Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 34
(de wes @ Toure se aces seed Spe Probe © Axehrns Fontes, 184 cokiS lerowens Yagi on Bubge Capitulo 1 “Este sou eu” 0 desenvolvimento do meu pensamento profissionale da minha filosofia pessoal Este capitulo sintetiza duas exposigdes muito pessoais. Ha aproximadamente cinco anos fui convidado a apresentar & classe mais graduada da Universidade de Brandeis ndo minkas idéias sobre a psicoterapia, mas a mim mesmo. Como é qi tinka chegado ao que hoje penso? Como me tort que sou? Achei este convite extraordinariamente procurei corresponder a ele. No ano passado, o Si Forum Committee da Universidade de Wisconsin dirigiu-me um convite anélogo, Pediram-me para fazer uma exposigdo pessoal no quadro das suas “Ultimas Conferéncias” em que se presume, por razBes ndo especificadas, que 0 professor esta dando sua tiltima conferéncia, e, por isso, fala de si mesmo (que espantoso ‘comentirio ao nosso sistema de educagdo em que um professor ‘86 se mostra asi mesmo de um modo pessoal em tao duras cir- cunstancias!). Nessa conferéncia de Wisconsin exprimi de uma ‘maneira mais profurnda do que na primeira as experiéncias pes- soais e os temas filasoficos que se tornaram para mim mais sig- No presente capitulo harmonizei as duas exposi- es, tentando manter o carditer espontdneo que revestia a sua apresentagdo original. A reasao a cada uma dessas exposigdes fez-me compreen- der como as pessoas desejam ansiosamente conhecer algo da pessoa que thes fala ou que as ensina, Foi essa.a razdo por que t Se ae eee Tornar-se pessoa brio livro com este capitulo, na esperanca de que ele comuni- nando, desse modo, um engua- ieagdo aos capitulos que seguem. caré algo sobre mim, prop. dramento e uma maior sig Informaram-me que esperavam que eu falasse a esse grupo sobre a seguinte matéria: “Este sou eu”. Passei por diferentes reagGes perante esse convite, mas aquela que gostaria de men- cionar aqui como a principal foi a de me ter sentido honrado e lisonjeado por um grupo querer saber quem sou eu, num sentido puramente pessoal, Posso lhes assegurar que se trata de um con- vite tinico e sem precedentes e que vou tentar dara essa pergunta hhonesta uma resposta tdo honesta quanto me for p isso, quem sou eu? Um psicélogo foram, durante muitos anos, os da psicoterapia. Que € que isto significa? Nao tenho a intengo de impor uma longa cerdnica do meu trabalho, mas gostaria de extrair alguns pard- grafos do prefécio do meu livro Client-Centered Therapy’, para indicar 0 que, subjetivainente, isso significa para mim. Nesse prefacio, eu procurava esclarecer 0 leitor sobre © conteiido da obra e escrevi o seguinte: “De que trata este livro? Permitam-me que tente dar-Ihes uma resposta de algum modo ligada a expe- riéncia vivida que esse livro procurou ser.” “Este é um livro sobre o sofrimento ea esperanca, a angis- tia © a satisfagdo presentes na sala de todos os terapeutas, E sobre o carater tinico da relago que o terapeuta estabelece com , igualmente, sobre os elementos comuns que des- todas essas relagdes. Este livro & sobre as expe- riéncias profundamente pessoais de cada um de nds. E sobre uum cliente no meu consultério, sentado perto da escrivaninha, lutando para ser ele mesmo e, no entanto, com um medo mortal de ser ele mesmo — esforgando-se para ver a sua experiéncia tal como ela é, querendo ser essa experiéncia, ¢, no entanto, cheio de medo diante da perspectiva. E um livro sobre mim, sentado diante do cliente, olhando para ele, participando da luta com toda a profundidade © sensibilidade de que sou capaz. E um 5 Notaspessoais livro sobre mim, tentando perceber a sua experiéncia ¢ o signi- ficado, a sensagao, 0 sabor que esta tem para ele. £ sobre mim, lamentando a minha falibilidade humana para compreender o cliente e os ocasionais fracassos em ver a vida tal como ela se mostra diante dele, fracassos que caem como objetos pesados sobre a intricada e deticada teia do desenvolvimento que est ocorrendo. E um livro sobre mim, alegre com o privilégio de ser o res- ponsével pelo parto de uma nova personalidade — maravilhado diante do surgimento de um self, uma pessoa, de um proceso de nascimento no qual tive um papel importante e facilitador. sobre mim ¢ o cliente, que contemplamos com admiragio as forgas ordenadas e vigorosas que se evidenciam em toda a ex- periéncia, forcas que parecem profundamente arraigadas no uni- verso como um todo, E um livro, creio cu, sobre a vida, a vida que se revela no processo terapéutico — com a sua forga cegac a sua tremenda capacidade de destruigdo, mas com um impeto primordial voltado para o desenvolvimento, se Ihe for oferecida a possibilidade de desenvolvimento. 30 hes dé uma imagem daquilo que fago e do modo como me sinto com relagdo ao que fago. Julgo que pergunta- io como € que cheguei a essa ocupagdo ¢ quais as decisdes e as copsdes que, consciente ou inconsciente, a isso me conduziram. ‘Tentarei apresentar alguns dos aspectos mais importantes da mi- ‘nha autobiografia psicolégica, especialmente os que tém uma re- lagdo particular com a minha vida profissional, Os meus primeiros anos Fui educado numa familia extremamente unida onde rei- nava uma atmosfera religiosa e moral muito estrita e intransi- gente, ¢ que tinha um verdadeiro culto pela virtude do trabalho duro, Fui o quarto de seis filhos. Meus pais tinham por nds um grande afeto e nosso bem-estar era para eles uma preocupacao constante. Controlavam também o nosso comportamento, de ad 6 Tomar pss ‘uma maneira ao mesmo tempo sutil e afetuosa, Eles considera- ‘vam ~ e eu aceitava essa idéia — que nés éramos diferentes das outras pessoas: nada de alcool, de dangas, de