Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 15
ce graphia ARTIGOS: EOgraphia, vol 23, n. 61, 2021 (RE)VER O MUNDO PARA LER O ESPAGO: EXISTENCIA E (AUTO)CONHECIMENTO NA GEOGRAFIA HUMANISTA Carlos Roberto Bernardes de Souza Junior* Universidade Federal de Goids Maria Geralda de Almeida* Universidade Federal de Goids Resumo: A considerar as proposigSes da fenomenclocia exstencislsta,principalmente respaldad am Merieau-Porty, o texco analsa as posstildades expicativas ecerca des lgicas vgentes na prética de pesauise dos geSgrafes humanistas. Porro do concsita de mundo ‘2 de aua inazporablidade do swsra que ree ce inser, vis2-e daorat as espaciaidades do cotidano e compreander as manaias pelas {uais 08 seres humans Vivem em sua geografcidade, A metodolagia empregada foi reviado bidlogréfca ecorrelagdo com as teoras da ‘enomenologia,Ertende-se que ¢ fundamentals adoodo de ums posture de aventura ecurosidade em lacie a0 cosrro.em que o gesarafo se insere para queseja passive ler fetivamente 0 espaga Palavraschave.fenomenclosia, ser-no-mundo, geogtafcidade (RE)VIEW THE WORLD TO READ THE SPACE: EXISTENCE AND (SELF)KNOWLEDGE AT HUMANISTIC GEOGRAPHY Abstract Consideting the aroposiions of exstentiaist phenomenology, mainly based on Weleau-Ponty the text analyzes the exalative possbiliies ofthe major logis at the humanistic geograchy practices are analyzed. By the means of the concept of world and its nnsegerabity ftom the subject thet nsens sl ino attempts to unravel the spaciaities of daly ife and comerenend the ways in whieh urran beings Ive ther geographycty. The used methodology was biblographical revision and corelation to phencmnerological theories It 1S understood thatthe assumption of an adventurous and curious posture in relation to the cosmos where the geographer is fundamental inorder to read effectively the space Keywords: shenorenoloay, belng-n-the-word, geographical. (RE)VUE LE MONDE POUR LIRE L'ESPACE : EXISTENCE ET (AUTO)CONNAISSANCE A LA GEOGRAPHIE HUMANISTE Résumé: Au consider ls propositions de la phénoménolog exstertiaist, particulérement cete anpuyde en Merleau-Ponty, cet essai lanai les possibites expleatives sur ls logiques an vigueur cans les pratques de recherche des geographies humaristes. A ravers du Concent de monde et ce son inségarabilté avec le sujet cul est dessus, on vise déchffer les spatialtés du quotisien et comprendre les fagons par lesquels las étres humains vivent en son g@ographicté. Les metnodclosies unisées ont ei@ le révision biblographique et Corrdation aves les theories de fa shéromanalogie Cn entend que fadoption dune posture de curate et averture en relation au cosmo le geographe est nets est fondam=ntal por a possibile de ire eifecivement Ie Mots clé chénamenologi; ére-aurmonde; gsographioné 1. Doutorando.em Geografa no Instituto de Estudos Sacioambientais da Universidade Federal de Goids (ESA/UFG), mestre em Geografia pelo ESA/UFG, graduado em Geogyafia pela Universidade Federal de Uberléndie. ORCID: tip force. org/0000-0008-2630-657% E-mail carlosroberto2004@gmal com 2. Professora permanente do Programa de Pés-Graduagéo em Geowafia do Instituto de Estudos Socioarnbientais da Universidade Federal de Goids (IESA/UFG), doutore em Geogratia pela Université de Bordeaux Il, mestre em Geografia pela Université de Bordeaux lle graduada em Geogratia pela Universidade Federal de Minas Gerais. ORCID: nttos/oreid.org/0000-0002-4765-3954. E:maik mgdealmeida10@gmailcom. Apontamentos iniciais A retomada recente das discussées acerca das abordagens culturais em geografia tem acalentado debates quanto as proposigées tedrico-metodolégicas da perspectiva humanista. Fora do ostracismo provocado pelo dogmatism e totalitarismo metodolégico imposto durante as décadas de 1970, 1980 e 1990 (AMORIM FILHO, 2007; ALMEIDA, 2008), nos anos recentes os gedgrafos humanistas vém adquirindo certo protagonismo. Pautados em abordagens diversas da fenomenologia, seja esta existencial, postica ou transcendental, esses constroem uma geografia fundamentada no conceit de lugar como forma de entender a percepgao e sentido que os sujeitos atribuem aos espacos em que se inserem. Na relacao com 0 mundo vivido, os pesquisadores dessa perspectiva visam compreender aspectos simbdlicos © existencials das espacialidades. Pela consubstancializagSo do existir como ser-no-mundo, os fenomendlogos destacam que € necessério decifrar as experiéncias e ldgicas de vida dos diferentes grupos e sujeitos sociais Entende-se, portanto, que a autorteflexdo do gedgrafo acerca de sua experiéncia espacial cotidiana pode ser um caminho para rever 0 mundo e imergir na leitura do espago geografico. Na retomada desses elementos das geografias heroicas © de velas desfraldadas (DARDEL, 2011), € possivel compreender a dinamogenia do universo que se abre para além dos componentes materiais da existéncia Desse modo, no texto intenta-se propor um repensar acerca dos posicionamentos dos gedgrafos, em particular da perspectiva humanista, na condigao de seres-no-mundo. Por meio desse aporte, se faz possivel idealizar uma postura de aventura e curiosidade em relagao ao mundo em que se inserem. Na intencionalidade respalda-se uma postura de desver a realidade sistematica da ciéncia tradicional em prol de um cosmo em que o homem vive sua geograficidade. Para tanto, buscourse relacionar @ bibliografia geografica concernente com as tematioas abordadas pela filosofia fenomenolégica existencialista de Merleau-Ponty. Também sao elaboradas relagdes com tematicas afins da Geografia Cultural, renovada para que se possa atingir maior compreensao das abordagens adotadas. O texto se divide em duas partes: a primeira aborda o hist6rico ¢ os principais elementos da Geografia Humanista: 4 segunda se propée a relacionar o ser no-mundo com a geograficidade da pratica de pesquisa do gedgrafo. O pesquisar na Geografia Humanista Em meados do século XX, até os anos 1970, a Geografia se atentou em transitar por uma vertente primordialmente pautada no neopositivismo. Ere ume ciéncia quantitative que se ocupava da espacializagao de fendmenos, sejam humanos ou da natureza, Essa geografia se preocupava com questées referentes a drea, forma e cartografia como fins em si mesmos. Por esse caminho intentava alcancar status efetivo de ciéncia a partir das mesmas ldgicas que regiam as ciéncias classicas. Contudo, devido as mudangas técnicas, informacionais e sociais ocorridas 20 longo das décades posteriores, esse maneira de atuar se mostrou insatisfatoria para muitos pesquisadores (CLAVAL, 2074). As explicagdes necessérias para um mundo de constantes € aceleradas metamorfoses exigiam que os gedgrafos fossem para além do inventério e quantificagao. ‘Ao mesmo tempo, surgiram incémodos quanto ao fato de que havia se perdido