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Andrews University

Digital Commons @ Andrews University

Professional Dissertations DMin Graduate Research

2021

Elaboração de um Manual Filosófico para Editores da Casa


Publicadora Brasileira
Wellington Vedovello Barbosa
Andrews University

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Barbosa, Wellington Vedovello, "Elaboração de um Manual Filosófico para Editores da Casa Publicadora
Brasileira" (2021). Professional Dissertations DMin. 798.

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ABSTRACT

DEVELOPMENT OF A PHILOSOPHICAL MANUAL FOR

EDITORS OF THE BRAZILIAN PUBLISHING HOUSE

by

Wellington Vedovello Barbosa

Adviser: Marcos De Benedicto


ABSTRACT OF GRADUATE STUDENT RESEARCH

Doctor of Ministry Professional Dissertation

Andrews University

Seventh-day Adventist Theological Seminary

Title: DEVELOPMENT OF A PHILOSOPHICAL MANUAL FOR


EDITORS OF THE BRAZILIAN PUBLISHING HOUSE

Name of researcher: Wellington Vedovello Barbosa

Name and degree of faculty adviser: Marcos De Benedicto, DMin

Date completed: April 2021

Problem

The Brazilian Publishing House (CPB) is one of 60 publishing companies that

belong to the Seventh-day Adventist Church. With 120 years of history, CPB is dedicated

to providing literature in accordance to the distinctive mission of the Seventh-day

Adventist Church. Consequently, the publishing house expanded in different directions in

order to feed the church and produce devotional, theological, and evangelistic materials

and textbooks. Committed to publish material with not only technical quality but above

all doctrinal fidelity, the institution has continuously invested in procedures and

guidelines that guarantee the theological integrity of its products.

Committees responsible for evaluating materials and choosing book titles and

covers have, for years, relied on principles that were culturally established and transmitted
loosely in instructive materials such as books and textbooks distributed among different

publishing houses. Despite being one of the largest publishing houses of the Seventh-day

Adventist Church, CPB lacked a specific philosophical manual. Faced with this need, and

considering the complexity of the work undertaken by the publishing house, it is the

purpose of this dissertation to answer, in theoretical and practical ways, the following

question: How can a philosophical manual help to guide the editorial production of CPB?

Methodology

This dissertation followed the steps proposed by the action research methodology,

a concept based on cyclical improvement, in which action and research work

simultaneously. In this case, this process was developed in three phases, with two stages

each.

In the initial phase, observation and analysis allowed the research problem to be

defined so that the investigation could proceed based on correct assumptions. In the

developmental phase, comprising the research and writing stages, the manual was

structured and written on a consistent theological foundation and with the advice and

guidance of experienced professionals who enriched the elaboration of the document.

Finally, in the evaluation phase, which involved internal and external stages, the manual

was analyzed by 14 professionals of different backgrounds, allowing the suggestions to

shape the document so as to benefit the entire editorial group and reflect a larger and the

more thorough perspective of the philosophical issues that permeate Seventh-day Adventist

editorial production.
Results

The evaluators appreciated the manual, highlighting as essential characteristics its

clarity, objectivity, concision, good theoretical foundation, structure, relevance, biblical and

denominational alignment, and convergence with daily editorial work. In addition, they

acknowledged the relevance of the material to promote reflection, growth, transformation,

agility, and unity in editorial practices. Some stressed the role of the manual as a tool to

shape editorial production according to the biblical and Adventist worldview. Others

appreciated the pioneering initiative and highlighted the need for training the editorial

group based on the contents of this manual. Suggestions were also made for the use of the

material by other Seventh-day Adventist publishing houses and media companies.

Conclusion

Our study demonstrated that the philosophical manual can be an important tool for

editorial processes that strive to be aligned with the mission of CPB. The positive

assessment from the evaluators indicates that its content is relevant, contextualized, and

applicable to daily editorial work. Considering the scarcity of studies on Adventist editorial

processes, we recommend further studies that focus on aspects such as the role of editors in

the development of Christian and Adventist literature, the use of literary styles in Scripture

and its implications for the establishment of contemporary editorial principles, and the need

to formulate manuals for other areas of Seventh-day Adventist communication.


RESUMO

ELABORAÇÃO DE UM MANUAL FILOSÓFICO PARA

EDITORES DA CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

por

Wellington Vedovello Barbosa

Orientador: Marcos De Benedicto


RESUMO DA TESE DOUTORAL

Doutor em Ministério

Universidade Andrews

Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia

TÍTULO: ELABORAÇÃO DE UM MANUAL FILOSÓFICO PARA EDITORES


DA CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Nome do pesquisador: Wellington Vedovello Barbosa

Nome e grau acadêmico do orientador: Marcos De Benedicto, DMin

Data de conclusão: Abril de 2021

Problema

A Casa Publicadora Brasileira (CPB) é uma das 60 editoras pertencentes à Igreja

Adventista do Sétimo Dia. Com 120 anos de história, a CPB tem se dedicado a prover

literatura alinhada à missão distintiva do adventismo. Essa motivação tem feito com que a

editora avance em diferentes áreas a fim de nutrir a igreja e produzir materiais de cunho

devocional, teológico, didático e evangelístico. Comprometida com a qualidade técnica,

mas, sobretudo, com a fidelidade doutrinária, a instituição tem investido continuamente

em procedimentos e orientações que garantam ao máximo a integridade teológica de sua

produção.
Durante anos, as comissões responsáveis pela avaliação de materiais, elaboração

de títulos e escolha de capas trabalharam com base em princípios que foram estabelecidos

culturalmente e transmitidos difusamente, por meio de materiais de orientação

segmentados entre algumas editorias, como a de livros denominacionais e de didáticos.

Apesar de ser uma das maiores editoras da Igreja Adventista no mundo, ela não dispunha

de um manual filosófico específico. Diante da necessidade constatada e da complexidade

do trabalho realizado na editora, esta tese teve o propósito de responder, em nível teórico e

prático, à seguinte pergunta: De que maneira um manual filosófico pode ajudar a nortear a

produção editorial da CPB?

Metodologia

Esta tese seguiu os passos propostos pelo método de pesquisa-ação, um conceito de

aprimoramento cíclico, no qual ação e investigação caminham paralelamente. Neste caso,

esse processo foi desenvolvido em três fases, de duas etapas cada uma. Na fase inicial, as

etapas de observação e análise permitiram que o problema de pesquisa fosse bem

delineado, a fim de que a investigação pudesse transcorrer a partir de pressupostos corretos.

Já na fase de desenvolvimento, composta pelas etapas de pesquisa e redação, o

manual foi estruturado e redigido com a segurança de contar com uma fundamentação

teológica consistente e com o conselho e a orientação de profissionais experientes que

enriqueceram a elaboração do documento.

Por fim, na fase de avaliação, que envolveu as etapas interna e externa, o manual foi

analisado por 14 pessoas, a partir de perspectivas distintas, permitindo que houvesse ainda

sugestões para que o documento a ser disponibilizado a todo o grupo de editores expresse
uma visão ampla e embasada das questões filosóficas que permeiam a produção editorial

adventista.

Resultados

Os avaliadores apreciaram o manual, destacando como características essenciais:

clareza, objetividade, concisão, relevância, cuidadosa fundamentação teórica, boa

estruturação, alinhamento bíblico e denominacional e convergência com o trabalho editorial

cotidiano. Além disso, reconheceram a importância do material para promover reflexão,

crescimento, transformação, celeridade e unidade na prática editorial; salientaram o papel

do manual como ferramenta para moldar a produção editorial conforme os contornos da

cosmovisão bíblico-adventista; lembraram do pioneirismo da iniciativa; destacaram a

necessidade de capacitar os envolvidos com a produção editorial com base no conteúdo do

manual; e sugeriram a utilização do material por outras editoras ou empresas de

comunicação da Igreja Adventista.

Conclusões

A pesquisa demonstrou que o manual filosófico pode ser um recurso importante no

processo de produção de literatura alinhada à missão institucional da CPB. A percepção

positiva dos avaliadores indica que seu conteúdo é relevante, contextualizado e aplicável no

cotidiano profissional. Em virtude dos poucos materiais escritos sobre o trabalho editorial,

recomenda-se a produção de pesquisas que analisem outros aspectos referentes ao papel dos

editores no desenvolvimento da literatura cristã e adventista, o estudo dos estilos literários

usados nas Escrituras e suas implicações para a formulação de princípios editoriais

contemporâneos e a elaboração de manuais para outras áreas da comunicação adventista.


Universidade Andrews

Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia

ELABORAÇÃO DE UM MANUAL FILOSÓFICO PARA

EDITORES DA CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Tese

apresentada em cumprimento parcial

dos requisitos para o grau de

Doutor em Ministério

por

Wellington Vedovello Barbosa

Abril de 2021
© Copyright de Wellington Vedovello Barbosa, 2021

Todos os direitos reservados


ELABORAÇÃO DE UM MANUAL FILOSÓFICO PARA

EDITORES DA CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Tese
apresentada em cumprimento parcial
dos requisitos para o grau de
Doutor em Ministério

por

Wellington Vedovello Barbosa

COMISSÃO DE APROVAÇÃO

_____________________________ __________________________________
Orientador, Diretora do Doutorado em Ministério,
Marcos De Benedicto Hyveth Williams

_____________________________ __________________________________
Ricardo Norton Decano, Seminário Teológico Adventista
do Sétimo Dia
Jiri Moskala

_____________________________ __________________________________
Wagner Kuhn Data de aprovação
DEDICAÇÃO

A Deus, doador, mantenedor e salvador de minha vida.

À Fernanda, minha esposa, pelo companheirismo e amor genuíno


que tem dedicado a mim em nossos 18 anos de namoro.

À Helena, nossa filha, por ser uma expressão tangível do amor de Deus por nós.

Aos meus pais, Ronaldo e Sirlei, por sempre terem estimulado


e apoiado meu crescimento intelectual.

iii
ÍNDICE

LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................................... vii

MANIFESTAÇÕES DE APREÇO ................................................................................. viii

Capítulo

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

Declaração do problema............................................................................. 2
Objetivo ...................................................................................................... 3
Justificativa ................................................................................................. 3
Descrição .................................................................................................... 4
Delimitações ............................................................................................... 5

2. FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS PARA A ELABORAÇÃO


DE UM MANUAL FILOSÓFICO ............................................................ 7

Ordens divinas e produção literária ........................................................... 8


Textos históricos ................................................................................. 10
Textos éticos e normativos .............................................................. 14
Textos proféticos ............................................................................. 19
Um conjunto singular ...................................................................... 25
Princípios editoriais nas Escrituras ................................................. 29
Cosmovisão bíblica .................................................................................... 31
“Quem sou eu?” .................................................................................. 33
“Onde estou?” ................................................................................. 34
“O que está errado?” ....................................................................... 36
“Qual é o remédio?” ........................................................................ 37
“Que horas são?” ............................................................................. 40
Critérios editoriais nos escritos de Ellen White......................................... 43
Orientações gerais ............................................................................... 45
Linguagem ................................................................................... 45
Abordagem .................................................................................. 46

iv
Gêneros textuais .............................................................................. 49
O que não publicar ................................................................... 50
Debates adventistas ..................................................................... 51
O que publicar ............................................................................. 57
Uso de ilustrações ............................................................................... 62
Síntese ...................................................................................................... 65

3. MANUAL FILOSÓFICO PARA EDITORAS NA LITERATURA


CONTEMPORÂNEA ................................................................................ 68

Análise dos manuais ................................................................................... 69


British Broadcasting Corporation ....................................................... 69
El País .................................................................................................. 72
Empresa Brasil de Comunicação........................................................ 74
Grupo Globo ....................................................................................... 77
Bethany House ................................................................................ 79
Elementos identificados .................................................................. 82
Cosmovisão ................................................................................................ 83
Conceito .............................................................................................. 84
Cosmovisão adventista ....................................................................... 88
Missão editorial .......................................................................................... 91
Conceito .............................................................................................. 92
Missão editorial adventista ................................................................. 94
Valores editoriais ........................................................................................ 97
Conceito .............................................................................................. 97
Valores editoriais adventistas ............................................................. 99
Práticas .................................................................................................. 100
Síntese ...................................................................................................... 100

4. ELABORAÇÃO DO MANUAL FILOSÓFICO ............................................. 102

Metodologia de pesquisa ............................................................................ 102


A necessidade de um manual filosófico .................................................... 103
Fase inicial .................................................................................................. 106
Etapa de observação ........................................................................ 106
Etapa de reflexão ............................................................................. 111
Fase de desenvolvimento........................................................................ 112
Etapa de pesquisa ................................................................................ 113
Etapa de redação ............................................................................. 115
Fase de avaliação .................................................................................... 117
Etapa de avaliação interna ............................................................... 117
Etapa de avaliação externa .............................................................. 118
Síntese .................................................................................................. 118

v
5. AVALIAÇÃO DO MANUAL FILOSÓFICO .............................................. 120

Perfil dos avaliadores ................................................................................. 121


“Apresentação” e “A importância das publicações adventistas” .............. 126
Descrição ............................................................................................. 126
Análise das respostas....................................................................... 130
“Visão e missão editorial” ...................................................................... 131
Descrição ......................................................................................... 132
Análise das respostas....................................................................... 133
“Valores” ................................................................................................ 134
Descrição ......................................................................................... 134
Análise das respostas .......................................................................... 136
“Cosmovisão” ............................................................................................. 136
Descrição ............................................................................................. 137
Análise das respostas .......................................................................... 139
“Verbetes” .................................................................................................. 140
Descrição ............................................................................................. 140
Análise das respostas .......................................................................... 145
“Avaliação geral” ....................................................................................... 146
Descrição ............................................................................................. 146
Análise das respostas .......................................................................... 149
Síntese ...................................................................................................... 151

6. RESUMO, CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................... 153

Resumo ...................................................................................................... 153


Conclusões .................................................................................................. 159
Transformação pessoal ............................................................................... 159
Recomendações .......................................................................................... 160

Apêndice

A. CARTA DE APROVAÇÃO DO IRB .............................................................. 163

B. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..................... 164

C. MANUAL FILOSÓFICO ................................................................................. 166

D. QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO.............................................................. 302

LISTA DE REFERÊNCIAS ............................................................................................ 306

CURRICULUM VITAE .................................................................................................. 319

vi
LISTA DE GRÁFICOS

1. Atividade profissional ........................................................................................ 121

2. Tempo de trabalho ............................................................................................. 123

3. Formação acadêmica ......................................................................................... 124

vii
MANIFESTAÇÕES DE APREÇO

Aos administradores da Casa Publicadora Brasileira, pastor José Carlos de Lima,


pastor Edson Erthal de Medeiros (2014-2015) e o senhor Uilson Garcia,
que se dispuseram a investir em meu desenvolvimento acadêmico,
apoiar este projeto e a custeá-lo integralmente.

