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FUNDAMENTOS DE

ASTRONOMIA
AULA 4

Profª Sophia Feld


CONVERSA INICIAL

Vamos estudar como foi descoberto que nossa galáxia não é a única no universo
– pois existem bilhões de outras. A nossa galáxia, chamada Via Láctea, é uma espiral
com um diâmetro de 100 mil anos-luz e massa mínima equivalente a 100 bilhões de
massas solares.
As galáxias podem ser classificadas como galáxias espirais e galáxias elípticas.
As espirais são achatadas, apresentam um núcleo que pode ser esférico ou formado de
barra, com braços em espirais saindo do núcleo, onde a maior parte das estrelas se
concentram. As elípticas são praticamente esféricas ou com formado elipsoidal, não tão
achatadas quanto as espirais. Foi no interior de uma galáxia elíptica, a M87, que foi
fotografado recentemente o disco de acreção do buraco negro supermaciço localizado
no núcleo da galáxia. Aquelas galáxias que não se encaixam nas formas espirais ou
elípticas são chamadas de galáxias irregulares.
As galáxias tendem a se reunir em grupos chamados de aglomerados de
galáxias. Nossa Via Láctea está localizada em um aglomerado chamado de Grupo
Local, que contém, ainda, a Galáxia de Andrômeda, as Nuvens de Magalhães, e dezenas
de outras galáxias. Há ainda aglomerados maiores, como o Aglomerado de Virgem, com
mais de 2500 galáxias. A reunião de aglomerados compõe um superaglomerado de
galáxias. Nosso Grupo Local e o Aglomerado de Virgem, além de outros aglomerados,
compõem o Cúmulo Local.
Edwin Hubble percebeu que, quanto mais distante uma galáxia está da Terra,
maior será seu redshift, um desvio para o vermelho de seu espectro; portanto, maior
será a sua velocidade de afastamento. A distância de uma galáxia é diretamente
proporcional à velocidade de afastamento, formando uma relação conhecida como Lei
de Hubble.
O objetivo geral desta aula é compreender a formação e evolução das galáxias.
Os objetivos específicos são:

 Conhecer a história sobre a descoberta das galáxias e descrever as


características da nossa galáxia, a Via Láctea.
 Identificar morfologicamente os tipos de galáxias, suas massas,
luminosidade e brilho superficial.
 Explicar aglomerado de galáxias, grupo local, superaglomerados e colisão entre
galáxias.

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 Explicar a formação e evolução das galáxias pelos modelos monolítico e
hierárquico.
 Conhecer a pesquisa de Hubble e enunciar a sua lei.

TEMA 1 – DESCOBERTA DAS GALÁXIAS E A VIA-LÁCTEA

No século XVIII, com o avanço dos telescópios, já se sabia da existência de


“nebulosas” espalhadas por todo o céu noturno. Sabe-se que, hoje em dia, vários corpos
celestes diferentes se enquadram dentro dessa categoria: nuvens de gás iluminadas,
nuvens de gás luminosas, aglomerados de estrelas, remanescentes de supernovas, entre
outros. Todos esses objetos pertencem à nossa própria galáxia, mas algumas delas eram
outras galáxias individuais a milhões de anos-luz de distância (Kepler; Saraiva, 2014).
Os estadunidenses Harlow Shapley (1885-1972) e Heber Doust Curtis (1872-
1942) estavam em lados opostos quanto às “nebulosas”, que ainda não tinham sido
identificadas como nuvens de gases ou aglomerados estelares. Shapley defendia que tais
nebulosas eram próprias da Via Láctea, enquanto Curtis defendia a ideia que as
nebulosas eram exteriores à nossa galáxia. Três anos mais tarde, Edwin Powell Hubble
(1889-1953) identificou estrelas variáveis do tipo cefeídas na nebulosa de Andrômeda.
Como, devido às suas propriedades, sabia-se com relativa precisão as distâncias das
cefeídas, pôde- se calcular a distância dessas estrelas, algo em torno de 1 milhão de
anos-luz (sabe-se hoje em dia que essa distância é 2,9 milhões de anos-luz), muito mais
longe que qualquer objeto já identificado na Via Láctea, que estava no máximo a
100.000 anos-luz da Terra. Consolidou-se a ideia de que a nebulosa de Andrômeda era
de fato uma galáxia independente da Via Láctea, de tamanho similar (Kepler; Saraiva,
2014).

