1918 AsMinasdoIpu

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AS MINAS bo IPU (PONTO DOE VISTA HISTORICO) Pouco ou quasi nenhum estudo tem 3i em nossos dias, no Ceard, sobre a mineralogy encia tio util quanto necessaria ao desenvolvimento de um paiz, constituindo sua principal fonte de pros- peridade, desde que, com habilidade e proveito, sai- ba elle aproveitar-se dessas riquezas naturaes Nesse particular temas sido de uma impreviden- cia e inercia lastimaveis, Mais atilados foram os nos- 80s primeiros pevoadores. Pelo menos elies souteram uiiligar-se dos productos mineraes, ¢m proveito pro- prio, ndo s6 no fabrico de objectos para usos domesti- cos, como nos que servissem para aS suas armas € adorno pessoal. Verdade é que algumas explaragoes, em outros tempos, forain tentada’, enumerandd-se as que loram levadas a effeito pelos nollandezi’s Hi periods de sua dominagdu, na terra conquistada, cum prolongamento dos portuguezes na época da colonisagao, no decor~ rer do seculo XVII. Desses ensaios, porém, nada nos resta, senao farta e interessante bibtiographia, attestando o muito esforco desses valentes exploraderes ¢ dos que, com rara proficiencia, s¢ tem occupado do assuinpto. Nao se precisa ir muito longe para avancar essa proposicdo. Langando-se o olhar sobre a Revista do Instituto do Cearé ver-se- nao sev diminuta a baga~ gem de eseriptos e monographias sobre as varias ma- "© INSNTUTO DO CEARA 15 terias a que sé prende a sciencia dos metaes, salien- tando-se 08 que so firmados por Feijé, Alfredo de Carvalho, Thomaz Pompeu, Baru de Studart, Ca- panema, Joao Brigido, Theberge, Mamede, José Pom- peu, Mareos de Macedo e outros, ate O Ipu ¢ talvez,o municipio do Ceard que maicr numeru dé minas conhecidas regista, a se dar credito 4s investigacdes a que se ha procedido, em seu ter- ritorio, desde os primeiros dias. Nenhum logarejo do Estado se. apresenta tao rien de thesouros mineraes como elle. Assim o affir- mamos, baseados na opinido dos que itm perquiride dos elementos contribuidores da riqueza do munici- pio, abrangendo todos os ramos naturaes. como ja fivemos occasida de demonstrar em trabalho que, sobre Oo assuinpto, publicamos (1). Fal superioridade ha quem attribua 4 configura- gdo de seu sdlo, de formagao geologica desigual, no conjunto de terrcics em algumas partes arenosos ¢ alagados. em outras pedregosos ¢ accidentados, aféra os gue sdo proprios da regiao serrana, sabido ficar o ip situado no sope da serra da tbiapaba, caje ponto culminante, segundo dados officiaes, attinge a 1.020 metros de altitude ¢ constitue a principal cordilheira do Ceara, tambem conhecida, principaimente na par- te que diz respeiio ao Ip, peta, denominagdo de Serra Grande dos Cocos A’ estructura geologica do municipio deve-se, pois, essa primasia, encarada sob o pontu de vista mineralogica. E' de lastimar nao haver ainda estudo algum positive sobre a verdadeira classificecdo desses ter- y—Vide Chronica do Ip, do autor,29 Revista do in- seliuto do Ceara, toriu XXIX, pag, 152-242, 16 REVISTA TRIMENSAL - ’ tenos. Deste modo poder-se-ia justificar, scientifica~ mente, a procedencia dessa abundancia de minerio, sem receio de contestacdo, como j4 succeden quan~ do, alhures decumentando a existencia de uma das suas jazidas auriferas, allegando, que, sendo outro o seu destino, seria esta terra a Chanaan dos cearenses, se nos taxava de optimista, quigd adulador. Tempo vird, porém. em que, melhor entendido o hosso intuito. protestando contra o criminoso esque- cimento dos elementos de valor de uma terra tao pro- digiosa como o Ipt. os homens senhores do poder comprehenderaa, por sua vez, que para a expleragdo das riquezas naturaes do sdlo brasileiro s40 necessa- tias todas as energias da nacdo, e entéo nado sere- mos mais os bajuladores que a fatuidade de alguem houve por bem classiftcar. % ae Detalhamos, separadamente 0 mincrio existente no Ipd de conformidade com os dados conhecidos, Em primeiro plano destaca-se, obedecendo 4 or dei chronologica de sua expluracdo. @ mina de ouro do Juré, situada nas margens do riacho do mesmo nome, a 26 kilometros a N. E da cidade. Nada se sabe, ao certo, sobre a descoberta dessa jazida. Sua existencia, entretanto, é real Della se oc- cuparam Feijé, classificando o minesio alli existente como de qualidade superior, Thomaz Pompeu, e © Bardo de Eschwege na