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ASPECTOS REOLÓGICOS DO CONCRETO

AUTO-ADENSÁVEL

Yasmin de Oliveira Lima1– UNITOLEDO


Carlos Adriano Rufino da Silva2 – UNESP

RESUMO
O estudo do concreto é cada vez mais importante devido aos avanços tecnológicos,
dessa maneira o concreto auto-adensável (CAA) vem ganhando cada vez mais espaço no
mercado devido a sua alta fluidez que facilita no processo de concretagem. O CAA tem
como característica a habilidade de preencher os espaços nas fôrmas com mais facilidade
passando por qualquer restrição, e também capacidade de resistir a segregação. O aspecto
reológico desse tipo de concreto analisa sua viscosidade, consistência, trabalhabilidade e
fluidez no seu estado fresco.
Palavras-Chave: Auto-adensável; Reológico; Viscosidade; Fluidez; Concreto.

1. INTRODUÇÃO
Diante do que expõe Tutikian (2008), apesar do concreto ser o material de construção
civil mais utilizado no mundo, atualmente não se pode mais considerar apenas o estudo de
concretos convencionais (CCV). É importante também os estudos dos diferentes tipos de
concreto que venham a existir sejam eles os mais distintos possíveis, auto-adensáveis,
coloridos, brancos e sustentáveis, de alta resistência, com fibras, alto desempenho, alto teores
de adições pozolânicas, entre outros.
De acordo com Okamura (1997) apud Tutikian (2008), um grande avanço na
indústria de concreto, tem surgido para conseguir suprir a alta demanda que tem ocorrido
nas últimas décadas. Pensando nesse avanço tecnológico, foi desenvolvido no Japão em
1988, o concreto auto-adensável (CAA), que tem como características alta fluidez que faz
com que se molde e preencha totalmente as fôrmas, sem necessidade nenhuma de vibração,
adensamento ou compactação externa seja ela qual for.

¹ Graduanda em Engenharia Civil – Unitoledo (2018)


²
Mestre em Estruturas – UNESP (2004)
Na área de controle tecnológico do concreto, as pesquisas sobre o CAA se
direcionam para o uso de seus componentes e para os métodos de dosagem,
visando não somente o custo de produção do concreto em si, mas também a
racionalização do processo e fabricação, conferindo benefícios econômicos,
tecnológicos e ambientais (MELO, 2005).
O CAA é caracterizado por possuir uma fluidez elevada, o que permite o
preenchimento nas fôrmas passando por entre barras de armadura, movendo-se apenas com
a força do seu peso próprio (GETTU; AGULLÓ, 2003).
A figura 01 a seguir demonstra a alta fluidez do CAA.

Figura 01 - Concreto auto-adensável no seu estado fresco.


Fonte: Elaborado pela autora.

O CAA vem cada vez mais sendo utilizado como material da construção, pois não
deixa ninhos de concretagem devido à sua aplicação rápida e fácil, que diminui o número de
mão de obra. Sua utilização se dá muito na indústria dos pré-moldados e pré-fabricados como
também seu uso in loco (REPETTE, 2008a).
As características do concreto fresco é que diferenciam o CAA do concreto
convencional. O CAA tem que apresentar elevada fluidez e deformabilidade, além
de elevada estabilidade na mistura, que lhe confere três características básicas e
essenciais: habilidade de preencher espaços nas fôrmas, habilidade de passar por
restrições e capacidade de resistir a segregação (REPETTE, 2008b).
A habilidade de preenchimento consiste na capacidade do concreto auto-adensável
de fluir dentro da fôrma e preencher todos os espaços passando por entre as armaduras sem