Ao meu orientador, doutor Marcos De Benedicto, pastor, amigo,


líder e conselheiro generoso, pela maneira interessada com
que se dedicou ao processo de orientação.

Ao doutor Kleber Gonçalves, pela ajuda inestimável, sem a qual


o ingresso no doutorado seria impossível.

Ao doutor Ricardo Norton e aos demais professores do Programa de Doutorado


em Ministério da Universidade Andrews, por transmitirem não somente
conteúdo acadêmico, mas, sobretudo, conhecimento
teológico profundo e espiritual.

Aos membros da comissão do manual filosófico e aos avaliadores do material,


por todas as contribuições que deram a fim de que o conteúdo pudesse
ser útil e relevante ao grupo editorial.

Aos amigos de doutorado, pela amizade e generosidade ao


compartilhar experiências que enriqueceram minha
visão ministerial.

viii
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

A Casa Publicadora Brasileira (CPB) é uma das 60 editoras pertencentes à Igreja

Adventista do Sétimo Dia. Fundada no Rio de Janeiro em 1900, foi transferida para

Taquari, RS, em 1904; Santo André, SP, em 1907; e finalmente para Tatuí, SP, em 1985.

Fiel à sua herança denominacional, a CPB tem se dedicado a prover literatura alinhada à

missão distintiva do adventismo. Essa motivação tem feito com que a editora avance em

diferentes áreas a fim de nutrir a igreja e produzir materiais de cunho devocional,

teológico, didático e evangelístico.

Com o intuito de suprir diferentes necessidades de mercado, a Gerência de

Redação é responsável por diversas editorias, incluindo livros denominacionais

(meditações diárias, obras de referência teológica, literatura devocional, infantil e

infantojuvenil), didáticos (do ensino infantil ao ensino médio), periódicos (lições de

Escola Sabatina e as revistas Adventista, Ancião, Ministério, Nosso Amiguinho, Vida e

Saúde e Conexão, entre outras), obras de Ellen White e livros para a colportagem.

O número de áreas e o tamanho da equipe editorial, que atualmente é de 40

pessoas, indicam a grande quantidade de produtos que saem anualmente da CPB.

Comprometida com a qualidade técnica, mas, sobretudo, com a fidelidade doutrinária, a

1
instituição tem investido continuamente em procedimentos e orientações que garantem ao

máximo a integridade teológica de sua produção.

Para que isso ocorra, uma série de elementos é analisada em cada parte do processo.

Por exemplo, qualidade do conteúdo, estilo literário, conformidade teológica, pertinência e

tipo de ilustração utilizado interna ou externamente passam pelo crivo ponderado, sério e

meticuloso da equipe editorial. Durante anos, as comissões responsáveis pela avaliação de

materiais, elaboração de títulos e escolha de capas têm trabalhado com base em princípios

que foram estabelecidos culturalmente e transmitidos difusamente, por meio de materiais

de orientação utilizados por algumas editorias, como a de livros denominacionais e de

didáticos. Entretanto, a partir de 2014, a Gerência de Redação iniciou o processo de criação

de um Manual de Redação, que visa normatizar os procedimentos para todas as editorias.

Além dos aspectos gramaticais e estilísticos, o material também tem a intenção de orientar

filosoficamente a produção editorial. Foi nesse contexto que surgiu a ideia de contribuir

com a elaboração do Manual de Redação, desenvolvendo uma seção designada, por ora, de

manual filosófico.

Declaração do problema

Ao longo do tempo, a CPB preparou alguns documentos com diretrizes para o

trabalho editorial, mas, na prática, eles se mostraram incompletos e insuficientes. Apesar de

ser uma das maiores editoras da Igreja Adventista no mundo, ela não dispunha de um

manual filosófico específico. Diante da necessidade constatada e da complexidade do

trabalho realizado na editora, esta tese teve o propósito de responder, em nível teórico e

2
prático, à seguinte pergunta: De que maneira um manual filosófico pode ajudar a nortear a

produção editorial da CPB?

Objetivo

O objetivo deste projeto foi elaborar e avaliar uma proposta de manual filosófico

para os editores da CPB. A partir dos instrumentos fornecidos pelo método de pesquisa-

ação, uma comissão foi formada para auxiliar no processo de elaboração do manual

filosófico e, na sequência, um grupo de avaliadores internos e externos foi escolhido a fim

de analisar qualitativamente o material e sua utilidade para a produção de livros e revistas.

Justificativa

Ao longo dos anos, a produção de livros e revistas da CPB tem sido realizada com

competência e compromisso denominacional. Contudo, existe uma série de elementos

relacionados ao processo editorial que promovem debates em função de sua natureza. Para

quem não está habituado com as minúcias desse processo, talvez a problemática pareça

desinteressante, mas as perguntas a seguir podem ajudar a compreender os dilemas que

muitas vezes cercam o cotidiano de quem trabalha como editor em uma casa publicadora

denominacional: É oportuno publicar livros de ficção? Se sim, quais são os limites para o

desenvolvimento de uma obra ficcional? É correto envolver personagens bíblicos em livros

desse gênero? Quais critérios devem ser utilizados para se aprovar uma obra que aborda

questões teológicas sensíveis para a Igreja Adventista? Podemos nos apropriar de imagens,

símbolos ou alusões da cultura popular ao escrever ou criar ilustrações/imagens? Nos livros

3
didáticos, como conciliar as exigências da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) com

a visão adventista sobre assuntos tratados por disciplinas como biologia, sociologia,

história e filosofia, entre outras?

A diversidade de formações e opiniões das pessoas envolvidas nesse processo,

dependendo da complexidade do material, gera dúvidas acerca da pertinência ou não de sua

publicação. Inevitavelmente, em mais de um século de existência, a editora lançou livros

ou revistas cujo conteúdo provocou questionamentos. Em algumas situações, o tempo se

encarregou de arrefecer as discussões; mas, em outras, a decisão administrativa foi a

retirada do produto questionado de circulação, algo que implicou prejuízo financeiro e

danos à reputação da instituição.

Assim, diante desse quadro sensível e complexo, justificou-se a elaboração de um

manual filosófico para minimizar as dúvidas quanto ao que deve ser publicado e maximizar

a certeza de que o resultado final corresponde à linha editorial da CPB e à visão teológica

da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Descrição

Esta tese está organizada em seis capítulos. Neste capítulo introdutório

encontram-se os itens que balizaram o projeto acadêmico: breve descrição do contexto

em que o trabalho foi realizado, definição do problema, objetivo, justificativa, descrição

da tese e delimitação da pesquisa.

O capítulo 2 apresenta os fundamentos bíblico-teológicos para a elaboração do

manual filosófico. Considerando elementos da Bíblia como literatura, passagens bíblicas

4
alusivas à produção de textos religiosos e os escritos de Ellen White foi possível extrair

princípios norteadores para serem aplicados na elaboração do manual filosófico.

Já o capítulo 3 traz uma revisão da literatura contemporânea aplicada à produção

do manual filosófico. Uma vez que não existem pesquisas que abordem especificamente

o tema, o caminho utilizado foi analisar alguns manuais editoriais disponíveis a fim de

encontrar elementos comuns em sua estrutura. A partir dessa descoberta, cada item foi

estudado à luz de publicações seculares e adventistas.

No capítulo 4 está descrito o processo de elaboração do manual filosófico, que

consistiu em três fases, de duas etapas cada uma: inicial (observação e reflexão),

desenvolvimento (pesquisa e redação) e avaliação (interna e externa).

Por sua vez, o capítulo 5 é dedicado à análise das respostas do questionário de

avaliação. A partir das respostas de 14 avaliadores, foi possível identificar os pontos

negativos e positivos do manual, bem como compreender quais são seus diferenciais e

identificar lacunas importantes.

Finalmente, o capítulo 6 apresenta um sumário da tese, as conclusões a que o

pesquisador chegou e também possíveis objetos de estudos futuros relacionados ao

problema desta investigação.

Delimitações

Este estudo se concentrou na produção de um manual filosófico para o uso dos

editores da CPB, considerando as características da editora e de seus clientes no Brasil.

Evidentemente, isso não significa que seus resultados não possam ser utilizados em outros

contextos; entretanto, sua aplicação foi delimitada à sua realidade primária. Além disso, o

5
trabalho se limitou a apresentar parâmetros éticos, filosóficos e teológicos para a atividade

editorial, sem entrar em áreas afins. Questões relacionadas a estilos literários, normas de

redação e regras de documentação, por exemplo, estão além do escopo da pesquisa.

6
CAPÍTULO 2

FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS PARA A


ELABORAÇÃO DE UM MANUAL FILOSÓFICO

A tarefa de sistematizar princípios bíblicos para nortear a elaboração de um

manual editorial filosófico não é simples, pois a Bíblia não trata de critérios específicos

para a produção de literatura. Durante o processo de pesquisa, algumas alternativas foram

consideradas para o cumprimento dessa tarefa.

Uma possibilidade seria analisar os estilos literários usados nas Escrituras para

estabelecer critérios editoriais contemporâneos. A dificuldade, no entanto, encontra-se na

extensão de um trabalho dessa envergadura. A Bíblia é rica em estilos e gêneros literários

e explorar todos eles fugiria à proposta do programa doutoral.

Outra opção seria pesquisar a respeito do trabalho de escrita dos livros bíblicos. O

problema, porém, é que as Escrituras não fornecem muitas informações sobre o tema, e

parte significativa da bibliografia sobre o assunto está apoiada em fontes extrabíblicas e

suposições que, em muitos casos, são incongruentes com a perspectiva adventista.

Havia ainda a ideia de considerar o trabalho editorial pelo qual a Bíblia passou ao

longo do processo de formação canônica, mas esse caminho esbarrava nos mesmos

obstáculos encontrados na alternativa anterior.

7
Finalmente, optou-se por algo objetivo, consistente com a proposta do programa

doutoral e realizável. Em primeiro lugar, partindo do pressuposto de que Deus tencionou

que a Bíblia estivesse à disposição das pessoas, foi feita uma pesquisa à procura de ordens

expressas do Senhor para que os autores escrevessem o conteúdo inspirado.

Na sequência, considerando as Escrituras como um conjunto literário no qual seus

livros foram agregados ao longo do tempo, foi realizada uma análise com o objetivo de

identificar os fatores unificadores do conteúdo escriturístico. Nesse processo, as

considerações de Ryken (1976) se mostraram muito úteis.

Para o autor, a Bíblia se destaca como um livro singular porque, em seu processo

milenar de formação canônica, manteve a unidade de cosmovisão e teologia, autoria

nacional, assunto, propósito e alusões (p. 15). Desse modo, a avaliação do conteúdo

bíblico à luz desses elementos permitiu compreender alguns princípios editoriais

norteadores na composição das Escrituras, bem como extrair fundamentos teológicos para

a elaboração do manual editorial. Para efeito didático, o item cosmovisão foi tratado à

parte.

Por fim, admitindo a inspiração profética dos escritos de Ellen White, foi efetuado

um estudo acerca das orientações da autora quanto à produção literária adventista do

sétimo dia.

Ordens divinas e produção literária

No Pentateuco, há cinco passagens que expressam ordens divinas referentes à

produção literária para o benefício de Israel: Êx 17:14, 24:4, 34:27, Nm 33:2 e Dt 31:22.

Esses versos, embora sejam poucos, são de grande importância, uma vez que a atividade

8
literária de Moisés nos cinco primeiros livros da Bíblia serve como paradigma para os

escritos canônicos posteriores, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.

Keil e Delitzsch (1996a) destacam a singularidade dessa porção das Escrituras,

afirmando que se trata “do registro original que regulava em todos os aspectos a existência

e a vida de Israel como nação escolhida, e com a qual todas as outras profecias em Israel

estavam relacionadas” (p. 1). Nesse sentido, em diálogo com essa declaração, é possível

identificar um elemento editorial importante: a conformidade com a revelação bíblica

anterior, evidenciando, ao longo do tempo, a cosmovisão subjacente e sua teologia

resultante.

Além do Pentateuco, somente os livros proféticos mencionam ordens divinas para

que os profetas escrevessem em rolo/livro conteúdo espiritual para o povo de Israel.

Algumas delas são representativas para os propósitos desta tese, como Is 30:8, Jr 30:2 e Jr

36:2, 3.

Por sua vez, com exceção do Apocalipse, os livros do Novo Testamento não

apresentam ordens divinas explícitas para que os autores bíblicos escrevessem. No último

livro das Escrituras, contudo, são muitas as ordens apresentadas: Ap 1:11, 19, 2:1, 14:13,

19:9 e 21:5. Para os propósitos desta tese, parece ser adequado destacar os seguintes

versículos: 1:11, 19 e 21:5.

