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wey NATUREZA E CULTURA Nos Ultimos séculos, na cultura ocidental, as concepcdes de humanidade e natureza foram tratadas como partes opostas e divergentes. Contudo, diversas sociedades integram esses dois conceitos ou os definem de maneiras diferentes. Para muitos dos povos indigenas do Brasil atual, a divisdo entre natureza e humanidade é inconcebivel. Ailton Krenak, do grupo indigena Krenak, que habita principalmente a bacia do rio Doce, em Minas Gerais, apresentou-se 4 Assembleia Nacional Constituinte do Brasil, em 4 de setembro de 1987. Enquanto discursava em defesa do reconhecimento das mais de trezentas etnias indi- genas existentes no Brasil, vestindo terno e gravata, pintou seu rosto com tinta de jenipapo, co- mumente usada por varios povos indigenas. Ele pode ser considerado um intérprete ou mesmo um tradutor entre as diversas culturas entao em confronto. A principal terra ind’gena dos Krenak foi afetada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos de uma grande mineradora, no distri- KRENAK, Ailton apud MASSUELA, Amanda; to de Bento Rodrigues, em Mariana [MG], em novembro de 2015. A | weis, Bruno. Otradutor i la minera¢ao contaminou 0 rio Doce em toda a | do pensamento magico. eile ean eae i Revista CULT, & nov. 2019. sua extensdo. Um desastre ambiental, mas também humano, que Disponivel em: httpsif destruiu o modo de vida da populacao local. ronan Em 2019, Ailton Krenak publicou o livro Ideias para adiar o fim do | Remelatton krenale mundo. Em uma entrevista sobre essa obra, declarou: “Quando os | 10 jun. 2020. indios falam que a Terra é nossa mae, dizer: ‘Eles 80 tao poéticos, que imagem mais bonita’. Issondo | sua EXPERIENCIA PESSOAL 6 poesia, é a nossa vida. Estamos colados no corpo da Terra. Somos terminal nervoso dela. ands al- ‘* Vocé considera que a humanidade i ica ou arranha a Terra, desorgani- std inserida na natureza? De que guém fura, machu maneira? za o nosso mundo”. rl viygitanzauy LVIl valliova A NATUREZA, UMA CRIAGAO HUMANA je € natureza? Como ela surge e como se transforma? AS a Slionamentos variaram segundo 0 tempo, o espago € a socie mm corn de Brasil inserido na cultura ocidental, as respostas em geral se relacion aig clio {mises propostas pelo pensamento cientifico nos dltimos séculos. Ou Sel ieee samente, a definicdo corrente do que é natureza depende dos questionam {Sepeito do que faria o ser humano diferente dos demais seres: suas possi nies © seus limites para conhecer e agir, seus direitos e suas caracteristicas inere i, A partir do século XVI, sucessivos debates no Ocidente buscaram peeps uestdo de como o ser humano pode conhecer a verdade. Atribui-se 20 filésofo es imo Immanuel Kant (1724-1804) uma resposta que superou divis6es: 0 $e | {2 Duletto do conhecimento; conhecemos as coisas (os objetos do conhecimentol da maneira como as conhecemos porque nossa razd0 é dotada de determinadas capacidades, As coisas existe em si, mas 6 podemos ter seguranca do que Co- nhecemos a respeito delas por meio de faculdades de nossa razao. Nao é possivel Conhecé-las por inteiro, e sim na medida em que nosso conhecimento permite. Essa ideia teve importantes consequéncias para a Filosofia e para as Ciéncias. Se, por umm lado, estabelece um limite para o conhecimento que o ser humano pode alcangar, por outro, ressalta uma diferenciago do ser humano em relaco aos de- mais seres: a posse dé Uma racionalidade que permite alcancar conhecimentos verdadeiros. O humano nao esté excluido da natureza, porém é préprio dele poder formar seu cardter e se aprimorar em termos morais e do conhecimento Assim, outra consequéncia dese debate foi, nos séculos XIX e XX, a crenca no Primado do ser humano sobre os demais. As ciéncias, com o auxilio da tecnologia, afirmaram-se como meios de intervencdo no ambiente para o progresso e a verda- de necessérios, em direcdo a um ideal. A natureza, portanto, passou a ser vista no mundo ocidental como um conjunto de Seres 8 disposic30 do ser humano para ser moldado e dorninado por ele em beneficio préprio. Varnos entender, primeiro, como 0 pensaménto ocidental formutou a detinicSo de natureza até chegar a esse ponto. Em seguida, estudaremos como nas tltimas décadas essa concep¢ao foi desatiada. spostas 2 eS" jade. Hoje, N° bilidades Hotxud Diregdo de Leticia Sabatella e Gringo Cardia. Brasil, 2012. Duraco: 70 min. Neste documentario sobre 0 cotidiano de uma aldeia do povo Krahé, sobressai 2 figura do hotxud, que tema importante fungdo de fazer 0 povo ri. FICA A DICA 0 periodo em que os direitos universais de cidadania e os regimes politicos constitucionais foram reivindicados e criados coincide com ‘© de uma separagio maior entre as esferas do humano e do nao humano no Ocidente. Segundo o antropélogo € fil6sofo Bruno Latour (1947-1, 0s filésofos da ‘modernidade ocidental Propuseram a separacao entre o sujeito de direito © 0 objeto da ciéncia ja @ partir do século XVII ~ ainda que na reatidade ambos seguissem relacionados. Amarcha 2 intelecto, gravura 0 ingt 1829, Abra am MITO, RELIGIAO E MUNDO FISICO pa siouls vi que a ideia de natureza passou fe een en ue hoje & hegeménica no Ociden ConstiunnteCeU ap6s séculs em que a céncia fo se ore MO explicagdo racional para os fendme- Rites hints © humanos. Mas a ideia de natureza, com S i lamentos, jd existia desde antes para se relerir ao ‘0, que existe independentemente dos seres 105 © pode ser por eles observado e modificado. i Antes do racionalismo cientiico, todas as saciedades / } ‘qualquer tipo de conhecinento sisternatizado que eaplique a origern, a organizasio, a transformacio ea composig30 do Universo ‘ks cosmolagias podem ser mitlégicas. religiosas ou cientiticas degrance] aquile que nao pode ser contestado em um conjunto de ideias, especialmente nas essa} doutrinas religiosas. Acima,o dt Farnese, éplica romana do sécloli ga esata greg femeque ott Alas &representado Segurandoo mundo celeste nas Costas, ho lado, dan par debastbes {ue smbolizaopertencimento Sirmandade de Osug,c séculos AviIxX Forom fet em marfim para um deta de Obatal, oid {riador dahumanidadenaradgio iorva, Nas mitloias e nas relies, devseseenidades sabrenauras foram si considerados os reais criadrese mantenedores do erdem do Universo OS GREGOS ANTIGOS E A CIENCIA Uma corrente da histéria da ciéncia identifica a origem do pensamento cien®) tifico entre 0s filésofos gregos da Antiguidade classica Tséculos VI a.C.