Jos Maria Neves - Msica Contempornea Brasileira Compressed

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7 José Maria Neves L Musica contemporanea brasileira eee cenr cd | Peer eee ts aero tn ey Cee ek es) ee eo Cee ee aN an ee ne Pe eee ey Poe eee ens Pee oe Ce este eee ee as Gee ue ceo cn Rey cee eo ee terminando com os “novissimos” Cora td densidade invulgar, José Maria fala de Villa-Lobos, de Mario de Andrade eae eet Cree eR eet s de idéias que foi Hans-Joachim oe eee) eee ee Pe ee ee eee fee Sed ee eee eo eee Bore ed lena dedicagao de amigos como. Dee eee ny ee er acer iy Pree ee ae Poem e ort! Seeks Peet ee ee een et Joutorado de José Maria Neves na bonne, apresentada em 19 ee ke sae coca Peco eee Mes) Pee ene Peer ee ae Trea eae ret Prec et oe eee ee ee cg ene ei) Perel ees Ror Ge aay eet) ee) een) f eee ec Ee Pe ee ea re ee Meee an eon Sumario Apresentago 9 Bin Krieger Prefécio a primeira edisio ak Luiz Hektor Cenéa de Azevedo Introdugio & primeira edigio Advento da consciéncia nacional Os preeursores (0 Movimento Modemista 47 Maio de Andrade: modemismo ¢ nacionalismo 6 Villa-Lobos modemista 77 (0 grandes nactonallstas a NNaclonalistas de segunda e trcea geragoes 107 ‘Misia Vivo, grupo de renovacse Tendéncias a0 tonalismo 29 Koellreutter, apéstolo Misica Santoro e Guecti-Pelxe: os primeiros chegados 149 Outros composiiores WE Renasclmento do naclonaliame Nova objetividide, neoelassicism,naclonalisma e popaismo 163 Cartas abertas aos misieose eriticos do Brasll 79 Novo nacionalismo: tradigao e enagdo musical 205 Compesitores an 1V Do nacional ao universal Renasclmento regional ang Teenieacestitica 35 Grupo Misica Nova, de St0 Paulo 253 Grupo de Composites da Bahia 265 Movimento musical em Brasilia 375 Movimento musical no Rio deJaneiro 5 Compositoresisolados 295 ‘Misia eletroncéstica no Brasil 303, Conclusio 309 Referéncias bibliograficas 315, ADENDOS A SEGUNDA EDICAO [Mesiea hoje no Brasil partindo dos novissimos 335 José Maria Neves Vinteanos de Biensis 355 Euino Kreger Blografia de José Maria Neves 367 Salomea Gandetnn Indice remisso 389 Apresentacao A presente esigio deste livro representa nfo apenas um servi relevante | musicologia brasieira, mas também um tributo ao sea autor, © musi- logo José Maria Neves, vitimade por enfermidade fatal em novembro \4e 2002, quando exercia a presidéncla da Academia Brasileira de Miisica (ann). Fsgotada a sua primeira ecigfo, de 1981, com proticio de Lulz Heitor (Conta de Azevedo (1908-1992), de 1977, e introducao do proprio autor, le 1976, o pe6pto José Marla inicio a organizagio de uma nova edigio, Malizando algumas informacbes a bibliografa, e inluindo notas de forlapé, mas mantendo o texto original, por considerd-o tepresentativo tio ipo de musicologia prateada nos anos 1970, Lamentavelmente, nao ‘hegou a conclur o trabalho, im suas anotagdes, deixou uma pagina em branco com o titulo “20 nos e Blenals”, tence comunicaco pessoalmente a Salomea Gandelman veu deseo de actescentar mals um capitulo dedicado a mrisica do final da seulo XX e do inicio do nove século. [ntregue a Salomea Gandelman a tarefa de organlzar esta edic2o, foram ‘por ela realzadas corregoes textuas indispensivels, sempre levando em conta particulardades do texto original do autor, come a “ineonstincia” ‘no uso dos tempos verbais presente futuro, Foram introduzidas datas re- lacionadas a movimentos ¢ composiiores, quando necessirias, e incorpo- :ados 20 livro, além de um indice remissiv, tés novos textos: um artigo do proprio José Maria Neves intitulado "Milica hoje no Brasil: partindo| dos novissimas", de 1983; urn texto elaborado por mim, em 1995, sobre "20 anos de Bienais”, que, com 0 acréscimo de uma pequena atuallza (fo, procura atender ao desejo manifesto por Jost Masia; e uma blograha de José Maria Neves, escrita em 2003 pela propria Salomea Gandelman, ‘Assim, a presente edigdo contribal para manter vivo um lio essenclat pars musicologia brasileira, que aborda, de manelra clara, abrangente € sintética, os movimentos de renovagdo, ruptura ¢ conservagao pelos quais ppassou a producto musical brasileira do século XX, relacionando-os com fo panorama musical da Puropa das Américas, Rio de jancto, juno de 2008 Fdino Krieger «composer Prefacio 4 primeira edicao iio € cola ci, nem cémoda discutiras tendéncas da misicacontemport- ‘ie em ger, eda mdsica conternporénea no Brasl, em particular fim toda a América Latina, na segunda metade do século XX, pode- fe consiatar uma surpreendente expansio da atividade criadora de seus ‘ompositores. © Brasil, um momento hesitante e parecendo desgartado, ‘verbiou contribuindo para essa avalancha de misica nova com uma ener le que desorienta.& diffell acompanhar o que se faz, sobretudo, por um ono Anal no ensaio que tiver como objetivo apresentar tuma visio pa- ‘wotica dessa cadeia de vulcoes em permanente ebuligao, 0 risco de ser Iniompleto ¢ nerente & propria marureza de um trabalho desse género. Jone Marla Neves ousou exerevé-to, E ninguém estava mats ber apare- Aiyslo do que ee para fz@-o; nao somente pela capacldade de ozganizat ‘4 Wyatera deste Hivro, como também pela simpatia que the inspiram as enitivis mals anticonformistas¢, por sso mesmo, mals controversas da Joyo mosica brat, Se desses dolsttulos o primelro the valeu o resultado beilhante que ‘obteve com a defesa de sua (ese sobre © mesmo assunto, na Sorbonne, ‘em 1976, 0 segundo, que nao delxava de ser perigoso num contexto sca. demico, levou 0 presidente da Comissz0 que examinou essa tese, no cx lor do debate, asoltar, em pleno recinto universtirio, © famoso palavio autbuldo a Cambrone’.. 0 que nto o impediu de dar o devido aprege a0 ‘allo da doutorand propor lisonjlra mengso que velo coroar seus «sforgos e consagrar este texto minucloso e bem equilibrade, que oscla centre a pesquisa ea apreciago estética das obras estudadas, fesse 0 trabalho que © leitor brasileiro teré agora 2 oportunidad de percorrer ou estuda, na sua adaptagio em verndculo © em forma de I vo. Considero-o indispensivel para o completo conhecimento da nossa -msisca, porque com ele a sua historia, que tragaram Guilherme de Melo, Vincenzo Cemicchiaro, Renato de Almeida ou Vasco Marz, pata s6 citar alguns, prolongs-se até a atualidade, encerrando, provisoriamente, 0 seu ciclo evolutivo. © elo entre 0 que esses autores examinaram e o que José Maria Neves aborda neste Livro enconta-se no seu primeiro capitulo *O advento da conscigncia nacional’. Nele si0 abordadas as origens da misica brasileira de hoje, ou melhor, discutidos os compositores de outras gerastes que cenconitraram, em seu caminho, as mesmas pedras, roligas ou erlgadas de tists ¢arestas, em que tropegam agora os novos pionelios. , sobretudo, Vill Lobos, cuja obra José Maria Neves conhece to bem, sendo autor de huminosa memérta sobre os Chores, em que analisa essas partituras utllizando procedimentos nao convencionals, mas j4 consagrados pelo uso ut delesSizeram os melhores exegetas da nova escola, e nao somente para tratar da linguayern musical Falos histrleos, figuras ce compositores, orientagdo que seguiann, ex- periéncias que tentaram constituem a esséncla do ensalo que hole vem 4 luz e se mantém a cavalo entre a documentacao objetiva, terreno da historia propriamente dita, eas consideragbes de natureza mals subjetiva, sltadas pelo que pertence nao a esse terreno, mas ao da estética;estética (que se quer sempre renovada e que no aspira formulagio de monumen- {os duradouros. No que € humilde e ascética. Entre esses dots terrens 0 autor se move com agilidade, seguranga, entusiasmo ¢ convicyto. ‘Compositor, ele mesmo, sabe do que fala. Pode-se estar ou nfo de acor- Alo, Mas a cada um este liveo ensin alguma coisa e incita a reflec Nio é ess, afinal de contas, a missto de livros desse gimero, que tans- ‘mitem conhecimentor adquirides © procurim mostrar os caminbos do futuro? ‘Campinas, 3 de jutho de 1977 Luiz Heitor Corréa de Azevedo rmusieslogo Introdugao a primeira edigao © tmusieologo brastetro Vasco Manz disse, uma vez, que, “sebeepondo a livia de nossos msicos & de nostos excritores, poetas ot prosadores, vorificamos que s6 uma duzia deles merecesia a atengio da musicologia. (x outtosfcariam peridos na mutidao de artistas de obra amadoristica, ‘© mul fustamente” QMarlz, 1970: 17). fsa observaso, aparentemente exagerada, tem sua razto de ser no que fofere A rnsicaconstruda a partir ds grandes modelos elésicos; neste Lmpo especie, poucos sio os criadores que, proponda algo novo, po \lerlam ser colocados em pé de igualdade com os poetas,esritors eatis- lus pldstions brasilelos do mesmo pesfodo. De fato, a literatura eas ates pltitiens brasileiras sio mais reas © menos conformistas do que a misiea /\alimples obervagio dos movimentos artisticos brasleros mostra que a “ylagho museal jamais acompanhou em intensidade e sito o fmpeto re Woliclondrio que dew a0 Brasil uma atte nova ¢ nacional. © Movimento Moernista, que seré analisado no curso deste trabalho, é um excelente ‘ekwmplo loss verdade: sua forga renovadora, que tanto frtificox nasartes plisticas ena Literatura, € que atualizou 2 consciencla cHacora brasileira, ‘hegon aos dominios da mtsica totalmente amortecida ¢ orientada por preconceitos secioculturas que lmitavam seu alcance experimental, Mas se a miisica de tendncia neoclissica (¢ especialmente 0 nacionalismo) produziu poucas figuras do valor absoluto de certs escritores ¢ artstas plsticos brasieros,justamente por sets conformismo esencal, a misica experimental