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Capítulo 9

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

Fontes de
financiamento e
custo do capital

O tripé que representa os principais objetivos da gestão financeira


é formado por planejamento financeiro, decisões de investimento e
decisões de financiamento. Toda empresa precisa de recursos para fi-
nanciar suas atividades e seus projetos de investimento, e a escolha de
quais fontes de recursos utilizar afeta a estrutura de capital da empresa,
seu custo de capital, seus indicadores de endividamento, a liquidez e a
rentabilidade.

As fontes de financiamento podem ser de curto e de longo prazo,


próprias ou de terceiros, e cabe ao gestor financeiro analisar, dentre as
alternativas disponíveis, a melhor composição que resulte em um custo
menor. E isso não é fácil, já que o mercado financeiro, seja por meio
de produtos bancários, seja pelo mercado de capitais, oferece diversas
opções para captação de recursos, sem contar as altas taxas de juros
praticadas no Brasil, o que eleva o custo do capital em relação aos com-
petidores internacionais.

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Outro ponto a ser considerado é que quanto menor o custo de

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capital, maiores as possibilidades de aprovação de projetos de inves-
timento, pois eles dependem de uma menor taxa de atratividade para
serem viáveis.

Percebemos, então, que o custo do capital é referência para a esco-


lha de fontes de financiamento e serve de comparação para o retorno
dos investimentos, por isso as decisões de financiamento e de investi-
mento estão interligadas e muitas vezes se complementam.

O objetivo deste capítulo é apresentar as diversas fontes de recursos


para financiamento empresarial, bem como entender o custo de capital
da empresa.

1 Fontes de financiamento
O gestor financeiro deve se preocupar com os recursos necessários
para financiar seus investimentos, de modo que o retorno desses inves-
timentos compense o custo dos recursos captados, e por isso dizemos
que a estrutura de capital é fundamental para o retorno do investimento
empresarial.

Mas o que é capital e como ele pode ser estruturado?

IMPORTANTE

Capital é o “total de recursos próprios ou de terceiros que financiam


as necessidades de longo prazo da empresa” (LEMES JUNIOR; RIGO;
CHEROBIM, 2016, p. 185).

Os capitais próprios são formados pelos lucros retidos e pelo aporte


de capital realizado pelos proprietários (para empresas de capital fecha-
do) ou pelos aumentos de capital via lançamento de novas ações no
mercado (para empresas de capital aberto).

128 Gestão financeira e finanças corporativas


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Já os capitais de terceiros são formados pelos recursos captados no


mercado financeiro na forma de dívidas: empréstimos e financiamentos
(captados no mercado bancário) e emissão de títulos de dívida (junto ao
mercado de capitais). Essas fontes de capital de terceiros são chama-
das de onerosas, porque incorporam um custo financeiro por meio da
cobrança de juros. Também é possível o financiamento por capital de
terceiros de forma não onerosa; quando, por exemplo, a empresa tem
crédito com o fornecedor, ela compra mercadorias desse fornecedor
a prazo, recebe as mercadorias antes do pagamento e, durante esse
período, é como se estivesse financiando suas atividades com recursos
do fornecedor.

As decisões sobre a estrutura de capital afetam diretamente os indi-


cadores de endividamento e podem ser identificadas no lado esquerdo
do balanço patrimonial, no passivo e no patrimônio líquido, conforme
ilustra o quadro 1.

Quadro 1– Fontes de financiamento no balanço patrimonial

BALANÇO PATRIMONIAL

FONTE DE
ATIVO PASSIVO
FINANCIAMENTO

Composto de todas as dívidas


vencíveis em um prazo inferior Capital de
Ativo Passivo
a 360 dias, como empréstimos, terceiros de curto
circulante circulante
fornecedores, impostos, prazo
salários, entre outros.

Composto de todas as dívidas


vencíveis em um prazo inferior Capital de
Passivo
a 360 dias, como empréstimos, terceiros de curto
não circulante
fornecedores, impostos, prazo
Ativo não
salários, entre outros.
circulante

Dividido basicamente em
Patrimônio
capital social, reservas e lucros Capital próprio
líquido
acumulados.