-IV aC.) Os chamados filéso! iréesocriticos tentaram teorizar a criagao e a order de Universo sem recorrer aos mitos de seu tempo. Eles se distanciaram do so- ‘ara buscar explicacdes racionais: buscavam a physis. o principio de dloaomroet fas coisas do mundo. Physis dé origem a fislea, e tem como correspondente no mundo romano a palavra natura, sado fisico e a compreensdo do Universo por meio da Matemé: d do Como esses pensadores buscavam explicagées para i alae aoe gu seja. elas eram passives de discussao e reavaliacdo a -svesor da importancia desses fildsolos para ahistéria do pen- Vale dizer que, apes parte da populacio das cidades gregas & época seguia samento humano, a Me om base na cosmologia mitico-religiosa. Isso tam- compreendendo ¢ Tmerrrxiga_ onde pensadores deram novos desenvolvimentos bémn ocorreu na Rove Ayia Natural, Tampouco se deve crer que todos esses as investigases &@ pois muitos deles propuseram outras maneiras a religid0, Wesofos renegar pal das dvndades ro mundo humanas procuraram, explicar o mundo fisi um ponto de vista Daeato por coaperiree enlidades invisiveis, ou w- siveis apenas para inicia- dos, e dotadas de poder. AS explicagées miticas ou mitico-retigiosas re: correm a divindades ou seres sobrenaturais para =; explicar 0 surgimento do mundo e seus Tendme- nos, bem como os desti nos da humanidade, Gru- pos de lugares e tempos 180 diversos como os ba- bilénios da Antiguidade ou 0s indigenas Guarani res- ponderam a essas pergun- tas segundo cosmologias proprias. Também as reli- gides de conversao, como a crista e a islamica, criaram suas explicacdes. OBSERVE QUE. Otermo “pré-socrético” foi cunhado por historiadores que consideram Sécrates (c,470.a.6.-399 aC) um marco paraa Filosofia, Nem todos 0s pré- -socréticos vieram antes dele: a classifcasio ‘apenas agrupa os pensadores gregos que privlegiaram o estudo da physis, Sécrates, por sua vez, deu maior importéncia & relexdo sobre 0 homem, no que diz respeito tanto a vida em sociedade como a sua capacidade de conhecimento a ViygitalzZauy VVIII Valllova IvI a a “se isico espalharar™ 5 As expicagses dos ftésofos greco-romanos sobre omnunde 310 FT tanto, for Pam EetOTHO do mar Mediterraneo durante a Antguidade ld55iC0. ENT og, Imper R POUED esquecidas na maior parte da Europa ocilental APTS yyitos doe ee O2N0 do Ocidente,no sécue V, eo fotateciento J ire rt at30 9 lextos antig ere no OC 3 ant9s 56 voltaram a ser estudados e discutidos NO vetados de Partir do sécuto Xi pares se |. quando foram redescobertos em At * © bizantinos nas Cruzadas e na Reconquista Ibéric®. ugitons BU on ~ intervalo, houve pouca produgao filosética desvinculada oe bre uma fon pine Com 0 triunfo do cristianismo na regio, a5 Cialis No livro Gé- esis, do ane © Fegida por um Deus Unico passaram a ser ace! fi rrativa dB criagdo do Ue StameNto cristio lou Tord, para os judeus. Ma U nverso, da Terra, dos seres vivos e dos humanos. territdrios condu! No prinetpio, Deus criou o céue a terra. A tetra, porém, estava intone Sobre oes tteVAS Cobriam o Abismo, mas o espitito de Deus pairava P © as aguas. Deus disse: “Haja luz”. E houve luz. [.-] For fim, Deus disse: "Ragamos o Homem a nossa imagem, como nossa Semelhanga, Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, re Os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os tépteis que Tastejam sobre a terra” F Deus criou o Homem a sua imagem: a imagem de Deus Ele criou; homem e mulher Ele os criou Deus 0s abengoou dizendo: "Sede fecundos e multipli- Cai-vos, enchei a terra e sub- metei-a; dominai sobre os Peixes do mar, as aves do céu todos os animais que raste- jam sobre a terra”. BIBLIA. Génese, Séo Paul 1, 2; 21-22, 7: Loyola, [s.d). Como a humanidade faz parte da criaco divina, no caberia aos se- res humanos explicar a origem da criagao, e sim aceitd-la. Ao mesmo tempo, o homem estaria no papel de dominador dos demais seres da Terra - incluindo a mulher. 0 arce- bispo irlandés James Ussher (1581- 1656), apés estudar os textos sagra- dos do cristianismo e outros relatos histéricos, calculou que a criago do mundoteria SeoriseneomuOus C. Essa cronologia oi aceita pelatgreja catélica até 0 inicio do século XIX. A concep¢ao criacionista predominou durante séculos no mundo cristao, sendo contestada somente a partir da Revolugao Cientifica. ‘Acriagio: Deus introdut Adio e Ev, iuminura de Jean Fouquet [c. 1420-1480) presente ‘em edigio dec, 1470 de Antiguidades jatoicas, de FlvioJoseto (37.100) viyita A REVOLUCAO CIENTIFICA meen Ginnie do século XVII é considerada umn marc ee nes campo das religides ¢ também da distingdo entre nature Faroe feats sPecialstas conseram que a dicotova ser humana versus na fireza i estava presente na concep; judaico-rist do Homer crado dw tambo. hed de Deus, capaz de dominar 05 outros seres, animados ou Ina Tires: Apesar de