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Sinopse

Ele não deveria querer o inimigo...

Com sua família brutalmente assassinada e seu trono roubado, o príncipe


Warrehn planeja sua vingança há vinte anos.
Quando ele volta para reclamar seu trono, tudo o que ele quer é punir os
usurpadores: a mulher que matou sua família e seu filho, Samir, que cresceu
para ser tão bonito e venenoso quanto sua mãe. Ele sabe que Samir não é
confiável, mas Warrehn não consegue ficar longe dele. É um maldito desastre.
Samir nunca pensou que teria que fazer o papel de vilão. Infelizmente,
proteger sua mãe significa fazer parte de seus planos para manter Warrehn do
trono, o que só faz Warrehn desprezá-lo ainda mais.
Mas quando ele e Warrehn são colocados juntos em circunstâncias fora
de seu controle, eles precisam aprender a se aturar. Samir nunca foi objeto de
um ódio tão intenso e de uma paixão tão intensa. Warrehn o perturba e o faz se
comportar como outra pessoa, alguém que Samir mal reconhece: alguém
desesperado e sem vergonha.
Ele sabe que essa coisa entre eles não tem esperança. Eles não têm futuro
juntos quando Warrehn e sua mãe estão determinados a esmagar um ao outro.
Ele ama sua mãe, mas sua atração por Warrehn é como uma droga poderosa,
consumindo-o e mudando-o de maneiras que ele não esperava. O que Samir
fará quando tiver que escolher? O amor pode vencer o ódio e o passado confuso
e tóxico de seus pais?
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Capítulo 1
— Você será o rei quando crescer.
Essas foram as primeiras palavras que sua mãe disse naquela manhã.
Samir tinha cinco anos. Sua mente sonolenta não conseguia entender o
que ela estava dizendo.
— Eles se foram, meu querido, — disse sua mãe.
Samir piscou, totalmente confuso. A mãe estava falando sobre o rei e a
rainha consorte? Eles haviam morrido meses atrás.
— Não eles, — sua mãe disse, com um sorriso estranho. — Os príncipes.
Warrehn e o pequeno Eri. Eles foram sequestrados pelos rebeldes. — Ela
acrescentou depois de um momento: — Pobrezinhos. Eles quase que certamente
estão mortos.
Samir a encarou.
Apesar de ser uma criança, até ele poderia dizer que ela não estava sendo
honesta. Sua mãe estava feliz que Warrehn e o bebê Eri tinham ido embora.
Samir não estava feliz, mas também não estava chateado. Ele simplesmente
não os conhecia bem. Warrehn era muito mais velho que ele – dez – então nunca
havia tocado com Samir. Eri tinha apenas três anos – ele era praticamente um
bebê – então ele e Samir também não brincavam juntos. Além disso, havia o fato
de que Samir e sua mãe eram basicamente parentes pobres. Samir era
tecnicamente o próximo na linha de sucessão ao trono depois dos príncipes, mas
ele vinha de uma linha real secundária que descendia de um ramo
completamente diferente da árvore genealógica real, tão distante da família real
que eles poderiam muito bem não serem parentes. A Casa de Zaver e a Casa de
Lavette tinham compartilhado um ancestral comum oitocentos anos atrás. Samir
nunca deveria herdar.
Mas ele o faria, se os príncipes realmente estivessem mortos.
Três meses depois, o Conselho dos Doze Grandes Clãs declarou que o
príncipe Warrehn e o príncipe Eruadarhd provavelmente estavam mortos e
nomeou Samir o herdeiro presuntivo. Sua mãe seria sua regente até que ele
completasse vinte e cinco anos.
Nos dias seguintes, todo mundo que era alguém parecia comentar sobre
isso. “Que tragédia” as pessoas exclamavam em voz alta antes de sussurrar para
a mãe de Samir “Que sorte para seu filho, minha querida”.
Sorte. Samir supôs que, de certo ponto de vista, era realmente um golpe de
sorte insano que ele, um príncipe insignificante de uma linha real secundária,
tivesse sido elevado ao status de futuro rei. Sua mãe ficou emocionada, e isso fez
Samir se sentir um pouco estranho. Ele adorava a grande sala de jogos do palácio
real, adorava os brinquedos caros e incríveis que de repente possuía, mas não
podia deixar de sentir que ele e sua mãe não os possuíam. Como se os tivessem
roubado.
Mas, com o passar dos anos, esse sentimento foi desaparecendo
lentamente.
Ele era Samir”ngh”lavette, o futuro rei do Quinto Grande Clã.
Foi assim que ele foi criado.
Isso foi quem ele foi por quase vinte anos.
Até que de repente ele não era.
***
Aparentemente, o príncipe Warrehn não estava morto.
E ele estava voltando para casa.
— Isso não pode estar acontecendo, — Dalatteya murmurou baixinho,
andando pela sala do trono. — Uma solução. Tem que haver uma solução!
Samir observou sua mãe, uma estranha espécie de torpor enchendo suas
entranhas desde que ouvira a notícia.
— Ele é o rei legítimo, mãe, — afirmou. Ele se sentia... desequilibrado.
Como se tudo o que ele sabia sobre seu mundo tivesse virado de cabeça para
baixo. Apenas algumas horas atrás, ele estava se preparando para sua próxima
coroação. Ele seria o rei quando fizesse vinte e cinco anos, a posição para a qual
sua mãe o preparara desde os cinco anos. Na verdade, ele já era praticamente o
rei, governando seu grande clã através de sua mãe, que era sua regente. Mas
agora ele estava de volta a ser o parente pobre. Ninguém.
Era surreal.
Dalatteya olhou para ele.
— Pare de falar bobagem, Samir! — Ela mordeu. — Você é o rei legítimo,
não ele! Ele não é aquele que fez do nosso grande clã o mais próspero do planeta!
— Seu lindo rosto se iluminou, seus olhos azuis escuros se tornando calculistas.
— Nós podemos usá-lo, na verdade. Nosso povo ama você, não ele. Tudo o que
Warrehn tem a seu favor é sua linhagem. Não será impossível derrubá-lo.
— Mãe, — disse Samir, olhando ao redor. Esse tipo de conversa era
perigoso.
Mas Dalatteya o ignorou e voltou a andar de um lado para o outro,
murmurando algo baixinho.
Samir suspirou, observando-a enrolar uma mecha de seu cabelo violeta
enquanto pensava. Ele amava sua mãe, ele realmente amava, mas ela podia ser
um pouco demais às vezes. Ele não gostava de vê-la assim. Ele sabia que ela
podia ser implacável e calculista, mas geralmente era por uma boa razão. Isso...
ele não tinha certeza se era bom. Embora ele se sentisse chateado por sua vida
ser revirada novamente, Samir não se sentia com direito ao trono do jeito que
sua mãe parecia pensar que ele deveria ter. Warrehn tinha sido o príncipe
herdeiro aos dez anos de idade; ele tinha idade agora, vinte e nove, quase trinta.
Ele era o legítimo rei do Quinto Grande Clã por direito de sucessão. Samir teria
que aceitar.
Seria uma mentira dizer que ele não sentiu nenhum ressentimento ou
decepção. Ele fez. Claro que sim. Depois de quinze anos se preparando para o
papel e governando efetivamente nos últimos quatro anos, ele se sentiu...
roubado. Completamente cego. Como se sua vida de repente não tivesse sentido
ou propósito. Se ele não era o futuro rei, quem era ele? Tinha sido parte de sua
identidade durante a maior parte de sua vida. Então, sim, ele estava desapontado
e chateado. Mas não era nada comparado à pura raiva que emanava de sua mãe.
— Mãe, acalme-se, — disse Samir. — Não há nada que possamos fazer.
Se Warrehn está realmente vivo, não há nada que possamos fazer a não ser
graciosamente renunciar. O trono é dele por direito.
— Você não entende, — ela retrucou, agitação saindo dela em ondas. —
Depois de tudo que eu fiz, ele não pode simplesmente voltar e levar tudo embora.
Samir franziu a testa.
— O quê? O que você quer dizer?
Ela não disse nada, sua expressão se tornando impossível de ler.
Samir sempre invejou essa habilidade. Enquanto ele se parecia muito com
sua mãe, tendo herdado seu cabelo violeta, pele pálida e olhos azuis escuros, ele
não tinha herdado sua habilidade de esconder perfeitamente seus pensamentos
quando ela queria.
— Quero dizer que me esforcei tanto para torná-lo o melhor rei possível
para este país, — ela disse finalmente. — Vinte anos, desperdiçados. Não, eu me
recuso a tomá-lo deitada.
Samir sentiu uma pontada de pena dela. A notícia provavelmente foi um
golpe maior para sua mãe do que para ele. Ela sempre quis vê-lo no trono; ela
estava tão investida nisso - sempre esteve tão investida nele. Samir sabia que
tudo que sua mãe fazia era para ele. Apesar de sua rara beleza, ela não se casou
novamente depois de ficar viúva, embora nunca lhe faltou admiradores. Ela
ignorou os numerosos forasteiros e Calluvianos viúvos que a cortejavam por
anos, gastando todo seu tempo com seu único filho, ensinando-lhe política e
línguas e conseguindo os melhores professores em áreas que ela não estava
qualificada para ensinar. Samir sabia como era sortudo por ter uma mãe tão
solidária. Na maioria das famílias reais, os pais não estavam nem de longe tão
envolvidos na educação de seus filhos. Ele tinha a melhor mãe do mundo. Ele
estava mais chateado em nome dela do que em seu próprio.
— Mãe, — Samir disse em um tom apaziguador, ficando de pé e pegando
suas mãos delicadas nas dele. — Eu sei que você está chateada, mas por favor
tome cuidado com o que você está dizendo. As pessoas podem ouvi-la e
interpretá-la errado.
Dalatteya deu-lhe um longo olhar, algo frio e calculista em sua expressão.
— Não me entendeu? Não há mal-entendido, Samir. Não verei ninguém
além do meu filho no trono deste país. Esse é o fim do assunto.
Samir olhou para ela, e ela olhou de volta.
Uma sensação de afundamento apareceu na boca de seu estômago.
Olhando para ela agora, Samir não conseguia mais afastar o pensamento que
vinha ressurgindo de tempos em tempos, o pensamento de que ela poderia ter
algo a ver com o desaparecimento dos príncipes.
— Não olhe para mim desse jeito, — ela disse depois de um longo e espesso
silêncio. — Fiz o que tinha que fazer.
Samir cobriu os olhos com a mão e balançou a cabeça, incapaz de
acreditar no que estava ouvindo. Ele não era ingênuo. Nem era tolamente
idealista. Ele sabia que às vezes era necessário ser implacável na política. Mas
fazer algo para as crianças ... ele traçou a linha lá.
— Eu não posso acreditar em você, — ele sussurrou asperamente. —Eles
eram crianças – o príncipe mais novo tinha três anos!
Dalatteya suspirou.
— Eu sei, — ela disse, sua voz vacilando antes de se tornar firme
novamente. — Não tenho orgulho disso. Mas o que está feito está feito. Agora
temos que lidar com as consequências. Warrehn provavelmente suspeita que eu
esteja por trás da tentativa de assassinato contra ele e seu irmão.
Samir balançou a cabeça, incapaz de acreditar em quão irreverente ela
estava sendo.
— Três , mãe! Você é a culpada pela morte de uma criança!
— Sim, tive que tomar algumas decisões difíceis, mas tudo o que fiz foi
por você!
Samir ficou boquiaberto.
— Você não pode simplesmente usar isso como uma desculpa-
— Seu menino ingrato e tolo, — ela sussurrou, seus olhos brilhando com
lágrimas. — Você já não se lembra da forma como fomos tratados antes? Como
parentes pobres, mal tolerados por causa das aparências? Eles nos desprezavam,
zombavam de nós, e a rainha consorte me odiava - e você por associação.
Samir franziu a testa. Ele se lembrava disso, na verdade. Mesmo quando
criança, era difícil perder a forte antipatia que a rainha consorte emanava em
torno de sua mãe. Ele nunca descobrira o porquê - não o interessara muito
quando criança - e a rainha consorte já estava morta quando ele ficou curioso
o suficiente sobre esses assuntos adultos. Ele só sabia que sua mãe e o falecido
rei haviam crescido juntos depois que Dalatteya foi adotada na Casa de Zaver
depois de perder seus pais.
— Por que? — Ele disse. — Por que ela odiava você?
Dalatteya apertou os lábios e levou um momento para responder.
— Emyr, o rei estava fixado em mim. A rainha consorte estava louca de
ciúmes, embora a obsessão de seu marido não fosse minha culpa. Eu certamente
não o encorajei.
As sobrancelhas de Samir se juntaram. Agora que pensava nisso,
lembrava-se vagamente de encontrar sua mãe e o rei Emyr discutindo
acaloradamente; ele uma vez o viu agarrando o braço de Dalatteya e se
recusando a soltá-lo quando Samir entrou na sala. Quando jovem, ele não tinha
pensado muito nisso, mas como um adulto... ele não podia acreditar que não
tinha somado dois mais dois até agora.
— Seu vínculo matrimonial com a rainha consorte estava com defeito,
então? — Samir disse, referindo-se ao fato de que geralmente os companheiros
de união eram incapazes de sentir muita atração por alguém que não fosse seus
cônjuges.
Dalatteya deu de ombros, seu rosto terrivelmente vazio de uma forma que
disse a Samir que ela estava escondendo alguma emoção forte.
— Sua telepatia se tornou errática depois que ele caiu de um zywern e
bateu a cabeça quando era menino, — ela disse em uma voz sem tom. — Todos
os seus laços telepáticos eram muito fracos, incluindo seu casamento. Ele nunca
se importou com sua noiva e passou toda a sua juventude correndo atrás de
mim, embora eu fosse noiva de seu pai e eventualmente me casasse com ele. Seus
lábios se estreitaram. — O rei o matou, você sabe.
Samir sussurrou: — O quê?
— Foi Emyr quem mandou assassinar seu pai; não eram assaltantes. Emyr
o odiava, odiava que seu pai tocasse o que ele considerava dele.
O que ele considerava dele?
Samir ficou frio.
— Mãe, o Rei Emyr - ele forçou você...?
Evitando seus olhos, Dalatteya riu, o som agudo e quebrado.
— Você não diz não a um rei, Samir.
Samir ficou de pé e começou a andar de um lado para o outro, sentindo-
se mal do estômago. Deuses. Tantas coisas faziam sentido agora: a maneira como
o rei os mantinha no palácio, embora fossem membros de uma casa diferente, o
fato de a rainha consorte odiar sua mãe e o fato de sua mãe parecer pálida e
assombrada após a morte de seu pai... A forma como Dalatteya parecia quase
aliviada quando o casal real morreu no ataque terrorista.
O ataque terrorista.
Samir parou abruptamente, de costas para a mãe.
— Não foi um ataque terrorista, foi?
Houve apenas silêncio em resposta.
Finalmente, sua mãe falou, sua voz tão sem tom e baixa que era quase
inaudível.
— Eu tinha dezesseis anos quando aconteceu a primeira vez. Eu aguentei
ser objeto de sua obsessão doentia por vinte e três anos, Samir. Suportei o ódio
de sua esposa por muito tempo. Mas ele matar meu marido foi a gota dӇgua.
Não suportaria deixar o assassino de seu pai tocar meu corpo. Então eu o matei.
No dia em que ele morreu, eu finalmente estava livre.
Samir inalou trêmulo, sem saber o que pensar. Ele definitivamente
entendia por que sua mãe tinha feito isso, e ele simpatizava muito com ela,
mas…
— Você pretendia que a rainha consorte morresse também? — Ele disse,
esperando desesperadamente que ela dissesse não, que ela dissesse que a rainha
consorte tinha sido um dano colateral.
— Sim, — disse Dalatteya na mesma voz sem tom. — Eu precisei. No
momento em que Emyr morresse, ela mandaria matar nós dois. Ela tentou me
envenenar duas vezes, e quase o matou quando você provou minha comida.
Você provavelmente não se lembra disso - você tinha apenas três anos. Ela me
odiava, Samir. Esse tipo de ódio não desaparece. Eu tinha que nos proteger. Ela
tinha que morrer também.
Samir fechou os olhos.
— E os filhos deles? Eles eram inocentes.
Ela suspirou.
— Eu não sou um monstro. Eu não pretendia fazer nada com eles em
primeiro lugar. Mas eu sabia que eles suspeitariam do que aconteceu com seus
pais quando crescessem – e então eles poderiam descobrir a verdade. Warrehn
já estava começando a fazer perguntas sobre o ataque terrorista. Eu não tive
escolha. Além do mais…
Quando ela parou e não disse mais nada, Samir se virou e olhou para ela.
Havia um tipo de fogo estranho e louco nos olhos de Dalatteya quando ela
disse: — Foi minha vingança também. Eu sabia que ele iria odiar o fato de que
você, o filho do homem que ele odiava, o menino cuja existência ele odiava,
herdaria seu trono em vez de sua própria carne e sangue. E ele odeia, eu sei que
ele odeia muito.
Samir a encarou antes de dizer lentamente: — O rei Emyr está morto, mãe.
Você percebe isso, certo?
Dalatteya piscou, como se acordasse de um sonho. Ela fez uma careta, seus
lábios franzindo com força, antes de desviar o olhar.
— Claro que eu sei disso - eu não sou louca.
Samir assentiu, não muito convencido. De repente, ele se perguntou se a
obsessão de Emyr tinha sido totalmente unilateral. Afinal, era possível ficar
obcecada por um homem que você odiava e desprezava. As pessoas diziam que
perder alguém que se odiava apaixonadamente era tão difícil quanto perder
alguém que se amava - e tão difícil de seguir em frente.
Afastando o pensamento para examiná-lo mais tarde, Samir se concentrou
em uma questão mais urgente.
— Mas aparentemente o príncipe Warrehn não está morto, afinal. O que
aconteceu, mãe?
Dalatteya acariciou seus lábios pensativamente. Ela realmente ainda era
uma mulher extraordinariamente bela, Samir notou objetivamente. Ela tinha
cinquenta e nove anos, meia-idade para os padrões caluvianos, mas ainda
ofuscava a maioria das mulheres jovens. Não era de admirar que o rei Emyr
estivesse tão obcecado por ela, apesar de sua própria esposa ser uma beleza de
cabelos dourados. Embora Samir se parecesse com ela, ele sempre se sentiu como
se fosse apenas uma pobre imitação de sua mãe. Uma falsificação muito boa que
não tinha sua aparência etérea.
— Eu não tenho certeza do que aconteceu, — disse ela. — Subornei os
guarda-costas dos príncipes para se livrarem dos meninos e não tenho certeza
se confio no relato deles sobre o que aconteceu. Eles deveriam matá-los na
floresta e culpar os rebeldes. Mas de alguma forma, os meninos escaparam. Eu
entendo que houve uma perseguição e o príncipe mais jovem morreu no caos.
— Dalatteya balançou a cabeça com uma careta, esfregando as têmporas. —
Pobre criança. Eu realmente não queria machucá-lo, mas na época eu pensei
que não tinha outra escolha. Eu provavelmente não faria a mesma escolha agora
– o pequeno Eri era inocente, e eu sempre gostei muito dele, embora ele fosse
sua prole – mas naquela época, eu simplesmente entrei em pânico e agi quando
Warrehn começou a fazer perguntas.
Samir olhou para ela inquisitivamente.
— E quanto a Warrehn?
Uma leve careta tocou os lábios de Dalatteya.
— Em uma ironia do destino, parece que os rebeldes realmente estavam
na área e o sequestraram. Warrehn de alguma forma acabou em uma colônia
remota do Terceiro Grande Clã, Tai’Lehr, e tem vivido lá como um convidado
relutante por todos esses anos. Eu descobri com o resto do Conselho – eu
realmente pensei que ele estava morto até então.
Samir suspirou. Ele não sabia o que pensar. Como sentir. Objetivamente,
ele entendia por que sua mãe tinha feito isso, e mesmo subjetivamente, ele não
tinha problema com ela matando o homem que a coagiu sexualmente por anos
e matou o pai de Samir. Mas os príncipes... Ele estava mais em conflito com isso.
Racionalmente, ele se sentia enojado por sua crueldade com as crianças, mas
ainda não conseguia odiá-la. Ela era sua mãe. Ele a amava, apesar de tudo. Ela
era sua mãe. Ele morreria por ela.
— Tudo bem, — disse ele. Não havia sentido em insistir em suas escolhas
e erros passados. Eles tinham que lidar com as consequências agora. Isso era
mais importante. — Warrehn pode provar seu envolvimento na morte dos pais
dele?
— Não, — disse Dalatteya com confiança. — Eu me certifiquei de apagar
todas as evidências nos anos desde então. Nada pode ser rastreado até mim
agora.
Suprimindo a vontade de dizer que ela deveria simplesmente ter feito isso
em vez de entrar em pânico quando Warrehn começou a fazer perguntas e
decidir se livrar dele, Samir respirou fundo e disse com voz calma: — Tudo bem.
E o ataque aos príncipes? Ele pode provar que você estava envolvida?
Dalatteya mordeu o lábio, seus olhos se estreitaram em pensamento.
— Eu não sei, — ela disse calmamente. — É possível que ele tenha ouvido
seus guarda-costas e é por isso que ele fugiu. Não sei o que ele pode ter ouvido.
— Ótimo, — Samir murmurou baixinho, soltando um suspiro e passando
a mão pelo rosto.
— Isso não significa nada, —, disse sua mãe. — Ele vai ter que morrer.
Samir levantou a cabeça e olhou para ela.
Ela olhou de volta calmamente.
Capítulo 2
Havia uma possibilidade real de que sua mãe fosse um pouco louca.
Havia uma possibilidade real de que Samir fosse louco também, porque
ele estava brincando com ela. Por enquanto. Ou pelo menos foi o que ele disse a
si mesmo. Ele estava curtindo sua ideia insana de se livrar de Warrehn - matar
o rei legítimo - até que Samir pudesse encontrar uma solução melhor.
Havia uma solução melhor embora? Ele tinha que trabalhar com a mão
que recebeu, e essa mão era terrível. Ele não queria que sua mãe fosse presa. Ele
tinha que protegê-la. Ela pode ter sido mal orientada em suas ações, mas ele
sabia que ela tinha boas intenções, mesmo que seu senso de justiça fosse
extremamente desequilibrado. Ou talvez ele simplesmente não pudesse ser
objetivo sobre ela. Ela era sua mãe, sua única família.
— Não faça nada precipitado, mãe, — disse Samir, mantendo um sorriso
agradável no rosto enquanto ele e Dalatteya estavam na entrada principal do
palácio.
Palácio de Warrehn, corrigiu-se mentalmente.
— Claro que não, meu querido, — sua mãe disse, sua mão fina
descansando em seu bíceps. Seu rosto era uma máscara perfeitamente agradável
que provavelmente enganou todos os nobres que os cercavam. Todos os
observavam como falcões - ou melhor, como víboras procurando alguma fofoca
suculenta.
Samir estava determinado a não lhes dar nada para falar. Ele manteve sua
expressão neutra quando o carro aterrissou no gramado da frente.
O homem que saiu dele era alto. Essa foi a primeira coisa que Samir
registrou. Ele era muito alto e musculoso, fazendo todos os outros parecerem
baixos em comparação. O cabelo bronze do homem brilhava sob a luz do sol,
mas Samir tinha a sensação de que ficaria mais castanho em outras
circunstâncias.
Ele estudou o rosto do homem com curiosidade. Ele teve dificuldade em
ver o menino de dez anos despreocupado que ele se lembrava naquele homem
sombrio com olhos azuis duros. Ele era bonito, Samir supôs, ou seria se não
estivesse franzindo tanto a testa. Ele parecia claramente infeliz enquanto
observava a pequena multidão reunida para cumprimentá-lo antes que seu
olhar pesado finalmente caísse sobre Samir e sua mãe.
Seus olhos se aguçaram, seu rosto de alguma forma se tornando mais duro.
Ele os encarou, sua presença telepática emanando forte antipatia, alto e claro.
O sorriso experiente de Samir congelou em seus lábios. Ele olhou para sua
mãe em busca de orientação, mas o rosto de Dalatteya não traiu nada. Ao
contrário de Samir, ela segurou o olhar de Warrehn sem vacilar, irradiando
indiferença educada, como uma rainha se dignando a falar com alguém muito
abaixo dela.
— Sobrinho, — disse ela, sorrindo.
Todos os sussurros cessaram enquanto todos esperavam a reação de
Warrehn.
— Você não é minha tia, — Warrehn disse, sua voz tão dura quanto seu
rosto.
Samir piscou, ainda atordoado com sua atitude. Ele tinha pensado que
Warrehn iria pelo menos manter a aparência de polidez. Todos os membros da
realeza o fizeram, independentemente de seus sentimentos pessoais. Era apenas
a maneira como as coisas eram feitas. Ninguém disse o que realmente pensava
no tribunal. Exceto para Warrehn, aparentemente.
O sorriso de Dalatteya tornou-se enjoativo e doce.
— Sei que não sou sua tia de sangue, querido, mas você me chamava de
tia quando era menino. Eu gostaria que você continuasse me chamando assim.
Warrehn olhou para ela.
— E eu gostaria que você se mudasse da minha casa, tia.
Uma onda de sussurros escandalizados rompeu a multidão.
O sorriso de Dalatteya congelou. Pela primeira vez, ela parecia insegura,
claramente desequilibrada pela atitude de Warrehn, antes que seus olhos se
estreitassem, um brilho perigoso aparecendo neles.
Samir franziu a testa. Havia duas maneiras de isso acontecer: as coisas se
transformariam em uma War civil total, ou ele precisava de alguma forma
quebrar a tensão e acalmar todos, e rápido, antes que a fofoca se espalhasse.
Então ele deu um passo à frente, sorrindo, e caminhou até Warrehn.
— Eu senti falta do seu senso de humor! — Ele disse, levantando a voz
apenas o suficiente para ser ouvido, e o abraçou.
Era como abraçar uma estátua. Ou melhor, algo feito de durasteel.
Warrehn estava rígido contra ele, sua presença telepática como um fio vivo. Ele
realmente era muito alto e largo, fazendo Samir se sentir pequeno – e ele estava
muito longe de ser pequeno.
Alguns segundos se passaram.
Então, Warrehn não muito gentilmente o empurrou e olhou para ele, com
uma mistura de perplexidade e óbvia antipatia em seu olhar.
— O que-
— Eu sei, você parece tão diferente de como eu me lembro de você
também! — Samir o interrompeu, sorrindo para ele. — Mas eu reconheceria
seu terrível senso de humor em qualquer lugar!
Warrehn olhou para ele.
— Eu não-
— Vamos, vou lhe mostrar seu quarto, — disse Samir, pegando sua mão e
quase o arrastando em direção à porta da frente, longe dos olhos curiosos e dos
fofoqueiros. Os guardas na porta da frente curvaram-se para eles, seus rostos
impassíveis um forte contraste com a curiosidade que emanavam.
Samir arrastou Warrehn para a sala mais próxima. Ele fechou a porta e
largou o sorriso assim que ficaram sozinhos.
— Você está louco? — Ele disse, virando-se para Warrehn. — Eu não me
importo com seus problemas com minha mãe, mas você não deveria falar assim
com ela na frente de toda a corte! Você só vai fazer de todos nós o assunto de
fofocas desagradáveis.
— O que faz você pensar que eu me importo? — Warrehn disse em uma
voz plana.
Samir abriu a boca e a fechou sem dizer nada, olhando para o homem
mais velho em silêncio, sem palavras. Ele nunca conheceu um membro da
realeza que não se importasse com sua reputação e imagem pública.
Os lábios de Warrehn se torceram. Era incrível como um homem tão
objetivamente bonito podia parecer tão pouco atraente. As feições de Warrehn
eram classicamente bonitas, mas a carranca profunda entre suas sobrancelhas
finas e ao redor de sua boca o fazia parecer quase feio. Seu cabelo castanho
espesso e levemente encaracolado era a única coisa suave nele, sua mandíbula
dura e quadrada e polvilhada com barba escura. Olhos azuis olharam para
Samir com tanto escárnio que foi um pouco enervante – e Samir não era um
homem facilmente enervado.
— Não suporto políticos, mentirosos e traidores, — disse Warrehn na
mesma voz rouca e sem tom. — E você e sua mãe são todas essas coisas.
Então isso respondeu à questão de saber se Warrehn suspeitava da
verdade ou não.
Warrehn se aproximou, pairando sobre ele.
— Eu não posso provar sua culpa – ainda - mas eu quero você fora da
minha vista. Fora da minha casa.
Samir ergueu o queixo, o coração batendo tão rápido que quase o deixou
tonto.
— Eu não sei o que você está insinuando. Se você está tentando insinuar
que eu estava de alguma forma envolvido no ataque a você, deixe-me lembrá-
lo de que eu tinha cinco anos na época.
— Você estava, — Warrehn disse, olhando-o nos olhos com a mesma
expressão dura, irradiando antipatia. — Tenho certeza que não foi ideia sua na
época. Mas você ficou mais do que contente em se beneficiar da traição de sua
mãe enquanto se sentava no meu trono, gastava meu dinheiro e dormia na
minha cama.
Samir corou.
— Eu não dormi na sua cama, — ele disse, mais incomodado com as
palavras de Warrehn do que gostaria.
— Você sabe perfeitamente o que quero dizer.
Samir apertou os lábios, odiando não poder refutar. Por mais que tentasse
justificar as ações de sua mãe, seu senso interior de justiça e consciência não as
aprovava. Mas ele não podia dizer exatamente isso.
— Minha mãe é inocente, — disse ele por fim, lembrando-se tardiamente
de que precisava manter as aparências. Havia maneiras de extrair memórias e
mostrá-las às autoridades. Embora as memórias raramente fossem consideradas
a prova definitiva de culpa ou inocência de alguém, se houvesse um número
suficiente delas acumuladas, poderiam causar muitos danos, pelo menos à
reputação de alguém.
Warrehn sorriu sombriamente.
—Não desperdice seu fôlego. Eu sei a verdade. É apenas uma questão de
tempo até que todo mundo o faça - e você e sua mãe traidora acabem onde vocês
pertencem.
— Não fale assim da minha mãe.
— Qual caminho? — Warrehn disse, levantando as sobrancelhas. —
Desde quando falar a verdade é ofensivo? Ela é uma puta e uma traidora. Eu não
ficaria surpreso se ela chegasse onde está usando sua boceta também. Não é
como se ela tivesse muito mais com que pagar por nos trair.
Samir o socou com força telepaticamente, mas o bastardo nem sequer se
encolheu, seus escudos mentais como uma parede impenetrável. Isso só
enfureceu ainda mais Samir.
— Não se atreva a falar da minha mãe assim, — ele sussurrou, respirando
com dificuldade. Seus dedos tremiam tanto que ele teve que enrolá-los em
punhos. Em momentos como este, ele desejava ser bom em combate corpo a
corpo. Ele queria calar a boca de Warrehn, mas não sabia como. Ele nunca se
sentiu mais impotente em sua vida.
— Ou o que? — Warrehn disse com um brilho sardônico nos olhos. —
Você vai me matar? Sua boceta de mãe já tentou isso.
Samir lhe deu um soco na mandíbula - ou melhor, ele tentou. Uma mão
agarrou seu pulso em um aperto punitivo, e então Warrehn empurrou seu braço
contra a porta, prendendo-o a ela, e pairou sobre ele.
— Você não pode brincar de indignação justa quando você e sua mãe
construíram suas vidas sobre os ossos de minha família, — Warrehn disse, seus
olhos azuis de aço, sua respiração roçando o rosto de Samir. — Ela matou meus
pais. Ela matou meu irmão — um bebê. Não há redenção para pessoas como
vocês. Uma “buceta” é uma palavra muito gentil para pessoas como vocês.
“Não tivemos nada a ver com suas mortes”. Era isso que Samir deveria ter
dito. Mas ele ficou sem palavras, incapaz de falar sob o peso esmagador do ódio
de Warrehn. Ele podia sentir aquele ódio com sua pele: quente, implacável e
imparável. Este homem o odiava. Verdadeiramente o odiava. O abominava. E
nada mudaria isso, não importa o que Samir dissesse em sua defesa. Aos olhos
de Warrehn, Samir era tão cúmplice das mortes de sua família quanto Dalatteya,
porque foi ele quem se beneficiou delas.
— Lamento sua perda, — Samir disse suavemente.
Warrehn lançou-lhe um olhar de desgosto e, empurrando-o para longe,
saiu da sala.
Samir caiu contra a parede e fechou os olhos, ainda tremendo e sentindo
como se tivesse sido atropelado por uma força grande e imparável. Era estranho
ser odiado, e odiado com tanta intensidade. As pessoas normalmente o amavam.
Não que eles realmente o conhecessem, mas o amavam. Ele estava acostumado
a ser amado.
Ser odiado... isso o abalou profundamente. Ele se sentiu estranho. Pé
errado.
Como uma pessoa completamente diferente.
Capítulo 3
— Não, você viu isso? O jeito que aquele garoto se pavoneava, como se ele
fosse o dono do lugar?
Samir não disse nada, apalpado cutucando a comida em seu prato com o
garfo. Ele não se incomodou em dizer à mãe que Warrehn era o dono do lugar.
Tecnicamente, até a placa que Samir estava olhando pertencia a Warrehn, não
a eles. Mas ele sabia que sua mãe não ouviria. Então ele permaneceu em silêncio.
Desde o encontro com Warrehn algumas horas atrás, ele se sentiu
desequilibrado e abalado. Dividido entre a fúria e a culpa. Era uma mistura
horrível de emoções que ele não conseguia conciliar, os olhos azuis odiosos de
Warrehn ainda na vanguarda de sua mente.
— O que vocês dois ainda estão fazendo aqui?
Samir se encolheu tanto que quase caiu da cadeira. Ele ergueu o olhar e
encontrou Warrehn na porta, examinando-os com olhos apertados.
— Eu imploro seu perdão? — Dalatteya disse, endurecendo em seu
assento.
— Eu disse para você sair da minha casa.
Engolindo em seco, Samir olhou ao redor da sala.
— Vocês poderiam nos deixar, por favor? — Disse ele, dirigindo-se aos
servos.
Eles se curvaram para ele e saíram, nem mesmo olhando para Warrehn.
Este último observou a troca com um olhar sombrio, sua presença
telepática como uma nuvem de tempestade.
— Você está cometendo um erro, — Samir disse calmamente, estudando
seus próprios dedos antes de olhar novamente para Warrehn. Segurar seu olhar
pesado era difícil, mas ele se recusou a desviar o olhar. —Servos falam. Se você
nos expulsar, vai ficar muito ruim para você. Ninguém sabe o que fazer com
você. Ninguém confia em você depois que você se foi por quase duas décadas.
O fato de você estar se associando aos rebeldes que a maioria da população
desconfia maciçamente também não ajuda. Você terá uma rebelião em suas
mãos se continuar assim.
— Eu sou o legítimo rei deste clã.
Samir assentiu.
— Você é. — Ignorando o silvo furioso que sua mãe soltou, ele disse,
olhando para Warrehn. — Mas sua linhagem não lhe dá direito ao respeito e
amor das pessoas. Para nosso povo, minha mãe e eu somos a realeza que levou
nosso país à prosperidade. Você é a realeza que se associa aos rebeldes e vem se
esquivando de suas responsabilidades há vinte anos.
Um músculo começou a trabalhar na mandíbula de Warrehn. Se olhares
pudessem matar, Samir provavelmente estaria morto agora. Warrehn disse: —
Não foi assim que aconteceu.
— Mas é assim que as pessoas veem, — Dalatteya interrompeu, sua voz
fria como gelo. — Além disso, seu pai era um rei implacável e indiferente e as
pessoas não gostariam de ter seu filho no trono quando podem ter um monarca
que amam. Meu filho é amado por seu povo. Ele é gentil, ele é capaz e ele é
confiável. Você não é. — Ela zombou, olhando para Warrehn como se ele fosse
um inseto sob seu sapato. — Pelo menos seu pai era inteligente. Ele era
inteligente o suficiente para não mostrar o grande pedaço de merda que ele era.
As pessoas não sabiam o quão ruim Emyr realmente era. Ele enganou muitas
pessoas com sua aparência e sorrisos antes de esfaqueá-las pelas costas.
— Assim como você, hein? — Disse Warrehn.
Dalatteya empalideceu. Seus lábios mal se movendo, ela mordeu, —Eu não
sou nada como ele. Nada.
Warrehn apoiou um ombro largo contra a porta e ergueu as sobrancelhas
zombeteiramente.
— Não vejo diferença. Espere, não, eu conheço uma: meu pai não tinha
como alvo crianças. Ele era uma pessoa melhor do que você jamais poderia
esperar ser.
Dalatteya ficou de pé, seus olhos brilhando com um fogo estranho.
— Você não sabe de nada, seu tolo! Você não o conhecia como eu. Emyr
foi o pior homem que já conheci - sem coração, egoísta, cruel, arrogante...
— Ele era meu pai, — Warrehn afirmou em uma voz plana. — Ele não
era perfeito, mas estava longe de ser um monstro. Sua maior falha foi sua fixação
doentia em você.
Dalatteya ficou imóvel.
Warrehn sorriu sombriamente.
— O que, você pensou que eu não sabia? Eu tinha dez anos, não era uma
criança pequena. Todos sabiam onde ele passava as noites, inclusive minha mãe
e seu marido. Minha mãe sempre disse que você o enfeitiçou e que você seria a
morte dele um dia. Na época, eu pensei que ela estava apenas com ciúmes, mas
ela estava certa, não estava? Meu pai está morto porque ele colocou seu pau em
uma víbora e continuou voltando. — Ele olhou para Samir e zombou de ambos.
— Francamente, não entendo o apelo, e não tem nada a ver com a minha
preferência por homens. Seu filho é sua cópia carbono, e já vi putas de dez
créditos mais atraentes do que a companhia atual.
Samir corou, meio incrédulo, meio ofendido.
Dalatteya olhou para Warrehn por um longo momento antes de sorrir.
Era um sorriso muito bonito. Um sorriso perigoso. Ela contornou a mesa, seus
saltos estalando no chão enquanto ela se movia graciosamente em direção a
Samir. Colocando uma mão delicada no braço de Samir, ela o colocou de pé e o
empurrou para Warrehn.
— Sempre me diverte como os homens são simples, — disse ela enquanto
Warrehn os observava se aproximar com uma expressão cautelosa e
desconfiada. O olhar de Dalatteya se moveu para Samir e seu vínculo familiar
se acendeu com, Confie em mim.
Confuso, mas curioso para ver o que sua mãe havia planejado, Samir
assentiu.
Dalatteya olhou para Warrehn.
— Não sei se você se lembra, mas Emyr sempre foi péssimo em ouvir seus
conselheiros. Ele era muito teimoso e arrogante para se importar com a opinião
de alguém além da sua. Mas ele sempre foi tão agradável depois – como você
colocou? Ah, sim: depois de “colocar o pau numa víbora”. Eu me perguntei se
você herdou a fraqueza dele. Pelo jeito que você continua olhando para o meu
filho, parece que sim.
O que você está fazendo, mãe? Samir a empurrou através de seu vínculo,
mas Dalatteya o ignorou, sorrindo quando o olhar de Warrehn se intensificou.
— Ele é lindo, não é? — Dalatteya disse, empurrando Samir na frente de
Warrehn e forçando Warrehn a olhar para ele – e franzir mais a testa.
— Tão adorável . Isso é o que seu pai me chamou quando ele se forçou em
mim. Ele é adorável, você não acha?
— Cala a boca, — Warrehn gritou, desviando o olhar de Samir e
franzindo o cenho para Dalatteya. — Você está seriamente tentando prostituir
seu filho para mim? Eu não acho que poderia pensar pior de você, mas você
acabou de provar que eu estava errado.
O sorriso de Dalatteya se alargou.
— Oh, eu não tenho nenhuma intenção de deixar você encostar um dedo
no meu filho. Já era ruim o suficiente que eu tivesse que suportar as atenções de
seu pai. Nenhum filho dele jamais tocaria o meu. Estou simplesmente provando
que você não pode reivindicar o alto nível moral quando é filho de seu pai.
Warrehn riu.
— É hilário – e fodido – que você pense que a luxúria superficial é um
crime maior do que o assassinato de uma família inteira, incluindo crianças, e
regicídio. Você é louca pra caralho – e além de obcecada por um homem morto.
Meu pai está morto.
O rosto de Dalatteya ficou estranhamente branco.
Samir olhou para sua mãe com curiosidade, mais uma vez se perguntando
sobre seu relacionamento com Emyr. Seus sentimentos por ele pareciam muito
mais complexos do que simples ódio.
Samir limpou a garganta.
— Se vocês dois terminaram de falar sobre mim como se eu não estivesse
na sala, eu gostaria de comer, — ele disse, antes de olhar para Warrehn. — Prove
para minha mãe que você não é seu pai e realmente ouça um conselho sensato
e honesto: você não pode se dar ao luxo de nos expulsar do palácio. Isso seria
uma ótica terrível. Mas se você está tão determinado a ser um idiota teimoso,
fique à vontade. Você está apenas fazendo o jogo da minha mãe.
Warrehn olhou para ele, sua expressão procurando. Intenção.
Samir teve uma sensação estranha na cabeça e levou um momento para
perceber qual era a sensação: Warrehn estava lendo sua mente. Foi uma
sensação sutil, mas não sutil o suficiente.
— Terminou de bisbilhotar? — Disse Samir. — Agora saia da minha
cabeça.
Warrehn nem teve a decência de parecer envergonhado. Se alguma coisa,
seu olhar tornou-se afiado com curiosidade.
— Sua telepatia não é limitada, — disse ele. — Seu vínculo de infância
está quebrado, quase inexistente. Por que?
Samir sentiu sua mãe ficar tensa. Ela lhe lançou um olhar de advertência,
mas Samir não precisava disso. Ele dificilmente iria revelar seu segredo mais
vergonhoso para um homem que o usaria contra ele.
— Meu companheiro de ligação está morto, — disse ele. — Não que isso
seja da sua conta. Se você tentar bisbilhotar minha cabeça novamente, vou
denunciá-lo. É um crime, e um crime que não ficaria bem na sua situação em
particular.
O homem impossível não parecia nem um pouco preocupado. A
curiosidade aguda ainda queimava nos olhos de Warrehn, e Samir lutou para
manter um olhar composto em seu rosto. Algo na intensidade desse homem era
altamente inquietante, fazendo-o sentir-se desequilibrado, mais desequilibrado
do que já havia sentido.
— Então, devemos arrumar nossas coisas ou não? — Samir disse,
quebrando o silêncio.
Warrehn olhou para ele um pouco mais. Então ele pegou seu
comunicador e foi embora, falando baixinho.
Samir o encarou com frustração. Isso foi um não ou um sim?
— Ele quer você, — disse Dalatteya.
Samir se encolheu e desviou o olhar das costas de Warrehn.
— Não seja boba, mãe. Você o ouviu.
Os lábios macios de Dalatteya se curvaram em um sorriso de escárnio.
— Confie em mim, eu sei do que estou falando. Ele pode negar tudo o que
quiser, mas continua olhando para você desnecessariamente – e fica olhando.
Ele tenta disfarçar com carrancas, mas eu conheço homens. Ele está atraído por
você, mesmo que seja uma atração superficial baseada apenas na aparência
física. — Sua expressão tornou-se pensativa. — Nós poderíamos usá-lo, talvez.
Samir suspirou e se perguntou ociosamente por que não poderia ter
nascido de uma mulher simples que não tramava enquanto respirava.
— Eu pensei que você “não iria deixá-lo colocar um dedo” em mim?
— E eu não vou, — disse ela. — Nenhum filho de Emyr tocará o meu. Mas
poderíamos usar sua atração de várias maneiras. Venha comigo. — Tomando
seu braço, ela o levou para o terraço do lado de fora. Eles caminharam mais
fundo nos jardins antes que ela falasse novamente. — Não é segredo que
Warrehn não está vinculado. Seu vínculo de infância com sua noiva foi
totalmente dissolvido recentemente, então ele está muito livre para formar
ligações e perseguir seus desejos. Seu estado desvinculado é uma fonte adicional
de desconfiança em relação a ele. A opinião predominante entre a população é
que seu estado desvinculado indica que ele é muito agressivo e menos no
controle de suas ações. Nós poderíamos usar isso. Poderíamos usar sua atração
relutante por você para acusá-lo de agressão sexual se vocês dois fossem pegos
em uma situação ambígua.
— Não, — disse Samir, fazendo uma careta. — Não quero derramar
sangue desnecessariamente e prejudicar nossa economia.
— Desnecessariamente?
Samir suspirou.
— Sim. Não posso usar nosso povo dessa maneira. A War civil não é o que
eu tenho trabalhado por todos esses anos.
— Não seja tolo. Você realmente acha que aquele bruto é capaz de
governar nosso grande clã e o levaria à prosperidade?
— Eu não sei, — ele disse honestamente. — Nós mal o conhecemos. Mas
ele tinha dez anos quando seus pais morreram. Certamente o ex-rei começou a
ensiná-lo antes de sua morte?
Dalatteya fez um som irônico.
— Emyr não estava muito envolvido na educação de seus filhos. Entre
governar o país e tornar minha vida um inferno, ele não tinha tempo para mais
nada.
— Ainda assim, — disse Samir. — Ele provavelmente pegou algo do Lorde
Tai’Lehr se ele foi criado em sua casa.
— Isso não significa, — disse ela com desdém. — Um bom monarca deve
estar sempre preparado para fazer alguns sacrifícios necessários para o bem
maior do país. A War civil teria danos colaterais, mas é necessária neste caso.
— Não.
— Querido, — sua mãe disse em uma voz assustadoramente gentil. —
Você percebe que se você é contra isso, a única outra opção é remover Warrehn
da foto?
