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Cultura politica, ideologia e comportamento eleitoral: alguns apontamentos teéricos sobre o caso brasileiro Julian Borba Universidade do Vale do Itajat Resumo Este artigo trata das inter-relagdes entre as conceitos de cultura politica, ideoiogia © comportamento cleitoral na busca da compreensio do chamado “eleitor brasileiro” através da apresentacaa de aigumas vertentes explicatives, S80 definidos os conceitos de cultura politica ¢ ideologia, além da apresentagso {das principais teorias do comportamento eleitoral e das tipologlas do voto ne Brasil. © estudo conclul por um eleitor de tipo personals, © qual decide seu voto, principalmente, a partir dos atributos individuals, de competéncia ¢ honestidade dos eandidatos. Por fim, busca-se uma explicagao de origem histérica para esse padrso de comportamento eleitoral Polayras-chave: cultura politica, ideologia, cormportarnento eleltoral, Brasil Abstract This article analyses the interrelations between the concepts of political culture, ideology end voting behavior, in an attempt to understand the so-callad "Brazilian voter’. It dafines the concepts of political culture and ideology, and presents the principal theories of electoral behavior and the typologies of the vote in Brazil. It concludes by giving @ typology of the Brazilian voter, who is defined 2s personalist- oriented, deciding his vote principally on this basis of the individual attributes, competence and honesty of the candidates. Finally, it seks to explain the historical origin ofthis behavioral pattern among voter. Key words: politcal culture, ideology, voting behavior, Brazil OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. XI, n° 1, Marco, 2005, p. 147-168 OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. XI, n° 1, Marco, 2005, p. 147-168 Introdugao Um dos campos de anélise mais desenvolvidos na cléncia politica contemporanea € a andlise do comportamento eleitoral. Diferentes autores tém proposto alternativas tedrico-metodolégicas para explicar a forma como os cidadaos se comportam perante os fenémenos do "mundo politico” e, mais especiticamente, como decidem seu voto. Neste artigo, fazemos uma incurséo nesse debate, focalizando a relagdo entre os conceitos de cultura politica, ideologia « comportamento eleitoral e estabelecemos alguns padr5es para @ compreensao do chamado “eleitor brasileiro”. 0 texto estd dividide em quatro partes: na primeira, definimos o concelto de cultura politica a partir da matriz estabelecida por Almond ¢ Verba (1989) ¢ seus desenvolvimentos posteriores. Em seguida, trabalhamos com o conceito de Ideologia e sua relacéo com a cultura politica. Sao estabelecidas af a3 diferenciagdes entre “ideologia priméria” e “ideologia secundaria". Na terceira parte, so focalizadas as teorias do comportamento eleitoral e as principais tipologias explicativas para o eleitor brasileiro. Por fim, nas consideragées finais, construimos uma tipologia prépria para a compreenséo do eleitor brasileiro, a partir das relagdes estabelecidas entre os conceitos de cultura politica e ideologia. © coneeito de cultura politica Partimos do suposto de que 0 conceito de cultura politica estabeleceu urna area de conhecimento da ciéncia politica a partir do cléssico livro de Gabriel Almond Sidney Verba (1963 [1989]), The civic culture: political attitudes and democracy in five countie: Na forma como foi pensado pelos autores, esse concsito assumia um forte viés normative. A preocupagao estava, sobretudo, com a estabilidade democratica e as condig6es culturais para o estabelecimento da democracia “[..] entendida como © sistema politico norte-americano, em contraposi¢ao 20 socialismo soviético" (CASTRO, 2000, p. 17). Deste modo, as anélises procuravam responder a uma {sto ndo signifies que a preocupagéo com a cultura politica ndo estivesse presente nos estudes polices anteriores a Almond & Verba, Coma destaca Baquero “embora jd estivessem presentes, no Horizonte da politica cldssica desde os estudos de Platéo, Aristételes © Sécrates a preocupago com 8 capscidade politica dos cidadéos e © seu papel na sociedade, os debates que surgem ria década mencionada comegam a ser pautados por uma nova perspectiva de andl, e possibilits 0 surgimente de uma nova rea de estude, qual seja, a da politica comparada emplrica” (BAQUERO, 2001, p. 4). Castro (2000) também destace que o que diferencia "os estudos dos titimes 30 au 40 anos dos anteriores, (..) ido 2 tema, mas a abordagem tedrica, e acima de tuda, o Instrumental metodolégico” (CASTRO, 2000, p. 20), Para uma genealogie do conceito de cultura politica, Almond (1980). 148 BORBA, J. Cultura politica, ideologia ¢ comportamento eleitoral:. dupla demanda: “por um lado, reforcar e justificar a compreensdo da supremacia da sociedade norte-americana como modelo a ser seguido; por outro, promover € justificar a politica norte-americana [...]" (CASTRO, 2000, p. 17). Em The civic culture, 0 concelto de cultura politica estava delimitado as atitudes e orientacdes dos cidaddos em relagéo aos assuntos politicos: "O termo ‘cultura politica’ refere-se as orientagbes especitficamente politicas, as atitudes com respeito 20 sistema polltico, suas diversas partes © o papel dos cidadaos na vida publica” (ALMOND e VERBA, 1989, p. 12). Através desse conceito, visava-se chegar 3 caracterizagéo daquilo que seria a cultura politica de uma na¢ao, definida como “Lu a distribuigéo particular de padrées de orientagao politica com respeito a objetas politicos entre os membros da nagdo” (ALMOND e VERBA, 1989, p. 13), bem como afastar-se das explicagées mais em voga da ciéncia politica de sua época, marcadas por uma forte énfase no estudo das instituigbes politicas, que ainda nao haviam conseguido desvencilhar-se das