Ao analisar esses versículos, é possível dividi-los em três grandes conjuntos de

produção literária: textos históricos, éticos e normativos e proféticos.

9
Textos históricos

O primeiro texto relevante para esta seção encontra-se em Êx 17:14: “Então, disse o

Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué; porque eu hei de

riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu.” Essa é a primeira ordem

expressa do Senhor para que se fizesse um registro oficial de um fato referente à história de

Seu povo (Hannah, 1985, p. 136). O relato da vitória sobre Amaleque deveria ser escrito

“para memória num livro”, provavelmente à semelhança do costume das nações do Antigo

Oriente Médio, que registravam para a posteridade todos seus feitos notáveis (Harrison,

1969, p. 569). Nesse caso, a ordem visava assinalar “as obras maravilhosas de Deus” (Keil

e Delitzsch, 1996a, p. 373) e inspirar Josué quanto ao destino final do inimigo do povo do

Senhor. Assim, a partir dessa primeira orientação, observa-se que o propósito da narrativa

histórica é testemunhar da intervenção divina na trajetória de Seu povo e motivá-lo a

avançar com a certeza da vitória sobre o inimigo.

Também chama atenção nesse versículo que a ordem para escrever está associada

ao ato de recitar, não de ler (Mackay, 2001, p. 305). Cole (1973) salienta que, “sem dúvida,

isso corresponde aos dois grandes meios de transmissão da tradição sagrada, escrita e oral.

Também é interessante que o oral é visto aqui como dependente do documento escrito” (p.

144). Com base nessa passagem, portanto, é possível inferir que a mensagem proclamada

encontra sua fonte de autoridade no texto escrito sob inspiração. Além disso, Êx 17:14

apresenta o princípio da contextualização como elemento editorial, ao Moisés se utilizar de

uma prática contemporânea de registro histórico para narrar a trajetória do povo de Israel.

10
Isso indica que o diálogo com a cultura e o uso criterioso de suas ferramentas na produção

de literatura religiosa é algo aceitável.

A mesma prática é observada em Nm 33:2, que diz: “Escreveu Moisés as suas

saídas, caminhada após caminhada, conforme o mandado do Senhor.” Após uma longa

jornada pelo deserto, o líder dos israelitas apresentou uma lista dos acampamentos

montados desde a saída do Egito até próximo da conquista da Terra Prometida (Êx 33:3-

37). Nichol (2011) considera que esse versículo evidencia o fato de que seu autor

“mantinha um diário da jornada de Israel pelo deserto, que formou a base da lista de Nm 33

e da narrativa histórica deixada por ele” (p. 628). À semelhança de Êx 17:14, esse registro

histórico da trajetória dos israelitas rumo a Canaã visava oferecer um relato verdadeiro,

preservar a lembrança das intervenções divinas em favor de Israel e confirmar a fé do povo,

considerando a iminência da conquista da Terra Prometida (Jamieson, Fausset e Brown,

1997, p. 118). Em adição ao princípio da contextualização já mencionado, em Nm 33:2, o

cuidado e a exatidão com que Moisés narrou a história indicam outros elementos editoriais

indispensáveis: o compromisso com a verdade e a precisão do que é publicado.

Sob uma perspectiva mais abrangente, os propósitos evidentes nos relatos históricos

do Pentateuco norteiam a prática dos autores bíblicos que seguiram narrando a trajetória do

Israel de Deus ao longo dos séculos, alcançando, inclusive, a era cristã. Isso pode ser

observado nos chamados livros históricos no Antigo Testamento (Josué a Ester).

Keil e Delitzsch (1996b) destacam que os cinco livros de Moisés “lançaram os

alicerces do reino de Deus em sua forma veterotestamentária”, enquanto os livros históricos

“contêm as revelações que ajudaram a preservar e desenvolver o reino israelita de Deus,

11
desde a morte de Moisés até sua última dissolução” (p. 5). Nesse ponto, os autores abordam

o tema sob a concepção judaica, mais ampla.

Desse modo, essa seção das Escrituras apresenta a história de Israel sob a

perspectiva da aliança celebrada no Sinai (Êx 20˗24). Os relatos descritos, portanto,

revelam alguns pontos importantes: (a) ilustram que Deus está no controle da história

(Wiseman, 1993, p. 16); (b) “mostram as relações, primeiro de Deus e, depois, por meio do

Deus de Israel, com a história” (Lange et al., 2008a, p. 3); e (c) demonstram que “a bondade

ou o julgamento de Deus respondiam à condição espiritual e moral do povo em relação à

sua fidelidade à aliança mosaica” (Dockery et al., 1992, p. 188). Nesse sentido, pode-se

dizer que a história hebraica é teocrática e essencialmente teológica, e sua ênfase está mais

nos aspectos religiosos do que em detalhes militares ou políticos (Cundall e Morris, 1968,

p. 23).

Evidentemente, os relatos históricos referentes a Israel também exemplificam como

os seres humanos lidam com seus problemas, fornecendo uma fonte valiosa de lições

espirituais. Baldwin (2006) afirma que eles se prestam a ser “um comentário divinamente

revelado sobre a vida humana, no qual todos os que desejarem encontrarão sábia orientação

para a condução da própria vida” (p. 21). Por meio dessas narrativas, fica claro que as

decisões pessoais, sejam elas feitas em obediência ou desobediência à vontade de Deus,

levam a consequências inevitáveis (Constable, 1985, p. 485).

Breneman (1993) enumera as premissas que fundamentam a visão histórica do

Antigo Testamento da seguinte maneira:

12
(1) Deus é soberano; (2) a humanidade foi criada à imagem de Deus; (3) Deus criou o
Universo (ele não evoluiu sob seus próprios poderes inatos); (4) uma visão bíblica da
história envolve uma compreensão bíblica da metafísica; (5) a humanidade tornou-se
alienada de Deus; (6) existe um plano divino de salvação; (7) Deus fez uma aliança
com Seu povo; (8) Deus faz promessas e as cumpre; (9) eventos históricos
demonstram que Deus cumpre Suas promessas; (10) nem tudo o que acontece
corresponde aos desejos de Deus (no Universo estão os inimigos de Deus e as forças
malignas); (11) a natureza da ação de Deus em determinado momento está
relacionada à resposta da humanidade; e (12) a proclamação da Palavra de Deus é o
poder mais efetivo da história. (p. 56)

Por sua vez, no Novo Testamento, essa perspectiva histórica do povo de Deus é

especialmente encontrada no livro de Atos dos Apóstolos. Marshall (1980) nota que

Lucas, na composição de seus livros, foi cuidadoso ao utilizar o estilo do grego da

Septuaginta, demonstrando que, para ele, “a história da igreja apostólica era parte do

relato contínuo da obra de Deus, e que a história em si era de caráter semelhante às

Escrituras do Antigo Testamento” (p. 18).

Apesar das evidências, os eruditos bíblicos não são unânimes acerca do propósito

exato pelo qual o livro de Atos foi escrito (Larkin, 1995, “Purpose”). Gangel (1998) faz

um resumo dos possíveis objetivos do livro. Para o estudioso, Lucas pode ter elaborado

Atos com uma finalidade histórica (a narrativa da ascensão do cristianismo), biográfica

(apresentando o pano de fundo do ministério de Paulo e de sua influência na igreja),

apologética (especialmente contra o gnosticismo) ou reconciliatória (tentando harmonizar

crentes judeus e gentios) (p. 3).

Outra percepção acerca do livro inclui nessa discussão sua característica teológica.

Polhill (1992) destaca o interesse equilibrado de Lucas em ser preciso na descrição dos

detalhes históricos de sua narrativa e também nas informações teológicas (p. 56). Nesse

sentido, Patzia (1995) parece ecoar a voz de muitos eruditos que fogem do pêndulo entre

13
história e teologia para considerar o livro de Atos uma história teológica (p. 91). Essa

posição, que parece razoável, aproxima o propósito de Atos ao objetivo dos livros

históricos do Antigo Testamento, com a diferença de que o primeiro narra os primórdios

da trajetória do Israel espiritual logo após a ascensão de Jesus, enquanto o último relata a

história teológica do Israel literal.

Portanto, as convergências que existem entre as ordens divinas para que Moisés

relatasse fatos históricos de Israel, as características dos livros históricos do Antigo

Testamento e o livro de Atos, no Novo Testamento, parecem indicar que o Senhor

considera esse tipo de literatura, com suas características e implicações, relevante para a

edificação de Seu povo. Além disso, essas ordens trazem consigo alguns elementos

importantes para a produção editorial, como os princípios da contextualização, veracidade

e precisão do conteúdo publicado.

Textos éticos e normativos

A segunda classe de textos que surge a partir da ordem divina para sua escrita pode

ser chamada de textos éticos e normativos. Seguindo a cronologia bíblica, Êx 24:4 afigura-

se como a segunda referência ao trabalho literário de Moisés, “e a primeira a seu trabalho

de escrever matéria legal” (Carro, Poe e Zorzoli, 1993, p. 212). O texto diz: “Moisés

escreveu todas as palavras do Senhor e, tendo-se levantado pela manhã de madrugada,

erigiu um altar ao pé do monte e doze colunas, segundo as doze tribos de Israel.” Nessa

tarefa, o autor parece seguir a estrutura dos tratados de suserania e vassalagem do Antigo

Oriente Médio, produzindo um texto formal e detalhado com as cláusulas do concerto

(Mackay, 2001, p. 417).

14
Assim, no contexto da celebração da aliança entre o Senhor e Israel (Êx 19–23), era

importante que a lei estivesse escrita e disponível para que fosse explicada aos convertidos

estrangeiros, ensinada às crianças e aplicada com precisão pelos juízes da comunidade

israelita. Stuart (2006) salienta que “a leitura e a releitura da aliança escrita em períodos

determinados serviam para manter viva na mente do povo a base de sua vida conjunta com

o único e verdadeiro Deus” (p. 553). Longe de ser um pacto fundamentado em

“sentimentos vagos”, o concerto israelita foi expresso por meio de palavras, votos e

decisões bastante específicos (Lange et al., 2008a, p. 173). Em se tratando da busca por

princípios editoriais, essa menção, além de destacar o conteúdo ético e normativo, também

está relacionada com a contextualização, especialmente com a abordagem utilizada para

publicação, bem como com a precisão do texto disponibilizado ao público.

Ecoando o mesmo propósito, encontra-se Êx 34:27, ordem divina recebida por

Moisés no contexto da renovação da aliança (Êx 24:4, 7), rompida por ocasião da adoração

ao bezerro de ouro (Êx 32). O texto afirma: “Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas

palavras, porque, segundo o teor destas palavras, fiz aliança contigo e com Israel.”

Cole (1973) observa que, nesse caso, “haveria duas formulações da lei da aliança,

uma breve e outra discursiva, ambas igualmente ligadas a Israel como termos da aliança”

(p. 242). Nelas estavam as imposições cerimoniais e judiciais que recaíam sobre os

israelitas (Jamieson, Fausset e Brown, 1997, p. 70), reafirmando o que havia sido acordado

inicialmente. De fato, a centralidade da aliança e de seus requisitos para o povo de Deus são

subjacentes a todos os demais escritos da Bíblia. História, ética, sabedoria e profecia estão

fundamentadas nos pilares lançados pelo relato mosaico no Pentateuco. Tal centralidade

15
vista nas Escrituras não deve ser ignorada na produção de literatura cristã; ou seja, o

alinhamento com o pacto divino deve ser um princípio editorial a ser seguido por aqueles

que se dedicam a fazer das publicações um meio de proclamação do evangelho.

Em Dt 31:9, 24, encontra-se a última menção à atividade literária de Moisés, que,

no contexto, provavelmente se refira à escrita de todo o livro (Deere, 1985, p. 316). “Esta

lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da Aliança

do Senhor, e a todos os anciãos de Israel” (v. 9). A passagem indica ainda que o documento

deveria ficar sob a custódia dos sacerdotes e anciãos de Israel, que leriam seu conteúdo a

cada sete anos, por ocasião da Festa dos Tabernáculos (v. 10).

Merrill (1994), concordando com Jamieson, Fausset e Brown (1997, p. 140), sugere

que, à semelhança das culturas do Antigo Oriente Médio, ao menos duas cópias do

documento foram feitas: uma para o Senhor, que permaneceria aos cuidados dos sacerdotes,

e outra para o povo (p. 399). Em adição a essa ideia, Thompson (1974) também alude aos

tratados de suserania e vassalagem dos tempos de Moisés, que eram “alojados no santuário

do vassalo sob os cuidados dos sacerdotes e sob os olhos dos deuses” (p. 318). Para Israel, a

leitura da lei conservada íntegra nas mãos de sua liderança espiritual deveria “relembrar os

antigos israelitas acerca das obrigações da aliança e ensinar aos israelitas mais novos sobre

suas obrigações” (Gingrich, 2000, p. 43).

Como já foi dito, as reflexões e aplicações que surgem a partir dos preceitos éticos e

legais apresentados no Pentateuco podem ser vistas em detalhes nos livros posteriores. No

Antigo Testamento, especialmente a porção poética e sapiencial (Jó, Salmos, Provérbios,

Eclesiastes, Cantares), procura tocar em aspectos práticos da vida daqueles que vivem no

16
contexto da aliança, demonstrando como as cláusulas do pacto sinaítico são experimentadas

no cotidiano. Bullock (1988), partindo do pressuposto de que eles refletem essencialmente

a teologia do Pentateuco, afirma que “esses livros, em geral, não procuram transmitir

diretamente a Palavra de Deus ao homem”, “mas consideram as questões que surgem na

presença do imperativo divino” (p. 19). Com isso, o autor não está descartando a inspiração

desses livros, mas distinguindo-os dos livros proféticos, por exemplo, nos quais se

encontram orientações específicas de Deus, introduzidas pela expressão “assim diz o

Senhor”.

