Christóvão, H. T., & Braga, G. M. (1997) - Ciência Da Informação e Sociologia Do Conhecimento Científico A Intertemacidade Plural

You might also like

Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 7
CIENCIA DA INFORMACAO E SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO CIENTIFICO: A INTERTEMATICIDADE PLURAL (Sobre “A CIENCIA E SEU PUBLICO”, de Léa Velho: um ponto de vista da Ciéncia da Informagao) Holoisa Tardin CHRISTOVAO’ hlardn@ o.com be Gilda Maria BRAGA’ ‘bsgs@r0.com br 1. INTRODUGAO_ O presente artigo tem como objetivo, ao tecer considera- sobre o artigo “A Ciéncia e seu pablico’, de autoria de Léa Velho, discutir alguns pontos relativos a interface da Ciéncia da Informagao (Cl) com a Sociologia do Conhecimento Cientifico (SCC), a partirda perspectiva da primeira A opcode assim faz nte de pe: atuam et vidas na de sosi6k ciéncia de maneira mais formal; (b) do fato que as mo de Ensino e Pesquisa IBICTICNPG Transinformagso, v. 9,n.3, p. 33-45, selembroldezembro, 1997 34 manifestagées da interface entre ambas as areas tém se dado de forma assimétrica, com maior intensidade do olhar da Cl sobre a SCC. do que 0 oposto ou um estado de equilibrio, ¢ (c) da constatacao de gue, inexistindo, até onde se conhece, uma apreciagao critica sobre 0 delineamento © perspectivas de linhas de pesquisa expressas na interface em questao, ¢ pela razao mesma da crescente relevancia e itude destas, o momento se torna oportuno para tal fazer. Os pontos que serdo discutidos @ seguir, longe de esgotar ‘.assunto, foram escolhidos a partirda percepeao das autoras daquilo que no momento atual vem se contigurando nas relagées CSCC. devendo servir,portanto, como patamar apenas para outras retlexdes e quem sabe, novas investigacoes. Primeiramente, serdo elaboradas visdes contemporaneas da ciéncia e suas implicagdes para a Ciéncia da Informagao em geral na medida em que a0 serem incorporadas ao fazer cientifico, redimensionam no somente a visao ortodoxa da ciéncia, de cunho Positvista e mecanicista, como também os produtos desse fazer € sua difusso. Em sequida, aquelas implicagbes serao exploradas de cientifica, onde mais claramen 6 construida a interface Cl/SCC. 2. AINFORMAGAO E SUAS CIENCIAS CONTEXTUAIS Ambas as areas partilham ao menos um fenémeno e sua recorréncia: informacao e conhecimento. Informagao pode ser definida como a interlace, 0 evento, entre um estimulo extemno (mensagem) e um cognéscio, que tal estimulo ou mensagem altera. Cognéscio, neste contexto, evoca as definigdesdos Semant aur interno, um mapa cognitvo, 9 Conjunto de conhecimentos, rellexdes, idélas, nocées etc. que ‘compbem a estruturamentalde um individuo. Esti se percebe sensorialmente, 35 através da visdo e da audi¢ao- um texto, uma fala, umaimagem. Dessa forma, informagao 6 o resultante de uma interagao; 6 um mentefato volatil que transforma-se, ao configurar-se, em conhecimento, e que como tal armazena-se no cérebro humano. Aoaceit @ até mesmo endossar- a polissemia do termo “informagao” (talvez até mesmo por falta inicial de um quadro te6rico- conceitual suficientemente abrangente) a Ciéncia da Informacéo vem seprestando, no minimo, um desservigo. Ha varias décadas, desde sua formalizagao, em 1962, a Cl vem tratando entidades distintas como se fossem iguais: documento, mensagem, informacdo. Documento, de acordo com a classica detiniczo de Briet?, é toda base de conhecimento fixada materialmente ¢ suscetivel de estudo, prova ou confronto. Mensagem é 0 que é levadode um emissor humano a um receptor humano em um processo de comunicagao: & a emissao deliberada de um estimulo externo. Embora haja uma grande superposicao entre mensagem e estimulo externo os dois, eventos nao sao iguais: ha estimulos externos, derivados, por exem: plo, da observagao de fenémenos naturais que no sao mensagens Porque nao foram emitidos por um emissor humano - @ informagao é um processo exclusivamente humano. Embora alguns autores falem, por exemplo, em transferéncia da informagao entre homem e maquina, as presentes autoras créem tratar-se de mais uma ambigdidade de uso do termo informagao. Desde 1948, ao criar a sua Teoria Matematica da Comuni- cagao ou Teoria da Informagao, Shannon desvinculou aintormagao do documento, e embora a Cl