braslelra € rca em crladores vigorosos e renovadores, que, tendo proposto novas solugdes para os problemas da riaedo e da expresso, smerecem figurar ao lado de petsonalidads de alcance internacional, des- truindo aattude colonial que a cxia¢o brasileira mantém desde sempre ste tabalho versa sobre mdsiea brasilia do século XX e, particular mente, sobre o$ movimentos de renovagso técnica e estética que condu- alram essa misica a um compromissa com a cultura nacional € com as exigtneias do mundo contemporineo, Come se vers, a evolugto da mii: ca brasllelia deste século nto se deu de modo logic e progressive. Nesse corto espago de tempo, acumislaram-se, as vezes em perelta simultane dade, escolas e tendBnclas contiadtérias que, cada uma delas convencida dda certeza de seus prineipos, luravam por sua projegto predominante. ‘Ao longa dos anos, viuse a confrontagio de duas forgas de impulsi 4 tradigio € a inovagio (Asevedo, 1974); a forga da tradic30 buscando _gvantira manutensto dos elementos constitutives da linguagem musical do passado proximo; # forga Inovadora entiegando-se & busca de noves recursos expressivosindependentes da heranca tradiionsl, eldentemente, uns e outros pretendiam estar fazendo uma nova miisi- ‘a, sem que houvesse uma definiao precisa dessa nava realidad musical. © que seria a nava miisica? Aquela que seria capaz de provecareseénda- los? A rmsica absolutamente incompreensivel? Ou slmplesmente a misi- ‘a recentemente composts? Com Juan Carlos Paz, preferimos pensar que nova miisiea € aquela que coloca situagbes probleméticas, que apresenta lerentos para retolvé-las ¢,sobretudo, que se rvela elemento ineitador para a criaglo de novas obras, Acetasessascaractristicas como essenciais 2 eriagdo de uma obra nova, pode-se perguntar até que ponto as normas {do nacionalismo e do neoclassicismo ~ to florescentes no Brasil na psi rmeira metade do século XX ~ poderiam conduzir a renovagio da lingua- ‘gem musieal, De fato, aqueles movimentos musicals pretendiam combater ‘0 desvio inconseqdente (segundo seus adeptos) das normas tradicionas, Hiberar a miisica brasileira da dominayao européia pela descoberta de uma linguagem artstca essencialmente nacional ¢aproximar o proto mas ‘al da sensibilidade das massa, em clara orlentagio popiiista. A iibertaio do colonialismo cultura europeu € o desejo de colocaz a obra de arte ao aleance do povo sto pretensbes que se podem compreen- cer facilmente e que deveriam ser sempre incentivadas, O mesmo, porém, no se af coma preccupacao de evitar 0 desvio das normas tradiclonals, slaguilo que se chamou tantas vezes de reais valores do passado, Sex preciso ver, antes, se esses recursos tradicional seam ainda aproveltavels ‘em desenvotvimentos totals ou patciais, ou se, a0 contro, eles se esgo- ‘ram, perderam sua forga, por corresponcler a necessidades expressivas de outras €pocas ou de outras culturas. Seria preciso ver se a determinae ‘Ho dos ditos reals valores do passado nao responderiam simplesmente a Julgamentos naseidos da acurmulacio de conceltos segundo 03 quals sio Uefinidas e estabelecdas normas de belea e arte, nocmas que correspon: dem elas mesmasa épocas ecalturasdifeentes das nossas. Por outro lado, seria preciso destrulr 0 mito de que todo movimento senovador dsc renuunelar todas as eonguistas do passudo; ndo se renuncia aquilo que fol vivido e assimtlado, Com relago & heranga tradicional, seca certamente mats corto falar fm revisfo de seus principios, de seus valores absolutos de esteuturasio, como a escalistica, @ tonalidade, © timbre, a dinkmica, as mcxlalidades, 1 harmonia, a polifonia, o tempo, a ritmlea e as formas que desivam da Imonipulagto desses valores. Mas nil se pode esquecer que hé um apren- Aizadlo ¢ uma conguista da técnica em tal trabalho de revisio de conceitos, «© prncipios, Caberia a divida sobre a necessidade de domina as ténicas Ieadicionais de composigio, que poderiam conduzts, quando assimils- das, a um acaclemismo sem interesse. Nesse ponto se Iocalizard um dos ontrastes maiores entre os compositores brasileros de rigidla formagio scadémiea © aqueles (os mais interessantes) que se formaram no contato veto com as novas formas de expressio musical, Os primeiros possuem, ts vezes, um s6lido meter que os feia na busca de uma linguagem nova ¢ [pessoal os segundos, nem Sempre completos no que serefere ao dominio ‘as (Genkeas compostetonals da tradipa0, mostram:se sempre mais abertos ( usca de novas estruturas composicionals ¢ mals bem preparados para uma tolexdo sem preconceitos, emeronmomnsogie ” ‘A historia da misica brasileira do séeulo XX, assim como a historia da sisica universal, mostra @ antagonismo permanente entre 0 cultivo do {ntelectualismo racionalista da arte clissica, clara e media, e o abandono 20s imperativos da intuigio e dos instintos, com a presenga do inslto e 0 acaso na construcao. [entre essas duas posigdes extremas, uma gan {nfinita de posturas de compromlssosfustficaveis ora pelo desejo de mo- dernizae as esteuturastradiclonals, ora pela Ansla de dar mator equilibria as estruturas informais. Contra o dcterminismo formalista da primelra pesigio levanta-se 0 inconformismo da segunda: nao buscar limites © finalidades predeterminados, evtar os sistemas de relaglo, superar tudo (que € admitido, Esse camino para o imprevistvel, no qual a certeza © 4 Hogica no tém valor, seréescolhido por todos aqueles que se decici- rama assum corajosamente uma postura experimental. Recusando toda sensualidade ¢ toda sentimentalidade primisia, a arte seré vista como ppensamento, idéia © ago mais do que veiculo de efusoes pessoal. Fla serd intencionalmente abstratae absoluta. A fantasia dirjglda conduciré a escalha dos meios para a elaboragio de uma nova linguagem, baseada «m nova ordem sonore [ste estudo nao segue uma linhe de fea imparcalidade. Acreditamos profundamente que as lnguagens artisticas eveluem pela corajosa supe- rasdo da heranga tradicional e pela audcia na proposigio de novos cami- nes expressivos. Desse modo, vemos a evolugao da msi brasileira no ‘como uma sucessio de fatos estatlicados que podem ser tirados de seu ccontexto para anilise, e sim como un todo dindmico. Eno antagonismo centre tradigho ¢ renowagao, tomamos o partido da ditima, sem deixar de ‘expore de analisar as posigBes conttStias. Que se pense na afimagio de Cézanne, sqgundo a qual, em arte, se é revolucionsso ou plagiério. Que se meaite na confisto de Vasarely ‘Creo que todo pintor nase aproxlmadamente com o mesmo talento. ' € preciso talento para pintar rim bom quadro do Sagrado Cora. ‘Mas Utillo exgoton o assunto, realizar © 1000,000" exemplar disto ro oferece nenhum interes, HS uma persistOncia quase quimlca no sor que © lev a otientarse numa direylo mais do que em cura ‘rossegulr no sentido de sua petsstencia eaprofundil, af esté nossa ‘nica chance de abr um novo caminho (bepress, 8 214 de junho de 197) E, como Ezra Pound, pensamos que se conhecem as qualidades de umn ‘ritico nao por seus argumerios, mas por sua escola. (© assunto deste estudo obrigou-nos a adotar caminhos metodl6gicos ‘xpecificos. De fato, quando, no Inicio de 1971, comecamos a recolher nateral sobre musica brasileira contempordnea, deparamo-nos com tis tipos de dificuldade: em primeiro lugar, a pobreza editorial brastleea no «que se refer a partituas musical, restsingindo-se quase exclusivamente & partituras de interesse pedagogico e especialmente a pequenas obras para plano e paca canto; depos, a quase impossibilidade de estabelecercontato ‘com 05 compositores, em razio des dlmensoes do pais eda estretteza das frontelrasesttieas de cada grupo; fnalmente a raridade de obcaste6rl- ais xecentes sobre a msi brasil © levantamento de dads fol felto por meio de consulas a organisonos {de documentago musical - especialmente a Seco de Miisica ¢ Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional e Servigo de Documentagio Misscal do CConsetho Federal da Ordem dos Misicos do Brasil —e entievistas e ques- tionitios a indmeros compositores (alguns dos quats, gragas seus axqui vos pessoals, puderam ofereeer-nos importantes documentos). Caberla im agradecimento a essas entidades e pessons, em especial a H. J Koelreutter € Cliudio Santoro, ¢ as edtoras Ricordi Brasileira, Tonos tn temational,Jobert eS. Zerboni. Recolhidos os documentos indispensévets pra a realizacao deste trabalho —quantas partituras nfo pusdemos analisas, |quantos artigos nao nos chegaram &s maos, quantas pessoas ne pudemos Ccontatar?