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Kabengele Munanga Negritude sos e sentidos ‘eign amin erin pelo mo 1 edges pel tor Ae, aura BH ox IntRopucao A idenidade negra no Brasil de hoje se tomou essa realidade da Nom sempre th claro quando se fla de identidade:identidade srbuida plo es tuiosos através de crits objetvos, identidade como categoria de ‘autodefnio ov atoarbuigho do proprio grupo, dentidadeabuida ‘80 grupo pelo grupo vizio? Seoprocesio de constr daidentdade nasce a partirda toma de consciacia das dterenas entre “nse “outros, no ero que © grau dessa consignea sejaidénicn entre todos os negros, consi derando que todos vivem em contexos socioeutss diferenciados, Partndo dessepressuposte no poderos confimar a exstncia de uma comunidadeidenttra cultural entre grupos de negros gue vive «em comunidades rligosas diferentes, por explo, os que vivem em ‘comunidades de ferreiros de eandomBle, de evangélcos ou decal. 03 ee em compare com a communi negra militate, allamente Politizada sobre a questo do racismo, ou com as comunidades rem ‘escent dos quilombos, Talvee soja necessiro pars mostrar ess dversidade contextual, considerar alguns fatores tides como componentes essenciais na idemtidade ou de una personalidade coet ientidade cultural perfeta corresponderia & presen esses ts componentes no grupo ou no inividuo, Mas isso seria um easo ideal, pois na reaidede encontramse todas as transigDes| desde o caso ideal até 0 caso extemo da erie de identdade pelas tenuagies nos ts fore distinivos, As combinacdesespeciics esses fates oferecem todos os casos possves, individuals cole- tivas, Enquanto um fatorinterage plenamente, outro tem um efeito uit aco ou mesmo nulo. Como acontceu coma peda da lingua mater na didspora Poder se-4perguntar qual dos ts fateres & mais importante, ou ja, qual entre eles seria sufiiente para caracterizar a personalidad cultural na auséncia dos outros dis, Vamos examina aimportineia relativa de cada um dees ft histeidpareceo mais important, na medida em que const ocimento cultural que wn o elements diversosdeum povo através do sentimenta de cotinuidade histrea vivdo peo conjunto desua coletividade, Oessencial para dada povoéreencontrar oo con- Autor que olga seu passado ancestral o ras lnginguo posive. A conscincia histrca, pelo sentimento decoesto que ea cra, const ‘Sem negara comunidede do pasado histrico de todos os news «a diéspra, acredito que aconsciéncia que se tem dese passado &re- lakvamente diferente nes categoria ein refers. ‘de origem ou de fundago conservados pela ralidade atualizados auravés de rts eouras prices religiosas. A questo da busca ou da ‘rise da identidade nto se colosaria nese contexto. Nas bes pop laresnegras sem vinculos com a cornunidades religiosas de matriz aicana, a conscinciahistérca e, onsequentemente, a ientidade se diluiriam nas quests de sobreviveneia que toma o sso sobre o| resto pode desembocar num outro tipo de iden 2") Quanto ao fator linguistic, no podemos dizer quea crise foi Nas outascategorias foam rads outras formas de linguagem ou comunicato como els de une sio marcas de identidade, Algumas comunidades rus nepras sold teria conservado est ‘ura linguistics africana enrique de lingua portuguesa 30 fatorpsicobgico entre outros, nos leva anos penguniar se ‘temperamento do negro diferente do temperamenta do branco ese odemos cnsideri-lo convo marca dea identidade Tal dferenya, © exit, deve ser expliada a pari, notadamente, da condicionamento histrico donegro ede suas estutiras soins comunitriae, elo com base nas diferengasbioligicas como pensariam os racialistas, Poder-se-i dizer, em Glia instnca, que a identidade de wm _rupo funciona como wma ideologi na medida em que permite a seas "membros se definir em contraposigio gos membros de outros grupos pra refoyara slidaredade existent enteeles,vsando a conservagio ‘do grupo como enkidade distin. Mas pode também haver manipul ‘9 da conscignci idemtria por uma ideologia dominante quando considera a busca da identidade como um desejo separatsa. Esa manipuligo pode tomar a dires30 de uma flclorizagio pigmentada despojada de revindicago police, Voltando& questo da plurslidade de contexos, confeso pe siste quand estdiososemilitantesflam da construpio da identidade ‘toads de consignia da over litenegr paliticamentemobilizada, ‘me parece a mais problemitica de todas. elas misturam