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obstrução do fluxo ou segregação (DOMONE, 2009; LIU, 2009; GOMES; E BARROS,
2009).
A habilidade passante é a propriedade que caracteriza a capacidade do CAA de escoar
pela fôrma, passando por entre as armaduras sem obstrução do fluxo ou segregação
(FURNAS, 2004).
A resistência a segregação é a propriedade que caracteriza a capacidade do CAA
de se manter homogêneo durante as etapas de mistura, transporte e lançamento,
sem que ocorra segregação por afundamento dos agregados ou ascensão da água
de mistura (exsudação) no concreto colocado nas fôrmas (REPETTE, 2011).
Para conseguir elevada fluidez, a pasta do CAA deve lubrificar e espalhar
adequadamente os agregados, de forma que o atrito interno entre os mesmos não
comprometa a capacidade do concreto escoar (REPETTE, 2008a).
A grande vantagem do CAA é a garantia de que um concreto bem dosado, que
atende às especificações de projeto e características no estado fresco com
lançamento e cura adequados, vai propiciar um produto final endurecido com
qualidade, ao contrário do concreto convencional cujo produto final depende
largamente do processo de adensamento ou compactação (MANUEL, 2005).
Segundo Tutikian (2008), o CAA pode ser comentado como uma das grandes
revoluções ocorridas na área tecnológica do concreto para a construção civil nas últimas
décadas, esse avanço traz vantagens como:
- Aceleração na construção, pois seu lançamento é rápido e não necessita de qualquer
tipo de adensamento;
- Redução de mão de obra nos canteiros de obra, pois como não acontece o
adensamento o CAA se molda facilmente;
- Melhor acabamento na superfície;
- Possibilita fôrmas com diferentes dimensões, sejam elas curvas, esbeltas, com taxas
altas de armadura onde o acesso vem ser difícil;
- Possibilita a concretagem de peças onde seu tamanho é reduzido;
- Elimina o barulho de vibração;
Segundo Mayor (2007), a alta trabalhabilidade do CAA associada à estabilidade da
mistura é alcançada através de uma perfeita dosagem de concreto.
O CAA necessita sustentar os agregados graúdos de tal forma, que venha possibilitar
a movimentação do concreto sobre qualquer obstáculo, como exemplos as barras de

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armadura, através da sua homogeneidade e também quando o concreto se encontra em
repouso (OKAMURA, 1977; GETTU E AGULLÓ, 2003; EFNARC, 2005).
Analisando as diferenças que existem entre o CAA e o CCV que se definem nas
propriedades frescas, é muito importante a verificação quanto as possíveis modificações que
essas diferenças causarão nas propriedades do concreto no seu estado endurecido, no seu
controle tecnológico e no estudo dessas evoluções, como: resistência à tração, resistência à
compressão, resistência à fadiga, módulo de deformação longitudinal, ductilidade,
aderência, retração, fluência, tenacidade, dentre outros (CAVALCANTI, 2006).
Os ganhos para o meio-ambiente também são importantes, como a diminuição na
poluição sonora no entorno das obras, o reaproveitamento de finos que seriam descartados
na natureza, além da economia de energia elétrica decorrente da eliminação de vibradores
(COUTINHO, 2011).
Algumas desvantagens que merecem destaque são: maior controle tecnológico,
cuidados no transporte para evitar a segregação, maior custo do CAA em comparação com
o CCV (GOMES e BARROS, 2009).

1.1 Reologia
Reologia é a ciência que estuda as deformações e o fluxo dos materiais quando
submetidos a uma determinada tensão ou solicitação (CASTRO, 2007).
O estudo das propriedades de fluxo do concreto é extremamente importante
porque dele dependem fatores como bombeabilidade, lançamento, facilidade de
colocação e adensamento, além das características de desempenho mecânico e
durabilidade (FERRARIS, 1999; BANFILL, 2003).
Há uma grande diversidade dos materiais utilizados para o CAA. Diferentes
proporções desses diversos materiais retratam-se em características como a
autoadensabilidade e sua reologia, considerando o concreto no seu estado fresco
(SIEDLARZ. E GOLASZEWSKI, 2016).
Considerando o concreto fresco como uma suspensão de partículas sólidas
(agregados) mergulhados em um líquido viscoso (a pasta do aglomerante) nada
mais apropriado que aplicar ao material os modelos clássicos da reologia
(FERRARIS, 2001; PILEGGI, 2001; CAMÕES, 2005; CASTRO e LIBÓRIO,
2006).

