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Acta Scientiae Veterinariae, 2014. 42(Suppl 1): 45.

CASE REPORT ISSN 1679-9216


Pub. 45

Síndrome de Haw em Gatos


Haw’s Syndrome in Cats
Luis Felipe Dutra Corrêa1, Sérgio Santalucia2, Marília Teresa de Oliveira2, Fernando Wiecheteck de Souza1,
Virginea Heinze Pohl1, João Pedro Scusssel Feranti2 & Maurício Veloso Brun3

ABSTRACT

Background: Haw’s syndrome is an uncommon but underdiagnosed disease that affects cats. It occurs due to changes
in the innervation of the third eyelid causing protrusion. These changes may occur due to some change in sympathetic
innervation efferent to the eye and its annexes The diagnosis is based on the instillation of sympathomimetic agents. The
palliative treatment is based on the instillation of sympathomimetic agents only if the protrusion is preventing eyesight.
The aim of this study is to report the clinical management of three cats with this syndrome, emphasizing its clinical, di-
agnostic and treatment demonstration.
Case: Three cats were referred to the Department of Ophthalmology Veterinary of the Catholic University of Rio Grande
do Sul (PUCRS), two with undefined breeds (male and female) and a Siamese (male), aged between 2 and 4 years, with
bilateral protrusion of the third eyelid. The owners reported that the animals ate well, were active and did not observe any
other problems concomitantly, with the exception of diarrhea In one of the animals a week ago, but that had passed. The
animals underwent a complete ophthalmologic examination where they were evaluated since the symmetry orbits until
intraocular pressure, Schirmer tear test, fluorescein test and lissamine green, without any obvious change, with values within
the normal range for the species, except for the bilateral protrusion of the third eyelid was the only clinical sign present.
In the fundoscopic exam no apparent changes were observed, with the optic nerve head and retinal vasculature normal
for the species. All patients received instillation of 10% phenylephrine in the left eye, with total regression of the third
eyelid to its anatomical position. As it was an isolated problem, without visual or systemic repercussions, no medication
was prescribed, although the animals kept coming for revisions weekly for 60 days. After 47 days, on average, the third
eyelid returned to its anatomical position.
Discussion: Haw’s syndrome is an uncommon and with little expression in the ophthalmic medical clinic eye disease, a fact
which may explain the limited literature available on the subject. However, this disease deserves attention, given the need
to obtain the differential diagnosis of other ocular and systemic diseases that can cause protrusion of the third eyelid, as
Horner’s syndrome, ocular atrophy, lymphoma, retrobulbar tumors, among others. Furthermore, for the definitive diagnosis
of the syndrome, it is interesting that the veterinary ophthalmologist is familiar with the physiology of the sympathetic in-
nervation via the eye and its attachments, making the necessary tests to confirm the diagnosis and avoid hasty conclusions.
In this case, as stressed in the literature, if the third eyelid returns within 20 min to its anatomical position, it means that
the likely cause is in the third neuron postganglionic order, as observed in the three cats after instilling phenylephrine 10%
. This occurs as a result of hypersensitivity to sympathetic stimulation generated exclusively in post-ganglionic lesions. If
there is no pupillary dilation within 20 min the lesion is preganglionic. The cat that had diarrhea also was thought in viral
involvement, but it has not been proved. In the treated cases, the authors found that there was no loss of vision without
the need for treatment, but they consider essential the diagnostic condition to reassure the owners, informing them of the
favorable prognosis and pathogenesis of the syndrome.

Keywords: ophthalmology, sympathetic denervation, phenylephrine.


Descritores: oftalmologia, denervação simpática, fenilefrina.

Received: 15 March 2014 Accepted: 12 July 2014 Published: 30 July 2014


1
Doutorando, Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Camobi, Santa Maria, RS, Brazil. 2Mestrando,
Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária (UFSM). 3Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária (UFSM). CORRESPONDENCE:
L.F.D. Corrêa [lfdcjeep@yahoo.com.br - Tel.: +55 (51) 9861-4786]. Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa
Maria. CEP 97105-900 Santa Maria, RS, Brazil.