algumas das caracteristicas fundamentais que fizeram dessa disciplina uma ciéncia moderna desde meados do século XIX. Na geografia tradicional, ¢ atengao 0s modos de vida © 4s relages homem-natureza, (EVER O MUNDO PARA LEROESPACO: xsTENC ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA ainda que centrada no reducionismo da descriggo regionaliste, colaborava na construgéo de uma ciéncia humana (ALMEIDA, 2008) Aconsiderar esses dois elementos, na Geografia Humana se desenvolveram durante a década de 1970 dois grupos de gedgrafos, um pautado na construgao de uma Geografia Radical, fundamentada no materialismo histérico-dialético estruturalista; e outro, sobre o qual esse texto centra-se, focado na formagéio de uma Geografia Humanista, baseada nas diversas propostas fenomenolégicas (poéticas, transcendentais e existencielistas/existenciais). Como um dos pioneiros, Tuan (1982, p. 143) propde que “a Geografia Humanistica reflete sobre os fenémenos geogréficos com o propésito de alcangar melhor entendimento do homem e de sua condigao" Por meio dessa proposigao, com particular dispersdo nos paises Anglo-Saxées (CLAVAL, 2014), busca-se a retomada de aspectos da geografia tradicional, mas os atualizando para refletir acerca da condigao humana. Gomes (2010, p. 313) aponta que “trate-se de reintroduzir, através do humanismo, os conceitos de base da geogratia cléssica, como os de género de vida" de modo 2 incorporar a percepgao e experiéncia dos sujeitos aos estudos geograficos. Para Adams, Hoelscher e Till (2001, p. 16), "emulating their late-nineteenth and early-twentieth- century counterparts (George Perkins Marsh, Vidal de la Blache, J. K. Wright), they examined literary texts, art, photography, and film"®, Também hé uma retomade do didlogo com a arte como maneira de evocar as representacdes subjetivas do espago que sdo projetadas em toda obra humana, As sensibilidades do mundo apresentado pelo cotidiano e capturadas pelos artistas oferecem prospec¢o de humanizagao da disciplina. Salienta-se ainda que "nunca houve um afastamento efetivo de geografie cultural, mas uma procura em se distinguir dos que se utilizavam do positivism como metodo" (HOLZER, 2008, p. 146). Por ndo serem reciprocamente a mesma coisa, a Geografia Humanista apresenta diversas contribuigdes para 0 movimento de renovacéio da Geografia Cultural desde a década de 1970 (ALMEIDA, 2008), assim como a titima subsidia no afastamento das perspectivas de descrigaio observagao retomadas pelos humanistas. De acordo com Claval (2014, p. 240), "a geografia humanista traz uma lufada de frescor a uma disciplina que a estatistica tinha um tanto ressacado” por conta de seu foco consciente naquilo que se refere ao homem. Volta-se a preocupacao com a maneira pela qual os sujeitos pensam, constroem e fazem suas espacialidades de vida cotidiana, Os géneros de vida e saberes populares permeiam discussdes de interesse geografico retomado. Entrikin e Tepple (2006, p.31) ressaltam que “they challenged what they viewed as an overemphasis on analytic simplicity that seemed to distance human geography from the creative and chaotic flux of everyday life"’. Ao se opor a0 positivismo e aos neopositivimos, apresentaram a proposta de compreensdo da vida como ela efetivamente transcorre por aqueles que a vivem. E humanista porque compreende o humano em sua centralidade significative, como aquele que realmente faz do mundo um todo coerente. Se ‘por humanismo pode-se entender uma teoria que toma o ser humano como fim ultimo como valor supremo" (SARTRE, 2014, p. 42), compreende-se que essa perspectiva geogréfica decifra ‘© espago por meio do e com fim em entender o humano. Apesar da aparente soberbe antropocentrista, ndo ha um posicionamento de ver a humanidade enquanto acima do mundo, mas decifra-los em sua indissociabilidade e sensibilidade ativa. 3 “Emulando suas contrapartidas do final do século XIX e inicio do século XX (Geoge Perkins Marsh, Vidal dela Blache, J. K. Wright), eles examinaram textos iterarios, arte, fotografia filmes" (ADAMS; HOELSCHER; TILL, 2001, px, tradugao ive). 4 ‘Eles desafiaram o que via como uma énfase excessiva na simplicidade analltica que parecia distanclar a eografia humana do fluxo criative e caético do cotidiano’ (ENTRIKIN; TEPPLE, 2006, p. 31, traduga livre). 3 (cE Ographa, vol 25, 0.54, Marandola Jinior (2010, p. 13), em uma perspectiva mais proxima a Heidegger, defende que ser humanista ‘envolve pensar ¢ fazer prosperar o que hd de humano no homem: sua humanidade” Para 0 autor, é na sustentagao daquilo que sobrepde a linearizagao das temporalidades € espacialidades, no acatar das emogoes, afetividades e sensibilidades que se manifesta um humanismo pleno. © humano, nesta leitura, refere-se a um sujeito constantemente ativo que dé sentido ao ser existir e € livre Esse ponto de vista importante por possibilitar compreensdes do social centradas na escala do humeno. Segundo Gomes (2010, p. 328), ela “trata exatamente das representagdes de ordem simbdlice que estruturam uma atitude © ume concepgao dadas em relagao 4 um espaco de referéncia’, de modo a partir da perspectiva dos sujeitos que vivem essas espacialidades para interpretar suas representagdes. Como ressalta Almeida (2008, p. 35), “adotando a visio humanista, o gedgrafo com certa fismeza © consenso, ndo se contenta de estudar o homem que apenas produz ¢ amplia para uma andlise mais rica do individuo e da saciedade, do homer que pensa, que cria’. Em transcendéncia és perspectivas materialistas e neopositivistas, os humanistas visarn decifrar um sujeito que ndo & apenas um trabalhador (no sentido marxista) ou produtor/indicador demogréfico (no nexo positivista). ‘Ao abarcar’o esforgo que sempre fizeram para se elevar, pela consciéncia, fora do quotiieno, do contingente, a fim de encontrar um significado para a sua experiéncia’ (CLAVAL, 2014, p.233), os gedgrafos humanistas oferecem possibilidades de ressaltar a inseparabilidade entre os componentes materiais e simbélicos da existéncia, Outrossim, trouxeram de volta para a geografia contemporénea as possibilidades de se discutir cultura e simbolismo, que estavam presentes de maneira incipiente nos gedgrafos tradicionais que discorriam sobre géneros de vida e paisagens-regides, como Vidal de LaBlache e Humboldt (CLAVAL, 2014). Essa proposigao de retorno as origens da disciplina se manifesta como resposta contraponto ao pensar cartesiano e se nutre de diversas fontes. De acordo com Imazato (2005, p 513), “the intellectual sources of such humanistic geography can be distinguished in two directions: humanities and social sciences. The former was mainly advanced by Tuan and Relph’8, que se aproximaram de temas da psicologia, arquitetura, filosofia ¢ artes. Ainda que com divergéncias, os dois