CARDOSO - 1998 - Génese, Apogeu e Declínio Das Fortifcaçôes Calcolíticas Da Extremadura

You might also like

Download as pdf or txt
Download as pdf or txt
You are on page 1of 13

ISSN: 0514-7336

GENESE, APOGEU Ε DECLINIO DAS FORTIFICAÇOES


CALCOLÍTICAS DA EXTREMADURA

Origin, Apogee and Decline of the Chalcolithic Fortifications


in the Portuguese Extremadura

J o à o Luís CARDOSO
Academia Portuguesa da Historia e Centro de Estudos Arqueológicos do Conceibo de Oeiras.
Cámara Municipal de Oeiras (Portugal)

Fecha ele a c e p t a c i ó n ele la v e r s i ó n definitiva: 23-3-1998

BIBLID [0514-7336 (1997) 50; 249-261]

RESUMEN: En este artículo se presenta un análisis de las condiciones de tipo socioeconómico que
determinarán el origen y el desarrollo de las fortificaciones calcolíticas en la Extremadura Portuguesa,
unos 2800 a.C. En la interpretación de los acontecimientos, se considera determinante la evolución
interna de las propias comunidades que habitarán la región, al menos desde el neolítico final, caracte-
rizadas por un sistema agro-pastoral de creciente complejidad y diversificación.
Palabras-clave: Extremadura portuguesa; fortificaciones; Calcolítico.
ABSTRACT: In this work, we shall present an analysis of the social and economic conditions which
determined, at the beginning of the Chalcolithic period in Portuguese Estremaclura, about 2800 BC, the
emergence of fortified settlements. We shall refer both explanations of previous authors that evoke the
direct presence or influence of exogenous populations and those which refute them. Conditions of
internal nature, inherent to the evolution of the agro-pastoral system could explain the advent of Leceia,
as well as of other estremacluran chalcolithic fortifications.
We shall discuss some reasons for the decline of these imponent defensive structures which, in
as far as Leceia is concerned, we can date to as far back as 2600 BC. The rise of the demographic pres-
sure on an increasingly exploited territory aroud each settlement, may have generated a situation of
conflict which was latent and constant during all Chalcolithic period, due to the absence of a centrali-
sed ruler power. The consequence of this fact was a generalized decline of all fortified places, wich
was contemporary but independent with the arrival of the first Beaker populations, whose coexistence
with the inhabitants of the fortified settlements was suggested not only by the radiocarbon dates obtai-
ned at Leceia but also by the archaeological record itself.
Keyivords: Portuguese Estremaclura; chalcolithic fortifications.

1. G é n e s e e a p o g e u r e v i s à o cla q u e s t â o . Vejamos cluas r e c e n t e s


N u m a altura e m q u e se assiste á r e c u p e - citaçoes:
raçào, por alguns arqueólogos portugueses, de «Nào se trata d e urna c o m p l e x a e v o l u ç â o
d o u t r i n a s difusionistas d e d é c a d a s p a s s a d a s , p a r a social d e u m g r u p o h á m u i t o estabilizado m a s d a
explicar a g é n e s e d o Calcolítico n o O c i d e n t e entrada maciça n u m a nova regiào de u m g r u p o
Peninsular, d e p o t s d e urna d é c a d a m a r c a d a m e n - s o c i a l m e n t e c o m p l e x o e já h i e r a r q u i z a d o »
te indigenista ( a n o s 80), vale a p e n a fazer urna (GONÇALVES, 1993, p . 196); «Nao se trata, forço-

© Universidad de Salamanca Zepbyms, SO, 1997, 249-261


250 Joäo Luís Cardoso / Génese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura

sámente, de urna colonizaçào maciça e influen-


cias restritas e localizadas podem desencadear
movimentos muito mais ampios, alterando os
equilibrios de forças autóctones» {idem, p. 202).
Conclui-se que, para o autor, apesar da aparente
contradiçào das duas citaçôes, o processo de cal-
colitizaçào da Estremadura passaria obrigatoria-
mente pela presença de individuos alóctones;
nesta perspectiva, as fortalezas surgiriam, natu-
ralmente, para a defesa contra populaçoes autóc-
tones, que, caracterizadas por estadio cultural
inferior, sem urna fixaçào efectiva a um qualquer
territorio, assolariam cíclicamente tais povoados,
onde supostamente viviam os alóctones e nos
quais a vida decorria de forma sedentaria e está-
vel. Tal dicotomía entre autóctones (as popu-
laçoes do Neolítico final ou as suas descenden-
tes) e alóctones, encontra-se bem explicitada em
outro texto do mesmo autor (GONÇALVES,
1994a).
Esta opçào do autor, recupera ideias que,
muito anteriormente, tinham sido defendidas, tanto
por investigadores ingleses como alemàes, com
especial destaque para E. Sangmeister e H.
Schubart, que, de 1964 a 1973, dirigirán! trabalhos
de escavaçào no Zambujal. Transcreveremos algu-
mas das mais expressivas afirmacóes que consubs-
tanciaram o pensamiento dos autores e aínda nao
por eles desmentidas:
«Los fundadores, constructores y primeros
habitantes de las fortificaciones de Vila Nova y
Zambujal fueron o colonizadores del Mediterráneo
oriental o, cuando menos, comerciantes em meta-
les, compradores cuyos clientes radicaban en la LEGENDA: 1. S. Martinho; 2. Outeiro de S. Mamede; 3.
zona oriental del Mediterráneo. Las piezas de tal Columbeira; 4. Outeiro da Assenta; 5. Maceira; 6. Pico Agudo;
procedencia en esta época hablan en favor de una 7. Pragança; 8. Outeiro do Cabeço; 9. Vila Nova de S. Pedro; 10.
Fornea; 11. Zambual; 12. Varatojo; 13. Charrino; 14. Barro; 15.
inmigración directa, por lo menos de un pequeño Portucheira; 16. Penedo; 17. Boiaca; 18. S. Mateus; 19. Adiada;
grupo, el cual determinó el carácter de las fortifi- 20. Matàes; 21. Ota; 22. Pedra do Ouro; 23. Vespeiro; 24.
caciones y de muchos otros elementos culturales Sarreira; 25. Cabeço da Ribaldeira; 26. Quinta d'Além; 27.
(...). Eran lugares de tránsito para la riqueza meta- Socorro; 28. Pedranta; 29. Monte do Cartaxo; 30. Penedo de
Lexim; 31. Negrais; 32. Salemas; 33. Alto do Montijo; 34. Olelas;
lúrgica del interior» (SCHUBART, 1969, p. 203).
35. Cortegaça; 36. Magoito; 37. Penha Verde; 38. Seteais; 39.
Salienta-se, em outro estudo, o papel do Zambujal Serra das Baútas; 40. Esparg. e M.os do Penedo; 41. Sernt das
como «a production and a trade centre. We suggest Baútas; 42. Talaíde; 43. Leceia; 44. Carnaxide; 45. Estoril; 46.
that copper objects were manufactureded there Murtal; 47. Paréele; 48. Casa Pia; 49. Montes Claros; 50. V. Pouca
from ores brought to the site, these objects were e Sete Moinhos; 51. Alpena; 52. Outeiro; 53. Porto de Cambas;
54. Malhadas; 55. Extremidade NE da Serra de S. Francisco; 56.
then traded. The site would obviously require for-
M. da Fonte do Sol; 57. Casal da Cerca; 58. Chibanes; 59.
tification and its situation in relation to the ocean Pedrâo; 60. Rotura.
supports this interpretation» (SANGMEISTER &
SCHUBART, 1972, p. 196, 197). A presença de Fig. 1: Principáis povoades calcolíticos da Estremadrua
colonizadores perpassa ao longo destes textos, Portuguesa.

© Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261


Joáo Luís Cardoso / Génese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Extremadura 251

bem como a de populaçoes indígenas, contra as Num dos seus clerracleiros contributos para
quais se ergueriam tais muralhas... a pré-história peninsular, BOSCH-GIMPERA
A última versào dos dois autores que cor- (I969, p. 65, 66), resumiu o estado da questào
porizam, em Portugal, o expoente da doutrina em termos que, aínda hoje nos parecem actuáis
colonialista —urna das poucas vertida para portu- e que no essencial subscrevemos:
g u é s - pode decompor-se em duas hipóteses dis- «No creemos que estos influjos representan,
tintas, mas nao incompatíveis. Transcrevé-las- como creen Almagro, Arribas, Pigott, Sangmeister
emos na íntegra: y otros, una «colonización» a la que, según ellos,
«Qual a origem dos construtores das fortifi- había que atribuir los «tholoi», con falsa cúpula, y
caçôes de que nos ocupamos? Qual a identidade las ciudades o grandes poblados rodeados de
dos seus inimigos? Alguns indicios parecem assi- murallas con salientes en forma de torre como
nalar o Próximo Oriente como ponto de origem Los Millares y en Portugal Pedra do Ouro,
dos primeiros. Nao sao porém suficientes para Zambujal y Vilanova de San Pedro. Que en la
assegurarmos que eram navegantes vindos em cultura del Eneolítico peninsular exista la influen-
busca do cobre e que, ao depararem-se (sic) com cia de las relaciones forasteras, mediterráneas, lo
a existencia de minério, animaram os indígenas hemos reconocido y de ello hemos tratado en
na sua pesquisa. Por sua vez, ao verem-se enri- otros lugares. Pero ni los sepulcros megalíticos
quecidos graças a esta nova mercadoria pode- son un tipo introducido por gentes forasteras - y
riam ter erigido fortificaçôes para se protegerem probablemente tampoco la idea de la falsa cúpu-
la- ni lo que hay en la península de influencia
de grupos que consigo competissem. Poderiam
mediterránea autoriza para hablar de «coloniza-
ter aprendido as técnicas e as tácticas dos estran-
ción» propriamente dicha y se explica por sim-
geiros da mesma forma que deles receberam os
ples relaciones comerciales todo lo intensas que
objectos importados, ou criado imitaçôes dos
se quiera, pero que no revean el establecimiento
que haviam visto.
en el país de «colonizadores» que en él se esta-
Partindo de urna mesma situaçào, e com blecen». Vemos como, há já 30 anos, se valoriza-
algumas variantes, ambas as hipóteses sao viá- vam os contactos indirectos, catalisados por força
veis. Sem dúvida, perdura a sensaçâo de que, as relaçôes de carácter comercial, tal como hoje
com estas fortificaçôes, algo de estranho e intei- continuam a indicar os elementos clisponíveis.
ramente novo surgiu, sendo inegável a sua Nào se avançou muito, de entào para cá, nesta
semelhança com alguns povoados do Próximo materia, apesar de as aproximaçôes produzidas
Oriente» (SCHUBART & SANGMEISTER, 1987, p. por diferentes autores serem mais sofisticadas,
12). A segunda hipótese dos autores aceita que mas nem sempre comprensíveis...
as fortificaçôes possam resultar de um processo
Noutros estudos foi discutida a questào da
de competiçào interno, entre grupos autóctones,
metalurgia do cobre e a nào correlaçâo entre a
o que nao estaría longe da nossa perspectiva,
sua presença e a construçâo destas fortificaçôes,
nào fosse atribuir a grupos exógenos a respon-
que lhe sás anteriores (CARDOSO, 1994 a), bem
sabilidade directa pela edificaçâo de tais fortifi-
como a ausencia de objectos de fabrico reconhe-
caçôes, e ao cobre o motivo essencial da sua pre- cidamente exógeno; resta-nos abordar a questào
sença. Note-se, aínda, que nào está mínimamen- das aludidas semelhanças das fortificaçôes entre
te reconhecida, em termos arqueológicos, a coe- ambos os extremos da bacía mediterránea.
xistencia, na Estremadura, de dois ou mais gru-
A pretensa semelhança vislumbrada entre
pos socio-culturais distintos. Ao contrario, o pro- os povoados fortificados da Baixa Estremadura e
prio registo arqueológico sugere urna evoluçâo outros, do Mediterráneo oriental, foi abordada
«in situ» da formaçào calcolítica da Baixa por BLANCE (1957). Sem entrar na discussäo das
Estremadura a partir das populaçoes que aqui cronologías destas fortificaçôes - a maioria, senâo
viviam, e pujantemente deixaram os traços da a totalidade, é ulterior aos meados do III milenio,
sua presença, desde o Neolítico final, ou seja, e portanto mais recentes que as fases mais anti-
desde os principios da segunda metade do 4 s gas dos tres grandes povoados fortificados estre-
milenio a. C. m e n h o s - Vila Nova de S. Pedro, Zambujal e

© Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261


252 Joào Luís Cardoso / Cénese, apogea e declínio das fortifïcaçôes calcolíticas da Extremadura

Leceia, outro argumento cleverá ser invocado. naturais ele cada sitio de maneira naturalmente
Com efeito, necessidades idénticas de defesa distinta; a soluçào defensiva encontrada em Vila
requereriam soluçôes técnicas semelhantes. Nova ele S. Pedro, com urna imponente fortifi-
Deste modo, aceitamos que diferentes civili- caçào central, é distinta da ele Leceia e do
zaçôes calcolíticas e da Iclacle do Bronze da hacia Zambujal, sendo estas, por seu turno, diferentes
mediterránea se tenham caracterizado, em esta- entre si.
dios culturáis idénticos, pela eclificaçâo ele fortifï- Devemos ainela ter em consieleraçào as
caçôes, clitaclas por condicionantes económico- características geológicas e Biológicas ele cada
sociais específicas. Tais fortifïcaçôes, fazendo uso local, que eleterminaram o tamanho dos materials
de dispositivos elementares -muralhas, torres, de construçào disponíveis e, deste modo, as
bastiöes- mostrariam, naturalmente, certas dimensoes das próprias estruturas defensivas que
semelhanças formais entre si, as quais nem sem- os integrara, em última análise, a da tipología
pre se afiguram evidentes. Prova disso é a pre- arquitectónica das respectivas fortifïcaçôes, vistas
sença, na maioria dos casos, ele torres quadran- como um todo coerente. Com efeito, os graneles
gulares e nao semi-circulares, como acontece em blocos ele calcários duros e compactos, k)cal-
todos os povoados fortificados peninsulares. mente disponíveis em Leceia, viabilizaram a
Obviamente, nào rejeitamos aos tres grandes construçâe) ele muralhas e bastiöes de grandes
povoados fortificados estremenhexs, um certo «ar dimensoes e robustez, difíceis de executar com
ele familia», elitaelo pela sua inserçào em um materials ele inferior qualidade, como os arenitos
ambiente meridional e mediterráneo, do quai friáveis disponíveis no Monte da Tumba, por
que faziam parte integrante; conclusào anák)ga exemplo, que explicara a má qualidade constru-
poderia aplicar-se as grandes edificaçoes nurági- tiva do conjunto defensivo edificado. (SILVA &
cas da Sardenha, sem que tais semelhanças ultra- SOARES, 1987).
passem o aspecto meramente formal. É, aínda, a Claro que o tamanho da propria fbrtificaçào
BOSCH-GIMPERA (1969, p. 67) que podemos que se pretendía construir -embora condiciona-
recorrer para explicar tal situaçào: de) também pelas características geomorfológicas
«Alcanzada la vida sedentaria normal y ele cada local seleccionaek)- se encontra relack)-
comenzada una vida de tipo urbano (...), las for- nack) de perte) cora «planeamente> urbanístico e
tificaciones primitivas para defensa de los pobla- arquitectónico adoptaek) em cada caso, determi-
dos se convierten naturalmente en murallas, y nado, como é evidente, e antes de mais, com e)
ellos en fortalezas; pero en todas partes, y tanto número ele habitantes respectivo. Tal facto leva-
en Los Millares como en Pedra do Ouro, nos à questào ele saber quai a populacáe) atribuí-
Zambujal y Vilanova de San Pedro, los hallazgos vel aos povoados de maiores dimenséies da
revelan una cultura indígena que no deja ele Baixa Estremadura.
serlo apesar de las transformaciones singulares Ne) case) ele Leceia, o cálculo cleme)grafiœ
de sus rasgexs, nunca una cultura masiva como la proposto por CHAPMAN (199D coneluz à esti-
de los lugares ele origen de las relaciones e mativa ele 200 habitantes, œnsiderando a área da
influencias». Tais palavras parecem, aínda, ecoar estaçào (cerca ele 1 ha), valor ligeiramente infe-
nestas outras (JORGE, 1994a, p. 459): «As semel- rior ao obtido pela relaçào proposta por REN-
hanças estilísticas que aglutinam muitos artefac- FREW (1972) para pewoados do Egeei, cerca ele
tos e arquitecturas do mundo meeliterrânico nào 300 habitantes por ha. A ser assim, Leceia teria
devem ser ignoradas, mas terào ele ser interpre- idéntico número de habitantes de Vila Nova de S.
tadas no ámbito ele outros mecanismos difusores Pedro. Outros cálculos, baseados no numere) ele
-interacçôes em larga escala- cuja natureza ocupantes de cada unidade habitacional, ou por
requer urna avaliaçâo œntextualizada (...)». metro quadrado de área coberta, nào sâo aplicá-
De facte), cada povoado fortificado, mesmo veis, visto desconhecermexs, era boa parte, o
os de urna mesma regiào cultural, embora adop- número e a área coberta das estruturas habita-
tando soluçôes arquitectónicas comuns, ter-se-á cionais na altura existentes na área fortificada. A
comportack) e evoluíelo de fe)rma independente, grande desarmonia que se patenteia, em qual-
adaptando-se as condicionantes geome)rfológicas quer dos citados pewoados, entre a imponencia