-, passamos a estudé-tos sem nenhuma preocupagia de classifi ‘ar precpitadlamente pessoas, grupos e obras, procurando antes descobrit (0 pontos deligacao entre ees, as comrespondéncias claras e menos elaras, ‘com o fim de estabelecera linha evolutiva do pensamento musical bras leiro. So depois disso, pensamos em determinar as lnhas de forga dessa levolugio pela aproximarao de obras e compositores sm sua vers inkl, este estudo divide e em cinco partes. Na primeira, so examina as condiqdes de zparecimento do nacionalismo musical bra- sileio €0 papel do Movimento Modernista ce 1922 em sua defini esc ‘segunda pate trata do movimento renovadorrepresentado pes tabathos de H, J. Koelreutter e do Grupo Misica Vira, da introciugdo no Bast da tec rica dadecafSnicae do espinto experimental. Na tercelr,estudamm-s os do- ‘cumentos relactonades com a tuta antidoderafOnica ¢ com a retomada do ‘nacionalismo~ segundo ortentago do reatisno soclalista~ durante a décads ‘de 1980, A quarta parte tata do renascimento regional dos anos 1960, com 0 _apatecimento de navos grapes de compositozesem diversas regltes do pas — contarlamente ao papel centalizador desempenhado pelas cides do Rio {de Janciro ede Sto Paulo nos anos precedentes~¢ a alos de téenicascom- posiclonais deciaidamente expertmentals. Finalmente, na quinta parte deste festudo, analisatnse obras do repertrio brasil contemporines. Por ser emasiadamente téenica, tina parte do trabalho fei retirada do conjunto desta publiogto. © texto foi claborado como tese de doutorado em Musicoloyia, defen lida em abril de 1976 na Unidade de Estudos e Pesquisas em Masica € ‘Mauscologta da Universidade de Paris - Sorbonne, seguindo-se @ mem «de mestrada “Os Choras:sintese do pensamento musical de Heitor Villa Lobos", defendida em 1971 na mesma universidade, Deixamos aqui nosso agiadecimento ao professor Jacques Chailley, nosso orientador de pesaul ‘sty no Mestrado © no Doutoramento, que nos levou a pensar e escrever| ‘com maior rigor musicolégieo:a professora Edith Weber, que dedicou parte ‘de seu tempo aos estos sobrea nova misica beaslelra afm de atender ‘ao conte pata compar o fi da defesa de tes; especlalmente a0 profes sor Luiz Heitor Cortéa de Azevedo, amigo e mestre, que encontrou tempo para dar-nos tima orientacdo precisa em nossas pesquisas e para se, a dfesa de tese, 0 biThante critica de nosso traballio, que procura ser um ‘complemento e sma contigo de seus estuds. Pati, 1976 José Maria Neves Advento da consciéncia nacional Os precursores ‘Como em todo © mundo, a misica brasleea de hoje reflete 0 dilema Uillierante entre o nacional ¢ 0 universal, entre a busea de expressio da Fealldade sociocultural de um determinado pove e a adesio a formas de ‘expresso de malor aleance internacional no necessariamente com- )prometidas nas lutas pela autodeterminagco artstica e cultural de-uma \unidade particular. Fssa preocupagio em forjar nguagens caracters- ‘Heamente nacionais que refitam a ralldade de vin povo equ, a0 mesmi0 {mpo, sejam imedlatamente compreensives por esse mesmo povo & na rade, a grande meta do nacionalismo, For isso mesmo, para que se possam descabri os ta50s essenciais da hhova misica brasileira © os caminhos seguidos por elt no séctilo XX, lorna-seindispensavelexaminae de que modo se processou o aparccimento At consciéncia nacional, de que modo se dew a progressiva afizmasio dle uma arte auténticae earactristicamente brasilens, pots & a partir das do nacionalismo musical que se desenvolverio e se afirmario di- 908 grupos de compasitores, alguns na linha de aceitagHo total cega {tis normas do nacionalismo © dos regionalismos,e outros, o contro, Ppitindo do questionamento continuo dessas normas e da pregasio de Feniovagdo técnica eestétkca a todo custo, Na verdad, s6 ha bem pouco tempo na metadle do século XIX — des- ‘lem se no Brasil os primelros sinais da sintese que iri caracterizae sua Vinisien propria Antes disso, © que se via ema fustaposigto de elementos ‘ontiastantes, que, infuenclandose mutuamente, sntinham sua vali- dade com relapto 20s usos costumes das dlferentescamaudas que compu nnham 0 povo braslezo ‘Ao elemento nativo, que possua sua propria misica, veram somar-seo ‘europe eo negro, Pouco se sabe da nnisica indigena do period da desco~ bert, © pode-se dizer que sua parte na consttuigao do que seria a mtsica tipiea braslelza fot minima, sobretudo em razt0 da fragilidade da cultura tneligena brasileira. A populacdo nativa brasileea era nOmade, néo tendo atingido o alto grau de desenvolvimento cultural das populagdes incige nas dos Andes, Por isso mesmo, & medida que se processavam a conquista da terca€& imposig2o da cultura européta, obra cos mnisionsrios fesuitas {que chegaram a0 Brasil a partir de 1549, desapareciam pouco a pouco os ‘tapos caracterfsticos da cultura nativa, No trabalho catequeético, que eon- tinba sempre elementos musicals ~a correspondenica entre esses missio |nérios mostra o quanto era importante o emprego da musica (Leite, 1948: 148) -,eram especialmente usados 0s autos (bem proiximos dos mistéios medieval escritos em portugues espanhol «em lingua geral, nos quals se ‘empregavam, na parte musical, clementos da misica indigena, do canto ‘gregoriano, da misica popular européla ¢, mais tarde, da misica negra Talvenestela ata explicagdo para a presenga de certos modalismos na mi sica foleléria brasieiza, que se aparentam sensivelmente a0 modalismo eclesistico, Ao lado disso, a criagio de escolas jesutticas deveria ter papel Importante na imposicso de caracteristicas européias & mesiea brasileira $Essas escola, nas quals se ensinava a cantar, a tocar alguns instrumen- tos © mesmo a fabrici-os, tomnaram-se logo centros culturals de grande Jmportinclae sia atividace pode expllear a grande penetragio de certos instrumentos europeus que integram habitvalmente o instrumental fo clénico brasleko, como 4 viola, a rabeca © muitos outros, Esse mesmo tipo de assimilagto da instrumental europe se deu nos demais pases da América Latina, onde o procesio de colonizagio foi anélogo, Encontra-se, por exemplo, interessante combinago de violino e violio em conjuntos foleléricas mexicanas. CCabe aqui uma yeflexio sobre a diferenclagto fundamental entre 0s pro- cessos de calonizagio usados pelos ingleses na América do Norte © pelos portuguese eespanhdis na América Latina, Enquanto a colontzacio ingles, fv ao progresso material, a portuguesa © 2 mura eartistieas, tomadas eomocle- protest ‘spanholn enfatizavam asativklades te rigid, dava prim Inentos de aculturagao, Os resultados de tals processos se fro logo sent ws ates nos culos XVII e XVIT serao mais importantes na Amétice Latina \doquenos Fstadas Unidas; ao contrério,no momento en que odesenvolv- mento econdmico se torna a mola do desenvolvimento cultural, on Fstalos Unidos tomato avanco sobre a América Latin. ‘Araya bran, com seus costumes sua cultura, foi dominante em todos ‘os sentidos. Hla se izra propritéria da terra eestava convicta de sua supe sloridade cultural O fndio, quando nao fot IMeralmente aniquilado, teve le aeetara cultura européla que Ihe era imposta, 20 mesino tempo que a [e cattica, 0 negro, trazido como escravo, eagit de maneisa diferente 80 choque com a cultura européia:finginda accitar todas as imposigdes de seus senhores(inelusive no que se refered adocio da eligiso eaten, sou be manter toda a forea de sua cultura, que sofreu apenas transfotmagies aparentes. De ato, ao mesmo tempo que o neyeo aciton certos elementos da cultura curoy Saree cee ee aac Jobe es cult que ve da spo, transforma de modo trae Desens, enconrmos, em ido leet format e240 os costmes da crengas negra nie qual slarelsmosliins € {matt pment ect) de outro, amt, pla sve domanante, Se fm etter de oun carnenta sages puco a povco se produ a ste ctl, de memo modo com aise pond sntee rac com o aparimento de grupos fcals Innes amen besitos out oesboclo ea cto Ines e200 pos caacteritcamente radeon entre os qualso mult eta recast naskearfee uoa fbimals facimente ata, meano pr cru da pests onupia pelo Ie na socledade rasa de ent, em rao de ttl depend Aon echores banc «por samaloraldade (ln des andes as Us cadres rasa prt do culo XVI sto mult). Dirate todo ese perodo de conse da raga bala, produ (io skalrevetese de attr uso: ego dverso, Mas, en. {nto aris procter! suds crop (ica he nase io de recuns de malorpenabldade, oma empee> Aedes de danas em cerned pace elu) mse profs wa ia cssed Yoico pooot do tao ervpeucAcoande ipsa ce trenton de oigem nega indgenn fsomente part do selo XVI {que a composigdo musical erucita atingiré um estado de desenvoivimen to em que se justia sua distingso da eriagao popular. € 0 pexiodo do enorme desenvolvimento econ6mico ¢ da exploragio das minas de our; ‘9 periotlo de maior desenvolvimento da arquitetura colonial (que ter seu apogeu na segunda metade do século XVII); 0 periodo do aparecimento de toda tuma escola de compenttores que fol impropsiamente chamaca de Dbartoca, por analogla a0 barraco arquiteténtco. ‘A distingdo entre arte popular e arte erudita seri entio marcante; de um lado, a mdsica do povo, que caminha para a nacionallzacao de seus ‘lementos constituttves e de suas formas; do outro, a musica erudtts, p= mordiaimente reigiosa, que retoma com todo o vigor os grandes modelos fwuropeus, sem maiores caracterstcas nacionais. Tratase de mise que segue mals de pertoas sugestes de Haydn e de Mozart do queas de Pales- trina e Bach, como exa dese espera. F interessante observar que tal fen6- ‘meno se du stmultancamente em Cuba, no México, no Peru, na Col6m- bis, na Venezuela, na Argentina eno Brasil, onde surgem centros musicals {és malor Importancia em pequenas vilas do terior de Minas Gerats (S30 Jodo del-Rel, Ouro Preto, Sabaré ¢ Diamantina, entre outras). 