tenha absorvido essa teoria com rapidez e até mesmo gerado toda uma polémica a seu redor, nao conseguiu se desfazer da errada superposigao documentolinforma- 40: documentos nao séo nem contém informagao. Documentos contém mensagens que podem ou nao produzir informagao, depen- dendo do estado do cognéscio do receptor. A visdo da Ciéncia da Informacao - ou de parte dela - de considerar documento e informacao como sinénimos & no minimo redutora e passiva; se documentos contém informagao entdo, por “Transinformagao, 1.3; p. 32-45, selembro‘dezembro, 1987 Transinformacao, v. 9.1.3, p. 33-45, setembroidezembro, 1997 36 exemplo, todo o esforgo de individualizar usuarios, por parte dos sistemas de recuperagdo da informagao (outro nome indevido!) & inoperante: bastaria que a recuperagao fosse tematicamente correta para que o usuario usufruisse das “informagdes” do documento - e qualquer protissional da informagao que jé tenha lidado com sistemas de informacao sabe que nao é assim. Sistemas de recuperacao da informagao nao recuperam informagdes, mas documentos - ou, no maximo, documentos que s4o informagao-potencial, Ainformagao, ao configurar-se a partir da interface mensa- gem-cognéscio ou estimulo externo-cognéscio, transforma-se em conhecimento, e como tal é armazenada no cérebro humano. Em um proceso de comunicagao, 0 individuo-emissor cadifica o seu proprio. conhecimento em mensagem ou mensagens para transferi-la(s) aum. individuo-receptor; tal mensagem ou tais mensagens podero ou nao se transformar em informagao, dependendo do fato de alterarem ou nao a estrutura mental do individuo-reoeptor. E factivel, portanto, “comunicar conhecimento”, transmitir conhecimento” - embora, na realidade haja uma comunicagao e transmissao de conhecimento codificado em uma mensagem que oderd ou nao transformar-se em informagao para o receptor e entao ‘ser (caso tenha havido informagao) transformado em conhecimento Para o receptor. Hé uma cadeia mensagem-informagao-conhecimen: to-mensagem que se espirala na propria recorréncia, Nao se pode prever quando havera ou nao informacai individuo receptor; e uma pequena alteragao nas condicées in! (codificagao da mensagem, estado emocianal do receptor, etc.) pode levara grandes alteragdes no processo como um todo: caracteristicas de Caos. E o.que significa Caos? Na década de 60 os cientistas comecaram a estudar as itregularidades da natureza e as possiveis identidades entre essas. ltregularidades encontradas na natureza. © exemplo classico do caos € 0 famoso efeito borboleta, onde observa-se que uma borboleta batendo.asas em Pequim pode provocar um furacao em Nova York. Ou a7 sseja, a teoria do caos estuda as desordens, as lrregularidades em sistemas provocadas por alteragdes que sao inicialmente tao peque- nas que mal podem ser percebidas, mas que com odecorrer do tempo podem levar todo o sistema ao caos. Baseados nos estudos iniciais do meteorologista Edward Lorenz os cientistas europeus @ norte-americanos comegaram a preocupar-se em estudar o lado descontinuo e incerto da natureza. 0 curioso nesse fenémeno é que tals cientistas, em suas diferentes fisica, astronomia, meteorologia, quimica, fisiologia - encontravam sempre um mesmo padrao de irregularidades. “Os primeiros teéricos do caos, os cientis- tas que colocaram em andamento essa disciplina, tinham certas sensibilidades em comum. Eram sensiveis aos padrées, em especial 0s que surgiam em escalas diferentes, ao mesmo tempo. Tinham um. gosto pelo aleatério, pelo complexo, pelas extremidades recortadas e Pelos saltos sibitos. Os que acreditam no caos - e eles por vezes se intitulam crentes, ou conversos, ou evangelistas - especulam sobre 0 determinismo ¢ o livre-arbitrio, sobre a evolucao, sobre anatureza da inteligencia consciente. Sentem que esto fazendo recuar uma ten- déncianaciéncia, ado reducionismo, aanalise de sistemas.em termos. de suas partes constitutivas: quarks, cromossomos ou neurénios. Acreditam estar a procura do todo”, Em 1986 a Royal Society de Londres definiu caos como “comportamento estociistico que acorre num sistema determinista’. Uma vez que estocéstico 6 sinénimo de aleatério e determinista significa ser passivel de previsdo, pode parecer, a primeira vista, uma

You might also like