suas discordincias em relagdo as explicagde'teoldqica. fe }0u por fornecer uma nova justificativa para welts {2 Revolugto Cientitica, no havia distingdo entre a Filosolia @ tens ca tcena be a5 entendemos hoje. 05 estudiosos que hoje se aprost Freee rytos Centistas se dedicavam & Filosofia Natural, egada pela sociedad ar praeeae 22 Atigudade,Prncipalmente no perodo do Renasclmento, aoe Presente visto do homem como um potimaa ou sj, capa dese dedi sane (ancés René Descartes (1596-1650), por exempl, dedicou-se a temas séticos como o conhecimenta a metafsica, mas também a estudos em Flsica aie Gera analitica e outras dreas, 0 inglés Francis Bacon (1561-1624), SOBSERVE ee igualmente importante para a teoria do conhecimenta,votou-se d politica ¢ a0 lireito. Apesar de terem concepcdes distintas da capacidade de conhecer, ambo' propuseram ideias decisivas para a afirmacao do homem como sujeito capaz de descobrir as verdades do mundo por meio do pensamento racional, Por meio da divida metédica, Descartes propds que o homem questione todas as suas certezas para entao buscar aferir, uma a uma, se elas sio verdadeiras ou nao. Por sua vez, Bacon defendia a observacao sistemidtica dos fatos empiricos para a construgao de um conhecimento que permitisse o avango do poder do homer. GALILEU GALILEI E A CONSTRUGAO DO SABER CIENTIFICO 0 dominio da lgreja impés restrigSes ao trabalho de pensadores que tentaram Hayt (WBID N06) acter dominio do home eee Une 6 dile 6 o século Kh, esse paradigina de fato se aos homens As mule eratas inferiores designios do home explicar fendmenos naturais por outras épticas que ndo as da Teologia. Uma de suas vitimas fol o flésofo e matemstico italiano Giordano Bruno (1548-1600), que a} também era frade dominicano. Bruno defendia que a Terra estavaemmovimento | #9 ou pratica que contrarian um ponto @ que 0 Universo nao tinha um centro. Essa ideia foi repudiada pela Igreja catéli- ca, e 0 pensador foi julgado por heresia e condenado & morte na fogueira, central Mais célebre foi 0 caso de Galileu Galilei {1554-1642}, matematico, astréno- ns ma, fisico e fil6sofo italiano, Galileu demonstrou, por meio de experimentagao e observacdo empirica, a teorla heliocéntrica do polonés colau Copérnico (1473-1543), segundo a qual 0 Sol era 0 centro do Universo, ¢ a Terra girava em torno dele. Assim como Copérnico, Galileu rom- pia com o pensamento 9 céntrico. A teologia cristd es- tava ancorada na ideia de uma Terra imével, centro fixo da criagdo divina, com 0 Homem como eixo do Universo ~ oe \daptacao crista da teoria jo: ep tres. anigns Arist fos (384 a.C.-322 a.C.] e Ptolo- meu (90-168). doutrina viyianzauy vv a novcamich dea trtico leve duas edigdes da obra Da revolucio das esteras celestes, 0 que To XV ane,2 Curiosidade sobre seus escritos nos meios intelectuais do sécu- © XVI, antes de serem proibidos, O reformador religioso Mart quem a Biblia era a tinica fonte di que: UTERO, Martinho apud ROSA, Carlos Augusto Ino Lutero, para | de Proenga, Histdria da fa verdade, chegou a dizer que: [..]0 louco vai _| eiéncia: Ba Antiguidade 20 Line (082 2 Ciéncia da Astronomia de cabesa para baixo, mas como declara 0 | Rensseimenta Centico. Livro sagrado, foi o Sat e ni a Terra que Josué mandou parar Mieeasaa apatite Galileu Galilei foi pioneiro do método matemiatico-experimental, que serviu de | v.1.p.-427, ° base & ciéncia atuat e the permitiu fazer importantes descobertas. Uma delas, a {ei da queda livre dos corpos, confere a Galiteu o posto de um dos precursores da teoria da gravidade. Mas seu interesse particular era a Astronomia, Apés criar seu Proprio telescépio, comprovou a teoria de Copérnico de que a Terra estd em movi ‘mento ao redor do Sol Ateoria heliocéntrica ganhou aceitagao algumas décadas depois e deu nova di Teeao a ciéncia, Em seu tempo, porém, Galileu foi denunciado como herege. Entre 1615 ¢ 1616, recebeu ordens de ndo desenvolver ideias heréticas e teve seus livros condenados. No entanto, Galileu continuou suas pesquisas, publicando em 1623 O ensaiador, no qual afirmou que “se opor & Geometria é negar abertamente a ver- dade". Em 1633, foi obrigado a negar publicamente suas conviccées para escapar da fogueira, passando, entdo, a viver recluso, mas dedicado a seus estudos. Galileu dante dos membros do Santo Ofcio ‘no Vaticano em 1633, de Joseph-Nicolas Robert-Fleury [1797-1890 1847 {éleo sobre tela, de 1965 cm x 308 cm). A Pintura académica francesa do século XIX ‘endeu tributo aos pensadores perseguidos or seus posicionamentos séculos antes no eseneva, NESTE Uva, AR E REFLETIR Com a orientago do professor, formem grupos para pesquisar a teoria do heliocentrismo. 1 Levantem informagées em livros e na internet Qual é sua validade hoje? sobre essa teoria com base no roteiro a seguir. Que noticias, artigos ou matérias interessantes Pecam indicagdes ao professor para encontrar hd sobre o tema e sua discussio hoje? as fontes de consulta mais confidveis. : 2 Depois de ler as fontes e anotar os dados, elabo- ou? 5 J | Quando surgiu e quem a criou' rem um resumo das informagées solicitadas. 1 O que prope? = Por que diferia da teoria do geocentrismo? 