Samir quase riu. Ele invejava a capacidade de sua mãe de falar sobre matar
alguém em termos tão indiferentes.
— Eu me recuso a acreditar que matar uma pessoa seja a única opção, —
disse ele com firmeza.
Dalatteya suspirou. Eles caminharam em silêncio por um tempo.
— Há outra opção, eu suponho, — ela disse finalmente. — Você poderia
usar a atração dele por você para fazê-lo abdicar.
Samir riu dessa vez.
— Por favor, isso nunca vai acontecer. Ninguém desistiria de seu reino
por causa da luxúria, mãe.
Lançando-lhe um olhar inexpressivo, Dalatteya disse: — Preciso contratar
outro professor de história para você? Quantas Wars foram travadas por causa
da luxúria dos homens? A Grande War foi uma, entre outras.
Samir corou. Sua mãe tinha um ponto.
— Tudo bem, você está certa. Mas não estou convencido de que ele me
queira de jeito nenhum.
— Confie em mim, ele quer. Eu conheço homens. Conheço homens dessa
família em particular. Sua atração por você pode ser superficial, mas nada agita
o pênis de um homem tanto quanto o desejo de ter algo que ele disse que não
pode ter. Admita, estou certo.
— Mãe, — disse Samir com um olhar tenso, dividido entre rir e ficar
escandalizado.
Mas quando ele olhou para o rosto de Dalatteya, toda a sua diversão se foi.
Sua expressão era estranha: distante e sem graça, seus olhos azuis escuros com
uma emoção que ele não conseguia decifrar.
— Ele só ficou mais luxurioso quando eu disse a ele que ele não poderia
me ter, — disse ela, quase distraidamente. — Quanto mais eu dizia não, mais
inflamava seu desejo. Os homens dessa família são doentiamente obsessivos,
Samir. Se Warrehn for como seu pai, o fato de eu ter dito a ele que ele não pode
ter você só o deixará mais atraído por você.
Samir olhou para ela com cuidado, hesitante.
— Mãe... Posso te perguntar uma coisa? Sobre seu relacionamento com o
falecido rei?
Dalatteya ficou tensa, mas assentiu rigidamente depois de um momento.
— Por que você mesma não seguiu seu plano? Expô-lo como um agressor
- como um estuprador? Nem mesmo um rei está acima da lei.
Sua mãe desviou o olhar, seu belo perfil não traía nenhuma emoção. Ela
parou na frente de uma linda flor violeta e tocou suas pétalas com seus dedos
graciosos e delicados.
— Emyr plantou isso por minha causa, você sabe. Ele disse alguma
bobagem sobre elas combinarem com o meu cabelo. — Seus lábios se
contraíram com força. — Eu deveria tê-las queimado anos atrás.
Samir a encarou, perturbado por sua recusa - ou incapacidade - de dar
uma resposta direta.
—Você o odiava, certo?
— Claro que sim. — Sua garganta se moveu. — Eu ainda faço. Eu só... Ele
foi a coisa que envenenou minha vida e meus pensamentos por décadas. Ele foi
a primeira coisa em que pensei de manhã durante anos e é difícil me livrar do
hábito. Ele se foi. Eu estou livre. Eu estou feliz. Entusiasmada. — Ela arrancou
uma pétala da flor, e depois outra, antes de esmagá-las em seu punho. — Não
permitirei que seu filho arruíne a vida que construí para mim. Eu não vou. Isso
significaria que ele ganhou. Não posso permitir isso.
Porra. Warrehn estava certo: sua mãe realmente estava obcecada por um
homem morto.
Samir desviou o olhar, profundamente desconfortável e sem saber o que
pensar. O rei Emyr estava morto há duas décadas, pelo amor de Deus. Por que
sua mãe não podia seguir em frente?
— De qualquer forma, — Dalatteya disse de repente, com uma
indiferença que parecia um pouco estudada demais para ser natural. — Vamos
voltar ao assunto em questão. Se Warrehn for como seu pai, sua natureza lasciva
e obsessiva será sua fraqueza. Deixe-o obcecado por você e convença-o a
abdicar - ou tomarei outras medidas. Francamente, prefiro a última opção, mas
se você é tão melindroso, tudo bem, vou lhe dar algum tempo para resolver o
problema de outra maneira.
Samir quase riu. Essa era uma escolha entre uma opção muito ruim e uma
terrível. Sua mãe era impossível. Mas ele sabia que ela estava falando sério. Ela
não permitiria que o filho de Emyr tirasse o que ela via como dela. Não era sobre
Samir ou mesmo Warrehn; era a vingança de sua mãe contra um homem morto.
Um homem morto por quem ela claramente tinha sentimentos muito
complexos.
— Eu pensei que você não queria que ele colocasse um dedo em mim, —
disse Samir secamente.
— Eu não, — disse Dalatteya, fazendo uma careta. — Mas você não
precisa fazer muito com ele para atingir a meta. Ele está sozinho, sozinho em
um lugar hostil. Não deve ser muito difícil fazê-lo se fixar em você se você jogar
suas cartas corretamente, com o jeito que ele já olha para você.
Suspirando, Samir esfregou a ponta do nariz.
— Ainda acho que você está superestimando muito meu apelo.
Sua mãe deu-lhe um olhar impressionado.
— Não seja ridículo. O único homem no planeta que pode rivalizar com
você em aparência é o príncipe Jamil – e talvez seu irmão mais novo. Warrehn
teria que estar morto para não achar você atraente. Pense nisso.
E com isso, ela foi embora.
Capítulo 4
Acabou que era difícil seduzir alguém que estava ativamente evitando
você. Ou pelo menos parecia que Warrehn o estava evitando. Na semana
seguinte, Samir mal viu Warrehn. Quando Warrehn não estava aceitando
ligações de políticos e seus senhores vassalos, ele estava ocupado administrando
o país, tendo dispensado Samir e Dalatteya de seus deveres.
Sua mãe ficou furiosa, é claro. Mais preocupante, ela passou a desaparecer
por horas sem informar Samir do que ela estava fazendo e o que ela estava
planejando.
Isso deixou Samir ansioso. Ele estava genuinamente começando a ficar
preocupado que sua mãe estivesse planejando a morte de Warrehn. Ela até
parou de perguntar sobre o progresso dele na frente da sedução, o que não era
nada encorajador.
Não que Samir estivesse tão ansioso para relatar seu progresso - ou a falta
dele.
Não que Samir fosse pudico. Nem era virgem. Desde que ele não tinha
uma companheira e seu desejo sexual era totalmente funcional, ele fez sexo. As
vezes. Muito raramente - quando ele tinha tempo para visitar discretamente
certos estabelecimentos de alto perfil em planetas de prazer. Então, sim, ele
gostava de sexo muito bem, apesar de suas estranhas preferências sexuais.
Qualquer maneira. Ele gostava de sexo muito bem. O problema era que
ele nunca tinha tentado seduzir alguém, especialmente por uma razão tão fria e
pragmática. Isso o deixou desconfortável, como se ele fosse o vilão de algum
drama da GlobalNet exagerado.
O pensamento fez Samir rir. Pelos padrões da maioria das pessoas, ele e
sua mãe eram os vilões. Se ele seguisse com o plano de sedução, ele seria. Mas
ele não tinha escolha. Sua mãe simplesmente terminaria o que começou anos
atrás se Samir não fizesse nada: ela claramente não podia ser razoável sobre o
filho do rei Emyr.
Ele precisava agir, e rápido. Ele não confiava em sua mãe para não fazer
algo precipitado em breve, já que a coroação de Warrehn estava se
aproximando rapidamente.
Finalmente, Samir teve sorte: Warrehn parecia estar sozinho naquela
noite. Nenhum de seus acompanhantes estava presente, e a IA do palácio
informou a Samir que o príncipe herdeiro estava sozinho em seu escritório,
pedindo para não ser incomodado.
Era sua chance.
Respirando fundo, Samir estava prestes a entrar no escritório de Warrehn
quando o som da voz de Warrehn através de uma fresta na porta o deteve.
— Está me deixando louco, Rohan. — A voz baixa de Warrehn estava
tensa de frustração. — São todos cobras de duas caras que sorriem para mim
enquanto pensam em como me usar. Mas eu tenho que fingir que não notei
nada e jogar seus jogos insanos.
— Isso é política para você, War, — outra voz disse, provavelmente
através de um comunicador, já que Warrehn estava supostamente sozinho. —
Você vai ter que se acostumar com isso.
— Eu sei, — disse Warrehn, mas ele parecia totalmente farto.
Houve algum silêncio.
— Como estão as coisas com a família?
Warrehn soltou uma risada áspera.
— Você quer dizer a víbora e sua cria? Eles ainda estão aqui. O que
obviamente não ajuda. Eu odeio que eu não posso relaxar mesmo em minha
própria casa. Às vezes não parece minha própria casa com os servos sendo tão
leais ao príncipe perfeito Samir e sua mãe perfeita, até mesmo os droides. Ontem
ouvi uma empregada robô lamentando a injustiça de eu tirar o “trono do
príncipe Samir”. Eu me sinto como um maldito usurpador. — Warrehn riu
novamente. Faltou qualquer alegria.
— Ele e sua mãe são muito populares, War, — disse Rohan. — Eu te avisei
sobre isso. Você precisa ter cuidado sobre como você lida com eles. Tenho
monitorado as mídias sociais do seu grande clã quando tenho tempo, e as
pessoas não parecem convencidas de que você é o rei legítimo,
independentemente de sua linhagem. Do jeito que as coisas estão, Dalatteya
poderia mandar assassinar você e as pessoas não se importariam, mesmo que o
jogo sujo fosse óbvio.
Warrehn suspirou.
— O que você está sugerindo que eu faça?
— Considerando seu desgosto por política e mentira, suas opções são
limitadas, — disse Rohan. — Você poderia se casar com um nobre popular de
seu clã. Você poderia tentar sorrir de vez em quando.
— Foda-se.
— Estou falando sério, War. Seu sangue não é suficiente. As pessoas devem
gostar de você para querer você no trono. Você não deveria facilitar as coisas
para Dalatteya e seu filho sendo um idiota anti-social que ninguém gosta.
— Eu não dou a mínima para ser amado, — disse Warrehn
categoricamente. — O que eu quero é tirá-los da minha casa sem reação. Estão
tramando algo, tenho certeza. Estou surpreso que ainda não tenham tentado me
envenenar, embora talvez saibam que tenho um robô examinando toda a minha
comida.
As sobrancelhas de Samir se ergueram. Sério? Fale sobre paranóia. Então,
novamente, provavelmente era justificado, dados os planos de sua mãe.
— Eles provavelmente estão ganhando tempo, — disse Rohan. —
Concordo que é improvável que desistam sem lutar. Por que você não lê seus
pensamentos para descobrir o que eles estão planejando? Você é um dos
telepatas mais poderosos do planeta. Deve ser fácil para você.
Samir ficou tenso e esperou a resposta de Warrehn com a respiração
suspensa.
— Eu tentei, — disse Warrehn, uma pitada de frustração entrando em sua
voz. — Mas as armadilhas mentais em sua mente não me deixam ir mais fundo
além de seus pensamentos superficiais. Eles devem ter se tornado mais
agressivos e vigilantes desde que você quase nasceu um. Quem os colocou tinha
uma habilidade infernal. Algumas de suas memórias foram claramente
adulteradas e algumas são falsas para enganar o intruso, mas não posso
recuperar os originais sem abrir as armadilhas.
Samir ficou tenso. Sua mãe tinha armadilhas mentais em sua mente? Suas
memórias foram adulteradas? Por quem? Por quê?
— E o príncipe? — Rohan disse, tirando-o de seus pensamentos.
Quando Warrehn não respondeu imediatamente, seu amigo disse: —
Warrehn?
— Eu não quero tocar a mente dele.
Samir franziu a testa.
— Por que? — Rohan disse, parecendo confuso.
Levou um momento para Warrehn responder.
— Sua mente é compatível com a minha, — ele disse rigidamente. —Não
quero que meu julgamento seja influenciado por isso. Quanto menos eu tocar
sua mente, melhor.
Samir piscou, sem saber o que pensar ou sentir. Considerando que a
maioria das pessoas que ele conhecia estavam ligadas, ele raramente teve a
oportunidade de tocar a mente de outra pessoa intimamente, então ele não tinha
certeza do que Warrehn queria dizer.
— Eu tenho que ir, — Warrehn disse de repente. — Eu te ligo amanhã.
Samir se perguntou se Rohan estava tão confuso quanto ele pelo súbito
fim da conversa, mas antes que pudesse pensar muito, a porta se abriu e ele se
viu encarando o rosto duro de Warrehn.
— Descobriu alguma coisa? — Ele disse, levantando suas sobrancelhas
finas e grossas.
Samir estava preocupado demais para se sentir constrangido.
— O que é sobre a mente da minha mãe que você estava falando? Você
disse que as memórias dela foram adulteradas e que há armadilhas em sua
mente.
Warrehn cruzou os braços sobre o peito e olhou para baixo, seu rosto
como pedra. Samir tentou não se sentir intimidado, mas era muito difícil. Tudo
sobre este homem emanava força e poder que eram intangíveis e físicos. Samir
também estava em ótima forma, bem constituído e alto, mas ao lado de Warrehn
ele se sentia pequeno e insignificante. Era quase obsceno, a forma como a camisa
preta de Warrehn esticada sobre seus bíceps, ombros largos e peito musculoso.
A simples presença de Warrehn também era esmagadoramente forte. Ele
exalava o tipo de poder que era difícil de colocar em palavras. Samir podia
facilmente acreditar que era um dos telepatas mais poderosos do planeta, como
Rohan havia dito.
— Por que eu deveria te contar alguma coisa? — Warrehn disse, olhando
para ele impassível. — Sua mãe literalmente me quer morto.
Samir estremeceu por dentro. Ele tinha um ponto.
— Eu não, — disse ele.
As sobrancelhas de Warrehn se juntaram.
— O que?
— Eu não quero você morto, — disse Samir, olhando-o nos olhos com sua
expressão mais séria.
Por um momento, Warrehn parecia estar quase amolecendo antes de seu
rosto endurecer novamente. Ele zombou, dando-lhe um olhar de desgosto.
— Eu não confio em uma palavra que você diz. Você é tão viscoso quanto
sua mãe. Saia.
— Eu só gostaria de falar com você, — disse Samir com um sorriso. — Nós
realmente não tivemos nenhuma oportunidade de recuperar o atraso, e eu
pensei-
— Não desperdice seu fôlego. Você pode voltar para sua mãe víbora e
dizer a ela que não estou interessado em repetir os erros do meu pai.
Samir olhou para ele, ou melhor, para seu rico cabelo castanho-mel, desde
que Warrehn lhe deu as costas. O cabelo em questão parecia incrivelmente
grosso e macio, brilhando na luz. Parecia completamente inadequado para este
homem duro e inflexível.
— Perdão? O que isto quer dizer?
Warrehn soltou uma risada sem humor.
— Eu sei o que você está fazendo. Eu não sou um idiota. Então saia. Eu não
estou interessado. Não sou meu pai, não penso com meu pau.
— Seu pai não pensou com seu pau, — disse Samir, só para ser contrário,
embora não tivesse certeza de tal coisa. — Ele tinha sentimentos por minha mãe,
mesmo que estivessem confusos.
Warrehn olhou de volta para ele, seus lábios torcidos em algo que não era
um sorriso.
— Sim, eu sei que ele a “amou”. E veja onde isso o levou. O amor é uma
doença que transforma até os homens mais inteligentes em tolos. Eu não sou
tolo. Agora pare de desperdiçar meu tempo.
Samir inclinou a cabeça para o lado, olhando-o pensativamente. De
repente, ele se perguntou o quão ruim teria sido crescer com um pai negligente
que só estava interessado em perseguir uma mulher – uma mulher que não era
a mãe de Warrehn. Não admira que Warrehn zombasse da mera noção de amor.
Samir abriu a boca, mas fechou ao perceber que era inútil. Este homem
estava determinado a odiá-lo, e nada que ele pudesse dizer mudaria isso.
Ele se virou e saiu, sentindo-se derrotado e fora de si.
Capítulo 5
A coroação de Warrehn ocorreu dois dias depois.
Foi uma cerimônia muito pública, nem Samir nem sua mãe foram
convidados a participar.
Sua mãe estava zangada com o desrespeito público - mas também alegre,
porque sua ausência durante a coroação fez crescer o descontentamento com
Warrehn entre o povo e a corte. O desrespeito parecia particularmente ruim,
considerando que Dalatteya havia organizado um baile em homenagem a
Warrehn e não havia sido nada além de cortês e gentil em público. Isso fez
Warrehn parecer um asno real.
— Ele deve ser o rei menos popular que nosso grande clã já viu, — disse
Dalatteya, colocando seu multi-dispositivo para baixo e sorrindo. — Você viu
as classificações dele? Já há protestos em todo o país. Ele está a um passo de uma
revolta aberta.
Samir não estava tão feliz com a perspectiva quanto sua mãe estava. Uma
War civil não era algo que ele sempre quis para seu grande clã. Isso levaria a
derramamento de sangue e sanções dos outros grandes clãs, e isso destruiria sua
economia.
— Não olhe para mim desse jeito, — disse Dalatteya, levantando as
sobrancelhas. — É sua própria culpa. Pela primeira vez, eu não fiz nada. Bem,
quase nada, além de alguns comentários estrategicamente descartados em torno
de certos senhores-vassalos.
— Mãe, — Samir disse exasperado.
— Não é minha culpa que ele seja teimoso demais para fazer política. O
estado atual das coisas é inteiramente obra dele. — Ela parecia muito satisfeita.
— Não esperava que fosse tão fácil. Emyr nunca foi tão míope quanto seu filho.
Nem teremos que fazer nada. Tudo o que precisamos fazer agora é esperar.
Samir apenas balançou a cabeça, mas não era como se sua mãe estivesse
errada. A posição política instável de Warrehn era principalmente sua própria
obra. Pelo lado positivo, ele não teria que seduzir Warrehn se as coisas
funcionassem como sua mãe esperava.
Agora começou o jogo de espera.
***

Eles nunca saberiam se a posição política de Warrehn teria se deteriorado


o suficiente para levar a uma revolta aberta, porque alguns dias depois,
Warrehn trouxe para casa seu irmão mais novo, que estava vivo.
E isso mudou tudo.
Aparentemente, o príncipe Eruadarhd - ou Eridan, como ele se chamava
agora - não foi realmente morto no ataque todos aqueles anos atrás. E ele agora
era o herdeiro de Warrehn se algo acontecesse com Warrehn.
Provavelmente nem é preciso dizer que a mãe de Samir estava furiosa.
Agora, tirar Warrehn de cena não levaria a nada. Além disso, Eridan parecia
estranhamente com a falecida rainha-consorte, que tinha sido amada pelo povo
comum, e seu povo parecia estar se suavizando em relação a Warrehn por
procuração. A revolta que parecia inevitável alguns dias atrás era agora apenas
uma possibilidade distante. Todos estavam muito ocupados discutindo o retorno
milagroso do belo e perdido príncipe que havia sido criado pelos monges do Alto
Hronthar, e o feliz reencontro entre os irmãos. Era a boa imprensa que Warrehn
tanto precisava, então o retorno de Eridan arruinou completamente os planos
de Dalatteya.
E, no entanto, a mãe de Samir parecia gostar bastante de Eridan, o que não
fazia sentido.
— Algo está errado, — disse ela, esfregando as têmporas com um olhar
frustrado no rosto. — Eu gosto de Eridan. Eu deveria desprezá-lo tanto quanto
desprezo as outras crias de Emyr. E ainda assim, eu gosto dele. É inexplicável.
Franzindo o cenho, Samir se endireitou.
— Você acha que alguém mexeu com sua mente?
Os lábios de sua mãe se estreitaram. Ela não disse nada, mas seu silêncio
foi resposta suficiente: ela claramente tinha suspeitas semelhantes.
— Quem? — Disse Samir. — Você acha que tem algo a ver com as
armadilhas mentais em sua mente que Warrehn mencionou?
— Eu acho... — ela disse, desviando o olhar. — Eu acho que é o Alto
Hronthar. Os adeptos da mente não são tão inofensivos e apolíticos quanto
fingem ser.
— O que? — Samir a encarou. — O que te faz pensar isso?
A expressão de Dalatteya ficou vazia.
— Emyr me contou. Ele me disse para nunca ficar sozinha com eles ou
olhá-los nos olhos se eu pudesse evitar.
Suprimindo a vontade de dizer a ela que era bizarro da parte dela confiar
nas palavras de um homem que ela odiava – e havia matado – Samir considerou
por um momento.
— Mas por que? Por que alguém do Alto Hronthar mexeria com sua
mente para fazer você gostar de Eridan?
— Essa é a questão, não é? — Dalatteya murmurou, seu rosto pensativo.
— A última revelação de que eles esconderam Eridan todos esses anos quase
certamente prova que eles têm sua própria agenda. Eu não ficaria surpresa se
eles preparassem Eridan em seu fantoche com a intenção de colocá-lo no trono
quando fosse a hora certa.
Samir ainda tinha dificuldade em acreditar nisso. Mas ele supôs que isso
explicaria por que os adeptos da mente do Alto Hronthar mexeriam com a mente
de sua mãe. Dalatteya nem sabia por que estava tão confiante de que Eridan
estava morto quando o corpo nunca foi encontrado. Essa convicção – assim
como sua disposição positiva em relação a Eridan – poderia ter sido plantada em
sua mente. Não era impossível.
De qualquer forma, o resultado era o mesmo: com o retorno de Eridan,
não havia mais sentido em tentar remover Warrehn do trono.
Verdade seja dita, Samir ficou aliviado. Todas as opções que eles tinham –
sedução, revolução ou assassinato – variavam de ruim a horrível. Ele queria ser
o rei, sim, mas queria ser mais uma pessoa decente. Talvez ele realmente fosse
mole, como sua mãe disse, mas Samir estava bem com isso.
Então ele deu a Warrehn e seu irmão um amplo espaço, aliviado por não
ter que lidar com o olhar duro e desdenhoso de Warrehn sobre ele. Não que
Warrehn não olhasse para ele. Samir ainda o pegava olhando para ele algumas
vezes - antes de desviar o olhar rapidamente.
Isso o fez pensar.
Samir também se perguntou por que Warrehn parecia mais infeliz e
estressado à medida que os dias se transformavam em meses. Muitas vezes via
Warrehn espreitando nos cantos mais escuros dos salões de baile, claramente
não querendo a atenção que seu status de rei merecia. Eridan parecia ser o que
fazia a maior parte da socialização, mas Samir notou que até os sorrisos
brilhantes de Eridan começavam a ficar tensos a cada dia que passava.
Foi por isso que Samir não ficou muito surpreso quando uma manhã
acordou com a notícia de Eridan deixando o palácio e retornando ao mosteiro.
Fofoca da Sociedade Calluviana
PRÍNCIPE ERIDAN: SINTO SAUDADE DA MINHA CASA
Em uma reviravolta inesperada, o príncipe Eridan do Quinto Grande Clã
não deseja ser um príncipe. Criado pelos adeptos da mente do Alto Hronthar, o
príncipe supostamente se sente mais em casa no austero mosteiro do que no
luxuoso palácio de seu irmão.
— Eu amo muito Warrehn e sou muito grato por termos nos encontrado
novamente, — disse o príncipe Eridan. — Mas a Ordem tem sido minha casa
desde que eu tinha três anos, e sou muito grato ao meu irmão por me permitir
voltar à vida a que estou acostumado. Minha maior ambição é me tornar um
adepto da mente certificado pela Ordem, mas isso não significa que deixarei de
ser irmão de Warrehn. Eu o apoio em tudo.
Samir fechou o artigo e pensou nas ramificações do mesmo.
Uma coisa era certa: sua mãe ficaria emocionada.
Capítulo 6
Samir estava ao lado de sua mãe na grande escadaria do palácio enquanto
observavam Warrehn se despedir de Eridan. Os irmãos se abraçaram, a forma
esguia de Eridan quase comicamente minúscula nos braços do rei.
— Que reviravolta nos acontecimentos, — Dalatteya disse calmamente,
seu tom pensativo.
Samir fez um ruído evasivo, observando os irmãos se separarem. O rosto
de Warrehn era como pedra, apesar do abraço apertado que ele deu a seu irmão.
— Olhe para ele, — Dalatteya murmurou. — Ele se sente tão bravo.
Perdido. Sozinho. Seu irmão o abandonou. Ele está tão sozinho. Agora é o
momento perfeito para agir, meu querido.
Samir olhou para os ombros tensos e curvados de Warrehn e assentiu com
a cabeça. Warrehn parecia zangado e solitário, embora estivesse claramente
tentando não demonstrar isso por causa de Eridan.
— O que você está sugerindo, mãe? — Samir disse, suprimindo um
suspiro. Parecia que agora que Eridan estava fora de cena, a conspiração contra
Warrehn estava em andamento.
— Provocar uma revolta pública não é possível agora, — disse sua mãe,
tamborilando um dedo manicurado sobre a grade. — Eridan conquistou
bastante simpatia do público por seu irmão nos últimos meses. A menos que
Warrehn dê um grande passo em falso, essa simpatia não vai evaporar da noite
para o dia. Portanto, há apenas duas opções: ou Warrehn abdica
voluntariamente ou terá que ser removido.
Samir quase riu da maneira casual como sua mãe estava discutindo
assassinato e regicídio. A pior parte era que ele não podia nem dizer a ela que
não participaria disso: se o fizesse, ela simplesmente mandaria remover
Warrehn, que se dane a opinião de Samir. Dessa forma, ele poderia pelo menos
saber o que ela estava planejando.
— Acho que não consigo seduzi-lo, — disse Samir. — Ele viu através de
mim da última vez que tentei.
— Está tudo bem, querido, — ela disse, ainda observando Warrehn. —
Não importa. Posso ter encontrado outra solução.
Samir estreitou os olhos.
— Mãe, o que você está planejando?
Dalatteya apenas sorriu e começou a falar sobre o baile que iria participar
naquela noite.
Às vezes sua mãe era absolutamente irritante.
***
Desde a partida de Eridan, Samir notou que Warrehn vinha evitando
funções sociais. Mas o dia do tribunal foi obviamente uma exceção. Não
importava o quanto Warrehn pudesse detestar socializar; ele era o rei, e o dia
da corte era uma das funções sociais que ele não podia evitar. Warrehn também
não podia proibir Samir de comparecer sem dar muito o que falar aos
fofoqueiros. Tradicionalmente, o rei tinha seu herdeiro ao lado dele enquanto
cumprimentava seus senhores-vassalos, e com a partida de Eridan, esse papel
coube a Samir.
Warrehn certamente não parecia feliz por tê-lo ali, a julgar pela
expressão de pedra em seu rosto quando Samir se sentou no assento à esquerda
de seu trono.
Não que ele pareça feliz, Samir pensou sem caridade, desviando os olhos
do rei, um pouco incomodado com a frequência com que seu olhar parecia
gravitar em direção a um homem que nem sequer se dignava a dar-lhe mais do
que um olhar desde a chegada de Samir.
Não era como se ele quisesse que Warrehn olhasse para ele; Samir não
gostava exatamente de ser o objeto de seu olhar desdenhoso. Era apenas...
Irritou-o que Warrehn não tivesse problemas em ignorá-lo quando Samir não
podia fazer o mesmo, hiperconsciente da presença do rei ao seu lado. Warrehn
era tão difícil de ignorar. Talvez fosse seu tamanho - a forma como seu corpo
alto e poderoso ocupava o trono, de alguma forma relaxado e tenso. Samir podia
ver a mão de Warrehn no braço do trono em sua visão periférica, e havia uma
fina tensão naquela mão, as veias se destacando em nítido relevo apesar da
postura aparentemente relaxada de Warrehn. O anel de sinete no dedo de
Warrehn brilhava intensamente, um forte contraste com seu traje sombrio e
escuro.
Seus dedos eram elegantes, apesar do tamanho, e bem cuidados, o que
surpreendeu um pouco Samir. Ele tinha dificuldade em imaginar Warrehn
dando a mínima para a aparência de suas mãos. Embora o fato de ele não ter se
incomodado em remover o cabelo escuro em seus dedos estivesse bem no
personagem.
Samir olhou para seus próprios dedos sem pêlos, manicurados
profissionalmente, pálidos e quase esguios em comparação com os de Warrehn,
e imaginou como seriam contra a mão maior e bronzeada de Warrehn.
Ele piscou com o pensamento bizarro e o afastou, endireitando-se na
cadeira e tirando os olhos da mão de Warrehn. Não era o momento nem o lugar
para entreter pensamentos fúteis. Ele estava sentado ao lado do rei e a corte os
observava.
Felizmente, ele estava tão acostumado com os dias da corte que
cumprimentar os nobres e murmurar gentilezas era uma segunda natureza para
ele; ele poderia fazê-lo em seu sono.
Ao contrário dele, Warrehn claramente se sentia fora de seu elemento. Ele
ainda não conhecia bem a maioria dessas pessoas, e seu silêncio sombrio e
maneiras abruptas não o tornavam exatamente querido por ninguém.
Samir reprimiu um estremecimento quando Warrehn mal olhou para
Lord Vahir quando o homem se curvou para ele. Isso foi um erro tão grande.
Lord Vahir era um dos senhores-vassalos mais influentes de seu grande clã. Ele
era um homem muito orgulhoso, muito vaidoso - ele consideraria a atitude
desdenhosa de Warrehn um desrespeito deliberado.
Samir olhou para sua mãe do outro lado da sala do tribunal e a encontrou
sorrindo um pouco enquanto esperava pela reação de Lord Vahir. Ela não teve
que esperar muito.
— Eu me pergunto, Sua Majestade, — Lord Vahir disse, seu tom muito
educado. — Como é que o príncipe Eridan escolheu retornar à vida austera de
um monge em vez de uma vida neste esplêndido palácio com seu único parente
vivo? Tenho certeza de que você não tem culpa, mas parece... estranho. Eu me
pergunto o que o fez tão infeliz aqui.
Murmúrios rolaram pela sala.
Samir mal manteve sua expressão neutra. Embora ele esperasse algum tipo
de retribuição pelo desrespeito percebido, ele não esperava que Vahir ousasse
insinuar que deve ter havido algo errado com o relacionamento de Eridan com
o rei para Eridan partir tão abruptamente. Foi muito inteligente, Samir teve que
admitir. Ou tolo - se a forma como a presença telepática de Warrehn se
escureceu com raiva fosse alguma indicação.
Samir estremeceu, olhando para o rosto de pedra de Warrehn. Aqueles
olhos azuis duros estavam agora dando a Vahir toda a atenção, e Vahir se mexeu
um pouco, claramente um pouco nervoso. Samir podia contar: podia atestar que
ser objeto dessa intensidade era altamente inquietante.
Todos na corte pareciam estar prendendo a respiração enquanto
esperavam que o rei reagisse ao insulto não tão sutil. Conhecendo o
temperamento de Warrehn, Samir meio que esperava que ele explodisse, mas
ele parecia surpreendentemente calmo, seu rosto não revelando nada.
Quando Warrehn falou, sua voz era dura e monótona.
— Imagino que ele partiu pela mesma razão que seu filho mais velho
deixou seu clã, Lorde Vahir.
Vahir empalideceu e depois corou quando outra onda de sussurros rolou
pela sala. O herdeiro de Vahir se recusou a voltar para Calluvia depois de
terminar sua educação em outro planeta. Apenas a imensa influência de Vahir
impediu que sua família se tornasse objeto de ridículo e fofocas desagradáveis.
Herdeiros de famílias nobres caluvianas simplesmente não deixavam suas
fortunas assim. Algo tinha que estar errado. Mas ninguém mais falava desse
escândalo - Vahir o havia abafado bem.
Samir estava dividido entre rir e tapar o rosto. A resposta de Warrehn foi
tão imprudente, tão horrível politicamente, mas com certeza colocou Vahir em
seu lugar e o ensinaria a não insultar o rei na cara.
Warrehn sorriu para Vahir, um sorriso frio que era todo dentes e não
alcançava seus olhos.
— Assim como seu ex-herdeiro, meu irmão encontrou outro chamado.
Quem somos nós para impedi-los de persegui-lo?
Vahir fez uma reverência.
— De fato, Sua Majestade, — ele grunhiu e então se curvou novamente e
saiu. A meio caminho da porta, Dalatteya aproximou-se de Vahir e enfiou a mão
no cotovelo dele. Eles saíram da sala juntos, falando baixinho.
Suprimindo um suspiro, Samir murmurou, apenas para os ouvidos de
Warrehn: — Isso foi muito divertido, mas muito imprudente.
Warrehn desviou seu olhar pesado para ele pela primeira vez naquela
noite.
— Isso é uma ameaça?
Rindo um pouco, Samir balançou a cabeça.
— Não. Estou apenas afirmando o óbvio. Sua equipe de relações públicas
vai repreender você por isso. A minha com certeza iria se eu humilhasse
publicamente um dos senhores vassalos mais influentes do nosso clã.
As sobrancelhas de Warrehn se juntaram. Ele desviou o olhar, antes de
olhar de volta para Samir, e então desviou o olhar novamente, sua mão
segurando o braço do trono.
— Eu odeio política.
— Eu notei, — Samir disse ironicamente. — Mas você terá que prestar
atenção à política se não quiser que seus índices de aprovação caiam como uma
pedra. Você tem alguma ideia de quanta influência senhores como Vahir têm?
— Por que você está sendo tão falador e prestativo de repente? —
Warrehn disse, sem olhar para ele. — Se esta é outra tentativa de me seduzir
com sorrisos encantadores, não perca seu tempo. Eu não estou comprando o que
você está vendendo.
Sorrisos encantadores?
— Estou apenas conversando, — disse Samir. — Ou não tenho permissão
para falar com você, Sua Majestade?
Warrehn lançou-lhe um olhar longo e perscrutador que fez algo no
estômago de Samir se contorcer. Ele reprimiu a vontade de mexer e tocar seu
cabelo, sem saber por que se sentia tão agitado. Porra, nenhuma outra pessoa
jamais o perturbou tanto quanto este homem.
— …Hum, Sua Majestade? Sua Alteza?
Samir desviou o olhar dos olhos azuis afiados de Warrehn e virou-se para
o interlocutor, sentindo-se um pouco desorientado.
Ele olhou fixamente para a mulher por um momento antes de finalmente
se concentrar em seu rosto o suficiente para reconhecê-la.
Ele forçou um sorriso e conversou com ela, fazendo o possível para
ignorar o homem silencioso ao seu lado.
Era impossível. Ele estava tão hiperconsciente dele que sua atenção se
desviava toda vez que Warrehn se contorcia um pouco em sua visão periférica.
Era bom que Samir pudesse conversar durante o sono.
Depois de algum tempo, ele cedeu e olhou para Warrehn.
Ele o encontrou olhando para ele, uma carranca profunda em seu rosto.
Samir lançou-lhe um olhar interrogativo.
Você é bom nisso, disse a voz de Warrehn de má vontade em sua cabeça.
Samir congelou, seus olhos se arregalando. Deveria ser impossível para
Warrehn enviar seus pensamentos para sua mente. Eles não tinham nenhum
tipo de vínculo telepático. Eles não estavam se tocando. Samir tinha seus escudos
mentais totalmente levantados. Isso deveria ser impossível. Quão poderoso era
Warrehn, exatamente?
Samir mordeu o lábio, perturbado e intrigado.
— Sua Alteza?
Certo. Ele deveria estar falando com - qual era o nome dela, mesmo?
— Próximo, — Warrehn disse categoricamente, mal olhando para a
mulher.
A mulher corou, apertou os lábios e se afastou depois de dar-lhes uma
reverência rígida.
— Você deveria tentar ser gentil e educado de vez em quando, você sabe,
— Samir murmurou quando outro nobre começou a se dirigir para eles.
Os olhos azuis se voltaram para ele e olharam por um momento, antes de
desviar o olhar. Samir ficou olhando para o perfil duro de Warrehn.
— Eu sou muito legal, considerando seus pensamentos, — Warrehn disse
sem olhar para Samir.
— Ler os pensamentos de alguém sem permissão definitivamente não é
legal. É um crime...
— Assim como assassinar pessoas.
— Eu não matei ninguém.
— Estar ciente de um crime e ajudar o assassino a escondê-lo torna você
cúmplice.
— Não sei do que você está falando, — disse Samir.
Warrehn olhou para ele, seus olhos brilhando.
— Claro que não.
Samir olhou para ele, e Warrehn olhou de volta, e Samir queria - ele
queria -
— Sua Majestade. Sua Alteza.
Certo.
Samir desviou o olhar de Warrehn e sorriu brandamente para a próxima
pessoa.
Ele não conseguia ouvir uma palavra do que diziam.
Capítulo 7
Warrehn”ngh”zaver seria o primeiro a admitir que odiava estar errado.
Ninguém gostava de estar errado, mas era particularmente irritante que Samir
estivesse certo: sua equipe de publicidade não estava impressionada com ele por
suas palavras a Lord Vahir.
— Isso é um desastre! — Sua assessora de imprensa, Ayda, disse, andando
de um lado para o outro no escritório de Warrehn, olhando para o datapad1 em
suas mãos. — Seus índices de aprovação nunca foram altos, mas atingiram um
novo nível baixo agora que Lord Vahir tem seu povo espalhando o boato de que
o príncipe Eridan saiu por causa de suas inclinações não naturais.
Warrehn enrijeceu.
— Ele fez o quê?
— Ele tem pessoas espalhando o boato de que você queria dormir com seu
próprio irmão e é por isso que Eridan fugiu.
Warrehn fechou os olhos e respirou, tentando controlar sua raiva.
— Não o mate, — Sirri cortou do sofá, estudando suas unhas. — Eu sei
que é tentador, mas isso não ajudaria em nada.
Warrehn olhou para ela com frustração. Ele não tinha certeza do que Sirri
estava fazendo ali. Ele certamente não a convidou. Ele nunca teve um
relacionamento fácil com ela. Ela era a prima distante de Rohan com quem ele
basicamente cresceu. Às vezes Warrehn pensava que eram quase amigos, só que
nunca pareciam concordar em nada.

1
Um datapad era um pequeno dispositivo eletrônico usado para inserir, armazenar e exibir informações.
— O fodido doente está espalhando o boato de que eu quero foder Eri e
não devo fazer nada? — Warrehn mordeu fora.
— Matá-lo só faria você parecer mais culpado, — Sirri apontou.
— Eu posso torná-lo indetectável.
— Você? Você tem tanta sutileza quanto um touro em uma loja de
porcelana. Deixa pra lá, War. Deixe os profissionais lidarem com isso. — Ela
acenou para Ayda.
Warrehn suspirou e afrouxou a gravata, recostando-se na cadeira.
— O que você está sugerindo, então?
— Não podemos negar o boato – reconhecê-lo só pioraria as coisas, —
disse Ayda. — Você só precisa de uma boa imprensa. Alguma imprensa
realmente boa para ajudar suas classificações.
— Que tipo de imprensa? — Warrehn disse, beliscando a ponte de seu
nariz. Ele já estava com dor de cabeça.
— Você precisa aparecer em vários eventos de caridade com alguém de
reputação impecável, alguém querido e popular entre a corte e as pessoas
comuns...
— Não, — disse Warrehn, sentindo para onde estava indo.
— Príncipe Samir, — Ayda terminou, como se não o ouvisse. — Ele foi um
governante incrível para este país durante sua ausência. Sua associação com ele
corrigiria seus índices de aprovação.
Warrehn franziu a testa.
— Eu pensei que a regente era quem governava nosso clã.
Ayda disse: — Nem um pouco, pelo menos não desde que o príncipe
completou vinte anos. Sua Excelência obviamente tinha assento no Conselho dos
Doze Grandes Clãs, mas não é segredo que o príncipe Samir foi quem tomou as
decisões nos últimos quatro anos. Lady Dalatteya é provavelmente a melhor
política, mas o príncipe Samir é absolutamente o líder e estrategista superior.
Dizem que sua compreensão da macroeconomia é incomparável no planeta.
Nosso grande clã tem a maior taxa de felicidade do planeta por um motivo – e
esse motivo é o príncipe Samir.
— Você está no meu time, não no dele, — Warrehn disse, irritado.
Pelo menos seu assessor de imprensa teve a graça de dar descarga.
— Estou lhe dizendo isso porque você precisa entender por que tem que
ser o príncipe Samir com você na turnê.
— Eu disse não, — disse Warrehn.
— Por que não? — Sirri interrompeu. — Ontem você com certeza parecia
ter se dado bem o suficiente, a julgar pela maneira como você continuou
olhando para seus lindos olhos azuis e lábios igualmente bonitos.
Warrehn nem precisou olhar para ela para saber que ela estava sorrindo,
esperando irritá-lo. Ele se recusou a dar-lhe a satisfação.
— Samir e eu não nos damos bem, — disse ele, ignorando Sirri e olhando
para Ayda. — Ele não gostaria de me ajudar a melhorar minhas classificações.
Tenho certeza de que a mãe dele está aliada de Vahir e ajuda a espalhar esses
rumores nojentos. Samir não faria nada para tornar sua posição menos forte.
— Você não é o rei? — Disse Sirri. — Faça-o fazer.
Warrehn ficou parado, seu coração batendo mais rápido enquanto
imaginava usar sua posição e fazer Samir fazer o que quisesse. Seu pênis se
contraiu, e ele cerrou os dentes, desgostoso consigo mesmo. Não. A queda de seu
pai provavelmente começou com pensamentos semelhantes.
— Eu concordo, — disse Ayda. — Você é o chefe da família real e
tecnicamente você pode ordenar que o príncipe Samir o acompanhe em uma
turnê publicitária.
— É uma turnê de publicidade agora? Eu pensei que eram apenas algumas
aparições públicas.
— Nada menos do que uma turnê publicitária pelo país não mudaria
muito. As áreas rurais precisam de muito convencimento – elas são as mais
devotadas defensoras do príncipe Samir por causa do quanto ele melhorou sua
qualidade de vida e infraestrutura. Se eles os virem juntos, sendo amigáveis, isso
o ajudará enormemente. Faremos do passeio um evento: o novo rei está viajando
pelo país para ver com seus próprios olhos como está o seu povo e conhecer suas
necessidades. Você viajará em um veículo terrestre…
— Você está falando sério? — Warrehn disse com uma bufada. —Talvez
devêssemos torná-lo ainda mais medieval e viajar em uma carruagem puxada
por zywerns.
Sirri riu, mas Ayda deu-lhe um olhar severo.
— É tradicional que as visitas reais ao campo sejam feitas em veículo
terrestre, Vossa Majestade. Certamente você está ciente de como as pessoas nas
áreas rurais são antiquadas.
— Tudo bem, — disse Warrehn com um suspiro. Parecia que não havia
discussão com ela. — Quando a turnê vai começar?
Aida sorriu.
Warrehn saiu da sala meia hora depois e foi para a ala de Samir. Precisava
informar a Samir que o acompanharia no passeio. Ele não esperava que a
conversa fosse bem, especialmente quando encontrou Samir com sua mãe.
— Sua Majestade o Rei, — a IA anunciou quando ele entrou na sala de
Samir.
Samir se levantou enquanto Dalatteya permanecia sentada no sofá.
Warrehn examinou-os, reprimindo a onda de ódio ao ver Dalatteya. Era
mais fácil e mais difícil olhar para Samir. Ele realmente era a cópia masculina
de Dalatteya, até seus lábios carnudos e cílios longos. Sua mandíbula firme e
corpo masculino em forma eram os maiores diferenciais, mas não eram
suficientes para fazer Warrehn esquecer quem era sua mãe.
Não que isso impedisse seu corpo de reagir a ele. Ele não estava morto.
— Vossa Majestade, — disse Samir, com uma ligeira pergunta em seu tom.
Warrehn não perdeu o jeito que Dalatteya apertou os lábios. Claramente
a forma de tratamento a irritava. Bom.
— Você vai me acompanhar em uma turnê publicitária pelo país, — disse
Warrehn, olhando para Samir. — Partiremos em dois dias e viajaremos por vinte
e quatro dias. Prepare-se de acordo.
Ele se virou e saiu antes que qualquer um deles pudesse expressar uma
objeção.
Ele teria que se preparar mentalmente também. Quase um mês de perto
com um homem que ele detestava, mas não se importaria de enfiar seu pênis
soava como um tipo especial de inferno.
Capítulo 8
Samir ouviu o discurso furioso de sua mãe por meia hora, antes de
finalmente interrompê-la com: — Ele é o rei, mãe. Devo fazer o que ele diz. Ficar
com raiva não mudaria nada.
Dalatteya parou de andar, sua expressão tornando-se distante e pensativa.
— Você tem razão. Talvez... Talvez pudéssemos usar isso.
Estreitando os olhos, Samir disse: — Mãe? O que você está falando?
Mas Dalatteya cantarolou e mudou de assunto.
Era extremamente irritante, mas ela se recusou a dizer a ele o que estava
planejando, não importa o quanto ele a cutucasse.
— Seria melhor se você não soubesse, — Dalatteya disse finalmente. —
Ele é um telepata forte. Ele pode ler sua mente.
E foi isso.
Samir não estava feliz, mas não teve escolha a não ser ceder e
simplesmente esperar que ela agisse.
Ele não teve que esperar muito.
Na manhã seguinte, ele foi acordado cedo por sua mãe e instado a tomar
um café da manhã saudável agora.
— Na sala de café da manhã menor, — acrescentou Dalatteya.
Disparando seus olhares desconfiados, Samir se vestiu e foi até lá. Sua mãe
não o acompanhou.
Quando ele entrou na sala, ele fez uma pausa, encontrando Warrehn
sentado na cabeceira da mesa. Ele estava todo de preto, como de costume, seu
cabelo castanho dourado brilhante era a única coisa remotamente não sombria
nele.