jogos de cartas ou de espeticulos, uma vida social muito reduzida e muito traba- tho. Tive uma enorme dificuldade em convencer meus filhos de que, para mim, mesmo as bebidas nio-alcodlicas tinham um. aroma de pecado e lembro-me do meu leve sentimento de culpa quando bebi meu primeiro reftigerante, Passdvamos um tempo agradivel reunidos em familia, mas no conviviamos. Tornci- me assim uma crianga solitéria que lia incessantemente e nio tive, a0 longo de todos os meus anos de colégio, senio dois encontros com mogas. Tinha eu doze anos quando meu pai comprou uma fazenda ‘onde fomos viver. As razes disso foram duas: primeiro, meu pai, que se tornara um negociante préspero, procurava um hobby; segundo, ¢ creio que mais importante, foi o fato de os meus pais pretenderem afastar os seus filhos adolescentes das “tentagies”” dda vida da cidade. Na fazendda interessei-me por duas coisas que tiveram pro- vavelmente uma influéncia real no meu trabalho futuro, Ficava fascinado pelas grandes borboletas noturnas (estavam entio em voga 08 livros de Gene Stratton-Porter) e tornei-me uma autori- dade na bela Luna, no Polyphemus, na Cecropia ¢ nos outros lepidépteros que habitavam nossos bosques. Capturava com ‘muito trabalho as borboletas, cuidava das larvas, conservava os casulos durante os longos meses de inverno, experimentando assim algumas das alegrias e das frustragées do cientista quan- do procura observar a natureza. ‘Meu pai resolvera organizar a sua nova fazenda numa base cientifica e, para isso, adquirira um grande niimero de livros sobre agricultura racional.. Entusiasmava os filhos a ganharem independéncia, encorajando-os a langarem-se por si sés em em- galinhas e, vez por outra, tratévamos de car- neiros, de porcos ou de vacas desde que nasciam, Tornei-me Notas pessoais, 7 assim um estudioso da agricultura cientifica e s6 recentemente percebi que foi esse 0 caminho que me conduziu a uma com- preensio fundamental da ciéncia. Nao havia ninguém para me dizer que a obra de Morison, Feeds and Feeding, nao era um li- vro para um adolescente de catorze anos e, por isso, mergulhei nas suas centenas de paginas, aprendendo como se conduzem as experiéncias, como se comparam grupos de controle com grupos experimentais, como se tornam constantes as condi- ges, variando os processos, para que se possa estabelecer a in- fluéncia de uma determinada alimentagao na produgio de came ou na produgao de leite. Aprendi como é verificar uma esse modo o conhecimento e 0 respeito pelos ficos através de trabalhos priticos. A graduagéo e a pés-graduagiio Comecei a faculdade em Wisconsin estudando agricultura ‘Uma das coisas de que me lembro melhor era a veeméncia de ‘um professor de agronomia quando se referia ao estudo e & apli- cago dos fatos. Ele insistia na futilidade de um conhecimento enciclopédico em si mesmo e concluia: “Nao sejam um vagio de munigdes; sejam uma espingarda!” Durante meus dois primeiros anos de faculdade, meu objetivo profissional em conseqiiéncia de algumas reu- nides estudantis sobre religido muito apaixonadas: desisti da agricultura cientifica a favor do sacerdécio — uma pequena mu- danga! Transferi-me entdo de agricultura para histéria, julgan- do que esta seria uma melhor preparacio. No meu primeiro ano fui um dos escolhidos de um grupo de doze estudantes americanos para uma viagem & China, a fim de participar de um Congresso Internacional da Federag3o Mun- dial dos Estudantes Cristéos. Isso representou para mim uma experiéncia de extraordinaria importincia. Estivamos em 1922, quatro anos apés o término da Primeira Guerra Mundial. Pude observar a amargura com que os franceses ¢ os alemaes conti- lterou-se a3 _ Tornar-se pessoa ‘nuavam a se odiar, embora individualmente parecessem simpé- ticos. Fui forgado a admitir e compreender como & que pessoas sinceras ¢ honestas podiam acreditar em doutrinas, muito divergentes. Emancipei-me pela primeira vez da atitude religiosa dos meus pais e vi que ja nfo os podia seguir. Essa independéncia de pensamento provocou um grande desgosto e grandes tensBes nas nossas relagGes, mas, vistas as coisas & dis- tancia, compreendi que foi nesse momento, mais do que em qualquer outro, que me tomnei uma pessoa independente. i cla- ro que havia muita revolta e rebeligo na minha atitude durante todo esse periodo, mas a ruptura essencial ocorreu durante os seis meses da minha viagem pelo Oriente e, a partir de entio, fj elaborada fora da influéneia familiar Embora esse seja um relato dos elementos que influencia- ram meu desenvolvimento profissional mais do que a minha ‘maturagao pessoal, desejaria mencionar aqui, de uma mancira ‘muito breve, um importante fato da minha vida particular. Foi na época da minha viagem & China que me apaixonei por uma moca adoravel, que jé conhecia havia muitos anos, desde a in- fancia, e com quem me casei, com 0 consentimento relutante dos nossos pais, logo que acabei a faculdade, para que pudésse- ‘mos prosseguir juntos os estudos de pés-graduacdo. Nao pode- rei ser muito objetivo nesse assunto, mas estou convencido de ue 0 apoio do seu amor e a afeigao da sua companhia ao longo de todos esses anos foram um fator de enriquecimento extrema- ‘mente importante na minha vi vical Seminary, nesse tem- 4), com 0 objetivo de ‘me preparar para uma missio religiosa. Nunca me arrependi dos dois anos que af passei. Estive em contato com alguns grandes estes e professores, especialmente o Dr. A. C. McGiffer, que tinham uma profunda crenca na liberdade de investigagio e na busca da verdade, levasse ela onde levasse, Conhecendo como conhego agora as universidades e as «escolas superiores ~ sabendo a rigidez dos seus regulamentos -, Notas pessoais 9 fico verdadeiramente impressionado pela importante experién- cia que tive no Union. Nosso grupo sentia que nos forneciam idéias ja prontas, quando o que nos interessava principalmente era explorar as nossas préprias questies e as nossas proprias diividas ¢ descobrir aonde isso nos levava. Pedimos & adminis- tragio que nos deixasse organizar um semindrio oficial, sem orientador, cujo programa fosse constitufdo pelas nossas pré- prias questdes. A administragdo ficou compreensivelmente per- plexa perante essa proposta, mas deferiram 0 nosso pedido! A linica restrigdo feita para preservar os interesses da instituigao foi a presenga de um jovem orientador no seminério, mas este no participava nos trabalhos, a nfo ser que o convidassemos. ‘Suponho nao ser necessétio acrescentar que esse seminatio fj extraordinariamente satisfatrio ¢ esclarecedor. Tenho certe- za de que me conduziu para uma filosofia da vida que me era muito pessoal, A maior parte dos membros do referido grupo, prosseguindo 0 caminko tragado pelas questdes que levantaram, puseram de lado a idéia de uma vocagao religiosa, Eu fui um doles. Sentia que provavelmente sempre me questdes tais como o sentido da vida e a possi ‘melhoria construtiva da vida do i balhar no campo determinado por uma doutrina religiosa espe- cifica em que devia acreditar. As minhas crengasjé tinham sofri- do tremendas alteragées e, possivelmente, continuariam a mu- dar, Torava-se para mitn tertivel fer de professar um certo nti- ‘mero de crencas para poder me manter nla profissio. Eu queria encontrar um campo no qual pudesse estar seguro de que a mi- nha liberdade de pensamento nao softeria restrigdes. Tornando-me psicélogo Mas que campo? No Union tinham-me interessado os cur- sos ¢ as conferéncias sobre psicologia e psiquiatria que entio comesavam a se desetvolver. Professores como Goodwin Wat- son, Harrison Elliott, Marian Kenworthy contribuiram para esse et Wo Tornar-se pessoa interesse, Comecei a seguit um maior mimero de cursos no Teacher's College da Universidade de Columbia, situada preci- samente em frente do Union Seminary. Comecei a trabalhar em filosofia da educagao com William H. Kilpatrick, que conside- rei um grande professor. Iniciei os meus trabalhos clinicos pré- icos com criangas, sob a direso de Leta Hol pessoa sensivel e pratica. Fui me sentindo atraido por esse tra- balho de orientagao infantil e, pouco a pouco, sem quase ne- nhum esforco de adaptagZo, passei para o campo de trabalho Psicopedagégico e comecei a pensar em tornar-me psicélogo clinico. Foi um passo ficil de dar, com relativamente pouca consciéncia de estar fazendo uma opefo, entregancdo-me ape- nas as atividades que me interessavam. Orien- Fund, Senti-me freqiientemente grato por af ter estado durante o pri- meiro ano da sua fundagdo. A organizagio, de inicio, estava ‘num estado cadtico, mas isso implicava que cada um podia fazer o que quetia. O convivio com David Levy e Lawson Lowrey mergulhou-me nas perspectivas dindmicas de Freud, areciam em profundo conflito com as perspectivas cas, ficas e friamente objetivas que prevaleciam no Teacher's College. Olhando para o passado, julgo que a necessi- dade de resolver esse conflito em mim mesmo foi uma expe- rigncia extremamente valiosa. Na época, tinha a impressio de viver em dois mundos completamente diferentes “e nunca os dois se iriam encontrar”. Perto do fim do meu intemato, tomou-se muito importante encontrar um trabalho bem remunerado para sustentar meu doutorado, Os empregos eram em mimero escasso e recordo- me do alivio e da alegria que experimentei quando encontrei lum: fui contratado como psicélogo no “Child Study Depart. ment” da Associagao para a Protecdo & Infancia em Rochester, CO ‘Nova York. Eramos trés psicélogos nesse centro de estudos ¢ 0 ‘meu ordenado era de 2.900 délares por ano. Lembro-me hoje que aceitei esse cargo com alegria e com espanto, A razZo por que me alegrava era a de ter encontrado um trabalho que eu gostaria de fazer. Segundo qualquer critério de ‘bom senso era una profisstio sem saida, que me isolava de todo contato profissional, o ordenado era insuficiente, mesmo para aquela época, mas tudo isso, se bem me recordo, nao me afetava grandemente, Julgo sempre ter pensado que, se me fosse dada uma oportunidade de fazer uma coisa em que estivesse muito in- teressado, tudo o mais se resolveria por si mesmo. Osanos em Rochester Os doze anos seguintes que passei em Rochester foram altamente preciosos. Durante os primeiros oito anos, pelo me- nos, absorvi-me completamente no meu servigo de psicologia prética, num trabalho de diagnéstico e de planejamento de casos de criangas delingtientes e sem recursos, criangas que nos cram enviadas pelos tribunais e pelos servigos sociais, ¢ realizei freqiientemente “entrevistas de tratamento”. Foi um periodo de relativo isolamento profissional, 20 longo do qual a minha ‘inica preocupagio foi tentar ser o mais eficaz possivel em rela- «40 aos nossos clientes. Tinhamos de aceitar tanto os nossos fracassos como os nossos sucessos e assim éramos obrigados a aprender. © tinico critério que empregavamos como método de tratamento em relagdo a essas criangas e aos seus pais era: funciona? Sera eficaz?” Principiava entio air progressivamen- te formando as minhas proprias opinides a partir da experiéncia do meu trabalho cotidiano. Ocorrem-me trés exemplos significativos e importantes para mim, se bem que banais. Noto que so, todos trés, momen- tos de desilusio, desilusio em relacdo a uma autoridade, em relagio ao material e em relagdo a mim mesmo. aes - Tomar se pessoa Durante os meus anos de formacto,tinha sido atraido pelas obras do Dr. William