1
L.F.D. Corrêa, S. Santalucia, M.T. Oliveira, et al. 2014. Síndrome de Haw em Gatos.
Acta Scientiae Veterinariae. 42(Suppl 1): 45.

INTRODUÇÃO concomitantemente, com exceção de diarréia em um


Dentre as afecções mais comuns da terceira deles a uma semana. Os animais foram submetidos
pálpebra em felinos, destaca-se a protrusão [7,11]. a exame físico e oftálmico completos, sem qualquer
A Síndrome de Haw é protrusão bilateral aguda da alteração evidente, exceto a protrusão da terceira pál-
membrana nictitante, a qual pode ser observada pebra bilateral.
em felinos e que pode ser acompanhada ou não Todos os pacientes receberam instilação de
por doença gastrointestinal ou parasitária [7,8,12]. colírio de fenilefrina a 10% no olho esquerdo, com
De causa desconhecida, acredita-se que decorra de regressão total da terceira pálpebra desse olho a sua
neuropatia simpática, de ganglionite simpática cer- posição anatômica normal, em tempo médio de 17 min
vical anterior, de hipersensibilidade do sítio receptor (Figura 2). Por se tratar de um problema isolado, sem
pós-ganglionar ou ainda, que pode estar associada a repercussões visuais ou sistêmicas, nenhuma medica-
infecções virais [6]. ção foi prescrita, entretanto foram solicitadas revisões
Para manter a terceira pálpebra em sua po- para acompanhamento a cada sete dias, durante 60 dias.
sição anatômica (canto medial do olho) a inervação Após 47 dias, em média, a terceira pálpebra retornou
autossômica simpática precisa estar intacta. Caso à sua posição anatômica normal.
seja interrompida, o tônus muscular liso da terceira
pálpebra do olho desenervado torna-se diminuído ou
ausente, gerando sua protrusão [2,7]. A presença de
peristaltismo intestinal aumentado sugere que a disfun-
ção simpática possa ser generalizada. Alguns autores
acreditam que somente os gatos sejam acometidos, a
despeito dos relatos publicados em cães da raça Golden
Retriever [15].
A síndrome, que afeta gatos com idade inferior
a três anos, não exibe predileção por sexo ou raça. O
diagnóstico é obtido mediante instilação de agente
simpaticomimético [12,15]. O fato de estes casos idio-
páticos responderem temporariamente à administração
tópica de agentes adrenérgicos sugere algum tipo de
Figura 1. Felino, sem raça definida, com três anos de idade diagnosticado
alteração da inervação simpática similar à Síndrome com Síndrome de Haw. Observe a protrusão bilateral da membrana nicti-
de Horner [7]. A condição é autolimitante, sendo o tante (seta vermelha).
tratamento indicado apenas quando a protrusão implica
em déficit visual. A medicação de escolha é a epinefrina
1% ou 2% para a manutenção da membrana em sua
posição normal [4,7,12].
Este relato objetiva descrever o manejo clínico
de três gatos com esta síndrome , enfatizando sua ma-
nifestação clínica, diagnóstico e tratamento.
CASOS

Três felinos foram encaminhados ao Serviço


de Oftalmologia Veterinária da Pontifícia Universida-
de Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), sendo
dois sem raça definida (macho e fêmea) e um siamês
(macho), com idades entre dois e quatro anos, apresen-
tando protrusão bilateral da terceira pálpebra (Figura Figura 2. Resposta à aplicação de colírio de fenilefrina 10% no olho es-
querdo do felino. Observa-se a retração unilateral da membrana nictitante
1). Os proprietários não referiam nenhum problema (seta azul).

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L.F.D. Corrêa, S. Santalucia, M.T. Oliveira, et al. 2014. Síndrome de Haw em Gatos.
Acta Scientiae Veterinariae. 42(Suppl 1): 45.