1.1 A Via-Láctea

Em noites de céu limpo, sem lua, distante dos centros urbanos, é possível
observar uma grande faixa nebulosa no céu noturno. Essa faixa ficou conhecida na
Antiguidade como Via-Láctea, pois é esbranquiçada como leite. Sua região mais
pronunciada é a da constelação de Sagitário. Ao apontar um telescópio simples, a região
esbranquiçada torna-se uma multidão de estrelas, como observou Galileu Galilei
(Comins; Kaufmann III, 2010).

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William Herschel, descobridor de Urano, percebeu que a Via Láctea poderia ser
um disco achatado de estrelas com o Sol em seu centro. Porém, Harlow Shapley
percebeu que a maioria dos aglomerados globulares conhecidos, aglomerados de estrelas
reunidos em uma região esférica, estavam de um lado do céu noturno, mas não do outro.
Isso indicava que o Sol não estava no centro da galáxia, mas posicionado em uma região
intermediária entre o centro e a periferia da Via Láctea (Comins; Kaufmann III, 2010).
A Via Láctea é uma galáxia espiral, em que a maioria das estrelas estão
concentradas em braços espirais. O conjunto dos braços forma um disco com diâmetro
cerca de 100 000 anos-luz. O próprio disco situa-se dentro do halo, uma região esférica
de estrelas esparsas com diâmetro de 300 000 anos-luz. Em seu centro, encontra-se o
núcleo galáctico, com um buraco negro de massa equivalente a milhões de massas
solares. Em torno do núcleo, há um bojo galáctico, com estrelas velhas, em forma de
barra. O Sol encontra-se mais ou menos a 30.000 anos-luz do núcleo galáctico, e o
orbita uma vez a cada 250 milhões de anos. Com isso, pode-se deduzir que a massa da
Via Láctea é, no mínimo, equivalente a 100 bilhões de vezes a massa solar.
Extrapolando, a Via Láctea tem, no mínimo, 100 bilhões de estrelas (Schneider, 2006).

Figura 1 – A Via láctea no céu noturno distante de cidades

Crédito: Eduardo Ramos/Shutterstock.

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TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS DAS GALÁXIAS

As galáxias são muito diferentes entre si, mas também compartilham muitas
características, como suas formas, que podem ser categorizadas como elípticas ou
espirais. As galáxias que fogem dessa classificação são chamadas de irregulares.

2.1 Galáxias espirais

Quando vistas de frente, as galáxias espirais exibem um claro padrão espiral de


seus braços, além de um núcleo, do halo galáctico. A Via Láctea e Andrômeda são
galáxias espirais. Diferenciam-se entre si principalmente pelo tamanho de seus braços e
pela forma de seus núcleos. Algumas não possuem braços evidentes, sendo chamadas de
galáxias lenticulares. O conjunto das galáxias espirais e lenticulares constitui as
chamadas galáxias discoidais. Mais da metade das galáxias discoidais têm um núcleo
barrado (em forma de barra) (Schneider, 2006).
Nos braços encontram-se estrelas, nebulosas e aglomerados abertos de estrelas.
No halo galáctico, aglomerados globulares. As galáxias espirais podem ter diâmetros
entre 20.000 anos-luz e mais de 100.000 anos-luz, e massas entre 10 bilhões e 10
trilhões de massas solares. A Via Láctea e Andrômeda são espirais grandes e maciços
(Schneider, 2006).

Figura 2 – Concepção artística de uma galáxia espiral

Crédito: Cherezoff/Shutterstock.

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2.2 Galáxias elípticas e irregulares

São galáxias que apresentam uma forma praticamente esférica ou levemente


elipsoidal. Possuem poucas estrelas jovens, assim como pouco gás e pouca poeira. Seus
tamanhos são muito variados: podem ser galáxias anãs ou supergigantes. As maiores
têm diâmetros que podem passar dos milhões de anos-luz, enquanto as menores
possuem diâmetros na ordem de poucos milhares de anos-luz. As gigantescas podem ter
massas que podem passar dos 10 trilhões de massas solares. As anãs, por outro lado, são
as galáxias mais comuns do universo (Schneider, 2006).

Figura 3 – Galáxia elíptica

Crédito: Blue bee/Shutterstock.

As galáxias irregulares não têm simetrias de forma ou de giro, como as elípticas


ou as espirais, embora se pareçam com as espirais ao se analisar o número de estrelas
jovens. As galáxias-satélite da Via Láctea, a Pequena e a Grande Nuvem de Magalhães
são galáxias irregulares (Schneider, 2006).