geégrafos anglo-saxdes evocam a discussao do espago pare além daquilo que # aparente € visivel Para Tuan (1982, p. 162), a preocupagao do gedgrafo “é esclarecer o significado dos conceitos, dos simbolos € das aspiragdes, & medida que dizem respeito ao espago e ao lugar” para construir um arcabougo acerca da experiéncia espacial humana. Pelo seu pensamento, fundamentado na fenomenologia poétice de Bachelard, os procedimentos interpretativos dos gedgrafos s40 pautados em observagdes acerca da maneira como o espago habitado se define por meio das humanidades. Segundo Buttimer (1993, p. 59), antes de Tuan acreditava-se que "geographers should focus ‘on space, the outer sense; to historians belonged the study of time, the inner sense, and all that this implied in. terms of emotion and human experience”®, A incorporacao do posicionamento existencial e fenomenolégico ocasionou na possibilidade dos gedgrafos também explorarem 5 “As fontes intelectuais dess= Geografia Humanista podem ser distinguidas em duas diregSes! das humanidades © das ncias sociais. A primeira fol avancada primordialmente por Tuan e Relph- (|MAZATO, 2007, 9.613, tradugao live) 6 “Gedgrafos deveriam se focar no espaco, no sentido externa; ja 0 estudo do tempo, do sentido interno, ficava para os historiadores junto com todas as implicagdes em termos de emogo e experiéncia humana.” (BUTTIMER, 1993, p.59, tradugdo livre). 4 (RAVER OMUNOD PARA LERO ESPACE: PuSTENCIA ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA sentidos intermos relativos a seu campo de estudo. As emogdes e experiéncias humanas argumentam Buttimer (1993) e Tuan (2013), ndo s8o somente temporais, conectadas e uma meméria sem local, mas indissociavelmente espaciais” Nas formulagdes em que se embasa Tuan (2013), 0 espago abstrato, geométrico matematico, é transcendido pelos sentidos humanos que o habitam (BACHELARD, 2008). Sua perspectiva se enquadra na concepgo de que "uma simples imagem, se for nova, abre um mundo. Visto das mil janelas do imaginario, o mundo & mutavel” (BACHELARD, 2008, p. 143), investida que proporciona uma possibilidade de interpretar as posticas do espago por meio do lugar. Pela leitura fenomenolégica do mundo, o nexo é analiser como os espagos indiferenciados abstratos se transformam em lugares (TUAN, 2013). Holzer (1999, p. 70) considera que “a preocupacao dos gedgrafos humanistas, seguindo os preceitos da fenomenologia, foi de definir 0 lugar enquanto uma experiéncia que se refere essencialmente, ao espaco como é vivenciado pelos seres humanos" de modo a tornar esse o principal conceito desse grupo de pesquisadores. Associados, paisagem e lugar, conceitos-chave da Geografia Humanista, possibilitam leituras das diferentes formas de interagir no mundo e arquitetar espacialidades ricas em subjetividades. Desta maneira, o mundo deve ser entendido em sua vivéncia, na multiplicidade de experiéncias que se fazem a partir da maneire pela qual os sujeitos existem pelas rupturas das imposigdes. Essa perspectiva assenta-se em uma interagao constante com os sujeitos que vivern no/do espago, de modo a estabelecer didlogos pautados na alteridade e empatia. Entre suas principais contribuigdes, a Geografia Humanista aponta para “the potential of research as a process of empowerment to subjects’ (RODAWAY, 2006, p. 270)%. Pela abordagem em campo de propor conversas, imersGes e interagdes que vao para além dos roteiros tradicionais, consideram ser possivel fazer 0s sujeitos (e si mesmos) repensarem sua posigao no mundo, Dessamaneira, 8 prépria pesquisa ¢ vista como um processo emancipatério em que os lugares s40 postos como niicleos de significados e ago. Claval (2014, p.224) aponta que “a fenomenologia transformouas perspectivas dos gedgrafos que a descobrem, porque lhes revela que os lugares nao so pontos anénimos num espago neutro; a Terra nao é uma superficie terrestre’. Na retomada das especificidades e significagées dos espacos que os sujeitos habitam e transformam, os gedgrafos humanistas podem oferecer um ponto de vista de desvelamento da realidade que perpassa pela nogao de um espago que se cria dialeticamente na relaqao sujeito-mundo, Indaga-se, desse modo: como esse nexo afeta a Geogratia? Aventura e curiosidade geografica na geografia contemporanea Merleau-Ponty (1973) considera que ha reciprocidade entre as ciéncias humanas e a fenomenologia e "este acordo nos promete uma solugdo para o problema das relagdes entre ciéncias do homem e filosofia” (MERLEAU-PONTY, 1973, p. 64). Pelas contribuiges dos fenomendlogos, surgem na ciéncia geografica cariinhos para rever outras grafias da Terra. Por esse embasamento de uma espécie de “antropologia filosdfica” emerge a possibilidade de abarcar elementos hodiernos da experiéncia espacial dos sujeitos em relacéo ao/no mundo. As incurs6es espaciais que os humanos realizam em seus cotidianos, desta forma, podem ser lidas como temas importantes para compreender as percepgdes € sensagdes. Ao ultrapassar as 7 Ressalta-se que essa linha de estudos repercute atualmente nas Geogratas da Emarao e Afetividade, conforme delineia Pile (2010), 80 potencial da pesquisa como processo de empoderamento dos sujeitos’ (RODAWAY, 2006, p.270, traducdo live). 5 (cE Ographa, vol 25, 0.54, materialidades € visibilidades da Terra @ serem decifradas, ¢ perspective fenomenologioa permite uma abordagem holistica e (mukt)relacional. Silva (1988, p. 127) destaca que é substantivo “construir 0 conhecimento geogréfico a partir de uma visdo néo fragmentada do mundo’, que consiga abarear a densidade dos vinculos e das préticas humanas em todas as dimensées. A fenomenologia oferece uma perspectiva de compreender os fendmenos espaciais do modo como eles se apresentam para nossa consciéncia Reaprender a ver 0 mundo, propde Merleau-Ponty (2071), permite abranger sujeitos que vivem de maneira ativa nesse cosmo Para que seja possivel entender as relagdes espacializedas dos seres humenos em sue densidade existencial é fundamental que se realize um proceso de imersao no universo a ser investigado. Na concepcao dos gedgrafos humanistas, 0 lugar e suas espacialidades ndo podem ser vistos ou cartografados somente racionalmente, pois se apresentam pela experiéncia relacional daquele que o vive, seja efetivamente ou como representagao. Sem um sujeito que, por meio de sua consciéncia, efetive a existéncia do espago, tudo que existe é abstragao. De acordo com Gomes (2010, p. 328, grifos no original), “a nova importancia da fenomenologia é dada pela compreensao do lived world, que relativiza a verdade Unica do método racional’. Valoriza-se, desse modo, as intetpretagdes e percepgdes de cada individuo ou grupo social a set estudado, Se esse mundo ¢ vivido, ele se refere ao repertorio existencial do cosmo daquele que nele