Fontes de financiamento e custo do capital 129


Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2016, p. 201) apontam que existe

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uma diferença entre estrutura financeira e estrutura de capital. A estru-
tura financeira “abrange todo o passivo do balanço patrimonial, recursos
de curto e de longo prazo”, e a estrutura de capital “abrange apenas os
financiamentos de longo prazo, que são os recursos estratégicos para
a empresa”.

2 Fontes de financiamento por capital de


terceiros
O financiamento via capital de terceiros pode ser suprido com a
utilização de diversos produtos oferecidos no mercado bancário e no
mercado de capitais. Os empréstimos bancários são a fonte de finan-
ciamento mais utilizada pelas empresas brasileiras, pela facilidade de
acesso se comparada com a obtenção de crédito de longo prazo e com
o mercado de capitais. Outro aspecto relevante são as altas taxas de
juros praticadas no mercado brasileiro, o que amplia o custo de capital
das empresas e reduz a competitividade financeira frente aos principais
concorrentes internacionais.

De modo simplificado, a captação de recursos onerosos de terceiros


por parte de uma empresa pode ser dividida em: empréstimos e finan-
ciamentos; e emissão de títulos de dívida corporativa.

2.1 Empréstimos e financiamentos

Os empréstimos e financiamentos são a forma de captação mais


tradicional e são concedidos pelas instituições financeiras bancárias.
Os bancos comerciais atendem basicamente às operações de curto e
médio prazos, especialmente às necessidades de capital de giro.

Vale destacar que existe uma diferença entre empréstimos e finan-


ciamentos. Os empréstimos são linhas de crédito em que não há vínculo

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específico entre o crédito e o seu destino e, portanto, a empresa pode


fazer qualquer coisa com o dinheiro captado. Já o financiamento está
vinculado à aquisição de um bem (equipamentos, veículos, imóveis,
etc.), e, como geralmente o bem é dado como garantia da operação – o
que reduz seu risco –, em média o custo dos financiamentos é menor
do que o custo dos empréstimos.

No Brasil, os empréstimos e financiamentos de longo prazo são, em


grande parte, concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), órgão do governo federal responsável pela
concessão de crédito para apoiar “programas e empreendimentos que
contribuam com o desenvolvimento do país” (WERNKE, 2008, p. 136).

Conforme Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2016), o BNDES figura


como a principal instituição de financiamento do país, e suas atividades
são orientadas para os seguintes objetivos:

• Estímulo ao desenvolvimento econômico do país, por meio do in-


centivo de atividades que promovam o crescimento sustentado
do produto interno bruto.

• Incentivo à redução das desigualdades regionais por meio do


estímulo à formação de novos polos de produção.

• Estímulo ao dinamismo na economia por meio de seus diversos


setores produtivos: agrícola, industrial, comercial e de serviços.

• Apoio às empresas nacionais de diversos portes e incentivo às


exportações.

Assaf Neto (2014) e Wernke (2008) destacam que o BNDES con-


ta com a Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame), que
administra diversas linhas de financiamento de máquinas e equipa-
mentos industriais. Os recursos são repassados à empresa por meio
de um banco comercial cadastrado na Finame, e sobre essas opera-
ções incidem os encargos financeiros cobrados pela Finame (atrelados

Fontes de financiamento e custo do capital 131


geralmente à TJLP – taxa de juros de longo prazo), taxa de risco de

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crédito, remuneração do BNDES, taxa de intermediação financeira, taxa
de remuneração ao agente financeiro (banco intermediador) e correção
monetária.

PARA SABER MAIS

Para conhecer todas as linhas de crédito oferecidas pelo BNDES, escla-


recer dúvidas sobre o que pode ser financiado e as condições de finan-
ciamento, basta acessar a página do banco na internet.