Healy, segundo o qual a delingiiénca se baseava muitas vezes num sexual e que, uma vez desco- berto esse conflito, a delingiéncia cessava. No primeiro ow se undo ano que passei em Rochester, trabalhei a indo com um Jovem Piromaniaco que manifestava uma tendéncia irresistivel at ; ‘esolvide, No enfanto, quando colocado em liberdade condicio. nal, ojovem recaiu na mesma dificuldade ‘embro-me do choque que sent. Tlvez Healy se enganas- fe. Talvez eu me tivesse apercebido de algo que Healy nio cn, bia. Seja como foro caso fez-me ver com elareza a poscblida Ge de erro por parte da autoridade dos mestres ¢ que havia naz vos conhecimentos a adquirr. A segunda descoberta ingénua que fiz foi muito diferente. Pouco depois de ter chegado a Rochester dirigi um grupo de dis cussio sobre os métodos da entrevista psicolégica. Eu tinha achado um relato publicado de uma entrevista, praticamente palavra a palavra, com uma mae. em que o profissional era, ers Penetrante hibil, capaz de conduzir rapidamente a entre. ara 0 centro da dificuldade, Sentia-me feliz por poder utili. 'a.como um exemplo de uma boa técnica de entrevists Alguns anos mais tarde vieme numa situasao semelhante ¢ dembreime desse excelente material indo procurélo a fim de relé-to. Fiquei constemado, Aquilo parecia-me agora um niida tipo de interrogatério judicial em que o entrevistador conseguia Gonvencer @ mae das suas motivagdes inconscientes ¢ levi. la a adits a sua culpabilidade. 14 sabia por experiéncia pripria que esse género de entrevista ndo podia ajudar nem amfe nema eran, $a de uma forma duradoura. Isso levou-me a compreender que sstava me afastando de todo método coercivo ou de pressdo nas relacdesclincas, nto por razdes filosdficas, mas porgue esses ‘métodos de aproximacao eram apenas superfcialmente chicane, healt a edb Notaspessoais i3 O terceiro incidente ocorreu vérios anos depois. Tinha aprendido a ser mais sutil e paciente na interpretagdo dada a um cliente do seu comportamento, aguardando uma oportunidade gem que a pudesseaceitar sem perturbasio, Falava com uma mie extremamente inteligente, cujo filho era um verdadeiro abo. O problema era evidentemente a sua rejeigo do menino desde cedo, mas, apesar de muitas entrevistas, fazé-la ver isso, Fiz com que ela falasse, procurei d tar os dados evidentes que me tinha fornecido, tentando a ver a situaco. O resultado era nulo. Acabei por de- sistir. Disse-the que haviamos feito 0 melhor que podiamos, ‘mas que tinhamos fracassado © que assim os nossos conta deviam terminar. Ela concordou. Acabamos assim a entrevista, apertamos as milos ¢ ea jé se dirigia para a porta do meu con- sultério quando se voltou para mim e perguntou: “Também faz aconselhamento de adultos aqui?” Tendo-Ihe respondido afir- mativamente, disse-me: “Pois bem, gostaria que me ajudasse” Voltou para a cadeira de onde se havia levantado e comegou a “derramar” seu desespero sobre seu casamento, sobre suas rela- ses perturbadas com o marido, seu s e Confuso, tudo isso muito diferente da esti “histria de caso que antes me tinha fornecido, Iniciou-se ento uma real terapia que acabou por ser bem-sucedida, Esse incidente foi um daqueles que me fizeram sentir 0 fato — de que s6 mais tarde me apercebi completamente ~ de gue é proprio cliente que sabe aquilo de que sofe, qual a dre- do a tomar, quais problemas so cruciais, que experiéncias fo- ‘am profundament recalcadas. Comecei a compreender que, para fazer algo mais do que demonstrar minha prépria clarividéncia, € sabedoria, o melhor era deixar ao cliente a dirego do movie mento no processo terapéutico, oe omar se pessoa Psicélogo ou? Ac longo desse periodo, comecei a duvidar se seria um psi- Célogo. A Universidade de Rochester fez-me ver que o trabalho que eu realizava nao era psicologia e que ndo estava interessada ‘no meu ensino no Departamento de Psicologia. Assisi areuniGes Associacdo Americana de Psicologia (AAP) repletas de con. éncias sobre o processo de aprendizagem dos ratos e sobre experiéncias de laboratério que nao me pareciam ter relagio com © que eu estava fazendo. Os assistentes sociais psiquidtricos, no ‘entanto, pareciam falar a minha linguagem e por isso orientei as minhas atividades para a assist tanto nas organiza- enas quando foi criada ® Associaco Americana para a Psicologia Aplicada que retomei realmente as minhas atividades como psicélogo. Comecei a dar cursos na Universidade, no Instituto de So- i, sobre como compreender e como tratar as criangas eis. Pouco depois, o Instituto de Pedagogia quis incluir as minhas aulas no seu curriculo (por , antes da minha parti- a de Rochester, o Instituto de Psicologia da Universidade pe- diu autorizagao para fazer o mesmo, acabando por me aceitar como psic6logo). A simples descrigdo dessas experiéncias faz me ver como eu seguia obstinadamente o meu proprio cami- ntho, relativamente independente do fato de estar ou nio fazen. doo mesmo que o grupo dos meus colegas O tempo néo permite que se fale do trabalho de constituir em Rochester um centro independente de psicopedagogia, nem do conflito que isso implicou com alguns psiquiatras, Tratava- Se, na maior parte das vezes, de lutas administrativas que pouco tinham a ver com o desenvolvimento das minhas idéias, Meus filhos Foi durante esses anos em Rochester que meu filho mi- nha filha atravessaram a inffincia, ensinando-me muito mais acerca do individuo, da sua evolugdo e das suas relages do que inant aaa 1s Notas pessoais aquilo que poderia ter aprendido profissionalmente. Nao creio tor sido muito bom pai durante os seus primeiros anos, mas, felizmente, minha mulher era muito boa mie, e, com o passar do tempo, fui me tornando um pai melhor