3 Redijam um texto expondo o resultado da pesquisa 1m Que estudos e evidéncias apresentava lincluir e retnam imagens e citacdes dos textos consulta- imegeral? dos. Apresentem 0 trabalho oralmente aos cole- 1 Que textos foram escritos petos cientistas da gas de turma e, depois, disponibilizem-no on-line P 2m uma plataforma escolhida conjuntamente, época? " a 7 VIYILAaNZauy CUTT! VallluvaIici & Avida de oatiten © BRECHT, Bertolt Sao Paulo, Abril Cull 1997 ce coontst do tosoto gy navidad 3 Pres escrta eo 197 por tert vec ns = sey FOCO Ciéncia e religiosidade Em um primeira othar, a perspectiva mate! Fece desatiar diretamente a teologia crista. E célet © que ope 0 Uso da matemitica aos meios da escol I de Galileu pa- GALILE!, Gatiey 5 aiador, res] Api ROSA Caestg® de Proenga, Hating? a ciéneiamedena ty Brasilia Fund, de Gusmao, 2012.25 ental mtico-experitn ‘bre este trecho de 0 ens stica catélica livro que continua: ), que ndo se pode jcteres COM OS qUAIS eSté exer, los, circunferéncias e outras ¢2. nte as palavras; sem eles nés;,. A filosofta (natural) encontra-se esctita neste grande | mente se abre perante nossos olhos (isto & 0 Universo), due ™ Gompreender antes de entender a lingua e conhecer 0s carat estd escrito em lingua matematica, os caracteres sdo trngulo ‘geométricas, sem cujos meios é impossivel entender humanam« ‘mos perdidos dentro de um obscuro labirinto. Entretanto, Galileu era catélico e mantinha: relaces de amizade com membros: do clero, incluindo 0 papal no Vl, até pouco antes de seu julgamento pelo Tribunal do Santo Oficio em 1633. Também Descartes, que jr: curndar de todas as certezas para ent buscar comprové-las, era catélico ~ para ele, a materialidade doUne. {o1 construida por Deus como uma maquina perieita, dai ele poder ser analisado segundo leis matematicas Ou seja, apesar das posicdes ofiiais adotadas pelas insttuigdes religiosas, hd uma tendéncia na histériadscé cia em distanciar @ conhecimento cientifico das escolhas religiosas individuais dos cientistas. Tendo isso en v= ‘ects vao promover em sala de aula uma mesa-redonda sobre o tema Compatiblidade entre cinciaerelgz 1 Organizemse em grupos para uma discussio prévia a respeito do tema. Cada grupo vai estabe'v representante para o debate, 2 Antes da discussao interna a0 grupo e da elaborago dos a de informagdes sobre o tema, considerando tanto import da atualidade. 3 Apés a discussie, orepresentante deverdelaborar, com ajuda dos cole a . gas, uma exposicao curta dF sigo do grupo a ser apresentada na mesa-redonda, respeitand et importante considerar 0s seguintes pontos. ©0 tempo estabelecido peop rgumentos para o debate, facam um levantsre? ‘antes cientistas do passado quanto pesquis @) 0s pardmetros metodotégicos e éticos apresentad vanes . ‘ Natural em cada tempo, S805 Pela ciéncia ou pela investigagso em Fi” 1a mesa-; tado res vanovanmer viyitanzauy vv © SABER CIENTIFICO E O CONCEITO DE NATUREZA ‘A Revolugdo Cientitica mudou a maneira com que 0s pensadores ocidentars Udavam com 0 conhecimento ¢ concebiam 0 mundo. A disseminagao dos expe: Fimentos empiricos como método para a construcde da conhecimento Levou a uma especializagio maior dos saberes, As cigncias comegaram a se separar da filosotia e a se distinguir umas das outras. A descrigio e a explicacao racional da patureza passaram a ser a meta de todas as ciéncias. Buscava-se a objetvidade, {sto €, a observacio de leis de funcionamento do mundo natural que fossem ri- gorosas, comprovaveis e sem contradigao, Aessa especificidade da histéria ocidental,o socislogo Max Weber {1864-19201 deu [ prERUCCr,Anténo Five. 0 ‘nome “desencantamento do mundo”. Nas palavras do socislogo brasileiro Anténio. | desencantamento do mundo Flavio Prerucci (1945-20121, diante do mundo, © homem ocidental buscou “desdivi- | todos 0 passos do conceito 'iza-lo para domind-to. Naturalizi-lo para poder melhor ebjetivd-lo, mais que isto, | ¢mMO tener Sto niles objetificd-to. Quebrar-the o encanto era indispensavel para poder transforma-l0” eee it O resultado da expansio do conhecimento cienti- fico foi o desenvolvimento técnico e tecnolégico em Fitmo inédito, o que parecia comprovar a possibilida- dde do dominio do homem sabre os demais seres. O triunfo do antropocentrismo, ao fim do século XIX, andou de maos dadas com a expansio do capita~ lismo, e 2 exploracao dos recursos naturais des- considerou que eles poderiam nio ser inesqotive's. Na mesma época, aS Cigncias Humanas nasceram ‘como uma tentativa de encontrar, para o mundo da sociedade ou da cultura, regras de funcionamento como as das Ciéncias da Natureza, Para isso, par- tiam dos pressupostos da cultura acidental. Duas importantes problematizacies emergiram a partir do fim da década de 1960. Uma delas foi ‘2 questéo ambiental, que contestou a exploracdo do meio lisico pelos seres humanos. 0 movimento ambientalista considera a natureza, incluindo a humanidade, um conjunto organico. Portanto, seria ilusério acreditar que a explora¢ao e a tentativa de controle sobre os homem sudanés, ¢. 1890, ‘meios naturais ndo teriam consequéncias negativas também para a humanidade. rv ura aap No campo das Ciéncias Humanas, com base no estudo de culturas nao oci- a dentais, historiadores e antropélogos passaram a questionar o préprio conceito Dimperiatismo de natureza, apontando-0 como algo social mente construido, que varia na hist6- ‘eapitalista no século XIX ria e conforme a cultura. Logo, a vise ocidental de uma natureza exterior a0 ser Soules waite humano e desencantada nao era universal. fare bepsrten 0 desenvolvimento da antropologia da ciéncia levou a novos questionamentos a tinham visdes de mundo respeito da separacao entre mundo social e mundo natural. Segundo Bruno Latour, | siferentes da ocidental {quando usam a ciéncia e a técnica, os ocidentais nao descobrem as leis naturais Gu mesmo os objetos de pesquisa, mas os constroem. O conhecimento baseado tho método empirico costuma ser considerado uma maneira imediata e neutra de ‘acesso a0 conhecimento universal do mundo natural, como se a natureza “falasse’, Go cientista repetisse as verdades que ouviu. O problema é que o