origens judicialistas da disciplina. Os autores distinguem trés tipos de orientagao politica: 1) a “orlentagdo cognitive”, que significa 0 conhecimento do sistema politico e a crenga nele, nos seus panéis € nos seus titulares, seus inputs e outputs; 2) a “orientagao afetiva”, que se traduz pelos sentimentos sobre o sistema politico, seus papéis, pessoas ¢ desempento; e 3) “a orientagao aveliativa”, significando o julgamento ¢ as opinives sobre os objetos politicos, que tipicamente envolvem a combinaco de padrées de valor, bem como te critérios de valor com informagées e sentimentos (ALMOND © VERBA, 1989, p. 14). ‘Tais orientagdes seriam avaliadas a partir de diferentes classes de objetos politicos, que iriam desde sentimentos mais genéricos, pasando por processos politicos e administrativos, chegando até papel do individuo. Do cruzamento entre as orientagées com as classes de objetos politicos, resultariam trés diferentes tipos de cultura politica: 2 paroquial, a sidita e a participante. Esta diferenciagdo deu base para 0 aspecto mais polémico de sua obra, ou seja, uma relacéo de causalidade entre cultura e estrutura politicas da quel derivou que a existéncia de uma democracia estével em determinada sociedade estaria condicionada pela sustentagao de uma cultura civiea: 4L..] om geral, culturas paroquial, stidita ou participante serlam mais congruentes, respectivamente, com uma estrutura politica tradicional, com uma estrutura autoritéria centralizada e com uma estrutura politica democratica” (ALMOND e VERBA, 1989, p. 20). 149 OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vo. XI, n° 1, Marco, 2005, p. 147-168, A principal e mais sistemética critica & tradigéo de estudos da culture politica aponta que por tras do conceito de Almond e Verba, haveria um determinismo culturalista impiicito nas hipéteses originals do estudo?. Culture politica esté entendida em The civic culture como uma varidvel independente de qualquer outro fator, em uma opcéo metodolégica com consequéncias extremamente probleméticas, pois, como afirma Moisés, implicaria tratar a cultura politica “[...] como um deus ex machina, isto & como se a existéncia de valores politicos pudesse ocorrer sem 2 necessidade de identificarem-se as suas causas’ (MOISES, 1995, p. 93) Pensa-se que a melhor maneira de sair desse determinismo culturalista ndo esté no apelo a outros determinismos, tal como tém feito algumas abordagens institucionalistas que, sob o pretexto de néo reificar a cultura politica, acabam atribuindo &s instituigées um cardter determinante na contiguragao de processos politicos’. Concorda-se com Moisés quando afirma que: [J] processos cldssicos de democratizago sugerem que, mesmo admitindo-se a existéncla de certa margem de autonomia na sua formagdo, valores, atitudes e procedimentos politicos se teforgam a partir da interagdo entre 0 comportamento e 0 funcionamento das instituig6es politicas, algo que implica tanto em processos de aprendizagem do seu uso, como de ressocializacde politica induzida pela experiéncia, mas ambos sedimentam-se com o passar do tempo e com a continuidade dos processos que constituem os’sistemas politicos” (MOISES, 1995, p. 9498, Nesse sentido, com base nos trabalhos de Inglehart (1988; 2002), Putnam (2996) e Pharr e Putnam (2000), defende-se uma abordagern para o estudo da cultura politica que sirva como instrumental analitico para pesquisar as crencas, os valores ¢ identidades dos diferentes grupos existentes na sociedade. ? Para uma visualizagio das principals erfticas ao conceito de cultura polftica, remete-se 20s trobelhos de Street (1993), Castro (2000), Moisés (1995), Renné (1998), Badie e Hermet (1993), Chitcate (1998) Diamond (1994), 3 Segundo Castro (2000, p. 77), © maior erro da abordagem almondisna esta na atirmacao de que a ‘cultura politica encontrada na Inglaterra e Estados Unidos & 0 tipo de cultura democrética, Para uma tipies visio “hiperinstitucionalista’, ver Przaworski et al (2003). * As interfaces entre instituigdes e cultura politica no proceso de democratizagéo tém sido exploradss, 1no Brasil através dos trabalhos de Paulo Krischke. Ver Krischke (1997). 150 BORBA, J. Cultura politica, ideologia e comportamento eleitoral:. Na mesma diregéo, Lane (1992) propée o uso da categoria de cultura politica no como um esquema classiticatérlo, “[...] mas como urn método de anédlise de certo grupo, tentando articular um modelo de interpretagao da sua rede de crencas” (RENNO, 1998, p. 86). Assim, 0 objetivo das andlises de cultura politica - e é af que se insere a presente anélise - é contribuir para a explicagso do comportamento politico dos individuos, destacando a forma como os valores culturais so componentes endégenos da tornada de deciséo. Cultura politica'e ideologia ‘As consideragées sobre cultura polltica e ideologia® dizer respeito aos possfveis impactos das construgées ideolégicas sobre a cultura politica de uma sociedade. Uma abordagem nessa diregao foi realizada por Debrun (1983 e 1989) através da diferenciagto entre ideologia priméria ¢ ideologia secundéria, Debrun atirma inicialmente que o quase siléncio das ciéncias sociais diante dos mecanismos ideolégicos possui duas explicagées basicas: a primeira € a “[...] aparente evidéncia de que a ideologia da classe dominante 6, por definigao, a ideologia dominante e que, nessa base, impdemn-se sem dificuldade os mitos que iludem os dorninados” (DEBRUN, 1989, p. 172). Desta maneira, ficam esquecidas } a edificagéo das estruturas argumentativas, sua contaminagao maior ou menor pelos procedimentos retéricos (metéfora e metonimia em particular), suas barganhas implicitas com as ideologias prévias dos grupos dominados ou que se trata de dominar. £ através dessa elaboragéo, no entanto, que 0 que era téo-somente um esbogo se