De fato, uma análise do conteúdo dos livros poéticos e sapienciais evidencia que

suas pressuposições teológicas são derivadas do Pentateuco. Conforme Garrett (1993)

afirma, “a aliança e a sabedoria permanecem juntas, como dois pilares da teologia do

Antigo Testamento” (p. 56). Bullock (1988) põe em perspectiva como esses livros se

relacionam com a Lei e os Profetas, ao dizer que a literatura sapiencial “baseou-se na lei,

apoiando seus princípios éticos e jurídicos, enquanto compartilhava as preocupações dos

profetas com a verdade, a justiça e a retidão” (p. 38).

Por sua vez, no Novo Testamento, uma parcela significativa de textos éticos e

normativos se encontra nas epístolas, também chamadas de cartas. Embora fossem

habituais no 1º século e tivessem uma estrutura comum (saudação, ações de graça e oração,

assunto e despedida), Paulo, especialmente, incorporou peculiaridades que fizeram com que

fossem consideradas como um gênero distinto, voltado “para comunicação da praxe

eclesiástica, instrução, exortação e união de igrejas separadas pela distância” (Myers,

1987a, p. 651).

17
As cartas geralmente tinham como propósito exortar os cristãos a viver em

conformidade com os princípios das Escrituras. Por esse motivo, eram predominantemente

parenéticas. Draper (2003), ao compará-las com as epístolas gregas, indica que Posidônio

sugeria haver três principais tipos de parêneses: “conselhos referentes a ações, exortações

relacionadas ao caráter e aos hábitos e consolação relativa a emoções ou paixões. Todos

esses estão presentes nas cartas do Novo Testamento” (p. 1027).

O conteúdo parenético era apresentado por meio de uma ampla variedade de estilos

retóricos (Powell, 2011, p. 550). É possível crer que essa diversidade emergiu da

necessidade que os autores tinham de harmonizar o assunto à linguagem correta,

abordagem efetiva e ao público-alvo. Bridge (2016, verbete Letters in the Bible) lembra que

“o propósito da comunicação determina que linguagem e quais formas convencionais serão

usadas em uma determinada carta”, e isso se aplica com propriedade aos exemplos de Paulo

e dos demais autores do Novo Testamento. Novamente, pode-se destacar o elemento

contextualização da mensagem, tanto em relação à abordagem, linguagem e gênero

literário, como um princípio editorial relevante na composição das Escrituras, bem como

para a produção literária cristã contemporânea.

As epístolas assumiram um lugar de preeminência no 1º século e, portanto, no

cânon, em virtude de seu papel como expositoras da ética e das doutrinas cristãs. Lockward

(1999) destaca o fato de que, em 2Pe 3:15, 16, o apóstolo menciona as cartas paulinas em

comparação com as Escrituras, sinalizando que já naqueles dias a igreja considerava a

correspondência apostólica como Palavra de Deus (p. 350).

18
Assim, os apóstolos superaram as diversas limitações que os impediam de estar em

todas as comunidades cristãs utilizando as cartas como recurso para ensinar os imperativos

divinos éticos e normativos ao novo Israel, não restrito à Palestina, mas espalhado em todo

mundo (Easton, 1893, verbete Epistles).

Dessa maneira, é possível concluir que a ordem divina dada a Moisés para registrar

os princípios legais e éticos de Israel ecoa nos escritos poéticos e sapienciais do Antigo

Testamento, bem como nas epístolas do Novo Testamento. Partindo do pressuposto de que

as Escrituras são inspiradas por Deus e que Ele direcionou o processo de formação do

cânon, pode-se afirmar que o Senhor pretende que Seu povo seja instruído nesses assuntos

por meio da literatura. Além disso, é possível observar que os princípios encontrados nos

textos históricos de contextualização (linguagem, abordagem e gênero), veracidade e

precisão do conteúdo se repetem nesses textos, marcando posição como algo a ser

considerado na produção editorial cristã.

Textos proféticos

Embora Moisés não tenha escrito nenhum “livro profético”, ele desempenhou esse

ofício, escreveu oráculos e anunciou a vinda de um profeta semelhante a ele mesmo (Dt

18:15-18). Alguns comentaristas, como Merrill (1994, p. 273) e Keil e Delitzsch (1996b, p.

934), entendem essa afirmação de maneira genérica, aplicada aos profetas subsequentes na

história de Israel. Nichol (2011, p. 1117), por sua vez, indicando alguns textos do Novo

Testamento, afirma ser uma referência ao próprio Cristo (Jo 6:14; 7:40; At 3:22,23).

O texto, contudo, parece suportar ambas as ideias. Lange et al. (2008b) seguem

nessa direção, ao dizer que “todos os primeiros expositores judeus aplicaram a passagem ao

19
Messias, e grande parte dos comentaristas cristãos também; eles só não fizeram dessa

interpretação seu significado exclusivo” (p. 150). Assim, apesar de Moisés não ter recebido

nenhuma ordem explícita para registrar conteúdo profético, a partir do momento que Deus

decidiu Se revelar ao profeta, isso implica Sua intenção em disseminar o conteúdo da

revelação a Seu povo. Esse raciocínio ajuda a explicar a atividade dos profetas posteriores a

Moisés que acompanharam a trajetória de Israel. Entre esses, encontram-se os autores dos

livros proféticos, que receberam ordens divinas para registrarem suas profecias.

Em Is 30:8, Deus ordena que o profeta escreva “numa tabuinha” e “num livro” uma

mensagem de repreensão ao povo de Judá por se rebelar contra a orientação divina

referente à aliança com o Egito. Diz o verso: “Vai, pois, escreve isso numa tabuinha perante

eles, escreve-o num livro, para que fique registrado para os dias vindouros, para sempre,

perpetuamente.” Nesse caso, observam-se três propósitos evidentes em relação à ordem do

Senhor: o desejo de que a mensagem fosse conhecida de todos (por meio da tabuinha), de

que houvesse também informação detalhada e verificável (por meio do livro/rolo) e, por

fim, de que este último fosse uma testemunha perene da presciência de Deus (Smith, 2007,

p. 514). Isso evidencia, conforme salienta Motyer (1999), que a Palavra de Deus é

imperecível, e “sua relevância imediata não esgota seu significado eterno” (p. 220). A partir

dessa ordem, é possível também inferir elementos importantes para a produção editorial

cristã, como a disponibilidade, publicidade e veracidade do conteúdo escrito.

Por sua vez, em Jr 30:2, a orientação é para que o profeta escreva sobre o

“programa de redenção revelado a Jeremias acerca de seu povo” (Huey, 1993, p. 261). O

texto diz: “Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que Eu

20
disse.” As profecias contidas nesta seção, composta dos capítulos 30 a 33, não se

restringem à condição de Judá como reino, mas também tratam da era messiânica (Jr 31:31-

34), conforme o Novo Testamento assegura (Hb 8:8, 12; 10:16, 17). Jeremias é levado a

usar uma linguagem alusiva aos profetas anteriores, com especial referência às mensagens

de consolação apresentadas por Isaías, “para lembrar a si mesmo e aos outros que existem

dois lados para a atividade do Senhor. Nem tudo é julgamento” (Mackay, 2004b, pp. 184,

185).

Outro texto representativo é Jr 36:2, 3. Nele, o Senhor ordena que o profeta escreva

um livro no qual estivessem “todas as palavras que te falei contra Israel, contra Judá e

contra todas as nações, desde o dia em que te falei, desde os dias de Josias até hoje [627–

605 a.C.]” (v. 2). Essa atitude demonstra o anseio divino de que o povo tivesse, tanto no

presente quanto no futuro, no exílio, a oportunidade de “ouvir Sua Palavra e voltar-se do

mal caminho de onde havia rejeitado a aliança e a Ele como Deus” (Cevallos e Zorzoli,

2010, p. 253).

Além disso, demonstra a amplitude da revelação profética, que não somente trata da

comunidade da aliança, como também alcança as outras nações. Huey (1993) nota que o

termo “contra” (ʿal) poderia ser melhor traduzido pela expressão “a respeito de”. Desse

modo, as palavras divinas “a respeito de” Israel, Judá e as demais nações não estariam

limitadas a mensagens de infortúnio, mas seriam lembretes com propósito de fazer todos os

destinatários se voltarem para Ele a fim de serem perdoados (p. 319).

A partir dos textos mencionados, observam-se alguns elementos representativos

importantes. A atividade profética tinha como propósito desafiar o povo de Israel a viver

21
em conformidade com a aliança celebrada no Sinai. “O repetido chamado dos profetas para

‘voltar’ (shub) a Deus presume uma história de compromisso da aliança entre Deus e Seu

povo” (Dockery et al., 1992, p. 375). Por isso, ao longo da história, sempre que a nação

escolhida para proclamar a mensagem de salvação se afastava dos caminhos do Senhor, Ele

enviava Seus mensageiros para “reprovar o povo por se desviar da aliança e para avisá-lo

do desastre iminente e do exílio” (Mackay, 2004a, p. 66).

Melvin (2016) destaca ainda que os livros proféticos não somente apresentam

oráculos de repreensão ou julgamento contra Israel e Judá, mas também contra as nações

vizinhas. Profecias contra países estrangeiros se encontram tanto nos profetas maiores

quanto nos profetas menores, com exceção de Oseias (Barker, 1999, p. 451).

Evidentemente, o propósito divino era que, por meio do testemunho da comunidade

da aliança, as nações fossem salvas. O caso de Jonas se torna emblemático nesse sentido,

uma vez que o profeta foi enviado à Assíria a fim de proclamar juízo e redenção para um

dos impérios mais iníquos de seus dias (Jn 1:2; 3:2; 4:6-11).

Outro ponto se relaciona com as mensagens divinas de encorajamento encontradas

nos livros proféticos. Archer (2000) afirma:

O profeta tinha a responsabilidade de encorajar o povo de Deus a confiar


exclusivamente na graça de Deus e no Seu poder libertador, e não nos seus próprios
méritos de força nem no poder dos seus aliados humanos. Assim como Moisés
admoestava os israelitas a confiar em Deus nas horas impossíveis, quando
enfrentavam a ameaça dos egípcios ou dos cananitas, assim também os grandes
profetas do oitavo século a.C. exortavam seus patrícios a depender totalmente do
poder libertador do Senhor, e não da ajuda de aliados humanos, tais como os assírios
ou os egípcios. (p. 225)

Entretanto, conforme a história atesta, as mensagens de encorajamento não foram

suficientes para estimular a fidelidade da nação escolhida à aliança descrita no Pentateuco.

22
Assim, os oráculos de repreensão e julgamento contra Israel e Judá se cumpriram do modo

como foram anunciados, com a destruição do reino do Norte, em 722 a.C., e o exílio do

reino do Sul, em 605 a.C.

Nesse ponto, cabe distinguir os dois tipos de profecias encontrados no Antigo

Testamento: a profecia clássica (ou geral) e a apocalíptica. Johnston (2011) destaca que a

profecia clássica tem suas raízes nas advertências e promessas de Dt 27-30 e está

condicionada à resposta comportamental do povo de Israel (pp. 32, 33). Por sua vez, a

profecia apocalíptica, repleta de simbolismos, tem abrangência cósmica e forte ênfase

escatológica (Pfandl e Mueller, 2010, p. 85). Assim, os livros proféticos abordam a

condição de seus dias (por exemplo, nas profecias de Oseias, Amós e Sofonias), bem como

a problemática mais ampla relacionada ao conflito cósmico entre Deus e Satanás (por

exemplo, nas porções proféticas de Daniel).

O Apocalipse, no Novo Testamento, apresenta o desfecho da grande controvérsia

entre o bem e o mal, amplificando a revelação divina encontrada nas porções proféticas do

Antigo Testamento. Aliás, Seal (2016) destaca o fato de que o livro tem uma relação

profunda com os escritos veterotestamentários e com a expectativa escatológica de toda a

Bíblia.

Embora não haja nenhuma citação direta das Escrituras Hebraicas, pode haver cerca de
400 alusões e ecos. João extrai muito conceitos dos livros de Daniel, Isaías e Ezequiel.
Ele frequentemente utiliza, transforma e interpreta material do Antigo Testamento de
maneiras que tornam o Apocalipse um livro singular. (verbete Revelation, Book of)

Logo no primeiro capítulo, João recebe duas ordens (Ap 1:11, 19) para escrever e

enviar o conteúdo da revelação de Jesus Cristo primeiramente às sete igrejas escolhidas da

Ásia Menor e, por extensão, a toda igreja. O versículo 19 (“Escreve, pois, as coisas que

23
viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas”) tem sido interpretado, pelo

menos, de duas maneiras.

Alguns comentaristas destacam o caráter sequencial/temporal da ordem. Morris

(1987), representando essa interpretação, entende que a orientação era para que João

escrevesse a visão do Cristo glorificado (“as coisas que viste”), a condição das sete

igrejas, exposta nos dois capítulos seguintes (“as que são”) e a descrição dos eventos

futuros, para benefício da igreja sofredora do tempo do fim (“as que hão de acontecer”)

(p. 60).

