empregados, agentes ou corretores; II] — Jeita em loja, escritério ou estabelecimento aberto ao pablico, com a dos servicos piblicos de comunicacao.” O artigo 19 da Lei n° 6.385/1976 foi regulamentado pelo artigo 3° da Instrugio CVM n° 400/2003'%, que também nio estabelece © conceito de oferta piblica, optando por apenas enumerar, de forma exemplificativa, determinados elementos objetivos que podem confi- gurar a distribuigao pablica de valores mobilidrios. Os elementos objetivos constituem os meios empregados para a colocagio dos valores mobilidrios junto a0 pablico. Ou seja, deve-se verificar se os meios ou instrumentos utilizados pela companhia para fazer chegar sua emissio junto aos potenciais investidores caracteri: zam a intencao de atingir 0 piblico em geral ou apenas um nimero restrito e determinado de pessoas". A divulgacao de aniincios relativos & oferta nos meios de comuni- cagio de massa constitui uma tentativa evidente de se atingir um, quantidade indeterminada de investidores ¢, consequentemente, & considerada como elemento caracterizador da oferta pablica por to das as legislagSes que tratam da matéria Neste sentido, no Direito Argentino, a Ley n° 17.811, d 01.01.1969, definiu a oferta piiblica como "la invitacion que se a personas en general o a sectores o grupos determinados para reall zar cualquier acto juridico con titulos valores (...) por medio de ( 18 “Ant. 3° Sdo atos de distribuigdo publica a venda, promessa de venda, @ venda ou subscricao, assim como a aceitacdo de pedido de venda ou subscrig de valores mobilidrios, de que conste qualquer um dos seguintes elementos: utilizagao de listas ou boletins de venda ou subscricdo, folketos, prospectos aantincias, destinados ao priblico, por qualquer meio ox forma; Il — a procura todo ou em parte, de subscritores ou adquirentes indeterminados para os ‘mobilidrios, mesmo que realizada através de comunicagées padronizadas en gadas a destinatérios individualmente identificados, por meio de empre representantes, agentes ou quaisquer pessoas naturais ou jurtdicas,integrant nndo do sistema de distribuicdo de valores mobilidrios, ou, ainda, se em desco rmidade com o previsto nesta Instrugao, a consulta sobre a viabilidade da o ow a coleta de intengoes de investimento junto a subscritores ou adgui indeterminadas; Ill — a negociagéo feita em loja, escritério ou estabele aberto ao piblico destinada, no todo ou em parte, a subscritores ou adqui indeterminadas; ow IV — a utilizagdo de publicidade, oral ou escrita, é antincios, avisos, especialmente através de meias de comunicagao de eletronicos (paginas ou documentos na rede mundial ow outras redes abe computadores e correio eletranico), entendendo-se como tal qualquer fo comunicacdo dirigida ao piblico em geral com o fim de promover, direta através de terceiros que atuem por conta do ofertante ou da emissora, a ‘ow alienagao de valores mobilidrios.” 19 NELSON EIZIRIK. Aspectos Modernos do Direito Societirio w. PPs 148 oferecimientos personales, publicaciones periodisticas, transmi- siones radiotelefénicas o de televisin, proyecciones cinemato- gréficas, colocacién de afiches, letreros o carteles, programas, circula- es y comunicaciones impresas 0 cualquier otro procedimiento de difu- sign” (grifamos). ‘Nos Estados Unidos, além da utilizacao dos meios de comunica- ‘gio de massa, também se considera incompativel com uma operacio privada a realizacdo de reuniGes ou seminarios relacionados a oferta abertos a participacao de qualquer pessoa interessada, nos termos da Rule 502 (c) da Regulation D da SEC”, No Brasil, o artigo 19, § 3°, inciso I, da Lei n° 6.385/1976 expres- samente menciona que caracteriza “a oferta publica a utilizacdo de listas ou boletins de venda ou subscrigdo, folhetos, prospectos ow antin- ios destinados ao piiblico”. Tal dispositivo legal foi regulamentado pela Instrucio CVM n° 1/2003, que relaciona como elemento indicador da existéncia da rbuicdo piblica de valores mobilidrios a “utilizacdo de publicida- ,, oral ou escrita, cartas, antincios, avisos, especialmente através de 1s de comunicacéo de massa ou eletronicos (paginas ou docu- tos na rede mundial ou outras redes abertas de computadores e eletrénico)” (grifamos). Diante disso, constitui circunstancia indicadora da natureza pabli- de determinada oferta a distribuicio indiscriminada, a qualquer , de prospectos, folhetos e outros materiais publicitérios sobre . Com efeito, tal pritica, assim como os demais elementos aci- referidos, também pode demonstrar o esforco do ofertante em r 05 valores