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A pasta de cimento não é um líquido homogêneo, sendo composta de partículas
(grãos de cimento) em um líquido (água). A nível macroscópico, o concreto fresco flui como
um líquido (FERRARIS, 1999).
Powers (1968) considera vantajoso conhecer as propriedades reológicas do concreto,
uma vez que as características da pasta dependem da natureza e da extensão de algumas
reações químicas do cimento com a água que ocorrem durante o período de mistura.
Segundo Banfill (1990) e Ghio (1993), a reologia das pastas de cimento é muito
importante, pois as propriedades destas pastas podem nos mostrar informações valiosas
sobre o comportamento reológico do concreto.
Além disso, os estudos em pastas podem ser realizados com o auxílio de
equipamentos comercialmente disponíveis que são mais simples e fáceis de serem
executados do que os estudos em concretos (CASTRO, 2007).
As propriedades reológicas do concreto no estado fresco são importantes
principalmente no período em que o material é lançado nas fôrmas e podem ser determinadas
em qualquer momento durante o período de indução da hidratação do cimento (CHAPPUIS,
1991).
Segundo Hoppe et al (2007), a reologia pode ser usada na investigação do
comportamento do CAA no estado fresco, permitindo um amplo conhecimento das reações
de hidratação que ocorre ao material e o fazem evoluir para o estado endurecido.
Uma das principais dificuldades de aplicação dos testes para medir as
características reológicas do CAA é que nenhum deles isoladamente é capaz de
medir as três propriedades principais requeridas pelo material como: grande
fluidez; habilidade passante; e resistência a segregação (Tutikian & Dal Molin,
2008).
Para Pandolfelli (2000), a viscosidade pode ser considerada a principal propriedade
reológica de um fluido, pois indica sua facilidade de escoar continuamente sob a ação de
uma tensão de cisalhamento externa.

2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo analisar os aspectos reológicos do concreto auto-
adensável, sua viscosidade, consistência, trabalhabilidade e fluidez.

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3. METODOLOGIA
Os materiais constituintes do traço unitário foram separados conforme descrito
abaixo e em seguido o concreto foi preparado. Após o concreto preparado foram realizados
os ensaios: ensaio de compressão de corpos de provas cilíndricos; ensaio de espalhamento
com cone de Abrams (Slump Flow Test); ensaio Slump Flow T500 Test (T50), conforme
descrito abaixo.
3.1 Caracterização dos Materiais
3.1.1 Cimento
O cimento utilizado para o preparo do concreto foi o “Cimento CP II-F32 50kg”, por
ter uma melhor trabalhabilidade.

3.1.2 Agregado Miúdo


Os agregados miúdos utilizados para o preparo do concreto são classificados como
areia fina e grossa natural.

3.1.3 Agregado Graúdo


O agregado graúdo utilizado para o preparo do concreto é classificado como brita 01.

3.1.4 Água
A água utilizada para o preparo do concreto é de origem do serviço de abastecimento
de água e esgotamento sanitário da cidade de Araçatuba/SP.

3.2 Procedimento
3.2.1 Dosagem do Concreto
A obtenção deste concreto não é muito simples, já que é necessária uma combinação
adequada entre os materiais, havendo muita sensibilidade à variação de qualquer um deles
(ARAÚJO et al., 2003, p.2).
O traço utilizado foi definido a partir da bibliografia estudada, seguindo uma
proporção de 1: 1,83: 0,68: 0,60 (cimento, areia, brita 01 e água) com uma proporção de
75% areia grossa e 25% areia fina.

3.2.2 Ensaio de Compressão de Corpos-de-Prova Cilíndricos


O ensaio de compressão foi realizado de acordo com a ABNT NBR 5739:2018.
Inicialmente os moldes foram revestidos internamente com óleo mineral, para evitar
que o concreto aderisse à superfície interna do molde. Posteriormente foi feito o