habita. Por transcender a condiciio de substrato, o mundo (vivido) é visto em sua inseparabilidade do sujeito. A fenomenologia existencialista considera que “o sujeito € ser-no-mundo, e 0 mundo permanece ‘subjetivo’, j4 que sua textura e suas articulagées so desenhadas pelo movimento de transcendéncia do sujeito” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 576, grifos no original). Mundo e sujeito se retroalimentam porquanto a consciéncia se encontra sempre a trabalhar ativamente em um mundo pré-existente e, simultaneamente, esse mundo 36 tem sentido porque essa consciéncia o atribui Segundo Wrathall (2006, p. 88), ‘what we experience as we move through the world temporally and spatially is the unfolding of a unity, the changing aspects of a unified whole that precedes and underwrites my particular apprehension of it’3. Esse mundo, reciprocamente, também é afetado pela maneira em que © sujeito se desloca por ele. E pela experiéncia criativa advinda da percepeao e interpretagao que as praticas cotidianas arquitetam modos de viver as espacialidedes. Destarte, “a coisa € 0 mundo $6 existem vividos por mim ou por sujeitos tais como eu, j4 que eles sao 0 encadeamento de nossas perspectivas, mas transcendem todas as perspectivas porque esse encadeamento € temporal ¢ inacabado" (MERLEAU-PONTY, 2071, p. 447). O mundo vivido € sempre uma relacdo entre uma consciéncia, ser para-si e em-si, e um cosmo de seres em-si cujos significados s40 atriouidos por esse ser para-si |sso se manifesta porquanto, como discorre Wrathall (2006), 0 mundo € um fenémeno existencial em seu préprio direito. Para a fenomenologia existencialista, ‘we are not primarily thinking beings, but rather embodied active beings in the world’ (WRATHALL, 2006, p. 38)"°, de modo a que essa relagdo que nos define também defina reciprocamente 0 mundo. Do ponte de vista geografico, se trata de viver © sentir 2 Terre como forga de fazer desses cosmos, lugares. 270 que expetienciamas ao moveimo-nos pelo mundo temporslmente = espacialmente € 0 desdobramento de uma unidade, os transformatives aspectos de um todo unificado que precede e subscreve minha apreensao particular dele” (WRATHALL, 2006, p.38, tracugao live) 10"nés no somos primordialmente seres pensantes, mas seres corparificados ativos no mundo" (WRATHALL, 2006, p. 28, tradugao livre). (EVER O MUNDO PARA LEROESPACO: xsTENC ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA Da mesma maneira, ‘phenomenologically, place is not the physical environment separate from people associated with it but, rather, the indivisible, normally unnoticed phenomenon of person-or- people-experiencing-place" (SEAMON, 2074, p. 11)". Como seres-no-mundo, € pela experiéncia coletiva ou individual dos sujeitos que os lugares adquirem substancialidade. Ao (re)ver 0 mundo a partir do olhar geografico, é necessério interpretar que ele nao é apenas uma construgao simbdlica ou material, mas uma unidade relacional sujeito-mundo. Besse (2007, p. 14) abarca, a partir da experiéncia de Petrarca, que “ser no espago é diferenciar-se indefinidamente de si, e ent&o no se pode falar propriamente de ser, se ser é ser uno" logo existir no mundo é insepardvel da base tépica ~ espacial - que faz dele parte do mundo. Ser é existir em alum lugar em algum momento, é ocupar um corpo-veiculo que permite se posicionar. A consciéneia para-si atua no cosmo mediada pelo corpo em-si que dela no se separa. O mundo vivido “se estabelece a partir do corpo humano, 0 corpo-de-um-sujeito, o corpo que 4 0 préprio sujeito-como-cogito” (HOLZER, 2014, p. 290, grifos no original) que pensa e existe. Pelo contato estabelecido entre vivéncia e existéncia por meio das relagdes corporificadas, é que os sujeitos se fazern enquanto entes em um mundo. De acordo com Merleau-Ponty (1973, p. 62) 0 corpo 60 meio de saber que existem outros corpos animados; 0 que significa que seu préprio vinculo com minha consciéncia é mais essencial, é um liame interior’, de modo @ apontar que € esse cogito que age @ intenciona acerca dos mundos que 0 cercam, 2 se relacionar, destarte, com as outras consciéncias que nee existem A corporeidade da consciéncia é 0 que faz com que 0 ser-no-mundo, portanto pararsi e em-si, atue efetivamente em um pretenso universo vazio de significados e efetive 0 espago e os lugares. Nessa intimidade existencial, hd reciprocidade entre a atividade consciente do ser e a efetividade cognoscivel do mundo. Como o filésofo Merleau-Ponty (2011) discorre, no é o caso da consciéncia gestar 0 mundo, mas dela sempre se encontrar atuante em um mundo e dele fazer sentido, transformando-o em outro cosmo. Na perspectiva da fenomenologia existencialista do autor, “tudo nos reenvia as relagoes organicas entre 0 sujeito e 0 espaco, a esse poder do sujeito sobre seu mundo que é a origem do espago” (MERLEAU-PONTY, 2011, p. 338). E no devir serno-mundo que o stjeito (re)cria as espacialidades de sua vida cotidiana. Pelas constantes atribuigdes de significados aos seres-em-si localizados espacial e temporalmente pode-se pensar em um espaco geoaréfice a partir do ponto de vista do pensamento consciente do sujeito Se Gomes (2009, p. 25) indaga ‘que caracteristica marca a reflexdo e a contribuicéo da geografia no estudo de certos fenémenos?", também nos cabe perguntar de que mado os gedgrafos, ‘como seres-no-mundo, alcangam a compreensdo desses nexos espaciais dos fendmenos? Se o pesquisador dessa ciéncia também ¢ dotado de ume existéncia fundamentalmente espacial, € possivel 0 separar desse espago para decifré-lo? A resposta provocada pela perspectiva humanista se manifesta na possibilidade de constantemente desver 0 mundo em que se insere para posteriormente revé-lo e desvelar sua espacialidade. Essa posture, como ja apontava Dardel (2011, p. 31, grifo no original), “coloca em questo a totalidade do ser humano, suas ligagdes existenciais com @ Terra, ou, se preferirmos, sua geograficidade original: a Terra como lugar, base e meio de sua realizagdo”. No lavrar do relacionar- se com a espacialidade primitiva, 0 sujeito, portanto, faz-se humano justamente pela virtualidade de interagao com o mundo em sua geogratia existencial 111 Fenomenologicamente, lugar ndo é 0 melo fisico separado das pessoas a ele associado mas, em verdade, 0 indivisvel, normalmente no percebido fendmeno de pessoa-ou-nessoas-experienciando-lugar® (SEAMON, 2074, p11, traduro livre) 7 (cE Ographa, vol 25, 0.54, Holzer (2074, p, 292), contribuir com a idels de Dardel (2011), discorre que" geograficidade, como esséncia, define uma relac&o ~ a relagSo do ser-no-mundo’, é uma danga constante que se instala no devir do existir. Ao rever © mundo, a geograficidade dos fenémenos pode aflorar & consciéneia do sujeito-pesquisador a partir do proceso de imersao