'No Ro de Janeiro, que devera tomanse no iniclo do séeulo XIX capital 4o Reino, © movimento musical era igualmente impoztante. Quando che- {gam ao Brasil d. Maria f et filho, 0 princlpe regente d. Jilo,e sua corte, fencontram no Rio de Janeiza um compositor de quarenta anos, padie sos Faualero NuvEs GaKers (1767-1880), que foi comparadoo maloreompo: Sitorportugués deentio, Marcos Portugal (1762-1830), ede quem Sigismund ‘Neukomm (1778-1858), dicfpulo de Haydn, dizi sero maiorimprovisador do munclo (Arai Porto-Alegre, se)-Como muitos de seus colegas misicos, José Mauricio cra mulao, iho de eseava e praticemente autodidata. Dizse ferefeestudado no Conservatério de Santa Cru, escola criada pelos jsuitas em fazenda na periferia do Rio de Janeiro destinada aas escravos, Fle fo ‘mestre de Capela da Sé inspetor de Méslea da Capela Real, tendo detxalo, segundo informagio dovsconde de"Taunay, mals de quatrocentas bras, €- tre as quats tum tratsdo de contraponto;inflizmente, muitas de suas obras foram perdidas.! Como se diss, a masicaeruta dessa época no tem quase Cam sto end Mar Sane Ga 6 ima covsctnnnnnin, nnenhuma preocupagio em manter e desenvolver as cataceristicas nacio- nats 4 encontriveis na cangao popular. Mas, ainda que seguindo os pose tulados estilisticos e formais da masica europea da época, os compositones| io deixavam de ser sensivels 20s apelos da misica popular. José Mauricio ‘comps modinhas e encontram-se freqitentemente em suas obras eligosis| lrechos que guardam o gosto de cancto popular~ sea em certas Seas, ea fem techos corals harménicos, aos quais se sobrepoem linhas insteumentais «antantes de sabor popular, tudo com bastante gosto de Gpera italiana. 'Na verdade, 36 Neukomm guardou certo purismo de estilo, nose det- ‘sando influenctar pelos itallanismos que fziam furor na época, pois Ma os Portugal se caracteriza por ser, antes de tudo, um opetista a moda Hallana,& sua influéneia fol decsiva na implantagdo da épeca no Bea © centro musial sal, entio, da igrejae vai para o teata,fcando af por melo século.E €certamente no tereno da Gpera que aparecerio os primei- "0s sinais do nactonalismo musical, mals como preocupaao do que como realizagte. Quando em 1857, jéino governo do imperador Pedro I, cra-se ® Academia de Misia e Opera Nacional, por intclativa do refugiado espa ‘hol Jose Amat, a preocupayao fundamental ¢ ade criar condicées para © ‘desenvolvimento da msi brasileira, Entre os objetivos dessa Academia, ‘como se vé no documento que fol assinadlo por grandes autoridades do-g0- vernoe do mundo das artes, destacam sea preparaco e aperfekgaamento sJe artistas naclonals,¢ a realzagio de concertos ¢ espetaculos em lingua ‘nacional, com Gperes brastlecas ou estrangeias wetidas para o portsigués (Azevedo, 1980: 58:9). 0 governo foi sensivel a tai propésites, colocande 8 lisposigto da Academia o Teatro Provlsério ~ quando este ndo estvesse ‘ocupado pelas companhiis estrangeras(talianas) que Id se apresentavam, freqientemente— eautorizando a extragao de Jotertas em seu beneficio2 ‘No Indo das grandes obras do repetécio italiano (Rossin, Ver, Bellin, Donizetti e muitos outs), comegam a set apresentadas dperas brastlezas, ‘eis composts, evkdentemente, dentro das nomas cortentes no teatro lit ‘o Haliano. A asim que surge CARLOS Gon (1836-1896), que seréo maior ‘compositor brasieio desse periodo. Apds conquistarhagar de destaque na Nall, onde estreou em 1870 sua perf ueany Ceatto Scala de Miao, ser ceitamente 0 primeira compositor brailéio com suficiente rau de prods sionalizagdo. AUéentéo,o cima era de festivo diletantismo, faltando aos ‘compositores bases técnicas mals slidas e um posicionamento esiéico ‘defnido, Meso o primelco imperador, d Peéco I, permltu-se grandes at vidades musicals, tocando diversos instrumentos e escrevendo, sob orien. tagio de Marcos Portugal © de Neukomm, multas obras. Nese sentido, ‘José Mauricio © muitos composiosss do banoce minelto distinguem-se dos seus contempotineos justamente por deminarem meihora técnica de ‘composi e por mostzarem-se mals originals ia eoncepgao musical. (Carlos Gomes viu com grande lucidez que o estilo operistico italiane cestava em decadéncia!¢ que a Alemanha e a Franga mostravam maiones possbllidades de renovag3o da linguagem musical, Mas o catéter de sua formagio © 0 fato de passar grande parte de sua vida na Ilia marcarlam fortemente a sua miisica, que somente se renova a partir de Poser (1872), xerada da teniea do motivo condutor e uma concepsio ‘com a adoga sais sinf@nica da partitora, Dols documentos de época atestam o reconbecimento € a aceitagie do compositor: uma cata de seu professo: Lauro Ross, escrta logo apés 1 estrGia de M1 guarany, e uma carta de Verdi a G. Paretti, datada de 15 de ‘aio de 1872. ‘A carta de Ross di textualmente ‘Meu cao discipule, i meste: dizer te 0 argulno que sinte & lmposs- vel jail Poss assogura.te uma coisa: no me consta que até hoje ‘compositor algum, cm ais crcunstindas, ivesse obtidovitéis ual 4 do Guar. Encho-me de glia eabrago-e, feliz po te considerar ‘meu colega, Lauro Ross! (Cernieehiaro, 1928 359, Ade Vera escrita de Ferrara, Assist com enorme satisfaglo & dpera do colegy maestro Gomes € ‘poss afirmar que a mesma € de construgto fina ¢ revela uma alma ardente, um werdadelro genio musta (A acolhida entustistica ada 10 autor como abs intéspretes vale muito mais, de resto, que a minha modesta opiniao ¢ 359), * ova nanina ‘Ainda que se mantendo na linha da maioria dos compositores latino lamericanos da segunda metade do séeulo XIX, isto € aceltando incon: \licionalmente as normas do operismo italiano tmpostas pela constante apresentagio de um mesmo reperiéri, Carlos Gomes € certamente pric ‘nto compositor brasileto « buscar de modo consciente tima Hgacio ‘mais profunda com a problenética de seu pals. Ndo fol ele, no entanto, © primeiro compositor de 6peras no Beasili a posisdo de precursor eae «Bias Alvares Lobo (1834-1900), com sua 6peta A noite de So Jota, que oma como tema as festa reallzadas no ueasl, na viglia da festa de $40 Joiio. Mas Carlos Gomes seré 0 primeiro a transmitirdiretamente aquilo «que se poderia chamar de emogao brasitetea, obretudo em duas obras mals importantes: guanany ¢ Lo sehiav, No plano estritamente musica, essas 6peras contém apenas Feves #e= (erénetes & mistea brasileira; algumas de suas fins obedecem a0 corte ltedicional da madinha, Mas no se pode exquecer que a siodinha bras leira descende em linha dizets, enquanto esteutura mel6dica, das avetas italianas. Desse modo, ainda quanclo busca zefletir elementos da misica bbasleira, Carlos Gomes encontea seu profundo italianismo. O fatodeusarcomoassunto ded! guaranyosomancedeJosé de Alencar, uma as primeizas mantfetacoes do brasilersma lterdvio (0 pastalo hstérico, {| manetraromantiea, encarnado pela figura do fndio e pelasintrgas que lunem conquistadoresenativos), faz dessa Spera um dos pontoscepartida do hacionalismo brasileiro, Lo sclavo pederia te sco um manifesto da mator limportneia historea: 0 esbogo inical do libreto, de autoria do viscom de ce jaunay,stuava a ago no século XVI ¢tatava do problema da exeravatura negra soma época em que a campanha abelicionista obtinta suas malo- Jeseonquista,culminande com a assinatura da Lei Auge, em 1888. Mas as ‘exigéncias do teatro tallano obrigaram © compositor a mudar a Epoca da sso para o século XVI ea substituiro negro pelo indo, De toda mito, es0 ‘opera nos mestra Carlos Gomes totalmente conguistado pelo nacionalismo {pelo deseo de crac uma obna que reletisse os anseos de seu poo, posiio «que tari séros problemas ao compositor: um dos resultados dt Campa. hha aboliclonsta foi a desttuigio do segundo Imperador (40 qual Carlos Gomes estavaligado por lagos de amizade e por enorme grate por Ihe {er peritde langarse internacionalmente) e a proclamagao da Repsibica {que 1s Gomes nunca aceltow inteiramente) “Enquanto desenvolviam-se as aividades da Academia de Mésiea e Ope 1a Nacional e Carlos Gomes percorria seu camino de gloria, iniciavase no Brasil uma nowa fase de sus histérla musical. De fato, ainda que a ‘pera fosseo género preferido, comesavam a aparecer sociedades de con- certos que gerariam um novo hibito musicale incentivariam uma nova forma de ciasio, As principals dessas agrupagdes musicals foram a So- ciedade Flarménica (eiada em 1834, e que teve como diretor Franesco “Manuel da Sites), 0 Clube Mozart (1867, fundado porJohn Whit}, 0 Clube Reethoven (dle 1882, que tinha como caracterstca 0 fato de ser excls- vvamente masculine), a Sociedade de Concertos Clissicos (fundada por José White e Arthur Napoledo om 1883), o Clube Haydn (fundade no ‘mesmo ano por Alexandre Levy), 0 Quarteto Paulista (1888), a Sociedade Coral Club Mendelssonn ea Sociedade de Concertos Populares (tiada em 1896 por Alberto Nepomuceno). Os concertos de camara e snfonicas se ‘multiplicam, apresentando as grandes obras do repertorioeuropeu e obras de autores nacionais, Os jovens compositores de ent foram 0s respon _sivels pela cragio de uma nova miisica brasletra, cada vez. mais préxima ‘is tradigoes musicals do pals, em trabalho pionelro de levar a misica 20 ‘povo e de fazer com que essa musica fose facilmente aceita, Para Isso, a presenga da temétiea folelérica era de grande eficscla, Mas bem antes do aparecimento das primeiras obras claamente f- lladas & estética nactonalista,o diplomata BxASILIO_INIBERE D (1846-1913) mastrasia 0 caminho a ser seguido. Esse compositor, que fol naa verdade um diletante senta © desejo de naclonallzar a expresso mt sical € is por meio da utilizacao, como base temitica, de elementos da ‘sia poplar. 