© Universidad de Salamanca Zepbyrus, 50, 1997, 249-261


Joào Luís Cardoso / Cénese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Hstreinadiira 253

das estruturas de carácter defensivo e a diminuta tes pocleriam, no entanto, constituir urna ameaça
expressào das habitaçôes coevas, sugere que a latente, conjuntamente com as populacóes disse-
parte mais importante da populaçào viveria minadas em outros pequeños núcleos calcolíti-
extramuros, procurando apenas o abrigo das cos, situados a Norte, tanto no concelho ele
muralhas no decurso de situaçôes de maior Amadora como no ele Sintra. Em consequêneia, e
tensào social. Esta evidencia foi pessoalmente embora nao se possa invocar a ameaça corpori-
confirmada era Leceia, tendo-se observado zaela por um outro povoado ele grandeza análo-
numerosos vestigios ele «fundos de cabana», ga, ele expressào regional, o conjunte) ele núcle-
extramuros, concentrados na base da escarpa os de menor expressào identificados em um raio
voltada para o vale da ribeira de Barcarena. de 15 km em redor, pocleriam constituir urna
Desta forma, Leceia, como o Zambujal, pressào constante, ainda que difusa, sobre as
comportar-se-ia, sobretuclo, como urna fortifi- terras usufruídas pelos ocupantes ele Leceia.
caçào onde afluía, em períodos de maior instabi- Assim, a construçâo da fortaleza de Leceia,
lidade social, numerosa comunidade dispersa ter-se-ia elevido mais a raze~)es imponente de
pelo territorio adjacente, sem prejuízo de consti- ordem preventiva. A sua simples presença, ciada
tuir local de habitaçào permanente do segmento a imponencia que a caracteriza, constituindo um
mais privilegiado claquela heterogénea comuni- marco bem evidenciado na paisagem, longe ele
dade, alias já socialmente diferenciada intramu- nela se dissimular, corporizaria a posse e os direi-
ros (CARDOSO, 1994a). A propósito, é de referir tos sobre determinado territ()rio envolvente ele
que, ñas campanhas de escavaçào de 1995 e de urna coesa comunidade, servinelo ao mesmo
1996, tendo-se investigado urna área exterior tempo como elemento dissuasor (ou intimidató-
inmediatamente adjacente à fortificaçâo, distancia- rio, cf. SANGMEISTER & SCHUBART, 1972, p.
da menos de 10 m da I a . linha defensiva, nao se 197) de qualquer grupe), oriundo ou nàe) da
identificou qualquer testemunho coevo da sua regiàe), que ousasse invadir tal dominie). Nesta
construçâo ou ocupaçâo, o que significa que tal perspectiva, o carácter funcional que Leceia,
zona, apesar da sua proximidade da fortificaçâo inquestionavelmente, evidencia -basta lembrar
calcolítica, nào foi mínimamente ocupada. as sucessivas fases ele reforço, restauro ou reme>
Para alimentar urna populaçào de 200 habi- delaçâo da fortificaçâo- nao é incompatível com
tantes, número que julgamos adequado à popu- e) carácter monumental do sitio.
laçào máxima que Leceia poderia albergar intra- Efectivamente, nào tenhamos dúvida de
muros, nao seria necessária urna área de cap- que, ao longo dos cerca de duzentos anexs ele
taçào de recursos superior à que se poderia atin- funcionamento efectivo da fortificaçâo, teräo
gir em duas horas de marcha. Dentro de tal terri- acontecick) diversas situaçôes de confuto, cora-
torio nao se reconheceram, até ao presente, atra- provadas arqueológicamente: em estrutura de
vés da cartografía arqueológica (CARDOSO & acumulaçào de detritos domésticos, já do
CARDOSO, 1993), quaisquer núcleos activos no Calcolítico pleno, recolheram-se restos de, pelo
Calcolítico inicial ou pleno, susceptíveis de cons- menos, très individuos, insepultos, adultos e
tituirem ameaça à segurança dos habitantes de textos do sexe) masculino, o que faz pensar em
Leceia. É mais provável que tais núcleos depen- urna he)rda atacante dizimada pelos defensores
dessem directamente deste grande povoado, do povoado (CARDOSO, CUNHA &AGUIAR.,
assegurando a ocupaçâo do territorio adjacente. 1991; CARDOSO, 1994a).
Nao se confirma, por outro lado, a eventualida- Cremos, pois, que Leceia é um exemplo fla-
de de sobreposiçâo parcial de tal territorio com grante em ramo, na Baixa Estremadura, ne) decur-
o correspondente a outro grande povoado situa- so do Calcolítice), é possivel correlacionar os con-
do fora daquele limite. Com efeito, a cartografía ceitos tradicionais ele «fortificaçâo», «interacçàe> e
arqueológica clisponível para o concelho de «intensificaçào» (cf. para os dois últimos, JORGE,
Cascáis (CARDOSO, 199D, conquanto assinale 1994a, p. 473 e 475). Quanto a nos, é incontorná-
varios povoados calcolíticos, nenhum correspon- vel tal interdependencia: embora pe)ssa haver
de à importancia do de Leceia, ao menos consi- «interacçào» e «intensificaçào» sem «fe)rtificaçae>, a
derando o registo conservado. Os seus habitan- inversa nào cremos ser possivel, para a época e