transforma, simultaneamente, em ideologia dominante e ideotogia da classe dominante, ao mesmo tempo em que se estabelece ou consolida a propria dominagso ‘econémica, polltica e cultural" (OEBRUN, 1989, p. 173). A segunda explicagdo refere-se A macica utilizagfio, no campo teérico, de teméticas marxistas ou estruturalistas, que retiram do ator social a tarefa de produgao de ideologias, inclusive a ocultagso ideolégica. % 0 conceito ce ideolagia é aqui entendida em sua acepeao critics, de inspiragBo marxiste, Entende-se por tal conceite, tode forma de construgso simbélica que visa estabelecer ou manter relagées de dominagao (THOMPSOM, 1895) 151 IBLICA, Campinas, Vol. Xi, n° 1, Marco, 2005, p. 147-168. a Para o autor, uma alternativa a tais visées seria a idéia de que o ator néo forja as ideologias a partir do nada, mas alicergando-se num referencial, que denomina de “ideologia priméria", que corresponderia & cultura polftica de um determinado grupo, ou seja, 0 conjunto de atitudes e orientacdes dos cidadaos em relagdo aos fenémenos politicos. A produgao de ideologies seria “[...] ento uma ideologia ‘secundaria (DEBRUN, 1989, p. 175). “A operagdo de ocultagao ideolégica seria entdo ndo um trabalho ‘ideologia sobre o fato’, mas ‘ideologia sobre ideologia’ (DEBRUN, 1989, p. 181). Percebe-se aqui uma relacdo dialética entre a producao de ideologias e a cultura politica de uma sociedade. As ideologias sé2 formuladas a partir de um referencial sirmbélico (cultura politica) compartithad> pelos individuos de uma sociedade, que Ihe d4 condigdes de operagao. Ao mest? tempo, a ideologia age no sentido de alterar esse referencial simbélico, de acords com 0 tipo de dominagao que pretenda estabelecer. Assim, as ideologias primérias seriam aquelas engendradas “...] na préxis imediata dos atores, particularmente @ dos atores dominantes” (DEBRUN, 1983, p 19), E 0 essencial, segundo Debrun, é 0 seu desvendamento por duas razdes principais: primeiro, porque as estratégias de base t&m sido, em geral, eficientes, independentemente de uma formulagao explicita ¢ sistemética e, portanto, da obra dos grandes idedlogos. A segunda raztio da énfase sobre a ideologia “priméria’ seria pelo fato de que a ideologia secundétia, longe de representar a esséncia da ideologia, s6 se desenvolve quando surgem ameacas para o predominio de determinada ideologia priméria. Isto foi o que ocorreu na década de 1930 no Brasil, quando férmulas novas, como 0 fascismo e 9 comunismo, camegaram a ameagar a “ordem”. “A fungao da ideologia ‘secundaria’ é entéo abatar as diividas que comegam a invadir os portadores da ideologia ‘priméria’, 0 que implica que essa ideologia saia do siléncio, na sua evidéncia para se transformar numa construgao mais elaborada”. 0 trago mals pertinente dessa ideologia secundéria consiste num esforco de fundamentagéo: “[...] trata-se, pare ela, de fundamentar 0 que se ‘constata’ em nivel primario. Invoca, por exemplo, a mistura racial como fundamento da ‘cordialidade’ brasileira [...]” (DEBRUN, 1983, p. 20), 152 BORBA, J. Cultura politica, Ideologia e comportamento eleitoral: Segundo 0 autor, o maior exemplo de ideologia priméria no Brasil teria sido a chamada estratégia da “conciliagéo", |é materializada na cultura polltica da sociedade brasileira’, Debrun focaliza, sobretudo, a conciliagao em nivel politico, [uJ @ qual est concebida como um acordo entre atores ~ grupos ou individuos — de um peso mais ou menos igual. Ou, pelo menos, nenhum dos dois poderia esmagar 0 outro”. A idéia “brasileira” de conciliagdo "[...] sempre pressupés 0 desequilibrio, a dissimetria dos parceiros, e no seu equilibrio”, Ela serviu sempre para “[...] formalizar e regular a relacdo entre atores desiguais, uns j4 dominantes ¢ 0s outros jé dominados. & para permitir que os primeiros explorassem em seu proveito a transformagao dos segundos em sécios caudatérios” (DEBRUN, 1983, p. 15): "Depois de ter sido enaltecido por Nabuco de Aradjo, nos primérdios da década de cinglenta do século passado, quando ele oferecia uma ‘ponte de ouro’ aos liberals vencidos de Revolugdo Praieira, a ‘conciliaggo’ entrou depois num quase siléncio por mais de meio século. Havia um discurso da ‘conciliagao’, legivel entre as linhas no coronelismo ou na ‘politica dos governadores' de Campos Salles. Mas esse discurso era 0 mais das vezes implicito. Limitava-se a afirmar, em atos, mais do que em palavras, a ‘indole pacifica de nossa gente’. Mesmo porque a politica da ‘conciliacdo’, néo encontrando resisténctas ponderdveis, era como que vetificada nos fatos. O que permitiu por sua vez ao discurso liberal continuar dominando o espago polftico verbal, na falta de contendores” (DEBRUN, 1983, p. 19). Ainda nesse texto, 0 autor jé dava algumas pistas de como a economia teria se transtormado numa ideologia priméria: “[...] 0 significado principal do neo- desenvolvimentismo € este: politico e ideolégico, mais do que econémico. Ou melhor, a_economia se transformou na ideologia da politica, as infra e as superestruturas trocaram momentaneamente seus papéis” (DEBRUN, 1983, p. 37, grifo do autor) 7 Debrun inicia 2 introdugo de seu livro atirmando que os tragos gerais da politica brasileira nunca se alteraram desde a Independencia. "Face & grande diversidade de coniunturas, as forcas dominantes Teagiram lancendo mao de um nimero limitado de estratégias politicas, sempre as mesmas. Situagso ‘essa que permanece ainda hoje, em que pesem os arranhGes que vém sofrendo de modo crescente, Dai a repeticzo, cansativa de certos temas: essa monotonia temética procura ser a imagem ternatica de uma realidade politica vista, eendo como estagnada, como capaz de uma repradugée Indefinids, mediante 0 tuso de alguns mecanismos seculares de dominaclo que, alé 0 momento, se revezaram no palco do