e mais compreensi- vo. O privilégio, durante esses anos e mais tarde, de estar em contato permanente com esses dois jovens sensiveis ao longo das alegrias e desgostos da inffincia, da afirmagao e das dificul- dades da sua adolescéncia, da sua chegada a idade adulta e da constituigo dos seus préprios lares, foi certamente alg gavel. Minha mulher e eu consideramos uma de nossas realiza- 6es mais satisfat6rias o fato de podermos nos comunicar com nossos filhos adultos ¢ seus cénjuges num nivel profundo, que eles possam fazer 0 mesmo em relagio a nds. Os anos em Ohio Em 1940, aceitei um lugar na Universida Ohio. Tenho certeza de que a tinica razdo de foi ter publicado minha obra Clinical Treatment of the Problem Child? que elaborara a custo durante periodos de férias ou em curtos feriados. Para minha surpresa, e contrariamente & minha expectativa, ofereceram-me um lugar de professor efetivo, Re- comendo insistentemente esse ponto de partida para o mundo académico, Senti-me muitas vezes agradecido por nfo ter softi- do 0 processo competitivo, freqiientemente humilhante, de pro- ‘mogiio grau a grau nas faculdades, onde as pessoas tantas vezes se limitam a aprender uma nica ligo ~ a de nao mostrarem muito o que sio. ‘Ao tentar ensinar 0 que aprendera sobre tratamento e acon- selhamento aos estudantes da Universidade de Ohio, comecei a me dar conta pela primeira vez de que tinha talvez elaborado uma perspectiva muito pessoal a partir da minha propria expe- rigncia. Quando procurei formular algumas dessas idéias ¢ as apresentei numa conferéncia na Universidade de Minnesota, em dezembro de 1940, deparei com reagdes extraordinariamen- ot eo ramanse pessoa te fortes. Foi a minha primeira experineia do fato de que uma das minhas idéias, que para mim parecia brilhante e extrema. mente fecunda, pudesse representar para outrem uma grande ameaga. Ea situagao de me encontrar no centro das criticas, dos argumentos a favor e contra, desorientou-me e me fez duvidar ¢ questionar a mim mesmo. Todavia, pensava que tinha algo a dizer e redigi o manuserito de Counseling and Psychotherapy, descrevendo 0 que, de alguma maneira, me parecia ser uma orientagio mais eficaz da terapia Aqui, mais uma vez, acho um pouco divertida a minha des- reocupasao pouco “realista". Quando propus 2o editor 0 manus. crito, este 0 considerou interessante e original mas quis saber para que cursos poderia servir. Respondi-Ihe que apenas conhecia dois © que cu dava ¢ um em outra universdade. O editor julgou que eu cometera um erro grave por nfo ter escrito um texto que pudesse ser utlizado por cursos jé em funcionamento. Tinha muitas divi. as de poder vender dois mil exemplares, nimero necessério para cobrir as despesas. Somente quando Ihe disse que procuraria Outro editor € que se decidiu a arriscar. Nio sei qual de nés dois ficou mais surpreso com 0 niimero de vendas: setenta mil exem. plares até hoje, eacoisa continua, Ostiltimos anos Creio que a partir desse ponto, e até agora, a minha vida Profissional ~ cinco anos em Ohio, doze anos na Universidade de Chicago e quatro na Universidade de Wisconsin ~ est sufi. ‘emente bem documentada naquilo que escrevi. Vou me li- mitar @ apontar dois ou trés aspectos que me parecem mais sig- nificativos. Aprendi a viver numa relagio terapéutica cada vez mais Profunda com um numero sempre crescente de clientes. Isto ode ser e tem sido extremamente animador. Pode também ser extremamente alarmante e, por vezes, o foi, quando alguém ‘muito perturbado parece exigir de mim mais do que sou para “sis motahsanemaccen a ‘Notas pessoais poder corresponder as suas necessidades. E certo que a pritica a terapia € algo que exige um desenvolvimento pessoal perma- nente por parte do terapeuta, o que as vezes € penoso, mesmo se, a longo prazo, provoca uma grande satisfagao. Desejaria anda acentuar a importincia cada vez maior a investigaedo passou a ter para mim* A pesquisa ¢ a exper cia na qual posso me distanciar e tentar ver essa rica experin- cia subjetiva com objetividade, aplicando todos os elegantes métodos cientificos para determinar se no estou iludindo a ‘mim mesmo. Estou cada vez mais convencido de que descobri- remos les da personalidade e do comportamento que serio tio importantes para o progresso humano ou para a compreenséo do homem como a lei da gravidade ou as da termodindmica, No decurso das duas tltimas décadas, habituei-me de certa forma a ser atacado, mas as reages as minhas idéias continuam surpreender-me. Do meu ponto de vista, julgo que sempre propus minhas idéias como hipdteses de trabalho, para serem aceitas ou rejeitadas pelo k por diversas vezes e em tas pedagogos atacaram meus pontos de vista com inha maneira de trabalhar uma ios mais quetidos e mais in- ico ¢ sem espirito inquisitivo, pessoas que adquiriram para si proprias alguma coisa de um novo ponto de vista e que parti- ‘am em guerra contra toda a gent, utilizando como arma, cor- reta ou incorretamente, o meu trabalho e certas teorias minhas. Tive sempre dificuldades em saber quem me tinha feito um mal maior, se 0s meus “amigos”, se os meus adversarios, “A terapia& a experiéncia em que posso me entregarsubjetivemente oo —______ Temarse pessoa Ivez em parte devido a essa situagio desagradivel de ‘er as pessoas disputarem por minha causa que passei a apre- ciar 0 extraordinario privilégio que é desaparever e poder estar 36. Julgo que os meus periodos de trabalho mais fecundos foram 0s momentos em que pude afastar-me completamente do ue os outros pensavam, das obrigacdes profissionais e das exi. Bencias do dia-a-dia, quando ganhava uma perspectiva sobre 6 ue estava fazendo. Minha mulher ¢ eu encontramos lugares de