mobilidrios a um ntimero ilimitado de potenciais, rentes, independentemente de suas caracteristicas pessoais. im, a oferta de valores mobiliérios, para nao ser caracterizada pablica, deve ser formulada diretamente aos ofertados pelo pr6- ante ou por seus representantes?! ¢) Limitation on manner of offering. Except as provided in § (2) (1), neither the issuer nor any person acting on its behalf shall offer or ities by any form of general solicitation or general advertising, but not limited to, the following: (1) Any advertisement, article, ‘other communication published in any newspaper, magazine, or ia or broadcast over television or radio; and (2) Any seminar or attendees have been invited by any general solicitation or general {grifamos). IS LOSS. Fundamentals of Securities Regulation ... p. 314 Contudo, o simples fato de, 20 invés de ser baseada em material publicitério e antincios divulgados ao pablico em geral, a oferta ser apresentada diretamente aos potenciais investidores nao assegura que ela no possa ser classificada como piblica. De fato, a Lei n* 6,385/1976 (artigo 19, § 3°, inciso II) ea Instru- cao CVM n° 400/2003 (artigo 4°, inciso II) também estabeleceram ser piblica a emissio em que investidores indeterminados sfo procu- rados por empregados da companhia ou por agentes ou corretores por cela contratados para tal finalidade. Em vista disso, torna-se relevante determinar o nimero de pes- soas procuradas pela companhia ou por seus representantes, posto que 0 realizagio de um nimero significativo de ofertas diretas tame bém pode comprovar o eventual esforco da companhia na colocagao piiblica dos valores mobiliérios de sua emissio. Tsto porque, apesar de tal fator, isoladamente, nao ser decisivo para configurar a natureza da oferta, é inegvel que quanto maior @ rimero de pessoas procuradas pela companhia emissora, maior sera probabilidade que a oferta seja caracterizada como piiblica. A respel to, a jurisprudéncia norte-americana ja se manifestou no sentido aque: ..) the more offeres, the more likelihood thatthe offering is pu lic” ‘A Rule 506 da Regulation D editada pela SEC isenta de 1 qualquer oferta de valores mobiliérios em que o ntimero de aquisig realizadas por investidores no qualificados seja inferior @ 35 (trinta Cinco), desde que a companhia néo se utilize de meios de divulg ao pablico em geral?, ‘Ou seja, de acordo com esta regra, determinada distribuigdo valores mobiliérios no sera considerada pablica caso ela seja reali ‘com base em contatos diretos entre os representantes da até 35 (trinta e cinco) subscritores. 22 Trata-se do caso Hill York Corp. v. American Intemational Franchises, citado por RICHARD W. JENNINGS, HAROLD MARSH, JR, JO) COFFEE, JR. Securities Regulation .., p. 335. 23 *(a) Exemption. Offers and sales of securities by an issuer that ‘conditions in paragraph (b) of this § 230.506 shall be deemed to be tions not involving any public offering within the meaning of section 4(2) ‘Act, (b) Conditions to be met. (..) (2) Specific conditions. (1) Limit number of purchasers. There are no more than or the issuer reasonably that there are no more than 35 purchasers of securities from the issuer i offering under this § 230.506" (grifamos) 150 aterial ita ser ra que Instru- weram procu- res por de pes- » posto as tame locagao lecisivo maior 0 or seré a respei- ttido de wis pur Finalmente, o diltimo elemento expressamente mencionado pela Lei n® 6.385/1976 e pela Instrucdo CVM n° 400/2003, como indica- tivo da natureza pablica da oferta, refere-se ao fato de a negociacio dos valores mobilidrios ser feita em loja, escrit6rio ou estabelecimento aberto ao piiblico, desde que precedida da utilizacdo, pelo ofertante, de servicos ptblicos de comunicacéo. Nao é 0 simples fato de ser a transagio efetuada em estabelecimento aberto ao ptiblico que carac- teriza a distribuicdo publica, mas sim a prévia publicidade de sua rea- lizacdo. Note-se que os elementos objetivos elencados no § 3° do artigo 19 da Lei n° 6.385/1976 e no artigo 3° da Instrucdo CVM n° 400/2003 sio exemplificativos. Quaisquer outros instrumentos de apelo a pou- ppanca popular, desde que nio individualizados os destinatarios da ‘oferta, podem também ser considerados como caracterizadores da dos verta- 9s no, idrios scer- fo de 1 "po- infor- 08 s0- das as resen- ferir a ‘As ofertas feitas seguindo a mencionada Instrugao somente po- dem ter como objeto os titulos descritos no art. 1°, § 1°, da Instrucao CVM n° 476/209”, 05 quais nao incluem as agdes e outros titulos conversiveis em ages, e somente