poder" (DEBRUN, 1983, p. 13), 153 _QPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. XI, n° 1, Marco, 2005, p. 147-168 Dessas andlises se depreende que a ideologia possui dois grandes momentos de operagéo: 0 momento primério, quando esté materializada, cristalizada ou naturalizada nas relagées sociais, € 0 momento secundario, que surge quendo as ideologias primérias est4o em crise @ aparecem com a fungao de fundamentagéo ou racionalizacio de idéias que objetivam criar ou manter determinadas formas de dominagao. A apropriacéio que Zizek (1996) faz da abordagem de Hegel aproxima-se desta diferenciag&o entre ideologia priméria e secundéria, porém @ muito mais rica analiticamente. Segundo Zizek, Hegel distinguiu trés grandes momentos da religiao: doutrina, crenca e ritual. Essa diferenciagao permitiria distribuir a opera¢ao de ideologia em torno de trés grandes momentos: (1) ideologia como um complexo de idéias (teorias, convicgoes, crengas, métodos de argumentacdio); (2) a ideologia em seu aspecto externo, ou seja, a materialidade da ideologia, os aparelhos ideolégicos de Estado; (3) e, por fim, o campo mais fugidio, a ideologia “espontanea” que atu no cerne da prépria “realidade” social (ZIZEK, 1996). Estes momentos poderiam, aqui, também se associar ao conceito de culture politica. O primeira seria aquele da nocdo de ideologia como doutrina destinada a nos convencer de sua ‘veracidade’, mas, na verdade, servindo a algum inconfesso interesse particular de poder” (ZIZEK, 1996, p. 15) No segundo momento de manifestagao do fenémeno ideolégica, encontra'se a ideologia em sua “alteridade-externalizagdo" (ZIZEK, 1996). Este momento, segundo Zizek, estaria materializado na nogdo althusseriana de Aparelhos Ideolégicos de Estado (AIE), que aponta para a existéncia da ideologia nas instituigées e nos rituais ideolégicos. Como exemplifica Althusser, “[..] 2 f8 raligiosa, por exemplo, néo é apenas nem primordialmente uma convicgao interna, mas 6 a lgreja como instituiggo e seus rituais, os quais, longe de serem uma simples externalizagéio secundéria, representam os_nréprios mecanismos que a geram” (ZIZEK, 1996, p. 18, grifo no original). © que se encontra nesse momento de manifestagdo “[...] € a regressdo para a ideologia no exato ponto em que parecemos estar saindo dela” (ZIZEK, 1996, p. 18). © terceiro momento da ideologia nao seria nem sua expresso coma doutrina explicita, como convicgdes articuladas sobre a natureza do homem, da sociedade e do universo, nem sua existéncia material (as instituigées, os rituais @ préticas que Ine do corpo), mas sim sua forma “espontanea”, naturalizada nas praticas e relagdes socials. Nas palavras de Zizek “L..] 2 rede elusiva de pressupostos e atitudes implicitos, quase ‘espontaneos', que formam um momento irredutivel de reprodugéio de préticas ‘ndo ideolégicas’ (econdmicas, legais, polfticas, sexuais, etc.). A nogéo marxista de ‘fetichismo da 154 BORBA, J. Cultura politica, Ideologia e comportamento eleitordl:. mercadoria’ é exemplar nesse contexto: designa, ndo uma teoria (burguesa) da economia politica, mas uma série de pressupostos que determinam a estrutura da prépria prética econémica ‘real’ das trocas de mercado - na teoria, 0 capitalista agarra-se 20 nominalismo utilitarista, mas, na pratica (da troca, etc.), segue ‘caprichos teolégicos’ e age como um idealista especulador. Por essa razdo, a referéncia direta & coerg&o extra-ideolégica (do mercado, por exemplo) & um gesto ideoldgico por exceléncia: 0 mercado e os meios de comunicago esto dialeticamente interligados; vivemos numa ‘sociedade do espetdculo’ (Guy Debord) em que a midia estrutura antecipadamente nossa percepgéo da realidade e a torna indiscernivel de sua imagem ‘esteticizada” (ZIZEK, 1996, p. 20-21), ‘A ideologia “esponténea” seria préxima ao que Debrun denominou de ideologia priméria, e que se esté associando ao conceito de cultura politica, ou seja, © momento de sua cristalizag3o ou naturalizagio nas relagdes sociais. A importéncia destes conceitos ¢ que eles permitem anatisar a ideologia néo s6 em suas grandes construgées, expressas em “doutrinas” formuladas por “idedlogos”, mas também a ideologia materializada em instituigdes ou em seu aspecto cotidiano, nas relagdes sociais. Para 0 interesse deste trabalho, o fundamental 6 a percepedo da relaczo dialética que existe entre a produgdo e emisséo de contedos simbélicos (ideologias) e 2 recepgaio desses simbolos. As ideologias, ao mesmo tempo em que 40 constituidas pela cultura politica de uma sociedade, acabam moldando esta mesma sociedade através da produg&o de novos significados que so internalizados nas préticas socieis, Cabe agora analisar como os conceitos de cultura politica e de ideotogia podem servir como um referencial explicativo para o comportamento eleitoral. © comportamento eleitoral e as tipologias do eleitor brasileiro Séo varias as teorlas que procuram explicar o comportamento eleitoral, ¢ varios autores ja fizeram a revisdo desta literatura (CASTRO, 1992 € 1994) CARREIRAO, 2000; RADMANN, 2001). Dentre as principais correntes explicativas, podem-se destacar a perspectiva sociolégica, a psicolégica e a teoria da escolha racional (CASTRO, 1994). A perspectiva sociolégica utiliza uma abordagem de tipo macro para explicar o comportamento politico dos individuos, enfocando as condigées sociais que constituem 0 contexto no qual as instituigdes, as préticas, as ideologias ¢ os 155 OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. XI, n° 1, Marco, 2005, p. 147-168. 