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Raizes Da Modernidade
Raizes Da Modernidade
Não há um só historiador profissional que não saiba dessas coisas, mas a tentação de definir
uma época tão-somente pela letra do discurso dominante, sem o necessário contraponto
entre as idéias e os fatos, parece ser mesmo irresistível. Quase nunca se menciona, por
exemplo, que só no Renascimento o Papado obteve pleno domínio das universidades, que
até então desfrutavam de uma invejável autonomia. E não faz sentido querer enxergar uma
apoteose da liberdade individual precisamente na época do surgimento dos regimes
absolutistas que só viriam a cair três ou quatro séculos depois.
Em vez de tentar encontrar um desenho geral, uma definição de conjunto ou o perfil essencial
da Modernidade, este curso vai destacar certos traços singulares que dissolvem o estereótipo
dominante, mesmo ao preço de não colocar no seu lugar senão uma série de perguntas sem
respostas.
O objetivo do curso não é dar uma “visão” da Modernidade, mas apenas sublinhar alguns fatos
de extraordinária importância que a imagem popular consagrada nega, omite ou distorce.
1. O primeiro desses fatos é a matematização da natureza. Edmund Husserl já analisou esse
fenômeno e suas consequências no livro A Crise das Ciências Européias, mas ainda falta muito
para que os resultados das suas investigações magistrais se integrem na cultura corrente. Isso
deve-se em parte à linguagem carregada, quase esotérica, em que ele expõe suas conclusões.
Um primeiro passo deste curso será explicar a visão husserliana da ciência de Galileu, Newton
e Descartes.
3. Em vez de uma época de pura racionalidade científica, a Modernidade foi, no seu início, e
prolongando-se pelo menos até o século XVIII, a apoteose da magia, da alquimia, da
astrologia e do ocultismo.
A exploração desses pontos deve concorrer para estimular o aluno a crer menos nos mitos
culturais estabelecidos do que na força da investigação sincera.