Entretanto, há estudiosos que interpretam a ordem de maneira abarcante, sob uma

perspectiva geral. Kistemaker (2004) adota essa compreensão e afirma que “as coisas que

João viu, as que são e as que hão de acontecer se aplicam a todas as igrejas do passado,

presente e futuro” (p. 119). Assim, “a mensagem do Apocalipse é de consolo e segurança

para todos os crentes do passado, presente e futuro” (p. 120). Independentemente do

ponto de vista adotado, fica claro o intento de Deus para que o apóstolo fosse fiel na

transmissão da revelação referente ao desfecho da controvérsia entre Ele e Satanás. Mais

uma vez, fica visível a preocupação divina em apresentar às pessoas conteúdo verdadeiro

e preciso, um alvo a ser perseguido na produção de literatura cristã.

Michaels (1997, Ap 1:17) nota ainda que Jesus não somente ordena que o apóstolo

escreva as visões, mas também as explicações que porventura as acompanham, como, por

exemplo, o significado das sete estrelas e dos sete candelabros (Ap 1:20) da primeira cena

vista por João.

24
Por sua vez, Ap 21:5 apresenta a última ordem divina para que João escrevesse

algo em seu livro. Diz o texto: “Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.”

Como parte da conclusão do Apocalipse, e também da Bíblia, Deus assegura Sua atuação

como Restaurador de todas as coisas e a veracidade da revelação concedida a João

(Cevallos, 2009, p. 293). Ao explorar o significado do conceito de fidelidade contido no

texto, Patterson (2012) entende que, no contexto, “Deus está dando não apenas uma

palavra verdadeira para João escrever, mas uma palavra da qual se pode depender em

todos os sentidos” (p. 365). Desse modo, o Senhor reafirma Sua condição de vencedor no

drama do conflito cósmico, descrito com detalhes não somente no Apocalipse, mas

contido em toda a Bíblia.

As ordens divinas para registro de conteúdo profético, bem como as características

desse tipo de literatura, indicam que Deus pretende que Seu povo, ao refletir sobre essas

mensagens, viva de acordo com a aliança celebrada no Sinai, testemunhe às nações a

respeito de Sua soberania e poder para que sejam salvas, encontre encorajamento em meio

às dificuldades surgidas no decorrer da história e compreenda o conteúdo simbólico das

profecias.

Um conjunto singular

As ordens divinas para que Moisés registrasse conteúdo histórico, ético e

normativo e seu próprio ofício profético parecem ecoar diretamente na produção dos

livros bíblicos, exceto aparentemente em uma porção: os evangelhos. No entanto, é

preciso analisar o tema com atenção.

25
O propósito central dos evangelhos é narrar a vida de Jesus de Nazaré,

apresentado nesses livros como o Messias, o cumprimento das profecias do Antigo

Testamento, de onde os autores também extraem informações para interpretar Sua pessoa

e obra (Chamblin, 1988, p. 893). Ao serem analisados sob uma perspectiva literária, eles

foram classificados ora como gênero peculiar do cristianismo (Myers, 1987a, p. 433), ora

como subconjunto do gênero biográfico greco-romano (Smith, 2016, verbete Gospel

genre). À parte dessa discussão minuciosa sobre sua classificação, é possível identificá-

los como registro histórico do evento-Cristo, em consonância com o propósito das

narrativas históricas das demais escrituras.

Além disso, os evangelhos são repletos de discursos éticos e normativos de Cristo,

como podem exemplificar o sermão do monte (Mt 5-7), Seus ensinos sobre perdão (Mt

18:10-35), amor (Mt 22:34-40), riquezas (Lc 12:13-32), casamento (Mc 10:2-12) e

religiosidade (Mt 23:1-36). Myers (1987a) pondera que, “apesar das ênfases diferentes,

cada um dos autores compartilhava a mesma premissa. Eles criam que a vida de Jesus –

Suas ações e palavras – estabelecia o padrão para aqueles que O seguiriam” (p. 434).

Os evangelhos também não ignoraram os discursos proféticos de Cristo

relacionados a Israel e à igreja cristã. O sermão apocalíptico em Mt 24˗25 é o principal

exemplo disso. Nesse discurso, Jesus apresenta a futura destruição do templo de

Jerusalém entremeada com uma descrição dos eventos que antecederiam Seu segundo

advento. Keener (1997, Mt 24:1) lembra que, “como em muitos profetas do Antigo

Testamento, julgamentos mais próximos prenunciam o julgamento final”; assim “Mateus

26
reconhece na destruição do templo em 70 d.C uma vindicação da profecia de Jesus e uma

garantia de que Suas outras profecias também se cumprirão.”

Finalmente, e para além da discussão sobre as características do texto dos

evangelhos, o próprio Jesus é apresentado como “a Palavra” encarnada (Jo 1:1). O termo

tem sido entendido por alguns eruditos a partir da concepção filosófica/religiosa da palavra

Logos; por outros, tendo como pano de fundo a expressão correspondente em hebraico,

Davar.

No Antigo Testamento, a Davar de Deus é “Sua poderosa autoexpressão na criação,

revelação e salvação, e a personificação dessa ‘Palavra’ possibilita a João aplicá-la como

um título para a autorrevelação final de Deus, a pessoa de Seu próprio Filho” (Carson,

1991, p. 116). Portanto, nesse sentido, a Palavra tem poder, revela a verdade e promove

transformação.

Por sua vez, a compreensão filosófica/religiosa do termo Logos remonta ao filósofo

grego Heráclito (c. 500 a.C.), que definia a expressão como “o princípio que forma, ordena

e direciona o Universo” (Milne, 1993, p. 32). Já o filósofo judeu helenista Filo, em seus

esforços para integrar os pensamentos grego e hebraico, ensinou que “em certo sentido, o

Logos era ‘divino’”, mas “apenas como a primeira ordem da criação” (Borchert, 1996, p.

105). João, contudo, vai além desse entendimento ao dizer que “a Palavra” não procedia de

Deus, mas é o próprio Deus criador encarnado (Jo 1:1, 3, 4, 14).

A discussão sobre a origem do uso joanino do termo Logos é vasta e foge ao

propósito desta tese. No entanto, a ocorrência levanta as seguintes implicações para este

estudo. Se João usou a expressão tendo como referência a compreensão hebraica, ele

27
ampliou o significado de um termo/ideia comum nos escritos inspirados anteriores e o

aplicou em seu argumento para apresentar a Israel o Messias profetizado. Por outro lado, se

o autor usou a palavra de acordo com o entendimento grego, priorizou então a

contextualização da mensagem, visando elaborar, a partir de um ponto comum com seus

leitores de origem helenista, um caminho para demonstrar a verdade universal acerca do

Logos divino. Talvez, sob a inspiração do Espírito Santo, ambos os propósitos tenham sido

alcançados, e dois princípios importantes na produção de literatura cristã possam ser

identificados: o da conformidade com a revelação bíblica anterior e o da contextualização

ao público-alvo. Ambos encarnados em Jesus Cristo.

Essa discussão acerca das diferenças entre as perspectivas grega e hebraica desperta

ainda outro ponto para reflexão que se relaciona com a produção editorial. Os autores

bíblicos tinham a preocupação de relatar a “verdade”, em seu sentido de autoridade

absoluta, enquanto os antigos autores gregos valorizavam o “realismo” da narrativa,

independentemente de a história ser verdadeira (Auerbach, 1992, pp. 14, 15).

Além disso, ao longo do tempo, a sociedade grega desenvolveu não somente apreço

“pelo poder e pela centralidade da palavra falada”, mas também “pelo efeito igualmente

poderoso da exibição e performance visual” (Rutter e Sparks, 2000, p. 1). Assim, os gregos

absorveram gradualmente a cultura da imagem, enquanto os hebreus se mantiveram

predominantemente ligados à cultura da palavra.

Isso não significa que os hebreus não utilizassem nenhuma forma de expressão

visual. A própria estrutura do santuário israelita é uma evidência disso. Contudo, ao

contrário do uso cúltico das imagens pelos pagãos, os hebreus entendiam que o ritual do

28
templo era uma sombra da realidade celestial, uma vez que os objetos do santuário eram

“de natureza proposicional, não objetos de adoração em si mesmos” (Hunt, 2003, p. 36).

Ademais, é impossível expressar visualmente o Deus invisível revelado nas

Escrituras. Hunt (2003) afirmou:

Deus é descrito como uma divindade abstrata por causa da natureza intangível de Seu
ser. Ele é um espírito invisível, onisciente, autoexistente e eterno. É perfeitamente
santo, está em todos os lugares ao mesmo tempo, faz o que deseja, controla cada átomo
do Universo e, ainda assim, está profundamente preocupado com Sua criação, com a
qual Ele mantém uma longa história de envolvimento, incluindo a identificação do
pecado, o julgamento do pecado e a redenção. Blocos e tintas são insuficientes para
transmitir esse tipo de verdade. Somente a escrita é capaz de transmiti-la. (p. 36)

Dessa maneira, na Bíblia, a palavra assume a primazia como meio de transmissão

da verdade revelada, que deve ser inteligivelmente apreendida pelo ser humano. Ao João

afirmar que Jesus é o Logos estava, consciente ou inconscientemente, dizendo que seu

relato expressava “uma continuidade da noção de que o cristianismo, como o judaísmo,

dependia das palavras” (Hunt, 2003, p. 52). Em um tempo no qual a cultura da imagem

parecer querer suplantar a cultura da palavra, mesmo no contexto religioso, esse é um

lembrete importante.

Em síntese, é possível considerar que os evangelhos, centrados na pessoa e obra de

Jesus Cristo, o Verbo divino, a verdade encarnada, reúnem em si as características

encontradas nas demais seções da Bíblia. Como porção singular, narra a história do Cristo

encarnado, Seus ensinos éticos e normativos e discursos proféticos.

Princípios editoriais nas Escrituras

Uma análise dos textos em que Deus ordena aos autores canônicos que escrevam,

somada às características gerais dos livros bíblicos, permite extrair alguns princípios

29
editoriais. Em primeiro lugar, nota-se a influência da cosmovisão como elemento

articulador do conteúdo bíblico. Os componentes da cosmovisão lançados em Gênesis

norteiam toda a produção posterior das Escrituras. Admite-se, portanto, que um princípio

adequado para nortear a produção editorial adventista deve ser manter em perspectiva a

cosmovisão bíblica em todos os seus materiais.

Em segundo lugar, é perceptível a centralidade do assunto da aliança de salvação

proposta da parte de Deus em relação à humanidade. O Antigo Testamento fala

ininterruptamente da redenção por meio do Senhor, apresentando como Ele provê meios de

resgatar a humanidade. Por sua vez, o Novo Testamento apresenta como a salvação ocorre

por intermédio de Cristo. Tudo está relacionado a Ele e visa apresentá-Lo aos leitores.

Assim, parece razoável estabelecer como princípio editorial a produção de literatura

que mantenha em perspectiva a aliança salvífica de Deus em relação à humanidade,

encarnada na pessoa de Jesus. Isso não significa que todo material seja explícito ao falar da

salvação, mas que toda produção literária esteja comprometida em contribuir para que os

leitores sejam levados a um relacionamento redentivo com Ele.

Em terceiro lugar, é possível observar a variedade de propósitos inter-relacionados

existentes nos 66 livros da Bíblia. Eles lançam luz para a compreensão dos fundamentos da

religião, da história do povo de Deus, dos aspectos práticos referentes aos relacionamentos

vertical (com o Senhor) e horizontal (com a humanidade) e das profecias gerais e

apocalípticas. Assim, pode-se inferir que a produção editorial adventista deve ter como

propósito explorar esses aspectos da experiência religiosa, a fim de prover subsídios para a

edificação do povo de Deus.

30
Em quarto lugar, é perceptível que os autores bíblicos prezaram pela veracidade,

clareza e precisão do conteúdo escrito. Mesmo os textos simbólicos ou proféticos

encontram no conjunto das Escrituras os elementos fundamentais para sua compreensão.

Portanto, é possível indentificar como um princípio editorial o compromisso com esses

valores.

Por fim, fica evidente que o conteúdo bíblico foi produzido levando em conta o

contexto histórico, literário, social e religioso de seus dias, a fim de que as pessoas fossem

alcançadas com a mensagem revelada. Portanto, é razoável estabelecer como princípio da

produção editorial adventista a contextualização da mensagem, tanto em relação à

linguagem quanto à abordagem.

Cosmovisão bíblica

O capítulo 3 apresenta uma discussão filosófica acerca de cosmovisão. Neste

capítulo, contudo, o propósito é compreender o tema sob uma visão teológica. Entende-se

como cosmovisão “uma visão abrangente da realidade em que se tenta entender e

‘posicionar’ tudo o que vem antes da consciência de alguém” (Halverson, 1976, p. 452).

Basicamente, ela responde a cinco perguntas existenciais: “Quem sou eu?”, “Onde

estou?”, “O que está errado?”, “Qual é o remédio?” (Walsh e Middleton, 1984, p. 35) e,

sob uma perspectiva escatológica, “Que horas são?” (Wright, 1996, p. 138).

Reynaud (2000), que parte do pressuposto de que os escritores bíblicos

trabalharam “mais sob o modo oral do que escrito”, afirma que “culturas orais tendem a

definir contextualmente o significado por meio de histórias e provérbios, ao contrário das

definições abstratas das culturas escritas. Histórias são usadas para organizar uma

31
cosmovisão de um modo memorável” (p. 27). Embora Niditch (1996) e Miller (2010), ao

defenderem uma perspectiva conciliatória, rejeitem a hipótese de que havia

predominância da cultura oral sobre a escrita, “sendo ambas simultaneamente partes do

antigo Israel por todo o tempo de composição da Bíblia Hebraica” (Miller, 2010, p. 121),

é possível concordar com Reynaud quanto à importância que ele atribui às histórias para

consolidação e perpetuação da cosmovisão bíblica.