0 que cle realiza na rapsbdia A sertonea para piano, edi tuda em 1869, cujo tema central €a cangao gaicha Balaio, que seré depols ‘usada por muitos outros compositons. Mas 56 na geracio segulate @ nacionalismo musical encontraria sua afrmagdo definttiva. Os contempordneos de Iuberé etaram por demats presos as normas composicionals européias,esclando entre elas o esp Fito nacional, LEoroLDe sau (1850-1902) e HENRTOKT. OSWALD (1852- 1913) sto bons exemplos dessa situaglo, Miguez alo pode Hbertar-se cla influncia de Lise © de Wagnes, que es120 na base cle sua sida técnica ‘composicional, como s¢ ¥é nos poemas sinfénicos Parsing © Ave liberias {o dltimo composto para ceebrar © piimelo aniversirio da proclamagio ‘iw Repablica, da quat Miguez era partido), na Sinfonia em si hemol com Juniata € coros, ¢sebretudo na épera I sald, sobre Ubreto original do poeta Coetho Neto (vertido parao Itallano por Heltor Malaguti, pera que Segue passe por paso a estruturago musical da Tetralega wagnertana, Finbora tena vivido por longos anos na Iti, Henrique Oswald ligou- se mals so pensamento francés, Dai vem, ceramente, 0 set gosto pelo ‘ullibri formal, pela delicadeza de sonorkdade, pela sugestioe pela evo- ago, Enquanto Miguez ¢ o reflexo braslezo de Liste Wagnes, Oswald (9 aplicagao nacional do expfrito de Laure, Mas Oswald certamente foi nals permesvel do que Miguez as influéncias do nacionalismo musical (resultado de seu contato com trés Reragdes de compostires brailitos) ‘6 olgumas de suas obras usam com parciménia, mas efcéca, elementos sda misica popular, como numa lembranga longingua. E.0 que se ve, por ‘exemple, em Serrana, no segundo dos Tris estidos para piano (utlizasa0 doy itmos sincopades) ou no Scherzo da Syonta opus 43. Mas éceramente ‘my sua mudsica de cdmata que Oswald se zevela inteiramente,tornando-se © yrande mestre no género.* ‘Anda que se expressando musicalmente em Knguas estrangeiras, estes ols compositores exerceram forte influéncla sobre a misica brasileira, sobretudo por mete de sussatividades pedagogicas. Oswald fot professor Ue grande presi {uto Nacional de Miistca (0 que motivou sua volta definitiva a0 Bras 1908), Migae? foi respomssvel pein reorgontzacio do ensine de muisica no ‘sll, por solicitagio do governo da nova Repablic; foi ele quem trans Noxmous © antigo Conservatério de Mésica da Academia de Beas Artes no. ovo Instituto de Mist, do qual fol diretor! (© acionalismo nascente deveria enfrentar problemas complexos, \ierivados da compreensio da fungo da musica. Tals problemas, que se consclheiro de inémeros misteos e diretor do Inst!- a) Chats ts, on ain da eit A ma (BE), encni de Henge ‘le Came Sats guano aos salsa wages de someon pel re SunStar de “ab magia, sbi, mullo pes ado pr tl to ea : colocavam também para © compositor europeu, tinham onigem mo so- fisma wagneriano da misica serva do drama (véllda somente com fur 0 sugestiva, e nao por sf mesina), que justifica a hipertrofa da ms\- ca de programa, como praticada no século XIX por compositores como Berlioz, Strauss, Mahler, Sefabin, para citar apenas os de maior Importin= cia e abandonat todos aqueles menores e eplgonais. Nela, 0 tema extra- ‘musical domina integialmente os objetivos composicionals. Somente os ‘compositores que se votaram para os crltélos foumals da tadicSo, como Brahms, puceram livrar-se da dominacae desss elementos extramusica pagando por Is0 0 preco de encerrarem-se em torre de marfim, © que mpedia qualquer compromisso com a busca de novos recursos compo- sicionais, "No Brasil, como em muitos outros pafses da América Latina, a busca de expressio musical propria, aceitando a funcionalidade programtea da composiio, representa certo afastamento das Infuenclas wagnetanias ¢, Iniclalmente, ame total adesto ao Impressionism, que seré depots igusl- mente recwsado, sobretudo a partir do Movimento Modernista, Nessa primelra fase do nacionalismo, watava-se de um trabalho composicional ‘aracterizado pelo emprego de temas (quase sempre meléclicos) da mésica opal, que eram tratados segundo métodos harménicos e pollfOnicos curopeus. Esse material de base sempre se deformava, uma vez que 0s ‘esquemas estruturas eram mais importantes do que ele, Por outro lado, cencontra-se com mats freqigncia material pseudofelelérico on iias me- Iolleas conieebidas pelo compositor dentro do esptito da misica fole6x ‘a. Em termos estruturis, as influéncias predominantes io as de Grleg © de Brahms (com os modelos das Repsédias hingoras), além da escola russa a segunda metade do século XIX. Em face disso, a predusio inicial do nacionalismo se situa entre o estilo da misica de aldo do fim do Império {ainda fortemente itaianizado e feta com preccupagio de fil penetra- ‘s80) © o rapsodismo de antologia, che de efeitos, que dara lugs, ais tarde, 8 formas pouco mals eseuturada da suite, na qual dangas tipicas brasleras substituirdo dancas européis. apenas no final do século XIX que o nacionalismo bresileto encon: ‘tard as solugdes para os problemas propostes pelos composttores, gras 4 atividade de figuras como Alexandre Levy e Alberto Nepomuceno, em special ” sama conan ‘aa na produgzo ini de ALEXANDRE LEVY (1864-1892, como 0% Opus 23, a8 Fantasias sobre motives del guarany ede Fosce, que faga [ever os ramos que ese compositor seguir alguns anos depos. Aos 19 nos, Levy funda o Clabe Haydn, um dos primedros centros de mii de Concerto de Sto Paulo do Ball J anes de sua paras para a Europa, om 1867, fim determina seus estos sb a orlentago defile Durand «Vincenzo Fertoni, Levy intressrase pela temtia nacional, compondo 0s Voriagies sobre wn tema Brasil, ocginsimente para plano e depois orguestradas. Essas variagdes, baeadas na cangdo infantil Yer ef, Bit, so a primeira obra naconalistabrasileia depots de Cayumbu, de Caos Gomes, € A sertanga, de Heasliolberé da Cunha Jado Gomes de Arto, cotega de Levy na poca de sun etada em Pats, Conta apreocupasdo nctonalisa dese compositoresuaconseiéacla dane cessdade de estudar seramente a mscafolclrica para que seu emprego fons comet eeicaz Daca sobre a ne de sons, diac que cad nag tina a ms ca caraceritic que Brain ia bare de evar a sua. Aemava pata escever musica ras, en precio etude a nsca pope lurde todo os, sobetido 3 do Note do pis (Azevedo, 1956 59) A Sinfonia em mi menor, conclu em 1880, jf mosis alguns tacos do nse ‘nalsmo dreto buscado por Levy e plenamente atingidarne Tango basic? © sobretucl, na Sut ras, composta de quatro movimentos:“Preo', ‘Cano triste", "A belra do regatc Samba’. No primeizo movimento, n= ‘pmeceo tema Ye, ty, utllzado nas Varagdes sobre wn tana brie, ‘no timo, empregamsse slmultaneamente a cha paulsta See eamel ea ‘ono atic fal tema de A ert, de Basia eben) A supetestrutura européla na misica de Levy éabsolutamente diferente |Wwondo se trata de obra dretamente nacionalista ou quando se trata de Aen ery abode clase rans Hes Lui Levy, qu eter S30 "a cio 1848, anno stad sta «eando um exabelcment comer om enc na mse pope ps, ounces ” compostsao lize, Nos Tals morceau (Donte, Amour pase Coeur blssé) nas Schumanianas para plano, encontra-se 0 reflexo da hipersensibili- dade romantica ea infiuéncia especial de Schumana sobre o compositor; 2 Sinfonia em mi menor, © poema sinfGnico Comala ¢ 0 Tro (inacabado) so obras de transigio entre o estilo romantico europeu © © espitito do ‘nacionalismo; as Variagies sobre wn tema brasileiro, 0 Tango brasil © a Suite asieirasio exemplos de tatamento especlal de material de ovigem brasileira popular, dentzo dos principios do nacionalismo naseente, com fencia que ser seguida por Ne- especial enfoque o carter elo pomuceno e por divenos compostores da geago segue) ¢ com apo ‘etamentoconcinte da tmic otras (minha que ter como princi sguidores Luciano Galle ¢Francco Mignone). SE Alexandre Levy fo o prize, depots de Carlos Gomes ede Basilo ier a tascarse em temas eles, eo fez com multoctoe boa tenia, Mas faltaram-the tempo eamadurecimento pata leva cabo to- dos on Sus projeton.Falecid 20s 24 anos, Lexy mo pe nem mesmo ‘vir as sus obas, Por so mesmo, ALBERTO SEPOMUCENO (1864-1920) pore set eonsiderado pions do naonaisobrselo; ua oa fra bem conheetda antes que mulias das partituras dlrada por Levy fosem esecutadas em pico (nce 3 Ste ras, Depois de esudos no Beal, Nepomuceno pts para a Europa, fxane dose pimelr em Roma e depois em Bein a a slidez de wua téenicae sua bertura a Genlcs composionals mas rece, sobretud As buscas Irmnicas de tendénca erminic seid em algo de as ove, fas quas sempre evita alanismo cl fceramente durante sa ta {a ma Europa que Nepomuceno deste onaconalismo, bres pot mo do contatoe da ext das escola nalonals europea. Ses po mrs concerts depots da volta 2 Bs presenta obras de nitida tendéncianaclonaisa, como a Galtoe para piano, que usa lems tcéiase sftmicos da dang popular tana quando cet co- fmega a compor sta enerme obs Yocl pars canto ou pra cro), usando ph primera ve ede forma sstemtin textos em ports? Aberco *impertenty conad ena que due aloosub XV dos XIK 2 at porte mh ai acts pods que um dx re {a Asli Misa ep Nicol wo oats nop de per “ oseacmendnsasin, Nepomuceno é assim, o patilarca da cansdo de cimara bras, género to qual detxou grande quantidade de peas de grande valor como Tas, Amor ide © Uias vem segue sus bea mals caracersc, a Se rasa (1892), suite 4m quato putes: “Alvorada na serra’, “Inermélo", “A sesta na ree” @ "augue. Na *Alvorada na sera” aparece como tema cential a canto Infanti Spo uray no “Intermédto”, a nha mlb lembra ua ma- Aine 0 “Batugue, por sua ver, est constuido sobre célulastmicas de Ande simpicdade e diretamente tomadas das danas ato-basleas. Como notes o musiSlogo Lulz Heitor Corra de Azevedo, “Série bul IM malgradoa singeeza, quigs medioedade da orquestiacao, fea endo 1m misca brasileira © mareoinicial ds erlentagdo nacionalist” (166) W130 muito’ mais peo clima e pelo sentimento de raslidade que a obra fovea do que peo emprego de forma ou extuture absolutamente orginal ‘Out obra de Nepomuceno que sega &tendéncia nacionalista &o pre. ilo de 0 orate, escrito para a comeéala musta] de Jose de Alencat no ‘iu ocompestoremprega como tema urs lund, Pensa-e que Nepom, feo tei a