© Universiclael de Salamanca Zepbyrus, 50, 1997, 249-261


254 foäo Luís Cardoso / Cénese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura

regiäo em causa. A esta trilogía ha verá que juntar vez mais organizada e eficiente, reforçada pela
a expressào «territorializaçào», para se compreeen- melhoria das tecnologías de produçâo, conduziu
der o significado destas fortalezas, funcionando à ocupaçào e demarcaçào efectiva de territorios
como polos de dominio territorial efectivo de urna e as œnsequentes formas de tensâo cada vez
dada regiào circundante e bem delimitada. mais intensas, onde, de inicio, a metalurgia do
Estamos, porém, ainda longe da situaçâo observa- cobre nao teria qualquer expressào. Os estímulos
da por HURTADO (1995) na Estremadura espan- mediterráneos, sem dúvida importantes, embora
hola, onde urna linha de fortificaçôes defendía um sempre expréseos de forma indirecta, teriam sido
vasto territorio, situado a Oeste, apto para a práti- determinantes na introduçào daquela metalurgia,
ca intensiva da agricultura, no centro do qual se numa fase de consolidaçâo do sistema agro-pas-
situa o vastíssimo povoado aberto de La Pijolilla toril, cuja progressâo para regióes cada vez mais
(Badajoz), com urna área de captaçào ele recursos setentrionais, a partir da Andaluzia, parece com-
avallada em rectángulo com 100 χ 80 Km2, muito provada pelas datacóes absolutas disponíveis
superior a qualquer das áreas eventualmente (SOARES & CABRAL, 1993). As populaçôes,
correspondentes a povoados calcolíticos estre- sediadas e repartidas por povoados-fortaleza,
menhos. com o usufruto ele determinadas parcelas do
Alias, começam a conhecer-se povoados cal- territorio, evidenciam um esboço de organizaçâo
colíticos, fortificados ou nao, de forma cada vez social crescentemente hierarquizado, francamen-
mais insistente, tanto na Beira Baixa (Charneca de te aberto a estímulo externéis, veiculados por
Fratel, Vila Velha de Ródáo), como na Beira Alta, intensas trocas comerciáis das quais dependía,
no Alto Douro e em Trás-os-Montes (SENNA- em parte, o sucesso do grupo (caso da impor-
MARTINEZ, 1991; JORGE, 1986; 1990a; 1991; taçào maciça de rochas duras para as tarefas do
quotidiano).
1992; 1994b; SANCHES, 1992; VALERA, 1994;
1996), denunciando, ácima de tudo, a evoluçâo
económico-social in situ das respectivas comuni-
dades regionais, sem qualquer relaçâo de 2. O declínio e a p l e n a afirmaçào das
dependencia com o comercio do cobre, e muito cerámicas campaniformes
menos com a sua exploraçào e metalurgia, ainda No contexto que se tem vindo a descrever,
que nalguns casos, como na Fraga do Castro, a a eclosäo das cerámicas campaniformes poderia,
muralha seja construida já na fase de ocupaçào täo-somente, ser entendida como simples moda,
campaniforme do sitio (M. J. Sanches, inf. pesso- rápidamente copiando os artesäos locáis prototi-
al). pos importados; as análises feitas as pastas dos
Com efeito, segundo JORGE (1990a, p. fragmentos de Porto Torrào (ARNAUD, 1993),
377), ao longo do III milenio, na regiào entre sugerem fabricos locáis, alias já indicados por
Chaves e Vila Pouca de Aguiar, urna intensifi- SAVORY (1970) em Vila Nova de S. Pedro.
caçâo de carácter sócio-económico, conduziria à A verdade é que a afirmaçào das cerámicas
restriçâo progressiva do espaço habitado e, com campaniformes na Baixa Estremadura nao res-
ela, ao incremento da sua potencialidade defen- peitou a um modele) uniformemente seguido. No
siva... exactamente a mesma evoluçâo que entre- Zambujal, as primeiras cerámicas campaniformes
vemos na Estremadura. No mesmo sentido se ocorrem na Fase 2a e persistem ao longo de toda
poderá considerar recente afirmaçào de VALERA a sequêneia, sendo, deste modo, aparentemente
(1994, p. I66), a propósito da genese dos povo- coevas da propria construçào e ocupaçào da for-
ados fortificados calcolíticos da bacía do Alto tificaçâo (KUNST, 1987, 1996). Dispöe-se de duas
Mondego. datas de radiocarbemo: GrN 7009 - (carvào) -
Em síntese: a génese dos povoados fortifi- 4200 ± 40 BP e GrN 6671 - (carvào) - 4170 ± 55
cados calcolíticos da Baixa Estremadura, tal BP as quais, depois de calibradas, correspondem
como os da Beira Alta e de Trás-os Montes e Alto aos seguintes intervalos a 2 sigma: 2825 - 2654 e
Douro, resultaría da evoluçâo interna do sistema 2884 - 2609 AC (CARDOSO & SOARES, 1990/92).
agro-pastoril herdado cío Neolítico final: a cres- Tais datas, correspondentes ao momento campa-
cente exploraçào de territorios, ele forma cada niforme mais antigo, sâo mais antigás que todas

© Universidad de Salamanca Zepbyrus, 50, 1997, 249-261


Joäo Luís Cardoso / Génese, apogeu e declinio das fortificaçôes calcoltticas da Ëstremadura 255

as obtidas para contextos funerarios campanifor- urna vez a carencia total da cerámica campani-
mes da regiáo estremenha. Num dos hipogeus de forme (...). Tais cerámicas só começam a apare-
Pálmela, foi datado um fémur humano, contido, cer por altura de urna carnada que contém vesti-
conjuntamente com urna vértebra, era vaso cam- gios de desmoronamento de muralhas, com
paniforme internacional; o resultado - d e GrN - abundancia de pedras e terras um tanto soltas»
10744 - 4040 ± 70 B P - corresponde ao intervalo, (PACO & SANGMEISTER, 1956, p. 106). As refe-
a 2 sigma, de 2705 - 2399 AC. Também na gruta ridas observaçôes foram ulteriormente confirma-
sepulcral natural da Verdelha dos Ruivos - Vila das, entre outros, por GONÇALVES (1994b).
Franca de Xira, se obtiveram très dataçôes semel- Esta evoluçào culmina o lento processo de
hantes para ossos de tres sepulturas diferentes: declínio observado ñas construcóes tanto defen-
GrN - 10 971 a 10 973: 3960 ± 40 BP; 4100 ± 60 sivas como habitacionais de Leceia, no decurso
BP; e 4000 ± 35 BP as quais correspondent aos do Calcolítico pleno, onde se assiste, também, a
seguintes intervalos calibrados a 2 sigma: 2507 - urna contracçào da área habitada, em torno da
2330; 2709 - 2488 e 2588 - 2454 AC. Estas datas zona nuclear do povoado. Tais observaçôes, con-
condizem com outra, obtida ulteriomente sobre firmam e reforçam o que já antes foi referido:
conjunto de ossos de varias sepulturas: ICEN - cada grande povoado terá conhecido urna evo-
1242 - 3940 ± 45BP (= 2501 - 2287 AC). Deste luçào propria, o que nao impede, antes torna ali-
modo, parece evidenciar-se cronología para o ciante, o estabelecimento das correlaçôes possí-
«fenómeno» campaniforme na Ëstremadura cen- veis, mima perspectiva diacrónica.
trad em meados ou inicio da 2-. metade do III Em Leceia, tal como noutros povoados
milenio AC embora o seu inicio se tenha verifi- estremenhos com ocupaçôes importantes no
cado antes; neste contexto, a única dataçào da Calcolítico pleno, é o Grupo Internacional
Penha Verde, Sintra (W - 656 - 3420 ± 200 BP), -representado pelas suas duas formas mais
obtida sobre carvöes da Casa 2, é anómala. Com emblemáticas, o vaso campaniforme marítimo e
efeito, tal data, depois de calibrada a 2 sigma, a caçoila acampanada, com decoraçào geométri-
corresponde ao intervalo de 2282 - 1258 AC, a ca pontilhada- que predominan!, no interior da
quai é estatisticamente diferente de todas as fortificaçâo sugerinclo urna anterioridade relativa-
outras. Deste modo, é provável que corresponda mente aos restantes tipos de cerámicas campani-
a carvöes de varias épocas, designadamente da formes, embora certamente com eles tenham
Idade do Bronze, época de que há varios vesti- coexistido. Na campanha de 1994 obteve-se um
gios materials no povoado. Urna segunda data, importante elemento que documenta claramente
recentemente obtida, sobre ossos, é consentânea tal afirmaçào, ao identificar-se urna estrutura
com a cronología do apogeu da presença cam- complexa (Casa FM), de planta oval, igualmente
paniforme no Zambujal e ñas grutas sepulcrais situada no exterior cía fortificaçâo e fundada na
de Pálmela e da Verdelha dos Ruivos: ICEN - carnada correspondente ao Neolítico final (cama-
1275 - 4000 ± 50 BP (= 2620 - 2394 AC para o da 4). Apresenta-se definida por um duplo alin-
intervalo 2 sigma); encontra-se centrada, como hamento de blocos calcários destinados à melhor
aquelas, em meados cío 3B· milenio AC. fixaçâo de urna superestrutura, certamente de
Naquela altura, o Zambujal estaría em fran- ramos e fibras vegetáis, cujo eixo maior atinge 10
ca remodelaçào, vindo ainda a conhecer diversas m e o menor cerca de 5 m. O interior desta uni-
remodelacóes defensivas. Ao contrario, em Vila dade arquitectónica, por certo de «vida curta»,
Nova de S. Pedro e em Leceia, os fragmentos atendendo as suas características, forneceu um
campaniformes exumados jaziam de mistura com conjunto coerente de cerámicas campaniformes,
derrubes de desmoronamentos da fase mais onde coexistiam «vasos internacionais» com deco-
recente das fortificaçôes, indicando que, em raçào a pontilhado, tacas de tipo Pálmela e cerá-
ambos os casos, aqueles dispositivos já se encon- micas diversas, típicas do Grupo Inciso, o tercei-
trariam totalmente desactivados, aquando da pre- ro e mais recente da periodizaçâo proposta por
sença dos portadores de tais cerámicas. SOARES & SILVA (1974/77). Tais factos, vêm evi-
Quanto a Vila Nova de S. Pedro, A. do Paco denciar a dificuldade de isolar grupos campani-
é claro; na campanha de 1955, «verificou-se mais formes, desde que lhes queirantos atribuir

© Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261


256 foâo Luís Cardoso / Génese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura

expressäo cronológico-cultural rigorosa, ainda àquela que o estudo do laboratorio de radiocar-


que baseada era criterios de dominancia estatísti- bono do British Museum conduziu para as Unas
ca. Trata-se de conjunto muito importante, se Británicas: coexistencia dos diferentes estilos de
atendermos à penuria ele fragmentos campani- decoraçào campaniformes, desprovidos de signi-
formes recolhidos na parte restante do povoado, ficado cronológico determinante. Há que aten-
ilustrando, pela primeira vez em Portugal, a par der, também, a condicionantes de ordern geográ-
de Casa ATVabaixo referida a tipología cerámica fica na interpretaçào da distribuiçâo dos estilos
de urna unidade habitacional de época campani- campaniformes: com efeito, «a nítida predo-
forme. Alguns restos faunísticos permitiram minancia cía decoraçào pontilhada sobre a incisa
dataçâo.O resultado obtido foi o seguinte: na regiào cío baixo Sacio, parece ilustrar urna
Sac - 1317 - 4220 ± 50 BP. tendencia regional, numa fase de plena afir-
Este resultado, depois de calibrado, corres- maçào destas cerámicas, diferenciada na regiào
ponde ao seguinte intervalo, a 2 sigma: 2825 - do baixo Tejo onde, na mesma época, predomi-
2654 AC, estatísticamente idéntico as datas mais naría já o estilo inciso» (CARDOSO & CARREIRA,
antigás do Zambujal, já citadas, e à data obtida 1996, p. 338, 340).
para a ocupaçào campaniforme do povoado do Por outro lado —e nao será demais sublinhá-
Baixo Alentejo do Porto Torrâo, Ferreira do l o - as datas mais antigás para as cerámicas cam-
Alentejo (ARNAUD, 1993): paniformes fazem recuar a sua origem, na
ICEN 60/61 - 4220 ± 45 BP (= 2823 - 2658 Estremadura, para, pelo menos o inicio do
AC, para um intervalo de 2 sigma). Calcolítico pleno, situável em Leceia cerca de
Tais resultados, permitem admitir o estabe- 26OO AC (CARDOSO & SOARES, 1996); se o fase-
lecimento cío inicio da presença campaniforme amento tradicional do Calcolítico da Estremadura
na Estremadura e no Baixo Alentejo, ainda no em inicial, pleno e final tem um significado cul-
final 1-. quartel cío III milenio AC. tural, também nao pode deixar de ter um signifi-
Leceia forneceu, aincla, outro elemento de cado cronológico. Os dados dos estudos já reali-
grande relevancia para o conhecimento da arqui- zados (CARDOSO & SOARES, 1990/92) sobre a
tectura doméstica campaniforme: trata-se de cronología absoluta do campaniforme pöem cla-
casa, igualmente de planta oval {.Casa EN), dife- ramente em causa a correspondencia estrita do
renciando-se da estrutura antes referida por ser fenómeno campaniforme com o final d o
de menores climensöes (com cerca de 5 m de Calcolítico, na regiáo estremenha. Na verdade, a
comprimento) e denota maior simplicidade cons- interpretaçào da vertente cultural ligada ao fenó-
trutiva. Dataçào obtida sobre ossos, conduziu aos meno campaniforme tem sido objecto de acesa
seguintes resultados: discussäo, nao se tendo chegado, até hoje, a con-
ICEN - 1241 - 3950 ± 90 BP (= 2629 - 2176 clusóes unánimemente aceites. Desde a existen-
AC, para um intervalo de 2 sigma). cia de urn «Beaker folk» das teorías difusionistas,
A provável maior modernidade desta estru- com invasöes e movimentos de «refluxo», até
tura face à anterior -tal como aquela, caracteriza- uma evoluçâo local sem estímulos externos, pas-
da por «vida curta»- é compatível com a tipología eando pela «utilizaçâo restrita desta sofisticada
do espolio cerámico decorado, exclusivamente cerámica por um grupo social dominante» ou
campaniforme, no qual predomina largamente a pela consideraçâo desta cerámica simplesmente
decoraçào incisa (aplicada a tacas de Pálmela e a como «de prestigio», varias tem sido as interpre-
grandes caconas). tacóes da evidencia arqueológica, nao raras das
A sua implantaçâo em níveis de derrube da vezes apresentadas de forma contraditória. Os
primeira linha defensiva, no exterior da qual se dados apresentados neste trabalho permitem, tai-
situa, vem demonstrar que, aquando da sua edifi- vez, contribuir para o esclarecimento desta
caçào, já todo o dispositivo se encontrava arruina- questâo, conduzindo à seguinte síntese para a
do. Estremadura, com base nos elementos recolhidos
Parece, pois, tendo em atençào o exposto, em Leceia, a qual parece plausível (embora a
que se está, no referente à presença campanifor- melhorar em funçâo das novas escavacóes e
me na Estremadura, numa situaçào análoga datacóes absolutas):

© Universidad de Salamanca Zepbyrus, 50, 1997, 249-261


Joâo Luís Cardoso / Cénese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura 257