Os empréstimos e financiamentos concedidos por bancos comer-


ciais são pagos em parcelas iguais postecipadas ou diferidas; já os
empréstimos do BNDES podem ser séries uniformes postecipadas,
diferidas ou, ainda, seguir o Sistema de Amortização Constante (SAC).
No Sistema de Amortização Constante, o “valor do capital é amortiza-
do em quotas iguais, gerando prestações decrescentes, já que os juros
diminuem a cada prestação. A amortização é calculada dividindo-se o
valor do principal pelo número de períodos de pagamento” (SAMANEZ,
2010, p. 155).

2.2 Títulos de dívida corporativa – debêntures

As debêntures são os títulos de dívida corporativa de longo prazo


mais utilizados no Brasil e representam uma forma de captação de re-
cursos de terceiros via mercado de capitais.

Elas existem no Brasil desde o tempo do Império e, conforme Lemes


Junior, Rigo e Cherobim (2016, p. 283), são “títulos nominativos e ne-
gociáveis que representam uma parcela do empréstimo total efetuado
pela empresa, em geral para financiamento de projetos de investimento

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ou alongamento do perfil do passivo”. Apenas as sociedades por


ações (S/A), de capital aberto, podem efetuar emissões públicas de
debêntures.

As características do título, como juros, prêmio, rendimentos e venci-


mento, são definidas na escritura de emissão. As debêntures podem ser
do tipo simples, as quais são resgatadas em dinheiro, ou do tipo con-
versíveis, quando podem ser resgatadas em dinheiro ou em ações da
empresa. Seu vencimento geralmente é determinado (de 2 a 30 anos),
mas também podem ser emitidas debêntures de prazo indefinido (cha-
madas de debêntures perpétuas). Neste caso, segundo Lemes Junior,
Rigo e Cherobim (2016), o vencimento é condicionado a eventos espe-
ciais expressos na escritura da emissão ou a casos de inadimplência do
pagamento de juros e de dissolução da companhia.

A debênture ainda pode ser negociada com ágio ou deságio. Con­


forme Assaf Neto (2014, p. 399), quando se deseja

[...] elevar os rendimentos efetivos desse título, tornando-os


mais competitivos com as taxas de juros praticadas no merca-
do, pode-se negociar o título por um preço inferior a seu valor
nominal, isto é, com deságio. Caso contrário, é cobrado um ágio
na negociação do título.

Os principais motivos para a emissão de debêntures são: captação


de recursos para investimentos, reestruturação de passivos (as debên-
tures são utilizadas para alongamento de prazos – esses recursos de
longo prazo podem ser usados para quitar as dívidas com vencimento
mais recente e, assim, promover uma reestruturação do endividamento
da empresa) e entrada no mercado acionário (o lançamento de debên-
tures pode ser considerado um estágio preliminar à abertura de capital
realizada por meio da emissão de ações). Além disso, a captação de re-
cursos via debêntures reduz a participação do endividamento bancário,
o que diversifica o risco da empresa.

Fontes de financiamento e custo do capital 133


A debênture só pode ser colocada no mercado por meio de um in-

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termediário financeiro, que pode ser um banco múltiplo, um banco de
investimento ou uma corretora de valores. Os principais compradores
de debêntures são investidores institucionais, os quais incluem fundos
de pensão, fundos de investimento e seguradoras.

PARA SABER MAIS

Para conhecer as características das debêntures, as empresas emiten-


tes e a precificação e acompanhar o mercado de debêntures brasileiro,
acesse o site criado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mer-
cados Financeiro e de Capitais (Anbima), chamado Debentures.com.br.

3 Financiamento com capital próprio


A captação de recursos próprios ocorre pela retenção dos lucros e
pelos aportes de capital, seja pelo aumento do capital por parte dos
sócios, pelo ingresso de novo sócio ou emissão de ações, no caso de
empresas com capital aberto. Esse tipo de financiamento é indicado
para financiar investimentos com maior prazo de maturação.

Os lucros retidos, também chamados de autofinanciamento, são


classificados como uma fonte interna de capital próprio e constituem
a fonte mais utilizada no financiamento dos projetos operacionais e de
investimentos. Reinvestindo a maior parcela possível do lucro, a empre-
sa reduz a sua necessidade de captar recursos adicionais junto a fontes
externas, o que, por sua vez, reduz o seu nível de endividamento (ASSAF
NETO, 2014).