7 objetivos politicos se formam e atuam. O fundamental para a perspectiva sociolégica o contexto em que os individuos atuam, no qual as principais variéveis so as socioeconémicas, as demogréficas e as ocupacionais, e sua preocupacio central esté em mostrar como tais varidvels possuem relacdes com 0 comportamento eleitoral. Ja as perspectivas psicolégicas e psicossociolégicas, que tiveram seu surgimento com 0 desenvolvimento e a disseminagao das técnicas de survey nas ciéncias sociais e como principal nticleo académico @ Universidade de Michigan, buscaram interpretar 0 comportamento politico a partir das motivagbes, percepedes @ atitudes dos individuos em relago ao mundo politico. Estas abordagens nac negam o impacto que fatores macroestruturais possuem sobre o comportamente eleitoral dos individues, mas destacam que estes fatores somente nao explicam tudo. Diante disso, salientam que o fundamental 6 pesquisar as opiniées, pois através delas pode-se prever a preferéncia dos individuos por um partido politico que defendesse as mesmas idéias ¢ prever qual seria sua atitude em termos de destino do voto (Cf. RADMANN, 2001, p. 23), Um classico nesta area de estudos foi 0 livro The nature of belief systems in mass publics, de Philip Converse (1964), que demonstrou que os individuos se relacionam com o mundo politico de acordo com seus niveis de conceituacao deste mundo. Com base nesses niveis de conceituagéo formulou diferentes estratos de classificagdo, construindo uma tipologia para explicar 0 comportamento eleitoral®, Por fim, existem as abordagens inspiradas pela teorla da escolha racional, que consideram a deciséo do voto como produto de uma ago racional individual orientada por cdlculos de interesse, que levam o eleitor a se comportar em relagao 20 voto come urn consumidar no mercado. A esfera da politica é visualizada como um “mercado politico”, onde os politicos tentam “vender seus produtos”, e 03 cidadaos assumem o papel de “consumidores", que véo escolher aqueles “produtos” que melhor diminuam seus custos e maximizem ou otimizem seus ganhos®, Os estudos de comportamento eleitoral no Brasil segue os passos da literatura internacional, buscando a aplicagéo de um desses instrumentais ou a integragao de diferentes paradigmas. ‘A preocupacao da ciéncia politica brasileira com 0 comportamento eleitoral data de meados dos anos 1950 com o trabalho pioneiro de Azis Simao sobre o voto operdrio em Séo Paulo. Nas décadas de 1960 € 1970, a ampliagdo dessa drea de ® Converse identifica cinco estrates de eleitores: os “Idedlogos”, os "Iquaseidesioges”, 0 estrato co “interesse de grupo", 0 estrate "natureza dos tempos” @ o estrato “sem contedd ideolégico". Sobre o patadigma de Converse e sua eplicagso ne estudo do comportamente eleitoral no Brasil, ver Baquero (2985; 1994 e 2001). * Referéncia neste tipo de ebordagem encontra-se em Downs (1998). 156 BORBA, J. Cultura politica, ideologia e comportamento eleitoral: estudos deu-se com a publicagao do classico livro Sociedade e politica no Brasil, de Glducio Soares (1973), € as coleténeas organizadas por Bolivar Lamounier e Fernando Henrique Cardoso (1975), ¢ Fabio Wanderley Reis (1978). Tais estudos Utilizavam-se fortemente da explicacéio sociolégica e psicossociolégica para caracterizar o comportamento do eleitor brasileiro, A maioria destes trabalhos buscava analisar de que maneira fenémenos como a industrializagao e @ urbanizagaio pelos quais 0 pais vinha passande desde a década de 1930 tinham impacto sobre a forma dos cidadaos se relacionarem com a politica; porém, nem todos se limitavam a isso, tendo alguns autores utilizado variaveis psicossociolégicas na anélise. Como destaca Castro, “LJ @ proposta no era negar 2 importancia dos fatores macro: sociolégicos e da posicao dos eleitores na estrutura social, mas ampliar a capacidade explicativa da teoria, incluindo as varidvels atitudinais e cognitivas na andlise” (CASTRO, 1997, p. 151), Mais recentemente, principalmente com o trabalho de Marcus Figueiredo (1991), as contribuigdes da teoria da escolha racional também foram incorporadas na andlise do eleitor brasileiro. © desenvolvimento deste campo de pesquisa permitiu que se formassem diferentes diagnésticos ou tipologias para a caracterizagao do voto no Brasil. Fabio Wanderley Reis, por exemplo, cunhou a expresséo “sindrome do Flamengo” para caracterizar 0 voto da maioria do eleitorado brasileiro. Segundo Reis (20002), as preferéncias partidarias ou ideolégicas do brasileiro ndo se relacionariam com opinides altamente sustentadas a respeito de questées de natureza politica, mas estariam baseadas em imagens difusas, simplificadas da posigéo dos partidos: existiria no sistema de crengas da populagéo uma divisdo quase bindria do proceso politico, de modo que os partidos estariam ou do lado do “povo" ou do “governo”, dos “pobres" ou dos “ricos”. Tal fenémeno faria com que 0 populismo fosse uma fatalidade na politica brasileira, Nas palavras do autor: “Assim, no eleitorado popular, em cuja percepcdo no se integram send precariamente os diversos aspectos ou dimensées do universo sociopolitice, 2 opgéio eleitoral oposicionista parece ligarse antes ao contraste vagamente apreendido entre o popular ¢ o elitista (‘pobres’ versus ‘ricos’, ‘povo’ versus ‘governo’), no qual se traduz uma insatisfagao difusa incapaz de articularse por referéncla a problemas especificos de qualquer natureza. Por outras palavras: votar na oposigao 6, para o eleitor em questéo, um pouco como ‘torcer’ 157 OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. Xi, n® 1, Marco, 2005, p. 147-168 por um clube popular de futebol - 0 Flamengo, digamos, para tomar talvez 0 mais popular deles. Mas o simplismo mesmo das percepgées e imagens em que se baseia essa propensdo é um fator a emprestar consisténcia e estabilidade aos padres de votagéo popular. Assentade a posira das perturbagées do quadro pertidério, vislumbrados, em seguida a cada rearranjo mais ou menos artificial ou imposto desse quadro, 0s novos contornos politico-partidarios da contraposigao