6
preenchimento do molde com o concreto sem necessitar de adensamento, pois o mesmo já é
classificado como auto adensável. Sua cura inicial ocorreu nas primeiras 24 horas enquanto
o concreto ainda estava no molde, após esse período o cilindro de concreto foi retirado do
molde e colocado em um tanque com água para cura até seu rompimento com 7 e 28 dias
respectivamente.
O rompimento do corpo de prova foi realizado através da prensa automática modelo
Emic SSH300, de célula Trd 30, programa Tesc versão 3.04 disponível no Laboratório de
Engenharia Civil (LEC) do Centro Universitário Toledo Araçatuba – SP.
Para execução deste ensaio o cilindro foi capeado com enxofre, de tal forma que a
superfície ficasse totalmente lisa e não interferisse nos resultados do ensaio. Posteriormente
o cilindro foi posicionado sobre o prato inferior da máquina e, assim o ensaio foi iniciado
submetendo ao cilindro um carregamento em uma velocidade constante durante todo ensaio.
Sua ruptura ocorreu quando houve uma diminuição de força. Foram moldadas 12 amostras,
6 para rompimento com 7 dias e 6 para rompimento com 28 dias.
A figura 02 a seguir mostra os moldes cilíndricos preenchidos com o concreto. A
figura 03 a seguir mostra os corpos de prova capeados com enxofre.

Figura 02 - Molde corpo de prova cilíndrico preenchido com o concreto.


Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 03 - Corpo de prova cilíndrico capeado.


Fonte: Elaborado pela autora.

7
3.2.3 Ensaio de Espalhamento com cone de Abrams (Slump Flow Test)
O ensaio Slump Flow Test foi realizado de acordo com a NBR 15823-2:2017.
O Slump Flow Test também conhecido como Espalhamento com cone de Abrams
estabelece a fluidez do Concreto Auto Adensável (CAA), seguindo em fluxo livre, sob a
ação do seu próprio peso.
Este ensaio pode ser executado por uma pessoa e exige poucos materiais, o que o
habilita a ser usado em canteiros-de-obra (TUTIKIAN & DAL MOLIN, 2008).
Para a execução deste ensaio foram utilizados os seguintes materiais:
 Molde tronco-cônico com 300 mm de altura, diâmetro interno da base inferior
com 200 mm e superior com 100 mm e bases abertas.
 Placa-base metálica.
 Régua metálica.
Inicialmente o molde e a placa devem ser umedecidos. Feito isso posiciona-se a placa
sobre uma superfície nivelada. O molde é centralizado e preenchido totalmente com o
concreto sem adensar. Em seguida o molde é retirado na direção vertical em movimento
constante e uniforme com tempo não superior a 3 segundos. Após a realização do ensaio
tira-se duas medidas de diâmetro perpendicular entre si, observa-se a característica que o
concreto ficou após o escoamento. A figura 04 mostra o espalhamento do concreto, na figura
05, a seguir, encontra-se com as dimensões do molde tronco-cônico.

Figura 04 - Apresenta o espalhamento do concreto para índice de estabilidade visual


Fonte: Elaborado pela autora.

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Figura 05 - Molde tronco-cônico.
Fonte: ResearchGate – Metodologia de pesquisa sobre propostas para minimizar o empirismo na NBR NM
67 – Determinação da consistência pelo abatimento de tronco de cone do concreto (2018).

3.2.4 Ensaio Slump Flow T500 Test (T50)


O ensaio Slump Flow 500 Test foi realizado de acordo com a NBR 15823-2:2017.
Semelhante ao Slump Flow Test, o ensaio Slump Flow T500 Test também é
conhecido como “T50” e tem como característica analisar a viscosidade aparente do CAA.
Concretos com baixa viscosidade apresentam um espalhamento inicial muito rápido,
mas em pouco tempo o fluxo é cessado, enquanto que concretos com elevada viscosidade
apresentam um fluxo mais uniforme e durante um tempo maior (ALENCAR, 2008).
A diferença é que no T50 é feito uma marcação de diâmetro de 500 mm na placa
metálica, posteriormente o concreto é colocado no molde, retira-se o molde na direção
vertical em movimento constante e uniforme com tempo não superior a 3 segundos. Feito
isso, foi analisado o tempo que foi necessário até o concreto atingir a marcação na placa.
Para realizar o slump flow T500 são necessários dois operadores, sendo que o
segundo operador fica responsável por marcar o tempo que o concreto leva para atingir a
marca de 500mm (TUTIKIAN & DAL MOLIN, 2008).
Na figura 06 apresenta o concreto após o ensaio para verificação do (IEV). Na figura
7 encontram-se as dimensões do molde tronco-cônico com a marcação de 500 mm na placa
base.