consciente a0 mundo. Pela intencionalidade efetivada nessa compreenséo, o espaco se desdobra da imaginaco geografica nele projetada Como condigao espacial de existéncia no mundo, a geograficidade desdobra a realidade geogratica dos fendmenos @ serem explorados, As légicas mundo-sujeito em fluxo no cosmo relacional que gera o espago no sentido de MerleaurPonty (2011) se desvelam como substancialiade de um existir em que o humana ocupa lugar central, mas que nao se separa dos elementos err-si que © cerca, da realidade geografica que, por vezes, é a manifestagdo da opressdo dos contextos € situagdes (DARDEL, 2011). E pela corporeidade inerente da consciéncia que se faz factivel viver 0 e5pago em sua geograticidade Experienciar essa geografia significa se abrir para o mundo. E nutrir a inquietagao acerca dos componentes das situagdes em que, como pesquisador e sujeito, se esta inserido. Em acordo com essa ideia, Rodaway (2006, p. 268) considera que “fundamentally, the people-centred approach of humanistic strategies means that knowledge, or knowing, is primarily subjective, and subsists in the relationship between researcher and what is researched"? Ao se centrar ne experiéneia do proprio ato de pesquisar, 0 foco no sujeito/ser ocasiona na acepedo de que todo conhecimento é resultante de uma inquietago, necessariamente subjetiva do mundo, Na geograficidade cotidiana da pesquisa enquanto agao consciente ¢ dotada de intencionalidade, o sujeito se projeta rumo ao cosmo de modo a explorar os espagos intersticiais do existir por meio de seu desconforto que se manifesta como interesse cientifico-curioso. Nesse mergulho rumo ao mundo, ‘a curiosidade ¢ realmente uma instabilidade, ou seja, a impossibilidade de um repouso verdadeiro” (BESSE, 2007, p. 12),0 miolo propulsor paraa compreensao de um espago dotado de complexidades que se abre para a percengao Como “a curiosidade caminha junto com um impulso ao novo e ao desconhecido, um desejo de saber e entender o mundo & nossa volta” (MARANDOLA JUNIOR, 2010, p. 10), é por meio dela que © sujeito/pesquisador se arremessa rumo & imensidao do vazio/mundo e constitui novos significados. E necessério se incomodar com aquilo que jé esta colocado, com as explicagdes aceitas, de modo 4 desver o universo cotidiano muitas vezes imposto, para que 4 curiosidade aflore. Ao atigar os sentidos para aquilo que est para além do proposta e aceito, é possivel rever os cas mos em que ‘0s humanos se inserem e esbocar caminhos provaveis. De certo modo, todos os humanos nascem com esses instintos porque, como espécie, @ humanidade € uma etema némade. Nunce se satisfez com 2 conquista intelectual ~ ainda que limitada, superficial e controverse ~ de conhecer a Terra ¢ os astros préximos, sempre @ buscar ir para além, Como discorreu brilhantemente o fisico Sagan (1980), o destino dos seres humans é uma constante expansao rumo ao desconhecido, pois somos a personificago local de uma forma de autoconhecimento césmico (SAGAN, 1980). Tomadas em sua relatividade, como j4 nos retratou Wright (1947), as terrae incognitae, de microgeografias ainda no exploradas, so pontos de ignigéo para a curiosidade geogréfica. 12 ‘Fundamentalmente, @ abordagem pessoa-centrica das estratégias humanistas significa que 0 conhecimento, ou conhecer, é primordialmente subjetivo e se embasa no relaclonamento entre 0 pesquisador e aquilo que é pesquisado” (RODAWAY, 2006, p.268,traducdo live), 8 (RAVER OMUNOD PARA LERO ESPACE: PuSTENCIA ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA Mergulhar rumo @ exterioridade cognoscivel pare devifrar as existéncias © relagdes estabelecidas pelos seres-no-mundo é, portanto, um ato intencional que deriva da instabilidade criativa daquele que pesquisa. E por visar compreender em profundidade determinado fenémeno rumo a0 que torna ele um fato, ainda que subjetivo, que 0 sujeito-pesquisador intenta aventurar-se no cosmo para desbravar as terrae incognitae. Da mesma maneita, Amorim Filho (2007, p. 15, grifos no original) indaga-se: “onde foi parar este espirito de aventura que, desde as origens mais remotas e durante a maior parte de seu desenvolvimento, tem constituide © alimentado 0 espitito geogratico, essencial para o verdadeiro gedgrafo”. Estaria uma proposta de réplica ne leiture do espago a partir da curiosidade de desvelar de suas geograficidades? Consideramos que para entender a existéncia e condi¢ao original do homem com a Terra é fundamental se perder no mundo. E justamente por ser-no-mundo que o gedgrafo tem a condigao de interpretar essa experiéncia por meio da forma como ela se apresenta para sua consciéncia € pare 2 consciéncia do outro, Pela empatia que o pesquisador projeta, ele se aventura na consciéncia do outro sem perder de vista que, como pondera a reflexao de Merleau-Ponty (2014, p. 41), ‘de tudo 0 que vivo, enquanto 0 vivo, tenho diante de mim 0 sentido, sem o que nao o viveria endo posso procurar nenhuma luz concernente 20 mundo @ no ser interrogando, explicando minha frequentagzo do mundo, compreendendo-a de dentro", Mesmo assim, outros autores ressaltam que ‘empathy and understanding of unknown/different/distant worlds is never guaranteed and involves emotional labor to glimpse the world through another's perspective” (ESHUN; MADGE, 2016, p. 6)'. E possivel, como interpreta Merleau-Ponty (2014), identificar que a prética dessa psicondutica no mundo alheio, em que o gedgrafo mergulha em um mar de significados envolve uma compreensao interna do mundo cotidiano que exige duro trabalho emotivo-social ‘Ao adotar uma inclinagao de decifrar o cosmo cotidiano a partir do espago implica-se também entender que, como propde o geégrafo cultural radical Cosgrove (1998, p. 121),"a geografia esté em toda parte, reproduzida diariamente por cada um de nds’. Ha elementos de espacialidade e geograficidade nas agdes banais da vida hodierna e se propor @ manter a atitude de aventurar no espaco implica em também compreender essa geografia inerente & existéncia O entrangamento cotidiano estabelece um mundo de vivéncias em que o espago transparece como fundo ¢ resultado das ages cosmo relacionais em que os sujeitos se inserem. Segundo Coates e Seamon (1984, p. 8), 0 “lifeworld is a person and group's world of taken-for-grantedness and is normally unnoticed and unquestioned”, destarte interconectado as situagdes tomadas pelos humanos como "banais’. Essa ndo-perceptividade se desdobra da maneira pela qual os lugares paisagens se repetem ao longo da vide © passam a ser assumidos como eles s4o/foram, sem que se reflita efetivamente acerca deles. Nessa perspectiva fenomenolégica existencial, é possivel apreender que "hd tantas geografias quantas sao as percepgdes do mundo” (GOMES, 2010, p. 327) e, destarte, gedgrafos. Como ser-no- mundo, 0 gedgrafo deve decifrar a perspectiva e percepao das espacialidades dos sujeitos sem perder de vista suas considerag6es © sua consciénoia acerca dos lugares © paisagens abercados. Seu trabalho no pode se resumir a apresentar a perspectiva do outro, deve relaciond-la teoria concernente e se posicionar nela 18 “Empatia e compreensdo de mundos desconhecidos/diferentes/distantes nunca é garantida e observar uma lasca do mundo pela perspectiva do outro envolve labor emocional (ESHUN; MADGE, 2076, n6,traducab ivr). 