Intengio de compor uma dpera sobre ese texto de Alencar (uizas obras de Nepomuceno mosiam menor preocupayao com ana: ‘SGomalizagio da caso musical, ainda que aparcsam, de quando em quan. Mo, temas de gosto popain, Ente esas obtas, pode desteat 35 pers Aton ¢Abul eo Natt, wccho én Pastoral de Coelho Neto (or demas tre. hos, Pte, amncacioe Visa foram compeostos, espectivamente, ot Jose Peano de Sant’Anna Gomes, imo de Carlos Gores, Henvique al rancho Baga. Cites tmbéans cantata para scprana e ous. Pir termine deta semen, bscadaem texto de Jacques Avy sean pier do senados José ce Fetas Vale) Nesa mesma categoria, ala. Hevea ser incluidas as Vass famorcas para piano e oguesti, especie seston da vals vienense, com lve toque de vals urbana bases. ‘Obras de grande importinla como a Sifonsem sol menoreo is em as qua preocupacao nactonalista do 6 fundamental, refeem, niko, ceta bisa, dentro de esruturao musical que, mens indo de pert as nornas da tradio,brota com espontaneidade que xtrenia musteatkade do compositor poe justfieae Nepomuceno 6, por (0,0 primeira dos compositores nacionalistas, ‘que até 0s caminhos para vistas geragoes ce compositores, mos- trando-ines 2 enorme riqueza do materia] de origem folel6rica e popular, ‘¢s manefas de uilzé-o. Como em Levy, a influéncia de teméticaafro- brasileira seré muito fort e, dentro dela, as pequenas idéias meléclicas © ‘8 célulasrtmicss, bem marcadas, Otratamento dado a esse material sets ‘9 dosstilo contrapontistico ¢ lsitativo da mésica erudita européts, mas & simplicidade dias obvas de Nepomuceno faz com que tas temas no sefamn ‘muito adulterados no decorrer da composigio, guardando suas caracteris- ticas fundamentals, Tal qual Miguez e Oswald, Nepomuceno foi dlretor do Instituto Nacional de Misi, contribuindo muito para o crescimento ‘dessa casa de ensino, na qual também fol professor. ‘mRANCIScO RRAGA (1868-1945) & compositor bem diferente de seus con- temporincos: diferente por suas origens (menino pobre, foi no Asilo de :meninos desvalidos que ele iniciaria ssa formage musical) e por sua orien taglocriativa (ous formagSo francesa, na classe de Massenet, the dara espe cial gosto pela perleigio do acabamento das obras, permanecendo certo que francés mesmo em suas obras mals deididamente nacionalizadas). Quando, em 1890, ele parte para a Europa, gracas & bolsa obtida do avo govemno republicano por sua participacio no concurso destinado 8 escotha do navo Iino nacional, inila-e sua fase mals produtiva, Duas cobras desse periodo francts, as poemas sinfOncos Paysage e Cauchemar, ‘mostram bem de que maneira ele asimilou o estilo proximo do impre+ sionismo, ¢ com concepedo harménica que revela seu amor por Wagner, ‘A preccupagio naclonalista, jA fortemente entalzada no Brel, seria forte apelo também para Braga, Em colaboracio com escritor Esc nolle Doris, esereve o poema sinfOnlco Marahd, baseado em poemas de Gongalves Dias, posta do qual ele toma também a idéla para wm Epis sinflnico. Nesss cas obras no apatece citagdo de tema folel6rico ou po- pula brasileiro, o que nao impede que ambas se mostrem dicetamente filladas ao espitto do nacionalismo e revetem certa imagem do Brasil, FE jqualmente a Eseragnole Doria que ele pedi um Ibreto de Gpera, ese ‘vendo-the que “o assunto brasielto € quase em mim uma idéla fina" ex carta de dezembro de 1892, e que "gostarla que o assunto fosse nacional, ‘mas que ndo tivese fnios”, em carta de abil de 1893 (Revs da Serna, fn? 28: 18), Do trabalho em comum nascerd a Opera Japa, baseada no romance de Bernardo Guimaraes, Para a cena, Francisco Braga escrevers ainda, poucos anos depots, a mesic incidental Preludio, teri, dances 6 anes oirowansnn cores) para o drama O contratadar de damantes, de Afonso Arinos, obra we seré mals tarde retomada por outro compositor nacionalisa, Francis. Mignone, em sua primeira dpera, Francisco Braga fot, antes de tudo, um sinfonista (como Oswald fora lim camerista) tendo composto obras como 0 Preidla de O contratador le diamamtes, as Warlgoes sobre unt tema brasileiro (baseado no Gavide de [nacho 0 Canto do outono (orquestra de cordas}, 0 poema sinfénico Insdnin (oxgumento de. Déria) ¢ os poemas com coros Paz e Oracto. ‘De sua mslea de cimara, destaquem-se Trio en sol menor (que usa um lund em sua parte central), dois quintetos um quarteto para sopros. Um segunda épera do compositor, Anta Garibal (com ibreto do poeta ‘Os6rio Duque Estrada, baseado na vida da heroina revoluciondria brasi- via), nao chegou a ser conclufda por ele, ficanclo prontos tes dos quatro ‘Mos previstos, Francisco Braga fol igualmente autor de diversos hinos pax Inoticos, entre os quais.o Hine @ Bandeira, que é um exemplo de obra dessa ‘spécie, com sua longs linha melédica que nada tem do catiter primario ‘marca da maaloria das composigbes deste enero, ‘A miisica de Francisco Braga, sempre clegante e bem acabada, mostra {omo o compositor estava dividide entre a Europa e o Brasil, més revela lambém com que fineza ele soube solucionar esse problema, entregando: a0 naclonalismo sem necesstar de constantescitagdes de temas pop Joie, sem abuso da ritmiea afro-braslciza, sem emprego de instrumentos {Olicos, Como em Nepomuceno, pode-se dizer que ba presenga cons lune de algo que poderiamos chamar de sensibilidade nacional, que €, Analmente, mais eficee que todo emprego diteto do folelore. Hse compositor foi igualmente urn grande divulgador da misica cone lempordnea e, especialmente, da misica brasileira: durante vinte anes, fot sitelorartistico da Sociedade de Concertos Sinfinicos do Rio de Janet, biguestra que deu aos habitantes dessa cldade ocasito de travar contato 0m © que havia dle melhor no repertSro sinfSnico. E fol igualmente ex: felente petagogo, tendo regio desde 1902 (poaco antes do falecimento, no dizetor Leopoldo Miguez, que impediu o quanto pide a entrada sie raga no corpo docente do Institute Nacional ce Mésica) a cadelra de ‘Composigio dessa grande casa de ensino. Por suas mos passaram, em sua longuissima carrelza de professor, alunos que desempenhariam posterior Inente importante papaet na musica brasileira, como J. Otaviano, Assis Repubicano, José Siquera, Paulo Silva, Enio de Freitas Castro, Newton ‘Pidua e muitos outros, todos Tigados&estética nacionalistae muitos deles estinados igualmente 20 maglstrio. ‘Nessa mesina época em que onacionalismo brasileiro se irmava, mais 10 plano da técnica (mods de empeego do material de procedencia flelérica ‘ou popular do que nos dominios ds reflex esttica, um tinico compositor ,seguia caminho totalmente dstinto, Teata-sede GLAVCO VELASQUEZ (L884 ¥ 1914), naseido na Ita e dado como flho de espanhois, para essonder 0 omnce proibido de sua mie com o cantor portugus Fuardo Medina R- ‘bas. Tendo estudio com Frederico Nascimento e Francisco Braga, Clauco Velasquez nfo accltava passivamente @ imposigio das normas tradictonais decompasigio, desejando sempre alargar seu universo sonoro, Pata ele fol de especial Importdncia © comtato com 2 misica de Wagner de Debussy ‘somo também com a Escola Russa ecom obras de Chabrier, Dukas¢ Franck. ‘ainda que o cardter evolueionsnio de sua obra seja normalmente exagera- ‘do pela esitia brasileira (eens encadeamentos suas agregagbes harmonicas ‘nfo ulrapassam as experiéncias de Wagner, de Debussy ou de Franck), 80 se pode detxar de nota, quando onaclonalismo [se firmava em conforts- mo nada inventivo, ocatiter pionelro desuasatlvidades no Bri enquanto busca de novas técnicas composicionals © de posicionamento este. {preciso que se ign anda que tal posturarevoluctonia se dew sem que © compositor tvesse a possbilidade de estucos na Europa, pols © Congresso ‘Nacional ecusouo patio feito, em 1912, por trés dos malores composito- res brasileiros, Nepomuceno, Oswald ¢ Braga, no sentido de the ser conce- dia bolsa nao para que estadasse compost;ao, mas para que ali mostrasse juas obras, o que epresentava também uma tentativa desesperada de pro porcionar a0 jovem compositor a possibilidade de realizar trtamento de satide em sanatGrio da Sufga livedlo,talvez, da morte prematura que © atingin dols anos depots, quando contava trinta anos de dade, ‘A mésica de Velasquez aproxima-se algumss vezes da estéiea expres slonista, ainda que no plano da realizasso tena mals de Stravinsky do {que de Schoenberg. Sif técnica recusa qualquer imposigho ecolistic de hharmonia ou de forma, £ uma msi tortura, na qual os titimos acen: tos do romantismo s dissivem em misticismo.e melancolia, come notou, Renato de Almeida, De sua pequena producio, cltem-se tm quarteto, tio trios (o aim ft terminado pox Darks Milhaud, quando de sua estado ” sma omovanoain ho frasi, em 1917), duas Fantasias para violonceo ¢ piano, a Opera inaca- Inia Soeur Bétrice (© primeiro ato fol orquestrado por Francisco Braga, 2 pido do compositor) e muitas obras para piano e para canto.” A musica de Velisquer exerceu grande fascinlo sobre os jovens eom- positores do infeto do século. Nela eles encontravam uma perfita reall ‘aga0 do modernismo musical. Logo depots do seu desaparecimento, fol ‘nwesmo criada uma Sociedade Glauco Veléaquee, cujo objetivo era divil- ra obra do jovem mestre, a quem se chamou imediatamente de génio. [No melo de tanto tradicionalismo, quando a modesnidade estava no colo- Fido debussista ena estrutura wagneriana, a sucessto de acores sem base ‘onal, certa polltonalidade (como no titimo tro) esobretudo o carter de ‘sica pur, sem efeitos exteriorese chela de combinagbes harménicas € pollfonicesinusitadas atrafam