entre ‘povo' e ‘elite’, volta se, como no populistno do pré-64 € no MDB de pés-64, 20 leito ‘natural’, Temos, assim, ura espécie de ‘sindrome do Flamengo’ que n&o apenas tende a negar a um regime autoritério como 0 que controlou 0 pais até 1985 a possibilidade de verdadeira legitimagdo pela via eleitoral como também faz do populismo, na atualidade brasileira, uma fatalidade, desde que as condigdes institucionais permitam um jogo politico razoavelmente aberto sensivel perante o eleitorado”. (REIS, 2000a, p. 78-79) © trabatho de Castro (1994), diretamente influenciado pelo paradigma teérico de Reis", procura explicar os mecanismos de deciséo do voto segundo grau de sofisticagao politica dos eleitores"'. Segundo 2 autora, a sofisticagao politica seria 2 varidvel explicativa que melhor caracterizaria 0 comportamento eleitoral do brasileiro. Sua tese € que enquanto os eleitores sofisticados (minoria) votam orientados por opiniées sobre issues diversos e por uma preferéncia partidéria baseada em uma visdo informada sobre os partidos e 0s candidatos, a grande massa popular é desinformada e néo tem opiniao sobre as grandes questdes do debate politico, além do que, “(...] tende a atribuir a seus candidatos as qualidades que mais Ihe agradam e as opinides que eventualmente tem quanto a issues diversos e possui baixo grau de consisténcia ideolégica” (CASTRO, 1994, p. 180) Dessa forma, o voto da grande maioria do eleitorado orientar-se-ia através das “imagens” dos candidatos, que seriam “difusas” e “vagas”, porém nao totalmente imprevisiveis e aleatérias, pois, assim como Reis, a autora defende 3 tese de que 0 eleitor nao sofisticado votaria, em grande parte, no candidato que the consegue transmitir a “imagem” de defensor privilegiado dos “pobres”, dos “trabalhadores”, da “maioria da populacao”. 10 F, W, Rels busca, em seus trabalhos, uma integracdo entre as abordagens da teorla da escolha racionat @ da sociologia tradicional. Ne campo do corkportamento eleitoral, propte a inciusdo ce verses abordagens no mesmo modelo teérica, integrando as perspectives sociolégice, psicolégica ea teoria da escolha racional 11 0 grau de sofisticagio politica é constitulde a partie do somatério de quatro varidvels: o interesse por politica, 0 envolvimento na processo eleitoral, 2 exposigaa ao programa eleitoral gratuito ra televis#o eo rau de informagéo a respeita dos candidates a presidente de repaitlica 158 BORBA, J. Cultura politica, ideologia ¢ comportamento eleitoral:. Na mesma diregdo dos trabalhos que postulam © papel central da imagem dos candidatos no proceso de decisao do eleitor, hé 0 trabalho de Silveira (1998), embora para este autor 0 novo cenério politico da mfdia e do marketing produzam um “novo eleitor intuitive e nao racional”. (0s estudos de Marcello Baquero, fortemente influenciados pela tradi¢ao da cultura politica, identificam no Brasil um tipo de eleltor personalista e pragmético, marcado por fenémenos como o descrédito e a desconfianga em relag&o a politica e a0 polfticos (BAQUERO, 1994), além de um forte sentimento de ineficdcia politica (BAQUERO e CASTRO, 1996). Tais fenémenos conduziriam @ uma cultura politica fragmentada e cética, sendo 0 personalismo “eleitoral” a conseqiiéncia maior deste processo: “{...] as atitudes de desconfianga e desencanto com as instituigées, particularmente com os partidos, se d&o num sentido de desvalorizagéo concreta dessas instituigdes, gerando uma cultura politica claramente personalista no sentido estrutural” (BAQUERO, 2000, p. 149). Em trabalhos dedicados aplicago do paradigma de Converse, Baquero (1985; 1994) identificou que a grande maioria dos eleitores da cidade de Porto Alegre (68,6 % em 1982, 65% em 1986, 57% em 1988 € 1989, e 58,7% em 1994) localiza-se nas escalas “natureza dos tempos" ou “sem contetido ideolégico”. Isso significa que 2 maioria dos eleitores consegue estabelecer pouquissimas avaliagdes minimamente coerentes sobre fendmenos diversos da vide politica. Diante desse diagnéstico, e partindo do pressuposto que o contexto politico influencia a decis4o do voto, o autor, analisando as eleigdes de 1996 em Porto Alegre, afirma que o crescimento eleitoral do Partido dos Trabathadores néo significaria um realinhamento partidério ou ideol6gico por parte dos eleitores e sim uma avaliag3o do eleitor em relacdo & acéo administrativa dos governantes (BAQUERO, 1997)!2, 0 comportamento da maioria do eleitorado estaria guiado mais por critérios de eficiéncia na administragao publica ou por questées “pés: materialistas”, como meio ambiente ou qualidade de vida, do que pela identificacao ideolégica. Apesar das diferenas em relagao aos estudos abordados anteriormente, 0s trabalhos de Baquero também parecem indicar a valorizagdo da imagem do candidat como aspecto da deciséo do voto, estruturada a partir da valorizago de atributos pragmaticos, como a competéncia administrativa, 12 & tese do voto personalista e pragmatico também vern sendo adotada por Radmann (2001) e Borges 200) 159 OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. Xi, n° I, Marco, 2005, p. 147-168 Por sua vez, Singer (2000) defendeu tese polémica sobre 0 comportamente do eleitor brasileiro segundo a qual a identificagao ideoligica deve ser incorporada & anétise do comportamento eleitoral por ser um dos componentes de orientagdo do sufrdgio e ura forte vari4vel preditiva Para o autor, o eleitor possui um conhecimento abstrato do significado de esquerda ¢ direita que the possibilita 0 posicionamento na escala ideolégica, 0 qual mesmo desestruturado, reflete 0 seu sistema de crengas. Singer aponta um uso intuitivo das categorias ideolégicas esquerda/direita, que poderia ser caracterizado como um sentimento ideolégico que “[...] permite ao eleitor colocar-se na escala em uma posic&o que esté