O lucro gerado pela empresa pode ter dois destinos: ser distribuído
aos acionistas ou ser retido e absorvido pela própria empresa. Segundo
Brigham e Ehrhardt (2012), a decisão de quanto será destinado para

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cada parte deve considerar a geração de valor para o acionista; por-


tanto, a retenção dos lucros só é interessante se o seu reinvestimento
produzir retornos maiores do que os acionistas conseguiriam obter iso-
ladamente ao aplicarem o dinheiro em investimentos com risco igual.
Também deve-se comparar o custo de retenção desses lucros com as
demais fontes de financiamento, visando à rentabilidade geral da em-
presa. Como geralmente os lucros reinvestidos tendem a ser menos
onerosos do que as emissões de novas ações, por evitarem os custos
de lançamento, as empresas são estimuladas a retê-los.

Os lucros que não são retidos são distribuídos aos acionistas na forma
de dividendos. Gitman (2018, p. 568) destaca que “os dividendos espe-
rados representam a variável básica do retorno com os qual os proprie-
tários e os investidores determinam o valor da ação”, já que “constituem
uma fonte de fluxo de caixa para os acionistas e fornecem informação a
respeito do desempenho atual e futuro da empresa”. O autor ainda refor-
ça que quanto mais a empresa distribuir na forma de dividendos, maior
será o volume de recursos que necessitará captar em outras fontes. Por
isso, Brigham e Ehrhardt (2012) consideram que, para determinar o ín-
dice de distribuição de dividendos de uma empresa, é preciso analisar
quatro fatores: preferências de investidores entre dividendos e ganhos
de capital; oportunidades de investimento da empresa; estrutura de
capital-alvo; e disponibilidade e custo de capital externo.

As empresas de capital aberto podem, ainda, emitir ações como


forma de captação de recursos próprios. Segundo Lemes Junior, Rigo
e Cherobim (2016, p. 262), “uma companhia aberta é aquela que pos-
sui ações e/ou debêntures negociadas junto ao público em bolsas de
valores ou mercados de balcão”. Esse tipo de empresa está constituí-
do na forma jurídica de sociedade por ações (ou S/A, como é popular-
mente chamado) e deve estar registrado junto à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).

Fontes de financiamento e custo do capital 135


Considerando que uma ação representa a menor parcela do capital

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social de uma empresa, para a empresa emitente as ações são uma
forma de levantar recursos para novos investimentos e para a expansão
dos seus negócios; para os investidores, a compra dessas ações tem o
objetivo de auferir ganhos, seja pela distribuição dos lucros da empresa
(dividendos), seja pela valorização do preço da ação no mercado (ganho
de capital) (ASSAF NETO, 2014).

As ações podem ser de dois tipos:

• Ações ordinárias: são aquelas que “conferem a seu titular o di-


reito a voto na assembleia de acionistas da empresa” (LEMES
JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2016, p. 267), assim os acionistas que
concentrarem maior número de ações desse tipo exercem maior
peso nas decisões estratégicas da empresa.

• Ações preferenciais: seu detentor tem preferência na distribui-


ção dos resultados, mas não possui direito a voto na assembleia
de acionistas.

A empresa pode definir no seu estatuto um dividendo mínimo ou


fixo, como porcentagem do lucro ou do capital social, a que os
titulares das ações preferenciais terão direito. Caso não ocorram
essas definições, são garantidas às ações preferenciais dividen-
dos 10% maiores que os dividendos pagos às ordinárias. (LEMES
JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2016, p. 267)

De acordo com a legislação vigente, o número de ações prefe-


renciais não pode ultrapassar 50% do total das ações emitidas
pela empresa. A legislação atual ainda prevê que, em caso de
não distribuição dos lucros aos acionistas preferenciais por três
exercícios fiscais seguidos, essas ações se igualam às ordinárias,
dando direito a voto (o que afeta o controle da empresa), mas
sem alterar a preferência na distribuição dos dividendos. Após a
emissão das ações, sua negociação inicial ocorre no mercado pri-
mário e as renegociações são realizadas no mercado secundário.