9
Figura 06 - Concreto espalhado na placa base.
Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 07 - Molde tronco-cônico com marcações na placa-base.


Fonte: Scientific Research – Effects of Stone Cutting Powder (Al-Khamkha) on the Properties of Self-
Compacting Concrete (2017).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apresentados a seguir foram desenvolvidos no Laboratório de
Engenharia Civil Unitoledo (LEC), referente aos estudos e análises feitos para verificação
dos aspectos reológicos do concreto auto-adensável, sua viscosidade, consistência,
trabalhabilidade e fluidez.

4.1 Resultados segundo o ensaio de Compressão de Corpos de Prova Cilíndricos


Os resultados atingiram a resistência exigida pela norma NBR 8953:2015, de no
mínimo 20 MPa, sendo classificado como Classe de resistência Grupo 1 e classe C20
podendo ser utilizado para fins estruturais. A tabela 01 apresenta as classes de resistência, a

10
tabela 02 e a figura 08 contêm os resultados de resistência à compressão do corpo de prova
individualmente com 07 e 28 dias respectivamente.

Tabela 01: Classe de resistência.


Resistência Resistência
Classe de Classe de
característica à característica à
resistência Grupo 1 resistência Grupo 2
compressão (MPa) compressão (MPa)
C20 20 C55 55
C25 25 C60 60
C30 30 C70 70
C35 35 C80 80
C40 40 C90 90
C45 45
C100 100
C50 50
Fonte: ABNT NBR 8953:2015.

Tabela 02: Resultado de resistência à compressão individualmente de cada corpo de prova e sua média.
Resistência à Compressão (MPa)
Corpo de Prova 07 dias 28 dias
CP 01 13,40 20,97
CP 02 14,07 20,45
CP 03 14,31 22,60
CP 04 15,69 23,58
CP 05 14,41 21,47
CP 06 13,80 22,58
MÉDIA 14,28 21,94
Fonte: Elaborado pela autora.

11
25

20

15

10

Figura 08 - Resultado de resistência a compressão individualmente de cada corpo de prova e sua média.
Fonte: Elaborado pela autora.

A figura 09 mostra o corpo de prova após o ensaio de resistência a compressão.

Figura 09 - Corpo de prova cilíndrico após ensaio de compressão.


Fonte: Elaborado pela autora.
4.2 Espalhamento (SF)
De acordo com a NBR 15823-2:2017 o resultado do ensaio é o espalhamento (SF)
do concreto, obtido pela média aritmética de duas medidas perpendiculares do diâmetro, em
milímetros (mm).
As duas medidas realizadas tiveram a mesma dimensão de 750 mm, tendo como
média aritmética 750 mm. Foi classificado como SF 2 adequada para a maioria das

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aplicações correntes, como por exemplo paredes, vigas, pilares e outras, como apresentado
na tabela 03 a seguir.
Tabela 03: Classe de espalhamento.
Classe de Espalhamento Aplicação Exemplos
espalhamento (mm)
SF 1 550 – 650 Estruturas não armadas ou com baixa Lajes,
taxa de armadura e embutidos, cuja revestimentos de
concretagem é realizada a partir do túneis, estacas,
ponto mais alto com deslocamento certas fundações
livre. profundas.
Concreto auto-adensável bombeado,
estruturas que exigem uma curta
distância de espalhamento horizontal
do concreto auto-adensável.
SF 2 660 – 750 Adequada para a maioria das Paredes, vigas,
aplicações correntes. pilares e outras.
SF 3 760 - 850 Estruturas com alta densidade de Pilares-paredes,
armadura e/ou de forma paredes
arquitetônica complexa, com o uso diafragma,
de concreto com agregado graúdo de pilares.
pequenas dimensões (menor que
12,5 mm).
Fonte: ABNT NBR 15823-2:2017.