refiigio isolados no México ¢ nas ilhas do Caribe, onde nin. guém sabe que sou um psicélogo; ai, minhas principais ativida- des sZo pinta, nada, fazer pesca submarina e fotografia em cores. Foi no entanto nesses locais, onde nao efetuo mais de duas @ quatro horas de trabalho profissional, que mais progredi durante os ltimos anos, Eu dou valor ao privilégio de estar so, Algumas coisas fundamentais que aprendi Ai estdo, brevemente delineados, alguns tragos extetiores da minha vida profissional. Gostaria, no entanto, de fazer com ave vocés penetrassem um pouco mais, de Ihes falar de algu- ‘mas coisas que aprendi no decurso das milhares de horas que assei trabalhando intimamente com individuos que aprese vam distirbios pess sess Gostaria de esclarecer que se trata de ensinamentos que ‘em significado para mim. Ignoro se os achario vilidos, Nao Pretendo apresenti-los como uma receita seja para quem for Contudo, sempre que alguém quis far comigo das suas opgSes Pessoais, ganhei algo com isso, nem que fosse verificar que as ‘minhas so diferentes. E nesse espirito que formulo os ensine Mentos que se seguem. Creio que, em cada caso, eles se m festaram nas minhas atividades e nas minhas conviegdes int ‘mas muito antes de ter tomado consciéncia deles. Tr : importante para mim e que continua sendo. Ai encontro constantemente novos ensinamentos, Com wo Notas pessoais los, mas acabo sempre por me arre~ me também freqiientemente, perante ear o que aprendi das. Alteram-se per- Algumas parecem ganhar um alcance maior, outras so talvez menos importantes do que eram noutra época, mas todas tém para mim um significado. ‘Vou introduzir cada um desses ensinamentos de minha ex- periéncia com uma frase ou proposico que indiea em parte 0 seu significado pessoal, Em seguida, desenvolvé-lo-ei um pou- co. O que se segue nio esta muito bem estruturado, exceto nos primeiros aspectos apontados que se referem as relagdes com 98 outros. Seguem-se alguns aspectos que se integram nas cate- gorias pessoais dos meus valores e das minkas convicgées. freqiiéncia deixo de ap pender disso. Acon! Iniciarei essas virias proposigdes de ensinamentos signifi- cativos com um item negativo. Nas minkas relacdes com as ‘pessoas descobri que nao ajuda, a longo prazo, agir como se eu {fosse alguma coisa que nao sou. Nao serve de nada agir calma- mente ¢ com delicadeza num momento em que estou irritado e disposto a criticar. Nao serve de nada agir como se soubesse as, respostas dos problemas quando as ignoro, Nao serve de nada e afeicdo por uma pessoa quando nesse determinado momento sinto hostilidade para com ela. Nao serve de nada agir como se estivesse cheio de seguranga quando me sinto receoso e hesitante. Mesmo num nivel primétio, estas observagdes continuam vilidas. Nao me serve de nada agir como se estivesse bem quando me sinto doente. que estou dizendo, em outras palavras, é que nunca achei que fosse itil ou eficaz nas minhas relagdes com as outras pes- soas tentar manter uma atitude de fachada, agindo de uma certa maneira na superficie quando estou passando pela experigncia de algo completamente diferente. Creio que essa atitude nao serve de nada nos meus esforgos para estabelecer relages construtivas com as outras pessoas. Devo, todavia, esclarecer que, embora eu saiba que isso é verdade, nem sempre aproveitei oF 20 — Tornar.se pessoa adequadamente essa lisio. Com efeito, parece-me que a maior parte dos erros que cometo nas relagdes pessoais, muitos dee momentos em que frcasso nos meus esforsos para ser itil ace ulfos, se explicam pelo fato de que, por uma reasdo de defess Somportei-me, de certa maneira, num nivel superficial, ao pee So que na realidade os meus senti : eentimentos seguiam nut ai so quens ea ima direcdo ‘Uma segunda aprendizagem pode ser formulada como se Segue: descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a ming Tnesmno aceitando-me,e posso ser eu mesmo: tenho a impreceta de que, com os anos, aprendi a tomar-me mais capaz de ouvir a ‘nim mesmo, de modo que sei methor do que antgamente 0 que estou sentindo num dado momento ~ que sou capaz de com- Preender que estou isitado, ou que, de fat, sintoreeighe Telagio a um individuo, ou, pelo conttirio, earinho ¢ afeigao, ou ufo, ainda, que me sinto aborrecido sem interesse pele aoe estd se passando; ou que estou a : individuo ou que tenho um sentim: nas minhas TelagSes com ele. Todas estas diferentes atitudes. ‘sio Sentimentos que julgo poder ouvir em mim mesmo, Poderse ig dizer, em outra palavas, que tenho a impressao de me ero nado mais capaz de me deixar ser 0 que sou. Tomoucse mais facil para mi 1esm0 como um individuo irre- mediavelmente imperfeito e que, com toda a certeza, nem som, re atua como eu gostaria de atuar . Tudo iso pode parecer uma dre muito estan a sgui Parece-me valida pelo curioso paradoxo que encerra, pois, quan- ome aceito como sou, estou me modificando.Julgo que ep Entdo a mudanga parece operar-se quase sem ser percebida Uma outra conseqiiéncia dessa aceitagao de mim mesmo é gue as relagdes se tomam reais. As relaoSes reais tém o eariter ome rnnnatananr a 21 Notas pessoais apaixonante de serem vitus e significativas. Se posso aceitar 0 fato de estar irritado ou aborrecido com um cliente ou com um estudante, entéo também estou muito mais apto para aceitar as reagGes que a minha atitude provoca. Torno-me assim’ capaz de aceitar a alteragdo da experiéncia e dos sentimentos que podem, entio, ocorrer tanto nele como em mim. As relagdes reais ten- ‘dem mais ase modificar do que a se manterem estticas. E por isso que considero eficaz permitir-me ser 0 que sou nas minhas atitudes; saber quando me aproximo dos limites da resisténcia