a atencao de todos. E mesmo o claro ais lamento do esptito do nacionalismo fol pesdoado e explicado por seus seguldores, como se vé na carta de Lutclano Gallet (um dos eampedes do hconaliseno, na fase seguinte) a Mério de Andrade: “um tipo mxi- Io de brasileiro nSo pelos processos de exteriorizagio, mas pela psicolo- la invertor: arojo,exaltagdo, abatimentos sites, mprevisto, confianga ‘desconfanga, ¢ duel mesino desordem” (Gallet, 1934: 14). Le nesse lima de nacionalismo nascente, influenciado pelo pouco que ‘ conhecia do paulista Alexandre Levy e, sobretudo, pelss duas maiozes ‘iguras dla misica brasileira do info da século XX ~ Alberto Nepomuceno ‘efianlsco Braga, que aparece HEFTOR VILLA-LOBOS (1887-1959), come posltor que escaping totalmente da visto nacionalista enti difundica, {ilondo um idioma musical que deveria tomnat-se, sobretudo a partir da ‘losto do Movimento Modernista, 0 protétipo do nove naclonalisin. nquanto seus predecessores refletam as influ@ncias de Brathms, de rlog ¢ da Escola Rassa, guardando 0 esplrito romintico que thes sus. lwntava, Villa-Lobos seria mais permesvel 3s conquistas musicals do fm Alo séeulo XIX € do inicio do século XX, sobrenada a0 impressiontsmo ue, entretanto, ndo chega a sera hase de sua linguagem, mas de seus nponentes, dot Ai ale de Mise ago, ink de 200, que rtune sae {da a eels ator den sine Mat Cala Ris Car de xmas ss (0s elementos de precedéncta foleirica on popula, por outro lado, se- ro tratados de-modo mats completo ¢ mais live, aticlando-se como coisa assimllaa, endo come simples citagao de cor exotica, Mals do que seus predecessors, Villa-Lobos vero foleloree a tradigdo popular como 0 ¢ pode oar ex r "misica nao se prendeté 8s c ractersticas neges ou indigenas, mas proc ‘que, como disse muitos autores, most mals a terra do que a rsa Mas, homem da cidade, Vila Lobes se base com mats fequéncia na t= nti urbane ou suburban. ‘© exame do catélogo de obras de Villa-Lobos mostra que a proxiugBo do frunde meste pode ser dividida em fasescaracteristicas propria, partindo tio intemacionalismo pox comsntcoede gosto impresslonlsta das primeias obras (té por wots de 1917), aproximando-e cada vez mals ~e dentro de dticaentremamentecamblante~ do espnto do naclonalismo convicto « combativo, Tendo em vista quo naclonallsmo ser a grande forga de im- pulsio do computor ede toda eis fase da misca braslea, pode dizer ‘quecbras como a Spera Ihe (que éafusto de duas Speras anteriores, iain € Bisa, os dois primeleos Tas, «primeira Sonata fantasia, um dos prime tos Quartets ou os posmas sinfBnicos Ibemizdrabe, Naufiio de Klenics, Centan de ox, Titi Abra Myre asim como as dua primelas Sinfonia, a Sue para piano e orquesta ou mesmo 0 Sexteto misc, 0 re- presentam 6 micsno que algumas obees composts x partir de 1917, como (Quartets n*3.4, 0s poemas snfnicas lara e Sai Peeé, 030 bale maz us. parte dessa obras, das guaisAmmzonasé um simbolo, anna uma how postura esgtca ~ que se manifesta num notével enriquecimento dos recurs ténlcoe ~ esoncialmente naclonaista, mas de wm nacional {que nada tem de leveza de sao do fm do romantismo, assumindo plena- mente um pitino violent, como a naturea tropical. por meio dessa ‘nova forma de expresso, rude diets, que se abre, como aera © must Jogo Lula eto, sma “nowa fase ra historia da sia brass pose de loti expresao nacional, totale clara” (Azevedo, 1956: 249). 14 entio o compositor se Hvrara da infludneia dreta do impressions: ‘mo, tio era na 1* Sonate fantasia e na estrutura harmonica de zak porta 4 concepgto mela, ants bastante marcadla por pucinismos muas vezes confessades pelo proprio compost. ” ama canainin sin a partir do balé Amazonas que © nacionalisma vilslobtano val se estruturar, preocupanddo-se mals em refletir certo cllna interior, certo lor tropical, do que em transcrever freqdenclas melédicis ou ritmicas do Dopulicio brasileiro. E esse brasllerismo estara presente em obras de fa- tura totalmente diversa, como o bale Uirapuru, a Fantasia em movimentos mists, 05 Quartets, a admaitavel série dos Choras (Neves, 1981) ¢ mesmo, em certa medida a sérle das Bachianas brasikras. ‘Com relagao ao Amazonas, € interessante ver o que escreveu 0 crfice Mario de Andrade, quando de sua apresentagio em Sto Paulo sob a regen- cia do compositor: F toda uma orquestra que avanga arrastando-sepesada, quebranda sithos, desubando érvores, ¢ demubando tonalidades etatados de ‘composi. [.] Estes elementos, eas frsa8 sonores So profunda- ‘mente natureza,¢ © pouco que relia ds estéica musical amerinda ‘nto nasa pr localiza como misia indigena, Nio ¢brasieito tara- Parecem vozes sons, ruldos,baqucs extras, tata- simboles sas dos fendmenos meteoraligcos, dos acidentes oligos e dos seres inacionais. 0 despudor barulhento da terra ‘iegem que Vila-Lobos representa, melhor nesta obra que ent nea ‘ma outa. [.] Mésica da nature, junto da qual a6" Sinfonia ou 0 Sigel (nto coma belea, esd dato, mas como agniicagin csmica) ‘nfo passam de amstras ber eeuendinhas de navurera, pr expor nas ‘trina, naturezaj comercalizada,Himpinta e vesida na cilizagio ‘rst (Andrade, 19%: 157-61), Como se vé por esse extato da critica da epoca (evidentemente nio se trata de um critico qualquer, mas do mentor iteletual do nacionalsma edo ‘modemistmo braslias), 0 p tera irs, Daf para Giante seria a afirmagio des posigio fomada, ndo necesariamente de forma mais consciente (a genlalidice cle Villa-Lobos esté muito em sua total inconscitncial), masa sfrmagio cada ver is defini e radial, que levou ese compositor a recusarformalment, i ‘em sta maturidade, toda misiea quese afastasse de tas postulds,entrando esse ro todo tipo de msi & Inclusive 0 dodeeatonismo. E interessante observar que esse petiodo seré caracterizado pela uti zagio freqdente de suporte hterérlo para as obras museais, sendo ele o a responsivel pela pr6pria unidade das composigdes, Mesmo na série dos CChnros encontraremos um rotelia descritivo mais ou menos detalhado, 1 julgar por aquilo que o compositor chamou de Estudio ténico,esttto © sicolgico (trabalho revsto ¢ mimeografado por Adhemar da Nobrega, au- xillar do compositor no Coaservatorlo Nacional de Canto Orfednico, em 12. de setembro de 1950). Mas os rotelrasIterarios contavam bem pouco, ha verdade, Se nio, como explicar a transformacio do poema sinfonico Myremis (baseado no conto mitoldgico de Raul VilacLobes, pal do com- positon) 20 balé Amazonas, © primeino passando-se nas margens de am. Ho grego dominado por um centauro e o segundo tratando de {ndios das ‘margens do rio Amazonas? Disseres, anteslormente, que Marlo de Anekade, citico responsive, aplauia com gosto a obra © a posigao estética de Villa-Lobos, Mas Mirio de Andrade era jovem ¢ aberto,além de ser ele mesmo um crlador com- pprometido com o mavimento de renovagio da linguagem. Ao contro, a critica especialzada ndo poderiasupotar a audicia deste compositor Rom ‘exemplo disso sdo os excites do temido Oscar Guanabarino, que dizi: [est artista que no pode se cernpreend do pelos miisicos pela sim les razto de que ee proprio go se compreene, no deliro de sua fe- Ire de producio, Sem meditaro que esereve, em obediéncia a qualquer principio, mesmo arbiter, as suas composes apresentam-se chelas de incoertnctas, de cacofontas muses, verdadelasaglomeraytis de notas sempre com 0 mesmo resulta, que é dara yensao de queaor- quest et afitande os Instramentes e que cada professor improvisa ‘uma malvqutce qualquer. [J © que ee quer €encher papel de misica sem saber, talver, ual sao nimeroexato das sus composes, que ‘devem ser ealculadss pelo peso do pape consumido,&s tones, sem uma Gini pagina destinada a sir do tubithzo da vulgaridade.[] Em regis as sas composigbes no tém ners cabeca nem pé, sio amontoa ths de nas que chocalham cinalhamente como se toes os sis ‘ts orquesta, atacados de loucua,tocassem pela primelra ver aqueles Jnsrumentos, que se tansformam em mos doida, em gus, besos ‘ltdos(cltado por Marl, 1948: 404, nota 14). Seria importante tentar delineae a maneira como Villa-Lobos compre- cendla @ nacionalismo « a composigao musical, aqullo que serve de base o eect oi, ‘para sua enorme e forte produclo. De fato, 0 aparecimento desse com ppositor no Brasil da inicio do sécula XX, nBo pode se explicado facilmen- ‘e, pols que ndo havia uma cultura © uma tradig4o que o levassem aos resultados a que ele chegou, uma vez que os compositores desse periodo «stavam todos eles presos a um romantismo nada voltade para 2s atdé- «as curopelas dos dltimos anos, Isso explica por que Mario de Andrade disse ao posta Manuel Handetra que achava VillicLobos mais genial do ‘que Stravinsky: “A obra do russo era genial, mas apoiava-se numa cultura Jimenss, ao passo que Villa achava tudo por intulcao e suas solugdes erat verdaditos golpes de génio" (Museu Villa-Lobos, 1960: 82). Para Villa-Lobos, o primero nacionalismo brasilelra, aque de Tiere, de Lewy, de Nepormuceno ou de Brage, era esencalmente diferente de saa ‘conceptio, falsificando as carseteristicas nacionals por desejo de manter 2s formas e as estruturasimpostas pela tradigao européla;"[.] eram Line das bonecas de biscuit, bar chines, celuldde ow ce massa, com olhares ‘teamos de brasilienses, mas multo bem-vestidas & manera ¢ costumes €s- trangeltos” (Presenga de Vlla-Lobus, vo. $, 1970: 116), Isso-colncide adimiravelmente com as observagbes de Maio de Andrade sobre a necessidade de manter as caracterstcas intrinsecas dos temas nnacionais tomados como ponto de partida para a composistc. Mas que