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Figura 4 – Pequena nuvem de Magalhães, galáxia irregular satélite da via láctea

Crédito: Nasa images/Shutterstock.

TEMA 3 – AGLOMERADOS DE GALÁXIAS

Ao se observar fotografias do céu profundo, pode-se notar que as galáxias


tendem a formar aglomerados. Jan Hendrik Oort (1900-1992) explorou todo o céu
noturno e percebeu que as galáxias estão realmente em aglomerados. A Via Láctea e
Andrômeda fazem parte do mesmo aglomerado de galáxias, juntamente com as Nuvens
de Magalhães e a Galáxia Triângulo para formar o Grupo Local, que tem ao todo 54
galáxias. A Via Láctea e Andrômeda são os maiores representantes do Grupo Local.
Grandes aglomerados, como o de Virgem, pode conter até 2.500 galáxias e se estender
por até 20 milhões de anos-luz de extensão. A grande maioria das galáxias do
Aglomerado de Virgem são espirais, embora três galáxias elípticas chamem a atenção
pelos seus tamanhos. No centro da galáxia Messier 87 (M87), há um buraco negro
supermaciço, com aproximadamente um bilhão de massas solares, que recentemente
teve seu disco de acreção fotografado (Schneider, 2006).
O Aglomerado de Virgem é tão extenso que somente a gravidade entre suas
galáxias não explica a sua coesão. Daí a necessidade de se supor a existência de matéria
escura para explicar a aglutinação galáctica. Sua massa

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atrai gravitacionalmente o Grupo Local a uma velocidade de 750 km/s, que se situa a 60
milhões de anos-luz do aglomerado (Schneider, 2006).
Ao se descobrir os aglomerados de galáxias, supôs-se que poderiam se agrupar
em aglomerados de aglomerados de galáxias, conhecidas como superaglomerados,
como apontado em 1953 por Gerard de Vaucouleurs (1918- 1995). O Cúmulo Local,
que abrange nosso Grupo Local, o Aglomerado de Virgem e outros aglomerados de
galáxias, tem uma extensão de 100 milhões de anos-luz e uma massa de 1000 trilhões
de massas solares. Entre os aglomerados, existem nuvens de hidrogênio. Os
superaglomerados são conectados uns aos outros por filamentos de galáxias, como o
Great Wall, que conecta nosso superaglomerado a outro e se estende por 500 milhões de
anos- luz, embora tenha uma espessura de apenas 15 milhões de anos-luz. Entre os
filamentos, não há galáxias, e se aumentarmos o campo visual para enxergar muitos
superaglomerados e filamentos ao mesmo tempo, percebemos que a estrutura do
universo como um todo lembra uma esponja, com regiões cheias e vazias (Schneider,
2006).
Figura 5 – Aglomerado de galáxias de Virgem

Crédito: Giovanni Benintende/Shutterstock.

TEMA 4 – FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DAS GALÁXIAS

Por que existem galáxias com diferentes formas? Por que as galáxias elípticas
praticamente contêm apenas estrelas velhas? Pensar como as galáxias são formadas e
evoluem ajuda a entender essas diferenças.

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Ainda não existe uma teoria bem consolidada que explique o que é observado.
Há duas hipóteses predominantes: o modelo monolítico de formação das galáxias e o
modelo hierárquico. O modelo monolítico prevê que as galáxias se formam e evoluam
de forma isolada, sem interação com outras galáxias. Nesse modelo, a forma das
galáxias é determinada pela velocidade de formação das estrelas e pela velocidade de
rotação das próprias galáxias. Em nuvens intergalácticas que possuíam baixa rotação e
alta atividade de formação de estrelas, praticamente todas as estrelas nasceriam ao
mesmo tempo, enquanto a baixa rotação não permite o achatamento da massa de gás.
Isso resultaria em galáxias elípticas que contêm apenas estrelas idosas. Se a nuvem
possuir grande rotação e baixa taxa de formação de estrelas, a nuvem intergaláctica se
condensaria em uma massa discoide, e as estrelas não se formariam ao mesmo tempo,
sendo possível observar estrelas jovens e velhas na mesma galáxia (Schneider, 2006).
Já o modelo hierárquico prevê a colisão entre galáxias, sendo esse fator
fundamental para a evolução de uma galáxia. No início, toda galáxia seria pequena e
discoidal, e evoluiria para sistemas espirais se não colidissem com outras galáxias, com
uma taxa constante de formação de estrelas não muito rápida, o que acarretaria estrelas
jovens e velhas coexistindo lado a lado. Já as galáxias elípticas seriam o resultado das
colisões e fusões sucessivas entre galáxias, o que impediria uma galáxia de manter seu
formato discoidal e aceleraria a taxa de formação de estrelas, resultando apenas em
estrelas velhas. Observa-se que as galáxias elípticas predominam em densos
aglomerados de galáxias, nos quais uma colisão entre galáxias é mais plausível do que
em aglomerados menos densos, favorecendo o modelo hierárquico. Porém, ainda é
necessário mais dados e informações para se elaborar uma teoria concisa sobre a
formação e a evolução das galáxias (Schneider, 2006).