136 Gestão financeira e finanças corporativas


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O mercado primário é aquele em que ocorre a primeira negociação


do título, cujos recursos captados financiam a empresa. As operações
de lançamento de títulos e ações são chamadas de subscrição (ou, em
inglês, underwriting). Quando uma empresa faz a primeira subscrição
de sua história (ou seja, quando estreia na bolsa de valores), esta é cha-
mada de oferta pública inicial, ou IPO, do inglês initial public offering.

Já o mercado secundário é aquele em que são renegociadas as


ações adquiridas no mercado primário (ASSAF NETO, 2014). Envolve
transações em que os investidores vendem seus títulos para outros
investidores; é o pregão diário que vemos nas bolsas de valores. A
empresa emitente já não obtém recursos com essas transações, mas
garante a liquidez quando forem emitidos novos títulos.

PARA SABER MAIS

Para conhecer as empresas que participam da bolsa de valores, o preço


de suas ações no mercado e seu desempenho, além de indicadores de
mercado e os demonstrativos financeiros das empresas, visite a página
da [B]³ Brasil Bolsa Balcão.

4 Custo do capital da empresa


Segundo Griffin (2012, p. 187), o custo do capital é “o custo após os
impostos da estrutura de capital de uma empresa, não é o custo de um
componente, pelo contrário, é o custo da mistura de financiamento de
longo prazo usada por uma organização”. Vale reforçar que, neste caso,
o financiamento de longo prazo pode ser via recursos próprios ou via
recursos de terceiros.

O custo do capital de uma empresa considera o custo do capital de


terceiros e o custo do capital próprio, conforme apresentado na figura 1.

Fontes de financiamento e custo do capital 137


Figura 1 – Estrutura do custo do capital de uma empresa

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Custo dos lucros
retidos
Custo do capital
próprio
Custo das ações

Custo do capital
Custo dos empréstimos
e financiamentos
Custo do capital
de terceiros
Custo dos títulos
(debêntures)

4.1 Custo do capital de terceiros


Segundo Assaf Neto (2014, p. 363), o custo do capital de terceiros
é “definido de acordo com os passivos onerosos identificados nos em-
préstimos, financiamentos e títulos mantidos pela empresa”. O custo
específico de cada fonte de capital de terceiros é o seu custo de obten-
ção, ou seja, a taxa efetiva da operação após o Imposto de Renda.

Quanto mais a empresa utilizar fontes de terceiros, mais despesas


financeiras terá que pagar e menor será o lucro antes do Imposto de
Renda. Desse modo, podemos considerar que os encargos financeiros
geram uma redução no imposto devido, reduzindo também o custo do
capital. Assim, o custo da dívida de longo prazo é dedutível do imposto,
o que ajuda a diminuir seu custo efetivo. O custo do capital de terceiros
é obtido pela seguinte fórmula:

Custo do capital de terceiros = K (1 - IR)

Sendo: K = custo efetivo do financiamento; IR = alíquota do Imposto


de Renda.

O cálculo é o custo efetivo da dívida multiplicado pelo resultado de 1


menos a alíquota do Imposto de Renda (em decimal).

138 Gestão financeira e finanças corporativas


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Por exemplo, se o custo de um financiamento é de 60% ao ano e a


alíquota do Imposto de Renda é de 30%, o custo de capital dessa fonte
de financiamento é: K = 60 (1 - 0,30) = 60 (0,70) = 42% ao ano.

4.2 Custo do capital próprio

O custo do capital próprio é formado pelo custo dos lucros retidos


e o custo das ações preferenciais e ordinárias. Segundo Gitman (2018),
o custo das ações preferenciais é dado pela divisão entre o dividendo
por ação pago aos acionistas e o preço corrente da ação no mercado.
Como o dividendo não é dedutível de impostos, não é necessário rea-
lizar ajustes no custo da ação. Por exemplo, se o dividendo por ação
pago pela empresa foi de R$ 3,00 e o preço atual da ação no mercado é
de R$ 15,00, seu custo será 3/15 = 0,2 = 20%.