cientista recorre a ma série de mediacées laparethos, métodos, objetos, laboratéros, etc} para chegar ‘208 resultados - portanto, é ele quem fala em lugar da natureza. Na ciéncia, natural @ social, n3o humano e humano, objeto e sujeito esto sempre juntos. Cientista manipula, em Cingapura, 2019, uma cultura de bactérias em pesquisa que busca sintetizar enzimas que transformem o plisico em similares de derivados de petréleo. Quando um cientsta isola elementos ‘em um laboratério, ele criacondigées Gnicas~ portant diferentes das ‘que costumam ser consideradas “naturais". Além disso, adetnigdo do ‘que serd pesquisado é uma acSo permeada pela poitica, f-SABERES an CIENCIAS DA NATUREZA} CONECTADOS. we E SUAS TECNOLOGIAS | O médico e boténico sueco Cart Lineu [1707-1778] criou a taxonomia moderna. Esse sistema de classi. aco ordena o mundo natural em uma hierarquia de grupos de organismos com caracteristicas compar. tithadas. Ele define os organismos em uma série de divisdes - da maior para a menor ~.a saber: reino, i, classe, ordem, familia, género e espéci.Inicialmente, hava tr8sreinos: animal, vegetal e mineral Dei para c4, novas descobertas (como a dos microrganismos] levaram a mudancas na classifica¢ao dos sere, Pela Biologia, mas essa taxonomia ainda 6 a base para os procedimentos da ciéncia. F weieenaanny de Lineu é uma nomenclatura binominal, composta do nome do género e de um designa. inelui-t SST ineu foi, portanto, inovador no apenas ao considerar os humanos animais, mas também ag de Que ond mesma ordem dos grandes simios. Apesar disso, era de familia religiosa e Nao contestou a ideia ue o ndmero de espécies na natureza era fixo, determinado por Deus no momento da cria¢ao do Universo, 1 Com um colega, faca estas atividades a respeito da classificacgo de Lineu. ©) Observem, ao lado, a classificagao taxondmica da espécie humana. Pesquisem informagées sobre HOMO SAPIEN: cada nivel de classiticagao e identifiquem que cri- ron tério de agrupamento foi usado. mi b) Lineu acreditava que as caracteristicas relativas 8 == estrutura corporal das espécies eram as mais ade- j= =e quadas para agrupar seres. Pesquisem a influén- ee Gara cia das descobertas cientificas do século XIX rela- cionadas as espécies na mudanca dos critérios de classificagao. 2 No livro 0 pensamento selvagem, de 1962, 0 antropélogo Claude Lévi-St . z -Strau : mesmo sem procedimentos de abstra¢ao idénticos aos da ciéncia Redeaiee aie renee humanas criaram classificagdes e elaboraram hipdteses sobre os seres vivos, Leis so spo Pulasoes trees eety cia um trecho e entio Ezra Durante muito tempo, as ciéncias naturais pensaram tratar com “reinos”, pendentes e soberanos, cada um dos quais definivel por caractetes prépring ay dominios inde- ou objetos que mantinham relagées privilegiadas. Essa concepgao |...] 86 poder eae? de seres der légico e o dinamismo da nogao de espécie, pois que as espécies aparece ODliterar o po- classes inertes e separadas, fechadas nos limites de seus respectivos “reings" g°2 uz. como que chamamos primitivas nao concebem que possa existir um fosso entre og diye SoC!edades Classificagéo, elas os representam como etapas ou momentos de uma transicag coreg’ MiVels de nua. Os hanunoo, do sul das Filipinas, dividem o universo em seres que podem ou na meados. Os sees nomeados distinguem-se em coisas ou entéo em pessoas e animcc™ Ser no- um hanunoo pronuncia a palavra “planta”, exclui que a coisa de que fala seja uma eat Quando rao objeto manufaturado. A classe “planta herbacea” exclui, por sua vez, uum f esPécie de intecgao 5 5 outras espécies de plantas, tal como a da “planta lenhosa” etc. Entre as plantas herbéceas, a locugao “pé de pimenta” 6 diferencial em relacdo a “pé de arroz” etc. [...] Os subanum, outra tribo das Filipinas, classificam as doengas de acordo inguir as feridas das doen- com o mesmo princfpio. Comegam por disti gas de pele, que subdividem em “inflamagao”, “ilcera” e “tinha’, sen do cada uma dessas trés formas especificada di varias oposig6es binarias: simples/multiplo, aberto/ superficial/profundo, distal/proximal, LEVE-STRAUSS, respectivament mais distante e.g {Parte mais préxima ers Pete 0 auxilio de jepois com pense aay /fechado, grave/leve, Claude. © pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 1969, 5 Escreva um texto resumindo as diferencas e as semelhangas entre a taxonom'2 deLinev © 05 clogs,” cacdes daquilo que Lévi-Strauss chama de “ciéncia do concreto”. viygitanzauy LVIll valliuova Thich © TEMPO GEOLOGICO E A IDADE DO UNIVERSO O tempo é contado de maneiras diferentes pelas diversas sociedades. Longe KOBSERVE QUE. Ser um aspecto “natural”, a temporalidade ¢ vivida de formas diferentes pe- Srupos humanos. Essa perspectiva do tempo influencia e é influenciada pela Spaanizacto das atividades sociais, que também se relaciona a0 tempo ciclico observado no mundo natural ~ por exemplo, as estagdes do ano, que $30 resul- tado do movimento dos astros e dos fatores da geografia fisica de uma regio; 05 tempos de colheita, que relacionam esses aspectos as caracteristicas das espé- cies vegetais e das técnicas de cultivo, etc. 0 tempo social dé sentido a passagem do tempo e entrelaca a experiéncia humana ao ambiente. No entanto, o pensamento cientifico exige o uso do tempo matematico, dando sen- tido préprio a ele. Assim como a constatacao do heliocentrismo por Copérnico - € ‘comprovada por Galileu Galilei - foi uma mudanca fundamental na histéria da ciéncia, a descoberta do tempo geolégico pelo gedlogo escocés James Hutton [1726-1797] foi essencial. No ensaio Teona de Terra, de 1785, concluiu que a Terra tinha uma longa histé- "ia. A