Cerca de 2600 anos AC, a fortificaçâo de Nestes últimos momentos calcolíticos, assis-
Leceia encontrava-se em inicio de franco declí- te-se à ocupaçâo de locáis, na maioria desprovi-
nio, com a contracçào do espaço anteriormente dos de condiçôes naturais ele defesa, por toda a
ocupado. Dessa nova fase cultural (o Calcolítico Baixa Estremadura. Qual o significado de tal rea-
pleno), participavam as cerámicas com deco- lidade? Significará que o clima de tensáo genera-
raçào em «folha de acacia» e em «crucifera», mas lizada a que se assistai durante tocio o III milenio
déla encontram-se totalmente ausentes as cerá- nesta mesma regiâo e que se encontra táo bem
micas campaniformes. A continuaçào da ocu- documentado em Leceia, pelos numerosos
paçâo do espaço intramuros terá sido acompan- reforços das muralhas e bastióes que foram ali
hada, no exterior da fortificaçâo, cía construçào identificados, se tenha gradual ou bruscamente
de duas estruturas ñas quais as cerámicas cam- dissipado? Com efeito, como antes se disse, em
paniformes constituera, exclusivamente, o con- Leceia há provas de um declínio das construçoes
junto das cerámicas decoradas: primeiro, cons- defensivas e, até, habitacionais desde o fim do
truiu-se a Casa FM; depois, a Casa EN, que Calcolítico inicial: aparelhos monumentais, quase
reflecten! a frequência do sitio, de forma inter- de carácter ciclópico, com blocos dos muitas
mitente, por portadores de cerámicas exclusiva- centenas de Kg, ou mesmo de 1 ou 2 Τ, só se uti-
mente campaniformes. A aceitar que diferentes lizaran! na fase de fundaçào da fortaleza.
culturas materials espelhem realidades culturáis Nao obstante, é no Calcolítico pleno que a
distintas (HODDER, 1982; JORGE, 1997, p. 136), prosperidade desta comunidade terá atingido o
está-se perante duas comunidades culturalmente seu ponto mais alto, decorrente da plena
e socialmente diferenciadas, desconhecendo-se, adopçào de todas as inovaçôes características da
porém, quais as relaçôes mantidas entre si. RPS. Há, deste modo, urna aparente contradiçào
entre a intensificaçâo económica e a necessidade
Na zona intramuros, os traços das comuni-
defensiva. Desta forma, podemos concluir que,
dades campaniformes só se tornaram nítidos,
pelo menos em Leceia, a desagregaçâo do mode-
através dos respectivos materials, quando as
lo de sociedade calcolítica ali representado, base-
populaçôes que, na tradiçào directa das que ocu-
ado em grandes povoados fortificados, teria
paran! o local desde o Calcolítico inicial, entra- começada verificar-se logo no inicio do
ran! em declínio. Seja como for, da prolongada Calcolítico pleno. Para tal teria concorrido decisi-
convivencia, aínda que eventualmente conflituo- vamente o crescente esgotamento dos recursos
sa, entre comunidades de raíz cultural täo diver- disponíveis em áreas de captaçào cada vez mais
sa, terá o resultado mutuas influencias. O grupo circunscritas em torno dos povoados, ditadas
campaniforme de Pálmela é, justamente, aponta- pela propria lógica de competicáo inter-comuni-
do, como o resultante de tais influencias indíge- tária. Este terá sido o resultado a que conduziu
nas. Em suma, crê-se que a presença campani- um modelo de desenvolvimento que, partindo
forme na regiào estremenha se possa situar entre das melhorias tecnológicas do sistema produtivo,
ca 2800-2200 AC. Tal antiguidade tem paralelos conduziu ao crecimento populacional e ao
em outras áreas peninsulares e extra-peninsula- superpovoamento ele determinados núcleos, já
res (GUILAINE, 1974, 1984; HARRISON, 1988; de características proto-urbanas, como Leceia,
ARRIBAS & MOLINA, 1987). Por outro lado, o em que se evidencian! espaços de carácter social,
final do campaniforme é, na Estremadura portu- vías de circulacáo principáis e, mesmo, estruturas
guesa, anterior ao fim do último quartel do ter- destinadas à acumulaçâo de lixos domésticos,
ceiro milenio A.C. Esta conclusáo é corrobada visando a manutençào cía salubridade do espaço
pela data 3570±45 BP (ICEN-843) que, depois de habitado no decurso do Calcolítico pleno (CAR-
calibrada a 2 sigma, corresponde ao intervalo DOSO, 1994a).
2028-1752 AC, atribuível a ossos do povoado do
A breve trecho, a evoluçâo social interna
Bronze Pleno do Catujal, Loures, pertencente a
destas comunidades, caracterizada por intensa
urna fase cultural claramente ulterior à das derra-
competicáo intercomunitária pela posse dos mel-
deiras cerámicas campaniformes (CARDOSO,
hores territorios, conduziu a situaçoes de confuto
1994b).
generalizado, de que aínda no Calcolítico pleno

© Universidad de Salamanca Zepbyrus, 50, 1997, 249-261


258 Joâo Luís Cardoso / Gênese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura

há provas evidentes neste povoado, como atrás possa dizer que constituissem verdadeiros «luga-
se referiu. Enfim, a ausencia de um poder centra- res centrais» à escala regional, os quais só se afir-
lizado teria estado na origem daquilo que foi mariam na Idade do Ferro. Assumiam-se, de
designado por «Guerra generalizada» concorren- qualquer modo, com funçôes estruturantes na
do, a prazo, para a propria fissáo de tal modelo ocupaçào de vastos territorios e no estabeleci-
de sociedade (SOARES & SILVA, 1995), designa- mento de redes de troca ele grande amplitude,
damente devido as dificuldades crescentes de que acompanharam a standartizaçào de artefac-
captaçâo dos recursos naturalmente disponíveis tos de grande difusäo: os artefactos do «pacote»
em áreas cada vez mais instáveis ou limitadas, campaniforme ( vasos, pontas de seta, aciagas,
necessárias ao abastecimento das comunidades braçais de arqueiro e botôes de osso). Tais ele-
que deles dependiam. A fissáo das grandes aglo- mentos fariam parte da indumentaria de urna
merados fortificados, teria expressào, no interior classe guerreira, tal vez com raizes mais profun-
daqueles e, designadamente em Leceia, nos das, a quai viria a afirmar-se plenamente na
seguintes aspectos: 1) clegradaçâo das técnicas Idade do Bronze. Nesta fase, continuam a usar-
construtivas, tanto as usadas ñas estructuras se artefactos de prestigio, sobretudo, adornos de
defensivas como ñas habitacionais; 2) retracçào ouro (espiráis, contas, diademas, aplicaçoes
do espaço habitado; 3) abandono generalizado e diversas, etc.), reforçando a ideia de uma con-
ruina do dispositivo defensivo. centraçao do poder económico nas mào de uma
A partir do Calcolítico pleno, a nova ordern «elite» em crescente afirmaçao, que contraria a
económico-social que, entäo, progressivamente, aparente desarticulaçâo social sugerida pelo
se impôs, ao menos na Baixa Estremadura, con- padrâo de povoamento dominante.
substanciava-se, no final do Calcolítico, pelo des- Nesta perspectiva, a re-emergêneia da fauna
povoamento dos amigos povoados fortificados e selvagem que se observa nos níveis campanifor-
pela multiplicaçào de pequeños núcleos em locáis mes dos escassos povoados que têm sido alvo de
abertos, sem condiçôes na turáis de defesa, onde estudos arqueozoológicos -Monte da Tumba
pontificara as cerámicas campaniformes. Porém, a (ANTUNES, 1987) e Porto Torrào (ARNAUD,
continuidade do povoamento de algumas dessas 1993)- poderá ser interpretada como consequên-
antigás fortificaçôes, na medida em que consti- cia do aumento das actividades cinegéticas do
tuam sitios com condiçôes naturais de defesa, nos segmento dominante - a a "elite" guerreira- que
alvores do Bronze, é-nos sugerida pela propria assim se exercitaria para as actividades bélicas.
ocupaçào da Vila Nova de Sâo Pedro (ARNAUD & Na larga maioria dos pequeños «habitats» campa-
GONÇALVES, 1995) ou do Zambujal, verdadeiro niformes, correspondendo ao estacionamento
embriâo dos grandes povoados de altura, fortifi- permanente de pequeños grupos humanos, que,
cados ou nào, que ulteriormente viriam a flores- repetimos, nao se afiguram incompatíveis com a
cer a partir do Bronze Pleno, e que começam a sua integraçâo em modelo fortemente hierarqui-
ser identificados na Baixa Estremadura, como o zado, produzir-se-ram cereais, de forma intensiva
de Catujal - Loures (CARDOSO, 1994b), ou o do e criavam-se animais domésticos, bovinos e ovi-
Castelo da Amoreira, na mesma regiâo, com caprinos, como sugerem os escassos elementos
varias linhas defensivas (FABIÄO, 1993), à semel- disponíveis (SOARES & SILVA, 1974/77; CARDO-
hança do verificado na sub-meseta Norte (SENNA- SO, NORTOS & CARREIRA, 1996). Tal realidade
MARTINEZ, 1994; LÓPEZ-PLAZA, 1994). tem, alias, exemplificaçào evidente no Bronze
Assim sendo, a desarticulaçâo da estrutura Final onde, a par de numerosos povoados de
social calcolítica que conduziu, aparentemente, altura, vastos e fortificados, conhecidos no inte-
ao retorno a formas de povoamento vigentes rior baixo-alentejano (PARREIRA, 1995), talvez
nesta mesma regiào no Neolítico, visando a funcionando como «uma especie de centros eco-
plena libertaçào das capacidades produtivas das nómicos e políticos» (op. cit, p. 132), ocorrem
respectivas comunidades, correspondería, na rea- núcleos sazonáis, junto do litoral, como em
lidade, a um aumento da hierarquizaçâo social, Cerradinha, Santiago do Cacém (SILVA & SOA-
acompanhada da manutencáo de um reduzido RES, 1979) ou em Pontes de Marchil, Faro (MON-
número de sitios fortificados se bem que nao se TEIRO, 1980). Caso se considerassem apenas

© Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261


foâo Luís Cardoso / Génese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura 259

estes habitats litorais p a r a a reconstituiçâo p a l e - CARDOSO, J. L. (1994b): «Investigaçào arqueológica na


ossocial, s e r í a m o s facilmante l e v a d o s a concluir área de Lisboa. Os últimos 10 anos». Al-Madan,
q u e r e p r e s e n t a v a m sociedacle igualitaria, n ä o Série II, 3: 59-74.
CARDOSO, J. L. & CARDOSO, G. (1993): «Carta arqueoló-
h i e r a r q u i z a d a , e x a c t a m e n t e o contrario d o c o m -
gica d o concelho de Oeiras». Estudos
p r o v a d o pela g l o b a l i d a d e d a r e a l i d a d e a r q u e o l ó -
Arqueológicos de Oeiras, 4: 1-126.
gica. O s t e s t e m u n h o s c a m p a n i f o r m e s a l u d i d o s
CARDOSO, J. L. & CARREIRA, J. R. (1996): «Materials cam-
c o r p o r i z a r i a m , cleste m o d o , a p a s s a g e m , paulati- paniformes e da Idade do Bronze do concelho
na, p a r a u m n o v o r e g i m e social, já p l e n a m e n t e de Sintra». Estudos Arqueológicos de Oeiras , 6:
da I d a d e d o B r o n z e , b a s e a d o n a figura d o 317-340.
«chefe», r o d e a d o p e l a elite a q u e m c o m p e t i r í a a CARDOSO, J. L. & SOARES, A. M. MONGE (1990/92):
m a n u t e n ç à o e vigilancia d e d e t e r m i n a d o territo- «Cronología absoluta para o campaniforme da
rio, h i p ó t e s e alias c o n s u b s t a n c i a d a n a b e m c o n - Estremadura e do Sudoeste de Portugal». O
h e c i d a p a n o p l i a guerreira c a m p a n i f o r m e , a n t e s Arqueólogo Portugués, S. IV, 8/10: 203-228.
CARDOSO, J. L. & SOARES, A. M. MONGE (1996):
referida. Estaríamos, e n t à o , já l o n g e d a s o c i e d a -
«Cronologie absolue pour le Néolithique et le
d e tribal, b a s e a d a n o p r i n c i p i o d a c o n s a g u i n i d a -
Chalcolithique de l'Estremadura portugaise - la
d e , «por n a t u r e z a , urna sociedacle fechada e sus-
contribution de Leceia». Revue d'Arcbéolométrie,
picaz, n a q u a l o exclusivismo d o v í n c u l o q u e a supplément (1996): 45-50.
realiza e m a n t é m concluz i n t e r n a m e n t e à solicla- CARDOSO, J. L.; CUNHA, A. SANTINHO & AGUIAR, D. (199Ό:
r i e d a d e e e x t e r n a m e n t e à discordia» (CARVALHO, «O hörnern pré-histórico no concelho de Oeiras.
1946, p . 17-18). Estudos de Antropología Física». Estudos
Arqueológicos de Oeiras, 2: 1-85.
CARDOSO, J. L.; NORTON, J. & CARREIRA, J.R. (1996):
Bibliografía «Ocupaçào caleolítica do Monte d o Castelo
(Leceia, Oeiras)». Estudos Arqueológicos de Oirás,
ANTONES, M. T. (1987): «O povoado fortificado calcolíti- 6:287-299.
co do Monte da Tumba». IV - Mamíferos (nota CARVALHO, J. de (1946): «A cultura castreja. Sua interpre-
preliminar). Setúbal Arqueológica, 8: 103-144. taçâo sociológica». Ocidente, 29, suplemento: 1-
ARNAUD, J. M. (1993): «O povoado calcolítico d e Porto 32.
Torrâo (Ferreira do Alentejo): síntese das investi- CHAPMAN, R. W. (199D: «La formación de las socieda-
gaçôes realizadas». Vipascca, 2: 41-60. Cámara des complejas. El Sureste de la Península Ibérica
Municipal de Aljustrel. en el marco del Mediterráneo Occidental··. Crítica.
ARNAUD, J. M. & GONÇALVES, J. L. (1995): »A fortificaçâo Barcelona.
pré-histórica de Vila Nova de S. Pedro FABIÀO, C. (1993): «O Bronze Final». I n j . Mattoso (ed.):
(Azambuja): balanço de meio século d e investi- '•Historia de Portugal I - Antes de Portugal··.
gacöes (2 a parte)». Revista de Arqueología da Editorial Estampa. Lisboa: 79-119-
Assembleia Distrital de Lisboa, 2: 11-40. GONÇALVES, V S. (1993): «Emergencia e desenvolvi-
ARRIBAS, A. & MOLINA, F. (1987): «New Bell Beakers dis- miento das sociedades agro-metalúrgicas». In J.
coveries in the southeast Iberian Peninsula. In Medina (ed.) «Historia de Portugal. Dos tempos
W.H. Waldren & R.C. Kennard (ed.): Bell Eakers históricos aos nossos dias··. Ediclube. Lisboa: 183-
of the Western Mediterranean. BAR International 212.
Series 331 (1). Oxford: 129-146. GONÇALVES, V. S. (1994a): «As sociedades camponesas
BLANCE, Β. Μ. (1957): «Sobre o uso de torreôes ñas da península de Lisboa (do 6 e ao 3" milenio)». In
muralhas de recintos fortificados do 3 a milenio a. Α. Μ. Arruda (ed.): «Lisboa Subterránea··. Museu
C.» Revista de Guimarâes, 57 (1/2): 169-178. Nacional de Arqueología, Lisboa 39-48.
BOSCH-GIMPERA, P. (1969): «La Culture de Almería». GONÇALVES, V S. (1994b): «O castro de Vila Nova d e S.
Pyrenae, 5: 47-93. Pedro. Um típico povoado calcolítico fortificado
CARDOSO, G. (1991): «Carta arqueológica do concelho do 3 a milenio». In A. M. Arruda (ed.) «Lisboa
de Cascáis··. Cámara Municipal de Cascáis. Subterránea- . Museu Nacional de Arqueología,
CARDOSO, J. L. (1994a): «Leceia 1983-1993. Resultados Lisboa 49-51.
das escavacóes d o povoado pré-histórico». GUILAINE, J. (1974): «Les campaniformes pyrénéo - lan-
Estudos Arqueológicos de Oeiras (número espe- guedociens. Premiers résultats au 14C». Zephyrus,
cial): 1-164. 25: 107-120.

© Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261


260 Joäo Luís Cardoso / Genese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadiira

GUILAINE, J. (1984): «La civilisation des gobelets campa- LÓPEZ-PLAZA, S. (1994): «El Alto del Quemado, poblado
niformes clans la France méridionale». In «L'Age calcolítico fortificado en el SO. de la Meseta
du Cuivre Européen-. Paris, CNRS: 175-186. Norte Española». Trabalhos de Arqueología da
HARRISON, R. J. (1988): «Bell Beakers in Spain and EAM, 2: 201-214.
Portugal: working with radiocarbon dates in the MONTEIRO, J. PINHO (1980): «O acampamento d o Bronze
3rd millenium BO. Antiquity, 62: 464-472. das Pontes ele Marchil». In "Descobertas arqueo-
HODDER, I. (1982): «Symbols in action. Ethnoarcbae- lógicas no sul de Portugal". Centro de Historia
ological studies of material culture. New studies das Universidades de Lisboa & Museu d e
in Archaeology». Cambridge University Press. Arqueología e Etnografía da Assembleia Distrital
HURTADO, V. (1995): «Interpretación sobre la dinámica de Setúbal. Setúbal: 43 - 45.
cultural en la cuenca media del Guadiana (IV-II PACO, A. DO & SANGMEISTER, Ε. (1956): «Castro de Vila
milenios a.n.e.)». Extremadura Arqueológica, 5: Nova de S. Pedro.VIII - campanha de escavaçôes
53-80. de 1955 (19a)». Arqueología e Historia, Série VIII,
JORGE, S. OLIVEIRA (1986): -Povoados da Pré-história 7: 93-114.
recente da regido de Chaves- Vila Pouca de PARREIRA, R. (1995): «Aspectos da Iclade do Bronze no
Aguiar«. Instituto de Arqueología da Faculdade Alentejo Interior». In S. O. Jorge (ed.): "A Idade
de Letras d o Porto, 2 vol. Porto. do Bronze em Portugal - discursos de poder".
JORGE, S. OLIVEIRA (1990a): «Desenvolvimento da hie-
Instituto Portugués ele Museus. Lisboa. 131 - 134.
rarquizaçào social e da metalurgia». In Joel Serrào RENFREW, C. (1972): «Patterns of population growth in
e Α. Η. de Oliveira Marques (ed.): Nova Historia the prehistoric Aegean». In (P. Ucko et al., edts)
de Portugal 7 - Portugal - das origens à romani- "Man, settlement and tirbanism". 383-399.
Londres.
zaçào ( œ o r d e n a ç â o d e Jorge de Alarcào).
Editorial Presença. Lisboa: 163-212. SANCHES, M. J. (1992): "Pré-história recente noplanalto
mirandês (Leste de Trás-os-Montes) ". Monografías
JORGE, S. OLIVEIRA (1991): «Habitats du Néolithique et
Arqueológicas, 3. Grupo de Estudos Arqueológi-
du Chalcolithique du Nord du Portugal (IV _ II
cos d o Porto.
mill. av. J. O » . Revista de Historia do Centro de
SANGMEISTER, E. & SCHUBART, H. (1972): «Zambujal·.
Historiada Universidade do Porto, 11: 261-268.
Antiquity, 46: 191-197.
JORGE, S. OLIVEIRA (1992): «An approach to the social
SAVORY, Η. Ν. (1970): «A section through the innermost
dynamics of northern Portugal's Late Prehistory».
rampart at the chalcolithic castro of Vila Nova de
Institute of Archaeology Bulletin, University
S. Pedro, Santarém (1959)». Actas das Ifornadas
College of London, 29: 97-120.
Arqueológicas da Associaçào dos Arqueólogos
JORGE, S. OLIVEIRA (1994a): «Colonias, fortificaçôes, Portugueses (Lisboa, 1969), 1: 133-162. Lisboa
lugares monumentalizados. Trajectoria das con- Traduçào portuguesa em CLIO/'Arqueología,
cepçôes sobre um tema d o Calcolítico peninsu- Revista da UNIARCH/INIC, 1 (1983/84): 19-29.
lar». Revista da Faculdade de Letras, Universidade SCHUBART, H. (1969): «Las fortificaciones eneolíticas de
do Porto, Série II, 11: 447-546. Zambujal y Pedra d o Ouro, en Portugal». X
JORGE, S. OLIVEIRA (1994b): «O povoado de Castelo Congreso Nacional de Arqueología (Zaragoza,
Velho (Freixo de Numào, Vila Nova de Foz Coa) 1967): 197-204. Zaragoza.
no contexto da Pré-história recente do Norte de SCHUBART, H. & SANGMEISTER, E. (1987): «Zambujal -
Portugal». Actas do Ie Congresso de Arqueología Torres Vedras. Portugal·. Cámara Municipal d e
Peninsular (Pono, 1993), 1: 179-243. Porto. Torres Vedras.
JORGE, S. OLIVEIRA & JORGE, V. OLIVEIRA (1997): «The SENNA-MARTÍNEZ, J. C. DE (1991): «The Late Prehistory of
Neolithic/Chalcolithic transition in Portugal». In Central Portugal: a first diachronic view».In Κ.
M. Diaz-Andreu & S. Keay (ed.): «The Lillios (ed.): The origins of Complex Societies in
Archaeology of Iberia». Routlege. London <& New Late Prehistoric Iberia. International Monographs
York. 128-142. in Prehistory. Michigan, Ann Arbor: 64-94.
KUNST, M. (1987): "Zambujal. Glockenbecker und kerb- SENNA-MARTINEZ, J. C. DE (1994): Notas para o estudo da
blattverzierte Keramic aus den Grabungen 1964 génese da Idade do Bronze na Beira Alta: o fenó-
bis 1973". Madrider Beitrage, 5.2. Mainz, Verlag meno campaniforme. Trabalhos de Arqueología
Phillip von Zabern. da EAM., 2: 173-200.
KUNST, M. (1996): "As cerámicas decoradas d o SILVA, C. TAVARES DA & SOARES, J. (1979): «Urna jazida d o
Zambujal e o faeamento d o Calcolítico da Bronze Final na Cerradinha (Lagoa de Santo
Estremadura Portuguesa". Estudos Arqueológicos André, Santiago do Cacém)». Setúbal
de Oeiras, 6: 257-287. Arqueológica, 4: 71 - 115.

© Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261


Joào Luís Cardoso / Génese, apogeu e declínio das fortificaçôes calcolíticas da Estremadura 261

SILVA, C. TAVARES DA & SOARES, J. (1987): «O povoado for- SOARES, J. & SILVA, C. TAVARES DA (1995): «O Alentejo lito-
tificado calcolítico do Monte da Tumba. I ral no contexto da Idade do Bronze do Sudoeste
-Escavacóes arqueológicas de 1982-86 (resulta- peninsular». In S. O. Jorge (ecl): «A Idade do
dos preliminares)". Setúbal Arqueológica, 8: 29- Bronze em Portugal - discursos de Poder». Museu
79. Nacional de Arqueología, Lisboa: 136-139.
VALERA, A. C. (1994): «Diversidade e relaçôes inter-
SOARES, A. M. MONGE & CABRAL, J.M. PEIXOTO. (1993):
regionais no povoamento calcolítico da bacía do
"Cronología absoluta para o Calcolítico da extre-
medio e alto Mondego». Actas do I Congresso de
madura e do Sul de Portugal". Actas do I
Arqueología Peninsular'(Porto, 1993), 3: 153-171.
Congreso de Arqueología Peninsular (Porto,
Porto.
1993, 2: 217- 235. Porto. VALERA, A. C. (1996): "O Castro de Santiago (Pomos de
SOARES, J. & SILVA, C. TAVARES DA (1974/77): «O Grupo de Algodres, Guarda). Aspectos da calcolitizaçào da
Pálmela no quaclro da cerámica campaniforme hacia do Alto Mondego". textos Monográficos, 1.
em Portugal». O Arqueólogo Portugués, Série III, Cámara Municipal de Fornos de Algodres.
7/9: 102-112. Lisboa.

O Universidad de Salamanca Zephyrus, 50, 1997, 249-261

You might also like