— Bom dia, — disse Samir.
Warrehn fez uma pausa com sua xícara de chá na boca antes de dar um
aceno cortante.
Lambendo os lábios, Samir se aproximou e sentou-se à direita de
Warrehn, tentando parecer indiferente e não revelar que seu coração estava
batendo forte. Ele estava apenas nervoso com o plano de sua mãe. Ela deve tê-lo
enviado aqui por uma razão.
Um droide servidor rolou para ele e começou a servi-lo. Samir comeu
automaticamente, sentindo-se ridiculamente constrangido, o silêncio na sala
fazendo seu estômago parecer estranho.
Ele lançou um olhar para o rosto duro de Warrehn. Warrehn olhou para
cima, e seus olhos se encontraram.
Samir umedeceu os lábios com a língua novamente e pigarreou um pouco.
— Então, vamos partir amanhã de manhã, certo?
— Sim, — disse Warrehn, observando-o com uma expressão intensa que
Samir não conseguia ler.
Por que você está olhando para mim? Pare de olhar para mim, não
aguento.
Samir tentou organizar seus pensamentos.
— O que você espera de mim durante a turnê de publicidade?
Warrehn abriu a boca para responder, mas ficou imóvel, os olhos se
estreitando e os ombros tensos. Suas narinas dilataram e seu olhar disparou ao
redor da sala.
Franzindo a testa, Samir olhou em volta também, mas não conseguiu ver
nada.
— O que é isso?
— Tem alguém na sala.
Samir soltou uma risada.
— Não há ninguém aqui além de nós.
Warrehn ficou de pé, as sobrancelhas franzidas enquanto seu olhar afiado
continuava a vasculhar a sala.
O coração de Samir começou a bater mais rápido. Warrehn poderia estar
correto? Isso era parte do plano de sua mãe?
— Porque você acha isso? — Ele disse.
— Eu posso senti-los, — Warrehn disse brevemente, sua mão pousando
na mesa ao lado de Samir.
Samir olhou para aqueles dedos fortes e bronzeados inexpressivamente
quando o significado de Warrehn finalmente foi registrado. Ele podia sentir a
presença das pessoas sem tentar? Quão poderoso era Warrehn?
— O poço de ventilação, — disse Warrehn, dando alguns passos para a
direita e olhando para cima. — Está entreaberto. Alguém estava lá, mas não
consigo mais senti-los.
Samir franziu a testa, confuso. Ele não entendeu.
Puxando a gravata distraidamente, ele também se levantou e caminhou
para ficar ao lado de Warrehn. Ele... Ele queria estar mais perto dele.
De repente, Warrehn enrijeceu e virou-se para olhar para Samir.
— Você também sente? — Ele disse, sua voz tensa. Ele estava respirando
instável, sua mandíbula tensa, suas pupilas anormalmente dilatadas.
Samir engoliu, de repente ciente de que seu pênis estava duro. Isso... isso
não era normal. Ele geralmente não ia de zero a mastro completo em menos de
um segundo, sem motivo.
Warrehn amaldiçoou elaboradamente, sua expressão escurecendo.
— Fariz, segurança e um médico para a sala de café da manhã, — ele latiu.
— Diga a eles para usar equipamentos de risco biológico até sabermos com o
que estamos lidando.
— Imediatamente, Vossa Majestade, — disse a IA do palácio.
— Isso é coisa sua? — Warrehn disse, pairando sobre Samir.
Seu coração batia mais rápido, Samir molhou os lábios secos e balançou a
cabeça, e os olhos azuis de Warrehn seguiram o movimento de sua língua,
paralisados. Com fome.
Merda. O que estava acontecendo? O corpo de Samir estava em chamas,
sua pele supersensível, suas roupas muito ásperas e muito numerosas. Ele queria
ficar nu. Ele queria pele contra pele. Ele queria aquele homem grande e duro
em cima dele, rolando contra ele, dentro dele, pegando-o forte e rápido e...
— Porra — Warrehn falou, praticamente pulando para longe de Samir e
cambaleando para o mais longe possível dele, para o outro lado da sala.
Guardas de segurança em trajes de risco biológico entraram na sala.
— Vossa Majestade? — Disseram eles.
Warrehn respirou fundo, parecendo aflito, e grunhiu: — Contenha o
príncipe Samir e não nos deixe chegar perto um do outro até que o médico esteja
aqui. Ignore quaisquer outras ordens que eu possa lhe dar.
— Sim, Sua Majestade, — disseram os guardas.
Samir deu alguns passos em direção a Warrehn, mas os guardas o
detiveram, segurando-o firmemente no lugar.
Warrehn se virou para ele e se virou com uma maldição, apoiando-se
contra a parede, seus músculos saltando enquanto respirava como se tivesse
corrido uma maratona.
Doutor Jihan entrou na sala.
— O que há de errado, Sua Majestade?
Warrehn virou a cabeça, seu olhar não muito focado.
— Fomos drogados com alguma coisa, — disse ele em uma voz cortada.
— Algo invisível e sem cheiro. Provavelmente ainda deve estar no ar.
O médico franziu a testa e tirou um scanner médico. Sua carranca se
aprofundou e ele murmurou algo baixinho antes de dizer mais alto: — Por favor,
me conte seus sintomas, Sua Majestade.
Warrehn não respondeu, seus olhos vidrados fixos em Samir. Como se
estivesse atordoado, ele deu alguns passos em sua direção, e Samir lamentou
ansiosamente, ofegante enquanto lutava para se libertar do controle restritivo
que aqueles homens tinham sobre ele. Por que o estavam segurando? Quem
eram essas pessoas? Por que não o soltavam? Ele queria seu companheiro.
— Contenha os dois, — alguém disse. — Traga-os para a ala médica e
mande uma equipe de descontaminação para a sala. Vou precisar de amostras
do ar. E Lady Dalatteya precisará ser informada.
E então Samir estava sendo puxado para algum lugar e as pessoas estavam
falando com ele, mas ele não se importou.
Ele queria. Ele queimava.
Onde ele estava?
***
Que Dalatteya’il’zaver não gostava quando as coisas não saíam de acordo
com seus planos.
A ela foi prometido que o plano seria executado sem problemas e que seu
filho não seria afetado. Tanto para isso.
Uriel tinha muitas explicações a dar.
Dalatteya fez uma careta ao olhar para o filho. Os olhos de Samir estavam
vidrados, seu rosto corado e seus lábios mordidos de vermelho enquanto ele
lutava para se levantar da mesa de exame contra a qual estava preso. Warrehn
estava rosnando abertamente, tentando se libertar de suas amarras e chegar até
Samir, agindo pouco melhor que uma besta irracional. Suas condições se
deterioraram assustadoramente rápido.
Isso estava tudo errado. A droga não deveria ter afetado Warrehn tão
visivelmente, e definitivamente não tão cedo depois que ele a inalou. Algo tinha
dado errado.
— Sua Majestade e Sua Alteza foram drogados com uma substância gasosa
alienígena X137-1276, — disse o doutor Jihan, franzindo a testa para seu
scanner médico.
Dalatteya também franziu a testa. Essa definitivamente não era a droga
que Uriel deveria usar.
— É uma substância muito rara proibida em todos os planetas da União,
— disse o médico. — É feita principalmente das glândulas de acasalamento
secundárias dos primatas do Planeta Shoma. Esses primatas estão à beira da
extinção e caçá-los é proibido...
— Eu não me importo do que é feito, — Dalatteya retrucou. — Quero
saber como alguém conseguiu se infiltrar no palácio! — Claro que ela sabia
perfeitamente bem como isso tinha sido feito, mas ela tinha que manter as
aparências mesmo aqui, em seu próprio palácio. Havia ouvidos em todos os
lugares. Embora ela preferisse empregar droides, infelizmente, droides médicos
não eram tão bons quanto o pessoal médico real. O que ela realmente queria
saber era como Uriel acabou usando a droga errada e drogando seu filho
também. Enquanto Samir dormia, ela administrou pessoalmente o antídoto para
a droga que Uriel deveria usar. A droga não deveria tê-lo afetado em nada.
— Essa não é minha área de especialização, minha senhora, — disse o
médico. — Só posso dar minha opinião pessoal. Historicamente, esta droga era
frequentemente usada para incapacitar figuras políticas de alto escalão.
Enquanto estiver sob sua influência, uma pessoa não pode se concentrar em
nada além do objeto de sua fixação. Suponho que alguém queria que o rei fosse
incapaz de cumprir seus deveres.
Esse era um bom motivo potencial que ela poderia usar se o incidente se
tornasse conhecido do público. Warrehn não tinha exatamente feito muitos
amigos. Qualquer nobre descontente poderia ser culpado por essa bagunça. O
fato de seu próprio filho ter sido afetado também desviaria a suspeita dela. Isso
era um forro de prata, ela supôs.
— Você ainda não me disse em termos claros o que a droga faz.
O doutor Jihan era uma das melhores mentes médicas do planeta, mas
corou como um garotinho com a pergunta dela.
— Isso... Faz o alvo cair em um estado de atordoamento de desejo obsessivo
e incontrolável pela pessoa com quem estava quando recebeu a substância. —
Ele olhou para Samir. — Infelizmente, era Sua Alteza.
Samir nem parecia ouvi-lo, seu olhar fixo na prole de Emyr, que estava
olhando para ele igualmente paralisado, os músculos de Warrehn flexionando
contra as restrições, suas narinas dilatando como as de uma fera. Era totalmente
nojento.
— … O príncipe Samir também foi medicado, mas a concentração da
substância é um pouco menor em seu sangue – parece que o príncipe Warrehn
era o que estava mais perto do poço de ventilação usado para envenenar o ar.
Seu filho deveria estar um pouco mais lúcido e consciente.
— Ele não parece nem um pouco lúcido, — disse Dalatteya, além de
frustrada. Isso estava tudo errado. A droga que ela havia escolhido era de ação
lenta. Se tudo tivesse corrido de acordo com o plano dela, Warrehn nem saberia
que tinha sido drogado. Ele e Samir teriam partido para a turnê publicitária
totalmente inconscientes de que Warrehn era uma bomba-relógio que deveria
explodir em um momento muito preciso - o momento em que Dalatteya teria
arranjado para alguém entrar neles enquanto Warrehn tentava forçar seu
desejo lascivo sobre o relutante Samir. Uma tentativa de agressão sexual a um
membro da realeza era o tipo de ofensa da qual nem mesmo um rei se
recuperaria, especialmente um que era tão impopular e que já era suspeito de
inclinações semelhantes em relação ao irmão mais novo – o boato que Dalatteya
cuidadosamente cultivou. Se tudo tivesse acontecido, Warrehn teria sido
declarado inapto para governar e removido do trono por decisão do Conselho.
Tinha sido um plano tão simples - em teoria.
Ter seu filho comprometido também não fazia parte do plano. Como Emyr
diria, ela tinha fodido tudo. O pensamento era extremamente agravante.
— Se você prestar atenção, você notará que ele parece um pouco ciente
de nós enquanto o Rei Warrehn está completamente paralisado por ele. — O
médico franziu a testa para seu scanner médico. — Neste momento o rei está
produzindo tantos hormônios que estou francamente surpreso que ele não
tenha desmaiado. Sua pressão arterial é extremamente preocupante, apesar dos
estabilizadores que ele está tomando. É literalmente uma ameaça à vida, pois
pode restringir o fluxo sanguíneo para o coração, o que pode levar a um ataque
cardíaco.
Dalatteya não precisou fingir um olhar de preocupação.
— E meu filho?
— Seus sinais vitais estão um pouco melhores, mas... — O médico
suspirou. — Serei honesto com você, minha senhora: a condição dele vai se
deteriorar muito em breve também se o mantivermos contido assim. Tentei
suprimir a droga com vários supressores, mas é tão estranho que nosso remédio
simplesmente não funcionam neles. Sedativos também não funcionam – seus
corpos estão queimando através deles em um ritmo alarmante, e usar sedativos
mais fortes é perigoso quando não sabemos como eles reagiriam com a droga
alienígena em seus sistemas. Pode fazer mais mal do que bem, e com o quanto
seus sinais vitais já estão tensos, eu não recomendaria.
Dalatteya engoliu em seco. Como? Como Uriel poderia ter cometido esse
erro? Ele normalmente era tão confiável e competente. Uriel era mais esperto do
que isso. Mesmo que o plano fosse executado perfeitamente e Samir não tivesse
sido afetado, os efeitos dessa droga ainda seriam muito óbvios e Warrehn
poderia argumentar com razão que ele não era responsável por suas ações sob
sua influência. Isso foi um desastre.
— Existe uma cura? — Dalatteya disse, sem saber qual resposta ela queria
ouvir. Ela não queria que seu filho ficasse sob a influência daquela droga por
mais um momento. Mas se Warrehn também fosse curado, tudo seria em vão e
dificilmente teriam outra oportunidade de drogá-lo. Warrehn estaria mais
vigilante a partir de agora.
O médico fez uma careta.
— Em uma maneira de falar. Sua Majestade e Sua Alteza devem permitir
que a droga siga seu curso e faça o que deve.
Dalatteya o encarou.
— Desculpe?
— Eles terão que ceder a seus impulsos até que a vontade de… de fornicar
passe.
— Isso é... isso é absurdo! Meu filho nunca... Ela se interrompeu, olhando
para o olhar vítreo e faminto de seu filho em Warrehn. Ela suspirou. —Você não
pode esperar seriamente que eu acredite que eles absolutamente precisam –
satisfazer seus desejos básicos de que a substância se desgaste.
O médico suspirou.
— Essa parece ser a única solução, minha senhora. Não posso fazer
milagres em tão pouco tempo. A substância simula o comportamento de
acasalamento dos primatas que entram em uma frenética temporada de
acasalamento assim que imprimem. Normalmente, a época de acasalamento
desses primatas termina com uma gravidez bem-sucedida, o que obviamente
não é possível aqui, mas a fisiologia de Calluvian é diferente o suficiente para
que a droga funcione de maneira um pouco diferente. Pelo menos essa é a minha
esperança.
— Esperança? — Dalatteya repetiu incrédulo.
O médico corou.
— Sinto muito, minha senhora, mas é muito difícil prever como nossa
fisiologia reagiria a uma substância alienígena. Não há nenhum caso
documentado de Calluvianos sendo drogados com essa droga. É tudo
adivinhação baseada em rumores e nas experiências das espécies que têm
biologia semelhante à nossa. Mas semelhante não é o mesmo.
Naquele momento, Samir lutou contra suas restrições com força,
lamentando lamentavelmente quando elas não cederam. Warrehn rosnou em
resposta, puxando suas próprias restrições. Olhos azuis famintos com pupilas
dilatadas observavam cada movimento de Samir. Samir estava devolvendo o
olhar, lambendo os lábios e olhando avidamente para a protuberância muito
óbvia nas calças de Warrehn.
Era totalmente revoltante.
— Acho que seria melhor deixá-los em paz, milady. Meus scanners
detectam um salto preocupante em sua pressão arterial...
— Você não pode estar falando sério, — Dalatteya disse bruscamente.
— Minha senhora, eu entendo que você esteja chateada, mas temo que
não tenhamos outra escolha. Tudo o que sei sobre esses casos indica que é
perigoso para suas vidas deixá-los insatisfeitos por muito tempo. Seus sinais
vitais já são alarmantes.
Dalatteya olhou para o médico. Racionalmente, ela entendeu que ele
poderia estar correto, mas tudo nela se rebelava contra a ideia de permitir que
a cria de Emyr colocasse as mãos em seu filho.
Samir fez outro som desesperado, lágrimas de frustração caindo por suas
bochechas enquanto ele tentava se aproximava de Warrehn sem sucesso.
Dalatteya franziu os lábios, dividida. Ela não iria ceder. Ela não podia. Mas
ela odiava ver seu filho sofrer. Absolutamente não agüentava. E ela não
permitiria que a cria de Emyr – Emyr – fosse a razão pela qual seu filho se
machucasse.
— Tudo bem, — disse ela concisamente e saiu do quarto. Se ela não visse,
ela poderia fingir que não estava acontecendo.
E que não era culpa dela.
Capítulo 9
Samir estava pegando fogo - pelo menos parecia. Ele se sentiu
superaquecido, grande demais para sua própria pele. Ele queria ser montado.
Ele queria um pau nele. Ele olhou para a protuberância atraente na virilha de
seu companheiro, imaginando um pau grosso e longo sob aquele tecido,
imaginando retirá-lo e levá-lo para dentro de seu corpo. A imagem quase o
deixou tonto de puro desejo, e ele gemeu, precisando disso.
Uma parte dele, uma parte muito distante, podia sentir que havia algo
errado com seus pensamentos. Mas ele parecia incapaz de pensar em outra coisa
além de ser criado – e o macho viril o observando com olhos famintos. Seu
companheiro. (Companheiro? Ele não tinha um companheiro.)
No momento em que as restrições em seus pulsos se foram, Samir estava
se movendo, sua visão se estreitou para o homem ainda preso à cama médica.
— Vossa Alteza, espere – você não pode...
Ignorando o barulho (havia mais alguém lá, mas ele não se importou),
Samir montou nas coxas poderosas do macho e se atrapalhou no tecido escuro
que o separava de seu prêmio. Ele finalmente conseguiu abri-lo e puxou um
pedaço duro e latejante. O macho sob ele arqueou, rosnando e fodendo em sua
mão, seu corpo poderoso surgindo em uma posição sentada quando a restrição
em seu pulso esquerdo foi removida.
Alguém gritou de dor.
— Vossa Majestade, eu só estou tentando ajudar - deixe-me soltar sua
outra mão. —ouve o som de carne batendo em carne com força, e então a voz
irritante finalmente calou a boca, permitindo que Samir se concentrasse apenas
em seu companheiro. Seu companheiro envolveu um braço musculoso ao redor
dele, esmagando-os juntos, e Samir gemeu em aprovação, seus mamilos
doloridos esfregando contra o peito duro. Havia o tecido irritante no caminho
novamente, mas a pressão e o atrito ainda eram muito bons, suas virilhas se
esfregando. Era tão bom, mas ainda não era o suficiente. Ele queria mais. Ele
queria o pênis de seu companheiro. Ele queria ser arado. Bombeado cheio da
semente de seu companheiro.
Seu companheiro rosnou em aprovação, sentindo claramente seus
pensamentos, seu pênis duro ficando muito escorregadio na mão de Samir,
pronto para o acasalamento. Então ele estava puxando as calças de Samir para
baixo, o tecido rasgando.
Samir se contorceu de impaciência até que finalmente sentiu um pênis
quente e duro entre suas nádegas nuas. Sim, por favor. A cabeça escorregadia
bateu contra seu buraco, espalhando seu lubrificante sobre ele. Samir ganiu
desesperadamente, descendo até que a cabeça do pau finalmente empurrou
dentro dele. Era tão grande. O alongamento doeu, mas Samir não se importou.
Ele queria. Ele queria o pau mais profundo. Ele queria ser preenchido até a
borda.
E então ele foi.
Em um impulso duro, ele estava totalmente sentado no enorme pênis. Um
ruído agudo saiu de seus lábios, seus olhos rolando para a parte de trás de sua
cabeça. Tão cheio. Tão cheio. Estava uma delícia. Ele estava tremendo todo,
desejando mais desse sentimento, desejando ser arado e criado.
Seu companheiro rosnou e os derrubou, de alguma forma conseguindo
fazê-lo apesar de seu pulso direito contido. Sua força enviou uma faísca afiada
de excitação e prazer através do corpo de Samir. Um criador forte produziria
filhotes fortes. (Criador? Jovem? Algo naqueles pensamentos era estranho.)
A breve incerteza na mente de Samir foi apagada por um duro impulso do
pênis nele. Ele gemeu, abrindo mais as pernas. O peso de seu companheiro sobre
ele era esmagador, mas era tão bom, sentir-se tão pequeno e indefeso enquanto
um pênis enorme se movia dentro dele, trazendo uma mistura de dor, prazer e
satisfação até os ossos. Isso estava certo, sendo criado. Seu estômago ia ficar
redondo e cheio com a semente de seu criador. O pensamento enviou uma
emoção enorme através de seu corpo, e Samir gemeu, empurrando para trás o
pênis dentro dele, precisando, precisando mais, mais fundo, mais forte. O
criador estava grunhindo em cima dele, arando-o exatamente como ele queria.
Quase - quase lá.
Choramingando, Samir agarrou as nádegas duras de seu companheiro,
mantendo-o profundamente dentro dele enquanto apertava o pênis dentro dele
antes que uma onda esmagadora de prazer o invadisse.
— Ah! — Ele gritou, a força de seu orgasmo limpando sua mente.
Seu companheiro gemeu e, depois de mais alguns golpes, se derramou
profundamente dentro dele. Samir cantarolou em aprovação, deleitando-se com
a sensação de umidade e bagunça. Mmm... espero que ele tenha sido criado.
Criado…
Criado?
Ele sentiu o homem em cima dele ficar rígido assim que os olhos de Samir
se abriram.
Eles se encararam em choque atordoado antes de se separarem, ambos
xingando. Mesmo a dor na bunda não foi suficiente para distrair Samir da
enorme e alucinante percepção de que ele tinha acabado de ser fodido por
Warrehn”ngh”zaver, um homem que o odiava e um homem que ele não gostava
muito.
— Que porra foi essa? — Warrehn mordeu, puxando sua braguilha para
consertá-lA.
Com o rosto quente, Samir não conseguia nem olhar para ele. Ele ainda
estava tentando consertar suas próprias roupas quando alguém no chão gemeu.
Samir congelou, de olhos arregalados, e olhou para o homem deitado ao
lado da cama. Ele levou um momento para reconhecer o Doutor Jihan.
Excelente. Então ele não só tinha fodido seu rei, ele tinha fodido na presença de
um dos curandeiros mais famosos do planeta.
Havia um fio de sangue na cabeça do médico.
— Você está bem, doutor? — Samir disse, curvando-se para o pobre
homem e imediatamente se arrependendo quando uma dor surda atravessou
sua bunda. Ele fez uma careta. Ele teve sorte que os machos de sua espécie
tinham pênis que produziam muita lubrificação ou teria sido muito, muito pior,
considerando o tamanho do pênis de Warrehn.
Ele lutou contra um rubor com o pensamento, incapaz de olhar para
Warrehn, que estava ocupado tentando libertar seu pulso.
Doutor Jihan gemeu fracamente novamente antes de se sentar lentamente,
sua mão pressionada contra o inchaço considerável em sua testa.
— Eu acho que sim, — ele disse atordoado antes de seu olhar se aguçar.
Ele olhou de Samir para Warrehn, seus olhos se arregalando ligeiramente. —
Vocês dois parecem lúcidos novamente. Então funcionou. Você se lembra do que
aconteceu?
Samir mal conseguia segurar o olhar do homem.
— Houve algum tipo de ataque contra nós? — Ele disse rigidamente. —
Não me lembro de muita coisa, mas posso adivinhar que fomos drogados com
algum tipo de afrodisíaco.
— Não era um afrodisíaco, — disse o médico. — Você foi drogado com
uma substância alienígena que é conhecida por fazer a vítima ter uma
impressão falsa e se fixar sexualmente na pessoa que eles estavam olhando. O
congresso sexual parece ter consertado seu estado.
Dando-lhe um sorriso tenso, Samir olhou ao redor, evitando olhar para
Warrehn.
— Posso ir, então? Minha mãe deve estar ansiosa.
A carranca do médico se aprofundou.
— Lamento, Alteza, mas preciso fazer alguns testes em você primeiro. Não
podemos ter certeza de que a substância desapareceu do seu sistema...
— Você pretende desbloquear isso em algum momento hoje? — Warrehn
falou.
Doutor Jihan corou e correu para ajudá-lo.
— Claro, Majestade. Me desculpe. Foi para sua própria segurança, você
entende. Eu estava tentando libertá-lo quando você... quando você me deixou
inconsciente.
Warrehn não parecia particularmente arrependido, seu rosto impassível.
Seu olhar foi para Samir por cima do ombro do médico e Samir rapidamente
desviou o olhar, inquieto e perturbado. Ele teve o pênis do homem nele, pelo
amor de Deus. O simples contato visual não deveria ser nada em comparação.
— Vossa Majestade, espere – devo insistir que preciso fazer alguns testes...
Warrehn saiu.
Soltando um suspiro frustrado, o Doutor Jihan se virou para Samir.
— Sinto muito, mas eu realmente preciso fazer esses testes, Sua Alteza. Os
efeitos da substância em Calluvianos nunca foram documentados, e não
podemos ter certeza de que os sintomas tenham passado permanentemente e a
droga não tenha efeitos duradouros.
Suspirando, Samir sentou-se na mesa de exames e submeteu-se ao que
parecia ser centenas de testes diferentes.
Infelizmente, o Doutor Jihan acabou por estar correto. A droga não tinha
desaparecido de seu sistema, seus níveis hormonais aumentando novamente.
— Curioso, — Dr. Jihan murmurou, esfregando a ponte de seu nariz. —
Suponho que as células calluvianas reagem de maneira diferente à substância e
pode ser por isso que nossa biologia não consegue purgá-la do sistema. Ou
talvez uma relação sexual não seja suficiente. Normalmente, a época de
acasalamento desses primatas termina com uma gravidez bem-sucedida, mas
me pergunto como isso funcionará neste caso... — Ele deu a Samir um olhar
desajeitado. — Perdoe-me por perguntar, Alteza, mas é importante. Você estava
na extremidade receptora da relação sexual, correto?
Samir deu um aceno curto, recusando-se a parecer envergonhado. Nada
disso era culpa dele.
O médico cantarolou, olhando para as leituras.
— E você nunca sentiu vontade de ser o ativo?
— Não, — Samir disse rigidamente.
— Interessante... Foi claramente o oposto de Sua Majestade. Eu me
pergunto como isso funciona... Por que a substância afeta pessoas diferentes de
maneira diferente? Talvez tenha a ver com as inclinações e preferências naturais
da pessoa? Hmm... eu me pergunto se isso está ligado à personalidade de
alguém... suponho que temos sorte de você e Sua Majestade terem inclinações
opostas, ou teria sido desastroso.
Sorte? Samir não chamaria isso de sorte.
— Eu posso ir agora? — Ele disse concisamente.
Doutor Jihan parou de murmurar baixinho e o estudou cuidadosamente.
— Você se sente como você mesmo, Sua Alteza?
Samir reprimiu uma careta. O exame durou quase uma hora e, com o
passar do tempo, Samir se tornou cada vez mais consciente do sêmen ainda
escorrendo de sua bunda. Na verdade, seus pensamentos continuavam se
fixando nele com uma frequência alarmante – e ele estava ficando vagamente
chateado porque o sêmen o estava deixando. Sendo desperdiçado.
— Está voltando, — disse Samir com um olhar apertado. — Meus
pensamentos continuam vagando para – para querer ser criado.
— Interessante, — Doutor Jihan disse, notando algo em seu datapad. Sua
abordagem seca e científica fez Samir se sentir menos mortificado do que se
estivesse.
— Você pode fazer algo sobre isso? — Ele disse, incapaz de manter o
desespero fora de sua voz. Ele não queria voltar a ser a criatura irracional
obcecada por se reproduzir.
Doutor Jihan balançou a cabeça lentamente, ainda olhando para as
leituras na frente dele.
— Talvez se eu tiver mais tempo, — disse ele. — E mais dados. Mais pontos
de referência.
Samir corou, percebendo o que o médico estava insinuando. Ele abriu a
boca, para dizer que ele absolutamente não ia ser fodido por
Warrehn”ngh”zaver para fornecer a ele seus preciosos dados, mas infelizmente
seus pensamentos meio presos no conceito de ser fodido, precisa ser cortado seu
sistema e fazendo seu pau endurecer novamente.
Porra.
—Tudo bem, — disse Samir com toda a dignidade que conseguiu reunir.
Não era muito. — Eu confio que ninguém vai descobrir sobre isso, doutor.
Doutor Jihan franziu a testa.
— Claro, Alteza. Estou ofendido por você precisar dizer isso. Os meus
lábios estão selados.
Samir saiu da ala médica, seus pensamentos já começando a turvar.
Quando encontrou Warrehn, mal conseguia pensar.
Warrehn olhou para ele por trás de sua mesa.
— Saia, — ele grunhiu, sua mandíbula apertada com tanta força que
parecia doloroso.
Lambendo os lábios secos, Samir fechou a porta e encostou-se nela. Ele
observou Warrehn observar cada movimento seu, olhos azuis escuros com fome
e ódio, seu rosto bronzeado duro como pedra.
— Eu também não quero estar aqui, — disse Samir, sua mão segurando a
maçaneta da porta atrás dele.
— Eu sei que você fez isso, — disse Warrehn, ficando de pé.
— Fiz o que? — Samir disse distraidamente, observando Warrehn se
aproximar e incapaz de desviar o olhar de seus músculos poderosos e coxas
grossas. A protuberância grossa entre elas. Porra, ele queria. Ele precisava. Ele
precisava ser preenchido novamente. Para ser arado duro.
— Você é quem está por trás disso. Você a cobra da sua mãe. — Warrehn
agarrou o ombro de Samir e o empurrou para a porta antes de puxar as calças
de Samir para baixo.
— Foda-se, — Samir disse, arqueando as costas e expondo sua bunda aos
olhos de Warrehn. Vamos, vamos, vamos. — Você acha que eu quero isso?
— Eu não pretendo entender sua mente distorcida, — Warrehn disse, a
cabeça de seu pênis escorregadia batendo contra o buraco sensível de Samir.
Samir mordeu o lábio com força para se impedir de choramingar. Embora
o médico tivesse usado o regenerador dérmico e um relaxante muscular nele,
ele ainda estava um pouco sensível lá embaixo. Ele não se importou. Ele queria
ser fodido. Ele queria ser criado, cheio de sementes.
— Apenas continue com isso, — ele gritou, agarrando-se à sua sanidade
com os últimos restos de seu autocontrole. — Espero que funcione desta vez e
nunca tenhamos que fazer isso novamente.
— O mesmo, — Warrehn grunhiu antes de afundar seus dentes na nuca
de Samir e empurrar nele.
E assim, todos os seus pensamentos se foram. Havia apenas o pênis nele,
deliciosamente grosso e longo, arando-o, possuindo-o, criando-o. Samir não
poderia viver sem ele. Não queria viver sem. Parecia que ele existia para tomar
aquele pau e nada mais importava.
Quando o criador se derramou nele, Samir estava quase soluçando. A
sensação do gozo de outro homem enchendo seu buraco foi o suficiente para
empurrá-lo para o limite. Ele gozou, gemendo alto, seu corpo tremendo com os
tremores de prazer enquanto seu buraco se apertava avidamente ao redor do
pênis nele. Parecia glorioso.
Então, a névoa em sua mente clareou. E tudo o que sentia era desgosto
consigo mesmo. Ele empurrou Warrehn de cima dele, puxou suas calças para
cima, e quase correu para fora da sala, incapaz de olhar para o outro homem.
Ele caminhou em direção a seus aposentos, o gozo de Warrehn escorrendo
por sua perna a cada passo que dava.
Não pense nisso.
O som de saltos altos se aproximando o fez se encolher e acelerar seus
passos. Ele só queria chegar ao seu quarto e tomar uma dúzia de banhos. E
esperava esquecer que a coisa toda aconteceu duas vezes.
— Samir!
Ele parou, muito relutante, permitindo que sua mãe o alcançasse, embora
ela fosse a última pessoa que ele queria ver agora.
— Foi você? — Ele disse, sem olhar para ela. — Foi você, não foi?
Ele sentiu o olhar de Dalatteya varrendo-o da cabeça aos pés, sem dúvida
observando suas roupas amarrotadas. Ele se perguntou se parecia tão fodido
quanto se sentia.
— Foi um erro, — ela disse calmamente, pegando seu braço e levando-o
para seus aposentos. — Perdoe-me, meu querido. Minhas ordens não foram
cumpridas com precisão.
Samir bufou. Um erro. Certo. Sua mãe nunca cometeu erros.
— O que aconteceu com não permitir que o filho de Emyr colocasse um
dedo em mim?
Dalatteya fez uma careta.
— Como eu disse, foi um erro. Um erro muito lamentável. Eu não planejei
isso - por favor, acredite em mim. Lamento profundamente. — Seus lábios se
dobraram em uma linha fina enquanto ela olhava para frente. Sua voz estava
muito tensa quando ela disse: — Você está... bem?
Ele estava prestes a zombar, mas então ele fez uma pausa. A situação
provavelmente trouxe lembranças ruins para ela. Ela foi vítima de assédio e
coação sexual. Era extremamente improvável que ela tivesse planejado que
Samir passasse por uma provação semelhante. Parecia realmente um erro
honesto, por mais improvável que pudesse parecer.
— Estou bem, — ele disse brevemente, esperançosamente em um tom que
deixasse claro que ele não tinha intenção de discutir o assunto com sua mãe.
Ela riu, o som desprovido de qualquer humor.
— Claro que você não está bem, — ela disse bruscamente. — Depois que
você teve que aturar - com…
— Eu não quero falar sobre isso, mãe. Por favor, pelo menos me permita
manter um pouco da minha dignidade. Eu fiz o que tinha que fazer. Não é como
se eu tivesse escolha. Espero que tenha sido o fim de tudo.
Ela suspirou.
— Eu não acho que seja.
Samir franziu a testa e olhou para ela.
— Porque você acha isso?
Com a expressão um pouco tensa, Dalatteya abriu a porta do quarto de
Samir e entrou na frente dele. Ela esperou pacientemente até que ele fechasse a
porta antes de falar novamente.
— Acabei de voltar de falar com Uriel. Aparentemente, seu fornecedor
rotulou incorretamente várias substâncias e vendeu a Uriel a errada por engano.
A droga que Uriel pretendia comprar era basicamente apenas um forte
afrodisíaco. Eu lhe dei um antídoto para isso, então você não deveria ter sido
afetado. Não sei como ocorreu a confusão - e, francamente, não importa agora.
Existem preocupações mais urgentes, como o fato de que a substância com a
qual você foi drogado foi overdose. Normalmente, um breve contato da pele com
a substância seria suficiente para ser significativamente afetado, mas você
recebeu pelo menos dez vezes a dose recomendada.
Samir fez uma careta. Simplesmente ótimo. Fodidamente fantástico.
— Para chorar em voz alta, mãe, — disse ele com um suspiro. Ele não
tinha palavras. A confusão toda era totalmente evitável e desnecessária. —Isso
era mesmo necessário?
Sua mãe nem teve a graça de parecer culpada.
— Não me olhe assim. Você me deixou sem escolha. Se você realmente
fizesse um esforço e me ajudasse a remover o filho de Emyr da foto, nada disso
teria acontecido!
— Sim, é claramente minha culpa, — disse Samir, muito secamente. — O
que você esperava conseguir drogando Warrehn dessa maneira? É muito
suspeito.
Dalatteya franziu a testa, esfregando a testa com um dedo delicado.
— Não teria sido suspeito se as substâncias não estivessem misturadas e
você não fosse afetado. A droga original que escolhi tem uma ativação retardada
e teria começado a funcionar quarenta e duas horas depois que Uriel envenenou
o ar na sala de café da manhã, e é impossível detectar no sangue após as
primeiras horas. Ninguém teria suspeitado de nada quando ele tentasse agredi-
la durante a turnê de divulgação. Tentativa sendo a palavra-chave – não isso!
Você estaria perfeitamente seguro o tempo todo.
Samir se acalmou quando viu a angústia genuína nos olhos de sua mãe.
— Estou bem, mãe, — ele disse, mais suavemente. — É apenas sexo. Sexo
não significa nada. Eu posso aguentar.
Ela fechou os olhos por um momento, sua garganta trabalhando, sua aura
telepática ainda emanando desconforto e angústia.
— Eu sei que você pode suportar isso, — disse ela uniformemente. —Você
é meu filho. Você é forte. Você sobreviveu pior. Mas eu gostaria que você nunca
soubesse como é suportar uma coisa dessas.
Samir engoliu em seco, sem saber o que dizer.
Antes que ele pudesse descobrir, sua mãe se virou e saiu.
Capítulo 10
Samir sempre se orgulhou de possuir uma vontade forte. Ele poderia
trabalhar em uma determinada tarefa por dias sem ceder à vontade de dormir e
descansar, não importa o quão tediosa fosse a tarefa. Ele podia ignorar suas
necessidades físicas e passar longos períodos sem sexo. Então ele pensou que
poderia ignorar essa necessidade artificial também.
Ele estava errado.
Os pensamentos de Samir começaram a ficar nebulosos apenas uma hora
depois que sua mãe foi embora. Ele tentou ignorá-lo a princípio, forçando-se a
se concentrar na reforma educacional em que estava trabalhando. Meia hora
depois, ele teve que deixar seu datapad de lado – ele não conseguia mais se
concentrar nas palavras, sua mente enevoada com pensamentos e desejos fúteis.
Ele queria ser preenchido. Ele queria ser criado novamente. Ele ainda tinha o
suficiente de sua mente presente que seus próprios pensamentos o enojavam,
mas ele não conseguia parar de pensar isso. Não conseguia parar de querer isso.
Ele queria ser criado novamente. Ele sentiu que precisava disso, como se
fosse morrer sem isso. Ele continuou pensando no pênis de Warrehn, enorme e
vermelho, a cabeça gorda brilhando com lubrificante.
Segure-se, porra.
Ele chegou a duas horas antes de perder a batalha consigo mesmo e ficar
de pé com as pernas trêmulas. Ele saiu da sala, mal vendo para onde estava indo,
procurando a presença telepática de seu companheiro. Ele teve que parar várias
vezes para acariciar seu pênis através do tecido de sua calça, choramingando
baixinho em frustração. Ele acabou desabotoando sua braguilha e acariciando-
se desesperadamente enquanto caminhava, vagamente registrando que os
droides de serviço estavam parando seu trabalho e olhando para ele confusos.
Ele não se importou. Ele queria seu companheiro, seu criador. (Ele não tinha tal
coisa, saia disso, droga!) Ele precisava dele.
Samir literalmente tropeçou nele em algum corredor da ala oeste. Eles
olharam um para o outro por um momento longo e carregado, a expressão de
Warrehn uma mistura de fúria e desejo animal.
— Maldito seja, — Warrehn grunhiu antes de jogá-lo contra a parede e
puxar as calças de Samir para baixo.
Ele o teve ali mesmo, no meio do corredor, duro e rápido, como uma besta
irracional satisfazendo seus desejos básicos. Ele era áspero, e doía um pouco, o
lubrificante natural do pênis de Warrehn só fazia muito, considerando seu
tamanho, mas a picada de alguma forma tornava tudo mais forte, mais quente,
melhor. Samir não conseguia o suficiente, gemendo e empurrando para trás,
saboreando o quão pesado e forte o macho que o tomava era viril.
Ele gozou rápido, apenas por ser arado assim, mas de alguma forma, ele
ainda permaneceu duro, nem um pouco satisfeito. Ele queria estar cheio de
sêmen. Ele precisava estar cheio de sêmen.
— Vossa Alteza, sua mãe está procurando por você.
A voz não conseguiu penetrar a névoa em sua cabeça. Era apenas barulho,
sem importância. Samir abriu os olhos e olhou para o droide turvamente, sua
mente felizmente vazia enquanto seu corpo estremecia sob a força das estocadas
do outro homem.
Ele gemeu em um impulso particularmente bem direcionado. Aí, mais
fundo.
— Vossa Alteza, Sua Excelência disse que você deve ir ao escritório dela o
mais rápido possível...
— Fora da minha vista, — seu companheiro rosnou, suas mãos agarrando
os quadris de Samir com força enquanto seu pênis pulsava dentro e fora dele.
O droide deve tê-lo escutado, porque tudo ficou abençoadamente
silencioso, e Samir pôde finalmente se concentrar na sensação gloriosa do pau
grosso tomando-o. Tão bom. Tão certo.
Quando seu buraco foi finalmente preenchido com sementes, foi um alívio
tão profundo, a satisfação disso insuportável. Samir suspirou feliz, gozando
novamente. Tão bom. Tanta paz e realização.
Ele não tinha certeza de quanto tempo havia passado quando um suspiro
quebrou o silêncio.
— Droga, — uma voz baixa disse em sua nuca. Parecia derrotado.
Samir abriu os olhos e olhou para a parede na frente dele
inexpressivamente enquanto o pênis amolecido de Warrehn deslizava para fora
dele.
Droga.
— Pelo menos foram duas horas desta vez, — disse ele, procurando uma
fresta de esperança.
Warrehn não disse nada, sua presença telepática sombria e opressiva. Isso
fez os pelos da nuca de Samir se arrepiarem, como se houvesse um predador
atrás dele. Um zangado.
— É bom, — disse Samir, puxando as calças para cima. — Foi apenas uma
hora da última vez.
— Você está muito calmo sobre isso. Mas, novamente, é claro que você
está.
— O que isto quer dizer? — Samir disse, levantando o queixo e virando-
se para Warrehn. Era chocante vê-lo completamente vestido, como se nada
tivesse acontecido, como se Samir não sentisse o gozo de Warrehn escorrendo
por sua perna. — Só vejo pouco sentido em reclamar sobre algo que não
podemos mudar. Há sempre o lado bom.
— Certo, — Warrehn disse, muito secamente, colocando as mãos nos
bolsos de sua jaqueta escura. — O lado bom é que você e sua mãe conseguiram
o que pretendiam. O que era mesmo, exatamente?
Samir só podia olhar para ele, odiando que ele não pudesse dizer a verdade
que Warrehn estava errado. A coisa toda tinha sido obra de sua mãe, ainda que
inadvertidamente.
— Minha mãe nunca me colocaria voluntariamente em uma situação em
que eu tivesse que ter intimidade com o filho de Emyr, — ele disse finalmente.
Isso era verdade. — Ela o odiava mais do que tudo, e ela odeia você por extensão.
Os lábios de Warrehn se curvaram em algo que não era bem um sorriso.
— Sim, ela o odiava tanto que praticamente morava em seus quartos. Eu
não podia visitar os aposentos do meu pai sem tropeçar na minha querida tia.
— Isso não significa nada, — disse Samir. — Ele a forçou.
Warrehn encolheu os ombros, passando a mão pelo exuberante cabelo
castanho-dourado. Isso fez os dedos de Samir se contorcerem. Era positivamente
injusto que um homem tão severo e duro tivesse um cabelo tão lindo. Parecia
tão macio.
— Ele pode muito bem ter, mas pelo que eu vi, ou sua mãe é uma atriz
excepcionalmente boa ou ela gostava de beijar um homem que ela odiava.
— Isso não significa nada, — disse Samir, escondendo sua confusão. —
Eu fortemente não gosto de você. Mas eu gostei de te foder, mesmo que seja por
causa da droga, e daí? Isso não muda meus sentimentos sobre você. Você ainda
é um idiota mal-humorado e julgador que eu não gosto.
As sobrancelhas de Warrehn se juntaram.
— As situações não são comparáveis. Meu pai não drogou sua mãe com
uma substância afrodisíaca. Cada emoção que ela sentia por ele era dela mesma,
quer ela o odiasse ou o desejasse. É foda se ela não consegue ver a ironia dessa
situação e sua hipocrisia. Ela agora não é melhor do que o homem que ela afirma
desprezar. Ele tirou o consentimento dela. Ela tirou o meu.
— Whataboutism é patético e não torna as coisas horríveis que ela sofreu
bem, — disse Samir antes de acrescentar tardiamente: —E minha mãe não tem
nada a ver com isso.
Warrehn balançou a cabeça.
— Você é um mentiroso muito pior do que ela. Sério, não se incomode. Eu
não estou comprando seu ato inocente. — Ele olhou para Samir sem rodeios,
seus lábios finos e sensuais se retorcendo em algo feio. — O que eu não entendo
é qual é o seu objetivo. Você não pode pensar seriamente que algumas fodas me
fariam esquecer todas as coisas que sua família fez com a minha. Desculpe, mas
seu buraco não é tão bom.
Samir deu um soco na boca dele.
Ele sentiu um momento de satisfação cruel quando viu um fio de sangue
escorrer do lábio cortado de Warrehn. Mas sua satisfação durou pouco.
Warrehn agarrou seu pulso e o empurrou contra a parede. Inclinando-se,
ele encarou Samir, seu antebraço pressionando com força contra o pulso de
Samir.
Samir olhou de volta, inalando trêmulo. Era uma luta para respirar, seus
pulmões cheios do cheiro de Warrehn.
— Solte-me, — ele rosnou. — Você mereceu isso. Você deveria estar me
agradecendo pelo privilégio.
— Privilégio? — Warrehn disse, seus olhos brilhando maldosamente. —
Se você e sua mãe recorrem ao uso de seu corpo para alcançar seus objetivos
duvidosos, é improvável que seja um privilégio raro.
— Seu idiota, — Samir sibilou, tentando puxar sua mão livre e socá-lo
novamente, sem sucesso. Ele estava quase cuspindo, ele estava tão furioso. —Eu
te odeio, seu pedaço de merda. Se seu pai era tão irritante quanto você, agora
entendo por que ele está morto.
Warrehn ergueu as sobrancelhas.
— Então você está finalmente admitindo que sua mãe o matou.
— Não estou admitindo tal coisa, — disse Samir, pisando no sapato de
Warrehn com violência.
Uma careta cruzou o rosto de Warrehn, mas seu aperto no pulso de Samir
não afrouxou.
— Diga-me qual é o seu jogo, — disse ele, seu olhar vagando sobre o rosto
de Samir, demorando em seus lábios ofegantes antes de voltar para os olhos de
Samir. — O que você esperava conseguir me drogando com essa droga?
— Você é o gênio que chegou a essa conclusão, — disse Samir. — Diga-
me você.
— Receio que minha mente não seja tão distorcida e escorregadia quanto
a sua. Se eu não consigo ver um propósito, isso não significa que ele não exista.