partir da observacdo de rochas sedimentares, que se formam pela decomposic3o dos detritos de outras rochas, constatou que os sedimentos foram sendo depositados ‘muito lentamente e que mesmo as rochas mais antigas eram assim constituidas. A Geologia € 0 estudo da Terra, de sua origem e sua transformacao. Suas descobertas puseram em xeque concepsies religiosas que situavam a origem do Universo, e que 0 consideravam povoado pelos humanos desde muito cedo. Com a descoberta da datacao geolégica, estima-se que a Terra tenha surgido ha apro- ximadamente 4,6 bithes de anos, tendo os primeiros seres vivos, unicelulares, comecado a se desenvolver hd 3,9 bithdes de anos. Assim como a Geologia, desenvolvimentos recentes da Astronomia e da Fi- ica permitiram a elaboracao de teorias a respeito de épocas muito anteriores, a existéncia humana. A teoria cientifica sobre a origem do Universo mais aceita atualmente indica que ele surgiu ha aproximadamente 13,7 bilhdes de anos, por meio de uma explosao denominada Big Bang, e estaria se expandindo até hoje. 0 aparecimento do primeiro hominideo é muito mais recente que o da Terra. Considera-se que foi ha aproximadamente 7 milhdes de anos que a linhagem evolutiva que deu origem ao primeiro hominideo foi separada do ancestral que partilhamos com os chimpanzés. Data também daquela época a bipedia, ou seja, a possibilidade de andar ereto. No entanto, o maior desenvolvimento do cérebro e de habilidades técnicas, sociais e de linguagem s6 ocorreu em etapas poste- de ay O estudo dos fésseis on doe 105 de espécies uma comprovalo das linhas gerais da teoria da evolucdo das especies, postulada em 1859 pelo bidtogo inglés Charles Darwin (1809-18221, Outra comprovago ‘ocorreu nos anos 1950 @ 1960, quando biélogos evolucionistas previram ‘que 0 uso indiscriminado de antibisticos no tratamento das infeccdes entre seres humanos e animais, assim como uso de pesticidas resultaria na seleco ‘natural de linhagens de bactérias resistentes a esses compostos, o que realmente ocorreu. riores, de cerca de 2 milhdes de anos para ca. O Homo sapiens ~ nés, humanos wene de hoje - desenvolveu-se aproximadamente hd 200 mil anos, uma fra¢3o muito oje id pequena do tempo geolégico da Terra. = Com a perspectiva desse tempo geolégico de mithdes de anos e dos processos lmraaal eaearends de formaco dos elementos encontrados no espaco fisico, pode-se considerar, por pemuras 0 est ‘exemplo, que as reservas de petréleo tero um fim se continuarem sendo explora campreender awalugSo das no ritmo atual; ou ent3o calcular que o tempo que uma floresta demora para se das expices recompor depois de derrubada para ser transformada ‘em carvao é muito longo para garantir sua reposi¢ao. | ‘Assim, desenvolvimentos recentes da ciéncia per- mitiram a descoberta de que muitos materiais usa- dos pela sociedade humana em continua expanso foram formados em certas condigées impossiveis de | serem recriadas pelo ser humano, portanto podem se esgotar. Ao lado da constatacdo dos efeitos da texploragao econémica na degradacao dos recursos ambientais, isso fez avancar, nas ultimas décadas, a pauta do desenvolvimento de modelos de producéo que sustentem a vida noe do planeta. VIYILaAHZaUV COUIT! Udillocd!l ner” nos Mo, ashy 1 reconhecida tamnpein poser 5° ocr tat Métodos de datagiio do tempo Adm da anatise das rochas, as evulncton HE sneonrarn PREBOTVAIOS nag dios rogistros Hasers, estudados pela Pale? vrata quo 80 ray anos. 860 Geralmeny, staal 8 OI ata dO 12 ee presen ns wl or to ou ve iat joca ata, OU sovonttados vos, F0UG0 clentffico com 9 4 ss to gi ey a sitieiticada Com ease material, 08 papas prorotitOs 9 tooo Fosse 101 po i Vor a vida na Torta durante 4 iad relative das rochas em a yvolt uma base segura para apoto A teorta da ev : Ututvel para quo so possa contar a historia da Vi 6 no muso a faposp.bi do dese yo onconttados. T-' ist9, esse material é item somo pod gio, COMO ua vida na Terra u. Posquisa viugat-do-1038 ssp, jun. 2001. Disponivel em... APBSh mvs, Acoeo ene i ygat do £08: rovistapesqulsa do Almeida. ‘cima, cro fessilizado exposto no Museu Municipal Padre Daniel Cargnin, em Mata IRS; 8 direta,rocha com varios exemplares fossiizados incrustades de Mesosaurus, um pequenoréptil exposta ‘em 2019 no Museu de Geociéncias da Universidade de Sao Pasta, ‘em Sio Paulo [SP] atividade no inicio do sécut ioe aperfeigoaram por meio do célculo cientiico da idade Jac moa srarlidades de estudos gealégir Mee ete eee Barmiteestimar 9 datagao das rochas mais sate n> tataceo. A desintegrarsoe rochas mais recentes ¢a dos vestigios humanoslobjcte sa Arqueclogig) © °° 6t0P0 de carbono- ogial, ai . - ‘SO ng Pio ou sua regido e est ‘a 280 haja um nas imediacdes. f86°\.: escreva yy is ncia di breve Comentario sobre algum ¥* essa descoberta miwvall ret breve pesquisa em museus virtuais dessas reas fBssil que tenha sido encontrado no Brasil e a impor viygianzauy vull A ECOLOGIA E A HISTORIA AMBIENTAL asi aut © meio geogréfico influi no temperamento, na vida social e nas fualidades humanas de determinado povo é bem antiga. Mas 0 primeiro a es- tudar sistemat icamente a inter-relacdo dos individuos com o meio fisico for naturalista e gedgrafo prussiano Carl Ritter (1779-1859), considerado pioneiro dos fundamentos cientificos do que se chama hoje de ambientalismo. Segundo 2 perspectiva de Ritter, o meio tem grande influéncia sobre os individuos @ na construcao de suas sociedades, mas os seres humanos também so respons3- veis por alteragdes no meio natural. No século XIX, o bidlogo atemao Ernest Haeckel [1834-1919] cunhou o termo ecologia, influenciado pelo evolucionismo darwinista. Originado