14 "Mundo vivido ¢ © mundo de elementos tomados-por-garantides por umia pessoa ‘ou grupo e € normalmente imperceptivel e inquestionado" (COATES; SEAMON, 1984, p. 8, taduedo livre) 9 Como ressalta Marendola Junior (2016, p. 142), parece ‘igualmente necessério 20 aprofundamento tedrico a imersdo sem reservas no mundo, a abertura para experiéncias diversas € o exercicio desse ser-e-estar-no-mundo constante, via sentidos”, Ao se projetar na vivéncia hodierna e experienciar o existir por meio de suas capacidades corporificadas (MARANDOLA JUNIOR, 2010), 0 pesquisador deve permitir que sua relagdo com os mundos que o cercam resultem em autoconhecimento e em uma escrita que supere o descritivismo e as andlises "secas’ da realidade (ESHUN; MADGE, 2016) Terem vista essa geograficidiade inerente é se aventurar tanto na pesquisa quanto na prética da Geografia Humanista. E necessério destreinar 0 olhar viciado proposto pelo pragmatismo cientifico para se reencantar pelo mundo (ADAMS; HOELSCHER; TILL, 2001) em busca de uma proposta auténtica de pensar © espago. Toda geogratia, como aponta Dardel (2011), ¢ humana porque tem no seu centro um ser hurnano que pensa, elabora e relaciona os elementos de um espaco ‘que ndo pense acerca de si mesmo, que é, fundamentalmente, um em-si, cuja existéncia é respaldada no ser para-si, pensante, que a ela atribui significado. Em se tratando da Fenomenologia Existencialista, principalmente respaldada em Merleau- Ponty (2011), € sempre necessério fazer © apontamento de gue as coisas nao pensam sobre si mesmas por serem sefes em-si e nao para'si, de modo similar & distingao de Parménides de Eléia acerca do ser e ndo-ser. Cabe ressaltar que, conforme 0 fildsofo, “a coise nunca pode ser separada de alguém que a perceba, nunca pode ser efetivamente em si, porque ela se pde na extremidade de um olhar ou ao termo de uma investigacao sensorial que a investe de humanidade" (MERLEAU- PONTY, 2011, p. 429). ‘Ao ver uma determinada coisa, no sentido fenomenolégico (MERLEAU-PONTY, 2001), entende-se que hd nela um simbdlico que a liga &s suas qualidades sensiveis e que é por meio da introjegao do ser que se relaciona com ela que ela se transforma em um objeto explordvel. Para Merleau-Ponty (2018, p. 134), destaca-se que “a coisa vivida nao é reconhecida ou construida a partir dos dados dos sentidos, mas se oferece desde 0 inicio como o centro de onde estes se irradiam’, em uma possibilidade constante de didlogo entre coisa-sentido-ser. Na mesma perspectiva, apreende-se que “the phenomenological researcher attempts to view a thing in terms of how it would describe itself ifit could speak” (COATES; SEAMON, 1984, p. 7)'5 de modo a se colocar como um explorador curioso que nao apenas vé, mas olha, desvela e reve Da mesma maneira, para Cosgrove (1998, p. 96), se aventurar é nao perder “o sentido de maravilhar-se com 0 mundo humano, a alegria de ver e refletir sobre o mosaico ricamente variado da vida humana e de compreender sua elegancia’. Por meio da proposte de mergulho profundo nas praticas hodiernas em sua geograficidade inerente, cabe ao gedgrafo encantar-se para decifrar(-se) E necessério que 0 pesquisador se deixe sentir, projete emogdes ¢ consiga utilizé-las como maneira de desvelar as espacialidades. Como discorre Gratdo (2010, p. 321, grifos no original), “sentir a Terra é sentir a chuva na pele, a brisa refrescante no rosio, o sol escaldante dos trdpicos em todo o corpo. Sentir a paixdo que queima o corpo e 0 coragao". Como a gedgrafa propoe, é embaracar-se como ser-no-mundo na aventura de ver o mundo como se fosse novo todas as vezes. Cabe aprender, como Imazato (2007, p. 517), que ‘phenomenological geographers should not only reexamine everyday life but also their own common sense backgrounds". Para isso, cabe entender que 0 pesquisador nao se descola como um instrumento que analia sinteticamente aquilo 150 pesquisador fenomenoligico busca ver uma coisa nos termos em que e: (COATES: SEAMON, 1984, p. 7) 16" Gedgrafos fenomenoléaicos ndo deveriam reexaminar apenas a vida cotidiana, mas também suas préprias experiéncias de senso comum.’ (MAZATO, 2007, p. 817, tradupdo livre), saa iia se descrever se ela pudesse falar." 10 (RAVER OMUNOD PARA LERO ESPACE: PuSTENCIA ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA que foi feito para abranger, mas € sujeito dotado de experiéncias, desejos sonhos. 0 arcabougo do senso comum, tomado em suas especificidades, também tem significacdio para a pesquisa cientifica do ponto de vista humanista, Na concepgaio pés-moderna de Almeida (2013, p. 49), “penetrar o invisivel, fazer visivel 0 invisfvel, parecia ser uma habilidade reservada & poesia, a pintura, a escultura etc. A geografia, porém, esta demonstrando também ter este dom". Trata-se de desvelar as intangibilidades do mundo de modo a que seja possivel ir para além daquilo que se mostra materialmente e atingir 0 cerne das espacialidades Ao gedgrafo nao basta observar e descrever processos, é fundamental ir para além e imergir nas invisibilidades fenoménicas No tratar desse tipo de sensibilidades, Pile (2010, p. 11) ressalta que “gaining a sense of the emotional or affectual experiences and undercurrents of life involves a kind of peeling away of superficial and glib responses’. Faz-se importante transitar por indagacdes (auto)questionementos que so pertinentes aquilo que é tido como banal pars que se possa chegar ao 4mago das questées existenciais que s4o intangiveis. Na perspectiva de Merleau-Ponty (2012, p. 228), na experigncia do dilogo, fala do outro vem tocar em nés nossas significagtes, © nossa fala vai, como oatestam as respostas, tocar nele suas significagdes, invadimo-nos um ao outrona medida em que pertencemos a0 mesmo mundo cultural Esse contato-conflito entre as significagdes do outro, que também é ser-no-mundo estabelece maneiras de (des)encontros em que os mundos de um tentam anular os mundos do outro até o ponto em que eles se confluam, ao menos parcialmente. Ha sempre, no dialogar, uma aproximagao e uma autodestruicao, o momento posterior 0 que revela suas reelidades e sentidos existenciais. Ha, também significative, interlocugao de érea fronteiriga sujeito-objeto ~ indissociaveis para todos os fins ~ que provoca pesquisador e ‘pesquisado" a