— Então você admite que não é tão inteligente quanto nós.
— Admito que não sou tão dissimulado e manipulador quanto você. Na
verdade, sou uma pessoa honesta.
Samir riu.
— Saia de seu cavalo alto, Sua Majestade. Você não tem nenhum problema
em se associar publicamente comigo, o filho da mulher que assassinou seus pais,
de acordo com você. Se você fosse tão íntegro, nos expulsaria de sua casa, que
se dane a opinião pública. Acho que você é uma “pessoa honesta” apenas quando
lhe convém.
E com isso, ele puxou seu pulso do aperto de Warrehn e se afastou,
tentando muito não mancar.
Foda-se ele. Sério, foda-se ele.
Ele nunca conheceu um homem mais enfurecedor, arrogante e hipócrita!
— Eu te odeio, — ele murmurou cruelmente, imaginando dar um soco em
Warrehn em seu nariz reto e perfeito e então em cada um de seus olhos azuis, e
então em sua boca firme, e então enterrando a mão naquele cabelo
estupidamente exuberante e puxando, até doer.
Porra, ele nunca odiou ninguém tanto assim.
Capítulo 11
— Sinto muito, Sua Majestade, mas não podemos cancelar a turnê de
publicidade, — disse Ayda, franzindo a testa. — Sua visita às províncias foi
anunciada publicamente, e cancelá-la seria uma má impressão de que você não
precisa.
Warrehn não disse nada, olhando pela janela de seu escritório, com as
mãos nos bolsos.
Sirri o olhou com curiosidade de seu assento no canto da sala. Ela nunca
tinha visto tanta tensão no corpo de Warrehn. Ele estava tão rígido e tenso que
ela podia sentir com a pele, apesar da distância entre eles.
— É tão ruim assim? — Ela disse, mantendo a voz suave. Normalmente,
ela se deleitava em irritar Warrehn, mas podia sentir que seria uma má ideia
agora. Warrehn era um telepata de alto nível, seu poder bruto perigoso até para
ela. Irritá-lo seriamente quando ele estava assim era uma ideia terrível.
— O que você acha? — Warrehn disse, seu perfil duro e inflexível, assim
como seu corpo alto e poderoso.
Sirri se permitiu um momento para apreciar seu físico. Warrehn podia ser
um idiota mal-humorado e miserável, mas ele era quente. De um jeito eu-não-
estou-impressionado-com-você-e-vou-foder-com você. Era uma pena que ele
não gostasse de mulheres. Ela não se importaria de foder com ele, apesar de seus
problemas com ele. Embora houvesse rumores, ele fodia mais duro do que ela
preferia.
— Pessoalmente, transar com o perfeito Príncipe Samir não seria difícil,
— Sirri disse com um sorriso. — O cara é gostoso, embora eu não tenha certeza
de como me sentiria fodendo um homem muito mais bonito do que eu. Eu sou
muito vaidosa para isso.
Ayda escondeu um sorriso divertido atrás da mão, e Sirri piscou para ela,
fazendo a mulher corar um pouco. Huh. Ayda era meio gostosa. Talvez ela
devesse tentar vestir a calcinha antes de partir para Tai’Lehr amanhã.
— Ele não é bonito, — Warrehn disse, sua voz sombria.
Sirri ergueu as sobrancelhas.
— Há algo de errado com sua visão? O cara é ridiculamente lindo.
— A beleza vem de dentro. Ele é feio, não importa o quão adorável ele
pareça.
Sirri zombou, revirando os olhos.
— Por favor. Desde quando vocês homens se importam com a beleza
interior e toda essa podridão quando se trata de molhar seus paus? Não me diga
que foi difícil transar com ele, não vou acreditar em você.
Ela notou curiosamente que a mão de Warrehn estava apertada dentro do
bolso.
— Eu mal me lembro de nada, — disse ele categoricamente. —Quando a
droga toma conta, sinto que estou possuído. — Ele olhou para Ayda. — Você
não pode esperar seriamente que eu vá nessa turnê publicitária neste estado. Eu
mal posso passar algumas horas antes que os sintomas se tornem esmagadores.
Ayda estremeceu.
— Não é o ideal, mas não temos escolha. Cancelar a turnê um dia depois
do anúncio só faria você parecer inconstante e não confiável. Parece que o
intervalo entre os picos de sintomas está ficando mais longo, correto?
Warrehn deu um aceno cortante.
— Veja, vai ficar tudo bem, — disse Ayda com um sorriso, mas mesmo ela
não parecia tão segura.
— Você poderia nos deixar em paz, por favor? — Sirri perguntou a ela.
— Claro, — disse Ayda. Ela olhou para Warrehn e fez uma reverência. —
Sua Majestade.
Ele nem sequer olhou para ela.
— Você é tão rude, — Sirri disse quando a porta se fechou atrás de Ayda.
Ele não disse nada, seu rosto bonito sombrio e fechado.
Suspirando, Sirri se aproximou e colocou a mão em seus ombros.
— War escute, — ela disse, olhando-o nos olhos. — Com toda a seriedade,
eu entendo: ele é o filho do assassino de seus pais e deve ser nojento cair em si e
encontrar suas bolas dentro dele – eu realmente entendo. Mas se culpar por algo
que você não tem controle é inútil. Solte-se. Você está tão tenso que sinto que
estou perto de uma bomba prestes a explodir. Deixa para lá. Não é sua culpa.
Sua atração por ele não é real.
Warrehn desviou o olhar, um músculo saltou em sua bochecha quando
ele apertou a mandíbula.
Sirri olhou para ele, atordoado.
— Você o quer, — ela disse lentamente quando a percepção bateu.
Embora ela tivesse tentado irritá-lo por ter cobiçado o príncipe Samir no dia do
tribunal, tinha sido uma piada. Ela não tinha realmente pensado que Warrehn
queria o filho de Dalatteya, conhecendo seu profundo ódio por ela e qualquer
coisa dela. — Você o queria antes de toda a provação.
Ele olhou para ela, a força disso a fazendo querer dar um passo para trás.
Ela cerrou os dentes e ficou onde estava. Ela não iria recuar só porque ele era
um homem com o dobro do tamanho dela e poderia causar sérios danos ao seu
cérebro se ele quisesse.
— Era uma atração superficial e fugaz que eu nunca teria atuado, — disse
ele.
Ela não tinha certeza se acreditava nele. Ele estava sendo muito defensivo,
muito culpado e estressado com a coisa toda para ser uma atração superficial.
Mas pelo bem dele, ela esperava que ele não estivesse mentindo.
Porque se ele realmente quisesse o filho de Dalatteya... seria um desastre
de proporções épicas.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele disse com um suspiro:
— Eu preciso de um pouco de ar.
Ele saiu, deixando-a altamente inquieta.
E com medo.
***
Warrehn olhou para a superfície do lago sem ver.
Se você fosse tão íntegro, nos expulsaria de sua casa, que se dane a opinião
pública.
Maldito seja. Mesmo mais de uma hora depois, apesar de seu encontro
com a publicitária e Sirri, aqueles olhos azuis escuros olhando para ele com ódio
ainda estavam na vanguarda de sua mente.
Acho que você é uma “pessoa honesta” apenas quando lhe convém.
Warrehn jogou uma pedrinha no lago e a viu quicar algumas vezes antes
de afundar nas profundezas desconhecidas. Ele também se sentia um pouco
assim. Afogando-se, sem saber onde estava o caminho para cima.
Longe de Samir e seu efeito desconcertante sobre ele, Warrehn podia ver
que ele se comportou como um idiota tóxico ao seu redor. As coisas que ele disse,
ele nunca disse coisas assim para os homens que fodeu, mesmo quando eles
eram prostitutas profissionais de verdade. Mas perto de Samir era como se ele
não pudesse controlar o que estava saindo de sua boca.
Ele queimou para colocar Samir em seu lugar - e esse lugar estava abaixo
dele, em todos os aspectos que importavam.
Seus próprios pensamentos obsessivos e tóxicos o perturbavam.
Talvez fosse a droga. Um efeito colateral, um de muitos. Assim como a
sensação de coceira crescendo sob sua pele agora. Crescente. Querendo.
Warrehn respirou fundo e se acalmou. Tinha sido apenas uma hora e
meia. Ele tinha melhor autocontrole do que isso. Samir era filho de Dalatteya e
tudo o que isso implicava. Ele era traiçoeiro e venenoso, não importava quão
lindo ele fosse ou quão bonitos seus lábios rosados parecessem.
Eles ficariam ainda melhores enrolados em seu pênis quando Samir
engasgasse com ele, olhando para ele com olhos úmidos e suplicantes.
Warrehn cerrou os dentes, seu pênis doendo.
Seu comunicador disparou e ele atendeu, feliz pela distração. Ele precisava
de toda a distração do mundo agora.
— Sim? — Ele mordeu.
— Eu ia perguntar se estava tudo bem, mas parece que a resposta é não,
— Rohan disse secamente.
Warrehn respirou fundo e soltou o ar lentamente, seus ombros relaxando
ao som da voz de seu amigo, embora Rohan fosse mais um irmão do que um
amigo. Eles cresceram juntos desde que Warrehn se tornou um hóspede
involuntário na casa de Rohan. Warrehn pode ter se ressentido com o pai de
Rohan por não deixá-lo sair de Tai’Lehr, mas ele nunca conseguiu se ressentir
de Rohan quando ele estava sempre lá para ele, uma figura de irmão mais velho
que permaneceu paciente com ele apesar das inúmeras tentativas de escapar de
Warrehn.
— Eu sei que você quer ir para casa, — um Rohan de dezoito anos disse
um ano depois da estada involuntária de Warrehn em Tai’Lehr, seus olhos
negros solenes enquanto ele segurava o olhar de Warrehn. — Eu entendo que
você quer vingar sua família. Mas veja: escapar é inútil. Você tem apenas onze
anos. Ninguém vai levar suas acusações a sério. Você é uma criança aos olhos
da lei - e estaria inteiramente sob o poder do regente, mesmo que voltasse para
casa. Espere até ter idade suficiente, mas use esse tempo com sabedoria. Diz-se
que Que Dalatteya’il’zaver é uma mulher muito inteligente e astuta. Ela vai
esmagá-lo politicamente agora se você voltar como uma criança ou ela
simplesmente o matará. Você precisará aprender a ser ouvido se quiser ter
sucesso quando voltar.
Quando. O fato de que mesmo naquela época Rohan havia dito quando
era o pensamento mais tranqüilizador que Warrehn havia escolhido para se
fixar. Depois dessa conversa, ele parou de tentar escapar. Ele seguiu o conselho
de Rohan e se obrigou a aprender ciências sociais, tudo o que um rei deveria
saber para governar com eficácia, obstinado em seu propósito. Ele voltaria e
vingaria sua família. E ele encontraria e recuperaria seu irmãozinho.
Era devastador que ele não tivesse realizado nenhum dos dois. Ele ainda
não tinha provas da culpa de Dalatteya; em vez disso, ele foi forçado a fazer
política e tolerar a presença dela em sua casa. E ele poderia ter encontrado seu
irmão mais novo, mas ele o havia perdido novamente. Eridan tinha escolhido
partir. Ele se foi, praticamente morto. Os membros do Alto Hronthar eram
proibidos de se envolverem na política, então o retorno de Eridan ao mosteiro
efetivamente o removeu da linha de sucessão. Ele ainda podia ser um príncipe,
mas agora era um título vazio. Eridan tinha escolhido uma vida com aquele
babaca manipulador e traiçoeiro para uma vida que Warrehn havia lhe
oferecido.
Uma onda de amargura e solidão o invadiu.
— Você esperava que eu estivesse de bom humor, dada a situação? —
Warrehn disse, afastando esses pensamentos. Não adiantava insistir neles. Ele
estava bem sozinho. Ele não precisava de ninguém.
— Diga-me você, — disse Rohan. — Foi uma merda de fazer me mandar
uma mensagem dizendo que você foi drogado e depois ignorar todas as minhas
mensagens e ligações. Que porra é essa, War? O que aconteceu? Você está
machucado?
Warrehn olhou para sua virilha e fez uma careta.
— Eu preferiria estar.
— O que?
Beliscando a ponta do nariz, Warrehn explicou.
Levou quase meia hora. Não ajudou que, no final, ele mal conseguia se
concentrar na conversa, sua atenção se desviando para Samir com uma
frequência agravante.
Quando ele terminou, o silêncio reinou.
— Eu não entendo a motivação dela, — Rohan disse, parecendo confuso.
— Nem eu. Mas não importa. Eu só preciso tirar essa droga do meu
sistema.
— Acho que descobrir a motivação dela é importante. Se não
descobrirmos o que ela espera conseguir com isso, você pode fazer o jogo dela,
não importa o que faça. Talvez a droga seja apenas um meio para um fim e é a
sua reação que ela quer. Por favor, não tome nenhuma decisão precipitada, War.
Warrehn fez uma careta. Ele sabia que Rohan estava certo. Ele não tinha
provas de que ela era culpada de alguma coisa. Samir sendo afetado também
estragou tudo, fazendo com que seu envolvimento parecesse improvável. Não
importa o quanto ele quisesse acusar oficialmente a víbora de drogá-lo, ele tinha
que pensar se isso seria bom para as mãos dela e como seria para o público.
Acho que você é uma “pessoa honesta” apenas quando lhe convém.
Warrehn mordeu a parte de dentro da bochecha, odiando o quanto as
palavras de Samir o irritaram. Odiando que ele não estava errado.
— É desconcertante, — disse Rohan. — Eu simplesmente não consigo ver
por que ela drogaria seu próprio filho. É possível que ela pense que você pode
se apaixonar por ele?
Warrehn riu.
— Se ela está esperando por isso, ela é uma idiota, — disse ele. — Isso
nunca vai acontecer.
Rohan cantarolou e ficou em silêncio por um momento.
— Você transou com ele?
Warrehn olhou para a superfície imóvel do lago.
— Claro que sim, — ele disse irritado.
— E? Foi bom?
— Que tipo de pergunta é essa? — Disse Warrehn. — Você não gosta
quando fode alguém?
— Não há necessidade de ficar tão na defensiva, — disse Rohan.
Seu tom apaziguador era irritante.
Warrehn fechou os olhos e respirou lentamente.
— Eu não estou sendo defensivo, — disse ele com calma forçada. —Estou
um pouco frustrado. Você também estaria, se suas bolas estivessem azuis por
quase duas horas. Até falar com você é difícil. É difícil focar.
Rohan fez um som solidário.
— Tudo bem. Eu não vou mantê-lo, então. Vou consultar nossos médicos.
Talvez possamos encontrar uma solução que o Doutor Jihan negligenciou.
Warrehn grunhiu afirmativamente e encerrou a ligação.
Passando a mão sobre os olhos, ele inspirou e expirou. “Um pouco
frustrado” era um eufemismo. Ele nunca esteve tão sexualmente frustrado em
sua vida. Ele era um homem em seu auge com um apetite saudável por sexo,
mas isso era ridículo até mesmo para seus padrões. Ele estava tão perto de apenas
tirar seu pau e se masturbar aqui a céu aberto, potenciais testemunhas e
consequências que se danem. A pior parte era que ele sabia que não funcionaria
de qualquer maneira. Ele não queria apenas gozar. Ele queria enfiar seu pênis
no filho de Dalatteya, fodê-lo e criá-lo2. A força desse desejo o deixou irritado,
enojado e frustrado em igual medida.
Racionalmente, ele sabia que Sirri estava certa e sentindo que isso não era
culpa dela. Embora fosse verdade que ele se sentira atraído por Samir antes de
ser medicado com a droga, tinha sido uma atração passageira que qualquer
homem saudável sentiria por uma jovem primorosamente bonito. Ele nunca
teria agido sobre isso.
E agora... não importa o que ele disse a si mesmo, o fato é que ele queimava
para foder o filho do assassino de sua família – e ele já tinha fodido com ele,
várias vezes, e queimado para fazer isso de novo. Era enfurecedor saber que ele
não era forte o suficiente para resistir à atração - que Dalatteya mais uma vez o
superou, qualquer que fosse seu jogo.
A questão era, Samir sabia de seus planos? Warrehn não foi capaz de
sentir desonestidade quando leu brevemente os pensamentos superficiais de
Samir. Samir parecia tão surpreso com o envenenamento do ar quanto ele. Isso
não significava necessariamente que ele desconhecia os planos de sua mãe, mas
Warrehn não se atreveu a mergulhar mais fundo em sua mente por causa da
compatibilidade de suas mentes. Ele não queria ser influenciado por sua
compatibilidade natural.
Já era ruim o suficiente que a droga já estivesse afetando um pouco seu
julgamento. Embora a sugestão de Rohan de que Dalatteya pudesse estar
esperando que ele se apaixonasse por seu filho fosse risível, era verdade que ele
não odiava Samir tanto quanto odiava sua mãe. Se era influência da droga ou

2
Relacionado a reprodução: engravidar.
não, ele não sabia. Ele estava frustrado e irritado com a situação e se comportou
como um idiota tóxico perto de Samir, mas não era ódio verdadeiro. Ele odiava
Dalatteya. Seus sentimentos por seu filho eram muito mais complexos.
Não ajudava que Samir parecesse a porra de um príncipe de conto de
fadas: cabelo violeta exuberante, olhos azuis profundos, pele leitosa e lindos
lábios rosados. Ele era todo graça e equilíbrio, fazendo com que Warrehn se
sentisse como um idiota rude e incivilizado ao lado dele. Samir era lindo de
morrer. Mesmo antes do desastre das drogas, Warrehn teve algumas fantasias
fugazes de forçar Samir a ficar de joelhos na sala do trono e fazê-lo chupar seu
pau na frente de Dalatteya e de toda a corte.
O pênis em questão pulsava, e Warrehn assobiou em frustração.
Caramba.
Pegando seu comunicador, ele encontrou o número de Samir no banco de
dados real e pressionou Conectar.
— Já se passaram duas horas, — disse Warrehn quando Samir atendeu.
— Sim, — disse Samir. Ele parecia um pouco cauteloso e um pouco sem
fôlego.
— A droga está claramente passando, mas não rápido o suficiente.
Devemos testar quanto tempo podemos ir antes de desistir.
— Nós?
Warrehn suspirou.
— Sim. A turnê publicitária não pode ser cancelada, então precisamos
trabalhar juntos, por enquanto, e descobrir nossos limites. Vamos coordenar
nossas idas e vindas até que a droga passe.
— Tudo bem, — disse Samir, parecendo um pouco atordoado.
Warrehn quase sorriu. As pessoas erroneamente pensavam que ele não
era capaz de ser racional, mas ele era muito capaz disso - quando lhe convinha.
Se ele não abordasse essa situação racionalmente, ele sabia que iria explodir de
pura frustração.
— É isso que faremos, — disse Warrehn. — Você vai me enviar uma
mensagem a cada meia hora e relatar como você está indo. Se sua condição ficar
insuportável, você me dirá. Eu vou fazer o mesmo. O truque é encontrar nossos
limites sem empurrá-los. Não quero tocar em você com mais frequência do que
o necessário.
— Asseguro-lhe que o sentimento é totalmente mútuo, — disse Samir
bruscamente.
— Bom, — disse Warrehn, jogando outra pedrinha no lago. Afundou
imediatamente - muita força. — Então nos entendemos. Espero uma mensagem
a cada meia hora.
Ele desligou, olhou para a barraca em suas calças e fez uma careta. Dizer
que ele não estava ansioso para descobrir seus limites era dizer o mínimo.
A primeira mensagem veio exatamente meia hora depois.
Ainda é suportável.
Warrehn não tinha certeza se concordava. Mas ele digitou, Mesmo.
A segunda mensagem foi a mesma.
Warrehn estava absolutamente mentindo ao responder que estava
igualmente bem. Ele não estava. Sua concentração foi completamente arruinada,
suas mãos tremendo tanto que ele teve que cercá-las em punhos.
Mas ele se recusou a ser o primeiro a ceder.
Felizmente, a próxima mensagem de Samir veio muito antes. Eu não
aguento mais. Venha para o meu quarto.
Warrehn nunca se moveu tão rápido. Ele cobriu a distância até o palácio
em tempo recorde e passou pelos servos e robôs assustados. Ele não tinha ideia
se alguém o viu entrar nos aposentos de Samir – e verdade seja dita, ele não se
importou.
Samir estava em sua cama, seu peso em seus cotovelos e joelhos, sua bela
bunda no ar. O pequeno buraco rosado entre aquelas nádegas redondas e
cremosas deu água na boca de Warrehn. Ele se sentiu como um animal vendo
uma cadela fértil no cio. O desejo de procriá-lo3 era avassalador, embora
racionalmente soubesse que era impossível.
— Apenas faça isso, — Samir sussurrou com a voz rouca no colchão, sem
olhar para ele. — Encha-me.
E Warrehn fez.

3
Relacionado a reprodução: engravidar.
Capítulo 12
Eles partiram para a turnê de publicidade no início da manhã.
Samir não estava acostumado a viajar em veículos terrestres. Era um
pouco antiquado demais para o gosto dele. Mas ele tinha que admitir que o carro
antigo que o pessoal de Warrehn havia escolhido era muito impressionante e
confortável. Era bem grande, com muito espaço e tudo o que eles precisavam:
uma sala de jantar equipada com serviço de teletransporte - eles podiam pedir
qualquer coisa e a refeição seria entregue a eles - duas camas, um banheiro com
chuveiro sônico e uma pequena sala de estar área do quarto. O carro era à prova
de som e as janelas eram de mão única, dando-lhes privacidade – um recurso
muito necessário, considerando o que eles estavam fazendo.
Seus dias eram assim:
Samir geralmente acordava com o pênis de Warrehn já dentro dele,
arando-o com força. Ele ficava ali, meio adormecido, deleitando-se com a
sensação de ser tomado por um macho viril em seu auge e sendo bombeado com
sua semente. Quando ele gozava, eles se separavam, evitando os olhos um do
outro, e recuaram para as extremidades opostas do veículo até a hora da
primeira parada do dia.
Era incrivelmente chocante colocar uma máscara impassível e educada
em seu rosto ao redor de Warrehn e chamá-lo de Sua Majestade, como se ele
não tivesse o pênis de Warrehn nele há pouco tempo – como se ele já não
estivesse ansioso por mais. Não que Samir estivesse ansioso por mais. Era a
droga, não ele.
Depois de todos os sorrisos e beijos de bebê, eles estavam de volta no carro.
A essa altura, Samir estava tremendo de impaciência e desejo, mas eles não
fodiam a menos que fosse absolutamente necessário – o que geralmente era
quando um deles não aguentava mais e cedia. Ele era o desesperado. Era
totalmente injusto, porque o doutor Jihan havia dito que a concentração da
droga era maior no sistema de Warrehn. Samir suspeitava que Warrehn, como
um telepata de alto nível, usava técnicas avançadas de meditação para se
controlar.
A pior parte era que quanto mais o tempo passava, mais clara a cabeça de
Samir ficava durante o sexo. O sexo não era mais um acasalamento nebuloso
que ele mal conseguia lembrar depois; ele agora podia se lembrar das coisas. Ele
podia se lembrar da maneira como se agarrava a Warrehn, implorando por mais
de seu pênis, implorando por mais fundo e mais forte. Ele podia se lembrar da
maneira totalmente embaraçosa que ele muitas vezes se comportava durante o
sexo, puxando Warrehn em cima dele e se recusando a soltá-lo até que ele lhe
desse o que ele precisava, que era um pau enfiado nele o mais rápido possível.
Ele podia se lembrar da ocasião particularmente mortificante da publicitária de
Warrehn andando com eles alguns dias atrás. Ela congelou na porta, com os
olhos arregalados, antes de dar um passo para trás e fechar a porta do carro.
Isso tinha sido tão estranho – Samir não conseguiu olhar Ayda nos olhos por
dias.
Geralmente eles faziam outra parada à tarde em algum evento de caridade
ou hospital. Suas equipes de relações públicas se esforçaram para não deixar
esses eventos durarem mais do que algumas horas, mas às vezes não havia como
evitar. E esses tempos foram os piores. Samir só podia ficar ali sentado,
desesperado e dolorido, olhando avidamente para o homem ao seu lado,
cravando as unhas nas próprias coxas para evitar subir no colo de Warrehn e
abrir sua braguilha. Depois, Samir geralmente se via montado no pau do rei em
um banheiro, rápido e forte, tão desesperado por isso que não dava a mínima
que a porta frágil era a única coisa que os separava da multidão de repórteres e
mamães com seus bebês. Mais tarde, ele ficaria mortificado, mas isso seria muito
mais tarde. A droga maldita não deixava espaço para pensamentos racionais
quando tudo o que queria era o pênis de Warrehn. Era fodidamente horrível.
Samir nunca fez tanto sexo em sua vida, nunca quis tanto sexo.
Milagrosamente, eles conseguiram não ser pegos apesar de todas as
ocasiões em que transaram em lugares públicos e semi-públicos. Ou isso, ou
suas equipes de relações públicas mereciam um grande aumento.
Quando a noite caia, eles dormiam na mesma cama. Era apenas prático:
eles aprenderam da maneira mais difícil que era muito difícil funcionar com
apenas algumas horas de sono ininterrupto se tivessem que se levantar para
fazer sexo várias vezes à noite. Era mais prático dormir na mesma cama. Dessa
forma, Samir nem precisava acordar completamente: Warrehn apenas o
pressionava no colchão, meio acordado, e empurrava seu pênis liso dentro dele.
O sexo no meio da noite geralmente era mais sem pressa – às vezes Samir nem
acordava – mas às vezes o desejo por sexo era tão urgente que ele acordava
totalmente desesperado por um pau. Ele subia em cima de Warrehn, encontrava
seu pau duro e afundava nele com um gemido de êxtase. Ele cavalgaria até a
conclusão, e depois além, até que finalmente enchesse seu buraco com a semente
de Warrehn.
Eles estavam na estrada há quinze dias quando Samir acordou e percebeu
que não tinham feito sexo à noite.
— O que foi? — Warrehn disse, sua voz ainda rouca de sono. Ele estava
deitado de costas, seu corpo nu grande e musculoso, mas de alguma forma
gracioso também. Ele lembrava Samir de um gato. Um gato grande e selvagem
com uma juba marrom-dourada que parecia incrivelmente macia e bagunçada
agora. Um olho azul piscou quando Samir não disse nada.
Samir se viu corando quando percebeu que estava encarando. Mas quem
o culparia? Ele tinha olhos e Warrehn era um belo espécime de homem quando
não estava falando.
— Nós não fizemos sexo ontem à noite, — disse Samir, limpando a
garganta um pouco.
As sobrancelhas de Warrehn se juntaram.
— Tem certeza? — Ele disse, esfregando seu queixo barbudo. —Talvez
tenhamos dormido com isso. Não seria a primeira vez.
— Tenho certeza, — Samir disse secamente. Era muito difícil não notar a
falta de gozo em seu ânus. — Você não é exatamente pequeno. Eu sempre sinto
isso de manhã.
— Deixe-me verificar, — disse Warrehn, e antes que Samir percebesse o
que ele queria dizer, ele estava entre as pernas de Samir, abrindo suas coxas e
olhando para ele.
Samir corou, tentando fechar as coxas.
— Pare com isso, — ele assobiou. Ele nunca teve ninguém olhando para
ele lá embaixo, não tão de perto.
— Não seja ridículo, deixe-me ver, — disse Warrehn, mas fez uma pausa
e olhou para ele. — Você está envergonhado?
Samir o encarou com toda a dignidade que conseguiu reunir. Foi difícil,
considerando que seu rosto estava em chamas e a cabeça de Warrehn estava
entre suas coxas e a visão estava dificultando o foco.
— Claro que não, — disse ele, tentando parecer mais experiente do que
realmente era.
Warrehn estreitou os olhos.
— Você fez sexo antes disso, certo? Antes de mim?
— Claro que eu fiz, — disse Samir rigidamente.
— Quantas vezes?
— Por que isso importa?
Os dedos de Warrehn agarraram suas coxas com mais força, não com
força suficiente para machucar, mas com força suficiente para fazê-lo prestar
atenção.
— Quantas vezes?
— Quatro — resmungou Samir. Era tecnicamente mais perto de três,
porque ele havia gozado depois de uma punheta na primeira vez, mas quatro
soaram mais impressionantes. Ele não tinha certeza por que ele queria
impressionar Warrehn com suas proezas sexuais, mas ele podia dizer que
Warrehn era muito mais experiente do que ele, e isso o incomodava por algum
motivo.
— Quatro, — Warrehn repetiu, e havia algo em sua voz que soava...
Cético? Confuso?
Samir lançou seus olhos para ele.
— O que? — Ele disse, levantando o queixo. — Quantas vezes você fez
sexo?
Embora Warrehn não sorrisse, algo em seus olhos disse a Samir que ele
queria.
— Mais de quatro, — ele disse suavemente, de alguma forma conseguindo
soar insuportavelmente superior.
Samir o encarou, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Warrehn
abaixou a cabeça e lambeu entre suas coxas. Samir estremeceu como se tivesse
sido eletrocutado.
— Pare, o que você está fazendo- — Ele disse sem fôlego, agarrando o
cabelo de Warrehn. — Não! Ah! Não pare…
Foi assim que ele descobriu que adorava ter seu buraco lambido. Comido
fora, como Warrehn disse. Eles fizeram isso o tempo todo depois daquela manhã,
mas Samir tinha sentimentos contraditórios sobre a coisa toda, não importa o
quanto ele adorasse. O problema era que não servia para nada. Samir não podia
culpar seu desejo de ser devorado pela droga. A droga o fazia querer o pênis de
Warrehn – o sêmen de Warrehn - nele. Isso era... apenas sexo. Sexo alucinante
e viciante que eles não deveriam ter.
Mas Samir não expressou suas dúvidas em voz alta. Ele não tinha certeza
se Warrehn havia notado a diferença, e se não tivesse notado, Samir não queria
ser o único a apontar. Contanto que eles não falassem sobre isso, eles poderiam
continuar como estavam e Samir poderia ter seu traseiro comido todos os dias.
Porra, Warrehn o transformou em uma vadia.
***
Quando a turnê de publicidade terminou, Samir tinha feito sexo vinte
vezes mais do que antes, e ainda assim ele e Warrehn mal haviam falado além
das mesmas velhas discussões sobre o papel de Dalatteya e Samir em toda a
confusão. Não que seus argumentos os impedissem de foder – longe disso.
— Estou tão feliz que você finalmente voltou, querido, — disse sua mãe,
abraçando-o com força quando eles chegaram de volta ao palácio.
Samir retribuiu o abraço, sorrindo. Ele sentiu falta dela. Ela tinha um
cheiro familiar, mas meio estranho. Ele levou um momento para perceber o
porquê: ele se acostumou a sentir o cheiro da loção pós-barba de Warrehn
quando ele era tocado.
— Vamos entrar, — disse Dalatteya, enfiando o braço no dele e levando-
o para longe.
Samir olhou novamente para Warrehn, que falava com seu agente do lado
de fora do veículo. Samir franziu a testa enquanto se virava, sentindo-se um
pouco estranho. Depois de quase um mês perto de Warrehn, Samir estava
acostumado a sentir a presença telepática de Warrehn o tempo todo e era...
estranho se afastar dele.
Ele balançou sua cabeça. Provavelmente era natural. Proximidade forçada
e muito contato físico fariam isso.
— Como você está coração? — Dalatteya disse, apertando seu braço.
Samir sorriu levemente, sabendo o que ela realmente estava perguntando.
— Está melhor, mãe. Não é tão ruim quanto costumava ser.
Era verdade. Ao final da turnê, eles podiam ficar até sete horas sem sexo e
às vezes nem faziam sexo à noite. Eles ainda dormiam na mesma cama porque
- porque era mais fácil não ter que se levantar para o sexo matinal.
O alívio estava claro no rosto de sua mãe.
— Estou feliz. Você acha que vai acabar logo? Doutor Jihan não fez
nenhum progresso no antídoto.
Samir deu de ombros, sem saber o que dizer. Embora a frequência de picos
de necessidade tenha diminuído, ele se viu espaçando um número perturbador
de vezes ultimamente, apenas olhando para Warrehn e querendo suas mãos e
boca nele. Ele não tinha certeza do que pensar sobre isso. Ele não mencionou o
novo sintoma em suas videochamadas com o Doutor Jihan, sentindo-se muito
estranho, especialmente considerando que Warrehn estava ali.
— Provavelmente vai embora por conta própria, — disse ele, olhando
novamente para Warrehn.
O rei finalmente olhou para ele por cima do ombro de Ayda, e seus olhos
se encontraram. Warrehn franziu o cenho, aceitando seu manto preto de um
servo e colocando-o nos ombros, seus olhos ainda em Samir.
O estômago de Samir se apertou.
— Samir?
Afastando o olhar, Samir olhou para sua mãe.
Ela tinha uma ruga entre as sobrancelhas quando olhou para Warrehn e
depois para ele.
— Sim, mãe? — Samir disse, sentindo uma onda de desconforto. Ele sentiu
como se ela o tivesse pego fazendo algo errado.
— Nada, querido, — ela disse depois de um momento, afastando-o.
Reprimindo o desejo de olhar novamente para Warrehn, Samir seguiu sua
mãe até o palácio.
Era bom estar em casa.
Espero que tudo volte ao normal em breve.
Capítulo 13
A campainha do comunicador de Warrehn nem sequer foi registrada no
início, todos os sentidos de Samir focados no pênis batendo nele rápido. Ele
estava gemendo baixinho quando Warrehn grunhiu em cima dele, o pau
enorme dentro dele bombeando dentro e fora de seu buraco com sons obscenos
e escorregadios. Tão bom. Tão perfeito.
O comunicador soou novamente.
— Não se atreva, — disse Samir, agarrando os quadris de Warrehn e
incitando-o a continuar se movendo.
Warrehn gemeu e continuou empurrando, mas ele também pegou seu
comunicador e apertou o botão de aceitar, colocando a chamada no viva-voz.
— Sim? — Ele resmungou junto ao ouvido de Samir, respirando com
dificuldade. Samir podia sentir que ele estava muito perto, e o pensamento
provocou uma onda aguda de excitação através de seu corpo. Ele queria o sêmen
de Warrehn, queria estar cheio dele.
— War, falei com Idhron sobre remover as armadilhas mentais na mente
de Dalatteya para que pudéssemos ler sua mente, — disse alguém. A voz era
familiar - era o amigo de Warrehn, Rohan - mas Samir mal podia registrar o
significado enquanto arqueava seu corpo e empurrava o pau grosso dentro dele.
Porra, muito bom. Depois de mais de um mês disso, ele ainda não conseguia o
suficiente.
Warrehn grunhiu.
— E? — Ele disse, empurrando em Samir com firmeza.
— Idhron disse que eu estava errado: não foi ele quem colocou aquelas
armadilhas mentais, então ele não pode removê-las. Elas existiam em sua mente
muito antes de Idhron começar a fazer lavagem cerebral nela.
Warrehn ficou imóvel.
— O que?
Samir gemeu, envolvendo as pernas ao redor dos quadris de Warrehn e
afundando seus calcanhares. Ele queria mais. Por que Warren parou?
— Mova-se, — Samir exigiu, sem se importar com o significado da
conversa. Ele sabia que deveria se importar – uma parte distante dele lhe disse
para prestar atenção – mas era difícil prestar atenção quando tudo o que ele
queria era ser preenchido e parafusado no colchão. — Vamos, — disse ele,
tentando empurrar de volta para o pau nele. — Preciso de você.
Warrehn estremeceu, seus olhos ficando desfocados com desejo animal
novamente. Ele voltou a se mover, forte e rápido.
Samir gemeu em aprovação.
— Que diabos, você está seriamente transando com ele enquanto fala
comigo? Esquece. Me ligue mais tarde.
Warrehn grunhiu, seus olhos vidrados ainda fixos no corpo nu de Samir,
no pau duro e vazando de Samir quase tocando seu estômago, antes de se mover
para o lugar onde seus corpos estavam conectados. Ele olhou para seu próprio
pênis empurrando dentro e fora do buraco de Samir com um estranho tipo de
fascinação antes de olhar para o rosto bêbado de prazer de Samir.
— Porra, olhe o quanto você ama isso... — Ele balançou a cabeça
atordoado. — Eu odeio essa droga maldita, — ele murmurou, sua voz baixa e
ausente, sua grande mão acariciando a coxa pálida de Samir com reverência.
Fazendo um ruído afirmativo, Samir passou os braços ao redor do pescoço
de Warrehn e o puxou para baixo, querendo sua boca nele. Warrehn obedeceu,
beijando seu pescoço e chupando chupões lá.
Isso era relativamente novo para eles. Samir não tinha certeza por que eles
começaram a fazer mais do que enfiar o pau de Warrehn em seu buraco, mas
era bom, então que diferença fazia?
Warrehn chupou forte em seu pescoço, o corpo inteiro de Samir cantando
com satisfação que ficou mais afiada e melhor com cada impulso poderoso.
Warrehn beliscou seu mamilo, e Samir gemeu e gozou. Seu orgasmo o pegou
completamente desprevenido, apenas uma onda maior de prazer que o fez sentir
como se estivesse flutuando. Ele o montou com suspiros de felicidade,
acariciando as nádegas duras e costas de Warrehn enquanto o outro homem
gozou dentro dele.
— Tão bom, — ele murmurou.
A boca de Warrehn percorreu seu pescoço, sua barba por fazer
arranhando sua pele lisa. Samir sorriu, esfregando o nariz contra a bochecha
espinhosa de Warrehn.
De repente, todo o corpo de Warrehn ficou rígido. Ele saiu de cima de
Samir com uma maldição e pegou seu comunicador.
— Rohan, — ele latiu, ignorando completamente Samir agora. — O que
você disse sobre Dalatteya? Se os adeptos do Alto Hronthar não colocaram essas
armadilhas em sua mente, quem o fez?
Samir franziu a testa e sentou-se também. A névoa induzida pelo prazer
em sua cabeça se foi agora, e de repente ele se lembrou do que Rohan havia dito
durante sua ligação.
Alguém mais tinha mexido com a mente de sua mãe – alguém que não
fazia parte do Alto Hronthar.
— Não temos certeza, — disse Rohan. — Ainda não confio exatamente em
Idhron, mas Eridan o fez jurar que estava dizendo a verdade desta vez.
Pessoalmente, estou inclinado a acreditar nele. Ele não tem motivos para mentir
sobre isso.
Uma profunda ruga apareceu entre as sobrancelhas de Warrehn.
— O que exatamente Idhron disse?
— Idhron praticamente admitiu que fez uma lavagem cerebral em
Dalatteya para pensar que Eridan estava morto e gostar do garoto o suficiente
para não ser uma ameaça para ele quando ele voltasse. Alguns anos atrás, ele
também plantou em sua mente o conhecimento de que você estava em Tai’Lehr,
para que ela pudesse fazer o trabalho sujo para ele e matá-lo e Eridan poderia
ascender ao trono. Foi daí que vieram as tentativas de assassinato contra você.
O estômago de Samir se revirou. Era a primeira vez que ele ouvia isso. Ele
se lembrava nitidamente de sua mãe alegando que não fazia ideia sobre a
sobrevivência de Warrehn. Então isso tinha sido uma mentira.
Ao contrário dele, Warrehn parecia despreocupado - ou talvez porque
não fosse novidade para ele.
— É isso? — Ele disse, passando a mão pelo cabelo espesso, os músculos
de suas costas largas flexionando.
Samir desviou os olhos e olhou para seu colo enquanto esperava pela
resposta de Rohan.
— Idhron também admitiu que ele criou uma armadilha em sua mente
que deveria surgir se alguém tentasse vasculhar sua mente por informações
sobre o Alto Hronthar ou Warrehn. Mas ele diz que há outras armadilhas em
sua mente, protegendo os blocos de suas memórias que ele não conseguiu
acessar. São elas que impedem você de mergulhar mais fundo na mente dela, e
Idhron não pode removê-las, porque não foi ele quem as colocou lá.
Samir mordeu o lábio para evitar falar. Rohan poderia saber com quem
Warrehn estava fazendo sexo, mas outra coisa era falar e reconhecer em voz
alta. Sem falar que, se dissesse alguma coisa, Warrehn poderia se lembrar de
que ainda estava na sala e tirar o comunicador do viva-voz.
— Ele é supostamente o melhor adepto da mente do planeta, — disse
Warrehn categoricamente. — E eu devo acreditar que ele não foi capaz de
acessar essas memórias bloqueadas?
Rohan bufou.
— Meus pensamentos exatamente. Acho que ele está dizendo a verdade
sobre as armadilhas mentais, mas pode não estar nos contando tudo o que sabe.
Suspirando, Warrehn grunhiu: — Eu não confio nele. Só porque ele é bom
para o meu irmão não faz dele uma pessoa decente. Eridan é a única coisa que
ele se importa além do poder.
Huh. Então, esses rumores sobre Eridan podem ser verdade? Sobre ele e o
Grão-Mestre do Alto Hronthar?
Warrehn olhou para ele, como se só então percebesse que não estava
sozinho na sala.
Samir lançou-lhe seu melhor olhar inocente.
Os olhos azuis de Warrehn demoraram-se em sua boca, que
provavelmente parecia vermelha e inchada de todas as vezes que Samir teve que
morder os lábios para não gemer.
— War? — Disse Rohan. — Você está aí?
Com os ombros tensos, Warrehn virou-se novamente.
— Sim, — ele disse concisamente. — Eu vou chegar ao fundo disso.
Obrigado por me avisar. — Ele encerrou a chamada, mas nem um momento
depois, seu comunicador tocou novamente.
Era Eridan desta vez.
— Estou voltando para o palácio, — disse ele. — Esta noite.
Warrehn se endireitou.
— Você mudou de ideia? — Ele disse com a voz rouca.
— Não, — disse Eridan. Ele parecia irritado. — Estou apenas ensinando
uma lição a Castien. Ele não me disse que era responsável por essas tentativas de
assassinato contra você.
— Você está realmente surpreso? — Warrehn disse, rindo.
Eridan soltou uma risada sem humor.
— Quero dizer, não realmente. Conheço meu Mestre e do que ele é capaz.
Estou principalmente irritado que ele não me contou sobre isso até agora. Vou
ficar um pouco no palácio para que ele rasteje um pouco antes de eu levá-lo de
volta. Eu posso ficar, certo?
— Claro, — Warrehn disse, sua voz áspera. — Você é sempre bem-vindo,
Eri. Esta é a sua casa.
Quando ele terminou a ligação, ele se virou para Samir e olhou para ele
com olhos azuis inescrutáveis.
— Vá para o seu próprio quarto. Eu não quero que Eridan descubra— ele
gesticulou entre eles — isso. Fique longe enquanto ele estiver visitando. Não me
deixe ver nem um vislumbre de você. Eu mesmo vou te encontrar quando ficar
ruim.
Sentindo-se irritado por motivos que escolheu não examinar muito de
perto, Samir disse: — Tudo bem. — Ele pegou suas roupas e se vestiu
rapidamente. Ele pensou que podia sentir os olhos de Warrehn sobre ele, mas
quando olhou para trás, Warrehn não estava olhando para ele.
Apertando os lábios com força, Samir saiu do quarto.
Ele nem sabia por que estava tão chateado. Ele só... Ele supôs que tinha
acabado de se acostumar com eles dormindo em uma cama e o irritou que
Warrehn o tivesse dispensado como uma coisa usada. Algo sem importância.
Algo de que ele se envergonhava.
Capítulo 14
No dia seguinte, Samir contou à mãe sobre as armadilhas em sua mente.
O rosto de Dalatteya empalideceu por um momento antes que ela
recuperasse sua compostura habitual.
— Não se preocupe com isso, querido, — ela disse, seu olhar distante e
pensativo. — Eu vou lidar com isso.
— Como? Você não pode exatamente ir para High Hronthar com esse
problema.
Sua mãe balançou a cabeça.
— Não para o Alto Hronthar, não. Mas existem outras espécies telepáticas
fora do mundo que oferecem seus serviços por um preço. Ouvi falar de um
forasteiro que posso contratar para examinar minha mente.
Ela ainda estava dizendo alguma coisa, mas a atenção de Samir já estava
se desviando para outro lugar.
Fazia quase oito horas desde que tinha visto Warrehn pela última vez. Eles
tiveram uma foda apressada depois do café da manhã que não satisfez
totalmente Samir, se ele fosse honesto. Ele teve orgasmo, obviamente, por todas
as suas falhas, Warrehn nunca o deixou fisicamente insatisfeito, mas Samir não
podia negar que o sexo não parecia suficiente. Ele simplesmente se acostumou
tanto ao contato físico prolongado durante a turnê que dormir sem Warrehn e
não ter acesso a ele sempre que quisesse o deixou com fome de mais. Uma foda
rápida com a maioria de suas roupas não era mais suficiente.
Ele não tinha visto Warrehn desde então. Warrehn havia mencionado que
estaria ocupado com Eridan naquele dia, e estava bem claro que ele queria
manter seu precioso irmãozinho longe do puro mal que era Dalatteya e Samir.
Era quase divertido - ou teria sido divertido se Samir não se sentisse tão
frustrado. Embora a concentração da droga em seu sistema estivesse caindo
gradualmente, ele ainda precisava coçar a coceira com bastante frequência. Oito
horas estava empurrando-o.
Olhando para seu comunicador, ele enviou uma mensagem para
Warrehn. Está ocupado?
Ele contou até setenta e dois antes de receber uma resposta.
Trabalhando.
Samir fez uma careta para a tela de seu comunicador. Você não pode fazer
uma pausa?
Ele se arrependeu da mensagem assim que a enviou. Parecia meio...
desesperado e carente. O que ele obviamente não estava. Ele estava apenas
frustrado. E ele queria descer. Ele poderia se masturbar, ele supôs, mas realmente
não estava com vontade. Ele queria uma mão em seu pênis, mas só se essa mão
fosse de Warrehn. Sua grande mão parecia tão incrível quando Warrehn o
masturbou enquanto o fodia.