da Biologia, 3 Ecologia pode ser definida como 0 estudo da relacdo entre os organismos vivos € 0 ambiente em que se inserem. Essa ideia relacional entre ser e ambiente foi depois adotada, no inicio do século XX, pelos socislogos estadunidenses Robert Ezra Park (1864-1944) e Ernest Watson Burquess (1886-1966! para estudar 2 so- ciedade. A chamada Escola Sociolégica de Chicago props uma Ecologia Huma- ‘na, que entende o funcionamento social dos meios urbanos de maneira analoga a um ecossistema no mundo natural. Em 1959, o socidlogo estadunidense Otis Dudley Duncan (1921-2004) definiu os objetos concernentes 3 ecologia humana e a0 complexo ecolégico: a populacao, o meio, a tecnologia e a organizacao. Todas as correntes da Ecologia, porém, mantiveram o viés antropocéntrico de sua época, considerando o ser humano capaz de controlar as forcas da natureza, adaptar-se aos mais variados ambientes e mold-los a seu favor. Ao mesmo tempo, essas correntes foram acusadas de determinismo geografico e de simplificar 0 resultado da influéncia do meio, por exagerar as influéncias dele no cardter dos povos. A partir de meados do século XX, os estudos em Ecologia multiplicaram-se, mudando os eixos pelos quais se entendiam a natureza e a humanidade no mun- do ocidental. 0 tempo geolégico ganhou importéncia para a compreens3o da sociedade, e criaram-se outros ramos do saber, como a histéria ambiental e a ecologia historica. 0 professor de Histéria estadunidense Roderick Nash (1939-1 foi o primeiro a utilizar 0 termo histéria ambiental e propor que a paisagem fosse considerada um documento histérico. J o historiador Donald Worster {1941-) sugeriu, em trabalho publicado em 1991, colocar a natureza dentro do estudo da Histéria, mas como sujeito, ndo como objeto. Esse autor destacou trés niveis de questdes Sobre a histéria ambiental: funcionamento e organizacao da natureza em seu passado; relacdo de intervengao socioeconémica sobre a natureza, como tecno~ {ogias do trabatho, modo de produgao, etc.;e, como dltimo nivel, a percepeao hu- Travna da natureza, de sua cosmologia, crencas e mitos em uma dada sociedade, AMBIENTALISMO E ATIVISMO INDIGENA Esses novos ramos do saber foram resultado da observacao dos problemas causados pelo aumento da uiilizacéo dos recursos natursis, que, por sua vez, Comecavam a dar sinais de esgotamento. Foi a partir de meados do século XX 3 degradagao ambiental configurou-se em meio a uma crise na historia do pgndo, na qual a aco antrépica teve papel decisivo rincipalmente os de perspectiva histérica, como Os estudos em Ecole gia hstrca coinidem com o ino dos mow 2 historia a ere do melo ambiente e das conferéncias mundiais sobre crise ambiental 5 plenamente a naturez- viygitanzauy LVIl valliuova OBSERVE QUE... Ahisténa ambiental tem como objeto de estudo a forma como 0 acontecimentos histéricos modificaram e. 20 mesmo tempo, foram modificados pelo ambiente. A ecologia histénica estuda 03 fendmenos ecolégicos. como o funcicnamento dos ecossistemas eas estruturas das comunidades, sob a 6ptica dos processes de transformacao das, paisagens. « de sociedades 1m por muito adas pelos ocidenta As coumov ndo ocident tempo ignor nose socidtogos, historiadores gratos, ecdlogos, ete, For apenas Fecentemente que esses especia Uistas densaram de ter & monopdtio. da interpretagio e dilusde do pen camento ndo ocidental, abrindo-se cespago para pensadores indigenas, como Ailton Krenak (1953-] ou Davi Kopenawa (1956-). Com trajetérias de vida que os levaram a estabele- cor relagdes com a sociedade que) Manifestantes em Porto Alegre (RS) protestam, em agosto de 2019, contra as quelmadas regisradas na Amazonia. dominou © mundo de seus ances- trais, esses pensadores tém exposto como certos grupos humanos relacionam natureza e cultura, ou natureza e sociedade, de maneiras diferentes. O ativismo ambiental e indigena tem se mostrado cada vez mais necessério. Apesar do reconhecimento dos territérios dos povos indigenas e de suas tradicées culturais pela Constituicao de 1988, na prdtica eles continuam a ser violados e questionadas. Igualmente, mesmo com todas as evidéncias negativas da aco an- trépica ocidental no ambiente, os detentores do poder politico e econdmico sequen impondo entraves a uma transformagao no uso dos recursos fisicos da Terra, ho ESCREVA NESTE LVR, ANALISAR E REFLETIR '= Em grupo com mais dois colegas, vocés vo escrever um texto apresentando a vida e o pensamento de Ailton Krenak. No levantamento de informagées, além de textos de terceiros, leiam ao menos um texto Utivro, artigo, entrevistal escrito pelo préprio Krenak, Seu livro mais conhecido é Ideias para adiar o fim do mundo (Sao Paulo: Companhia das Letras, 2019], mas também é possivel encontrar gratuitamente ‘na internet outros materiais, como: | Oamanhd nao esta 8 venda. $30 Paulo: Companhia das Letras, 2020 (e-book). 1 Genocidio e resgate dos “Botocudo”. Revista Estudes Avancados, v.13, n. 8, 2009. Disponivel em: scielo.br/scielo,php?script=sci_arttext& pid=S0103-40142009000100014. wore, '® Discurso de Ailton Krenak, em 4 set. 1987, na Assembleia Constituinte, Brasilia, Brasil, Revista GIS - imagem e Som, n.4,¥. 