descascarem um a0 outro reciprocamente Por vezes, como em Magrane (2015), Cresswell (2012) e Lorimer (2014), a propria experiéncia individual do pesquisador é elencada como material investigativo para decifrar a realidade geogréfica e retroalimenté-la em textos que somam arte e ciéncia rumo & geoposticas de lirismo experimental Dessa forma, evidencia-se que € necessério permitir que o mundo adentre no existir do sujeito- pesquisador e se estenda para além do Ambito académico para que existam contribuigdes efetivas no fazer geogréifico. Na perspectiva fenomenolégica, hé sempre reciprocidade mundo-sujeito em que um sempre adentra no outro. O sujeito se insere e se desdobra no mundo, o mundo se adentra no sujeito, pois um nao existe sem 0 outro (MERLEAU-PONTY, 2012). As paisagens hodiernas e exploradas pelo cartesianismo do saber racional no se abrem para além do olhar treinado e viciado se n&o so vivenciadas por aquele que a tenta decifrar porque também so dotadas de intangibilidades. Nao € possivel separar 05 elementos subjetivos © objetivos que permeiam @ realidade geogréfica explorada pelos gedgrafos. Como provoca atentamente Silva (1986, p. 126), “quando se perde a subjetividade, perde-se, com ela, a objetividade. Por isso, recuperar a objetividade é, antes de mais nada, ter a si préprio como sujeito, como consciéncia’. E fundamental, destarte, assumir que todo conhecimento é dotado de significativa subjetividade porque brota ¢ € formulado por um sujeito que existe no mundo ¢ intencional. Para que haja conhecimento da realidade é necessario que ele parta da consciéncia de que ele é uma perspectiva do real e no o real propriamente dito 17 "Ganhar um senso das experiéncias emocionals ou afetivas e subcorrentes da vide envolve uma espécle de descascamento das respostas superficie frivolas” (PILE, 2010, p.11,tradugdo live). 1 (cE Ographa, vol 25, 0.54, E de sume importancia que se faga uma geografia humanista que se veja em transcendéncia ao conhecimento pelo conhecimento, de modo a algar autoconhecimento(s). Ao visar a compreens&o do préprio pesquisador como sujeito e objeto da pesquisa junto aos grupos ou individuos sociais a serem decifrados € possivel construir uma geografia emancipatéria que abarca a densidade existencial do espago. Rodaway, sobre essa questo, pondera que "the researcher is always and already embedded in the world he/she studies and this study impacts on one’s own sense of self, as well as one's understanding of the world” (RODAWAY, 2006, p. 263)"®. Pesquisar, dessa maneira, é ume forma de se encontrar no mundo, Explorar as geograficidades relacionais do mundo cotidiano ¢ abrir-se para sere estar, de modo a conduzir um conhecimento que seja relevante. Afinal, se ‘we are existentially dependent on being-in-the-world for any sense of self, other, ego- identity, or even alienation’ (LARSEN; JOHNSON, 2012, p. 639, grifo nosso)", é necesséio que haja ume reciprocidade constante ne atividade de pesquisa, Se héo intento de decifrar as espacialidades dos seres, sujeitos, mundos e logicas que cercam os seres humans, também deve haver um esforgo continuo para a compreensao do pesquisador-ser-no-mundo. Na perspectiva fenomenoligica de Merleau-Ponty, "nao € sabe-se la qual retraimento que nés descobriremos: é na estrada, na cidade, no meio da multidao, coisa entre as coisas, homem entre os homens” (2014, p. 57). Qu seja, é 20 se relacionar e experienciar o mundo entre humanos que o ser se faz em seu devir e, destarte, o pesquisador. Para compreender sua situacéo e produzir conhecimento acerca de outras realidades geograficas, é fundamental se autoconhecer. Na condigo da potencialidade de um conhecimento emancipador e critico da e na realidade, é basilar se entender no mundo para ler 0 espago. (Des)Caminhos “finais* Transcendente ao dagmatismo cientifico-racionalista e ao pragmatismo vigente em algumas das perspectivas da Geogratia do século XX, 2 alvorada do século XX! emerge como um contexto de multiplicidade tedrico-metodolégica. Desta maneira, diferentes elementos sdo privilegiados pelas abordagens e permitem pesquisas diversas nessa ciéncia No crescente protagonismo da Geografia Humanista, cabe compreender que suas perspectivas pautadas na fenomenologia possibilitam diversos entendimentos acerca das espacialidades humanas. Como ser condenado & sua propria liberdade, jé apontaria Sartre (2014) e Merleau-Ponty (2011; 2074), 0 humano constréi sua esséncia por meio do existir. Pelo didlogo com o conceito de mundo dos fenomendlogos, é evidente que a imerséo ao mundo cotidiano é proveitose para 0 autoconhecimento do gedgrafo como ser-no-mundo, que no é separado do sujeito e/ou objeto que estuda. Por meio da alquimia conceitual gestada pelo retorno de alguns elementos da Geografia classica em contato com o aporte dos fenomendlogos, so mapeados caminhos de pesquisa proficuos. Retoma-se o espirito geogréfico para dele partir para investigagdes em que as subjetividades e intencionalidades das consciéncias que formam o espaco a ser lido por meio des consciéncias que nele s¢ projetam ou (re)eriam 180 pesquisador est e é sempre emaranhado no mundo em que ele/ela estuda © essa pesquisa impacta no seu prépria sentido de ser, assim como na sua compreensao do mundo” (RODAWAY, 2006, p.263, radueao live) 19"Nés somos existencialmente dependentes de ser-no-mundo para que hala qualquer sentido de eu, outro, ego-identidade ou mesmo alienacdo (LARSEN; JOHNSON, 2012, 2639, tracucao livre, grifo nosso) 2 (RAVER OMUNOD PARA LERO ESPACE: PuSTENCIA ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA Por essa ponderagao, rever o mundo implica em criar um novo modo de pesquisr ¢ entender 0 sujeitos pesquisados ~ ¢ 0 préprio pesquisador ~ em que questionérios positivistas tradicionais ndo so suficientes. Logo, valorizam-se interpretagdes mais delongadas como trabalhos com histérias de vida ou didlogos sem roteiros pré-estabelecidos, a transformar a prética de campo em algo dotado de espontaneidade e efetivas reciprocidades Também se tem como impreterivel a exploragao de abordagens experimentais de escrita académica, como os trabalhos de Magrane (2015), Cresswell (2012), Lorimer (2014), Grat&o (2010) € Marandola Jtinior (2016). A escrita lirioo-sensivel de exploragdes geoposticas parece-nos ser uma alternative € lufade de vivacidace para Geografia Humanista contemporénea Nesse fértil didlogo entre realidade geogrdfica e arte, hd sementes para conhecimentos que possam reestabelecer sentidos de humanidades para as espacialidades. Explora-se, destarte, uma ciéncia que se permite sonhar € caminhar para um autoconhecimento que sé sobrepde @ arrogancia ou impositividede metodolégica pel via da sensibilidade e subjetividade. Se entender como ser-nommundo é compreender a