Aliás, à parte da discussão referente à influência da tradição oral ou escrita no

processo de desenvolvimento das cosmovisões, elas geralmente são compartilhadas por

meio de narrativas que contêm seus elementos principais. Groothuis (2011) lembra que,

“tipicamente, uma cosmovisão também incluirá elementos narrativos; ou seja, nossas

crenças mais importantes geralmente são moldadas pelo senso de uma história revelada

do cosmos e da narrativa humana, não apenas por um conjunto de declarações abstratas”

(p. 75). Com base nessa constatação, a Bíblia assume um papel preeminente, uma vez que

está “profundamente enraizada em muitos relatos históricos da obra de Deus com os seres

humanos, individualmente e coletivamente” (p. 75).

Desse modo, chama atenção o fato de que, apesar de a Bíblia ter sido escrita durante

cerca de 1.500 anos e ter uma quantidade significativa de autores, suas histórias e

afirmações teológicas estruturais são coerentes entre si em toda a obra. Isso evidencia o

papel da cosmovisão como elemento norteador no processo de composição das Escrituras.

Assim, é pertinente identificar, ainda que de modo conciso, como as perguntas que definem

a cosmovisão judaico-cristã são respondidas ao longo do texto bíblico.

32
“Quem sou eu?”

Biblicamente, a compreensão acerca da natureza do ser humano passa

impreterivelmente pelo entendimento de quem é Deus. Elwell e Beitzel (1988) destacam

que “uma visão elevada e reverente de Deus leva a uma visão nobre e digna do ser

humano, enquanto um conceito mal desenvolvido de Deus frequentemente produz uma

perspectiva distorcida sobre a humanidade” (p. 1385).

Diante da grandeza de Deus, é possível conhecê-Lo apenas na medida em que Ele

Se revela. Nesse sentido, o Senhor pode ser reconhecido por meio das evidências daquilo

que se chama de revelação geral, a natureza (Sl 19:1; Rm 1:20) e os relacionamentos

humanos (Is 66:13; Sl 103:13; Ef 5:25-27), e também da revelação especial, a Bíblia e a

encarnação de Jesus Cristo (2Tm 3:16; Hb 1:1, 2; Jo 1:1-3).

Gulley (2011), em sua teologia sistemática, afirma que “as Escrituras apresentam

Deus como uma Trindade relacional, na qual as três pessoas da Divindade experimentam

um amor eterno, divino e recíproco entre Si” (p. 3). De acordo com a Bíblia, Deus é o

Criador (Gn 1:1; Sl 24:1, 2; Mt 19:4, 5; Ap 14:7), o Redentor (Dt 5:6; Lc 19:10; 2Co 5:19)

e o Mantenedor de todas as coisas (Is 42:5; Hb 1:3). Ao mesmo tempo em que, em Sua

grandeza, Ele é transcendente (2Cr 6:18; Is 6:1-5), também é imanente (Jr 23:24; Jo 1:14;

At 17:27, 28), interagindo com a história humana. Mullins (1917) resume essa ideia,

dizendo que “o Deus dos patriarcas, dos profetas, dos apóstolos e de Jesus Cristo é um

Deus pessoal. Isso está em todos os lugares das Escrituras” (p. 218).

Esse Deus pessoal criou o ser humano à Sua imagem e semelhança (Gn 1:26, 27),

esculpindo o homem do pó da terra e soprando-lhe nas narinas o fôlego de vida (Gn 2:7).

33
Ao discutir sobre a ideia de a humanidade ser a imagem de Deus, Bacchiocchi (2007)

lembra que tal designação

significa que devemos nos ver como essencialmente valiosos e ricamente investidos
com significado, potencial e responsabilidade. Significa que fomos criados para refletir
a Deus em nossos pensamentos e ações. Devemos ser e fazer numa escala finita o que
Deus é e faz numa escala infinita. (p. 32)

O testemunho das Escrituras aponta ainda para a integralidade da pessoa humana

(1Ts 5:23), ideia contrária ao conceito popular oriundo do pensamento grego, que a

compartimentaliza. Ladd (1968) é categórico ao dizer que “o homem hebreu não é como

o homem grego – união de alma e corpo e, portanto, relacionado a dois mundos. Ele é

carne animada pelo sopro de Deus (ruach), que é assim constituída uma alma vivente

(nephesh)” (p. 37).

O conceito unitário relacionado ao ser humano é reiterado por Cairus (2011) ao ele

dizer que “a vida interior sempre depende de seu suporte externo: o organismo biológico.

Alma e espírito não passam de expressões cognitivas, afetivas ou volitivas da pessoa

inteira” (p. 251). Consequentemente, a morte, como resultado do pecado, não representa

uma alteração no modo de existência que mantém a alma consciente em outra dimensão.

Trata-se da cessação da vida (Ec 9:5, 6), até que haja a ressurreição, seja para salvação ou

perdição eterna (Jo 5:28, 29).

“Onde estou?”

As Escrituras afirmam que a raça humana foi criada por Deus e colocada na Terra

para cuidar dela (Gn 2:4-15). Embora a Bíblia não apresente mais detalhes, ela parece

indicar a existência de outros planetas habitados (Jó 1:6; 2:1); desse modo, a Terra não

34
seria o único lugar povoado do Universo, embora seja o único que sirva como palco no

drama do grande conflito.

A Terra foi criada perfeita, ex nihilo, em seis dias literais (Gn 1). Davidson (2003)

apresenta argumentos consistentes para defender essa ideia que, especialmente a partir do

século 19, passou a ser combatida. Segundo o autor, (a) o gênero literário de Gn 1-11

aponta para o relato literal da criação; (b) a estrutura literária do livro de Gênesis indica a

natureza literal da narrativa da criação; (c) o uso da expressão temporal específica “tarde

e manhã” denota um dia de 24 horas; e (d) as referências intertextuais ao longo das

Escrituras mostram que os autores bíblicos acreditavam na criação como algo histórico,

literal e realizado em seis dias (pp. 11-15).

Um olhar atento para o relato da criação literal indica uma série de implicações

fundamentais para a compreensão dos fundamentos da existência humana. Em primeiro

lugar, conforme indica LaRondelle (2015), “Gênesis 1 convoca todos os homens e

mulheres da Terra a receber uma nova autocompreensão e um sentido de vida na

perspectiva da gloriosa e nobre origem da humanidade” (p. 4).

Aprofundando a ideia de sentido de vida, Moskala (2008) analisa os dois relatos

da criação (Gn 1:1–2:4a; 2:4b-25) e conclui que, em essência, a vida genuína gira em

torno do relacionamento com Deus e com as pessoas (p. 20). Somente quando essas duas

dimensões relacionais são atendidas é que a vida humana pode ser “significativa, bela e

feliz, e os seres humanos podem desenvolver todo seu potencial” (p. 20).

Elwell e Beitzel (1988) sumarizam as implicações da doutrina da criação com uma

série de pontos importantes: ela (a) provê uma compreensão fundamental da humanidade;

35
(b) indica o senhorio responsável da humanidade em relação à criação divina; (c)

demonstra que tanto o homem quanto a mulher são imagem de Deus; (d) apresenta a

heterossexualidade como dádiva do Senhor, no contexto conjugal; (e) marca o início da

história humana; (f) evidencia a existência e a natureza de Deus, como parte da revelação

geral; e (g) serve como antídoto contra a idolatria (pp. 540, 541). Além dessas

implicações, Geisler (1999) acrescenta ainda aquelas referentes a questões (a)

éticas/morais; (b) sociais; e (c) soteriológicas (pp. 169-171).

Por fim, a crença no relato da criação literal tem profunda ligação com a maneira

como se compreende os eventos finais. Hasel (2004) é enfático ao dizer que, “se nossa

compreensão literal das primeiras coisas é colocada de lado ou redefinida, a nossa

esperança no cumprimento literal dos eventos finais logo se dissipará” (p. 26).

“O que está errado?”

Embora o ser humano tenha sido criado por um Ser perfeito e colocado em um

ambiente perfeito para viver, a realidade é que o mundo se apresenta como um local

transtornado. A Bíblia afirma a existência de grande conflito cósmico entre Deus e

Satanás.

Esse conflito se iniciou no Céu e atingiu a Terra no momento em que Adão e Eva

decidiram atender a voz da “antiga serpente, que se chama diabo e Satanás” (Ap 12:9).

Ele foi criado perfeito (Ez 23:12-19) e, sem uma explicação razoável, nutriu em seu

coração o desejo de estabelecer seu reino em substituição ao governo divino (Is 14:12-

14). O inimigo não se limitou em seus esforços e convenceu parte dos anjos de Deus a se

unir em sua causa. Após algum tempo, que não pode ser mensurado, Satanás e seus anjos

36
se envolveram em um embate no Céu, e seu lugar já não se achou mais ali (Ap 12:7, 8).

Como consequência, o inimigo desceu à Terra e assediou Adão e Eva, que

cederam às suas insinuações e permitiram que o planeta se tornasse um protótipo do

governo satânico (Gn 3). Assim, a Bíblia declara que a desobediência à lei e ao reino de

Deus é a origem de toda a desordem em que vive o planeta: a maldade inerente do ser

humano, o sofrimento e o resultado último da rebelião, a morte (Rm 5:12).

Christian (1999) pondera acerca de algumas consequências do grande conflito

para a humanidade e aponta, por exemplo, (a) a disposição do inimigo em causar

sofrimento aos seres humanos criados à imagem de Deus; (b) o reflexo do próprio pecado

sobre a vida daqueles que deliberadamente escolhem pecar; e (c) as manifestações da ira

de Deus (por ação ou permissão) sobre aqueles que abandonam os caminhos corretos (pp.

93-95).

Embora o pecado tenha afetado por completo a experiência na Terra e impactado o

Universo, Deus providenciou um plano de salvação. Hasel (1992a) destaca que o grande

conflito tem dimensões antropológicas e cosmológicas, e as “proporções do pecado e de

seus resultados são universais e abrangentes” (p. 25). Contudo, “as proporções da salvação

são ainda maiores” (p. 25). A pergunta seguinte apresentará a resposta divina para a

condição humana.

“Qual é o remédio?”

A Bíblia afirma que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5:20) e

“assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação,

assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a

37
justificação que dá vida” (Rm 5:18). Tão logo a humanidade caiu em pecado, ou seja,

transgrediu a lei divina e subverteu a ordem do reino, Deus colocou em ação Seu gracioso

plano de redenção por intermédio de Jesus Cristo (Gn 3:15; 2Co 5:19).

Fica evidente no Antigo Testamento a importância da promessa messiânica como

elemento fundamental para reverter as consequências da queda. Moskala (2008) resume

esse ponto dizendo:

A mensagem do Antigo Testamento gravita em torno da promessa divina da Semente


que vencerá a serpente (Satanás) e trará vitória sobre o mal. [...] Essa promessa, dada
pelo Deus Criador e Juiz no Jardim do Éden, após o pecado de Adão e Eva (Gn 3:15), é
a esperança fundamental do povo do Antigo Testamento (Gn 4:1; Nm 24:17; Dt 18:15,
18; Is 7:14; 9:6; Mq 5:2). Essa esperança focalizou a morte substitutiva vitoriosa do
Messias em nosso favor (Is 53; compare com Gn 22:13, 14) e foi incorporada ao
sistema de sacrifícios (Lv 1–7; 16), com o sangue desempenhando um papel central (Êx
12:13, 22–23; Lv 17:11), apontando assim para a morte do Cordeiro de Deus pelos
pecadores. O povo de Deus testemunhou acerca da expectativa da vinda do Messias, e
seus olhos estavam fixos no futuro cumprimento dessa promessa crucial (Is 11:1-9;
52:13–53:12; Jr 23:5, 6; Ez 34:23; 37:24-28; Ag 2:7; Ml 3:1). (p. 21)

Nesse sentido, o ritual do santuário, apresentado à humanidade no contexto do

estabelecimento da nação israelita (Lv 1–7:38; 16), ilustra o caminho pelo qual as pessoas

podem se achegar novamente a Deus. O primeiro elemento importante era o sacrifício

substitutivo do cordeiro, em favor do pecador contrito (Lv 1; 4:1-35; 5:1-19; 6:24-30; 7:1-

7). É digno de nota que o sacrifício vicário de animais antecede a sistematização do ritual

do santuário, se fazendo presente logo após a queda (Gn 3:21) e seguindo a trajetória dos

patriarcas (Gn 8:20, 21). Esse procedimento aponta para o sacrifício de Cristo, o

verdadeiro Cordeiro, em favor da raça humana (Is 53; Jo 1:29). Por meio do sangue de

Seu sacrifício (Hb 9:22), Jesus propicia/expia os pecados do ser humano que confia em

Seus méritos (Rm 3:25).

38
Além do sacrifício expiatório, o ritual do santuário contava também com a

mediação sacerdotal, que era responsável por ligar o pecador contrito (substituído pelo

sacrifício do cordeiro) a Deus (Lv 4:35). Durante o ano, o sacerdote ministrava no

primeiro compartimento, o lugar santo (Lv 4:6, 7; 17, 18; 25, 30; 6:25, 26, 30). O serviço

diário do santuário apontava para a ministração sacerdotal intercessória de Cristo em

favor da raça humana no santuário celestial (Ef 2:18; Hb 4:14-16; 7:25; 9:24; 10:19-22).

Por fim, uma vez ao ano, no Dia da Expiação (Lv 16), o sumo sacerdote entrava no

lugar santíssimo, onde aspergia o sangue do sacrifício a fim de purificar o santuário.