ttatamento dar a0 material temético popular ou follénica? Parece-me que € preciso simplesmenteassizilrofollor,articui-o lentsmente com seu proprio idioma, ¢ nto resitutte em sua forma, coilizada seno quando cle se apresente naturalmente sob a pena com a espontancidade de uma déia banal Beau, 1967: 90), Tal declaragio de principio explica outra definigto do compositor (0 folclore sou eu". De fato, A meclida que ele assimila ofolclore, 8 me ida que ofolclore de sua terra faz parte de se idionsa pessoal e Ihe aflui com a slmplicdade de qualquer outs idéia, o compositor passa a ser mals ‘do que um reposit6rio do folelore; toma se a fonte de algo que guarda as ‘aractersticasfandamentais da crlagao popular. ‘Mas sera precipitado afirmar que a obra de Villa-Lobos & toda ela cons ‘uida dentro desse principio. Enquanto em slgumas composigdes 0 ca rter nacional ¢ obtido por essa assintlagao dos elementos essenclals da mistea foll6rica, que nfo ¢ diretamente citada, em outias enconta-se rmamen a 6 aproveitamento literal ou deformado (niio em sentido peforativo, mas como uma visio peseoal de temas mel6dicos ou ritmicos a mica tipica brasileira, Desse moxlo, pode-se dizer que o folelore brasileiro, assim como 1 misica popular usbana, esta sempre presente na obra de Villa-Lobas, {que usa esse material como um verdadelto criador,e no como um folelo- vista, A nespeito das influtneias do folcioe brasileito sobre a sua mmisic, Villa-Lobos disse: ‘io as nago nema nsinea as neguel. Mas rejelto que me queiran catae logar coms foclrista, abil na esilizgfo da mesic naiva bras ‘Muitas de minhas obras ansformam em mica culta 0 espitito do ‘meu povo ea alma da minha raga, lasimam a sensagto de suas danas ‘ede suascangoes, de seus mos elendas(Presanade Vlo-Lobes, vol. 3, 19684: 182). im outra ocasiao, Villa-Lobos se explicou: CCenameate, et nio use 0 folelore como & matora das vulgatzaores a arte popular, quando eles destoem cantos que anotaram com as com ‘vengbes di harmonia tradicional Nao & sf no Chitelet que se véem rls negros de catoa ede kiva rancas(ctado por Bealls, 1967: 89.90), £ assim que, partinda do rico folelore de seu pas, articulando-o 8 sua linguagem pessoal, la mesma fortemente comprometida com o antiaca- ddemismo dos vanguazdistas dos primeiros anos do século, Villa-Lobos ex: prime-se como wm dos mais audactosos Inovadores da criago musical de tent, coimcidinde em suas pesquisaso som antes de tudo ~com figuras dda dimensio de Varése, que fo, als, grande amigo sev 1 € desse compromisso profande com 0 pove e com a cultura de seu pis de sua firme canvicgRo a funclonalidade da obra de arte que nas- ‘ett a misica de Via-Lobos. 0 povo brasileiro esté no inicio eno fim da taxlela;€ dele que vern a matéla-prim, é ele © motivo de inspirasdo, & a tle quese desting produto termina 4/6 pov gro fan, orga de tin costs bel nobes. nase | datos mis © qv Gunn seni s nfo xp ms dos se mers de um povo express por wn inv’? © compositor go { por, du ambit Pcie ita vo 41968: 10 1, por mas cosmopaita que see, mais do que nada a expresso de um “ avn comes nanan € da forca da tera, da rac, do sentimento populas, do meio am Diente que deve brotar uma arte genuine vital (73). ‘Hi nas primeimas grandes obras da época do Amazonas, Villa-Lobos tra- sou as linhas gerais que ele deveria seguir por mals de cingGenta anos de intensa atividade criadora: 0 emprego de temitiea de origem popular € folclorca, a criagio de clima sonoro que lembra a musica do pavo, a Incesante busca de novos recussos téenicos € exprestivos, com a recusa radical de todas as f6rmulas (inclusive aquelas encontradas por ele mes. ‘mo), tudo isso formando uma Hnguagem fortemente pessoal. 0 empre- 40 de tas elementos e a iberdade que © compositor se concedta em sua Imanipulacao deveriam leviclo a resultados sonoros coincidentes com ‘nova mdsice di €poca, & politonalidade e mesmo a atonalidade, Elmpor- tante dizer que, embora Villa-Lobos se tvesseligado depois a grupos de Jovens compositores europeus, tas resultados ji tinham sido aleangados, Inavendo mais coincidéncia de que inluéncia, De fat, a vagueza ritmica de algumas de suas obra, as futuagdes harmdnicas, as estruturas pollfO- nleas © os achados instrumentals procedem dlietamente da misica pop Jar brasileira, que o compositor conlecia bem por vivéncia de musico de lonquestra de sao e participante de conjuntos de chotos. Villa-Lobos no cca homem de seguir modas e de deixar se marcar por tendéncias doml- nantes, Ele sempre bustou o scu proprio camino, tentando a sintese que dleveria delxi-lo em posicto prviegada em face de muitos dos compost. toes do século XX. 1 desse modo que, logo que se liberta ds inAuénets do impressions mo da primeira fase, Villa-Lobos se caracterlzar pela recusa das {Gems consagradas e dos processes céssleos de criagio, pela reaglo contra os aici, que, Ievando & liberacio do tonallsmo, constrangiam demas 0 compositor (ele jamais aceitou o sistema dodecafGnico) e difcultavam o contato com 0 povo (pa cle, a mista experimental destinava-se& elite, © que era a negagio de seu desejo de popularzagio da arte erudita), Sua iisica terd a amplidso melédica ¢ & forga ritmica da mdsica popular, Nota-se em Villa-Lobos, pois, uma postueacilativa bem diferente daquela dda maiorta dos compositores da época; enquanto muitos outros patirdo Ale Adéias preconcebidas, de estruturas predeterminadas, em Villa-Lobos, como bem notou Maree! Beaufils, “© mundo sonore preceders a busca dos erences as rmelos Este mundo sonore particular, que n8o a tipica miisca brasileira do modo em que €assimilada pelo compositor, condicionara a formagao as lingvagens stilizadas por Villa-Lobos, personalizando-as. A linguagem harmonica de Villa-Lobos seré de extrema riquez, ainda {que ralizada com reearsos bastante simples: superpasigao de tons e mo- dos diferentes, utilizagao de blocos sonoros Independentes e no expil- cits funcionalmente, profusto de apojaturas ¢ retardos ndo resolvidos ce emptego sistematico de acordes dissonantes (Stina, nona, décima pri smeira e décima teeta). ‘No plano orquestal, destacam-se contrastes entre texturas de grande densidade ¢ episodios concertantes, chogues politonals entre diferentes halpes, duplicagtise triptcagdes de temas em registrose times diferen- tes, 0 uso de ssa! como enriquecimento da massa sonora, a exigénecla de vittuosismo instrumental, o uso da You com fungl0 instrumental e 0 lemprego frequente de instruments vernéculos brasletos, assim come ‘a assimllagdo a orquestea de tnsttumentos de uso pouco cortente, Sob © plano formal, @ insisténcla do estilo raps6dico € marcante. Villa-Lobos, {que jamais foi um cinzeladot, ndo inha conigbes de sustentar nas gran- les obras @ pura estruturagao clissica. Para ele, a forma € simplesmente *a conseqiéncia da necessidade de repouso relativo da imaginaco, mas runcata repatigdosimétrica das dedusdes clisscas", conforme anotou Su: ‘anne Demarquez em suas conversas com o mest (Révue Museae, vol. X, 1929; 21), Por iss0 mesino, x6 pode chegat a compreender a estruturagio formal desse compositor quem acetaarelatividade do principlos fotmats da tradiggo © descobre 0 que foi tio bem definido por Marcel Beaufis: ama forms, els 0 que se mantém" (Beaufls, 1967: 157). em sintese, pade-se dizer que o trago caracteristco da vida artista do compositor £0 inconformismo, 0 que o aproxima do espirito modernista dlo primetro quarto do sécalo XX, respondendo plenamente aos anseios {do Movimento Modernlsta bralieiro, Por isso mesmo, Villa-Lobos foi 0 ‘compositor ofcal da Semana de Arte Modema de 1922, tomando-se uma ‘espécle de modelo do novo estilo e enteando na cadeia de interinluéncla _que ligarlatotos 0s bons poets, escrtores, pintores escultorese misicos; ‘coma forga da juventude, eles propunham tuma total revisto de valores & a crlagto de una arte que fosse, a um s6 tempo, moderna ebrasilera 2 © Movimento Modernista A criagao artistica brasileira das duas primeiras décadas do seul XX re presenta a lenta preparacao para a grande revolugao da Semana de Arte ‘Modema de 1922, movimento que abalou profundamente a vida cultural de Sio Paulo e que, pouco a pouco, atinglu todo o pais, levatando um protesto contza o academisme reinante, bem como pregando a moderi- zagio das linguagens artisticas e a necessidade de Ihes dtr cariter essen- cialmente nacional (© Movimento Modetnista brasileiro nasceu da conjugagio de multos fatores, dos quas 0 eterno da Europa de Oswald de Andrade (totalmente ‘conuistado pelo fututismo),o langamento da pintora Anita Malfati eda cscultor Vietor Brecheret, ¢ 0 aparecimento de Mario de Andrade si 03 ‘mais importantes. Completando esse quadro,ofalecimentode muitosdos srandes momes da literatura romantica brasleita possibiltaria a eclosto de tal movimento litetrio de renovagio, de enorme Influtncia sobre to- das a5 manifestagdes artstcas. De fato, por essa época, Machada de Assis (1839-1008) ¢ Fucides da Cunha (1866-1909) js haviam desaparecido, e- _guindosse outros nomes da velha escola, como Raimundo Carzela (1859- 1911), Olavo Bilae (1865-1918), Alphonsus de Guimardes (1870-1921) e, Finalmente, Rul Baxbosa (1849-1023). fsses e outeos ome: gloriosos da literatura nacional eram os pllars da literatura tradicional e mereciam 0 reconhecimento da critica & do piblico. Ae lado dele, giravam dezenas de escltores menores, igualmente deslcaclos A manutengso dis velhas formas, 0s qual faziam nome pela filagso a escolas consagradas ”

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