Um pequeno ruído saiu de sua boca, e Samir corou, esperando que sua
mãe não tivesse ouvido.
Infelizmente, sua mãe não perdeu nada. Uma carranca estava estragando
suas belas feições.
— Você nem está me ouvindo, Samir.
Seu comunicador tocou, e Samir mal resistiu à vontade de olhar para ele.
— Claro que estou ouvindo, mãe, — disse ele. — Acabei de me distrair.
Seus lábios franziram, mas felizmente, ela não o questionou mais e se
levantou graciosamente.
— Vou marcar uma reunião com o especialista em mente estrangeiro, —
disse ela. — Com alguma sorte, eles serão capazes de remover os bloqueios e
armadilhas de memória em minha mente e eu descobrirei quem fez isso.
Roçando sua presença telepática contra a de Samir em despedida, sua mãe
deslizou para fora da sala.
Aliviado por estar sozinho, Samir baixou o olhar para seu comunicador e
observou a resposta de Warrehn.
Eu gostaria de uma pausa, mas não posso abandonar o Conselheiro Hirosh.
Ele está chateado o suficiente como está.
Samir prendeu o lábio inferior entre os dentes, hesitando. Ele não deveria
ter sentido simpatia por Warrehn por ter que aturar o velho insuportável. Sua
mãe ficaria feliz em saber que Warrehn não estava conseguindo encontrar um
terreno comum com seus nobres, todos os quais tinham seus próprios problemas
e demandas mesquinhas.
Mas ele queria ver Warrehn – por causa da droga. Uma rapidinha
insatisfatória por dia não era suficiente.
Descartando suas dúvidas, Samir digitou, "o conselheiro Hirosh tem uma
rixa com o conselheiro Zhang. Apenas diga algo pouco elogioso sobre Zhang, e
ele o considerará seu aliado e parará de importuná-lo sem motivo."
Não houve resposta por um longo tempo.
Finalmente, seu comunicador tocou novamente. Obrigado.
Samir se viu sorrindo. Ele praticamente podia ver a carranca escura no
rosto de Warrehn, o quanto lhe doía agradecer-lhe por qualquer coisa.
Machucou? Ele enviou.
Warrehn não respondeu.
Samir franziu a testa, batendo no joelho com impaciência. Que burro.
Responder às mensagens era apenas educado.
Finalmente, seu comunicador soou novamente.
Hiroh saiu. Mas eu não posso te ver agora - Eri está aqui.
Samir soltou um gemido irritado. Eridan teve o pior momento.
Seu irmão não tem mais três anos, ele digitou. Ele não precisa que você
segure a mão dele o tempo todo.
Ele está de mau humor por causa de Idhron, respondeu Warrehn. Ele
precisa de mim.
Eu preciso de você mais. Samir digitou, mas felizmente teve presença de
espírito suficiente para apagá-lo antes que pudesse enviá-lo. Claro que ele não
precisava de Warrehn . Ele precisava de seu pênis. O fato de Warrehn estar
ligado a ela não tinha importância. Basicamente não havia diferença entre
Warrehn e um brinquedo sexual: ambos eram apenas ferramentas para
satisfazê-lo fisicamente, nada mais.
Então, em vez disso, Samir digitou, Eu posso ir, e você pode deixar seu
irmão por um tempo?
Ainda parecia muito desesperado para seu gosto, mas ele não podia deixar
de oferecê-lo. Ele sentia falta de sentir Warrehn com sua pele. Era uma sensação
tão enlouquecedora, mas ele ansiava por isso, pela sensação do corpo firme e
duro de Warrehn contra ele, em cima dele, dentro dele, por suas mãos e boca
sobre ele. Ele se desprezava por precisar disso tão visceralmente, mas isso não
mudava nada: seu sangue fervia com essa necessidade.
Parecia que uma pequena eternidade se passou antes que seu
comunicador soasse novamente.
Meu irmão não sabe sobre nossa situação, e eu não quero que ele saiba.
Samir jogou seu comunicador no sofá.
Foda-se Warrehn. Se ele escolhesse passar seu tempo com seu irmãozinho
e não queria que Eridan descobrisse que eles estavam transando, Samir não iria
implorar.
Ele tinha seu orgulho, droga.
***
Infelizmente, à noite, a determinação de Samir enfraqueceu. Ele tinha
esquecido o quão ruim era sentir-se tão insatisfeito, desesperado pelo gozo de
Warrehn dentro dele e incapaz de se concentrar em qualquer outra coisa.
Ele não confiava em si mesmo para não pular na frente de sua mãe e
Eridan, então ele não se juntou a eles para o jantar. Ele se escondeu em seus
quartos, colocou sua música relaxante favorita e tentou pensar em pensamentos
nada sensuais.
Alerta de spoiler: não funcionou.
Ele ainda estava além do tesão, seus pensamentos tendo dificuldade em se
concentrar em qualquer coisa além de sexo e Warrehn.
Samir nunca se odiou tanto - e nunca esteve tão zangado com Warrehn.
E daí se seu precioso irmãozinho descobrisse sobre a situação deles? Warrehn
tinha vergonha de fazer sexo com ele? A resposta foi claramente sim.
E isso o irritou.
Aparentemente, ficar puto e com muito tesão não era uma boa
combinação. Foi assim que Samir acabou dizendo a sua assistente pessoal que
lhe arranjasse um acompanhante discreto para a noite. Warren não iria fodê-
lo? Certo. Ele poderia conseguir outro homem para fazê-lo. E não importa que
o pensamento de sexo com outro homem absolutamente o repelisse. Seria
preocupante se Samir não tivesse certeza de que era a droga alienígena. Ele
poderia apagar as luzes. Ele poderia enganar seu cérebro para acreditar que era
Warrehn. Quão difícil foi enganar uma droga alienígena?
— Algum pedido em particular? — Sua assistente, Tanita, disse
timidamente. Ela emanava surpresa, e não era de se admirar: Samir nunca usava
acompanhantes Calluvianos, pois os NDAs eram uma dor de cabeça. A
tecnologia NDA não funcionaa em telepatas.
Samir meio que queria pedir um homem bem dotado, já que seus
pensamentos continuavam se fixando no pau grosso e cheio de veias de
Warrehn, mas ele ainda tinha alguma dignidade.
— Nenhum, — disse ele, virando-se. — A discrição é obviamente de suma
importância. Estarei esperando em meus quartos.
Ele esperava que teria que esperar no máximo meia hora – havia
vantagens em ser um membro da realeza – mas uma hora veio e se foi.
Franzindo o cenho, Samir estava prestes a ligar para Tanita quando ela
mesma ligou para ele.
— Sinto muito, Alteza, — ela disse. — Mas a escolta que contratei não teve
permissão para entrar no palácio.
— Desculpe?
— Parece que foi por ordem de Sua Majestade.
Terminando a ligação, Samir marchou para fora do quarto. Sua expressão
deve ter sido estrondosa, porque os poucos servos que encontrou lançaram-lhe
olhares assustados e se apressaram em seu caminho.
Encontrou Warrehn na galeria de retratos. Ele e seu irmão estavam em
frente ao retrato da antiga família real: o rei Emyr com sua esposa de cabelos
dourados e dois filhos. Eridan parecia estranhamente com sua mãe, tão parecido
com ela quanto Samir era com a sua. Warrehn não se parecia muito com seus
pais, embora tivesse claramente herdado sua altura e constituição física de seu
pai. O cabelo do rei Emyr era mais escuro que o de Warrehn, seus olhos azuis
mais estreitos e não tão expressivos. Ele tinha sido tão bonito quanto Warrehn,
de uma maneira diferente, mas emanava uma frieza que era óbvia mesmo na
foto. Se Warrehn era fogo e raiva, o homem no retrato era gelo e arrogância.
Não que Warrehn não fosse capaz de ser um idiota arrogante. Ele era
muito capaz disso.
— Importa-se para se explicar? — Samir disse, parando na frente de
Warrehn e olhando para ele. — Desde quando meus convidados são mandados
embora sem me perguntar?
— Seus convidados, — Warrehn disse categoricamente, cruzando os
braços sobre o peito, — têm que passar pelas mesmas verificações de segurança
que todo mundo faz. E aquele convidado não passou por eles. Ele foi incapaz de
apresentar uma razão respeitável para sua visita.
— Bolas! — Samir disse, fechando as mãos em punhos. — Você não pode
controlar quem estou vendo – ou o que estou fazendo com eles.
— Preciso lembrá-lo de que este é meu palácio, — disse Warrehn. —Só
eu posso decidir quem entra – ou não.
— Seu burro arrogante e controlador! Certo! Vou para um hotel, então.
— Você não vai a lugar nenhum, — Warrehn disse, agarrando seu braço.
— Solte-me — disse Samir, tremendo com uma horrível mistura de raiva
e necessidade. Parecia que o toque o queimava. — Você não me possui. O que
eu faço não é da sua conta!
— Eu sou o chefe da Quinta Casa Real, — Warrehn disse. — Eu pago por
suas contas, por suas roupas e por seu entretenimento. Então você é muito minha
preocupação. Sem mencionar que no momento em que você fizer o check-in no
hotel, estará em todos os sites de fofocas.
— Desde quando você se importa com fofoca? — Samir disse, levantando
o queixo. Isso trouxe sua boca irritantemente perto da de Warrehn, o que não
ajudou sua capacidade de pensar – ou ficar com raiva. Deuses, ele queria mordê
-lo, moldar seus lábios e beijar, e beijar, e beijar. Ele queria tanto que estava
tendo problemas para se concentrar.
Os olhos de Warrehn desceram para a boca, como se estivesse lendo seus
pensamentos. Samir lambeu os lábios e os olhos de Warrehn ficaram
gratificamente desfocados. Me beija. Me beija. Coloque sua língua em mim.
Samir estava vagamente ciente de que ele estava projetando ativamente esses
pensamentos, mas ele não conseguia se importar. Ele queria ser beijado. Queria
sentir esse homem com a pele, com a boca, com as mãos.
— Pare com isso, — Warrehn disse com uma expressão apertada e tensa.
— Eu não estou fazendo nada, — Samir disse sem fôlego, balançando em
direção a ele.
Warrehn o pegou, puxando-o contra seu corpo, e finalmente esmagou
suas bocas.
Era felicidade, o puro alívio disso. Samir gemeu, seus braços serpenteando
ao redor do pescoço de Warrehn e seus lábios se abrindo para sua língua. Por
favor.
Uma tosse mal penetrou através da névoa de desejo e necessidade em sua
mente. Havia outra pessoa lá. Ele provavelmente deveria se importar. Ele não. E
felizmente, nem Warrehn. Ele o estava beijando com uma força e fome que
rivalizavam com as suas, suas grandes mãos perambulando por todo o seu
corpo, seu pênis empurrando contra o estômago de Samir.
Seu pau. Um novo tremor de desejo arrasou seu corpo quando pensou no
grosso e longo pênis de Warrehn. Porra, ele queria, ele queria tocá-lo, colocá-
lo em sua boca e chupar.
Warrehn fez um grunhido de aprovação. Como em um sonho, Samir caiu
de joelhos e avidamente acariciou a protuberância sob as calças de Warrehn.
— Certo, — alguém disse sem jeito. — Eu vou, então. Falo com você mais
tarde, Warrehn. — Ouviu-se o som de passos recuando.
Barulho. Era tudo apenas ruído de fundo. Tudo o que Samir se importava
era colocar aquele pau na boca e adorá-lo. Sua boca estava cheia de água, seus
dedos tremendo de impaciência.
Para seu alívio, Warrehn abriu o zíper de sua braguilha e puxou seu pênis
para fora, empurrando-o contra os lábios de Samir. Gemendo, Samir lambeu a
cabeça vazando antes de engolir tanto do pênis quanto pôde. Não cabia em sua
boca, mas Samir não se importou, chupando com prazer, suas pálpebras se
fechando. Warrehn agarrou um punhado de seu cabelo e puxou, enviando
tremores de dor e prazer por seu corpo.
— Fodida escória, — disse ele, fodendo a boca de Samir com firmeza. —
Você estava engasgando tanto com pau que não pôde esperar um pouco e
contratou uma prostituta para te dar um pau? — Impulso. — Prostituta.
As palavras depreciativas não deveriam tê-lo feito se sentir mais excitado.
Mas eles fizeram. Porra, eles fizeram. Ser humilhado e tratado como uma merda
sempre o excitava, e Samir gemia ao redor do pênis de Warrehn, deleitando-se
com a sensação de ser usado. Ele meio que queria que Warrehn o maltratasse,
batesse nele, por ser uma escória.
Ele sentiu uma estranha surpresa misturada com excitação, e percebeu
que devia ter projetado seus pensamentos - ou Warrehn era um telepata muito
forte para não captá-los.
— Você é uma escória, — Warrehn disse, agarrando seu rosto com ambas
as mãos e fodendo em sua boca rudemente, tão profundamente que ele estava
fodendo sua garganta. — Olhe para você, de joelhos em uma sala pública
qualquer um pode entrar, ficando cheio do meu pau e gemendo como uma
vadia. Você quer que eu bata em você? Eu posso bater em você. — Ele deu um
tapa no rosto de Samir – não forte o suficiente para realmente machucar, mas a
picada foi perfeita. Samir choramingou ao redor do pênis em sua boca,
esfregando seu próprio pênis desesperadamente. Warrehn disse suavemente: —
Que vadia. Se ao menos as pessoas pudessem ver você agora, seu perfeito
Príncipe Samir tendo sua garganta fodida como uma prostituta de dez créditos.
Isso foi o suficiente para enviar Samir ao limite. Ele gozou em suas calças,
e um momento depois, sua garganta foi inundada com o gozo de Warrehn. Ele
queria... ele precisava provar. Ele se desvencilhou do pênis em espasmo de
Warrehn e colocou os lábios sobre a cabeça, chupando avidamente, deleitando-
se com o sabor e a textura da semente cremosa que enchia sua boca.
O aperto de Warrehn em seu cabelo se transformou em uma carícia, seus
dedos acariciando seu couro cabeludo distraidamente. Samir estava tão perto de
choramingar. Tudo parecia perfeitamente certo. Perfeito. Assim como ele deve
ser.
Os dedos em seu cabelo ficaram imóveis.
— Foda-se, — Warrehn amaldiçoou, e, fechando o zíper, afastou-se.
Certo.
Eridan.
Ele os tinha visto.
***
— Você não me deve uma explicação, — Eridan disse, sua expressão uma
mistura de estranho, divertido e confuso.
— Eu sei que não, — disse Warrehn. — Mas o que você viu não é... não é
real. Eu não gosto do cara e o sentimento é mútuo, eu te garanto.
Eridan ergueu as sobrancelhas douradas, transmitindo seu ceticismo sem
palavras. Ele se parecia tanto com a mãe deles quando fazia isso que Warrehn
se sentia mais desconfortável – e mais culpado. Ele estava fodendo o filho do
assassino de sua mãe. Foi tão ruim. Ele não culparia seu irmão por estar enojado.
Às vezes, ele também ficava desgostoso consigo mesmo, não importa o quanto
pudesse racionalizar isso. Ele estava fodendo o filho da mulher que matou sua
mãe.
— Vocês não pareciam exatamente como se não gostassem um do outro,
— Eridan disse secamente.
Warrehn suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Não é real, — disse ele, e então explicou o que havia acontecido.
Quando terminou, Eridan estava franzindo a testa profundamente. Ele não
falou por um tempo.
— Eu não acho que seja obra de Dalatteya, — ele disse finalmente. —Ela
ama muito seu filho – eu posso sentir seu amor feroz por ele toda vez que eles
estão na mesma sala.
Warrehn não podia negar. Ele pode não ter sido um empata tão forte
quanto seu irmão, mas mesmo ele poderia dizer que Dalatteya realmente se
importava com Samir. Realmente não fazia nenhum sentido por que ela
colocaria seu amado filho em tal situação.
— Vou investigar isso, — Eridan disse distraidamente antes de seu olhar
focar em Warrehn novamente. — Então, a possessividade tóxica que acabei de
testemunhar foi causada pela droga também?
— Não sei do que você está falando, — disse Warrehn, desviando o olhar.
Seu irmão bufou.
— Por favor, War. Você literalmente proibiu seu convidado de entrar no
palácio e então basicamente virou um homem das cavernas sobre ele: meu
palácio, minhas regras, meu território!
— Eu não fiz tal coisa, — ele disse rigidamente, esfregando a parte de trás
de seu pescoço. — Mas mesmo que eu fizesse, é a droga que está fazendo.
— Certo, — disse Eridan. Havia muito ceticismo em sua voz, mas
felizmente ele abandonou o assunto.
Eles conversaram por um tempo, falando sobre o que o pequeno Eridan
lembrava de sua família. Não era muito, e logo eles caíram em silêncio
novamente - um silêncio que era um pouco estranho demais para o gosto de
Warrehn. Frustrava-o infinitamente que seu irmão ainda fosse um estranho
para ele de várias maneiras. Vinte anos de diferença fariam isso, e não importa
o quanto ambos tentassem, o constrangimento persistia. Não ajudava que parte
de Warrehn ainda se ressentisse da decisão de Eridan de retornar ao Alto
Hronthar: ele havia aceitado, mas isso não significava que ele tinha que gostar.
Mas foi sua própria culpa. Ele não era bom em ser um irmão mais velho.
Não só ele falhou em fazer seu irmão mais novo se sentir em casa em seu palácio,
mas Eridan agora era uma testemunha de sua incapacidade de ficar longe do
filho do assassino de seus pais.
Warrehn fez uma careta. Sua tentativa de ficar longe de Samir e passar
um tempo com Eridan só piorou tudo: ele ficou tão nervoso que acabou beijando
Samir na frente de Eridan, como um menino virgem que não conseguia se
conter.
A lembrança dos lábios macios e ansiosos de Samir enviou uma nova onda
de desejo através dele, e Warrehn suspirou por dentro.
— Eu tenho que ir.
Eridan deu-lhe um olhar longo e avaliador, mas felizmente não disse
nada.
Warrehn se afastou.
Talvez fosse o melhor. Agora que Eridan sabia, não precisava esconder
seus encontros com Samir. Por que ele não deveria se dar ao luxo de uma vez?
De uma vez? Você já fez o suficiente de ceder. Foder a boca de Samir era
a definição de auto-indulgência. Se Warrehn podia culpar sua possessividade
pela droga alienígena e os instintos de acasalamento que ela causava, ele não
tinha uma desculpa para foder a boca de Samir – ou beijá -lo. Conseguir um
boquete não era exatamente propício ao acasalamento e à procriação. Por outro
lado, transar com um homem geralmente também não era, mas foder Samir de
verdade e gozar em sua bunda o fez sentir um alívio e satisfação tão visceral que
Warrehn só podia atribuir isso aos instintos de acasalamento alienígenas.
Talvez fosse por isso que ele não se sentia totalmente satisfeito mesmo
depois do boquete. Seu corpo ainda doía com o desejo de estar profundamente
dentro de Samir, com o desejo de tomá-lo. Era francamente perturbador o
quanto ele continuava se fixando no conceito de levá -lo. Ele queria tomar. E
pegue. E pegue.
Havia algo inebriante no modo como Samir se entregou a ele, no modo
como ele era tão flexível e ansioso por seu toque, por seu pênis, por sua boca.
Warrehn pode odiar o que foi feito com eles, mas ultimamente, quando ele
estava levando Samir, tudo parecia certo – um sentimento que ele raramente
tinha desde que voltou para Calluvia – e ele ansiava por esse sentimento, não
importa o quão confuso fosse. Nada estava certo sobre essa situação, onde o
consentimento era duvidoso na melhor das hipóteses. Warrehn sabia disso. Mas
ele não podia mudar a maneira como parecia ter se tornado viciado no
sentimento. Quando ele estava tocando Samir, o mundo fazia sentido.
Uma ou duas vezes, ele teve um pensamento perturbador de que não era
mais a droga alienígena que o empurrava de volta para os braços e corpo
disposto de Samir, mas seu próprio vício. Sua própria fraqueza.
Não. Ele se recusou a acreditar nisso.
E, no entanto, aqui estava ele, de pé na frente da porta de Samir, mais uma
vez.
Ele olhou para ele, sua garganta trabalhando, enquanto tentava se
convencer a ir embora.
Mas antes que ele pudesse fazer isso, a porta se abriu, e lá estava a ruína
de sua existência, seminu, lábios macios mordidos e olhos azuis escuros fixos em
Warrehn avidamente, queimando com a necessidade.
Warrehn entrou no quarto.
A porta se fechou atrás dele.
Capítulo 15
Dalatteya não gostava de mentir para o filho.
Mas, infelizmente, ela não teve escolha. Se Samir descobrisse a verdade,
ele a acharia louca.
A verdade era que ela havia mentido para Samir que pretendia ir a um
telepata de fora do mundo para examinar sua mente. Ela não tinha intenção de
confiar sua mente a um estranho, um estrangeiro cujas intenções ela não podia
ter certeza.
Não que ela confiasse no homem que estava prestes a ver; de jeito nenhum.
Mas ela podia controlá -lo. E isso fez toda a diferença.
Dalatteya respirou fundo quando parou em frente aos portões antes de
deixar o scanner fazer seu trabalho. Apenas ela e Uriel tinham acesso a esta casa,
além dos dróides que trabalhavam lá.
Como sempre, o scanner demorou um pouco para terminar de escanear
sua retina, seu DNA e suas impressões digitais. Finalmente, o campo de força nos
portões desapareceu, permitindo que ela entrasse, e imediatamente selou toda a
propriedade. Alguns podem considerar tais medidas paranóicas e excessivas,
mas não poderia haver excesso de paranóia quando se tratava dele. Ele era
inteligente. Ele era astuto. Ele era engenhoso. Ele pode escapar. Ela não podia –
não iria – permitir que ele escapasse.
Dalatteya entrou na casa e caminhou em direção à biblioteca onde
costumava estar a essa hora.
Fazia quase um mês desde sua última visita. Ambos muito longos e nem
de longe o suficiente. Ela odiava a forma como seu coração estava acelerado,
como o de uma jovem entrando no covil do monstro. Ela detestava. Totalmente
desprezado. Ela sabia com sua mente que ela era a única no controle aqui, e
ainda assim...
— Você vai ficar aí a noite toda? — A voz suave e familiar fez suas
entranhas estremecerem.
Ela entrou na biblioteca, sua cabeça erguida orgulhosamente. Ela não ia
mostrar medo. Ela não estava com medo. Ela estava no controle.
Ele estava sentado na grande cadeira ao lado da lareira, lendo um livro de
papel antiquado. Ele não desviou o olhar quando ela entrou na sala, e ela odiou
que ele não o fizesse. E ela odiava que ela odiasse. Ela odiava muito quando
estava perto dele. Afinal, fora ele quem lhe ensinara tudo sobre ódio.
— Eu estava me perguntando quando meu carcereiro finalmente me
agraciaria com sua presença, — ele disse, seu olhar no livro. — É uma visita
exultante ou você está apenas com tesão, minha querida?
Dalatteya olhou para ele, seus olhos queimando um buraco em seu rosto.
Estava salpicado de barba por fazer escura, afinando até as maçãs do rosto
angulares. Não havia sequer uma pitada de cinza em seu cabelo ainda. Ele
parecia tão em forma e forte como um jovem.
— Estou aqui porque não tive outra escolha, — ela disse friamente, suas
mãos se fechando em punhos atrás das costas. — Foi trazido à minha atenção
que existem bloqueios de memória e armadilhas mentais em minha mente. Esse
é o seu trabalho?
Ele finalmente ergueu o olhar para ela, seus olhos azuis ilegíveis.
— Você me lisonjeia, — disse ele. — Como eu conseguiria uma coisa
dessas quando você tem minha telepatia amarrada e inútil? — Seus olhos
piscaram para os supressores psi ao redor de seus pulsos, seus lábios torcendo-
se ironicamente. — Não consigo nem meditar com essas coisas, muito menos
fazer algo tão intrincado como armadilhas mentais.
Dalatteya procurou seu rosto, mas não conseguiu encontrar nenhum sinal
de engano. Não que ela necessariamente encontrasse alguma coisa; ele era um
mentiroso melhor do que ela jamais poderia esperar ser. Enquanto o que ele
estava dizendo deveria ser verdade, ela não podia ter certeza. Ele era um telepata
muito forte, o mais forte que ela já conhecera. Ela não podia ter certeza de que
ele não tinha encontrado uma maneira de contornar os supressores psi.
— Então por que você não disse nada? — Ela disse, caminhando. —Não
me diga que você não os notou. Não minta para mim, eu não vou acreditar em
você.
Um pequeno sorriso curvou seus lábios.
— Não tenho intenção de mentir para você. Eu notei que sua mente foi
adulterada. Mas por que uma pessoa contaria alguma coisa ao carcereiro?
Ela zombou.
— Não se faça de vítima. Não combina com você. Se você está preso, é
porque você é um monstro que não merece nada menos. Além disso, você não
pode argumentar que está privado da liberdade de uma pessoa. Você não é
exatamente uma pessoa, é? O verdadeiro Emyr foi cremado há vinte anos. Você
é uma coisa. Uma coisa que eu criei. Apenas um clone que mantenho por perto
porque você tem seus usos.
O olhar que ele deu a ela era quase de pena quando ele se recostou na
cadeira e a contemplou por um longo momento.
— Você tem quase sessenta anos, minha querida. Entreter delírios tolos
não combina com uma mulher madura como você.
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer, — ela retrucou. — E não
estou interessada em ouvir.
Emyr - ou melhor, o homem que usava o rosto de Emyr - sorriu. Dalatteya
queria esbofeteá-lo, apagar aquele sorriso irritante daqueles lábios bem
formados.
Apenas uma cópia, ela repetiu para si mesma, tentando se acalmar. Emir
estava morto. Morto. Este era apenas um clone que ela havia encomendado em
segredo, porque ela precisava descobrir toda a sujeira que Emyr tinha sobre seus
senhores vassalos, para que ela pudesse impedi-los de tentar derrubar ela e seu
filho. Essa era a única razão pela qual este homem existia.
— É honestamente adorável que você ainda se apega à noção de que você
me reviveu por causa da política, — disse Emyr falso, seu tom suave.
— Eu não revivi você, — ela grunhiu. — Emyr está morto. Você é apenas
um clone, não uma pessoa. Os clones não têm nenhum direito na União dos
Planetas. Você respira porque eu estou permitindo. Descartarei você no
momento em que deixar de ser útil.
Emir riu.
— Você realmente acredita no que está dizendo? Acho que pode ser a
coisa mais engraçada que já ouvi em anos. — Ele se endireitou e colocou as mãos
na cintura de Dalatteya. — Você sabe que isso é mentira, meu amor.
Seu estômago estremeceu. Deuses, ela odiava seu toque, odiava o quanto
ela desejava e odiava.
— Pare de me chamar assim, — ela retrucou. — E sim, você está certo:
havia outra razão pela qual eu clonei Emyr: a morte era uma punição muito
pequena por tudo que ele fez. Você... ele matou meu marido.
— Deixe-me fazer uma pergunta, — disse Emyr, envolvendo a cintura
fina de Dalatteya com seus dedos longos. Ele pressionou os polegares contra sua
barriga e a acariciou levemente. Ela teve que engolir um gemido que ameaçava
deixar seus lábios. Emyr estava observando a reação dela como um falcão
enquanto ele continuava. — Em vez de desperdiçar recursos de clonagem
altamente ilegais em um monstro maligno como eu, você poderia tê-los usado
para reviver seu precioso marido. Por que você não fez isso?
Dalatteya abriu a boca e fechou sem dizer nada, incapaz de falar. O
pensamento nem lhe ocorreu.
Emir sorriu.
— Está tudo bem. Eu também te amo querida.
— Eu não te amo, — Dalatteya resmungou, enfurecida. — Se você fosse
Emyr, você saberia disso. Eu o abominava... e abomino você.
— Você deveria se decidir, — disse Emyr, ainda irradiando diversão. —
Ou não sou Emyr’ngh’zaver e não posso ser responsável por nada que ele fez
para merecer seu ódio, ou sou. Então o que é, Dalatteya?
Ela o encarou, odiando a maneira como ele a fazia se sentir: tola, ilógica e
desequilibrada. Como uma jovem estúpida.
Seu sorriso se tornou sardônico, ele a puxou para seu colo, seus seios
arfantes pressionados contra seu peito firme. Seu coração queimava de ódio, e
ainda assim seus mamilos endureceram em seixos, ansiando por seu toque, por
sua boca. Sua boceta pulsava com necessidade.
Deuses, ela o odiava, e ela odiava a si mesma.
Sua carne pode ser fraca, mas ela se recusou a dar a ele a vantagem. Ela
estava no comando. Ela estava no controle, maldito seja.
Libertando-se de seu aperto, Dalatteya levantou-se e ordenou: —Fique de
joelhos.
Seus lábios se curvando ligeiramente, ele fez o que lhe foi dito.
Ela odiava que ele parecesse no controle mesmo de joelhos. Sua telepatia
estava ligada e fisicamente ele também não era uma ameaça para ela – uma
palavra e as restrições de gravidade em seus pulsos seriam ativadas. Ele deveria
ter parecido impotente. Vencido. Humilhado.
Ele parecia tudo menos isso.
Agarrando um punhado de seu cabelo escuro, Dalatteya empurrou seu
rosto contra sua boceta, gemendo quando sua boca imediatamente encontrou
seu clitóris duro através do tecido fino de seu vestido. Ele lambeu e chupou seu
clitóris enquanto suas mãos lentamente levantavam a bainha de seu vestido. O
ar frio roçou suas pernas, mas ela estava tão quente que mal notou o frio.
Quando sua boca finalmente tocou seus lábios nus, ela estremeceu,
empurrando seu rosto contra sua boceta cada vez mais apertado, sufocando-o
em seus sucos. Ela lamentou quando ele enfiou a língua dentro dela, fodendo-a
com a língua. Tão bom. Nenhum outro homem jamais a fez se sentir tão bem.
Ela gemeu quando ele parou de repente.
— Diga meu nome, — ele disse, seu hálito quente roçando seu clitóris
dolorido.
— Continue com isso.
Sorrindo, ele soprou em seu clitóris.
— Não antes de você dizer meu nome.
— Sou eu que estou dando ordens aqui, — ela grunhiu, puxando seu rosto
para sua boceta novamente. — Lamba.
Ele lambeu. Ele lambeu, chupou e a beijou até que ela estava soluçando de
prazer. Ela atingiu seu pico rápido – muito rápido – gemendo algo que esperava
ser muito ininteligível.
Ela ainda estava ofegante quando ele quebrou o silêncio.
— Você disse meu nome, — disse ele, não sem presunção.
— Cale a boca, — ela sussurrou, seus dedos ainda enterrados em seu
cabelo. — Eu detesto você.
Emyr levantou a cabeça de sua boceta e lambeu os lábios de forma lasciva.
— Alguém pensaria que você pararia de mentir para si mesma agora,
querida. Você não me manteve vivo por vinte anos para usar meu conhecimento
de política. Você me manteve vivo porque não pode viver sem mim.
Ela olhou para ele, respirando com dificuldade, e o empurrou com
desgosto.
— Você está delirando! Você não passa de um clone que mantenho por
perto para minha diversão.
Emir riu.
— O que é divertido é a maneira como você continua mentindo para si
mesma. Um clone? Eu não sou um clone. Tenho todas as minhas memórias
intactas, graças a você. Eu simplesmente habito um corpo clonado de mim
mesmo. O fato de você ter se dado ao trabalho de clonar meu cadáver e transferir
meu cérebro para ele - o que é altamente ilegal em todos os planetas da União
e lhe renderia uma sentença de prisão perpétua se as pessoas descobrissem -
prova que você me queria de volta. Você queria olhar nos meus olhos, ver minha
cara, e me fazer lembrar de você. Todo esse esforço e risco, apenas por um pouco
de vingança e ajuda na política? Pare de mentir para si mesma, animal de
estimação. Você é mais esperta do que isso. — Emyr a olhou nos olhos. — Mas,
novamente, você sempre foi excelente em mentir para si mesmo. Você até
conseguiu se convencer de que eu te forcei. Ninguém te forçou a ir para minha
cama, e ninguém te forçou a gostar de estar nela. Mas é muito mais fácil me
pintar como um monstro quando você tem que explicar ao seu filho por que
você traiu o pai dele, certo?
— Eu disse não todas as vezes, — Dalatteya gritou, olhando para ele.
— Ah, sim, — disse Emyr com um sorriso sardônico. — Poderia ter sido
convincente se eu não fosse um telepata de alto nível e não pudesse ler seus
pensamentos e sentimentos. E eles disseram sim e por favor todas as vezes.
— Cale-se! — Dalatteya se virou e quase correu para fora da casa,
tremendo de raiva, culpa e vergonha. Ninguém poderia ficar sob sua pele como
ele fez. Deuses, ela o odiava. Como ele conseguia ainda parecer o dono do
mundo, como ele a possuía, apesar de estar preso e impotente? Deveria ser
impossível.
O que ele deveria ter sido está morto, disse uma voz no fundo de sua mente
enquanto ela caminhava pelo jardim. Ele não está errado. Você trouxe Emyr de
volta. Você trouxe de volta o homem que envenenou seu casamento e a tornou
infiel, o homem que assassinou seu amigo mais querido. Você trouxe de volta
um monstro, porque... porque você não pode imaginar sua vida sem ele.
Dalatteya cambaleou até o banco e chorou, chorando pela jovem tola que
ingenuamente pensou que um dia se livraria de Emyr’ngh’zaver.
Ela nunca estaria livre dele.
Houve o som de passos, e então ela sentiu braços familiares envolvendo-
a. Mentalmente exausta, ela deitou a cabeça em seu ombro largo, fechou os olhos
e se agarrou a ele enquanto ele a levantava e a carregava para dentro da casa.
***
Mais tarde, ela deitou em seus braços, seu corpo pesado com a saciedade.
Ele a estava aconchegando por trás, seu pênis amolecido aninhado entre suas
nádegas.
Ele a beijou no pescoço e disse: — Eu menti. Eu coloquei essas proteções
em sua mente.
Ela abriu os olhos e olhou para a parede.
— Como? Você disse-
— Os supressores psi limitam minha telepatia. Mas você não levou em
conta que eu já tenho um caminho em sua mente por causa de nossa
compatibilidade natural e é significativamente mais fácil para mim usar minha
telepatia quando estou tocando em você. Você serve como uma espécie de
maestro.
Dalatteya fechou a mão em punho. Essa maldita compatibilidade natural
novamente. Ela sempre o odiara e era grata por isso. Ela não podia negar que a
compatibilidade mental deles havia facilitado as coisas para ela em sua
juventude: se eles não fossem compatíveis, o sexo com Emyr teria sido
fisicamente doloroso por causa de seu vínculo de infância suprimindo sua
capacidade de sentir excitação. Mas seu corpo queria Emyr, mesmo naquela
época. Ela se odiava por isso, odiava seu corpo por ser infiel e acolher as atenções
indesejadas de Emyr, odiava o laço telepático feio e anormalmente forte que
crescia entre eles contra seu melhor julgamento.
Ela estava certa em odiá-lo, parecia.
— O que você fez comigo? — Ela disse, seu coração batendo mais rápido.
— Nada de mal. Principalmente, as armadilhas em sua mente visam
impedir que alguém saiba sobre minha existência contínua. Eu fiz isso para
protegê-la. — Ele acariciou seu cabelo, sua grande mão embalando sua cintura
possessivamente. — Estou dizendo a verdade, Latteya. Eu fiz isso para proteger
você. O que você fez, o que você está fazendo todos os dias é um crime. Fazer
um clone completo de uma realeza é um crime gravíssimo, pois põe em causa a
legitimidade da linha de sucessão.
Ela ficou tensa em seus braços.
— Você não pode assumir o trono. Você não é Emyr aos olhos da lei. Você
não é uma pessoa.
— Eu estou ciente. — Sua voz ficou fria e dura. — Você me roubou meu
nome, meu trono, meu poder e minha liberdade. Se as pessoas descobrirem sobre
minha existência, você ficará presa pelo resto da vida e eu serei eliminado como
algo que não tem o direito de existir.
Ela se virou de costas.
— Você me odeia? — Disse ela, fazendo a pergunta que não fazia há vinte
anos.
O olhar de Emyr viajou sobre sua forma nua antes de retornar a seus olhos.
— Com cada respiração que eu dou, meu amor.
— Não me chame assim.
Ele se inclinou e deu-lhe um beijo gentil.
— Se eu te amasse menos, eu teria estrangulado você com minhas próprias
mãos, — disse ele em tom de conversa, esfregando o nariz contra o dela. — Mas
você sabe disso, ou não teria ousado dormir ao meu lado.
Dalatteya não disse nada sobre isso. Não havia nada a dizer. Ela tentou não
pensar no que dizia sobre ela que ela se sentia perfeitamente segura dormindo
em seus braços. Os braços do homem que matara seu marido. Os braços do
homem que ela havia matado e que tinha todos os motivos para odiá-la por isso.
— Isso é tudo que você fez na minha mente? — Ela disse, sabendo melhor
do que confiar nele.
Emyr acariciou sua bochecha e não respondeu, o bastardo.
Dalatteya franziu a testa e abriu a boca para questioná-lo ainda mais, mas
ele empurrou seu pênis de volta para ela, duro mais uma vez, e ela suspirou de
prazer, seus pensamentos se dispersando.
Nada a fazia se sentir tão completa e perfeita quanto ele.
E tão miserável e repugnante.
Capítulo 16
— Minha mãe está agindo de forma estranha.
Warrehn abriu os olhos e olhou para a cabeça violeta descansando em seu
peito.
Como sempre, a visão trouxe sentimentos contraditórios. Ele sabia que
deveria parar com isso. Beijar era ruim o suficiente. Isso foi demais. Ele deveria
dizer a Samir em termos inequívocos que sua tendência recém-adquirida de se
agarrar a ele depois do sexo - de abraçar - não era bem- vinda.
Exceto que o problema era... não era indesejável.
Ao longo da turnê publicitária, Warrehn se acostumou com eles vivendo
um em cima do outro. Devido às preocupações de segurança, eles não ficavam
em hotéis com frequência – pelo menos essa era a razão oficial. Particularmente,
Warrehn suspeitava que Ayda não queria arriscar que os funcionários do hotel
os encontrassem transando, o que, para ser justo, não era uma preocupação
infundada.
De qualquer forma, Warrehn foi forçado a dividir um quarto próximo
com Samir por quase um mês. Era natural que ele acabasse se acostumando com
o cheiro de Samir em todos os lugares, acostumado a tocá-lo, e acostumado a
dormir ao lado de Samir ou meio esparramado em cima dele depois do sexo.
Ele não tinha certeza em que ponto ele parou de simplesmente agüentar e
começou a gostar.
Até pensar nisso o deixava inquieto, mas ele não podia mais negar. Era
difícil permanecer em negação quando ele não conseguia mais dormir sozinho.
Ele havia tentado, apenas para provar a si mesmo que podia, e nunca dormia
bem, sua cama muito vazia e fria. Ele se sentiu como uma criança incapaz de
dormir sem seu brinquedo de pelúcia favorito.
Obviamente era um hábito causado pela coabitação forçada. Deveria ter
ido embora assim que eles chegassem em casa. E talvez tivesse ido embora se ele
não continuasse a alimentá-lo passando as noites com Samir com mais
frequência do que nunca. Ele não tinha desculpa para isso: os efeitos da droga
haviam diminuído o suficiente para que eles não tivessem que foder à noite. Mas
ainda assim, ele se viu relutante em sair. Samir estava quente e muito macio
depois do sexo, e ele continuou agarrado a ele, querendo carinhos, querendo
beijos, querendo seu toque, e era - era inebriante. Era viciante, ser desejado. Ser
necessário.
Warrehn disse a si mesmo que isso era tudo. Não era sobre Samir. Era só
solidão. Assim que a droga estivesse fora de seu sistema, ele encontraria um
amante, alguém de quem poderia obter contato físico e afeição. Alguém que não
estava fora dos limites. Alguém que não era filho de seu inimigo.
Falando do inimigo...
— Estranha? — Warrehn repetiu. — O que você quer dizer?
— Não tenho certeza, — Samir murmurou, traçando o lado do torso de
Warrehn com o dedo. — Ela está mais estranha do que o normal. Ela desaparece
o tempo todo em algum lugar e aparece pensativa e distante.
— Provavelmente planejando minha morte.
— Não é engraçado.
— Eu não estava tentando ser engraçado. — Warrehn suspirou. —Você
vai deixar de fingir que sua mãe não me quer morto? Somos só nós aqui.
Samir cruzou as mãos sobre o peito de Warrehn e colocou o queixo sobre
elas. Seus olhos azuis escuros encontraram os de Warrehn, sua expressão aberta.
— Eu não tenho ideia do que minha mãe está pensando ou planejando, —
ele disse calmamente. — Você pode olhar em minha mente se você não acredita
em mim.
Ele parecia tão sincero. Warrehn olhou para ele perdido, sentindo suas
defesas desmoronar e de repente se perguntando se aquela era a nova tática de
Dalatteya: tentar tornar seu filho querido para ele. Por mais que Warrehn
odiasse admitir, estava funcionando perfeitamente. Samir parecia tão cativante
e adorável com seus lábios rosados e inchados e olhos sensuais ainda vidrados e
macios após o sexo.
— Isso não será necessário, — Warrehn disse rigidamente. Ele não podia
arriscar mergulhar na mente de Samir quando eles tinham uma
compatibilidade natural tão forte. Ele já havia notado que eles desenvolveram
consciência um do outro devido à exposição prolongada e ao toque físico. A
intimidade mental era a última coisa que eles precisavam, e isso só tornaria
desastrosa uma situação complicada. — O que faz você pensar que Dalatteya
está agindo de forma estranha?
— Ela é minha mãe. Eu posso sentir isso. E ultimamente, ela nem
perguntou sobre minha saúde e sobre a droga, o que definitivamente não é
normal. Quase parece que ela não se importa mais com isso e tem sua mente
preocupada com outra coisa. Isso me preocupa.
Warrehn franziu a testa, acariciando a parte inferior das costas de Samir
distraidamente.
— Você não pode perguntar a ela o que está errado?
— Eu perguntei, — disse Samir, de alguma forma conseguindo se
aproximar dele. — Ela mudou de assunto e fingiu que não tinha ideia do que
estou falando. Ela é boa nisso. — Ele colocou a cabeça para trás no peito de
Warrehn e suspirou, irradiando conforto-bom-seguro.
Eles ficaram em silêncio por um tempo antes de Samir murmurar: — Isso
também está te assustando?
Ele não precisava esclarecer o que queria dizer.
Warrehn exalou audivelmente, sem saber o que dizer. Ele não podia negar
que era bom segurar outra pessoa. Desde sua chegada a Calluvia, ele se sentia...
solitário. Ele pode ter encontrado seu irmão, mas o relacionamento deles nunca
progrediu para o conforto físico antes que Eridan decidisse retornar ao Alto
Hronthar. Além de Eridan e Rohan – e este estava muito ocupado com os
assuntos de seu próprio clã – ele não tinha ninguém em quem confiasse o
suficiente para baixar a guarda, muito menos para abraçar. Houve Sirri
brevemente, mas o relacionamento deles não era bem o de amigos e
definitivamente não era o tipo de amigos que se abraçavam.
Então, segurar Samir e sentir seu corpo sólido e quente em seus braços foi
satisfatório de uma forma que Warrehn tentou não pensar. Ele se sentiu mais
contente do que se sentiu em... possivelmente nunca.
— Provavelmente é a droga, — disse ele, olhando para o teto sem
expressão.
— Talvez, — disse Samir, acariciando seu peito. — Ou talvez seja normal.
Eu nunca tive um parceiro sexual regular com quem eu pudesse abraçar, então
eu não saberia. Os acompanhantes que contratei nos planetas do prazer eram
obviamente estranhos. Eu sempre me senti tão estressado que minhas
preferências na cama vazariam, então não era exatamente relaxante. O
escândalo teria sido feio se as pessoas descobrissem que seu futuro rei contratou
prostitutas para degradá-lo e tratá-lo rudemente na cama.
Percebendo que estava segurando Samir com mais força do que o
necessário, Warrehn respirou fundo, lutando contra a possessividade viciosa, e
se obrigou a soltar os braços. Ele era o único no controle, não a droga.
Mas também era intrigante. Ele não se sentiu tão possessivo quando Samir
lhe disse que tinha feito sexo quatro vezes antes dele, e isso tinha sido menos de
um mês atrás. Por que essa merda estava piorando?
— Não, — disse Samir, se contorcendo mais perto. — Faça isso novamente.
Mais apertado.
Surpreso, Warrehn obedeceu lentamente, apertando os braços
novamente.
Um pequeno gemido saiu dos lábios de Samir.
— Mais apertado.
Warrehn o segurou com mais força, com tanta força que seu aperto
provavelmente o machucava, mas Samir apenas irradiava contentamento,
prazer e paz. Porra, ele se sentia perfeito em seus braços, e embora o pênis de
Warrehn estivesse meio duro novamente, ele realmente não sentia nenhuma
urgência de fazer algo sobre isso. Ele não queria se mexer.
— A propósito, Eridan foi embora? — Samir disse sonolento, quebrando
o silêncio sociável.
— Sim, apenas algumas horas atrás. Seu Mestre veio buscá-lo, e é claro
que ele foi. — Warrehn não conseguiu esconder a amargura de sua voz.
Samir acariciou seu peito, seus lábios roçando o mamilo de Warrehn.
— Então os rumores são verdadeiros? Eles estão em um relacionamento?