Simbolicamente, todos os pecados que haviam sido depositados no tabernáculo durante os

rituais diários eram então transferidos ao sumo sacerdote, que os colocava sobre a cabeça

do bode Azazel (Lv 16:20), animal enviado ao deserto para que morresse longe do

acampamento de Israel. A cerimônia do Dia da Expiação era um tipo do juízo final, e

simbolizava o juízo investigativo pré-advento (Dn 7:9-14); a prisão de Satanás durante mil

anos (Ap 20:4); e a purificação final da Terra por ocasião do juízo executivo (Ap 20:11-15).

Holbrook (2002) faz uma síntese de como o ritual do santuário ilustra o processo

divino de salvação:

A expiação pelo sacrifício de Cristo está completa e terminada; a justiça divina foi
plenamente satisfeita. Mas a expiação pela mediação sacerdotal de Cristo é contínua e
prossegue reconciliando com Deus os pecadores arrependidos. A expiação pelo juízo
final – a última fase da ministração sacerdotal de Cristo – completará o processo de
reconciliação e resultará em um Universo de seres inteligentes e leais, plenamente
satisfeitos, vivendo em amorável obediência a seu Criador. (p. 59)

É somente mediante a iniciativa divina em prover o Cordeiro e o sumo sacerdote

intercessor que o ser humano pode ser justificado (Rm 3:24; 5:18, 19; 2Co 5:21);

santificado (1Co 1:30; 1Ts 4:3-7; Hb 12:14) e, finalmente, glorificado (Rm 8:11; 1Co

39
15:50-54; 2Ts 2:13, 14). Ao longo das Escrituras, fica evidente que a humanidade só pode

ser salva por intermédio da atitude graciosa do Senhor: “Porque pela graça sois salvos,

mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se

glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de

antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:8-10).

O processo de redenção, portanto, lida com a restauração do relacionamento do ser

humano com Deus e, consequentemente, com o próximo. Nesse sentido, a salvação possui

também uma dimensão comunitária, que se expressa por intermédio da igreja. O termo

grego ekklesia, ressignificado pelo cristianismo apostólico, alude ao fato de que os cristãos

que experimentam a salvação são “chamados por Deus para sair do mundo e ser Seu povo”

(Dederen, 2011, p. 602). Gulley (1996) corrobora essa ideia ao dizer que “a função da

Divindade, das Escrituras e da Igreja é restaurar relacionamentos quebrados com Deus e

com os semelhantes. Portanto, o plano de salvação é mais que a salvação pessoal” (p. 90).

Em realidade, isso fica evidente quando se observa o resultado da obra divina de salvação:

“Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os

homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”

(Ap 21:3).

“Que horas são?”

O plano da redenção envolve não apenas a morte e ressurreição de Cristo e Sua

função como sumo sacerdote no santuário celestial em favor da raça humana, mas

também a resolução completa do grande conflito cósmico. Tanto o Antigo quanto o Novo

40
Testamento possuem profecias de tempo muito significativas no que diz respeito à

indicação da proximidade do fim de todas as coisas.

As evidências bíblicas parecem indicar que as profecias apocalípticas devem ser

interpretadas de acordo com a abordagem historicista. O historicismo é a mais antiga

escola de interpretação profética, sendo adotada amplamente até o século 19, quando

passou a ser questionada por proponentes das escolas de interpretação preterista e

futurista (Paulien, 2006, p. 180). Hasel (1992b) descreve o historicismo como um método

contínuo de interpretação, “porque entende que a profecia bíblica é contínua e

consecutiva em relação às sequências preditas de impérios e eventos nos livros de Daniel

e Apocalipse” (p. 124).

A fim de corroborar a posição historicista, Vetne (2003) ressalta, por exemplo, a

atitude de Cristo diante das profecias de Dn 9:27, 11:31, e 12:11, em que Ele Se refere ao

“abominável da desolação” (Mt 24:15) como um evento futuro (p. 11). Pode-se ainda

inferir, com base em Gl 4:4 (“vindo, porém, a plenitude do tempo”), que Deus segue um

cronograma definido para implementar Seu plano de redenção, não havendo em Suas

ações nem adiantamento nem tardança.

De especial importância para o historicismo é a compreensão do princípio dia-ano

na interpretação dos períodos proféticos. Segundo esse conceito, em profecias simbólicas,

cada dia corresponde a um ano, em conformidade com os relatos de Nm 14:34 (“quarenta

dias, cada dia representando um ano”) e Ez 4:6 (“quarenta dias te dei, cada dia por um

ano”).

41
Assim, especialmente as profecias de Daniel e Apocalipse fornecem balizas

temporais seguras para indicar a proximidade do clímax escatológico da Terra: a segunda

vinda de Cristo. Por exemplo, a partir da compreensão historicista das 2300 tardes e

manhãs (anos) de Dn 8:14 e sua relação com as 70 semanas (de anos) de Dn 9:24-27 é

possível identificar, considerando “a saída da ordem para restaurar e para edificar

Jerusalém” (v. 25) ocorrida em 457 a.C., o tempo do batismo/unção do Messias (27 d.C.);

o ano de Sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu, e, consequentemente, o início de Sua

ministração intercessória no santuário celestial (31 d.C.); o rompimento da missão do

Israel étnico como povo exclusivo de Deus e a ampliação da comunidade da fé com o

Israel espiritual (34 d.C.); e o início do dia antitípico da expiação (1844).

Inseridos nos 2300 anos, e relativo à era da igreja cristã, encontra-se o período de

1260 dias (Ap 11:3; 12:6), também identificado como “um tempo, dois tempos e metade

de um tempo” (Dn 7:25; 12:7; 12:14) e “quarenta e dois meses” (Ap 13:5). A partir de

uma perspectiva historicista, é possível identificar esses 1260 anos se cumprindo durante

a Idade Média, com a ascensão (538 d.C.) e queda (1798) do poder papal.

Embora as profecias de tempo não digam exatamente quando Cristo voltará (Mt

24:36), elas apontam para eventos significativos da história que sinalizam a proximidade da

segunda vinda.

Concluindo esta seção, os elementos que constituem a cosmovisão bíblica foram

fundamentais no processo de composição das Escrituras, uma vez que permitiram aos

autores bíblicos reconhecer ao longo do tempo os textos inspirados, avaliar e rejeitar os

conteúdos não inspirados e refutar a ideias teologicamente equivocadas. Da mesma

42
maneira, para o exercício do trabalho editorial no contexto cristão, é necessário ter esse

conhecimento, a fim de reconhecer o que deve ser publicado, rejeitado ou refutado.

Critérios editoriais nos escritos de Ellen White

Outro recurso teológico importante para a fundamentação do manual filosófico se

encontra nos escritos de Ellen White (1827-1915), cofundadora da Igreja Adventista do

Sétimo Dia. A análise de seus conselhos acerca da obra de publicações é relevante por

alguns motivos.

Em primeiro lugar, os adventistas creem que a autora recebeu de Deus o dom de

profecia. A denominação reconhece que “seus escritos são uma contínua e autorizada fonte

de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à igreja” (Associação

Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, 2008, p. 276). Assim, suas

instruções a respeito do trabalho editorial são respaldadas por sua autoridade profética e

espiritual.

Na sequência, vale ressaltar o papel que ela desempenhou no estabelecimento e na

expansão da obra de publicações, o ramo da missão adventista que antecedeu todos os

outros e que motivou a organização formal da própria igreja. Foi a partir de uma visão que

Ellen White recebeu, em 1848, que o movimento dos adventistas sabatistas começou a

publicar seu próprio periódico, o Present Truth, lançado no ano seguinte, tendo Tiago

White como editor (Maxwell, 1982, p. 103). Pouco tempo depois, também foi lançada a

Advent Review. Em 1850, porém, a junção de ambas as publicações deu origem à Second

Advent Review and Sabbath Herald, conhecida posteriormente como Review and Herald.

43
Além do incentivo e da produção de textos, por algum tempo, Ellen White abriu

mão de sua privacidade familiar e cedeu parte da casa onde morava para servir de gráfica

para a impressão das publicações adventistas sabatistas (White, 1915, p. 142). Os sacrifícios

do início se transformaram em motivação para que os líderes do movimento investissem em

editoras que produzissem grande quantidade de literatura evangelística. Antes do fim do

século 19, a denominação já possuía “o mais bem equipado estabelecimento de impressão”

do estado do Michigan (Maxwell, 1982, p. 107) e gráficas em outros lugares, inclusive fora

dos Estados Unidos.

Butler (1993), em sua análise acerca da influência da escritora na obra de

publicações, foi perspicaz ao afirmar:

A história do adventismo tem sido uma questão de “publicar ou perecer” desde que a
senhora White viu “um pequeno jornal” que lançaria “torrentes de luz” ao redor do
mundo. Tão elevada visão espiritual levou à consideração prática quanto à organização.
No que diz respeito à burocracia eclesiástica, no princípio era o verbo. (p. 204)

Por fim, destaca-se a quantidade de orientações que Ellen White apresentou quanto

à produção e distribuição de literatura adventista. Posteriormente, os depositários do

Patrimônio Literário Ellen G. White organizaram uma grande parte desse material em

compilações, sendo as principais delas O outro poder (2010a), lançada em 1946; O

colportor-evangelista (2014), lançada em 1953; e The publishing ministry (1983).

Ellen White aconselhou os responsáveis pela obra de publicações em assuntos que

vão desde os pressupostos teológicos dos textos publicados até a cadeia de distribuição dos

materiais produzidos. Atendendo aos interesses desta pesquisa, as orientações da escritora

foram selecionadas e sistematizadas a partir dos seguintes assuntos: (a) orientações gerais,

(b) gêneros textuais e (c) uso de ilustrações.

44
Orientações gerais

Ao longo dos anos, Ellen White manteve uma visão muito clara acerca da finalidade

das editoras adventistas. Para ela, “o grande objetivo das nossas publicações é exaltar a

Deus e atrair a atenção das pessoas para as verdades vivas da Sua Palavra” (White, 2010a,

p. 9). A expectativa era de que esse propósito pautasse toda produção literária da

denominação. Independentemente do assunto, tudo deveria ser considerado “à luz dos

ensinamentos das Sagradas Escrituras” (White, 1997, p. 227). Essa afirmação da autora é

um exemplo explícito do papel que a cosmovisão bíblica deveria exercer na produção

literária da igreja. De modo específico, esse deve ser o princípio norteador para as editoras

adventistas.

Na tarefa de exaltar a Deus e atrair pessoas para a mensagem bíblica, os detalhes

são de extrema importância. Por isso, a escritora apontou aspectos indispensáveis

relacionados à linguagem e abordagem dos textos adventistas.

Linguagem

Por diversas vezes, Ellen White aconselhou os escritores adventistas a serem

cuidadosos com a linguagem utilizada nos materiais produzidos. Isso significava manter

distante todo e qualquer tipo de vulgaridade ou grosseria nas palavras (White, 2010a, p. 13).

Aspereza, severidade, descuido ou precipitação poderiam ser recursos utilizados para “dar a

Satanás ocasião de interpretar falsamente” a intenção dos autores (p. 39). Como resultado, o

caminho para alcançar os leitores com a mensagem seria bloqueado. Para os escritores

rudes e hostis, White fez duas afirmações muito contundentes. A primeira adverte que

pessoas com esse perfil estariam se “desqualificando para receber o legado da sagrada obra

45
que recai neste tempo sobre os seguidores de Cristo” (p. 41). A segunda, em tom solene,

fala das implicações eternas desse tipo de comportamento: “Lembrem-se de que, se pelo

uso imprudente da pena fecharem a porta mesmo a uma única pessoa, ela irá confrontá-los

no julgamento” (p. 44).

Sob uma perspectiva positiva, a escritora encorajou os autores, em sua maioria

pastores, a desenvolver ao máximo suas habilidades em leitura, escrita e gramática (White,

2015b, p. 46). Os textos deveriam ser repletos de amor, mansidão e amabilidade de Cristo

(White, 2010a, p. 39). Palavras com essas características seriam evidência da “pureza,

elevação, santificação da alma, corpo e espírito da parte do autor” (p. 13). Para White, o

destaque dos artigos publicados deveria recair sobre as instruções das Escrituras. Não era

papel dos autores sobrepujar as evidências bíblicas. “Seja a Palavra de Deus que repreenda

e corrija; que os homens finitos se escondam e permaneçam em Cristo Jesus. Que o espírito

de Cristo apareça” (p. 42).

Assim, a linguagem refinada, ponderada e repleta da influência das Escrituras

Sagradas e do espírito de Cristo deveria se tornar uma característica marcante das

publicações adventistas. Além disso, Ellen White tratou também da abordagem a ser

utilizada nos materiais denominacionais.

Abordagem

Tão importante quanto saber usar as palavras da maneira correta e no espírito

adequado é utilizar uma abordagem que atraia a atenção das pessoas e transmita a

mensagem de modo eficiente. Ellen White era muito pragmática quanto a esse tema. A

escritora exortava os autores a adotar um estilo semelhante ao de Cristo. Ao apresentar Seus

46
ensinos, Jesus “era claro, simples” e “compreensivo”, indo “ao encontro dos pensamentos

do povo comum” (White, 2010a, p. 70).

Seguindo esse raciocínio, a autora aconselhava os escritores a usar de franqueza,

sinceridade e sensibilidade em seus textos. Assim, a “melhor forma” de alcançar os leitores

é onde eles estão, “não em palavras rebuscadas que atingem o terceiro céu. As pessoas não

estão lá, mas aqui, em um mundo de dor, pecado e corrupção, lutando contra as duras

realidades da vida” (White, 2010a, p. 57). Ademais, ela via a necessidade de alcançar

pessoas de todas as classes, à semelhança da estratégia de Jesus (White, 1997, p. 252).

Outro elemento importante se refere ao estilo de argumentação. White (2010a, p.