obra—-Fluto Brasiliensis, publi- cada em Berlim, em 1883, com informagoes que no di- zet do illustrado autor do O Ceard no comego do se- culo XX foram colhidas de Feijé por esse sabio alle- mao, alids nao trazendo seu testemunho esctareci- inento algum sobre o assumpto. «O dr. José Pompeu—escreve o dr. Thomaz Pom- peu—apreciando as razdes de Feijdo sobre a hypo- these de se poder achar na Serra Grande as matri- DO INSTITUTO DO CEARA 17 zes de ouro encontradas em alluvides de differentes ribeiros, pondera que: +O ouro mo se acha na natureza sendo em es- tado nativo, ora sob a forma de cristaes, de Jaminas mais ou menos extensas ou de filamentos; ora em pathetas, em. graos e em fragmentos, ds vezes bas- tante volumosos, Encontra-se muitas vezes em veios, nas rochas quartzosas do terreno primitivo; algumas vezes se apresenta em diversas jazidas dezentiferas. Mas a mairiz mais geral do ouro, no Brasil, a sub- stancia em que este metal se acha mais abundante- mente espalhado é uma rocha quartzosa, avermelhada @ ferruginosa, chamada jJacotinga. Assegura ainda 0 mesmo naturaligta, em uma das suas memorias, que «de ouro se encontram mais ou menos vestigios por todos os riachos, corregos e ver- tentes de montanhas, que formam as costaneiras da Serra Grande, desde o Timonha até Cariris, com par- ticularidade nas vertentes do Salgado, Acarahti e Ja- guaribe, no Inhamuns, Banabuyu, Quixeramobim e cabeceiras do Juré. Em todas essas vertentes e terre- nos vizinhos basta lavar a terra que se acha debaixo do cascalho para pintar o ourer. Das minas conhecidas, no Ceard, 6 a do juré classificada conjunctamente com a das antigas lavras de Mangabeira (Lavras), ficando as mais jazidas des- cobertas em plano assds inferior. Contestando a declaragdo do sabio naturalista Feijo allegando que, por falta d’agua, deixou o seu primeiro explorador, coronel Diogo Lopes de Araujo Salles, de continuar com os trabalhos de mineragdo, depois de aigumas tentativas, sem resultado, affirma- mos contrariamente, isto é, ter sido ‘esse resultado de alguma fdrma satisfactorio, embora pequeno, nZo compensando, talvez, os sacrificios postos em prati- ca. E’ sabido haver conseguido esse valente explo- 1ador 286 sitavas de ouro de muito bom quilate, apds REV. DO INSTITUTO 3 18 construir, com ingentes difficuldades, um conducto de agua encanada das eminencias ao tépo da serra, onde estabeleceu um receptaculo dessas aguas de que se servia para lavagem das terras extrahidas dos veeiros das minas auriferas (2). Nesse, trabalho, de inicio na era de 1844, foi au- xiliado o coronel Diogo Salles pela pratica de um ex- plorador mineiro vindo da entdo provincia de Minas Geraes, descrevendo a jazida Juré com vantagens es- pantosas. Como e porque deixou essa mina de ser explo- rada, nao obstante os primitivos esforgos, correm duas versdes: quer alguem ter sido essa causa re- sultante da falta d’agua, obrigando o coronel Diogo a desistir de sua valorosa obra, que, incontestave!- mente, desdobraria a face do municipio; ha quem insinie a paralysaga’o desse servico pelo facto, alla- mente significativo, do assassinio atroz de seu de- nodado auxiliar, por um de seus escravos, justamen~ fe aquelie que viera de Minas Geraes para collaborar na grandiosa empreza. A falta desse valioso braco e difficuldade de se encontrar, de momento, um sub- stituto, fel-o desanimar, abandonando, de vez. os tra- balhos de mineragdo, dos quaes ndo mais cuidou o coronel Diogo Satles, nem t4o. pouce os seus herdei- ros a cujo dominio passaram essas terras. (2}Por serem por demais interessantes transcrevemios as linhas que se seguem, mostrando o modo como antigamente era feito o processo de lavagem do ouro nas minas. O que ex- tractamos € da penna do celebre viajante Henry Koster, que re- nome deixov com as suas Viegens ao Brazil: *Eis no que consiste o que se chama lavagens:abrem no chéo pequenos degraus de vinte a trinta pés de compriments sobre dois ou trez de altura; cavam na base um rego de dous a tres pés de fundo e por eile fazem descer brandameute uma corren~ te d'agua que se teve o cuidado de reguiarizar de maneira que dissolve sein arrastar a terra gue contém o ouro, Collocados nos degraus revolvem os negres a terra com palhetas sem in- terrup¢ao, Quando transiormiada numa especie de lama, é ar-

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