de acordo com suas inclinagées, embora nic saiba verbalizar. E a mesma intuigéo 0 conduz a situar 0s candidatos (e os partidos) nessa escala e votar coerentemente” (SINGER, 2000, p. 149). Apesar deste uso intuitivo e nao cognitivamente estruturado', ao analisar as eleigdes de 1989 e 1994, o autor afirma que a parcela do eleitorado que se localizou na escala ideoldgica tendeu a votar coerentemente com seu auto posicionamento e nao de modo indiferenciade. Por fim, Carreiro (2000), a0 analisar as eleigdes presidenciais de 1989, 1994 € 1998, postula que pare dar conta dos diferentes critérios envolvidos na decisdo do voto, um modelo deve incorporar pelo menos as seguintes varidvels como determinantes: 2 imagem politica que o eleitor tem dos candidatos e partidos; a avaliagdo do eleitor sobre o desempenho do governo (presidente) em exercicio; a avallaco do eleitor sobre algumas caracteristicas pessoais dos candidatos em disputa, especialmente aquelas relativas 4 capacidade de governar e ao grau de escolaridade. Nesse sentido, @ escolaridade seria uma varidvel interveniente, juntamente com os contextos eleitorais. Em sua anélise, 0 autor afirma que a identificacdo ideolégica, apesar de ser uma varidvel relevante, 6 mais comum entre os eleitores de. alta escolaridade do que entre os de baixa escolaridade. Entre esses, que constituem a maioria do eleitorado, 0 autor conclui que parecem ter mais importancia as avaliagSes que os eleitores fazem do desempenho do governo e das caracterfsticas pessoais do candidato. '8 Segundo os dados de Singer, 60% dos entrevistados no sabem definir 0 que € esquerda ou direita. 4 identificagao idaolégica & definida através da auto-localizaga0 dos eleitores no continuo esquerda/ireta (@ partir de respostas de surveys). 160 BORBA, J. Cultura politica, Ideotogia e comportamento eleitoral: As relages entre cultura politica, ideologia e comportamento eleitoral no Brasil ‘Apesar das diferengas teéricas entre os autores, nesta reviséo das tipologias sobre 0 comportamento eleitoral do brasileiro observa-se um certo consenso sobre algumes questées basicas, que sdo fundamentais nesta anélise. 0 que se busca nesta segao é construir, a partir desta literatura, umn marco analltico para abordar o comportamento eleitoral e sua relacéo com a cultura politica e a ideologia. Em primeiro lugar, a literatura analisada acima é consensual quanto ao baixo grau de iniormagéo e ao cardter difuso e pouco estruturado das opiniées politicas da maioria do eleitorado brasileiro, Isto m8o significa, no entanto, que existe a necessidade de visualizar 0 comportamento do eleitor brasileiro, como no racional (SILVEIRA, 1998). Como destaca Castro, 0 comportamento do eleitor brasileiro pode “[...] no corresponder a0 cidadéo ideologicamente orientado deduzido dos modelos cléssicos de politica democratica, ou & imagem, até certo ponto idealizada, do eleitor médio europeu, politicamente consciente” (CASTRO, 1997, p. 166), no entanto, seu voto expressa uma racionalidade que esté estruturada a partir do nivel cognitivo da grande maioria do eleitorado brasileiro ¢ que se baseia em “imagens ‘luidas e difusas” a respeito dos politicos e dos partidos. Em segundo lugar observa-se que a decisio do voto, para a grande maioria do eleitorado, estd fortemente estruturada pelas “imagens politicas” e avaliaces que 0 eloiter faz do algumas caracteristicas pessoais dos candidatos em disputa. Apesar das anélises de Singer (2000) indicarem que a identificagéo ideolégica é um forte preditor do voto, percebe-se que ela estd presente numa parcela minima do eleitorado. Além disso, a forma como Singer elabora seu conceito de identificacao ideolégica, a qual significaria um “sentimento ideolégico”, néio contraria, e sim reforca a tese de um voto a partir de “imagens”, Para os fins analiticos deste trabalho, acredita-se que ndo seja necessério estabelecer uma diferenciacdo rigida entre “imagens” politicas e “atributos” mais valorizados, como fazem alguns autores (CARREIRAO, 2000). Quando se fala em imagem, ndo se faz referéncia somente ao posicionamento do eleitor em uma escala (por exemplo: esquerda/direita), ou em relagao a determinadas prioridades (interesses do povo x interesses da elite), mas também a alguns atributos mais valorizados pelos eleitores na deciséo do voto. A identificagao com imagens politicas, de forma partidaria, que no perfodo bipartidério da politica brasileira estruturavam-se forte mente entre as idéias de “partido do povo" e “partido do governo” ou entre “partido dos pobres” € “partido dos ricos", no contexto pluripartidario pés-1979 estruturavam-se principalmente através das imagens do candidato a partir de atributos como competéncia e honestidade. jer OPINIAO PUBLICA, Campinas, Vol. XI, n® 1, Marco, 2005, p. 147-168 “Dentre os atributos mais valorizados pelos eleitores, @ literatura ver destacando um menor peso para as imagens (candidato do povo/candidato da elite, esquerda/ direita) e dando maior énfase para atributos como honestidade/integridade e a competéncia/ bom desempenho administrative” (SILVEIRA, 1998, CARREIRAO, 2000)". Com base nesses elementos, as poss{veis relagées estabelecidas entre a tipologia do eleitor brasileiro e os fendmenos da cultura politica e da ideologia permitem investigar as causas do comportamento da grande maioria do eleitorado brasileiro, que decide seu voto, em grande parte, a partir de atributos pessoais do candidato, como a competéncia e a honestidade. Cabe destacar, em primeiro lugar, que a personalizagtio da politica parece ser um fendmeno universal das democracias contemporaneas. 