os eitrios ideologios, clturaseraciais. Ness eso, ituagdo do mestio fica ‘mais crtca ainda pela ambivalénea cal ecultral da qual ele pa ticpa e sua op fica geralmentebaseada em criti idealpicos. “Também nem todos que particpam dese proceso vivem plenameate ‘os valores culurais negros. Mas, por causa da discriminaeo rail da qual todos sto vtima, quase todos se referem retricamente aos valores ‘ulturtis negrs ou tentam recuper-ls, pelo menos simbolicamente, ‘como o most 0 discurso da neste, arooetambim que o crtros cis sem conscidncia ideoli- ‘x ou poten no seriam suficientes para desencadearo processo de formagdo da identidade. Nesse sentido a famosa perguna~"“Afnal, ‘quem & negro” ~ muitas vezescolocads no atual debate sobre cotas raciais,se refer a essa dficuldade de definir a identidade com base no Gnioo ert racial (Moxann, 1988, . 143-146). "Nomesmo momento em que sumenta nferesse em recorrer 308 conceitas de identidadee de neritue no movimento nero contempo- ine da dispoa, surgem dvidasepergunts. final 0 que sigifieam ‘snogrtud ew idenidade para as bases populares nograse para mil tncia do movimento negro? Se alguns entendem a neritde ea det dade como um movimento pltco-deolgco, outros perguniamse ‘lo sera uma forma de racism do negro contro branco, um racismo 0 aveso, Nese sentido, sea negritude€ um movimento negro, no seria lgitimo que ae falasee também da “branguitude” como mov ‘mento de brances ed “smarlitude™ como movimento dos amarcos? “Wegriude", “branquitede™e“amarelitade” nos levariam a0 conceito tl as mgs nog treo ener ces eg rc ‘operas mis police silicate mito sipeatven Hi ‘quem se pergunte se no Bras saria possivel aexisténca de wma iden- tidade dos negros diferentes da dos demas cidados. Outos chegam at indagar se as dias negritudeedentidade negra no poderiam ser vistas como uma divisto da luts de todos os oprimidos [sas perguntas, esas dividas ¢ esss preoeupagBes merecem um esclareimento, ov melhor, uma discusso. Podriames aarupar € alinharas melhores defnigses sobre esses conceit. Masixsoajudaria pou para desvendar seus conteidos. No entaato, uma perspective mais vel seria sitar colocraquestio da negritude a idetidade ‘dentro do movimento histric, spentando seus lugares deemergéncia «seus contexos de desenvelvimenta, Para ser racista, coloca-s como postulado fundamental crema 1a existéncia de “agas”hierarquizadas dentro dn espécie humana De outro mod ofa pean ea ae AA sre cra infros, mno oscars simon roves forum cometiasnesta humsnidade: genoctdio de miies| de indios nas Américas, eliminagfo sstemitica de miles de jucdeus «cigs durante a Segunda Guerta Mundial, Como se nfo batesse © antssemitsmo, a peristéncia dos mecanismos de discriminagio racial na Africa do Sul durante a Apartheid, aos Estados Unidos, na Europa em todos os paises da América do Sul encabosados pelo Brasil © em outtos cantos do mundo demonstra claramente que © racism &.um fato que confere “rapa su realidade politia e soci (Ou seia, se cientificamente a realidade da raga & contestada, politica € contemporiness observiveis, Em outtos termos, poderse-ia eter ‘como tago fundamental prépto a todos os ne gros (pouco importa 3 ‘las toca) a situagto de excludos em que se encontram em nivel enti aclonal Isto a enidade do mundo negro seinsereve no real soba forma de “exelust™ Seregnod Seexeuid, Por iss, sem minimizar ‘os outros fstores,persistimos em afimar que a identidade negra mis brengente sera‘ identidade politica de um segmena importante da populaeio basicra excluida de sua participa plltiaeeeonémica ‘edo plenoexericio da cdadania, (Quem fala e escreve a respeto da ientdade negra ou affodes- cendente Epossivelalimentare manter um dscurso sobre identidade, ‘no qual esta ausenes ideologi? Poderse-ia pergunta qusis sri, ‘ora do campo centiicoacadémico os intaressesdaqueles que flan fe escrevem sobre a idontdade? Os interests seriam, sem divide, Weolbgicos. Oque significa que a dentdade negra ou alrodescedente no teria ourasubstinca, no serasrelogdes politics eecanbvcas, Jss0 ndo quer dizer que eutos aspects importantes na frmagto da idemtiade, como a histri, deixam de ser considerados, A hiséra «sri ov oral ndo pode ser fia sem a meméria, Desde os tabalhos de -Halbwachs, esse €um fendmeno constridocoletivamentee suit a constantesreelaboragies, No easo da populago negra brasileira como ‘de qualquer our a meméria €constuia, de um lado, pelos aconteci- mento, plas personagense pelos lugares vividos por ese segment da opulago,, de outro lado, pelos aconteiments, pelos peronagens los lugares herdados ist 6, fomecidos pela socalzag,enitizando dados pertencentes i histria do grupo efrjando fortes referencias um pasido comum (porexemple,o passa culual african ou o pas sido enquanto eseravizado, O sentiment de petencer a determinada coletividade est baseado na apropragio individual deses dois ips ‘de meméria, que passim, ent, fazer parte da imsgindrio pessoal © coletivo (HaLawncas, 1968) Ao lado dess fundamento empiric da memiraacontecimentos, lugares, personagens), exstm elementos com base quase projetiva, configurando uma reslidade 48 yeas bastante afstada dos marcos objetivos. Aqui se situariao discuso da elite negra militate que, 20 fazer uma seleg nos contetdos da memsra, reiém principalmente a negritude” como basen formas de sua idenidadecontastiva, em | ‘oposgoa identi do opressor. A questo ques colo saber por ‘onde devapassaro dscurso sobre esa identi cntrstiva do negro, cuja tase seria negritude;passaria pela cor da pele e pelo corpo uni ‘eamente ou pea culture pele consign do primido? Esse discus, sahe-s, ssa necesariamente pla questo da cor da pele x do corpo negro pla cultura, por raases histciamenteconhecides, Com efeito, kena do negro tem se realizado pola inferiorizago do su corpo antes de aingira mente, o espirio, a histériaea cultura Dis problemas podem, eno, ser colocados poiicamente em relago a ma identidade submetia & core a cultura, dentro do con- texto brasileiro, Em primeio lugar, colot-se a espnhosasuestia de saber se 0 negro seriam capazs de consruir sua identidade © sun unidade taseando-se somente na pigmentagio da pele em outas caructeristicas morfobiolgicas do seu corpo, numa sociedad em ue a tendéncia ger & fpr da co da pele “negra de acordo com & rita deembranquecimentosustentad pela ideologa de democracia racial fundamentada na dupla mestgagem biolégics e cular, Esse bstéculo da cor rejeitada por alguns e reivindicada por outros era sido resolvdo pelo conceito de “afrodescendéncia” que pot sua vez ‘© tomo objeto de manipulaedo politica nos debate sobre as cots, Patino da verde histriea de quea Afica éo berg da humanidade, qualquer dado, pouo importa cor da sua pele, poderisrevindicar suaafodescendénci, Em segundo lugar, poderiam os negros constuir suaidentidade com base numa cultura expepriaa eos simbolos Sazem pare da cultura nacional? (Pesta, p. 177-187), ‘Tomar consignei hstrica da resistncia cultural e da impor: tancia de sua partcipao na cultura brasileira atual é 0 que impor « deveriafzer parte do proceso de busca da identidade negra por pare da elite politizada, Mas batear a uses e @ construgio de sua ientidade na “atualmeate” dita cultura negra ¢ probleme, pois ‘em nivel do vivido outros segmentos da populago brasileira pode- riam langar mio da mesma cultura e nem todos oF negros que no plano da retrica “cantam” a cultura negra a vivem exclusiva © 5 paradamente dentro do contexto brasileiro, assim como no exstem bancos vivendo exclusiva eseparadamente uma cular dita banca Aqui os stnyues se misturam, os deuses se tacam, e as cerca das sdentidades cultuaisvailam. Acrescentarse- operigo da manips Tagao da cultura negra por parte da ideologia dominante quando & rubra oii se express atavés das propria contributes culturais ogrns wo Brasil, para nega a existneia do racism e para reais ‘proclamada demoeracia racial E nesse sentido que alguns estudiosostentaram, com razio, alertare denuncara flclorizago ea domestica da cultura © das teligides negra por parte da ieotogia dominante no Brasil Pent, 1982, p. 93-105) Lacorventodesinbole nicas em sinbolos acon 0 pense uma stung de Gomiaagto racist = teamed neta de denucil [Pe 1982 p82) Coloca-se também otro problema écorrqueio, Ser possivela patcipaso dos neprosnasociodade brasileira sem aslidaredade de Todos os oprimides brencos¢ outros? Sente-se um deslocamento pelo menos ina confusio ene ragae classe. Aqui est um dos demas {de questa racial brasileira: os oprimidos branco da sociedad nfo tem cansciéncia de que a exchusio politica eecondmica do near0 por tmotivos racists 56 beneficin a classe dominant, o que toma dit ‘ode impossivel sua soliaredade com opimido negro; além disso, ‘les mesinos so racists pela eucgdo e pela socalzaporecebias a fails ena escola, Raga eelasse se tram, entio, duns vaidvei {ln mesma realidade de exploragSo, ma esrutura de ma sociedad (de lasse (Panik, 1987, . 