Warrehn abriu a boca, mas ficou quieto, percebendo com um sobressalto
que estava prestes a contar a Samir sobre o relacionamento proibido de seu
irmão com o Alto Adepto do Alto Hronthar, seu professor. Porra. Quando ele
baixou tanto a guarda?
— Sim, — disse Warrehn depois de um momento, imaginando no final
que era um bom teste para saber se ele podia confiar um pouco em Samir. Apesar
de todas as suas falhas, Idhron era totalmente capaz de proteger Eridan se
alguém tentasse espalhar rumores maliciosos novamente – a maior parte da
imprensa estava no bolso de Idhron.
Samir cantarolou e ficou quieto por um tempo, passando um dedo sobre
as costelas de Warrehn distraidamente.
— Você se sente amargurado e magoado com a partida de seu irmão. E
você se culpa por sua incapacidade de mantê-lo aqui. Eu posso sentir isso
claramente quando estou tocando em você.
Enrijecendo, Warrehn não disse nada.
Samir acariciou o peito com cuidado, como se acalmasse um animal
raivoso.
— Eu acho que você não deveria ser tão duro consigo mesmo. Se ele
escolheu voltar para sua antiga vida, não significa que ele não gostou da vida
que você ofereceu. Quando você o trouxe aqui, ele provavelmente sentiu como
se todo o seu mundo estivesse de cabeça para baixo. Eu sei que sim quando soube
que você estava vivo.
Franzindo o cenho, Warrehn olhou para ele com cuidado.
— Mas isso é diferente.
— É isso? — Samir disse em um tom suave. — Minha mãe me criou como
um futuro rei desde que eu era criança. Cresci com o conhecimento que seria a
minha vida. Quando você voltou... — Ele ergueu o olhar e olhou Warrehn nos
olhos. — Eu senti que tudo que eu sabia sobre minha vida – sobre quem eu sou
– era uma mentira. Imagino que seu irmão deve ter se sentido assim. Sem âncora.
Warrehn nunca tinha pensado nisso dessa maneira. Ele estudou Samir.
— Você ainda se sente daquele jeito? Sem âncora?
Samir sorriu torto.
— Em uma reviravolta divertida, me sinto muito ancorado agora. Com seu
pau.
Os lábios de Warrehn se contraíram.
— O mundo deve estar acabando, — Samir murmurou com um sorriso,
seu polegar tocando a boca de Warrehn.
Warrehn imediatamente parou de sorrir.
— Não, tarde demais - eu vi isso! — Samir disse, balançando as
sobrancelhas. — O sorriso!
Warrehn fez uma careta, mas mesmo ele poderia dizer o quão pouco
convincente era. Ele se sentiu relaxado, divertido até. Ou talvez fosse o orgasmo.
Um bom orgasmo tendia a fazer isso com um homem. Não havia outra
explicação para ele se sentir tão confortável segurando o filho de Dalatteya
como seu ursinho de pelúcia favorito e conversando com ele sem animosidade.
— Eu sorrio, — Warrehn grunhiu.
— Não é real, — disse Samir, dobrando a mão sob o queixo para que
pudesse ver Warrehn melhor. — Eu vi você sorrir com condescendência,
zombaria e desprezo, mas nunca sorrir genuinamente – até agora! — Ele tocou
os lábios de Warrehn com o polegar, sorrindo. — Não doeu, viu?
Warrehn olhou para seu rosto sorridente, para aqueles lindos olhos
brilhando com diversão e alegria.
Ele pegou os dedos de Samir em sua mão e os empurrou para longe de sua
boca.
— Pare de flertar comigo, — ele disse rudemente, sua voz um forte
contraste com a maneira gentil como sua mão não conseguia parar de embalar
os dedos de Samir. — Pare de ser tão... — Ele parou, sem vontade de dizer isso
em voz alta. Pare de me fazer olhar para você. Pare de me fazer gostar de você.
Samir piscou e inclinou a cabeça para o lado.
— Ser o quê? — Ele disse, ainda sorrindo aquele sorriso irritantemente
adorável.
Warrehn os rolou, empurrando Samir para baixo dele. Samir engasgou
com o movimento repentino e olhou para Warrehn sem fôlego.
— O que-
Warrehn apertou suas testas juntas, sua boca se arrastando pela bochecha
lisa de Samir.
— Eu sei que você e sua mãe estão tramando alguma coisa, — disse ele
contra os lábios de Samir. — Eu sei que. Mas... — Ele soltou um som frustrado e
o beijou.
Samir abriu os lábios e retribuiu o beijo, chupando a língua de Warrehn
avidamente. Seus escudos estavam completamente abaixados, então Warrehn
podia sentir todas as suas emoções superficiais. Ele podia sentir que Samir mal
conseguia respirar sob o peso de Warrehn, mas ele adorou, adorou ser
totalmente esmagado sob seu corpo e cercado por ele. Samir enterrou os dedos
no cabelo de Warrehn e o puxou para mais perto, mais apertado, até que parecia
que eles estavam fundidos. De alguma forma, ainda não era suficiente. Para
nenhum deles.
— Quero você de volta em mim, — Samir disse sem fôlego.
Warrehn beijou-o com mais força e deu-lhe o que ambos queriam.
Capítulo 17
Warrehn estava dançando com o príncipe Aedan.
Samir olhou para eles do outro lado do salão de baile, vendo o príncipe
Aedan sorrir para Warrehn, seu rosto estupidamente bonito tão perto de
Warrehn que era quase indecente. Os olhos de Aedan estavam piscando entre
os olhos azuis de Warrehn e sua mandíbula firme e barba por fazer – ou talvez
ele estivesse olhando para os lábios de Warrehn.
— Eles formam um belo casal, não é?
Samir congelou, lançando seu olhar para o lado. Havia duas senhoras à
sua direita, e elas também observavam Warrehn e Aedan. Ele vagamente
lembrou que elas faziam parte do Sexto Grande Clã. O clã do príncipe Aedan.
— Realmente são, — a outra mulher respondeu. — Apenas deslumbrante.
Samir mordeu o interior de sua bochecha, voltando seu olhar de volta para
o casal dançando. Deslumbrante? Ele supôs que o contraste entre o corpo alto e
musculoso de Warrehn todo preto e o gracioso e elegante Príncipe Aedan nas
cores pálidas de sua Casa era impressionante. Suas cabeças douradas ficavam
bem juntas, embora o cabelo de Aedan fosse vários tons mais claro e muito
menos esplêndido que o de Warrehn. Não era nem a cor natural do cabelo dele.
Aedan era uma borboleta social de cabeça oca preocupado apenas com sua
aparência e a última moda. Sobre o que eles estavam falando? O corte da jaqueta
de Warren?
— Eu me pergunto se eles vão voltar a ficar juntos, — disse a primeira
mulher. — Eles eram companheiros de laços desde que eram crianças. Eles
devem sentir falta um do outro.
— O vínculo deles foi quebrado, — Disse Samir, e percebeu tarde demais
que não apenas ele havia invadido a conversa de outra pessoa, mas sua voz
também tinha saído muito dura.
As mulheres agora estavam olhando para ele estranhamente.
Forçando um sorriso, Samir tentou suavizar seu erro.
— Eu não acho que Sua Majestade esteja interessada em restaurar seu
vínculo de infância com o príncipe Aedan. Eles agora são estranhos um para o
outro depois de décadas separados.
— Eu não sei, Alteza, — a primeira mulher disse, olhando para a pista de
dança. — Eles certamente parecem muito amigáveis agora. Veja como eles estão
olhando um para o outro.
Samir sentiu o maxilar apertar e teve que fazer um esforço consciente
para parecer menos tenso.
— Se vocês me derem licença, — ele disse e se afastou antes que pudesse
dizer qualquer coisa que pudesse se arrepender.
Ele saiu do salão de baile e foi para os jardins, não confiando em sua
compostura. Ele não podia confiar nisso, não quando estava com vontade de
socar algo, de preferência o rosto ridiculamente bonito do príncipe Aedan.
Porra.
Era claramente o efeito colateral da droga, mas não tornava as coisas mais
fáceis.
Ele não podia negar: ele estava com ciúmes. Ele estava fervendo de ciúmes
e possessividade feia, querendo empurrar o príncipe Aedan para longe e depois
se agarrar a Warrehn e colá-los um no outro, para que Warrehn não pudesse
dançar, olhar ou falar com mais ninguém.
— Segure-se, — disse Samir baixinho, passando a mão pelo cabelo.
Chegou ao canto mais tranquilo do jardim e sentou-se no banco. Ele olhou para
a superfície do lago, tentando meditar sobre sua raiva e ciúme.
Não funcionou. Ele não conseguia parar de pensar no que Warrehn e
Aedan poderiam estar fazendo agora. Eles estavam conversando? Aedan o estava
fazendo sorrir? E se as mulheres estivessem certas e Warrehn quisesse Aedan de
volta? E por que ele não iria? Eles tinham sido companheiros. O príncipe Aedan
era bonito, descomplicado e sem nenhuma bagagem. Sua mãe não tinha
assassinado a família de Warrehn, nem queria roubar o trono de Warrehn.
Samir riu asperamente, como se seu estômago não estivesse se revirando
de ciúmes.
— Isso não é real, — ele sussurrou, mas embora racionalmente soubesse
que esse ciúme era causado pela droga, não mudou nada. Ele ardia de ciúmes.
— Samir?
Ele virou a cabeça e exalou quando viu Warrehn parado ali. Ele correu os
olhos pelo corpo alto de Warrehn, procurando por qualquer sinal de roupas
amarrotadas. Mas as roupas de Warrehn estavam impecáveis. Ele até jogou seu
pesado manto preto sobre os ombros. Ele parecia tão bonito que a boca de Samir
literalmente encheu de água.
— Venha aqui, — Samir se ouviu dizer.
Warrehn ergueu as sobrancelhas, mas se aproximou e se sentou ao lado
dele.
Samir sabia que não deveria. Eles estavam em um baile, na casa de outra
pessoa, e ele não fazia ideia se havia câmeras no jardim. Mas ele não pôde evitar.
Ele queria beijá-lo e tocá-lo tanto que estava tremendo com isso.
Ele montou no colo de Warrehn e o beijou com necessidade. Dele, dele,
dele. Ele estava aqui, com ele, não com Aedan.
Warrehn tentou quebrar o beijo.
— Espere... Samir... não podemos fazer isso aqui... — Ele não soou muito
convincente, considerando que o estava beijando de volta, com o braço apertado
ao redor dele. — Devemos parar.
— Não, — disse Samir, embalando suas bochechas com as mãos e
beijando-o mais profundamente. Ele sentiu como se pudesse engoli-lo, engolir
este homem e mantê-lo dentro dele para sempre.
— Nós não podemos fazer sexo aqui, — Warrehn disse, beijando seu
queixo, e então seu pescoço, sua boca quente e perfeita.
Não preciso de sexo, pensou Samir, fechando os olhos em êxtase. Apenas
continue me tocando.
Havia um sentimento distante de alarme no fundo de sua mente, mas
rapidamente desapareceu quando a boca de Warrehn recuperou seus lábios.
Mmm… Tão bom.
— Vocês perderam seus sentidos?!
Eles quebraram o beijo ao som da voz familiar.
Ainda sem fôlego e corado, Samir focou seu olhar na agente de Warrehn
e deu a ela um olhar tímido.
Ayda olhou para ele, parecendo totalmente impressionada.
— Vossa Alteza, — ela grunhiu, com as mãos nos quadris. — Por favor,
saia do colo de Sua Majestade. — Quando ele relutantemente obedeceu, ela
disse: — Bom. Agora volte para o salão de baile e fique do lado oposto da sala do
rei.
Samir olhou para Warrehn.
Warrehn olhou de volta para ele, seus olhos brilhando avidamente, seu
corpo longo e poderoso rígido com a tensão.
— Para chorar em voz alta, — disse Ayda. — Vocês também estão
proibidos de olhar um para o outro. — Bufando, ela pegou o braço de Samir e
quase o arrastou para o salão de baile. — Eu não sou paga o suficiente para isso,
droga.
— Nós não somos tão ruins, — Samir disse defensivamente.
Ele se calou quando Ayda lhe lançou um olhar incrédulo.
Tudo bem, talvez ela tivesse razão.

***
— Sua Majestade não está disponível, Alteza.
Samir franziu a testa para a secretária de Warrehn e olhou para a porta
fechada que levava ao escritório de Warrehn.
— Mesmo para a família real?
O homem hesitou.
— Você tem um compromisso prévio, Sua Alteza? Sua Majestade me disse
para não perturbá-lo. Ele tem um trabalho que precisa ser concluído em breve
e não quer distrações. Eu realmente sinto muito.
Seu tom era muito final e, em qualquer outra circunstância, Samir teria se
virado e saído, mas...
Ele precisava ver Warrehn – isto é, ele precisava da opinião de Warrehn
sobre o projeto de lei de educação que ele queria apresentar na próxima sessão
do conselho de seu clã. Se Warrehn não a apoiasse, todos os seus esforços seriam
em vão. Ele poderia ser o herdeiro do trono atualmente, mas as pessoas sabiam
que era uma situação temporária na melhor das hipóteses, e assim que Warrehn
conseguisse um herdeiro real, Samir se tornaria irrelevante, já que a consorte de
Warrehn votaria como regente até que o herdeiro completasse vinte e cinco
anos.
Samir apertou os lábios, tentando banir a imagem do príncipe Aedan de
sua cabeça.
— É meio urgente, — disse ele. — Não se preocupe, eu vou dizer a ele que
você tentou me impedir. — E com isso, ele marchou em direção à porta.
— Sua Alteza-
Samir entrou no escritório e fechou a porta.
Warrehn ergueu o olhar do holodocumento à sua frente, algo
tremeluzindo em seus olhos quando viu Samir.
— Estou ocupado agora, Samir, — disse ele.
Limpando um pouco a garganta, Samir sorriu timidamente e pegou um
datapad do bolso.
— Estou aqui para isso. Uma reforma educacional que venho planejando
há algum tempo.
Warrehn nem sequer olhou para ele, seu olhar fixo no rosto de Samir.
— O que? — Samir disse com um sorriso torto. — Isso é importante,
realmente.
Warrehn balançou a cabeça, recostando-se na cadeira. Deveria ter sido
proibido, o jeito que ele parecia tão gostoso com aquela camisa azul abraçando
seus ombros largos e bíceps grossos. Ele destacou seus olhos e ficou maravilhoso
contra sua pele bronzeada. Samir engoliu em seco quando Warrehn afrouxou
sua gravata, seus longos dedos trabalhando nela sem pressa enquanto seus olhos
azuis permaneciam em Samir.
— Você quer que eu apoie isso? — Disse Warrehn.
Samir pigarreou um pouco.
— Esse seria o resultado desejável, sim.
Warrehn se levantou e se aproximou. Pegando o datapad da mão de Samir,
ele o colocou na mesa atrás dele.
Samir molhou os lábios secos.
Warrehn olhou para ele. Apenas olhou.
E foda-se, Samir não aguentava mais. Ele deu um passo mais perto e
empurrou seu nariz contra o de Warrehn, estremecendo enquanto respirava seu
cheiro familiar e agradável.
— Oi, — ele disse, passando os braços ao redor do pescoço de Warrehn e
sorrindo impotente.
— Eu tenho um país para governar, você sabe, — disse Warrehn, mas seus
braços envolveram Samir e o seguraram com força do jeito que Samir gostava,
fazendo-o sentir-se maravilhosamente aterrado e seguro e esvaziando sua
cabeça de todos os pensamentos.
Suspirando feliz, Samir o abraçou de volta e inclinou o rosto para cima,
querendo beijos.
— Samir, — Warrehn disse com a voz rouca, arrastando beijos quentes e
de boca aberta por todo o rosto antes de finalmente reivindicar sua boca.
Samir não conseguia respirar. Ele sentiu como se pudesse expirar de
prazer e deleite, suas mãos vagando por todas as costas fortes de Warrehn
enquanto ele chupava a língua de Warrehn com pequenos gemidos vorazes.
Muito distante, no fundo de sua mente, ele estava horrorizado e envergonhado
por seu próprio comportamento - ele estava aqui a negócios, não para isso;
realmente, mas ele não conseguia parar, não conseguia parar de beijar Warrehn
e tocá-lo e desejá-lo. Ele queria consumi-lo inteiro.
Ele empurrou Warrehn sobre sua mesa, montou nele e abriu a braguilha
de Warrehn.
***
Samir nunca imaginou que seria louco o suficiente para fazer sexo na sala
do trono.
Mas, aparentemente, ele era.
Ele soltou um longo gemido enquanto se levantava lentamente do pau
grosso de Warrehn e caiu de volta nele com força. Ele gritou, e então enterrou o
rosto no ombro de Warrehn, tentando sem sucesso abafar seus ruídos.
Os dedos de Warrehn tinham um aperto contundente em sua bunda
enquanto ele guiava Samir e o ajudava a montar seu pênis.
— Quieto, — disse ele, sua voz apertada, quase dolorida. — A sala do trono
não tem fechadura.
Samir estava bem ciente disso. Qualquer um podia entrar e encontrá-lo
montado no pau do rei. O pensamento humilhante enviou uma onda de
excitação direto para seu pênis.
Warrehn riu, fodendo com ele.
— Seu merdinha pervertido, — disse ele suavemente, respirando
pesadamente contra o lado de seu rosto. — Você gosta disso - que as pessoas
possam entrar na sala e ver você no meu pau, servindo ao seu rei.
Samir gemeu, movendo seus quadris cada vez mais rápido, o tapa de suas
coxas nuas contra as calças de Warrehn obscenamente alto. Warrehn estava
completamente vestido enquanto estava nu da cintura para baixo. Se alguém
entrasse, veria sua bunda nua primeiro, e então o pau grosso e vermelho de
Warrehn movendo-se ritmicamente. Samir gemeu, imaginando os olhares
boquiabertos das pessoas, como ficariam chocadas e horrorizadas.
— Beije-me. — ele implorou, ofegante.
Warrehn o beijou, sua mão forte embalando sua nuca gentilmente.
Quando ambos terminaram, Samir deitou a cabeça no ombro largo de
Warrehn e fechou os olhos, sentindo-se tão incrível que sentiu vontade de
ronronar.
Warrehn riu, envolvendo seu manto ao redor dele.
— Não adormeça em mim. Aqui não.
— Mmm, — disse Samir, acariciando seu pescoço musculoso. —Vamos
para o seu quarto, então. Podemos dormir lá.
— Eu não posso, — Warrehn disse com um suspiro. — Eu tenho uma
montanha de papelada no meu escritório que preciso lidar primeiro. Você pode
tirar uma soneca no meu quarto enquanto espera por mim.
Samir pensou em tirar uma soneca. Parecia atraente. Mas…
— Eu vou ajudá-lo, — disse Samir, contorcendo-se mais perto de
Warrehn. — Sou bom com papelada.
— Tudo bem, — disse Warrehn depois de um momento. — Vamos lá.
Samir sorriu.
Capítulo 18
— Onde você esteve?
Samir congelou ao entrar em seus aposentos, olhando para sua mãe
sentada em seu sofá.
Seus olhos azuis se moveram sobre ele, seus lábios franzindo em desgosto
óbvio.
Samir corou, subitamente muito constrangido com seu estado de seminu
e cabelo despenteado. Ele esperava que não houvesse novos chupões em seu
pescoço. Ele geralmente usava um regenerador dérmico, mas não esperava
exatamente que sua mãe estivesse esperando por ele em seu quarto no meio da
noite.
— São três da manhã, — disse Dalatteya.
Samir cruzou os braços sobre o peito e assentiu.
— De fato, mãe. O que me faz pensar por que você ainda está acordado a
esta hora.
Fixando-o com um olhar chato, ela ficou de pé.
— Já tive o suficiente, Samir. Fiquei calada sobre a situação, porque me
senti culpada por minha parte nela, mas isso é o suficiente. Já se passaram quase
dois meses! Dr. Jihan disse que seus... seus sintomas deveriam ter desaparecido
completamente agora. Em vez disso, encontro você ausente de seus quartos às
três da manhã, e não ouse mentir para mim que não estava com aquele homem!
Eu posso sentir a marca telepática dele em você.
Samir sustentou o olhar da mãe com certa dificuldade.
— Estou lidando com a situação da melhor maneira possível, — disse ele,
muito uniformemente. — Preciso lembrá-la que eu não estaria nesta situação se
não fosse por você?
— Eu já disse que sinto muito, — disse Dalatteya, aproximando-se e
colocando as mãos em seus ombros. — Querido, olhe para mim.
— Estou olhando para você, mãe, — disse Samir, olhando para ela.
— Olhe-me nos olhos e me diga que você não quer aquele homem.
Samir soltou uma risada.
— Mãe, você sabe muito bem que eu realmente não posso dizer isso com
a droga alienígena no meu sistema.
— Eu autorizei o Dr. Jihan a usar nossa IA do palácio para executar um
scanner em você. Ele disse que há aproximadamente 0,002% da droga em seu
sistema. Você está efetivamente de volta ao normal.
Samir abriu a boca e a fechou sem deixar nenhum som. Seu primeiro
impulso foi dizer que devia ter sido um engano, que claro que era um engano,
que não podia ser verdade. Mas então ele pensou em quão clara sua lembrança
de sexo tinha sido ultimamente. Ele pensou em como ele não pensava em
Warrehn em termos de “reprodutor” e “parceiro” há muito tempo. Pensou no
fato de que ultimamente se fixava mais nos beijos de Warrehn e nos braços de
Warrehn ao seu redor do que no sexo. Ele até gostava de fazer a papelada de
Warrehn com ele, pelo amor de Deus.
O estômago de Samir caiu.
— Agora me olhe nos olhos e me diga que você não quer aquele homem.
Ele molhou os lábios com a língua.
— Por que isso importa, mãe? Sexo é apenas sexo. Não me diga que você
nunca gostou de sexo com alguém que você não gosta.
O olhar que Dalatteya lhe deu foi positivamente arrepiante.
— Não seja estúpido, Samir. Você está dizendo que não gosta dele? Eu vi
o jeito que você olha para ele: como um garoto louco e tolo. Você perdeu de vista
o objetivo – que é remover Warrehn de cena.
O coração de Samir começou a bater mais rápido.
— Mãe, eu não penso…
— Esse é o seu problema, Samir: você não pensa! Quanto mais tempo a
prole de Emyr permanecer no trono, mais acostumado a ele nosso povo se
tornará. Sua associação com você em público já o tornou mais popular do que
ele tem o direito de ser. Não podemos esperar mais se quisermos que ele seja
removido do trono...
— Eu não quero isso, — Samir disse calmamente.
— Desculpe?
Samir se obrigou a olhá-la nos olhos.
— Eu nunca quis isso. Era seu sonho me ver no trono, não meu. Fiz isso
para te fazer feliz, mãe. Mas agora eu terminei. Pare de tramar contra Warrehn,
pare de tramar. Ele é um rei perfeitamente bom. Eu não quero o trono dele.
Ele tentou ignorar a decepção no rosto dela. Ele era um homem adulto. Ele
não precisava da aprovação de sua mãe.
— Não se trata apenas de recuperar o trono, Samir, — ela disse, sua voz
sem tom. — Ele está investigando o passado, procurando provas de que eu matei
seus pais e tentei matar ele e seu irmão. É apenas uma questão de tempo até que
ele encontre algo e me prenda.
O coração de Samir disparou.
Sua mãe sorriu tristemente.
— A paixão que você sente por aquele homem é mais importante para
você do que para mim?
Samir engoliu em seco.
— Mãe…
— Termine com isso, Samir. Agora. Coloque distância entre vocês. Se você
não vai me ajudar, pelo menos não atrapalhe.
E com isso, ela saiu, seus saltos estalando alto.
Samir fechou a porta e encostou-se nela, olhando inexpressivamente para
a parede oposta.
***
Ele não conseguiu dormir naquela noite.
Pela manhã, ele se sentia mal funcional – e ainda sem nenhuma ideia do
que fazer. Ele amava sua mãe, sentia-se ferozmente protetor com ela, mas... Mas.
Samir estava terminando de se vestir quando ouviu uma batida forte na
porta.
Seus olhos se arregalaram, seu coração batendo mais rápido.
— Ei, — disse Warrehn quando abriu a porta, dando um passo à frente e
colocando as mãos nos quadris de Samir de uma maneira tão casualmente
proprietária. Samir olhou duas vezes e corou, confuso e afobado. Ele não
entendeu. Se eles realmente voltaram ao normal, por que Warrehn ainda estava
se comportando assim? Ou Warrehn ainda poderia ser afetado? Samir se
lembrou do Dr. Jihan dizendo que havia mais droga no sistema de Warrehn do
que no dele, mas...
Warrehn o puxou para perto, movendo-o facilmente com uma firme
pressão em seus quadris. Samir poderia ter resistido.
Ele não.
— Ei, — ele disse com um sorriso fraco.
Warrehn franziu a testa, seus olhos azuis passando rapidamente sobre ele.
— Tudo está certo? Você está tremendo.
— Está frio aqui, — disse Samir. — Os controles de temperatura devem
estar com defeito.
— Hm, — Warrehn disse, seu olhar ficando pesado. Inclinando-se, ele
acariciou sua orelha e mordeu seu lóbulo levemente. — Eu posso te aquecer.
Samir inalou trêmulo, sua mente tornando-se lenta e nebulosa. Ele
cheirava tão bem.
— Eu... — ele disse. — Warrehn, nós precisamos…
Warrehn o beijou, seus braços fortes o puxando contra ele. E os
pensamentos de Samir se dispersaram. Um pequeno gemido subiu em sua
garganta, e ele beijou de volta com força, sentindo-se faminto e desesperado de
maneiras que nunca havia sentido antes. Ele diria a Warrehn que a droga estava
fora de seus sistemas – um pouco mais tarde. Um pouco mais de beijo não faria
mal a ninguém, certo?
Certo?
Muito mais tarde, Samir estava olhando fixamente para o teto, ainda
ofegante depois de seu orgasmo, preso sob o corpo maior de Warrehn, o pênis
de Warrehn amolecendo nele.
— Vou me mover, — Warrehn disse em seu pescoço, sua voz ainda soando
um pouco destruída. — Eu sou muito pesado.
Samir agarrou seus ombros quando tentou se afastar.
— Não, — ele disse, envolvendo seus membros ao redor de Warrehn tão
firmemente quanto ele podia. — Não. Por favor. Fique em mim.
— Você está estranho hoje, — disse Warrehn, mas obedeceu, chupando
um hematoma no pescoço de Samir preguiçosamente.
Em qualquer outro dia Samir teria protestado – ele odiava ser forçado a
usar regeneradores dérmicos o tempo todo – mas as palavras ficaram presas em
sua garganta agora.
Ele queria aquelas contusões agora. Algo para se lembrar disso. Assim que
ele dissesse a Warrehn que eles estavam de volta ao normal, isso pararia. Não
haveria mais beijos, conversas tarde da noite na cama, essa intimidade e calor.
Warrehn voltaria a odiá-lo e a sua mãe, ainda mais se Samir de repente
começasse a lhe dar o ombro frio, como sua mãe queria. De qualquer forma, isso
era... inútil. Sem esperança. Sempre haveria um abismo entre eles. Não havia
escolha real para Samir. Ele não podia permitir que sua mãe fosse presa; ele não
seria capaz de viver consigo mesmo. Mas ele não podia imaginar deixar sua mãe
machucar este homem, também. Não havia solução aceitável. Era uma situação
perde-perde.
Uma onda esmagadora de desespero o varreu, tornando difícil respirar.
Warrehn parou de chupar seu pescoço e levantou a cabeça.
— Samir? — Ele disse, seus olhos olhando para ele inquisitivamente.
Porra. Ele tinha esquecido como era um forte telepata Warrehn. Ele deve
ter projetado alguns de seus pensamentos e emoções.
Samir forçou outro sorriso fraco. Foi bom. Ele estava bem. Não era como
se ele tivesse sentimentos sérios por Warrehn. Claro que não. Ele não. Ele tinha
acabado de ficar... um pouco apaixonado. Um pouco acostumado demais com
ele. Ao toque dele. Para o cheiro dele. Para a sensação de total segurança e
contentamento com o mundo enquanto em seus braços.
— Eu… você pode ficar um pouco? Eu sei que você terá uma reunião com
os conselheiros em breve, mas... — Ele parou, desprezando a si mesmo por sua
incapacidade de arrancar o curativo e acabar com isso. — Eu só me sinto para
baixo, eu acho. Você sabe como às vezes você já acorda de mau humor, ansioso
por algo que você não consegue colocar um dedo?
Warrehn assentiu, colocando seu peso de volta em cima dele. Isso tornava
a respiração significativamente mais difícil, mas Samir não se importava,
apreciando o quão maravilhosamente sólido, firme e firme ele era. O pênis nele
começou a endurecer novamente, e Samir sorriu, beijando o ombro de Warrehn.
— Outro round? — Ele disse ansiosamente.
— Você não está dolorido? — Warrehn disse, olhando para ele com uma
expressão um pouco confusa.
Ele estava. Ele não se importava. Ele queria sentir isso por dias.
— Não, — Samir disse, enterrando os dedos no cabelo grosso de Warrehn,
odiando o quão necessitado ele se sentia. — Me beija.
Warrehn o fez, e o resto do mundo desapareceu. Havia apenas os lábios
quentes e sensuais de Warrehn, e seu corpo poderoso se movendo em cima dele,
dentro dele. Parecia dolorosamente perfeito.
— Mais profundo, — Samir perguntou, cravando as unhas nas costas. —
Quero você mais fundo.
Warrehn deu a ele mais profundo, mas não importa o quão bom fosse,
Samir não o sentiu profundamente o suficiente.
Ele gozou com um grito frustrado, seus olhos úmidos e seu coração
doendo.
Capítulo 19
Rohan não era um grande fã de bolas. Ele preferia passar a noite em casa
com seu companheiro e filhinha, mas infelizmente, eles tinham que fazer
aparições públicas de vez em quando. E esta noite foi uma dessas ocasiões. Pelo
lado positivo, ele conseguia ver seu melhor amigo em eventos sociais como este,
o que era bastante raro nos dias de hoje, devido a ambos estarem muito ocupados
com assuntos e famílias de seus respectivos países.
Embora provavelmente não fosse correto chamar os supostos parentes de
Warrehn de família, não com a forma como Warrehn olhava para o príncipe
Samir do outro lado do salão de baile.
— Você deveria tentar ser menos óbvio, War, — Rohan murmurou.
Warrehn fez um ruído evasivo, seu olhar voltando para o príncipe Samir.
Rohan nem tinha certeza de que o tinha ouvido.
— Achei que a droga já estaria fora do seu sistema agora, — Rohan disse,
mantendo sua expressão neutra. Sempre havia olhos sobre eles, e ele não podia
se dar ao luxo de parecer preocupado.
Warrehn deu de ombros.
Desta vez Rohan lutou para manter sua expressão vazia. Era muito
diferente de Warrehn ser tão evasivo e descuidado com uma situação que ele
odiava.
Desconcertado, Rohan seguiu o olhar de Warrehn para o príncipe Samir.
O príncipe certamente era lindo. Ele era quase tão lindo quanto Jamil, e
esse era o maior elogio que um homem poderia receber por sua aparência – ou
uma mulher, por falar nisso. Objetivamente, Rohan podia ver o apelo, mas era
muito diferente de Warrehn deixar seu pênis pensar. Warrehn odiava
Dalatteya. Detestava-a completamente. Rohan pensara que isso bastaria para
tornar o filho de Dalatteya muito repugnante aos olhos de Warrehn.
Talvez ele tivesse pensado errado.
— Se você não parar de olhar para ele como se quisesse comê-lo, as
pessoas vão notar, — disse Rohan.
Warrehn se encolheu e desviou o olhar, carrancudo. Essa expressão era
muito mais familiar, mas não conseguiu aliviar a preocupação de Rohan,
considerando que o olhar de Warrehn quase imediatamente voltou para Samir,
como se... como se não pudesse evitar.
Maldito inferno.
Agora ele estava mais do que apenas preocupado. Ele estava muito
alarmado.
— Estou simplesmente o observando, — disse Warrehn, sua voz tão rígida
quanto sua postura. — Ele está agindo estranho.
Rohan decidiu agradá-lo.
— De que forma?
— Ele está fora há alguns dias. Ele se afasta com frequência e, quando
percebe que notei, sua presença telepática transmite culpa e miséria.
— É isso? — Disse Rohan.
Warrehn olhou para Samir, afrouxando a gravata.
— Não, — ele disse em uma voz cortada. — Quando ele não está distante,
ele tem sido meio... carente.
— De que forma?
Warrehn não respondeu por um tempo. Por fim, ele disse, sem olhar para
Rohan, — Ele quer ser segurado. Ele passa todas as noites na minha cama e fica
terrivelmente grudento de manhã, não me deixando sair. Eu tive que cancelar
várias reuniões matinais ultimamente.
Rohan olhou seu amigo com curiosidade.
— Tive? Você não tem que ceder a ele, você sabe.
Um músculo se contraiu na mandíbula de Warrehn.
— Você não entende, — disse ele. — A droga é... é impossível resistir. É...
— Ele parou, seus ombros tensos e sua expressão escurecendo.
Rohan seguiu seu olhar.
O príncipe Samir estava falando com sua mãe. Embora ambos tivessem
sorrisos educados em seus rostos, mesmo Rohan podia dizer que algo sobre a
interação estava errado. Eles pareciam estar discutindo, com Dalatteya falando
rápido, e a linguagem corporal de Samir ficando na defensiva.
Rohan virou-se para Warrehn, mas seu amigo já estava se movendo em
direção ao par.
Curioso, Rohan o seguiu. Ele realmente não tinha visto Warrehn interagir
com Dalatteya e seu filho desde que o desastre das drogas começou. Ele esperava
que Warrehn não estivesse prestes a fazer uma cena.
Ele lutou para alcançar Warrehn: ele não tinha os ombros ridículos de
Warrehn para abrir caminho entre a multidão, nem sua carranca hostil para
impedir as pessoas de falar com ele. Quando finalmente alcançou seu amigo,
Warrehn já havia alcançado Dalatteya e seu filho.
— Algo está errado? — Disse Warrehn.
Rohan não podia ver seu rosto desse ângulo, mas podia ver o de Samir e
Dalatteya. A mulher enrijeceu, sua expressão ficando mais fechada. A
linguagem corporal de Samir era um estudo de contradições: a tensão em seus
ombros diminuiu e seu corpo balançou em direção a Warrehn a princípio, antes
que ele olhasse para sua mãe e parecesse ficar mais ansioso.
— Tudo está absolutamente bem, — disse Dalatteya com um lindo sorriso.
— Eu estava discutindo com Samir como é maravilhoso que você esteja de volta
ao seu estado normal. Tenho certeza de que você ficou encantado quando Samir
o informou disso dias atrás. Você não ficou? Sua Majestade.
O corpo de Warrehn ficou absolutamente rígido. Ele não disse nada por
um momento, sua cabeça virando para Samir, que corou, projetando miséria e
ansiedade.
— Sobre o que ela está falando? — Warrehn disse, sua voz monótona, mas
cheia de tensão. — Samir.
Rohan inclinou a cabeça para o lado, curioso. Era extremamente
improvável que Warrehn de alguma forma não tivesse entendido o que
Dalatteya havia dito. Conhecendo seu amigo, Rohan esperava que ele explodisse
com as palavras de Dalatteya, não fosse paciente o suficiente para pedir
esclarecimentos ao príncipe Samir. A julgar pela carranca no rosto de Dalatteya,
ela esperava o mesmo. A compostura de Warrehn, por mais fingida que fosse,
era realmente surpreendente. Warrehn odiava ser enganado. O fato de o
príncipe Samir não ter dito a ele que a substância alienígena estava fora de seus
sistemas deveria tê-lo deixado com raiva o suficiente para perder a compostura
em público – o que provavelmente era o objetivo de Dalatteya, pensando bem.
O príncipe Samir se aproximou de Warrehn e fez um movimento
abortado, como se pretendesse tocar sua mão.
— Eu posso explicar, — disse ele, olhando Warrehn nos olhos suplicante.
— Por favor, deixe-me explicar.
A garganta de Warrehn balançou, sua presença telepática exalando raiva,
descrença e confusão. Parecia ter sido atropelado por um caminhão, como se
esperasse que Samir dissesse que Dalatteya estava mentindo.
Com uma careta de dor, Samir olhou ao redor e sorriu.
— As pessoas estão olhando. Você deveria sorrir.
— Eu realmente não estou com vontade de sorrir agora, — Warrehn disse,
mas para surpresa de Rohan, ele forçou um sorriso fraco e torcido em seus
lábios. Seu corpo ainda estava rígido de tensão e raiva reprimida, mas ele estava
sorrindo.
Rohan olhou para o príncipe Samir com novos olhos, sem saber se ficava
satisfeito ou alarmado. Ele sempre desejou que seu amigo conhecesse alguém
que suavizasse suas arestas e servisse como uma influência calmante para ele,
mas ele não achava que essa pessoa deveria ser o filho de Dalatteya.
O príncipe Samir sorriu mais amplamente para Warrehn e
cuidadosamente colocou a mão no cotovelo de Warrehn.
— Venha. Caminhe comigo.
— Samir, — Dalatteya disse bruscamente, mas seu filho a ignorou e levou
Warrehn para a sacada mais próxima, deixando as pessoas olhando para eles e
sussurrando em seu rastro.
***
— Fora, — Warrehn disse categoricamente, e os três jovens conversando
na sacada correram para obedecer, murmurando Sua Majestade baixinho.
Seria divertido se não fosse tão exasperante - e se Samir não tivesse coisas
mais importantes com que se preocupar.
— Você tinha que ser tão rude? — Samir repreendeu baixinho quando as
portas da sacada se fecharam atrás dos jovens. — Eles vão fofocar.
Warrehn cruzou os braços sobre o peito e recostou-se na porta, seu rosto
bonito duro e implacável.
— Eu não me importo. Explique-se.
Samir se aproximou e colocou a mão no peito de Warrehn.
— War…
— Não, — Warrehn disse, um músculo flexionando em sua mandíbula.
— Não me toque.
Não deveria ter doído. Não deveria ter feito seu peito parecer vazio e
dolorido.
— Pare com isso, — Warrehn grunhiu, olhando para ele com uma
expressão tensa e amarga. — Você não tem o direito de parecer assim – tão
magoado – isso me faz... — Ele se interrompeu, irradiando frustração com cada
linha de seu corpo alto.
Mordendo o lábio, Samir passou os braços em volta de si.
— Mamãe me disse que a droga havia sumido do meu sistema há alguns
dias, — disse ele calmamente. — Eu pretendia dizer a você, eu realmente fiz.
Mas eu... — Ele parou, seu rosto ficando quente.
— Você o que?
Foda-se.
Samir deu um passo à frente e passou os braços ao redor da cintura de
Warrehn, ignorando seu olhar hostil.
— Eu disse para não me tocar, — Warrehn gritou, seu olhar uma mistura
de fúria e confusão cativante.
Samir queria muito beijá-lo.
Ele não. Em vez disso, ele colocou a cabeça sob o queixo de Warrehn e o
abraçou com mais força, ignorando as tentativas de Warrehn de desalojá-lo.
Não era nada como seus carinhos habituais na cama - era como abraçar uma
estátua indiferente - mas ainda lhe trazia algum conforto, sentindo o corpo
firme de Warrehn contra ele e cheirando seu cheiro.
— Pare com isso, — Warrehn disse concisamente. —Pare de fazer isso e
se explique.
— Este sou eu me explicando, — Samir disse no pescoço de Warrehn. —
Eu não podia desistir disso. Você me deixou viciado nisso, então é tudo culpa
sua.
Warrehn deu uma risada áspera.
— Você não pode esperar seriamente que eu acredite nessa explicação
ruim.
— Você vai ter que fazer isso, porque é a única que você vai conseguir. Eu
não tenho outra. Essa é a verdade.
— Eu não acredito em você, — Warrehn disse, mas seu corpo não estava
mais tão rígido e hostil como antes.
Samir esfregou o nariz na garganta de Warrehn.
— Você pode ler minha mente se não acredita em mim.
— Memórias e pensamentos podem ser forjados, — disse Warrehn.
Samir ergueu a cabeça.
— Não em uma fusão. Ouvi dizer que você não pode mentir em uma fusão.
Uma ruga profunda apareceu entre as sobrancelhas de Warrehn.
— Não, — ele disse secamente, seu tom final. — Eu não estou fazendo isso.
— Apesar de seu tom áspero, seu corpo relaxou ainda mais contra o de Samir,
suas mãos pousando na parte inferior das costas de Samir.
— Por que? — Samir disse com um pequeno sorriso. — Porque é muito
íntimo?
— Porque as fusões telepáticas são ilegais, — disse Warrehn. — Eu não
deixaria sua mãe me acusar de me fundir ilegalmente com você para me
prender e declarar impróprio para governar.
Samir piscou.
— Eu nem tinha pensado nisso, — disse ele, um pouco surpreso que tal
esquema tenha ocorrido a Warrehn primeiro. — Não estou conspirando com
minha mãe, Warrehn. Se eu estivesse, por que ela exporia que a droga sumiu de
nossos sistemas, me fazendo parecer um mentiroso? Ela está preocupada que eu
tenha me apegado a você.
Warrehn deu-lhe um longo olhar, seu olhar ilegível.
— Você está afirmando que você tenha? — Ele disse em uma voz cortada.
— Se apegado.
Samir mordeu o interior da bochecha, reunindo coragem. Ele sussurrou:
— Você está afirmando que não é? — Ele olhou incisivamente para a falta de
espaço entre eles, para os braços de Warrehn ao seu redor, antes de encontrar o
olhar de Warrehn. — Nos últimos dias, não era a droga, Warrehn. Fomos nós.
Você e eu. Nada mais.
A garganta de Warren funcionou. Suas mãos na parte inferior das costas
de Samir flexionaram.
— Eu não - eu não posso confiar em você.
Samir sentiu uma onda esmagadora de tristeza. Seus olhos estavam de
repente queimando.
Isso era desesperador. Ele sempre soube o quão sem esperança essa coisa
entre eles era, mas isso o atingiu de forma diferente agora. Eles nunca poderiam
ser nada, não importa o quão bom – quão certo – estar nos braços de Warrehn
fosse. A falta de confiança tornaria impossível qualquer relacionamento entre
eles, independentemente de seus sentimentos. Ele não podia culpar Warrehn por
não confiar nele; ele também não confiaria em si mesmo se a situação deles fosse
invertida. Sua mãe havia matado os pais de Warrehn e queria removê-lo do
trono e Samir não faria nada para ajudar Warrehn a provar sua culpa.
— Eu entendo, — disse Samir, tentando engolir o nó doloroso em sua
garganta.
Eles se olharam por um longo momento, e Samir de repente percebeu que
isso era um adeus. Esta foi a última vez que eles ficariam assim, tocariam assim.
Eles poderiam ter sido algo especial, algo grande, se não fossem as pessoas que
eram. Talvez em outra vida, eles teriam sido.
Com os olhos ardendo, Samir beijou Warrehn em sua barba por fazer,
suas pálpebras se fechando enquanto ele inalava profundamente.
— Fique seguro, — ele sussurrou, sua garganta doendo.
Os braços de Warrehn se apertaram ao redor de suas costelas ao ponto de
quase doer. Doeu de uma maneira que não tinha nada a ver com a dor física.
E então Warrehn o soltou. Sem olhar para Samir, ele abriu a porta e saiu.
Capítulo 20
Quando Samir voltou ao salão de baile, Warrehn já tinha ido embora.
Provavelmente era uma coisa boa; eles já haviam fornecido forragem suficiente
para fofocas. Samir manteve a cabeça erguida ao se aproximar de sua mãe.
Dalatteya era muito socialmente consciente para encará-lo abertamente, mas
ele podia sentir sua raiva através de seu vínculo familiar. Samir enfiou a mão no
cotovelo dela e a levou para fora do salão de baile.
Eles ficaram em silêncio no caminho para casa.
Eles ficaram em silêncio até chegarem ao escritório de Samir.
Assim que a porta se fechou atrás deles, Dalatteya explodiu.
— O que você estava pensando? Você tem alguma ideia de como foi ruim
quando você saiu do salão de baile com aquele homem e depois ficou sozinho
com ele na varanda depois que ele expulsou os outros convidados de lá? Se eu
não estivesse lá, sua reputação estaria em frangalhos!
Samir achou difícil se importar.
Ele se sentou em sua cadeira atrás da mesa e olhou para sua mãe cansado.
— Por que você fez isso? Eu mesmo teria dito a verdade a ele.
— Quando? — Dalatteya zombou. — Eu não sou cega, Samir. Eu vi o jeito
que você olha para ele. Ficou claro para mim que você estava ficando
inaceitavelmente apaixonado por aquele homem. Algo tinha que ser feito a
respeito. Eu fiz o que tinha que fazer. É para o seu próprio bem.
Samir fechou os olhos por um momento antes de abri-los e dizer com uma
voz medida e monótona: — Parabéns. Você conseguiu o que queria. Warrehn e
eu terminamos. — Ele segurou o olhar dela. — Agora me escute, mãe. Eu sei que
não posso impedi-la de tramar e tentar remover Warrehn do trono. Mas se você
machucá-lo fisicamente, se você arranjar sua morte, eu nunca vou te perdoar.
E se você fizer outra coisa para tirá-lo do trono, eu abdicarei. Então deixe-o em
paz.
Sua mãe o encarou.
— Oh, meu querido, — ela sussurrou finalmente, caminhando e
abraçando o corpo rígido de Samir em seu peito. Ela suspirou, tristeza enchendo
seu vínculo familiar. — Eu deveria ter matado aquele homem no momento em
que ele voltou. Ele não vale a pena, querido. Homens dessa família são
venenosos. — Sua voz falhou. — Você merece melhor, acredite em mim.