1. isponivel em: http://wuwirevistas.usp.br/sis/articleNiew/162846 7 Oo OeS" Acesso em: 24 ago. 2020. ‘Atranscrigo do discurso, incluindo os apartes dos deputados, também pode ser encontrada Sri da Assembleia Nacional Constituinte, suplemento B, 27 jan. 1988, p. 572-580. Di isponivel em: eae mara. leg br/atvidade Legislatva/egistacae/Constituicoes_Brasileras/constituicag-cidada/o- proces so-constituinte/comissao-de-sistematizacao/COMSist23ext27011988.pdt. Acesso em; 24 aan a es jodiversidade (ICMBio) Instituto Chico Mendes de Conservagio da BI ttpsi/Auww.iembio.gov.br/portal/ nidodes de conservar8o ambiental epelog mora vstagdo, alm de dades sobre rsos, entre outros. rarques nacionais. Rene informacoes el de recur sspécies ameagac < 2 a < & 8 £ \das e uso suste! ht Site do institute responsavel pelas ur Pi e viygit Quy LVIII VallluTa A NATUREZA E AS PERSPE I CTIVAS NAO OCIDENTAIS oes 7 eee 2 Geolonis natureza/cultura no interior da sociedade |. Antropologia props maneiras de apresentar formas de ordenamento Soe ccty Scirices elaboradas por sociedades nao ocidentais. Um exem Sohinegna bona Perspectivismo amerindio, desenvolvido pelos antropdlogos ae fasileiros Eduardo Viveiros de Castro [1951+] e Tania Stolze Lima. Gadek Liens ie tone est presente, de diferentes maneiras, em socie- dades ingigenas de todo o continente americano. Ela parte do pressuposto de Seeceee ane es vivem a cultura da mesma maneira que 0s humanos. iim ee a versal a todos os seres é a cultura, é 0 ser gente: comer obserieder é tie S de casamento, etc. O que mudaria de observador para ae i ente aquilo que os ocidentais consideram universal: a natu- ‘S coisas mudam segundo a perspectiva de quem as vé. Viveiros de Castro relata que, segundo essas cosmalogias: VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo apud CARIELLO. Rafael. 0 antropéloga antropologo-contr ‘estado/. Acesso em: 18 ago. 2020. Para 0 urubu, os vermes no corpo em decomposicao so peixe assado. Para nés, sdo vermes. Nao ha uma tetceira posi¢ao, superior e fundadora das outras duas. Ao passarmos de um observador a outro, para que @ cultura permaneca a mesma, toda a natureza em volta precisa mudar. Aguela gente que se transforma em caititu, de Denilson Baniwa, 2018 _ | lacritica sobre tela, | | 60cm x 80 cm}. Segundo ‘ perspectvisme amerindio, nimais como o catitu também tém cultura. agua VIVEIROS DE CASTRO, Eduard FICA A DICA S80 Paulo: Cosac Essa visSo, diferente da ocidental-moderna, tem consequéncias préticas e Naify, 2012. coe. ee, Cintrterem na maneia de compreender e experimentar o mun- doneeecencla dos seres humanos e nao humanos nas visbes amerindias é mu do. A esstneig tt que para os ocidentais. Enquanto os ocidentais envergam os to mais mate separados da natureza, come “et aims 0 nds enxergam humanos i gmnbern os espiies como “exchumanos’ ou se, a humanidade os aiplano de fundo comum de todos os seres : Tao Piemmplos nos revelam que 2 dtinSo as definigdes de nature ¢ ses exemPIer cas nem universais, Essa questdo, presente em quase toda cultura nao s80 wr dental oi pensada de maneiras diversas em diferentes a historia foaered e segue em transformacao conforme outras vozes passam 2 tempos ser ouvidas no debate PUDLICO cochilo na rede. O pensar em como a perspectivismo. viygitanzauy Levit vaiiivoval ‘contra 0 Estado. Pai, Rio de Janeiro, n. 88, jan. 2016 Disponivel em: ites //piau: {otha uol.com be/materia/e Onde a onga bebe STIGGER, Verdnica; VILELA, Fernando. O garoto Joaci vai 20 rio beber Sgua, mas ‘acaba deparando com ‘uma onga tirando um encontro faz 0 menino fonca vé o mundo. Essa divertida histéria ajuda ‘entender o que é 11 Pvt DE E S S 1 Lela trecho a seguir, extraido do Livro | de 0 capital, obra de Karl Mars (1818-1883) publicada em 1g4) A terra (que, do ponto de vista econdmico, também inclu a gua), que 6 para 0 homer uma fon, origindria de provisées, de meios de Subsisténcia prontos, preexiste, independentemente de interferéncia, como objeto universal do trabalho humano. Todas as coisas que o trabalho apenas separa de sua conexao imediata com a totalidade da tora 840, por natureza, objetos de trabalps Proprio objeto do trabalho jé 6, por assim dizer, filtrado por um trabalho anterior, entao o chat ce matéria-prima, como, por exemplo, o minétio jé extrafdo da mina e que agora seré lavado. Tog, materia. Prima é objeto do trabalho, mas nem todo objeto do trabalho é materla-prima. O objeto de trabalho s6 ¢ matéria-prima quando jé softeu uma modificagao mediada pelo trabalho MARX, Kail O capital: critica da economia politica ~ Livro I: 0 processo de produgdo do capital 2. ed. Séo Paul: rocess9 de Produ 0 or rvempo, 2017p Eo Agora, faca o que se pede. diferenca entre eles. ©) Karl Marx viveu no século XIX, em meio & industrializagio da Europa. Sua critica da sociedade capita. Uista se baseia nos parémetros da sociedade e da época em que vivia, De que man natureza de Marx revela isso? 2 Leia 0 texto e analise a imagem a seguir. A nova Constituigao [de 1988] inovou em todos os sentidos, estabelecendo, sobretudo, que os diel tos dos indios sobre as terras que tradicionalmente ocupam sdo de natureza origindtia. Taso sige? fica que sao anteriores a formagao do préprio Estado [brasileito), existindo independentemornens qualquer reconhecimento oficial. O texto em vigor eleva também & categoria consttucional o préprio concelto de Terras Indigenas, que assim se define, no parégrafo 1° de seu artigo 231: jz : indios as por eles habitadas em cardte; “Sao terras tradicionalmente ocupadas pelos r Permanente, as ulizadas para suas atividades produtivas, as sapreea rayon a eae dos recursos am- Dientais necessérios a seu bem-estar e as necessérias @ sua reproducto fisica © cultura}, seo, seus usos, costumes e tradigées.” INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Direitos constitucionais dos indo 9s. Povos Indigenas no Brasiy ‘https://pib.socioambiental.org/pt/Constitul%C: asi IKATKCIKASO. Acesse, ome pgatre om: 20, co ado pets 22 epanueP ts poss, explorasto cog teas ining ame gl VIYNancZauy vv

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