DISCUSSÃO que o uso de medicações não é necessário. No presente


Os animais atendidos no presente relato não relato, sem o emprego de fármacos, os felinos tiveram a
apresentavam nenhuma alteração oftálmica, somente terceira pálpebra retornando para sua posição anatômica
a protrusão da terceira pálpebra, assim como salienta em média aos 47 dias após o atendimento, condição que
a literatura [12,14]. Para um bom diagnóstico, é reco- reforça o conceito de se tratar de doença autolimitante
mendado fazer exame físico, neurológico e oftalmo- [7,12]. Essa protrusão ocorre devido aos neurônios de
lógico detalhado para evitar certas interpretações que terceira ordem, também chamados neurônios simpáticos
podem ocasionar diagnóstico errôneo e precipitado [5]. pós-ganglionares, juntarem-se ao nervo oftálmico do
Alterações no sistema simpático pós-ganglionar trigêmeo para inervarem os músculos lisos dos olhos,
tendem a responder a medicações em um período médio pálpebras e periórbita, sendo que quando estas estruturas
de 20 min [1], fato este observado nos três pacientes se apresentam alteradas nessa condição de inervação,
quando instilados fenilefrina. Testes farmacológicos têm possuem certo grau de alteração simpática [3,10,13].
sido recomendados na tentativa de auxiliar a localizar a A Síndrome de Haw é afecção oftálmica inco-
possível lesão simpática em cães e gatos [11]. Observou- mum e de pouca expressividade na clínica médica, fato
-se que um dos felinos teve episódio de diarréia, o este que talvez explique a reduzida literatura disponível
qual pode estar ligado à disfunção simpática [14]. A sobre o assunto. Contudo, tal doença merece devida
literatura salienta que doenças intestinais inflamatórias atenção, haja vista a necessidade de se obter diagnós-
como contaminação pelo corona vírus também podem tico diferencial de outras enfermidades oftálmicas e
desenvolver neuropatias simpáticas [1,7]. A literatura sistêmicas que podem causar a protrusão da terceira
demonstra que muitas vezes o problema pode iniciar pálpebra, como por exemplo, Síndrome de Horner,
pelo quadro entérico para, posteriormente, ocasionar a Phthisis bulbi, Linfoma, neoplasias retrobulbares, entre
alteração simpática [7]. Alguns autores salientam que outros. Nos casos atendidos, os autores observaram
gatos acometidos com Síndrome de Haw devem ser sub- que não houve prejuízo da visão, não havendo neces-
metidos a diagnóstico diferencial da Síndrome de Horner sidade de tratamento, porém consideram essencial a
ou da disautonomia felina [9]. No entanto, ao examinar condição diagnóstica para tranquilizar os proprietários,
os felinos, nenhum deles manifestava outra alteração informando-os acerca da etiopatogenia e prognóstico
como miose, enoftalmia e andar cambaleante, condição favorável desta síndrome.
que ocorre na disautonomia felina e na Síndrome de
SOURCE AND MANUFACTURER
Horner. Todos os animais atendidos se alimentavam
bem e comiam bem, não tendo nenhuma alteração no 1
Fenilefrina 10%® Allergan, São Paulo, SP, Brazil.
seu comportamento que pudessem estar associadas a Declaration of interest. The authors report no conflicts of
outras condições neurológicas [12]. O fato da protrusão interest. The authors alone are responsible for the content and
não prejudicar a visão dos animais reforça a idéia de writing of the paper.

REFERENCES

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3
L.F.D. Corrêa, S. Santalucia, M.T. Oliveira, et al. 2014. Síndrome de Haw em Gatos.
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13 Slatter D. 2005. Neurooftalmologia. In: Slatter D. (Ed). Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. 3.ed. São Paulo:
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14 Stades F.C. 1999. Neoplasia da conjuntiva. In: Stades F.C. (Ed). Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. São Paulo:
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15 Whitley R.D., Gilger B.C., Whitley E.M. & McLaughlin S.A. 1993. Diseases of the orbit, globe, eyelids, and lacrimal
system in the cat. Veterinary Medicine. 88(12): 1150-1162.

CR 45
www.ufrgs.br/actavet

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