Os olhos de Samir arderam. Ele deixou as lágrimas caírem, deixando-as
molhar o vestido de sua mãe. Ele odiava, odiava a injustiça disso, odiava que
mesmo agora, ele não podia odiá-la. Ela era sua mãe. Ele sabia que tudo que sua
mãe tinha feito era por amor – às vezes equivocado – por ele. Bem, isso e seu
ódio pelo Rei Emyr.
— Ele não é seu pai, — ele sussurrou.
Os braços de Dalatteya ao redor dele endureceram.
— Talvez, — ela concedeu depois de um momento. — Mas ele é filho de
seu pai. E ele nunca vai esquecer isso. Ele nos despreza e quer sua vingança. Isso
nunca mudaria. A atração entre vocês desaparecerá com o tempo, e restará
apenas ódio, desconfiança e ressentimento. Você merece melhor, meu querido.
— Sua voz tornou-se melancólica. — Você merece amor que não seja tóxico.
Amor que não conhece ódio. Eu quero isso para você.
— Porque foi isso que você teve com o papai?
Sua mãe levou um momento para responder.
— Seu pai e eu compartilhamos profunda afeição um pelo outro.
Crescemos com nossas mentes intimamente conectadas desde que éramos
crianças. Não sabíamos o que significava não amar um ao outro. Mas mesmo
nosso relacionamento logo foi envenenado pela raiva e ressentimento causados
pelo meu envolvimento com o rei.
Samir franziu a testa.
— Certamente meu pai não a culpou pelo interesse doentio do rei em
você?
Sua mãe limpou a garganta um pouco.
— Foi... complicado. O que quero dizer é que desejo que você tenha o tipo
de amor que nunca tive: amor sem toxicidade. Amor que te traz felicidade. —
Ela enfiou os dedos no cabelo de Samir. — Na verdade, acho que está na hora
de encontrá-lo.
Samir se afastou de seu abraço e olhou para ela.
— O que?
Dalatteya sorriu, seus olhos se iluminando. Ela bateu palmas em excitação.
— Sim, que ideia maravilhosa! Por que não pensei nisso antes? Em minha
defesa, estávamos tão ocupados nos preparando para sua coroação que
encontrar um bom partido para você estava bem abaixo da minha lista de
prioridades, mas considerando todas as coisas, não há melhor momento do que
o presente! Anunciaremos que você está procurando um cônjuge amanhã, e
tenho certeza de que teremos uma abundância de pretendentes viúvos ou sem
companheiros, talvez até políticos de fora do mundo...
— Mãe, espere! — Samir disse fracamente, seu estômago revirando com
desconforto. — Eu não quero um cônjuge…
— Bobagem, — Dalatteya o ignorou, seus olhos brilhando loucamente de
uma forma que indicava que ela não desistiria de sua ideia, não importa o que
Samir dissesse. — Vou tomar providências imediatamente. Teremos que
informar o assessor de imprensa real...
— Mãe! — Samir estalou, seu tom áspero finalmente a fazendo olhar para
ele. — Eu não quero um cônjuge, — ele repetiu, mais suavemente. — Realmente
não.
Sua mãe suspirou.
— Querido, — disse ela, colocando a mão em seu ombro. — Isso é
exatamente o que você precisa, confie em mim. Eu quero que você seja feliz.
Você precisa esquecer a... a paixão que tem pelo filho de Emyr. E para isso, você
precisará fazer um esforço para conhecer outras pessoas. Um esforço para se
apaixonar por eles. Esqueça Warrehn’ngh’zaver. Ele não vale a pena. Se você
realmente importava para ele... — Ela inclinou a cabeça para o lado, olhando-o
cuidadosamente. — Se ele te amasse , ele nunca teria desistido de você só porque
sua mãe matou os pais dele e ele não confia em você.
— Só? — Samir murmurou. — Eu não posso acreditar que você é tão
irreverente sobre assassinar os pais dele.
Sua mãe deu de ombros.
— Talvez. Mas meu ponto é que seus sentimentos não são fortes o
suficiente. — Algo mudou em sua expressão. — Se eu matasse a família de Emyr,
isso não o faria desistir de mim. Eu sei disso para um fato.
Samir lançou-lhe um olhar cético.
— Mesmo se você estiver certa, isso não provaria que ele te ama. Isso só
provaria que ele está doente e você é a doença dele. O verdadeiro amor deve ser
baseado em confiança e apoio mútuos. — Ele engoliu em torno da espessura em
sua garganta. — Mas sim, em última análise, você está certa que Warrehn não
me ama. Ele se fez claro.
— Estou feliz que você entenda. Então, devo prosseguir com o anúncio?
Samir estremeceu.
— Mãe…
— Você me pediu para deixar Warrehn em paz. Atenderei ao seu pedido,
mas somente se você obedecer ao meu.
Samir franziu a testa, examinando o rosto de sua mãe. Ela parecia séria.
— Tudo bem, — disse ele com um suspiro.
Sua mãe sorriu, seus olhos brilhando com triunfo.
Samir já estava se arrependendo.
Capítulo 21
Warrehn estava de mau humor quando deixou seu escritório à tarde. Ele
estava em seu escritório desde a noite anterior, imaginando que poderia fazer
algo produtivo se não conseguisse dormir. Exceto que o dia tinha sido em grande
parte improdutivo. Tudo o irritou, e ele acabou assustando seus assistentes.
Ele ansiava por um pouco de paz e sossego em sua cabeça, mas não achava
que fosse possível, não quando ele estava tão agitado e com raiva. Ele nem sabia
com quem estava mais bravo: seu pai, Dalatteya, Samir ou ele mesmo.
Ela está preocupada que eu tenha me apegado a você.
As palavras se repetiam em sua cabeça, tornando difícil se concentrar em
qualquer outra coisa. Era perturbador o quanto ele queria acreditar nelas,
descartando todo o bom senso, e era duplamente perturbador, considerando que
a droga havia desaparecido de seu sistema. Ele havia verificado com o médico,
duas vezes. Ele não tinha ninguém para culpar por esses pensamentos obsessivos
além de si mesmo.
Warrehn parou abruptamente, franzindo a testa ao entrar no salão do
palácio. Estava cheio de flores e presentes, de todos os tipos e tamanhos.
— O que é isto? — Warrehn disse, examinando a sala com uma carranca.
— Os presentes são para o Príncipe Samir, Sua Majestade, — uma
empregada robô disse alegremente. — Ah, eles não são adoráveis?
Warrehn olhou para ela, perguntando-se quem havia pensado que era
uma boa ideia dar a um robô uma personalidade como esta, antes de caminhar
até a monstruosidade de flores mais próxima e pegar o bilhete.
Admiro você há muito tempo, e minha consideração por você não tem
limites. Espero que aceite meu pedido de namoro.
Zhangir’ngh’sekur
Com a testa enrugada, Warrehn arrancou outra nota, e depois outra. Eram
quase a mesma coisa: algumas bobagens floridas e ofertas de namoro.
— Porra, — Warrehn disse, esmagando a nota em sua mão. Ele olhou para
o mar de flores e mordeu o interior de sua bochecha com força, tentando
suprimir a vontade violenta de jogá-las todas fora e ordenar que os servos
fizessem o mesmo se recebessem mais.
Mas ele não tinha esse direito. O desastre das drogas acabou. Samir não
era nada para ele agora. Ele era pior do que nada. Ele era filho de seu inimigo.
Completamente fora dos limites. A feia possessividade em seu peito era apenas
o último efeito colateral da droga. Era. Tinha que ser.
— Por favor, coloque a nota de volta, — disse uma voz feminina familiar.
— Não gostaríamos que meu filho não as recebesse antes de escolher um esposo.
Warrehn se virou e forçou um olhar vazio em seu rosto. Ele não daria a
essa mulher a satisfação de ficar sob sua pele.
— Perdão?
Dalatteya sorriu.
— Ah, você ainda não ouviu? Anunciamos formalmente esta manhã que
a Casa de Lavette está aceitando propostas de casamento para Samir.
Warrehn olhou para ela, lutando para manter sua expressão neutra.
O sorriso de Dalatteya se alargou.
— Talvez eu devesse ter informado você pessoalmente. Afinal, como chefe
da Quinta Casa Real, será você quem entregará Samir no dia de seu casamento.
Warrehn nunca se sentiu tão tentado a bater em uma mulher.
— Dia do casamento, — ele repetiu.
Dalatteya assentiu cordialmente.
— Obviamente, como Samir não terá vínculo de infância com o
pretendido, os ritos de casamento serão mais simplificados do que os
tradicionais. Eu ainda planejo fazer disso um grande evento. — Ela olhou
Warrehn nos olhos. — Meu filho merece apenas o melhor.
Warrehn deu-lhe um olhar inexpressivo.
— Eu não sei o que esse seu novo esquema deve realizar, mas não tenho
intenção de jogar junto.
— Pode ser difícil de acreditar para um homem tão egocêntrico, mas nem
tudo é sobre você, Sua Majestade, — Dalatteya disse friamente, a pretensão de
genialidade se foi. — Não existe um “esquema”. Meu filho vai se casar em breve.
Isso não tem nada a ver com você. — Seu olhar se tornou positivamente gelado.
— Fique longe do meu filho e não estrague o futuro dele. Seu comportamento
ontem já gerou rumores suficientes - teria sido prejudicial se eu não estivesse lá
para lidar com o problema. Mantenha distância de Samir ou então...
Warrehn apertou os punhos cerrados atrás das costas.
— Eu aconselho você a não me ameaçar, senhora. Você está se esquecendo
de si mesma. Eu sou seu rei e você depende da minha generosidade. Samir é meu
súdito e membro da família real. Você não pode me dizer para ficar longe dele.
Se eu escolher ficar longe dele, será minha decisão, não sua.
Dalatteya olhou para ele com cuidado, inclinando a cabeça para o lado.
Ela realmente se parecia muito com Samir, apenas mais suave em sua aparência,
mas essa suavidade era muito enganosa. Os olhos de Samir eram mais gentis,
mais amáveis. Os de Dalatteya eram afiados como navalhas.
— Você o quer, — ela disse pensativamente. — É uma pena que eu não
tenha acreditado em Samir quando ele sugeriu te seduzir para te fazer abdicar.
O plano parecia estranho quando Samir o sugeriu, mas agora vejo que deveria
ter dado a ele mais tempo antes de expô-lo ontem.
O estômago de Warrehn se apertou, e foi uma luta manter seu rosto
impassível.
— Eu não acredito em uma palavra do que você diz, — ele disse
categoricamente. — Saia da minha frente.
Sorrindo, Dalatteya se virou e deslizou para fora da sala.
Quando ela se foi, Warrehn deu um soco no vaso mais próximo.
Ele quebrou, quebrando em centenas de pedaços.
***

Ele não queria acreditar em Dalatteya.


Ele disse a si mesmo que ela estava mentindo, apenas tentando irritá-lo
depois que ele apontou que ela não poderia mantê-lo longe de Samir se ele
quisesse o contrário.
Mas não importa o que ele disse a si mesmo, as palavras daquela mulher
continuaram envenenando seus pensamentos, fazendo-o duvidar de si mesmo
e duvidar de suas percepções. Duvide da sinceridade de Samir.
Embora tivesse dito a Samir que não podia confiar nele, a verdade
agravante era que Warrehn confiava. Ele sabia que não deveria confiar nele,
mas ainda estava convencido de que Samir não era como Dalatteya. Mas e se ele
estivesse apenas vendo o que queria ver? Era difícil acreditar que a pessoa que
se sentia tão bem em segurar em seus braços, com seus sorrisos adoráveis e
calorosos, não pudesse ser o que parecia, que pudesse estar tramando contra ele
pelas costas, mas Emyr provavelmente pensou o mesmo sobre Dalatteya.
Ele estava apenas se iludindo pensando que ele era mais esperto que seu
pai? Talvez ele estivesse repetindo os erros de seu pai. O pensamento era
angustiante.
Para piorar as coisas, duvidar da sinceridade de Samir não o impediu de
ficar extremamente irritado com os presentes que Samir continuava recebendo.
Warrehn nunca concordou com a noção de que o poder necessariamente
corrompe. Pelo menos ele nunca pensou que seria um daqueles homens que
usavam seu poder para controlar a vida de outras pessoas. Mas agora ele tinha
que reprimir ativamente o desejo de ordenar aos servos que jogassem fora cada
um daqueles presentes – e então trancar Samir em seu quarto e jogar a chave
fora.
Se eu não posso tê-lo, ninguém pode.
Seus próprios pensamentos o assustavam, mas ele não conseguia parar de
pensar merda como essa. Ele nunca experimentou essa mistura particular de
emoções: raiva, confusão, traição e possessividade tóxica que não o deixava
pensar com clareza.
Mesmo que Samir fosse uma coisa mentirosa e traidora, ele era de
Warrehn, de mais ninguém. Era a única verdade que sua mente não encontrou
uma maneira de emaranhar, independentemente dos sentimentos de raiva e
traição.
Warrehn soltou um suspiro e caiu para trás em seu assento, beliscando a
ponta de seu nariz.
Efeito colateral da droga ou não, essa possessividade tóxica era inaceitável.
Ele era o rei. Ele não deveria estar perdendo seu tempo mantendo o controle
sobre o que Samir estava fazendo ou quantos presentes ele estava recebendo em
vez de lidar com as centenas de outros assuntos infinitamente mais importantes
que exigiam sua atenção.
Samir era filho da mulher que havia assassinado sua família, e
possivelmente estava mentindo para ele e conspirando para removê-lo do trono.
Isso deveria ter sido o fim de tudo. Deveria ter acabado.
Fazia vinte horas desde a última vez que o vira.
Warrehn estava irritado consigo mesmo por saber disso. Era um mau
hábito que ele precisava quebrar. Não havia mais nenhuma droga alienígena
em seu sistema. Ele não tinha desculpa para esse comportamento obsessivo. Ele
deveria parar de pensar em Samir o tempo todo.
Infelizmente, era mais fácil falar do que fazer. A mera ideia de que Samir
estava pensando em se casar com alguém, que outra pessoa iria tocá-lo, beijá-
lo, abraçá-lo, tê-lo sob eles... era...
Warrehn praguejou baixinho e rolou a cadeira para longe da mesa,
desgostoso consigo mesmo.
— Maldito seja, — ele murmurou, ficando de pé e marchando para fora
da sala.
Ele pretendia ir para fora. Limpar sua cabeça com um pouco de ar fresco.
Mas então ele foi informado pela IA do palácio que Samir estava
entretendo os visitantes, e nenhuma quantidade de raciocínio racional poderia
ter impedido Warrehn de ir até lá.
— Sua Majestade o Rei, — a IA anunciou quando Warrehn entrou na sala
de estar.
Havia oito convidados do sexo masculino e três do sexo feminino.
Todos se curvaram a Warrehn - não, nem todos. A mulher marcante ao
lado de Samir permaneceu de pé, orgulhosa e equilibrada.
Reconhecendo-a, Warrehn acenou com a cabeça. Ele sabia que deveria
ter se curvado – essa era a etiqueta. Ela era a Rainha do Primeiro Grande Clã e
tinha precedência sobre todos os outros monarcas do planeta.
Warrehn mal olhou para o rosto dela. Seu olhar estava em sua mão
tocando o bíceps de Samir, seus dedos bem cuidados envolvendo-o
possessivamente. Ou pelo menos parecia possessivo aos olhos de Warrehn, mas
ele estava disposto a admitir que seu julgamento poderia estar um pouco
comprometido. Ou mais do que um pouco.
Levou-lhe um esforço incrível para não se aproximar deles e arrancar
Samir das garras da Rainha Kadira. Desde quando a Rainha Kadira estava
procurando um marido? Ela sempre disse que estava perfeitamente satisfeita em
ficar sozinha depois que seu marido morreu em um acidente. Ela também era
mais de vinte anos mais velha que Samir, mais próxima em idade de sua mãe,
embora a diferença de idade ainda não aparecesse. Ela ainda era linda.
Respirando fundo, ele desviou o olhar para o rosto de Samir. Olhos azuis
encontraram os dele, arregalados e um pouco cautelosos, mas muito suaves.
Muito lindo. Isso irritou Warrehn, a maneira como um olhar o desarmou
completamente e o fez querer olhar nos olhos de Samir como um tolo
apaixonado.
Dalatteya estava mentindo? Ele precisava saber.
— A hora social acabou, — disse ele, olhando para os convidados na sala.
Com os olhos arregalados, Samir lançou-lhe um olhar escandalizado.
— Hum, tenho certeza que Sua Majestade não quis dizer isso dessa forma.
— Eu quis dizer exatamente o que disse, — disse Warrehn. — Eu preciso
falar com você. Diga aos seus convidados para irem embora.
Ele caminhou até a janela e olhou para fora, esperando que todos saíssem
da sala. Ele podia ver em sua visão periférica que os convidados estavam
trocando olhares surpresos com sua grosseria. Ele não se importou. Eles não
tinham ideia de quanta contenção ele estava mostrando por não arrancar Samir
da Rainha Kadira e não chutar todos eles de uma maneira muito mais rude.
Quando o último hóspede finalmente deixou a sala, Samir fez um som
exasperado.
— Você está louco? Isso foi além de rude!
Warrehn se virou e se aproximou.
Ele não sabia qual era a expressão em seu rosto, mas a expressão de Samir
ficou cautelosa.
Ele parou na frente de Samir, seus rostos a apenas um palmo de distância,
e observou Samir engolir em seco.
— Rainha Kadira, hein? — Disse Warrehn. — É nojento. Ela tem a idade
da sua mãe.
Corando, Samir olhou para ele.
— Ela não tem. Ela tem apenas quarenta e seis. E isso não é da sua conta.
Era irritante como ele era bonito quando estava com raiva. Warrehn
queria envolver suas mãos em torno daquele pescoço pálido e adorável e
estrangulá-lo, por transformá-lo em um tolo obsessivo e possessivo que não
conseguia parar de desejá-lo mesmo que tivesse sido traído.
—Meu ponto se mantém, — disse Warrehn. — Ela poderia ter sido sua
mãe. Mas, novamente, você provavelmente gosta disso.
Samir estreitou os olhos.
— O que isto quer dizer?
— Já ouviu falar do complexo de Édipo? Você é um homem adulto que
ainda faz tudo o que sua mãe diz. Isso me faz pensar às vezes sobre seu
relacionamento com sua mãe.
Samir deu um soco nele. Warrehn pegou seu pulso e o empurrou para trás
das costas de Samir, puxando-os um contra o outro. Porra, ele queria empurrá-
lo de joelhos e enfiar seu pênis na garganta de Samir, Dalatteya e a possível
traição de Samir que se dane. Samir era dele. Dele, não de Dalatteya, não de
Rainha Kadira, ou de qualquer outra pessoa. Dele.
— Solta! — Samir estava quase cuspindo. — Como você se atreve, a
insinuar isso - que…
— Fique de joelhos.
Samir lançou-lhe um olhar meio incrédulo, meio furioso.
— Você está louco se você acha que eu vou chupar seu pau depois que
você acabou de insinuar que eu quero foder minha mãe. Mesmo se eu me casar
com a Rainha Kadira, isso não é da sua conta! Vou me casar com quem eu quiser.
— Fique de joelhos, — repetiu Warrehn. — Você vai ficar de joelhos e
chupar o pau do seu rei.
Samir corou novamente, seus lábios se abrindo. Seu olhar foi para a virilha
de Warrehn.
— Você não pode me obrigar, — disse Samir, sua língua rosada saindo
para lamber seus lábios carnudos, como se ele não tivesse ideia do que estava
fazendo com ele.
Ou talvez ele soubesse exatamente o que estava fazendo com ele. Talvez
sua aparência inocente fosse apenas uma fachada. Talvez ele fosse tão traiçoeiro
quanto Dalatteya, e Warrehn tinha sido um tolo, um tolo como seu pai. O
pensamento o deixou com raiva o suficiente para morder, — Eu não posso? Eu
sou seu rei. Não é seu dever servir ao seu rei?
As pupilas de Samir se dilataram, sua respiração acelerando.
— Eu... — Ele engoliu em seco. —A porta nem está trancada. Um dos
convidados pode voltar.
Uma onda desagradável de possessividade o fez resmungar: — Bom.
Ajoelhe.
Sua garganta se movendo, Samir olhou para Warrehn, antes de cair
lentamente de joelhos. Ele abriu a braguilha de Warrehn com dedos trêmulos, o
som obscenamente alto na sala silenciosa.
O pênis de Warrehn saltou de sua braguilha, vermelho e vazando. Samir
olhou para ele por um momento com olhos vidrados antes de se inclinar e
lamber a cabeça. Parecia o paraíso, mas Warrehn não queria falsa gentileza. Ele
queria foder aquela boca assim como Samir tinha fodido com ele.
Ele agarrou a cabeça de Samir com ambas as mãos e enfiou seu pênis em
sua boca.
Samir gemeu, engasgando com seu comprimento, e isso deixou Warrehn
absolutamente louco. Ele puxou e empurrou de volta, gemendo com o calor
escorregadio ao seu redor, e com raiva por querer tanto isso. Mas foi uma
felicidade, foder aquela boca doce e mentirosa aqui, a céu aberto, onde qualquer
um poderia encontrá-los e ver quem era o dono de Samir.
Quando ele olhou para baixo, viu que Samir estava com a braguilha
aberta e acariciando seu próprio pênis, rápido e desesperado enquanto Warrehn
fodia sua boca. Possível traição ou não, pelo menos ele estava gostando disso.
Puta. Prostituta. Traidor.
Seus olhos se encontraram, e Warrehn olhou para aqueles olhos
arregalados e adoráveis, todos os pensamentos desagradáveis esquecidos. Ele
queria cair de joelhos e adorá-lo, tomá-lo em seus braços e dizer-lhe o quanto
ele...
O quanto ele o amava.
Ele gozou, derramando profundamente na garganta de Samir.
Com as mãos tremendo, Warrehn puxou o zíper para cima e saiu da sala,
enlouquecido.
Capítulo 22
— E então sua prole teve a coragem de dizer que eu dependo da
generosidade dele! — Dalatteya fervia, andando pela sala. — Se não fosse por
Samir, se meu filho não se apegasse estupidamente a esse homem odioso, eu o
destruiria, mas agora minhas mãos estão atadas e sou forçada a fazer as pazes
com sua prole! — Ela parou de andar e colocou as mãos nos quadris. — Você
está mesmo me ouvindo?
Emyr cantarolou, seus olhos ainda em seu livro.
— Claro. Eu sempre te escuto. Você simplesmente não está dizendo nada
digno de nota. Eu esperava que isso acontecesse.
Ela estreitou os olhos, uma sensação de afundamento aparecendo em seu
estômago.
— Você esperava que isso acontecesse? — Ela disse lentamente.
Emyr ergueu o olhar, aparentemente entediado. Mas Dalatteya o conhecia.
Ela podia ver a expressão sutil de triunfo brilhando naqueles olhos azuis.
Ele encolheu os ombros.
Ela não foi enganada.
— O que você fez? — Ela disse, seu coração batendo mais rápido.
Emyr se recostou na cadeira e a observou por um momento.
— Uriel não cometeu um erro, — disse ele, observando-a como um
cientista observaria um rato de laboratório para uma reação. — Você ordenou
que ele usasse a droga que Uriel usou em nossos filhos.
Dalatteya balançou a cabeça.
— Isso é impossível. Garanto que me lembro perfeitamente das minhas
conversas com Uriel, e ele admitiu que cometeu um erro... — Ela se interrompeu,
olhando para Emyr. — Você mexeu com minhas memórias.
Emyr nem se deu ao trabalho de confirmar ou negar, apenas olhou para
ela com firmeza.
O estômago de Dalatteya se apertou. Então suas conversas sobre a droga
com Uriel... Elas aconteceram? Ela tinha tanta certeza que Uriel se desculpou
pelo erro. Ela tinha falado com ele?
— Por que? — Ela disse.
— Para proteger minha linhagem, — disse Emyr. — Eu sabia que você
mataria meu filho, mais cedo ou mais tarde, não importa o quão vigilante ele
fosse. A única solução era fazer com que Samir o quisesse vivo - você não
gostaria de aborrecer seu precioso filho. A droga os teria unido e dado ao
Warrehn algum tempo, no mínimo, e calculei que a probabilidade de eles se
apegarem era bastante alta, considerando que ambos são solitários e
desesperados por afeto, e seu filho é sem dúvida tão fraco e suave quanto seu pai
era. — Um pequeno sorriso curvou os lábios de Emyr. — Pare de olhar para
mim desse jeito, minha querida. Você deve permitir a um prisioneiro algumas
pequenas diversões. Arruinar seus planos de acabar com minha linhagem foi
apenas um pouco de diversão inofensiva.
— Você... — Dalatteya balançou a cabeça, zangada consigo mesma por
não esperar algo assim. Mesmo preso e quase impotente, Emyr ainda era um dos
homens mais perigosos que ela já conheceu. Tinha sido tolice dela pensar que
poderia controlá-lo completamente. — Você mexeu com a minha mente. Como
eu sei que você não está fazendo lavagem cerebral em mim?
Ela sentiu uma onda de amargura através de seu vínculo. Olhando para
os pulsos, Emyr disse categoricamente: — Você garantiu que minha telepatia
fosse tão limitada que seria impossível, mesmo que eu quisesse. Substituir
algumas memórias e colocar armadilhas mentais protetoras é uma coisa;
lavagem cerebral é outra. Se eu pudesse fazer uma lavagem cerebral em você,
eu simplesmente teria feito você gostar do meu filho ou feito você deixá-lo em
paz. Eu teria feito você me libertar. Mas infelizmente eu tive que trabalhar com
o poder limitado que tenho. — Ele suspirou. — Pare de olhar para mim como se
eu fosse o monstro aqui. Fica bem cansativo, meu amor. Você dificilmente tem a
moral elevada, quando tudo que fiz foi proteger meu filho de ser assassinado
por você.
Dalatteya riu.
— Por favor. Você não se importa com seu filho, Emyr. Tudo o que importa
é que sua linhagem continue e você odeia a ideia do filho de Aslehn tomar seu
trono.
Um músculo trabalhou na mandíbula de Emyr.
— Não fale o nome desse homem, — ele disse calmamente.
Ela zombou e se virou, sabendo que isso só enfureceria Emyr.
Depois de alguns momentos, ela o ouviu deixar o livro de lado e se
levantar.
Então ela o sentiu atrás dela, seu corpo alto e poderoso pressionando
contra suas costas enquanto seus braços fortes envolviam sua cintura como um
torno. Ela detestava como parecia certo. Que era perfeito.
Emyr roçou os lábios em seu pescoço.
— Eu não sou como você, — disse ele. — Eu nunca entendi por que você
se importava tanto com o pirralho daquele homem. Eu certamente não me
importava com os filhos que tive com minha esposa. Eu não contribuí para a
criação deles além de me masturbar em um copo, então não sei por que deveria
amá-los.
Dalatteya sabia disso. Ela sabia que Emyr nunca havia dormido com a
rainha consorte, razão pela qual a mulher odiava tanto Dalatteya. Verdade seja
dita, Dalatteya quase teve pena dela. Ela não podia imaginar estar ligada a um
homem que nem sequer olharia para ela, muito menos a beijaria ou a tocaria –
estar ligada a Emyr que não a queria. Dalatteya teria pena dela se a mulher não
tivesse tentado envenená-la várias vezes e não tivesse quase matado Samir por
engano. O comportamento da rainha era duplamente irracional, considerando
que ela não tinha direito a Emyr além de um documento que dizia que ele era
dela. Ele nunca foi dela. Emyr se casou com ela porque precisava. Dalatteya sabia
que era a única mulher em sua cama desde que ele tinha dezoito anos.
A mão de Emyr embalou seu estômago possessivamente. Ele beijou seu
pescoço novamente e disse com a voz rouca: — Eu amaria meus filhos se fossem
seus e meus.
Ela estremeceu. Não foi a primeira vez que Emyr expressou esse
pensamento ao longo das décadas, mas ela sempre se recusou a parar de tomar
seus anticoncepcionais. Quando seu marido estava vivo, o pai de seu filho teria
sido imediatamente óbvio, já que ela raramente compartilhava a cama de
Aslehn. Ela se recusou a fazer Aslehn sofrer a ofensa adicional de vê-la grávida
do filho do rei.
Mas uma parte dela sempre se perguntou como teria sido ter um filho de
Emyr, ter qualquer filho. Samir era o produto de uma gestação artificial em um
centro genético, e embora ela o amasse mais do que tudo, ela ainda gostaria de
tê-lo sob seu coração. Mas ela foi privada disso, porque ela sabia que Emyr
nunca permitiria que ela ficasse grávida do filho de outro homem – ele se
ressentia da existência de Samir como era.
— Meu médico disse que eu não sou mais fértil, então você pode parar de
alimentar esses pensamentos, — Dalatteya disse friamente, como se a notícia
não tivesse sido um pouco desanimadora para ela.
— Ele disse? — Emyr murmurou, arrastando sua boca quente sobre seu
pescoço, sua orelha, suas grandes mãos deslizando para amassar seus seios. —
Então você parou de tomar suas injeções?
— Eles não são mais necessários, — ela disse, ofegando quando ele
beliscou seus mamilos.
— Elas nunca foram necessários, — disse ele, mordendo o lóbulo de sua
orelha e colocando-a entre as pernas.
Ela gemeu e não resistiu quando ele a inclinou sobre a mesa e levantou
suas saias.
Capítulo 23
Emyr’ngh’zaver
(18709-18750)
Um rei carinhoso, um marido e pai amoroso
Que você descanse em tranquilidade
O túmulo de seu pai estava no centro do cemitério real, entre os outros
monarcas falecidos de seu clã. Ao contrário do costume, o túmulo da rainha
consorte não ficava ao lado do de Emyr. Warrehn se lembrava vagamente de ter
pensado nisso quando tinha dez anos, mas naquela época estava muito
consumido pela dor para fazer perguntas sobre quem havia dado a ordem de
enterrar a falecida rainha em uma parte diferente do cemitério.
Ele tinha a sensação de que sabia quem. Seria como Dalatteya mantê-los
separados mesmo na morte.
Warrehn sentou-se no banco em frente ao túmulo e olhou para o perfil
orgulhoso de seu pai sem expressão. Ele ainda se lembrava daquele dia tão
claramente. A “notícia trágica”. As “minhas condolências, Alteza”. O rosto pálido
de Dalatteya com olhos arregalados e desfocados, os lábios torcidos em uma
expressão estranha que parecia algo entre um sorriso e um soluço. Sua mão
segurando firmemente a pequena mão de Samir.
Sua infância havia terminado naquele dia.
— Eu me pergunto quais foram seus últimos pensamentos, — Warrehn
disse calmamente. Ao contrário da rainha consorte, Emyr não morreu
instantaneamente. Ele ficou em coma por um curto período de tempo, com
apenas Dalatteya ao seu lado enquanto ele morria em uma cama de hospital. —
Você ao menos percebeu que ela o traiu? A mulher que você amou?
A mulher por quem o filho, Warrehn, estava apaixonado.
O pensamento era tão enlouquecedor como tinha sido a primeira vez que
lhe ocorreu.
Ele não podia amar Samir.
Mas ele fez.
Ele não podia confiar em Samir.
Mas ele fez. Independentemente de suas dúvidas, no fundo, seu eu
obcecado se recusava a acreditar que Samir era tão traiçoeiro quanto sua mãe.
Ele pode estar pirando por causa de Samir, mas paradoxalmente, ele queria
segurá-lo em seus braços para se sentir melhor. Sua mente estava sempre calma
e em paz quando ele tinha Samir enrolado em seus braços.
Ele se perguntou se Emyr sentia o mesmo por Dalatteya.
— Maldito seja, pai, — Warrehn disse com uma risada rouca. — Eu jurei
que não repetiria seus erros, mas aqui estou eu.
Ele se endireitou quando de repente se lembrou do pensamento fugaz que
passou por sua mente: Dalatteya estava ao lado da cama de Emyr quando ele
morreu. Eles estavam sozinhos.
O coração de Warrehn começou a bater mais rápido. Porra, por que ele
não tinha pensado nisso antes? Emyr estava em coma, supostamente morrendo,
mas o que dizer que não era outra mentira e Dalatteya não o havia matado
enquanto eles estavam sozinhos?
Ele teria que procurar nos feeds de segurança do hospital. Os hospitais
nunca excluíam as imagens de segurança, arquivando os vídeos caso fossem
necessários em processos de negligência médica - eles só poderiam ser excluídos
por um decreto especial do Conselho.
O que significava que ele poderia finalmente encontrar provas dos crimes
de Dalatteya.
***
Ter acesso às imagens de segurança de vinte anos atrás não era fácil nem
mesmo para um rei. Warrehn teve que ir pessoalmente ao hospital em que Emyr
morreu, para intimidá-los a conceder-lhe acesso.
Finalmente, após duas horas frustrantes de verificações de segurança, ele
foi autorizado a entrar nos arquivos.
— Você poderá ver apenas as imagens que dizem respeito à sua família
imediata, Vossa Majestade, — o técnico o lembrou timidamente. — Os vídeos
são protegidos e você não poderá excluir nenhum deles sem um decreto especial
do Conselho. Você pode copiar alguns arquivos - o sistema detectará
automaticamente se você está autorizado a fazê-lo.
Warrehn deu um aceno curto.
— Estou ciente, — disse ele. — Você pode ir.
Uma vez que estava sozinho nos arquivos, Warrehn caminhou até o
holoterminal e digitou a data da morte de seu pai.
Como havia um filtro que o impedia de ver vídeos de outras pessoas, não
demorou muito para encontrar as imagens de segurança do quarto de hospital
de Emyr.
Seu pai havia sido cremado, como era costume. Warrehn não tinha visto
seu corpo - os médicos desaconselharam, dizendo que a visão não era adequada
para uma criança de dez anos.
Agora ele entendia o que eles queriam dizer.
Warrehn mordeu o interior da bochecha, olhando para o corpo na cama
do hospital. Ele mal podia ver seu pai sob as bandagens ensanguentadas. Seu
braço direito estava totalmente ausente. Seu rosto tinha se saído melhor do que
o resto dele, mas mesmo seu rosto tinha queimaduras e cortes desagradáveis. Os
médicos saíram da sala um a um, balançando a cabeça e falando em voz baixa,
dizendo que não havia chance de recuperação e que a morte do rei era uma
questão de tempo agora.
Quase o fez desligar o vídeo. Ficou claro que era improvável que Dalatteya
tivesse feito alguma coisa com Emyr no hospital: o homem deitado naquela cama
não precisava de nenhuma ajuda adicional para morrer.
Mas quando Warrehn estendeu a mão para desligá-lo, Dalatteya entrou
no quarto do hospital.
— Minha senhora, você não deveria estar aqui, — disse o médico que
ficou no quarto.
Ela nem olhou para ele, seus olhos no homem na cama do hospital.
— É ele…? — Ela sussurrou.
O médico suspirou.
— Sinto muito, minha senhora. Fizemos tudo o que podíamos. Mas os
ferimentos de Sua Majestade eram muito graves quando ele foi trazido para cá.
Não havia um único órgão que não estivesse gravemente danificado, metade de
seus órgãos já havia falhado. É francamente incrível que ele ainda esteja vivo. É
apenas uma questão de tempo agora. Eu sinto muito.
— Deixe-me a sós com ele.
O médico abriu a boca e a fechou antes de assentir e sair.
Dalatteya caminhou até a cama, seu rosto pálido desprovido de qualquer
expressão enquanto seus olhos percorriam o corpo mutilado do rei. Ela se
envolveu com os braços e Warrehn notou que suas mãos tremiam. Talvez ela
estivesse nervosa que alguém adivinhasse que ela estava por trás do ataque
terrorista.
Ela sussurrou algo, quase inaudível. Warrehn franziu a testa e,
aumentando o volume, escutou novamente.
— Olhe para você, — ela sussurrou. — Olha como você está patético.
Emyr’ngh’zaver. Como os poderosos caíram. Você não é nada além de ossos e
sangue. Você perdeu. Você... você... Você nunca pensou que eu tivesse isso em
mim, não é? Mas eu ganhei. Eu estou livre. Eu estou... estou...
O bipe do monitor cardíaco tornou-se errático – e então parou,
estremecendo.
Imediatamente, os médicos correram, mas pararam.
— O que está acontecendo? — Dalatteya exigiu, com os olhos arregalados.
— Por que você não está fazendo nada?
O médico mais próximo dela disse: — O rei está morto, minha senhora.
Dalatteya olhou para ele inexpressivamente, como se não pudesse
entender o significado de suas palavras, antes de sua cabeça virar para o corpo
e depois para os outros monitores.
— Mas- este ainda está ativo! — Ela disse, apontando para o monitor que
ainda mostrava alguma atividade. — Ele não pode ser - ele não pode está…
— É um psi-monitor, minha senhora, — explicou o médico. — Isso mostra
a atividade cerebral dele. A mente de um Calluvian morre por último.
Normalmente, quanto mais poderoso um telepata, mais tempo sua mente
permanecerá, mesmo que seu corpo esteja morto. O rei era um telepata
poderoso. Sua atividade cerebral provavelmente não cessará por algum tempo
ainda. — O médico abaixou a cabeça. — Sinto muito por sua perda, minha
senhora.
Dalatteya apenas olhou para o corpo de Emyr, seu rosto desprovido de
qualquer emoção. Ela permaneceu imóvel como uma estátua enquanto os
médicos saíam do quarto.
Então, um barulho horrível saiu de sua garganta, algo entre um soluço e
um engasgo.
Warrehn olhou para ela, intrigado. Por que ela ainda não estava
abandonando o ato? Não havia ninguém lá.
Ele observou confuso quando Dalatteya levantou a cabeça de repente, seus
olhos brilhando, como se uma ideia lhe ocorresse. Ela pegou seu comunicador e
disse: — Uriel, preciso que você pegue algo para mim agora. Vou mandar uma
mensagem para você o que eu quero. — Ela digitou algo, sua expressão resoluta.
Então ela colocou o comunicador de volta na bolsa e tirou uma tesoura de
manicure.
— O que você está fazendo? — Warrehn murmurou enquanto a
observava cortar algumas mechas do cabelo de seu pai e escondê-lo em seu
corpete.
Então ela caminhou até o monitor de atividade psi e olhou para ele com
um olhar vazio de mil jardas. Sua garganta continuava balançando, como se ela
estivesse engolindo alguma coisa – ou lutando para respirar. Caso contrário, sua
expressão permaneceu assustadoramente vazia.
Finalmente, um homem de jaleco de médico entrou no quarto. Warrehn
franziu a testa, reconhecendo o atual chefe de segurança de Dalatteya, Uriel. Por
que ele estava disfarçado de médico? Por que ela o chamou?
— Minha senhora? — Uriel disse, olhando ao redor nervosamente. —Eu
consegui adquirir o que você pediu, mas você tem certeza? Se formos pegos, será
uma sentença de prisão perpétua...
— Vá ao trabalho, — Dalatteya disse sem emoção, ainda olhando para o
psi-monitor. — Não temos muito tempo.
Uriel parecia muito insatisfeito com seu pedido, mas ele não discutiu e
tirou algum dispositivo da maleta que trouxera.
Sua carranca se aprofundando, Warrehn olhou para o dispositivo
desconhecido. Algo puxou sua memória - talvez ele tivesse visto em algum lugar
- mas não clicou até que Uriel colocou o dispositivo no ponto telepático de Emyr.
Warrehn praguejou elaboradamente, atordoado e furioso em igual
medida. Então, aparentemente, não foi o suficiente para Dalatteya matar seus
pais, ela também teve que roubar a mente de Emyr também.
Esse dispositivo - o vórtice mental - era proibido em Calluvia por um
motivo. Foi inventado há milhares de anos, quando um rei moribundo do Nono
Grande Clã decidiu enganar a morte e transplantar sua mente para a de um
corpo jovem e clonado. Seguiu-se um pesadelo legal: o clone tinha o direito de
governar ou o herdeiro do rei deveria herdar? A disputa legal se transformou
em uma longa, confusa e sangrenta guerra civil que quase destruiu todo o clã.
Depois, o Conselho dos Grandes Clãs proibiu o vórtice mental: usá-lo em pessoas
comuns era vinte anos de prisão, e usá-lo em membros da nobreza e da realeza
era uma sentença de prisão perpétua para todos os envolvidos – e os clones não
podiam governar ou herdar. Os plebeus ricos ainda usavam o dispositivo: o que
eram vinte anos de prisão comparados a uma segunda vida? Mas realeza? Não
havia sentido,
Até que aparentemente Dalatteya tinha feito isso vinte anos atrás.
Por quê?
Warrehn lutou para pensar em uma razão.
— Minha senhora, — Uriel tentou novamente. — Por favor, repense isso...
— Não, — Dalatteya disse, seus olhos brilhando. — Faça como eu digo. Eu
preciso dele, preciso de sua mente. Vai ser útil, você vai ver. Seu conhecimento
é inestimável.
Na tela, a atividade psi de Emyr cessou.
Dalatteya fez um barulho de soco, seus olhos vidrados enquanto ela
cambaleava em seus pés, balançando um pouco.
Warrehn franziu a testa, perguntando-se se ela havia compartilhado
algum tipo de vínculo mental com Emyr.
— Você... você conseguiu terminar a transferência? — Ela resmungou.
— Sim minha senhora.
Dalatteya fechou os olhos e assentiu.
— Vamos, — ela disse sem emoção. — Precisamos sair antes que os oficiais
do palácio cheguem.
Uriel olhou direto para a câmera, engolindo em seco.
— Mas e as imagens de segurança, milady? Eu não vou conseguir limpá-
las.
Os ombros de Dalatteya ficaram tensos antes de relaxar novamente.
— Os vídeos são automaticamente bloqueados pela privacidade. Apenas
sua família imediata pode acessar os arquivos. E esses seriam os filhos de Emyr,
e eles são crianças. Não deve ser um problema.
— E se o filho mais velho começar a fazer perguntas e desejar ver os
últimos momentos de seu pai?
Os lábios de Dalatteya se estreitaram.
— Se isso acontecer, nós vamos lidar com isso.
Warrehn balançou a cabeça. Tantas coisas faziam sentido agora. Todos
esses anos, ele se perguntou por que Dalatteya decidiu matá-lo quando ele
começou a fazer perguntas sobre as circunstâncias da morte de seu pai. Por que
ela tinha medo de uma criança? Mas isso finalmente fez sentido. Warrehn era
o único além de Eri de três anos que poderia acessar este vídeo, que era uma
prova inegável da culpa de Dalatteya, mesmo que fosse de um crime diferente
do que Warrehn esperava.
Não importava. Esta filmagem seria suficiente para prendê-la por todas as
coisas que ela tinha feito.
Warrehn inseriu um holochip no terminal e pressionou “Copiar”.
Capítulo 24
Warrehn havia considerado fazê-lo publicamente no início. Havia um
certo grau de satisfação em ter a cadela presa em um ambiente público, na frente
de centenas de testemunhas oculares, e ter sua imagem pública impecável
arruinada.
Mas ele relutava em arejar a roupa suja deles na frente da quadra. Detesto
ter que mostrar a todos os últimos momentos de seu pai, a forma como ele foi
profanado mesmo depois de sua morte. Não importava que o clone
provavelmente estivesse morto há décadas; o fato de Dalatteya ter
temporariamente dado à mente de Emyr um novo corpo para torturar
informações dele era... Isso revirou o estômago de Warrehn. Seu pai dificilmente
fora perfeito, mas mesmo ele não merecia aquele destino. Ninguém merecia.
Então ele enviou mensagens para todas as pessoas relevantes para virem
ao seu escritório.
Eridan foi o primeiro a chegar.
— O que está acontecendo, War? — Ele disse, roçando sua presença
telepática contra a dele em um abraço mental. — Sua mensagem foi confusa.
Warrehn tinha sido vago de propósito quando mandou uma mensagem
para Eridan. Ele não queria que nada vazasse prematuramente - ele não
confiava nas pessoas no High Hronthar - mas seu irmão merecia estar presente,
pois a mulher que havia assassinado seus pais e que era responsável pelo ataque
a eles seria finalmente presa por seus crimes.
— Encontrei provas, — disse ele.
Os olhos de Eridan se arregalaram.
— Sério?
Warrehn assentiu, mas antes que qualquer um deles pudesse dizer
qualquer coisa, a porta se abriu e Fariz anunciou a chegada do Lorde Chanceler.
Ksar entrou, acompanhado por dois policiais.
— Obrigado por vir, — disse Warrehn. Ele não teria se ofendido se Ksar
tivesse se recusado a lidar com o caso: ele sabia que Ksar estava saindo para
umas férias tão esperadas com seu marido mais tarde naquele dia. Estar
envolvido em um caso tão complicado era provavelmente a última coisa que ele
precisava antes de sua partida. Estritamente falando, Ksar era um pouco
superqualificado para isso - qualquer funcionário de alto escalão do Ministério
teria bastado -, mas Warrehn queria ter certeza de que o funcionário do
Ministério encarregado do caso não estava no bolso de Dalatteya. Ele não queria
deixar nada ao acaso. Ksar era o Lorde Chanceler do planeta e um futuro rei do
Segundo Grande Clã; não havia um homem mais poderoso no planeta fora de
Idhron. Ele certamente não estava no bolso de ninguém, e ele provou ser um
aliado no passado.
— Tenho apenas uma hora no máximo, — disse Ksar, acenando em
resposta à saudação de Eridan antes de seus olhos prateados focarem em
Warrehn. — Você tem certeza que quer fazer isso? Será confuso e desagradável
para todos os envolvidos quando a notícia se espalhar.
Warrehn deu um aceno curto. Independentemente do escândalo que se
aproximava, ele não podia deixar o assassino de seus pais continuar livre.