Já o custo das ações ordinárias é “o retorno que os investidores no


mercado exigem” (GRIFFIN, 2012, p. 192). Pode-se calcular o custo do
capital dessas ações utilizando a seguinte fórmula:

Custo das ações ordinárias = (D/P) + g

Sendo: D = valor do dividendo pago; P = preço atual da ação no mer-


cado; g = taxa de crescimento anual estimada do dividendo.

O custo da ação ordinária é dado pela divisão entre o valor do divi-


dendo pago e o preço atual da ação, cujo resultado deve ser somado à
taxa de crescimento anual estimada do dividendo.

Por exemplo, se a ação ordinária pagou R$ 4,00 de dividendo por


ação, seu preço atual no mercado é de R$ 50,00 e a taxa projetada de
crescimento dos dividendos é de 5%, o custo da ação será:

Custo = (4/50) + 0,05 = 0,08 + 0,05 = 0,13 = 13%

Fontes de financiamento e custo do capital 139


Esse modelo é chamado de modelo de avaliação com crescimento

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constante, ou modelo de Gordon. Cabe ressaltar que existem outros mo-
delos para apurar o custo da ação ordinária, mas o modelo de Gordon é
o mais simplificado.

Os lucros retidos são os que não foram distribuídos aos acionistas


e também devem ter um retorno esperado igual aos das ações ordiná-
rias. Nas palavras de Gitman (2018, p. 374), “o custo dos lucros retidos,
para a empresa, é igual ao custo de uma emissão equivalente e inte-
gralmente subscrita de ações ordinárias adicionais”. Se os custos entre
lucros retidos e ações não forem iguais, desestimula-se a reinvestir na
empresa, já que os acionistas estariam melhores se os ganhos fossem
pagos a eles.

4.3 Custo de capital da empresa


O custo de capital é o custo total esperado pelo capital de uma em-
presa e depende de sua estrutura de capital, ou seja, reflete as esco-
lhas entre financiamento por capital de terceiros e por capital próprio.
Segundo Assaf Neto (2014, p. 376), “o custo total de capital representa
a taxa de atratividade da empresa, que indica a remuneração mínima
que deve ser exigida na alocação de capital, de forma a maximizar seu
valor de mercado”.

A metodologia mais utilizada para apuração do custo total de ca-


pital de uma empresa é o custo médio ponderado de capital (CMPC),
também identificado na literatura financeira como WACC, do inglês
weighted average cost of capital. É representado pela fórmula:

WACC = (w1 × k1) + (w2 × k2) + (w3 × k3) + ... + (wn × kn)

Sendo: w = proporção da fonte de financiamento em relação ao


financiamento total; k = custo de capital da fonte de financiamento.

Para calcular o custo médio ponderado de capital, ou WACC, deve-se


multiplicar a participação relativa de cada fonte de recursos no total

140 Gestão financeira e finanças corporativas


de financiamento da empresa (w) pelo custo de capital da respecti-
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va fonte (k). Depois, deve-se somar essas ponderações para obter o


custo total.

Por exemplo, considere que a empresa ABC S/A tenha apresentado


a seguinte estrutura de capital e seus respectivos custos: financiamento
no valor de R$ 200.000,00 ao custo de 50% ao ano; debêntures (títulos)
no valor de R$ 300.000,00 ao custo de 20% ao ano; e ações no valor de
R$ 400.000,00 ao custo de 45% ao ano. A alíquota do Imposto de Renda
da empresa é de 30%.

Tabela 1 – Custo de capital da empresa ABC S/A

Passo 1 Passo 2 Passo 3

% CUSTO APÓS
FONTE VALOR CUSTO (w × k)
(w) O IR

200.000/900.000 = 50% 0,2222 × 35 =


Financiamento R$ 200.000,00 50 (1 - 0,3) = 35%
0,2222 = 22,22% a.a. 7,78%

300.000/900.000 = 20% 0,3333 × 14% =


Debêntures R$ 300.000,00 20 (1 - 0,3) = 14%
0,3333 = 33,33% a.a. 4,67%

400.000/900.000 = 45% Não tem efeito 0,4445 × 45 =


Ações R$ 400.000,00
0,4445 = 44,45 a.a. do IR = 45% 20,00%

Total R$ 900.000,00 100% Passo 4 32,45% a.a.