TEMA 5 – A LEI DE HUBBLE

Ao analisar o espectro de emissão da Galáxia de Andrômeda, Vesto Melvin


Slipher (1875-1969) descobriu que as linhas espectrais da galáxia estavam deslocadas
em direção ao azul se comparadas às mesmas linhas observadas em laboratório. O
deslocamento das linhas espectrais em direção ao azul (blueshift) ou ao vermelho
(redshift) indica a velocidade de aproximação ou de afastamento de um corpo celeste
em relação à Terra. No caso, as linhas

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espectrais de Andrômeda indicavam que a galáxia se aproximava da Terra a 300 km/s
(Schneider, 2006).
Edwin Hubble, a partir de várias fotografias do céu profundo, descobriu que,
quanto mais distante uma galáxia em relação à Terra, maior será seu redshift, e que
quase todas as galáxias apresentavam tal efeito, com poucas exceções, como
Andrômeda. Isso indicava que, quanto mais distante uma galáxia estiver em relação à
Terra, maior será a sua velocidade de afastamento. Colocando em um gráfico de
distância contra a velocidade de afastamento, Hubble percebeu que os dados se
encaixavam ao longo de uma função linear crescente, e que a velocidade de afastamento
das galáxias era diretamente proporcional à distância que se encontram da Terra. Essa
relação ficou conhecida como a Lei de Hubble (Schneider, 2006).
Na Figura 6, todas as galáxias mais distantes são avermelhadas, indicando que
estão se afastando da terra e uma das outras.

Figura 6 – Visão de espaço profundo do telescópio espacial Hubble

Crédito: Nasa Images/Shutterstock.

NA PRÁTICA

Para uma melhor visualização dos diferentes tipos de galáxias, consulte a


galeria de fotografias de galáxias da Nasa
(<https://www.nasa.gov/subject/6894/galaxies>). No acervo da Agência Espacial
Americana, há diferentes categorias de galáxias: galáxias espirais, galáxias

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elípticas e galáxias irregulares. Para relembrar a forma espacial das galáxias, tem-se
suas principais características:

 Galáxias espirais: formato de disco, com braços espiralados partindo do núcleo;


 Galáxias elípticas: formato próximo do esférico ou elíptico (próximo do
ovalado);
 Galáxias irregulares: são galáxias que não se enquadram em espirais ou
elípticas.

Utilizando três folhas de papel e lápis de diferentes cores, tente desenhar cada
tipo de galáxia em cada folha. O objetivo dessa atividade é reconhecer a
tridimensionalidade das galáxias, ao tentar representá-las em uma folha plana. Desenhe
as galáxias com o maior número de detalhes possível: diferentes cores dos braços e dos
núcleos, núcleos esféricos ou barrados, estrelas azuis, brancas e vermelhas, nuvens de
gás brilhantes.
Tenha em mente que nas regiões das galáxias que parecem “enevoadas” ou
“poeirentas” existem bilhões e bilhões de estrelas, com variados tipos. No desenho da
galáxia espiral, que pode ser uma representação da Via Láctea, tente mostrar a posição
relativa do Sol da galáxia, deixando claro que nossa estrela não está no núcleo galáctico,
mas nas proximidades da periferia galáctica. Pense das forças de coesão das galáxias e
nas forças de coesão do sistema solar: são forças de diferentes naturezas ou apresentam
a mesma origem?

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FINALIZANDO

Tipos de
galáxias

Espirais Irregulares Elípticas

Aglomerados
de galáxias

Galáxias
afastastam-se uma das outras

Lei de Hubble

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REFERÊNCIAS
COMINS, N. F.; KAUFMANN III, W. J. Descobrindo o universo. 8. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2010.

KEPLER, S. O.; SARAIVA M. F. O. Astronomia e astrofísica. Porto Alegre:


UFRGS, 2014.

SCHNEIDER, P. Extragalactic Astronomy and Cosmology: An Introduction.


Berlin: Springer, 2006.

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