A porta se abriu e Dalatteya entrou - seguida por Samir.
Com o coração batendo mais rápido, Warrehn desviou o olhar, sabendo
que se encontrasse os olhos de Samir, não seria capaz de se concentrar em mais
nada e pensar racionalmente. Ele já estava distraído, seu corpo ciente de cada
movimento de Samir.
Não seja um tolo. Ele é filho de Dalatteya. O filho da mulher que você está
prendendo. Mesmo que ele não te odeie agora, ele irá, em muito pouco tempo.
— Qual o significado disso? — Dalatteya disse friamente. — Eu não sou
uma serva para ser chamada sem qualquer explicação. — Um lampejo de
confusão e cautela apareceu em seus olhos quando ela notou a presença dos
policiais e Ksar. — Sua Alteza Real, — ela disse com uma graciosa reverência.
— Eu não sabia que você chamou por nós.
— Não é uma visita social, —disse Warrehn. — Sentem. Todos vocês.
Quando todos se sentaram, Warrehn disse, olhando para Dalatteya:
— O Lorde Chanceler está aqui na qualidade de funcionário do Ministério
para registrar e apresentar as acusações contra você, como é o procedimento.
Eu poderia ter ido ao Conselho com isso, mas sei que você tem muito apoio lá e
não confio neles para fazer justiça.
Nem um único músculo se moveu no rosto de Dalatteya, mas sua presença
telepática se enrolou com força, emanando ansiedade.
— Eu não tenho idéia do que você quer dizer.
Em sua visão periférica, Samir se mexeu. Reprimindo a vontade de olhar
para ele, Warrehn olhou para Ksar.
— Você está gravando?
Ksar deu um aceno de cabeça, tocando o chip em seu pulso.
Warrehn olhou de volta para Dalatteya, sentindo uma onda de satisfação
sombria quando algo como pânico apareceu em seus olhos.
Enquanto isso, Ksar disse: — Dalatteya’il’zaver, você é acusada de
múltiplos assassinatos, traição, fraude, cinco tentativas de assassinato e o uso de
vórtice mental no rei falecido, Emyr’ngh’zaver.
Dalatteya empalideceu. Houve vários suspiros na sala, e o olhar de
Warrehn foi para a direita de Dalatteya. Samir estava olhando para sua mãe,
seus lindos olhos arregalados e confusos.
Veja, ele é inocente, seu eu obcecado imediatamente argumentou.
Fazendo uma careta interiormente, Warrehn desviou o olhar. Agora não
era hora de agir como um tolo apaixonado. Se Samir sabia ou não do vórtice
mental era irrelevante e não provava sua inocência. Ele era uma criança naquela
época; é claro que ele não estava envolvido. Não significava nada e não
significava que ele não estivesse envolvido nos outros planos de Dalatteya.
— Esta é a coisa mais ridícula que eu já ouvi! — Dalatteya disse,
levantando-se de um salto. — Eu não vou ouvir esse absurdo!
— Sente-se, senhora, — disse Ksar, sua voz como gelo. Quando ela se
sentou com relutância, ele disse: — As acusações não são infundadas. O
Ministério recebeu uma prova conclusiva de seu uso de um vórtice mental. —
Ele tocou seu pulso e um holovídeo da filmagem de segurança que Warrehn
havia recuperado apareceu no ar.
Warrehn não olhou para ele. Ele observou as reações dos outros. Eridan
pareceu enojado quando viu o vórtice mental, o rosto de Ksar estava impassível
e Samir... Samir se virou para olhar para sua mãe com uma expressão de horror
crescente em seu rosto.
— Mãe... — ele sussurrou com a voz rouca, balançando a cabeça. —Como
você pôde ser tão estúpida? Tão imprudente? Isso é uma sentença de prisão
perpétua!
Dalatteya apertou os lábios com força e não disse nada, seu olhar vazio.
Derrotado. Seus olhos permaneceram na imagem do corpo morto e mutilado de
Emyr.
Warrehn ficou de pé e se aproximou dela.
— O que você fez com isso?
— Isto? — Ela repetiu inexpressivamente.
— O clone. Você sequer o enterrou depois de torturar as informações que
queria dele?
Ela olhou para o corpo de Emyr e não disse nada.
Levantando-se também, Ksar quebrou o silêncio.
— Acabou, senhora. As outras acusações contra você serão investigadas,
mas o uso do vórtice mental por si só é motivo para prisão imediata. Seu chefe
de segurança também será preso, assim que for encontrado. —Ele olhou para os
policiais. — Prendam-na.
Dalatteya não resistiu, ainda olhando para o cadáver de Emyr.
— Não, — Samir engasgou quando sua mãe foi algemada. — Não! — Ele
se virou e agarrou as mãos de Warrehn. — Por favor, — disse ele com a voz
rouca, olhando para ele com olhos brilhantes. — Warren. — Ele caiu de joelhos
e sussurrou: — Estou te implorando.
— Levante-se, Samir, — disse Dalatteya bruscamente. — Você está acima
de implorar - especialmente implorando para esse homem.
Samir a ignorou, olhando para Warrehn suplicante, ainda de joelhos.
— Por favor. Ela é minha mãe.
Warrehn desviou o olhar e encarou os oficiais boquiabertos, protegendo
Samir de sua visão com seu corpo.
— Todos para fora, — ele ordenou, antes de empurrar um pensamento
para Ksar, Certifique-se de que eles não falem e as notícias não se espalhem
ainda.
Ksar deu um breve aceno de cabeça e saiu da sala, seus homens seguindo
com Dalatteya. Eridan permaneceu, olhando para eles por um momento, antes
de sair também.
E então eles estavam sozinhos. Ele e o homem que amava - e cuja mãe ele
acabara de condenar à prisão perpétua.
Capítulo 25
Samir nunca se sentiu tão desesperado. Desesperado e assustado. Sua mãe
foi presa. E o uso de um vórtice mental era uma sentença de prisão perpétua,
sem possibilidade de apelação. Ela ia passar o resto de sua vida em um dos
planetas-prisão, aqueles lugares horríveis e cheios de doenças que usavam os
prisioneiros como mão de obra gratuita nas minas. Ele não conseguia imaginar
sua mãe delicada e graciosa em um lugar como aquele, entre os piores tipos de
criminosos. Com sua aparência, seria um inferno. Ela seria estuprada
diariamente.
— Levante-se, — disse Warrehn, sem olhar para ele.
Samir procurou em seu rosto duro um indício de bondade e misericórdia.
Ele não conseguiu encontrá-lo.
— Não faça isso, War. Por favor.
Warrehn finalmente olhou para ele, um músculo saltando em sua
bochecha.
— Não, — ele disse rudemente. — Ela não vale suas lágrimas. Ela é uma
assassina sem coração, sem princípios.
— Ela é minha mãe — sussurrou Samir, apertando as mãos de Warrehn
com as suas. — Ela era tudo que eu tinha enquanto crescia.
— E ela é a razão pela qual minha mãe está morta, — Warrehn disse
categoricamente, sem olhar para ele. — Ela é a razão pela qual meu pai foi morto
e torturado mesmo depois de sua morte. Ela é a razão pela qual meu irmão
cresceu em um lugar miserável como o Alto Hronthar, sozinho. Ela é a razão de
eu não ter uma família.
O coração de Samir se apertou ao captar o pensamento disperso que
Warrehn involuntariamente projetou.
— Eu sei que ela fez coisas ruins, — ele respirou, inclinando sua testa
contra a coxa dura de Warrehn e fechando seus olhos ardentes. — Eu sei disso,
e sinto muito. Eu realmente sinto muito. Mas não consigo deixar de amá-la. Para
mim, ela era a melhor mãe do mundo. Ela sempre esteve lá para mim.
Ele respirou fundo, tentando recuperar a compostura, mas nunca se sentiu
tão trêmulo e incerto. Ele ansiava por sentir a mão de Warrehn em seu cabelo,
seus braços ao redor dele, mas Warrehn estava muito rígido contra ele. Pelo
menos ele não o estava afastando.
— Você me perguntou o que aconteceu com meu companheiro de ligação.
Eu vou te contar o que aconteceu. — Samir mordeu o lábio inferior com força.
— O vínculo de infância de Malik comigo era um tanto falho. Não reprimiu seus
impulsos sexuais. Quando completamos treze anos, ele começou a ser...
insistente. Eu disse que não, disse que estava desconfortável, mas ele só foi
ficando mais insistente com o passar dos anos. Quando tínhamos quinze anos,
fomos fazer uma caminhada nas montanhas. E ele começou... ele começou... você
sabe. — Warrehn endureceu ainda mais. Samir exalou trêmulo. — Eu disse que
não, mas ele não quis ouvir. Eu o empurrei de cima de mim. — Ele engoliu o nó
na garganta. — Ele cambaleou para trás e caiu da borda. Foi um acidente, eu
juro! Eu não queria matá-lo. Mas eu fiz. Eu o matei.
— Samir, — Warrehn disse, colocando a mão na cabeça, sua voz áspera.
— Ele mesmo trouxe isso. Foi legítima defesa. Foi um acidente.
— Mamãe disse a mesma coisa, — disse Samir, incapaz de olhar para ele.
Porra, o que ele não daria para estar embrulhado nos braços de Warrehn e
apertado com força, para sentir aquela maravilhosa sensação de seguro-
protegido. — Fiquei inconsolável após a morte de Malik. Ele era meu melhor
amigo. Nós crescemos juntos. Sentir nosso vínculo se romper fisicamente
quando ele caiu da montanha foi... —Samir teve que engolir novamente. — Eu
perdi isso. Chorei por dias. Eu não queria sair da minha cama ou comer ou
beber. Minha mãe literalmente me dava comida na boca, cantava canções de
ninar para mim e me segurava como se eu fosse um bebê. Se não fosse por ela,
eu nunca teria me recuperado. E se não fosse por ela, eu teria sido exposto como
um assassino, assim como minha mãe.
— Você não é um assassino, — Warrehn disse, seu tom duro. — Foi
legítima defesa. As ações de Dalatteya foram feitas a sangue frio. Ela matou não
apenas seu agressor, mas uma mulher inocente – e depois tentou matar crianças.
— Ela fez isso por mim, Warrehn, — Samir disse suavemente. — Tudo
que minha mãe fez foi feito por mim. Mesmo a morte do rei... tenho certeza de
que ela nunca o teria matado se não estivesse com medo pela minha vida.
— O que? Não faz sentido.
— Sim. Mamãe me disse uma vez que o rei Emyr era doentiamente
possessivo com ela e odiava que ela tivesse um filho com outro homem, que ele
odiava minha existência e o amor dela por mim. Acho que depois que Emyr
matou meu pai, ela começou a temer pela minha vida também.
— Você está lendo demais nisso. Dalatteya o odiava e o queria morto. Isso
é o fim.
Samir ergueu a cabeça e encontrou seus olhos azuis.
— Tenho certeza que minha mãe o amava. Era um amor tóxico e doentio
- ela o odiava e o amava. Ele era o centro de seu mundo de qualquer maneira. E
ela o entregou por mim.
Warrehn riu, balançando a cabeça.
— Isso é ridículo. Ela o odiava.
— Eu gostaria, — disse Samir, pensando em como sua mãe parecia vazia
e quebrada quando viu o cadáver do rei no vídeo. — Você não viu o jeito que
ela olhou para o corpo mutilado de Emyr? Não era o olhar de alguém que o
odiava. Acho que a morte dele foi uma punição suficiente para ela.
Um sulco profundo apareceu entre as sobrancelhas de Warrehn, mas ele
claramente não estava convencido.
Samir suspirou e ficou de pé. Imediatamente, ele sentiu muito mais frio. E
tão sozinho.
A mão de Warrehn se moveu em direção a ele, e Samir sentiu um lampejo
desesperado de esperança de que ele seria tocado, segurado e esmagado
naqueles braços.
Mas Warrehn colocou as mãos na mesa atrás dele e agarrou a borda com
força, sua mandíbula apertada. Ele olhou para Samir por um momento.
— Sua mãe me disse que você estava planejando me seduzir para me
convencer a abdicar.
O estômago de Samir despencou. Ele estremeceu e balançou a cabeça.
— Foi ideia dela. Eu disse a ela que nunca iria funcionar. Ninguém
desistiria do trono por alguma luxúria básica. Você teria que ter sentimentos por
mim. Tipo, sentimentos profundos. — Ele sorriu torto. — O que é obviamente
ridículo.
Algo mudou nos olhos azuis de Warrehn.
— Mas você ainda concordou com o plano.
— Não, eu não fiz, — disse Samir, fazendo uma careta. — Bem, eu tentei,
muito brevemente, no começo, mas você viu através de mim. — Ele franziu a
testa. — É por isso que você estava tão bravo ontem? — Ele ficou aliviado.
Embora a coisa toda tenha sido excitante, Warrehn nunca o tratou tão
cruelmente antes. Saber que ele estava com raiva porque ele pensou que Samir
o havia traído foi... foi um alívio.
— Você acha que eu não tinha o direito de ficar zangado quando o homem
em que estou... — Warrehn se interrompeu e desviou o olhar.
Samir olhou para ele, seu coração começando a bater mais rápido. Ele...?
— Warren? — Ele disse suavemente.
Sua expressão se contraiu, Warrehn olhou para ele, então desviou o olhar
novamente, sua mandíbula trabalhando.
— Eu queria te odiar, — ele disse finalmente, sua voz apertada e áspera.
— Você é filho de Dalatteya. Isso é tudo que você deveria ter sido.
Samir deu um passo mais perto.
— War? — Ele disse, levantando a mão e tocando a bochecha barbada de
Warrehn. Seus dedos estavam instáveis, ele se sentiu quase tonto pela louca
esperança que o percorria. — Você…?
— Eu deveria te odiar, — Warrehn disse, pegando seus dedos com sua
mão maior e beijando seus dedos um por um, sua boca quente e reverente.
Um pequeno ruído escapou da boca de Samir. Ele engasgou, pressionando
os dedos trêmulos contra os lábios de Warrehn.
— Eu não deveria confiar em você, — Warrehn disse, seu outro braço
envolvendo a cintura de Samir e esmagando-o contra ele. Samir choramingou,
sua mente ficando felizmente vazia quando a sensação de seguro-perfeito-
protegido que tanto desejava estava de volta.
— Eu não deveria, — disse Warrehn, enfiando a cabeça de Samir sob o
queixo e abraçando-o com força. — Mas eu faço, maldito seja. — Ele enterrou
o rosto no cabelo de Samir. — Eu sei que é irracional. Não tenho provas de sua
lealdade. Mas eu odeio ver você chateado. Eu odeio ver suas lágrimas. Elas me
fazem sentir culpado por prender sua mãe, mesmo que ela mereça cem vezes
mais. Você não tem ideia do quanto isso fode com a minha cabeça – o quanto
você me fodeu e mudou minhas prioridades.
Samir não conseguia respirar. Ele sentiu como se seu coração estivesse
prestes a explodir em seu peito. Ele embalou o rosto de Warrehn com as mãos e
o beijou com força, derramando tudo no beijo. Sinto muito, mãe, pensou ele,
com os olhos ardendo. Mas eu o amo. Eu o amo muito. Ele estava farto de estar
em negação. Se ele ainda podia se sentir assim por um homem que sentenciou
sua mãe a um destino pior que a morte, só poderia ser amor.
E se ele não podia salvar sua mãe, pelo menos ele podia salvar esse
sentimento frágil e precioso entre eles.
Tomando a mão de Warrehn, Samir a moveu para seu ponto telepático.
— Por favor, — ele disse contra a boca de Warrehn. — Faça isso. Junte-
nos.
Warrehn ficou rígido contra ele, suas respirações se misturando.
— Você não tem ideia do que está pedindo. Fundir comigo é perigoso.
Você não tem experiência. Eu sou um telepata Classe Seis, Samir.
Samir congelou e se afastou um pouco, olhando para ele com os olhos
arregalados. Ele suspeitava que Warrehn fosse forte, mas achava que era um
Quatro, talvez um Cinco no máximo. Um Seis era... ele poderia causar muitos
danos a Samir em uma fusão se fosse descuidado.
Ele não acreditava que Warrehn seria descuidado.
— Eu confio em você, — ele disse, segurando o olhar de Warrehn. —Eu
quero que você confie em mim também.
A expressão de Warrehn suavizou. Ele sorriu para ele, o sorriso o tornando
incrivelmente bonito.
— Eu não preciso de uma fusão para confiar em você. Esse é o problema.
Samir se sentiu um pouco sufocado. Ele passou os braços ao redor do
pescoço de Warrehn e sorriu para ele, sentindo-se tão embriagado que por um
momento não soube o que dizer.
— Eu insisto. Quero que nos conheçamos no nível mais profundo. Não
quero que você se sinta mal por confiar em mim. Não quero que haja nem
sombra de dúvida.
Warrehn o estudou um pouco antes de assentir.
— Avise-me se você estiver desconfortável, tudo bem?
Samir deu um pequeno aceno de cabeça e fechou os olhos quando a mão
de Warrehn tocou seu ponto telepático abaixo de sua orelha.
Ele não sabia o que esperar. Ele tinha ouvido que as fusões telepáticas eram
incrivelmente esmagadoras. Ele tinha ouvido que elas eram muito invasivas, até
mesmo perturbadoras.
Mas não foi nenhuma dessas coisas.
Era como sentir a brisa fresca no rosto depois de um dia longo e cansativo.
Era como entrar em sua cama macia e confortável depois de mal dormir por um
mês. Foi como voltar para casa.
Ele estremeceu de prazer ao sentir Warrehn deslizar cada vez mais fundo
em sua mente. Ele podia sentir cada emoção de Warrehn, e ele sabia que
Warrehn estava sentindo a dele, então ele se abriu, sem vergonha e faminto por
mais, faminto por este homem de maneiras que iam além da necessidade física.
Quando Warrehn finalmente alcançou seu núcleo telepático, Samir se ouviu
gemer – era tão bom que ele não conseguia nem descrever. Warrehn acariciou
seu núcleo, mais rápido e mais profundo, até que sentiu como se tivesse
explodido em um milhão de pedaços, o prazer tão intenso e diferente de
qualquer outro que ele sentiu antes, e continuou e continuou.
Ele não sabia quanto tempo havia passado quando ele recuperou sua
capacidade de pensar. A fusão parecia menos intensa agora, mas não menos
viciante: ele podia sentir Warrehn tão intimamente que era como se fossem uma
pessoa. Ele podia sentir o quão solitário Warrehn tinha sido toda a sua vida, o
vazio dentro dele que ansiava por algo para chamar de seu. Uma família. Algo
que havia sido roubado dele.
Isso deixou Samir incrivelmente triste – e incrivelmente emocionado e
honrado quando percebeu que ele era a única coisa que Warrehn considerava
sua agora. A única pessoa que preenchia o buraco dentro do peito de Warrehn
e o fez sentir-se em paz.
E Eridan? Samir perguntou suavemente através da fusão.
Ele é de Idhron, respondeu Warrehn. Você é meu.
Havia tanta força nesse sentimento que fez Samir estremecer. Seu, ele
confirmou, embora desnecessário: Warrehn podia sentir tudo o que sentia e
sabia o quanto gostava da ideia. Deveria ser assustador, desnudar sua alma e
mente dessa maneira para outra pessoa. Não era. Ele gostava de ser vulnerável,
gostava de ser vulnerável com esse homem, a confiança absoluta, a onda de
medo e depois a aceitação, o “eu vejo você”.
Sinto muito, disse Warrehn. Sobre sua mãe. Agora entendi, mas...
Eu sei, disse Samir. Ele agora entendia também, tendo sentido a dor de
Warrehn como a sua. Samir amava sua mãe, mas Warrehn também amava sua
própria mãe, a bela mulher de cabelos dourados com olhos tristes e carrancudos.
Essa mulher poderia ter tentado matar Dalatteya e não sentiu nada além de
maldade em relação a ela, mas ela tinha sido uma boa mãe. E ela merecia justiça.
Eu entendo, War. Está bem.
Não estava bem, não realmente, mas Warrehn sabia o que ele queria dizer
e o envolveu em um abraço mental apertado que espelhava o abraço físico que
ele estava lhe dando. Samir suspirou, agarrando-se a ele, triste e feliz. Pelo
menos eles tinham um ao outro. Eles sempre iriam.
— Sua Majestade? Sua Majestade!
Warrehn soltou a mão do ponto telepático de Samir e a fusão se rompeu.
Samir fez um barulho de soco, sentindo-se desorientado e muito sozinho
em sua cabeça. Felizmente, os braços ao redor dele o aterraram, e ele exalou,
relaxando e abriu os olhos.
A primeira coisa que viu foram os olhos azuis de Warrehn. Havia
preocupação neles, mas havia uma nova suavidade e calor também.
— Tudo bem? — Warrehn disse calmamente, acariciando suas costas.
Samir assentiu, sorrindo. Ele estava mais do que bem.
Mas então ele franziu a testa, notando o céu escuro do lado de fora da
janela atrás de Warrehn. Como foi possível? Era de manhã.
— Perdemos muito tempo na fusão, — explicou Warrehn, acariciando as
costas distraidamente. Suas sobrancelhas estavam franzidas em perplexidade.
— Acontece às vezes, embora nunca tenha acontecido comigo antes.
— Vossa Majestade, — a IA disse novamente.
— O que é? — Warrehn disse com um suspiro irritado, seu olhar ainda
em Samir.
— Houve uma ligação do Ministério. Disseram que era urgente.
Warrehn trocou um olhar com Samir, e Samir deu de ombros, sem saber
o que pensar.
— Eles deixaram uma mensagem?
— Sim sua Majestade.
— Toque, — Warrehn disse, roçando seus lábios contra a têmpora de
Samir.
— Um momento, Vossa Majestade.
Um holograma apareceu no ar. Era um homem vestindo o uniforme do
Ministério.
— Vossa Majestade, Dalatteya’il’zaver escapou.
Capítulo 26
Warrehn não achou graça nessa reviravolta.
— Como isso é possível? — Ele rosnou, entrando na sala de segurança do
Ministério. — Ninguém estava guardando ela?
Samir o seguiu até a sala, tocando seu pulso levemente com as pontas dos
dedos. O toque o acalmou instantaneamente, aliviando sua frustração.
— Havia, Sua Majestade, — disse um oficial, curvando-se para eles. —
Sou o oficial Marrat, encarregado da investigação. O prisioneiro teve ajuda
externa. Olhe. — Voltando-se para as inúmeras telas, ele passou um dos vídeos,
ampliando-o.
No vídeo, dois homens em capas com capuz entraram no corredor do lado
de fora da cela de Dalatteya. Os três homens que guardavam a cela se viraram
bruscamente, pegando suas armas, mas pararam, fazendo barulhos
estrangulados e agarrando suas gargantas freneticamente, como se estivessem
sufocando.
Parecia ser o mais alto dos dois homens: ele deu um passo à frente, com a
mão cerrada. Os guardas foram perdendo a consciência um por um.
Warrehn franziu a testa, observando a cena. Algo puxou sua memória, e
ele levou um momento para lembrar por que isso parecia familiar. Eridan tinha
esse talento também - o talento de sufocar as pessoas com sua vontade quando
estava com raiva. Era um dom telepático extremamente raro, mas o homem que
o fazia definitivamente não era Eridan: ele era alto, seu manto escuro com capuz
não escondia a largura de seus ombros e sua construção muscular. Algo em sua
postura era vagamente familiar para Warrehn, mas ele não conseguia
identificar.
— Eles estão mortos? — O outro homem encapuzado disse. Warrehn
reconheceu sua voz. Era Uriel.
— Isso importa? — Disse seu companheiro, pegando um cartão-chave do
guarda e abrindo a cela. Ele entrou, Uriel o seguindo.
— Um momento, — disse o oficial Marrat, mudando para outra câmera.
Este mostrou Dalatteya em sua cela.
Ela estava sentada em sua cama em um uniforme de prisão simples, seu
cabelo longo e sedoso um forte contraste com a monotonia cinzenta de seus
arredores. Ela estava olhando para o chão sem expressão, seu rosto pálido e seus
olhos brilhando com lágrimas.
Samir respirou fundo, emanando angústia.
Warrehn pegou sua mão. Samir exalou, apoiando seu ombro no de
Warrehn. O oficial Marrat olhou para eles com curiosidade, mas desviou o olhar
quando Warrehn lhe deu um olhar inexpressivo.
No vídeo, a porta da cela se abriu e Dalatteya ergueu o olhar. Sua boca se
abriu enquanto ela olhava para o homem encapuzado.
— Sinto muito, minha senhora, — Uriel disse rapidamente, entrando na
cela também. — Sei que desafiei suas ordens, mas não sabia mais o que fazer!
Fui perseguido pelas autoridades e mal consegui chegar ao esconderijo. Ele me
convenceu de que poderia me ajudar a libertar você.
Lentamente, Dalatteya se levantou. E então seu rosto se contorceu e ela
estava correndo em direção ao homem encapuzado. Ele a pegou e a abraçou
com força, seu pequeno corpo desaparecendo nas dobras de sua capa escura.
— O que no mundo... — Samir sussurrou, olhando para a cena em
perplexidade. — Que é aquele?
Warrehn compartilhou sua confusão.
Mas então ele endureceu, olhando para as costas do homem enquanto
uma suspeita se formava em sua mente. Parecia muito estranho, mas…
— Existe outro ângulo da câmera? — Ele disse com a voz rouca. —
Mostre-me o rosto do homem.
— Um momento, Sua Majestade, — disse o oficial Marrat, digitando
alguns comandos no terminal.
O vídeo piscou, mostrando as costas de Dalatteya.
— Shh, você está bem, meu coração, — o homem disse, acariciando suas
costas suavemente. Ele levantou a cabeça de seu cabelo, seus olhos azuis
brilhando com fria determinação. — Eu não vou deixar ninguém tocar em você.
Samir respirou fundo. Warrehn olhou para o rosto do homem.
— Isso é... — Oficial Marrat disse fracamente.
Warrehn suspirou, considerando as implicações disso.
— Parece que você estava certo, — disse ele, apertando os dedos de Samir.
— Sua mãe o amava, afinal de contas.
Samir assentiu, observando sua mãe agarrar-se ao homem que ela dizia
odiar – o homem que deveria estar morto.
— Você conseguiu descobrir o paradeiro deles? — Warrehn disse,
olhando para o oficial Marrat.
O homem estremeceu e disse: — Não. É inexplicável. Eles deveriam ter
sido pegos pelas câmeras depois de sair do prédio, mas é como se eles tivessem
desaparecido no ar. Mas não se preocupe, Sua Majestade, eu tenho todas as
câmaras T, módulos TNIT e espaçoportos em alerta máximo. Caso tentem usar
qualquer meio de transporte, serão presos imediatamente.
Warrehn balançou a cabeça.
Samir olhou para ele.
— Você não acredita que eles serão pegos?
Sorrindo sem humor, Warrehn puxou-o para fora da sala.
— Estamos lidando com um clone de Emyr’ngh’zaver, — ele disse
ironicamente. — Aquele que tem todas as suas memórias e habilidades.
— E? — Samir disse, parecendo confuso.
— Meu pai e eu nunca fomos próximos, — disse Warrehn, caminhando
em direção à câmara T mais próxima. — Ele nunca teve tempo para mim
quando eu era criança. Mas me lembro da única ocasião em que ele me sentou
e me ensinou política. E sabe qual foi a lição dele? Que eu deveria sempre pensar
no futuro e ter planos de contingência considerando todas as possibilidades, não
importa o quão improvável. — Ele bufou baixinho, perguntando-se se Emyr foi
responsável por sua preciosa Dalatteya matando-o e depois retrocedendo e
dando a ele um corpo clonado quando ela percebeu que não poderia viver sem
seu relacionamento tóxico. — Tenho poucas dúvidas de que ele conseguirá tirá-
los do planeta. Conhecendo-o, eu ficaria surpreso se ele não levasse em conta a
possibilidade de Dalatteya ser presa e sua existência ser descoberta.
— Você está muito calmo sobre isso, — disse Samir, olhando para ele com
confusão e curiosidade em seu olhar enquanto eles entravam na câmara-t.
— Quinto Palácio Real, ala oeste, — disse Warrehn ao computador depois
de verificar sua identidade. — Eu não estou calmo, — ele disse quando eles
chegaram. Ele acariciou o pulso de Samir com o polegar. — Acho que estou
aliviado.
— Aliviado? — Samir disse, seguindo-o para fora da câmara em seu
palácio.
Warrehn puxou-o para perto.
— Sim, — disse ele, acariciando a bochecha de Samir. Porra, ele cheirava
tão bem. — Ainda acho que sua mãe deve responder por seus crimes – é justo –
mas também não quero que você seja infeliz por causa dela. Desta forma, está
fora das minhas mãos. O que quer que aconteça, aconteceu. Talvez o clone de
Emyr e Dalatteya sejam presos amanhã. Ou talvez eles se instalem em algum
planeta paradisíaco e vivam sua versão fodida de felizes para sempre. De
qualquer forma, está fora de nossas mãos. É estranhamente libertador. — Ele se
afastou para olhar Samir nos olhos. — Podemos ser apenas nós mesmos, sem a
bagagem de nossos pais e o passado confuso.
A expressão de Samir ficou mais suave.
— Só nós? — Eele disse em um tom de admiração, seus longos cílios
vibrando enquanto ele piscava.
Porra, ele era tão cativante. Tão malditamente adorável. Warrehn podia
olhar para ele o dia todo. Agora ele entendia a obsessão obstinada de Emyr por
Dalatteya. Ele sentiu que seus sentimentos por Samir poderiam rapidamente se
transformar em uma obsessão tóxica que destruiria todo o resto se ele não
pudesse tê-lo - ou tivesse que compartilhá-lo com outro homem. O mero
pensamento era doentio. Não, ele não deixaria isso acontecer.
— Só nós, — Warrehn disse e o beijou.
Samir estava sorrindo contra seus lábios.
— Eu te amo, — ele sussurrou, envolvendo seus braços ao redor do
pescoço de Warrehn.
Warrehn já sabia disso. Ele sentiu isso em sua fusão. Mas ouvir isso fez seu
coração parecer grande demais para o peito. Era uma sensação estranha e
estranha: felicidade. Ele tinha esquecido como era.
— Case comigo, — disse ele.
Samir piscou, seus lábios se abrindo em surpresa. Então, ele riu, seus olhos
brilhando.
— Você está se movendo um pouco rápido demais, Sua Majestade, não
acha?
Não é rápido o suficiente.
Warrehn puxou-o para mais perto.
— Não vejo sentido em esperar. Eu não vou deixar ninguém ter você.
Podemos muito bem torná-lo oficial.
Samir riu.
— Você é impossível. Não é assim que as coisas são feitas em nossa
sociedade.
— Eu não me importo.
Rindo, Samir revirou os olhos.
— Estou bem ciente disso. Tenho certeza de que a Rainha Kadira nunca
foi dispensada da sala até conhecer você.
Ele era tão bonito quando ria.
— Isso é um não? — Warrehn disse, querendo beijá-lo novamente.
A risada de Samir se transformou em um sorriso gentil.
— Deveria ter sido, mas você deve ter me contagiado, seu homem
impossível.
Warrehn o abraçou com força, enterrando o rosto no pescoço de Samir.
Ele respirou fundo, tentando controlar suas emoções. Quase parecia que ele
estava muito feliz, que isso era bom demais para ser verdade. Coisas boas não
aconteciam, não com ele. Havia um medo irracional de que isso também fosse
tirado dele.
— Você me faz sentir demais, — disse ele no pescoço de Samir. — Isso me
assusta pra caralho. — Porque ele não sabia o que teria feito se Samir dissesse
que não se casaria com ele, se Samir não fosse dele para amar, se o companheiro
de Samir ainda estivesse vivo. Ele queria pensar que era um homem melhor que
seu pai, mas... A verdade era que ele não sabia. O que Emyr tinha feito com
Dalatteya e seu marido era doentio, mas Warrehn não tinha certeza de que
ficaria melhor se tivesse que assistir Samir com outro homem. E isso o assustou.
Talvez Dalatteya estivesse certa, afinal. Talvez os homens de sua família fossem
realmente muito tóxicos e obsessivos.
Ele sentiu os dedos de Samir em seu cabelo, acariciando-o suavemente.
— Olhe para mim, War.
Ele levantou a cabeça.
Os olhos de Samir eram muito gentis quando ele pegou a mão de Warrehn
e entrelaçou seus dedos.
— Ninguém vai me tirar. Sou seu. Eu nunca vou te deixar, eu não quero
te deixar nunca. — Ele sorriu, apertando os dedos de Warrehn. — Nós já
estabelecemos que eu sou o pegajoso neste relacionamento.
Seria embaraçoso ser tão transparente, mas não havia julgamento no olhar
de Samir: apenas compreensão e amor.
Warrehn se inclinou para frente e o beijou com força, derramando suas
emoções nele. Eu quero você, eu preciso de você, eu te amo.
Quando eles finalmente quebraram o beijo, eles apenas se olharam por
um momento antes de Samir sorrir.
— Vamos chocar Ayda, vamos? Ela vai gritar conosco.
— Você quer dizer, para você, — disse Warrehn, rindo. — Eu sou o rei.
Ela não pode gritar comigo.
Samir riu.
— Quer apostar?
Warrehn bufou e não disse nada, satisfeito em ouvir e observar seu lindo
rosto enquanto Samir especulava sobre a reação de Ayda.
Warrehn sabia que não seria tão fácil. Quando as notícias sobre Dalatteya
chegassem à imprensa, eles estariam sob muito escrutínio, Samir mais do que
ele. A última coisa que eles precisavam era convidar mais se eles se casassem
logo. Sua equipe de relações públicas sem dúvida teria muito a dizer sobre o
assunto. Embora normalmente Warrehn não desse a mínima para as opiniões
das pessoas, ele não queria que Samir fosse condenado ao ostracismo pelas
coisas que sua mãe tinha feito, então ele estava preparado para ouvir os
conselhos de Ayda sobre isso. Se ela lhe dissesse para esperar com o casamento,
ele esperaria. Ele faria muito mais do que isso para proteger o que era seu.
— Você está quieto, — disse Samir, olhando para ele. Sobre o que você
está pensando?
— Você, — Warrehn disse honestamente.
O sorriso de resposta de Samir foi a coisa mais linda que ele já viu.
— Quem é você e o que aconteceu com meu mal-humorado Warrehn?
Warrehn pensou no homem amargo e miserável que chegara ao palácio
há tantos meses. Sentia-se um homem completamente diferente.
— Você aconteceu, — disse ele simplesmente, puxando-o para perto.
Porra, ele não conseguia segurá-lo perto o suficiente.
Samir sorriu para ele.
— Eu sabia que você era um idiota enrustido, — disse ele, e o beijou.
Warrehn estava sorrindo ao retribuir o beijo.
Talvez coisas boas tenham acontecido com ele.
Coisas muito boas.
Epílogo
Um ano depois
O planeta tinha quatro luas.
Afundando no sofá do pátio, Dalatteya olhou para o céu noturno. A vista
era muito bonita, ela tinha que admitir. Ela tinha dúvidas sobre se estabelecer
em um planeta que fazia parte da União, mesmo que fosse um planeta Fringe,
mas Emyr não se mexeu: ele era uma criatura confortável demais para residir
em um planeta pré-TNIT sem qualquer ligação com a civilização. Dalatteya
também não estava exatamente ansiosa para abrir mão do acesso à GlobalNet,
então ela não lutou muito com ele, não importando seu desconforto.
Mas já fazia um ano e ninguém os havia encontrado ainda. Talvez Emyr
estivesse certo e o planeta fosse remoto o suficiente para que seu povo não se
importasse com alguns foras-da-lei Calluvianos. De qualquer maneira, ela
aprendeu a apreciar este planeta.
O som de passos a deixou tensa antes que ela os reconhecesse e relaxasse.
Ele se acomodou no sofá ao lado dela e passou o braço em volta dos ombros
dela, acariciando o lado de seu rosto.
— Olhando as estrelas? — Ele murmurou.
Ela cantarolou, inclinando-se para ele. Ela odiava o quanto ela desejava
seu toque, mas dadas as circunstâncias, provavelmente não era surpreendente.
Ele era tudo o que ela tinha, agora que seu filho estava fora de seu alcance.
A pior parte era que parte dela se sentia perfeitamente satisfeita com ele
sendo seu mundo inteiro e ela sendo dele. É assim que deve ser, uma voz
sussurrou no fundo de sua mente.
Dalatteya tentou esmagá-la. Ela não queria se perder nele completamente.
Ela não confiava em Emyr, especialmente desde que ele mostrou o quão astuto,
engenhoso e manipulador ele poderia ser mesmo quando ele estava preso com
sua telepatia limitada. Agora ele andava neste planeta como um homem livre,
indo e vindo como bem entendesse. Ela não tinha ideia do que ele estava fazendo
quando deixava sua casa à beira-mar para suas viagens à cidade mais próxima.
Isso a desestabilizou. E a inquietava que ela não pudesse respirar direito até que
ele voltasse.
Deuses, ela se desprezava às vezes. Ela precisava de algo mais para ocupá-
la, antes que ela pudesse se tornar completamente dependente dele. Mais
dependente do que já era.
— Eu tenho notícias, — disse ele, entregando-lhe seu multi-dispositivo.
Franzindo o cenho, Dalatteya ligou a tela e respirou fundo.
— Devo dizer que não é do jeito que eu pensei que teríamos netos, — disse
Emyr secamente. — Mas pelo menos meu filho mais velho herdou meu
excelente gosto, pelo menos no que diz respeito à aparência.
Ela olhou para o filho na foto. O pulso de Samir estava amarrado ao de
Warrehn com uma fita, e eles estavam sorrindo um para o outro. Era
inconfundível o que a foto mostrava, mesmo sem a manchete proclamando que
o rei Warrehn”ngh”zaver havia se casado com o príncipe Samir”ngh”lavette.
Dalatteya franziu os lábios, sem saber o que sentir. Por um lado, ela não
gostava de Warrehn e detestava a ideia de que o homem que era a razão de ela
ser uma fugitiva se tornara o esposo de Samir. Por outro lado, ela estava aliviada
que o futuro de seu filho estava agora garantido. Dalatteya estava bem ciente de
que o escândalo em torno dela havia prejudicado a posição política de Samir por
associação. Então, objetivamente, isso foi uma boa notícia.
Subjetivamente, ela se sentiu mais do que um pouco de coração partido
por não estar presente no casamento de seu único filho e provavelmente nunca
conheceria os filhos de Samir. Talvez fosse seu castigo. Talvez ela merecesse.
Suspirando, Emyr a puxou com mais força contra ele.
— Essa autoflagelação não combina com você, Latteya.
— Uma mãe pode se lamentar quando não pode comparecer ao
casamento de seu único filho.
Emyr cantarolou evasivamente e colocou a mão proprietária em seu
estômago.
— Ele não será o filho único por muito mais tempo.
Ela congelou, e então virou a cabeça para ele.
Seus olhos azuis estavam sorrindo.
— Estou surpreso que você não tenha percebido isso sozinha.
Dalatteya engoliu em seco, sua mente correndo.
— Isso é - isso é - como você sabe? — Seus períodos tinham sido muito
irregulares nos últimos anos até que finalmente pararam completamente mais
de um ano atrás, ou assim ela havia assumido.
— Já posso senti-lo, — disse Emyr com um sorriso suave. — Você não
pode?
Dalatteya sentiu uma explosão de euforia - e então uma onda de desespero
esmagador.
— Não podemos ter um filho quando somos ambos criminosos
procurados, — disse ela com a voz rouca, fechando os olhos. — Eu não vou
deixar meu filho crescer em tais circunstâncias, vivendo para sempre com medo
de ser pego e seus pais serem levados.
— Dalatteya. Olhe para mim.
Ela abriu os olhos.
O olhar de Emyr estava mortalmente sério quando ele disse: — Eu não vou
deixar nenhum mal acontecer a nenhum de vocês.
Ela estremeceu, acreditando nele instintivamente e se odiando por isso. Ela
abriu a boca para dizer que ele não poderia dar tal promessa, mas ele colocou
um dedo em seus lábios, parando-a
— Nosso filho não terá que viver com medo. Já fiz todos os preparativos.
— Ele tirou duas fichas do bolso.
A respiração de Dalatteya ficou presa.
— É aquele…?
— É, — disse Emyr, estudando as fichas com um brilho de satisfação em
seus olhos. — Idhron finalmente conseguiu novas identidades para nós. A partir
de hoje, somos cidadãos cumpridores da lei deste planeta.
Ela endureceu.
— Idron? E por que o Alto Adepto do Alto Hronthar está nos ajudando a
infringir a lei?
Emyr suspirou, desviando o olhar antes de olhar para ela com uma
expressão apaziguadora.
— Apenas lembre-se de ficar calma, tudo bem, bichinho? Você precisa
pensar no bebê.
Dalatteya olhou para ele.
— Emir. O que. Fez. Vocês. Fazer?
— Idhron descobriu sobre minha existência anos atrás quando tentou
fazer uma lavagem cerebral em você para gostar de Eridan e se deparou com as
armadilhas mentais em sua mente. Ele ficou desconfiado e seguiu você até a casa
segura. Suas medidas de segurança o mantiveram afastado por um tempo, mas
eventualmente ele a obrigou a deixá-lo entrar na casa. Você não se lembra disso
porque ele apagou as memórias relevantes.
Dalatteya respirou fundo e contou até dez.
— E então?
— Nós conversamos, — disse Emyr, olhando para ela com cautela. —Ele
percebeu o que eu sou, mas obviamente viu pouco benefício em informar as
autoridades da minha existência. Eu era a prova viva de seus crimes se ele
precisasse se livrar de você politicamente, mas ele também percebeu que eu era
mais útil como aliado. Eu concordei em deixá-lo fazer uma lavagem cerebral
em você para gostar de Eridan e dei a ele muito material de chantagem contra
as outras famílias reais em troca de um favor que eu receberia algum dia.
— Você - eu não posso acreditar em você! — Dalatteya o empurrou e
ficou de pé. — Você o deixou fazer lavagem cerebral em mim? Seu canalha
desprezível…
Emyr também se levantou, tendo a coragem de parecer exasperado.
— Querida, acalme-se…
Ela deu um tapa em seu rosto estupidamente bonito, odiando-o, odiando-
o totalmente, e então tentou bater nele novamente, mas ele a puxou para perto,
puxando-a contra ele.
— Eu fiz isso para protegê-la, — ele rosnou. — Você era muito
autoconfiante, muito descuidada, Latteya. Você sempre seria pega, mais cedo ou
mais tarde, e eu sabia que precisaríamos de um plano de contingência para isso.
O acordo que fiz com Idhron é a razão pela qual escapamos de Calluvia tão
facilmente e a razão pela qual temos novas identidades para que possamos viver
sem olhar constantemente por cima dos ombros. — Ele segurou o olhar dela. —
Quando Idhron me encontrou, eu poderia ter saído com ele. Eu não. Eu fiquei lá
por você.
Ela bufou, mas a maior parte de sua raiva foi embora.
— E o que, eu deveria acreditar que Idhron manterá sua parte do acordo
fora da bondade de seu coração? Se ele souber nossas novas identidades, ele nos
prenderá a qualquer momento!
— Ele não vai, — disse Emyr, acariciando suas costas. Seus olhos ficaram
mais frios, mais duros. — Ele sabe que se ele nos trair, eu vou expor o Alto
Hronthar pelo que ele é. Eu dei a Uriel a prova e aonde ir com ela caso sejamos
presos ou mortos.
Ela o encarou. Ela ficou tão brava quando Emyr disse a ela em termos
inequívocos que seu guarda-costas leal não poderia ficar com eles. Ela pensou
que era apenas um jogo de poder, para mostrar que agora era ele quem tomava
as decisões. Ela nunca pensou que a partida de Uriel fosse realmente necessária.
— Tudo bem, — disse ela, seus ombros cedendo. — Mas você ainda é um
bastardo, e eu ainda te desprezo.
— Mhm, — disse Emyr, pressionando suas testas juntas e sorrindo seu
sorriso insuportavelmente atraente. — E eu ainda te amo muito, minha querida.
Ela zombou, mas foi pela metade. Ela sabia que ele a amava, a amava mais
do que tudo, em sua própria maneira distorcida e doentia. Se ele não a amasse,
ele nunca a teria perdoado pelo que ela fez. E se ela não o amasse de volta, ela
também nunca o teria perdoado.
Talvez o amor deles fosse tóxico, insalubre e confuso, mas era deles. E ela
nunca poderia desistir. Ela estava cansada de viver em negação. Ela não poderia
viver sem ele. Ela havia tentado. Ela teve. Por todos os quatro dias antes de criar-
lhe um novo corpo.
Ela odiava esse sentimento, odiava a força dele, mas sem ele, ela não era
nada. Ela esperava que Samir não amasse o filho de Emyr tão intensamente
quanto ela amava Emyr e teve pena dele se ele não amasse. Se Samir não
conhecesse tal amor, ele nunca sentiria o vazio absoluto que ela sentiu quando
Emyr morreu, mas ele também não conheceria a perfeição de estar nos braços
do homem que ela amava.
— Vamos entrar, — ela sussurrou, beijando Emyr desesperadamente, seu
coração apertando com a memória de seu corpo morto e mutilado. Ela passou
as mãos sobre suas costas largas e fortes. Ele estava vivo. Ele estava aqui. Ele
nunca a deixaria sozinha e vazia novamente. Mesmo que ele morresse, ela o
reviveria de novo e de novo, até o fim dos tempos, até que o universo não
passasse de um vazio.
— O mesmo — disse Emyr com a voz rouca, lendo seus pensamentos
através de seu vínculo. Ele a abraçou com tanta força que beirava a dor. — Até
o fim dos tempos.
Fim

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