ou da tolerdncia e aceitar isso como um fato; saber quando desejo moldar ou manipular as pessoas e reconhecer isso como um fato em mim. Gostaria de ser capaz de aceitar esses sentimentos como aceito os sentimentos de entusiasmo, de inte- esse, de toleriincia, de bondade, de compreensio, que também ‘so uma parte muito real de mim. £ unicamente quando aceito todas essas atitudes como um fato, como uma parte de mim, que ‘as minhas relagdes com as outras pessoas s¢ tornam 0 que sio ¢ podem crescer e transformar-se com maior facilidade. ‘Vou agora abordar um aspecto central do que aprendi e que se revestiu de grande importéncia para mim. Pode exprimir-se assim: atribuo wm enorme valor ao fato de poder me permit compreender wna outra pessoa. A forma como expus esta a magao pode parecer-Ihes estranha. Serd necessario permitir a si mesmo compreender outra pessoa? Penso que sim. A nossa pri- meira reagio & maior parte das afirmages que ouvimos das outras pessoas é uma avaliagio imediata, ¢ mais um juizo do que uma tentativa de compreensio. Quando alguém exprime lum sentimento, uma atitude ou uma opinio, nossa tendéncia é ‘quase imediatamente sentir: ”, “que besteira”, “nao € normal indo esta certo”, “ndo fica bem”. Raramente permitimos a nbs mesmos compreender precisa- mente 0 que significa para essa pessoa o que ela esta dizendo. Julgo que esta situagao ¢ provocada pelo fato de a compreensio implicar um risco. Se me permito realmente compreender uma_{() 2 Tomar se pessoa outra pessoa, & possivel que essa compreensio acarrete uma alteragdo em mim. E todos nés temos medo de mudar. Por isso, como afirmei, ndo é ficil permitir a si mesmo compreender outra pessoa, penetrat mente, completa e empaticamente no seu quadro de referéneia, E mesmo uma coisa muito rara, Compreender ¢ duplamente enriquecedor. Quando traba- Iho com clientes perturbados, verifico que compreender 0 mun= do estranho de uma pessoa psicética, ou compreender e sentir as atitudes de u iduo que tem a impressio de que a sua vida € demasiado trigica para poder ser suportada, ou com- preender um homem que se sente indigno e inferior ~ cada uma Gessas compreensdes me enriquece de algum modo, Estas ex. Periéncias me modificam, tomam-me diferente e, segundo creio, mais sensivel, Mas talvez 0 que mais importa é que 2 minha Compreensio dessas pessoas permite a elas se modificarem. Permite-Ihes assumir seus préprios temores, os pensamentos estranhos, os sentimentos trégicos e os desdnimos, tio bem como os seus momentos de coragem, de amor e de sensibilida- de. E tanto a experiéncia delas como a minha & que, quando alguém compreende perfeitamente esses sentimentos, toma-se ossivel aceité-los em si mesmo. Descobre-se, a partir desse momento, que ocorrem modificagdes tanto nos sentimentos quanto na prépria pessoa. Quer se trate de compreender uma mulher que oré literalmente que tem na eabega um gancho com © qual os outros a arrastam, ou de um homem que julga que nin- ‘guém estd t€o 96, to separado de todos como ele, essa com. Preensio tem valor para mim. O que, porém, é sobretudo im. Portante ¢ que o fato de ser compreendido assume um valor ‘muito positivo para esses individuos. Outra aprendizagem tem sido para mim extremamente importante: verifiquei ser enriquecedor abrir canais através dos quais os outros possam me comunicar os seus sentimentos, seus ‘mundos perceptivos particulares. Consciente de que a compreen- sto compensa, procuro reduzir as barreiras entre os outros Notas pessoais a um determinado mimero de processos para tornar mais fécil ao cliente comunicat-se. Posso, ‘com minha propria atitude, criar uma seguranca na relagdo, 0 que toma mais possivel a comunicagdo. Uma sensibilidade na compreensio que 0 vé como ele é para si mesmo e que 0 aceita como tendo tais percepcdes e sentimentos também auxilia. Também como professor encontrei o mesmo enriqueci- ‘mento sempre que abri canais por meio dos quais os outros pudessem se revelar. E por essa razo que tento, muitas vezes em vao, criar na aula um clima em que se possam exprimir 03 sentimentos, onde cada um possa ter opinides diferentes das do professor ou dos colegas. Pedi muitas vezes aos estudantes “fo- Ihas de reagio”, nas quais podem se exprimir individual e pes- soalmente em relagao ao curso. Podem indicar se as aulas vio ou no ao encontro das suas necessidades, podem dizer 0 que sentem em relagdo ao professor ou apontar as dificuldades pes- soais que tém com respeito a0 curso. Essas folhas de reagio nao tem quaisquer efeitos para avaliacdo, Por vezes, as mesmas au- las de um curso suscitam experiéncias diametralmente opostas, Um estudante diz: “Sinto uma repulsa indefinivel pelo ambien- te da aula.” Um outro, estrangeito, falando sobre a mesma sema- na do mesmo curso, diz: “O método empregado nas aulas parece- me 0 melhor, o mais fecundo ¢ cientifico. Mas, para pessoas como nds que suportamos hé muito, muito tempo, ostilo magis- tral, 0 método autoritirio, esse novo processo é incompreensivel. Pessoas como nés estio condicionadas a ouvir o professor, tomar notas passivamente e decorar a bibliografia indicada para o exa- me, Nao € necesséio dizer que é preciso muito tempo para nos desembaragarmos dos nossos hal ak lesmo se sao infecundos e estéreis.” Abrir-me a reagdes tio claramente opostas foi para ‘mim uma experiéncia extremamente enriquecedora. ‘Verifiquei que o mesmo acontecia em grupos onde eu era 0 coordenador ou onde me encaravam como lider. Procurava re- 41 —___ Tomar-se pessoa duzir os motivos de receio le defesa para que as Pessoa, ivremente 0 que sentiam. Foi uma expe- ue me permitiu rever completamente as © © que poderia ser a orientagdo de