4.3 Tempo de Escoamento (t 500)


De acordo com a NBR 15823-2:2017 o resultado do ensaio (t 500) é o intervalo de
tempo, em segundos, entre o início e o final do escoamento do concreto, a partir do diâmetro
do molde (200 mm) até a marca circular de diâmetro 500 mm da placa-base.
O tempo medido foi de 2,15 segundos sendo um tempo superior a 2 segundos,
portanto é classificado como VS 2 adequado para a maioria das aplicações correntes.
Apresenta efeito tixotrópico que acarreta menor pressão sobre as fôrmas e melhor resistência
à segregação. Efeitos negativos podem ocorrer na superfície de acabamento (ar aprisionado),

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nos preenchimentos de cantos e interrupções ou demora entre sucessivas camadas, como por
exemplo vigas, pilares e outras. (Como apresentado a seguir na tabela 04).

Tabela 04: Classe de viscosidade.


Classe T500 Aplicação Exemplos
viscosidade (s)
plástica aparente
VS 1 ≤2 Adequado para elementos estruturais com Lajes, paredes
alta densidade de armadura embutidos, diafragma,
mas exige controle da exsudação e da pilares-paredes,
segregação. Concretagens realizadas a indústria de pré-
partir do ponto mais alto com moldado e
deslocamento livre. concreto aparente.
VS 2 >2 Adequado para a maioria das aplicações Vigas, pilares e
correntes. Apresenta efeito tixotrópico outras.
que acarreta menor pressão sobre as
fôrmas e melhor resistência à segregação.
Efeitos negativos podem ocorrer na
superfície de acabamento (ar
aprisionado), no preenchimentos de
cantos e interrupções ou demora entre
sucessivas camadas.
Fonte: ABNT NBR 15823-2:2017.

4.4 Índice de Estabilidade Visual (IEV)


De acordo com a NBR 15823-2:2017 o resultado do ensaio (IEV) é o índice de
estabilidade visual, determinado visualmente pela análise do concreto imediatamente após o
termino do escoamento.
Foi classificado como IEV 0 (Altamente estável) sem evidência de segregação ou
exsudação, como apresentado a seguir na tabela 05.

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Tabela 05: Classes de índice de estabilidade visual (IEV)
Classe IEV
IEV 0 (Altamente estável) Sem evidência de segregação ou exsudação.
IEV 1 (Estável) Sem evidência de segregação e leve exsudação.
IEV 2 (Instável) Presença de pequena auréola de argamassa (≤ 10 mm) e/ou
empilhamento de agregados no centro do concreto.
IEV 3 (Altamente Instável) Segregação claramente evidenciada pela concentração de
agregados no centro do concreto ou pela dispersão de
argamassa nas extremidades (auréola de argamassa > 10
mm).
Fonte: ABNT NBR 15823-2:2017.

5. CONCLUSÃO
De acordo com os estudos realizados ao longo do trabalho, conclui-se que o CAA
ainda precisa muito ser estudado, porém é possível verificar que sua aplicação em partes
estruturais é muito vantajosa devido às suas características tais como a fluidez e viscosidade
elevada, resistência à segregação, consistência e sua trabalhabilidade no seu estado fresco.
Sua aplicação demanda menos tempo se comparado ao CCV, pois o mesmo não necessita
de adensamento, e o seu preenchimento ocorre de forma uniforme conseguindo alcançar toda
área necessária para concretagem.
De acordo com o programa experimental conclui-se que as propriedades reológicas
são muito complexas, pois podem ser influenciadas por diversos fatores como por exemplo,
a relação água/cimento, a presença ou não de aditivos, o tipo de cimento utilizado nos
ensaios, as condições de mistura, entre outros.
Os ensaios realizados tiveram resultados satisfatórios visto que com relação ao ensaio
de compressão de corpos de prova cilíndrico atingiu-se a resistência mínima pela NBR
8953/2015, obtendo assim, um concreto de boa qualidade sendo classificado como grupo 1
e classe C20 podendo ser utilizado para fins estruturais.
É interessante destacar que os resultados apresentados no presente trabalho ainda são
restritos, quando analisado a grande complexidade presente nos ensaios. Observa-se que são
necessárias mais pesquisas para caracterização dos aspectos reológicos dos CAA, visto que
possui uma diversidade de materiais que podem ser utilizados para substituição ou para
composição do traço unitário.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15823-2:2017: Concreto


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