transitoriedade e se encantar com a possibilidade de (re)ver 0 mundo todos os dias, seja na pratica ativa ou passiva de pesquisar. £ ser geografo para além do gabinete e compreender que as paisagens e lugares “banais” ou cotidianas s&0 t&o importantes quanto o trabalho tedrico-conceitual. Se trata de evidenciar que em um planeta progressivamente lineerizado pelo avango de técnicas, tecnologias e digitalidades, ainda é possivel evidenciar aquilo que concerne & condi¢do humana. Presos no pedago de poeira cosmica que ¢ a Terra, os humanos conseguiram acumular conhecimento relevante sobre alguns dos macroprocessos biolégicos, quimicos e fisicos (SAGAN, 1980), mas no que se relaciona 20 sentido do existir ainda hé muito que ser constantemente desvendado. Se a Geografia é a ciéncia que estuda o habitar humano (TUAN, 2013), ponderamos que experienciar © cosmo rumo a outros entendimentos acerca do que é ser humano ¢ existir em algum lugar, com toda @ densidade que essa proposigao traz é uma via da Geografia Cultural. Para praticar uma geografia que ¢ aventura, que parte da curiosidade espacial, que revé o mundo para compreender 0 esp2¢o, basta se perder nos trilhos da geograficidade. 13 Referéncias ADAMS, P. C; HOELSCHER, S; TILL, K. E. (2001) Place in Context: Rethinking humanist geographies. In: ADAMS, P. C.; HOELSCHER, S. TILL, K.. (Orgs.) Textures of place: exploring humanist geographies. Minneapolis: University of Minnesota Press, p. xix ALMEIDA, M. G. (2008) Aportes tecricos © os peroursos epistemolégicos de Geografia Cultural Geonordeste: revista da pés-graduagao em Geografia. S40 Cristévo, p.33-53. ALMEIDA, M. G. (2013) A propésito do Trato do Invisivel, do Intangivel e do discurso na Geografia Cultural, Revista da ANPEGE, v.9,n, 11, p. 41-50. AMORIM FILHO, 0. B. (2007) A pluralidade da Geografia e a necessidade das abordagens culturais In: KOZEL, S. et. al. (orgs.). Da percepgdo e cognigdo a representagdo: reconstrugdes tedricas da Geografia Cultural e Humanista. So Paulo: Terceira Margem, p. 1-22. BACHELARD, G. (2008) A poética do espago. Sao Paulo: Martins Fontes BESSE, J. (2007) Ver a terra: seis ensaios sobre 2 paisagem e a geografia, Sao Paulo: Labur. BUTTIMER, A. (1993) Geography and the human spirit. Harrisonburg: The Jonhs Hopkings University Press. CLAVAL, P. (2074) Epistemologia da Geografia. Florianépolis: Editora da UFSC, 2014. CRESSWELL, T. (2012) Geographies of poetry/poetries of geography. Cultural Geographies, v.21, n.1, p.141-146, COSGROVE, D. (1998) A geografia estd em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORREA, R. L; ROSENDAHL, Z. (Orgs.) Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: EDUERJ, p. 93- 122, COATES, G. J; SEAMON, D. (1984) Towards a Phenomenology of Place and Place-Making: Interpreting Landscape, Lifeworld and Aesthetics". Oz, v.6, n.1, p. 6-9 DARDEL, E. (2011) 0 Homem ea Terra. Sao Paulo: Perspectiva. ENTRIKIN, J. N; TEPPLE, J. H. (2006) Humanism and demooratic place-making. AITKEN, S, VALENTINE, G. (Orgs.) Approaches to Human Geography. London: SAGE Publications, p. 43-41 ESHUN, G.; MADGE, C. (2016) Poetic world-writing in a pluriversal world: a provocation to the creative (e)turn in geography. Social & Cultural Geography. v.7, n. 3, p. 1-9. GOMES, P. C. C. (2009) Um lugar para a Geografia: contra o simples, o banal e o doutrinatio. In: MENDONGA, F.; etal. (Orgs.). Espago © tempo: complexidade e desafios do pensar € do fazer geografico. Curitiba: Associagao de Defesa do Meio Ambiente e Desenvolvimento de Antonina, p. 13- 30. GOMES, P.C.C. (2010) Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil GRATAO, LH. B. (2010) Por entre becos & versos ~ 4 postica da cidade vi(vijda de Cora Coralina. IN MARANDOLA JR, E; GRATAO, L. H. B. Geografia e Literatura: ensaios sobre geograficidiade, postica e imaginagao. Londrina: EDUEL, p. 297-328. HOLZER, W. (1999) 0 lugar na geografia humanista. Revista Territorio, Rio de Janeiro, ano IV, n°7, p. 67-78. HOLZER, W. (2008) A Geografia Humanista: ume revisdo. Espago e cultura, Edi¢do Comemorativa, p. 137-147. HOLZER, W. (2074) Mundo e lugar: ensaio de geografia fenomenolégica. In: MARANDOLA JR., E; HOLZER, W.; LIVIA, 0. Qual o espago do lugar? Sao Paulo: Perspectiva, IMAZATO, S. (2007) Rethinking the Humanistic Approach in Geography: Misunderstood Essences and Japanese Challenges. A 3¢4#8 (Japanese Journal of Human Geography), v.59, n.6, p. 508-532 4 (RAVER OMUNOD PARA LERO ESPACE: PuSTENCIA ETATOOGHECENTO Na GEOGRAFIA HOMBNISTA LARSEN, S. C; JOHNSON, J. T. (2012) Toward an open sense of place: Phenomenology, affinity, and the question of being, Annals of the Association of American Geographers, v.102, 3, p. 632-646. LORIMER, H. (2014) Homeland, Cultural Geographies, v.21, n.4, p.5 83-604 MAGRANE, E. (2015) Situating Geopoetics. GeoHumanities, v1, n.1, p. 86-102, MARANDOLA JUNIOR, E. J. M. (2010) Humanismo e arte para uma geografia do conhecimento. Geosul, v. 25, 7.49, p. 7-26. MARANDOLA JUNIOR, E. J. M. (2076) 0 imperativo estético vocativo na escrita fenomenolégica Revista da Abordagem Gestattica. v. 22,n.2,p. 140-147, MERLEAU-PONTY, M., (1973) Ciéncias do homem e fenomenologia. S80 Paulo: Saraiva MERLEAU-PONTY, M. (2011) Fenomenologia da percepgao. Sao Paulo: Martins Fontes. MERLEAU-PONTY, M. (2012) A prosa do mundo. $a0 Paulo: Cosac Naify. MERLEAU-PONTY, M. (2013) 0 olho e 0 espirito. $80 Paulo: Cosac Naity. MERLEAU-PONTY, M. (2014) 0 visivel e o invisivel. S80 Paulo: Perspectiva. PILE, S. (2010) Emotions and affect in recent human geography. Transactions of the Institute of British Geographers. Royal Geographical Society, n.35, p. 5-20. RODAWAY, P. (2006) Humanism and people-centered methods. AITKEN, S.; VALENTINE, G. (Orgs.) Approaches to Human Geography. London: SAGE Publications, p.263-272. SAGAN, C. (1980) Cosmos. New York: Ballantine Books. SARTRE, J. (2014) O existencialismo é um humanismo. Rio de Janeira: Vozes SEAMON, D. (2014) Place attachment and phenomenology: The synergistic dynamism of place. In MANZO, L. C.; DEVINE-WRIGHT, P. (Orgs.) Place Attachment: advances in theory, methods and applications. Abingdon: Routledge, p.11-22 SILVA, A. C. (1988) 0 espaco fora do lugar. Sao Paulo: Hucitec. TUAN, ¥. (2013) Espago e lugar: a perspectiva da experiéncia. Londrina: EdUel TUANY. (1982) A Geogratia Humanistica. In: CHISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas da Geogratia Sao Paulo: Difel, p.143-164. WRATHALL, M. A. (2006) Existential Phenomenology. In: DREYFUS, H. L.; WRATHALL, M.A. (Orgs.) A companion to phenomenology and existentialism. Malden: Blackwell Publishing, p.31-47. WRIGHT, J. K. (1947) Terrae incognitae: the place of the imagination in Geography. Annals of the Association of American Geographers, v.37, p.1-15, 18

You might also like