0 impacto dos meios de comunicagéio, que estabelecem uma relagdo direta entre representantes ¢ representados, sem a necessidade de instituigdes de mediagdo politica, corno os partidos, ¢ a conseqdente crise das identidades politicas tradicionais, vem provocando 0 surgimento de um novo tipo de governo representativo, denominado de “democracia do ptblico” (MANIN, 1995). Neste tipo de democracia, 0 personalismo talvez seja 0 fendmeno mais observvel. Como destaca Manin: “[.] hd muito tempo os analistas vém constatando uma tendéncia & personalizagdo do poder nos paises democréticos. Nos pafses em que o chefe do poder executivo é eleito diretamente por sufrégio universal, a escolha do presidente da reptiblica tende a ser a eleigao mais importante. Nos regimes parlamentaristas, onde o chefe do poder executivo também é lider da maioria parlamentar, as campanhas e as eleicées logislativas se concentram em torno da pessoa desse Ifder. Os partidos continuam a exercer um papel essencial, mas tendem a se tornar instrumentos a servigo de um Ifder. Ao contrario de que acontece na representacéo parlamentarista, & 0 chefe do governo, € no 0 membro do parlamento, que se considera como o representante por exceléncia, Contudo, da mesma maneira que acontece no parlamentarismo, a relagdo de representagao tem um caréter essenciaimente pessoal”. (MANIN, 1995, p. 25) 4 Apesar de ressaltarmos a varidvel imagem/ atribut, Isso no significa que propornos um modelo de andlise do comportamento sleitoral. Isso implicaria a introdugo de gutras variévels orientadoras do voto, corne © voto por avaliacdo de desempenho (CARREIRAO, 2000), o voto idectégico (SINGER, 2000), além de varidveis intervenientes, come o grau de sofsticagéo politica do eleitorado (CASTRO, 1994) 162 BOREA, J. Cultura politica, ideologia e comportamento eleitoral Mesmo que se concorde com a afirmagao de um processo de personalizaco “universal” da polftica, este conceito deve ser no minimo matizado quando séo estabelecidas comparagdes entre pafses com democracias estdveis ¢ paises recém democratizados e, com democracias que convivem com uma instabilidade crénica ‘A generalizagao, nesses casos, pode levar a erros graves na anélise dos processos politicos recentes, como 0 que cometeu Novaro (1998a e 1995b), quando analisou © fenémeno do “menemismo” na Argentina (e se poderia acrescentar Collor no Brasil e Fujimori no Peru) como parte deste processo universal da democracia contemporanea. Em altima insténcia, seguindo a anélise de Novaro, pouca diferenga (ou nenhuma) haveria entre a eleigéo de Menem na Argentina e Bill Clinton nos Estados Unidos, pois os dois pafses estariam vivenciando um processo de personalizagéo da politica. Ora, se uma das opgées metodolégicas da politica comparada é aquela que busca encontrar similaridades entre os fendmenos politicos, entende-se que esta busca no deve ser “cega”, sob o risco de atribuir 0 mesmo significado a fenémenos diferentes. Assim, enquanto @ personalizagdo parece ser uma excegdo e um fenémeno recente das democracias avancadas, em paises como o Brasil ela sempre se constituiu em uma das regras do comportamento eleitoral. Além disso, nas democracias avangadas tal fendmeno convive com eleitores com niveis de sofisticagao, estruturagéo ideolégica e capacidade de conceitualizagéo politica muito superiores média do eleitor brasileiro. Diante destes fatos, a explicagéo para o personalismo do eleitor brasileiro e a estruturagdo do voto guiada por atributos e imagens deve ser buscada na histéria do pais ¢ no seu impacto na conformagdo dos principais aspectos da sue cultura politica. Varios caminhos podem ser tomados na tentativa de compreender a histéria politica brasileira. Em trabathos anteriores apontei para o impacto que as idéias tecnocraticas e autoritérias tiveram, na configuragéo das estruturas do aparalho de Estado e da cultura politica brasileira (BORBA, 2001, 2002 e 2003). Os dois regimes autoritérios ao longo da histéria republicana foram fortemente racionalizados e legitimados por arguimentos de inspiragéo tecnocratica, fazendo com que a organizagao do aparetho de Estado fosse fortemente estruturada a partir dessas idéias (como, por exemplo, nos conselhos técnicos), juntamente com a promogao de um forte desprestigio das instituigdes politicas constituintes da demoeracia, como o parlamento e os partidos politicos!*. As conseqléncias desses processos sobre estas instituicdes foram muitas, e dentre elas cabe destacar a estruturagéo de um sistema partidério extremamente fragmentado, instével, 4 Sobre o impacta que essas idélas tiveram na estruturagao dos partidos politicos na América Latina, ver © trabalho de Baquero (2000, cap. 2). Especificarnente sobre © caso brasileiro, também hé 9 cléssico trabalho de Maria do Carmo Campello e Souza (1990 (1976) 163 QPINIAD PUBLICA, Campinas, Vol. XI, n° }, Marco, 2005, p. 147-168 oligarquizado e extremamente frégil como mediador politico entre a sociedade e ¢ Estado. Diretamente relacionado com a fragilidade do sistema partidério, o poder legislativo caracterizou-se por uma permanente atrofia que, historicemente, ¢ colocou a raboque de um poder executive “todo poderoso” Estes fatos, juntamente com varios aspectos da estrutura econdmica de sociedade brasileira, na qual uma boa parcela dos seus cldadéos ndo tem acesso as mfnimas condigées para sua subsisténcia, foram em grande parte responséveis pele configuracéo do sistema de crengas politices da sociedade!®, Deste modo, conjugagao de cidadaos pouco sofisticados com a constante difusdo de ideologias antidemocraticas foi o elemento central da formagao de cultura politica brasileira, permitindo que o personalismo constitulsse @ base histérica de estruturaco do compartamento eleitoral. Referéncias Bibliograficas ALMOND, G.; VERBA, S. The civic culture: poitica attitudes and democracy in five nations. Princeton: Princeton University Prees, 1989 [1963} ALMOND, G. 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