Os quatro passos para o cálculo do WACC são:

• Passo 1: calcular a proporção de cada uma das fontes de finan-


ciamento, fazendo a divisão de cada um dos valores pelo total
de financiamentos. Por exemplo, temos um financiamento de
R$ 200.000,00 em um total de R$ 900.000,00, o que resulta em
200.000/900.000 = 0,2222 = 22,22%, ou seja, os financiamentos
representam 22,22% do total de financiamentos de longo prazo
da empresa. Repetimos essa operação para todas as fontes de
financiamento.

Fontes de financiamento e custo do capital 141


• Passo 2: descontar o Imposto de Renda do custo das fontes de

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capital de terceiros. Por exemplo, os financiamentos possuem
um custo bruto de 50% ao ano; descontando os 30% de Imposto
de Renda, temos um custo líquido de: k = 50 (1 - 0,30) = 35% a.a.
Repetimos esse passo nas demais fontes de capital de terceiros,
lembrando que as fontes de capital próprio não necessitam des-
contar o Imposto de Renda.

• Passo 3: calcular a ponderação (w × k), ou seja, multiplicar a par-


ticipação de cada fonte de financiamento pelo seu custo líquido
(após o IR). Por exemplo, para o financiamento, multiplicamos a
participação relativa de 22,22% pelo custo de 35%, obtendo 7,78%.
Repetimos esse passo para todas as fontes de financiamento.

• Passo 4: somar todas as ponderações obtidas no passo 3, ou


seja, 7,78 + 4,67 + 20 = 32,45%. Essa soma resultará no WACC da
empresa.

Esse custo é a base para novas captações de recursos, afinal a em-


presa não quer ampliar seu custo médio de capital, e para as decisões
de investimento. Projetos com retornos inferiores ao WACC não devem
ser aprovados; já projetos com retornos operacionais acima do WACC
revelam

[...] uma agregação de valor econômico à empresa pela geração de


resultados superiores ao mínimo exigido pelos proprietários de ca-
pital. Nessas condições, as decisões financeiras promovem uma
agregação de riqueza, sendo consistentes com seu objetivo de ma-
ximizar o valor de mercado. (ASSAF NETO, 2014, p. 377)

Considerações finais
As fontes de financiamento disponíveis para uma empresa estão divi-
didas entre fontes de capital próprio e de terceiros. As fontes de capital de
terceiros são compostas basicamente de empréstimos, financiamentos

142 Gestão financeira e finanças corporativas


Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

e títulos da dívida corporativa, e as fontes de capital próprio, de lucros


retidos e aumentos de capital (aportes e emissão de ações).

A combinação entre essas fontes determina a estrutura de capital da


empresa e interfere no custo de capital, que representa a ponderação
de todos os custos de cada fonte de financiamento utilizada.

Cabe ao gestor financeiro buscar dentre as fontes de financiamento


disponíveis a combinação que permita obter o montante de recursos
necessário ao menor custo, já que o custo do capital é utilizado como
parâmetro para a decisão pela aprovação (ou não) de projetos de inves-
timento. Quanto maior o custo do capital envolvido, maior deve ser o
retorno do investimento no qual os recursos serão empregados – daí a
importância de entender como se apura efetivamente o custo de capital
de uma empresa.

Referências
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas,
2014.

BRIGHAM, Eugene F.; EHRHARDT, Michael C. Administração financeira: teoria


e prática. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 14. ed. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2018.

GRIFFIN, Michael P. Contabilidade e finanças. São Paulo: Saraiva, 2012. (Série


Fundamentos).

LEMES JUNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula
Mussi Szabo. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas
brasileiras. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2016.

SAMANEZ, Carlos Patricio. Matemática financeira: aplicação à análise de


investimentos. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.

WERNKE, Rodney. Gestão financeira: ênfase em aplicações e casos nacionais.


São Paulo: Saraiva, 2008.

Fontes de financiamento e custo do capital 143

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