grupo, alongar-me aqui sobre esta matéria. minhas opiniées sobr. ‘Nao posso, contudo, Tive ainda uma outra aj rante 0 meu trabalho em aconselhi uma maneira muito breve: é iprendizagem muito importante du- iamento. Posso evocé-la de sempre altamente enriquecedor Verifiquei que aceitar ve sentimentos no ¢ nada Poderei realmente per em relagio a mim? Poderei real ¢ legitima de si mesma? Poderei at verdadeiramente uma pessoa e seus ficil, no mais do que compreendé-la, que outra pessoa sinta hos Tudo isto esta englobado na aceitagio ¢ Parece-me que é uma atitude ca: nds na nossa cultura acredi viam sentir, pensar e Todos nés achamos muito di ‘nossos pais ou familias terem a determinadas questées e pr no surge facilmente, vez mais freqiiente de todos lue: “Todas as outras pessoas de- ‘ditar nas mesmas coisas que eu.” il permitir aos nossos filhos, aos uma atitude diferente em re a. Numa escala nacional, n ense ou reaja de uma forma diferente da ‘que essas diferengas © direito que cada pessoa tem de aneira que Ihe é propria e de desco- tudo isto representa as Toda pessoa é uma ilha, @ pessoa $6 pode construir mitir que outra nagdo nossa. Acabei, no e: utilizar sua experiéneia da m Potencialidades mais preciosas da vida. ‘no sentido muito concreto do termo; 25 ‘Notas pessoais. ‘uma ponte para comunicar com as outras ilhas se primeiramen- te se disp6s a ser ela mesma e se Ihe € permitido ser ela mesma Descobri que é quando posso aceitar uma outra pessoa, 0 que ignifica especificamente aceitar os sentimentos, as a crengas que ela tem como elementos reais ¢ constituem, que posso ajudé-la a torar-se pessoa: e julgo que ha nisso um grande valor. ‘omunicar a proxima descoberta que fiz. Con: quanto mais aberto estou ds realtidades em mim e nos outros, menos me vejo procurando, a todo custo, remediar as coisas. Quanto mais tento ouvir-me e estar atento ao que experimento no meu intimo, quanto mais procuro ampliar essa mesma atitude de escuta para os outros, maior respeito sinto pelos complexos processos da vida. E esta a razo por que me sinto cada vez menos inclinado a remediar as coisas a todo custo, a estabelecer objetivos, modelar as pessoas, maniput « impeli-las no caminho que eu gostaria que seguissem. Sinto- ‘me muito mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos. Tenho a nitida sensagio de que este onto de vista deve parecer muito estranho, quase oriental. Para gue serve a vida se nfo procurarmos agir sobre os outros? Pa- +a que serve a vida se ndo tentarmos moldar os outros aos nossos objetivos? Para que serve a vida se no thes ensinarmos aquelas coisas que nds pensamos que os outros deviam saber? Para que servea vida se ndo 0s levarmos a agir e a sentir como nés agimos e sentimos? Como se pode conceber um ponto de vista assim to inativo como 0 que estou propondo? Tenho certeza que atitudes ‘como estas serio, em parte a reagdo de muitos de vocés. Contudo, 0 aspecto paradoxal da minha experiéncia é que, quanto mais me disponho a ser simplesmente eu mesmo em toda a complexidade da vida e quanto mais procuro compreen- der e aceitar a realidade em mim mesmo e nos outros, tanto mais sobrevém as transformagies. E de fato paradoxal verificar que, na medida em que cada um de nés aceita ser ele mesmo, a 26 Torarsse pessoa Gescobre ndo apenas que muda, mas que as pessoas com quem ‘em relagdes mudam igualmente. Foi pelo menos o que mais intensamente vivi na minha experiéncia, e uma das conclusses mais profundas que aprendi tanto na minha vida pessoal como profissional, Permitam-me expor agora outras aprendizagens que se referem, menos as relagdes,e mais as minha prdprias avbes ¢ valores. A primeira exprime-se de uma maneira muito breve: Posso confiar na minha experiéncia. Um dos principios fundamentais que levei muito tempo para reconhecer ¢ que ainda continuo a aprofundar é a deseo. berta de que, quando sinto que uma atvidade é boa eque vale g ona prossegui-la, devo prossegui-la, Em outras palavras, apren. i que a minha apreciagao “organismica” total de uma situagao mais digna de confianga do que o meu int Durante toda a minha v resmo tinha muitas dividas. Mas nunca lamentei seguir as diresdes que eu “senta serem boas”, mesmo se freqientemente Sxperimentasse por algum tempo uma sensagdo de isolamento, ou de ridiculo, Descobri que sempre que confiava num sentimen fie intelectual acabave por encontrar ajusteza da minha ag, Mas, mais ainda, descobri que quando segui um desses conn ‘hos ndo-convencionais porque o sentia bom ou verdadeiro, depois, passados cinco ou dez anos, muitos dos meus colegas se Jurfavam @ mim, de maneira que desaparecia o sentimento de isolamento. Ful assim, pouco a pouco, confiando cada vez mais profun- damente nas minhas reagées totais edescobri que as pose utili Zar Para orientar 0 meu pensamento, Comecei ater um respeito maior Por esses pensamentos vagos que me ocotrem de tempos em tempos e que sinto como importantes. Sinto-me inclinad a Pensar que essas idéias um pouco obscuras ou essas intuigdes 2 Notas pessoas levam a penetrar em campos importantes. Confio assim na cle te wie eaperinada, ug cae pn et ab ‘ Seré com certeza vdoria do que a0 meu intelecto mas ereio que o € menos do que a minha mente cast é expressa por Max Weber, 0 Minha atitude 6 muito bem expressa po ; cca Gana ae eR a exons de ctiagio, dependo numa grande medida daquilo que ainda no sei e daquilo que ainda ndo fiz.” Estreitamente ligado a essa aprendizagem esti 0 one a avaliagéo dos outros ndo me serve de guia. Os imal outros, embora devam ser ouvidos, ¢ levados em consit rao pelo que so, nunca me poderdo orientar. Foi uma coisa aueti dificuldade em aprender. Lembro-me do

You might also like