151-162) Em nome dessa dialética entre aca elas, alguns estudiosos de Formagio marxsta pensovam que naslugdo debnitiva da questo racsta no Brass vria coma tras~ fonnoyio da tual estruura capitalise em uma estratura socialist rai guaitiia. Ou sea, numa Sociedade sem classes soca, gue ‘esos e brancos podem igualmente participa das decisis poitiens tras distibuigGo do produto econdmico (Fexvannes, 1966) Ua ‘ert miinia negra assumiv esse discurso, acreiton que lug fe suas mazelas logo viria com 8 tansfrmacdo da sociedade, da falvera explicagto de sua indferenga em relay as politicas de ago ‘tfrmativa em pritiea nos Estados Unidos desde os anos 1960. Como ‘explicar que a palavra “coms” s6 explo de garganta domovimento| negro eaplictamentena marcha de Brasilia de 1995, quando politica de ago afrmativa j dave resulados posiivos nos Estodos Unidos haviequase 40 anos? (0s que pensam que a stuapo do negro no Brasil é apenas uma questo coonémice, e nfo racist, nfo fram esfogo part entender como as priteas racistas impedem ao neyo 0 acesso na paicipasto fa ascensio econtimica. Ao separa raja e classe numa sociedade capitalists, comete-se um erro metododgico que dificult a sua ani- lise e 0s condena ao beso sem sida de uma explicagdo puramente Finalmente, usea da identdede negra no &, no meu entender, uma vito de uta dos oprimidos. negro tem problemas especifiens ue # ele sozinho pode resolver, embora posta contr com solid Fiedade dos membros conscientes da sociedade, Ente se problemas espeificos et, entre outros, alienacio do seu compo, de sua cor, de sua cultura ede sua histria © consoguontemente sua “inferirizacbo™ bai estima a fala de conscientizagdo histrica e politica, et Gaga buses desu identidade, que funciona como uma terapia do mupo,o negro poder despojarse do seu complexo de inferioridade © colocar-se em pé de igualdade com os outos oprimides, © que unis condo preliminar para una lua coletiva. A recuperasto essa identidade comoga pela acitago dos atibuts fscos de sua negritude antes de atingir os atibutsculturis, ments, intelecuai, moras e psicolgcos, ois o corpo consti a sede material de todos os aspects da identdade Negrinde na atualidade diasporana Muito anda se perguntam sobre a pesisténea da A peristéncia da negra no ‘complexo da glbalizaeso,esobretedo na dispereafiana num mundo uj "aga" enquantorealidade bolgica no se sustenta mais Alguns| indagam sobre a perssécia ea importneapolica dese concito ‘um dispora africana cuja mestiagem ¢ fundamental etalvez mais importante que a cor mas seu da pele fin incite lugar & importante tsar que a negritue, embora ‘enh nus orgem na cor da ple nogr, nfo & essencialmente de ondem bikie. De outro modo, dentidade negra no nasce do simple ito ‘detomar consiéncia de dierenga de pigmetasi ete branes neg ‘ou negro @amareos. A negritde fou identi negra te referemn ‘bistria.comum qu iga de uma maneira ode outs fds o grupos Fhumanos que othr do mundo ocidenta“branco” ream sob nome de negms. Anegritue no sereferesomente cultirados povos poradores ‘eres, Tém geralmente um valor sagrado, pois simbolizam tamban a unio entre os seus mores, Eplptologia: Cltacia que tata do Egito antigo, Epistemologia: Do greg episim,é 0 estado extcoerefexivo os principio, dos pressupostos eda estrutura das diversas cincias, parte da flosofa cient, volucionismo: Teoria sobre a evolu das expScieshumanas Desenvolvdo a partirda biologi, o conceit ulrapasa sus ronsiras| © fi aplicado&antropologia, ds ctncias sociise& propria oso, Esti empregado aqui no sentido sociocultural. Essencialmenteadmni- {indo as ides pré-revoluionsts de Herder Bastian sobre w unidede Psiguza da humanidade ea de progresso, to cara 40s vitorianos, os ‘evolucionists sociocltras buscaram demonstar gue, ema prt, desde as origens e em qualquer stor da vida, o homer passiva pelos ‘estgios da selvageria eda barbie ating acivlizago considerada ‘da Europa ocdental do século XIX). Usavam em seus raalhos 0 todo comparativo, indo sear elements nas cultura mais diverss| _ procarandoaruns-ls em una sequéaca qucjulgavamn se istic, segundo uma linha nea da evolust. Exit: Corespndente ein dacitcuncsiocosistenaablig ao

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