podem ter por destinatérios investi dores qualificados (conforme definidos pelo artigo art. 109 da Instru- io CVM n° 409/2004) Tais ofertas nao estdo sujeitas as regras de registro previstas na Ins- truco CVM n° 400/2003%, ficando automaticamente dispensadas do registro de distribuicao de que trata o caput do artigo 19 da Lei n® 6.385/1976", devendo o intermedisrio da oferta apenas informar 0 seu encerramento a CVM no prazo de 5 dias. Essa dispensa proporcio- na, entre outros efeitos, uma maior agilidade na colocacio de valores mobiliérios, uma redugao dos custos inerentes a0 processo de distri- buigdo de valores mobilidrios ¢ uma maior seguranca aos emissores quanto a inexigibilidade de registro na CVM, tendo em vista a incer- teza que caracteriza 0 conceito de oferta publica (ver item 4.3.1) ACVM, porém, devido a esta dispensa, exige uma declaracZo, por escrito, dos investidores que pretendam adquirir ou subscrever titulos evalores mobilidrios objeto de tais ofertas, atestando sua ciéncia de que a oferta nao foi registrada na Autarquia e de que os tftulos e valo- tes mobilifrios ofertados estdo sujeitos as restricées de negociac4o previstas na Instrucao CVM n° 476/2009, De acordo com a Instrugao CVM n° 476/2009, na oferta com GOS restritos, somente é permitida a procura de, no méximo, 50 stidores qualificados pelos representantes do ofertante, sendo 05 valores mobilidrios ofertados nio podem ser adquiridos por is de 20 investidores. Porém, fundos de investimento em que as deci- de investimento sejam tomadas por um mesmo gestor sao conside- como um tinico investidor para efeitos da aplicagio dos limites ofertados e subscritores/adquirentes anteriormente referidos. "Ar. 1°. §1° Esta Instrugdo se aplica exclusivamente as ofertas puiblicas de tas comerciais; Il — cédulas de crédito bancario que ndo sejam de respon- le de instituigao financeira; Ill — debentures nio-conversiveis ou ndo- is por ages; IV — cotas de fundos de investimento fechados; V — de recebiveis imobilisrios ou do agronegécio; e VI — letras financei- 5°, Inst. CVM n°476/2009 6°, Inst. CVM n°476/2009 Outra caracterfstica relevante da Instrugéo CVM n° 476/2009 consiste no fato de que nao apenas sociedades anénimas, mas também sociedades limitadas e cooperativas podem utilizar-se da sistemética das ofertas piilicas com esforcos restritos para colocarem titulos de sua emissio n mercado, néo se exigindo que o emissor obtenha o re- gistro de companhia aberta perante a CVM. Neste sentido, o art. 17 da referida Instrucio estipula uma lista de exigéncias que devem ser cumpridas pelo emissor dos valores tratados acima, dentre as quais destacam-se a preparacao ¢ “auditoria das demonstragoes financeiras anuais, de acordo com as normas editadas pela CVM para as companhias abertas; a necessidade de observar as regras da Instrugio CVM n° 358/2002 acerca do dever de sigilo e ve-. dagao a negociacao por pessoas relacionadas ao emissor, tais como ad- ministradores e acionistas controladores; e a obrigacio de divulgar fa- tos relevantes ocorridos em seus negécios. ‘Ainda de acordo com a mencionada Instrucio, 0 ofertante no po- deré fazer, dentro de um periodo de 4 (quatro) meses, outra oferta restrita de valores mobiliérios de mesma espécie e emissor, sem que esta se submeta ao registro perante a CVM. Os valores mobilidrios colocados por meio de oferta restrita mente podem ser negociados entre investidores qualificados, dey de decorridos 90 dias da subscrigéo/aquisicao pelo investidor e mercado de balcao, organizado ou néo, sendo expressamente vedad: negociagdes em bolsa. De acordo com a Instrugio CVM n°476/2009 cabe a0s intermedisrios nas negociacSes com tais valores mobilidrios certificar 0 cumprimento das referitas restriges & negociagio, quais, no entanto, deixam de ser aplicéveis caso 0 emissor obtenha: registro de companhia aberta. Vale ressaltar que, apesar de ser denominada “pablica”, na ofei restrita nao é admitida e “busca de investidores através de lojas, esa trios ou estabelecimentos abertos ao piiblico, ou com a utilizagdo servigas piiblicos de comunicagdo, como a imprensa, o radio, a te sao ¢ pdginas abertas ao priblico na rede mundial de computadores Devido ao acima disposto, observa-se claramente que as ofert restritas, na forma em que foram reguladas pela Instrucio CVM 476/2009, possuem determinadas caracteristicas que as apro das ofertas privadas, como o fato de serem realizadas sem a utiliz 40. Artigo 2°, pardgrafo nico, Inst. CVM n° 476/2009 eee 5 he eS

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