37) era avessa a textos em que havia muitas alegações. Os argumentos deveriam ser

“simples e ao ponto, destacando-se os pontos fundamentais” (p. 38). “A verdade

apresentada em estilo fácil, confirmada com poucas provas vigorosas, é melhor que buscar

e fazer uma série avassaladora de demonstrações”, pois, “para muitos, as afirmações têm

mais eficácia que as longas argumentações” (p. 55). Como consequência, os artigos

deveriam ser “curtos e espirituais” (White, 1997, p. 250) ou “curtos e interessantes,

diagramados com simplicidade”, a fim de ser distribuídos em todas as partes (p. 385).

Além de prezar por uma argumentação simples, curta e espiritual, Ellen White tinha

muita preocupação quanto à maneira de tratar os assuntos referentes à defesa da doutrina

bíblica. Para ela, não havia espaço para a “acusação injuriosa” ou “áspera” nos textos

publicados (White, 2010a, p. 40). “Não devemos, a menos que isso seja positivamente

necessário para vindicar a verdade, dizer, especialmente em relação a pessoas, uma palavra

47
nem publicar uma sentença que possa instigar nossos inimigos contra nós, e despertar suas

paixões até à incandescência” (p. 40).

Mesmo sob o ataque de textos contrários à mensagem adventista, a recomendação

era manter a calma e ignorar as críticas (White, 2010a, p. 37). A contestação, quando

necessária, deveria ser feita “logo e em poucas palavras”. “Tempo e energia podem ser

melhor empregados do que demorar-nos sobre os enganos de nossos oponentes que usam

de calúnia e falsas representações”, afirmou (p. 37).

A escritora também abordou o problema dos debates doutrinários entre adventistas

por meio de artigos. Levando em conta que a página impressa, especialmente a Review, foi

um importante elemento de “coesão, ânimo e unidade doutrinária” para a Igreja Adventista

(Schwarz & Greenleaf, 2009, p. 79), White (2010a, p. 50) alertou para o perigo de

apresentar uma imagem fragmentada aos membros da igreja e à comunidade em geral. Ela

defendia o princípio de que “a harmonia e cooperação devem ser mantidas sem

comprometer qualquer princípio da verdade” (p. 52). Por outro lado, em caso de

divergência na compreensão de algum texto bíblico, os autores não deveriam usar “a pena

ou a voz para evidenciar as diferenças e causar uma discórdia onde não é necessário” (p.

52).

Esse princípio não se aplicava apenas aos temas religiosos ou apologéticos. A

autora via o engajamento dos adventistas em críticas ao governo e às leis de modo negativo.

“Não é procedimento sábio criticar continuamente os atos dos governantes. Não nos

compete atacar indivíduos nem instituições. Devemos exercer grande cuidado para não

sermos tomados por oponentes das autoridades civis” (White, 2010a, p. 45). Essa

48
orientação deve ser especialmente considerada sob a perspectiva escatológica de White, em

que as palavras “displicentemente proferidas ou escritas por nossos irmãos” seriam

utilizadas pelos inimigos da mensagem adventista para condenar seus defensores. “Sejam

nossos obreiros cuidadosos no falar, em todo tempo e sob quaisquer circunstâncias” (p. 46).

Portanto, autores e editores adventistas deveriam prezar por uma abordagem repleta

de simplicidade, clareza, objetividade, prudência e espiritualidade, qualidades que, somadas

a uma linguagem refinada, ponderada e permeada pela influência das Escrituras Sagradas e

do espírito de Cristo, serviriam para atrair eficazmente a atenção dos leitores para a

mensagem proclamada pelo adventismo.

Gêneros textuais

Possivelmente, dos temas referentes à busca por critérios editoriais nos escritos de

Ellen White, sua posição sobre os gêneros textuais seja o ponto mais debatido. Isso porque

uma leitura parcial de seus conselhos pode levar a conclusões muito distintas. Ao longo do

tempo, essa discussão esteve muito ligada ao ensino de literatura em instituições

educacionais adventistas, embora a autora também tenha discutido o assunto no contexto da

produção, recomendação e venda de materiais produzidos nas editoras confessionais. A fim

de alcançar o objetivo desta tese, a análise contida nesta seção considera as posições de

Ellen White quanto ao que não publicar, os debates adventistas acerca do posicionamento

da escritora e o que ela recomendava para publicação. Por fim, sugere-se uma proposta de

procedimento editorial.

49
O que não publicar

White criticou duramente diversos gêneros literários propagados em seus dias,

como o romance, os contos, as novelas, as fábulas, as narrativas míticas, a comédia e a

ficção. Para a autora, “a vida religiosa não deve ser representada do púlpito ou em nossos

folhetos na forma de um romance”, pois “novelas e romances não honram nossas

publicações” (White, 2010a, p. 16). O impacto desses tipos de escritos verdadeiramente

“debilita a impressão que deve ser causada pela mais solene verdade já confiada aos

mortais” (White, 2010a, p. 17).

Nos periódicos adventistas não deveria haver “histórias vulgares, destituídas de

valor” nem “artigos romanceados e de ficção” (White, 2010a, p. 13). Livros contendo

“histórias de amor” e “frívolos e excitantes contos” não deveriam ser publicados,

recomendados ou vendidos por editoras da denominação (White, 2014a, p. 143; White,

1997, p. 235). Mesmo que contivessem traços de “boa moral”, e o autor tivesse permeado

seu texto com “sentimentos religiosos”, ainda assim tratava-se de um instrumento de

Satanás “vestido em trajes angélicos, para, tanto mais eficazmente, enganar e seduzir”

(White, 2014a, p. 143).

A respeito da produção de livros, White também afirmou: “Tenho sido instruída que

histórias comuns apresentadas em forma de livro não são essenciais ao nosso bem-estar”

(White, 2010a, p. 97). Ela tinha uma visão muito crítica quanto a histórias que retratam a

realidade de modo irreal. “Nós não necessitamos de fantasia; pois estamos tratando com

cruas realidades da vida” (p. 97).

50
Por outro lado, mesmo as realidades da vida deveriam ser apresentadas com critério.

A escritora não endossou a impressão de materiais cujos temas fossem as guerras indígenas,

os crimes ou atrocidades. Mesmo livros estritamente históricos careciam de análise

cuidadosa, pois “as atrocidades, as crueldades e as práticas licenciosas descritas nessas

obras têm atuado em muitos espíritos como um fermento que os leva à prática de atos

semelhantes” (White, 2010b, p. 165).

Ela ainda criticou o uso de material nos periódicos que “se prestaria muito bem para

um almanaque humorístico” (White, 2010a, p. 13), que fosse redigido “de modo a assumir

a frivolidade de uma representação teatral” (White, 2010a, p. 16) e que exaltasse o ser

humano, estivesse ele vivo ou morto. “Todo aquele que for a público, seja pela pena ou pela

voz, esteja livre de qualquer tendência de enaltecer um ser humano; pois, ao agir assim,

ultrapassa totalmente sua esfera de ação” (White, 2010a, p. 14).

A partir das citações mencionadas, parece natural concluir que a escritora tinha uma

opinião muito negativa em relação aos principais gêneros literários utilizados pelos autores

de seus dias. Contudo, a partir do final da década de 1940, pesquisadores adventistas

começaram a debater acerca das possíveis interpretações referentes aos conselhos da autora

quanto à literatura, especialmente ficcional.

Debates adventistas

Alguns fatores levaram estudiosos adventistas a investigar qual era a amplitude do

significado dos conselhos de Ellen White em relação à literatura (Tidwell, 2013, p. 946).

Em primeiro lugar, houve a necessidade de se compreender melhor o uso que a autora fazia

51
dos termos ficção e novela em seus escritos. Os pesquisadores foram levados a analisar

contextualmente o significado dessas palavras no período em que ela viveu.

Outro ponto importante estava relacionado com o aparente conflito entre a rejeição

absoluta que a escritora defendia quanto à ficção e o uso, ainda que limitado, de recursos

ficcionais na composição da Bíblia.

Por fim, era preciso entender a suposta contradição entre seus escritos e suas

práticas, especialmente quanto à recomendação do clássico evangélico O peregrino (1678),

algumas de suas visões – que foram transmitidas por ela de forma alegórica – e a

publicação de Sabbath readings for the home circle, cujo primeiro volume foi publicado em

1877.

Basicamente, as respostas a essas inquietações giraram entre dois extremos. Numa

das pontas do continuum estava a defesa de uma leitura rígida de seus escritos. Cobb (1966)

foi o principal promotor dessa posição, negando a presença de ficção tanto no texto bíblico

quanto nas histórias publicadas em Sabbath readings. Em seu panfleto “Give attendance to

reading”, ele adotou um tom apologético e procurou responder aos argumentos de que as

orientações da autora quanto à ficção deveriam ser lidas à luz de seus dias. Em sua

perspectiva, a tentativa de contemporizar com as admoestações de Ellen White levaria ao

enfraquecimento de seus testemunhos.

Nenhum membro, sem dúvida, começaria com tal atitude. Isso ocorrerá gradualmente.
Imperceptivelmente, os “argumentos infundados” e “sofismas” fazem efeito. Aqueles
que agora ouvimos entre nós são de natureza a produzir negligência, a diminuir a
confiança e, finalmente, transformar a atitude. (Cobb, 1966, p. 45)

52
Para resolver o problema de professores e alunos quanto aos requisitos acadêmicos

que demandavam o estudo de literatura, Cobb sugeriu um plano de ensino com base em

esboços e resumos das obras exigidas pelo currículo escolar (Cobb, 1966, p. 26).

Davis (2002, pp. 53, 54) apresenta três objeções significativas aos argumentos de

Cobb. Em primeiro lugar, cita o tom negativo da abordagem proposta, que parte do

pressuposto de que toda ficção prejudica a experiência cristã. Na sequência, critica o fato de

que o autor “nunca aborda realmente a natureza variável e complexa dos termos ‘ficção’,

‘novela’ e ‘história’” (p. 54). Por fim, considera contraditória a sugestão de usar esboços e

resumos para o conhecimento de autores e suas obras. “Por que ler uma versão resumida é

melhor do que ler a obra completa?” (Davis, 2002, p. 54).

Por sua vez, na outra ponta do continuum estavam estudiosos que defendiam uma

leitura contextualizada de Ellen White. Harry Tippett, Paul Gibbs e John Waller foram os

principais nomes contemporâneos de Cobb a elaborar estudos favoráveis à abordagem

analítica dos escritos da autora. O artigo de Waller intitulado “A contextual study of Ellen

G. White’s counsel concerning fiction” (1965) foi um divisor de águas para a compreensão

adventista a respeito do assunto.

Waller foi direto ao refutar as alegações de Cobb. Ele contextualizou as citações de

Ellen White em termos da discussão protestante sobre ficção e analisou os textos que

fizeram parte de Sabbath readings selecionados pela autora. Ao concluir seu texto, afirmou:

53
Se a senhora White estivesse viva e ciente dos procedimentos do departamento de
Inglês, não sei se ela condenaria a abordagem cautelosa, seletiva e crítica para alguma
ficção padrão ou mais recente usada em nível de ensino médio ou faculdade. Estou
certo de que, se ela pudesse aprovar qualquer abordagem, teria que ser uma abordagem
crítica, uma abordagem em que a leitura não fosse pela história somente, em que a
mente não fosse simplesmente passiva, um tipo de estudo metódico e esclarecido. Não
tenho evidência interna para supor que a senhora White aprovaria isso. Mas saio de
meses de estudo com mais respeito por seu bom julgamento do que antes. (Waller,
1965, p. 59)

Essas conclusões motivaram uma série de discussões entre acadêmicos adventistas

nos anos subsequentes. No início da década de 1970, Bradley (1971), membro do

Patrimônio Literário Ellen G. White, apresentou uma monografia intitulada “Ellen G.

White on literature” ao Comitê de Ensino de Literatura, em que corroborou as principais

ideias de Waller. Seu estudo foi introduzido por algumas considerações preliminares e

trazia uma série de materiais relacionados com a autora, referentes à atitude dela quanto ao

tema.

Ele defendeu três ideias principais. A primeira é que Ellen White não aprovava uma

peça literária somente por sua atualidade. “Em vez disso, o critério de dignidade intrínseca

do material deve ser aplicado, e seu efeito no caráter e na mente do leitor, avaliado”

(Bradley, 1971, p. 2). A segunda é que a autora foi muito seletiva no modo como escreveu

sobre certos autores e ainda na maneira como usou alguns dos materiais deles (p. 3).

Finalmente, que ao estudar a compilação Sabbath readings, ele mesmo não via razões para

discordar das conclusões de Waller (p. 3).

Em 1971, a posição contextual ganhou força com a publicação do “Guide to the

teaching of literature in Seventh-day Adventist schools”, preparado pelo Departamento de

Educação da Associação Geral. Com base em um “cuidadoso estudo dos conselhos de

54
Ellen G. White e seu total relacionamento com os princípios de leitura” (Department of

Education, 1971, p. 4), o documento favoreceu o ensino criterioso de literatura ficcional e

não ficcional em escolas adventistas.

Ao abordar especificamente a relação entre Ellen White e a ficção, o guia seguiu o

entendimento de que ela

usou o termo ficção para se referir a obras com as seguintes características: (1)
viciantes; (2) sentimentalistas, sensacionalistas, eróticas, profanas ou inúteis; (3)
escapistas, fazendo com que o leitor se volte para um mundo de sonhos e seja incapaz
de lidar com os problemas da vida cotidiana; (4) que inabilitam a mente para o estudo
sério e a vida devocional; (5) que consomem tempo e são sem valor. (Department of
Education, 1971, p. 7)

O parecer oficial do Departamento de Educação da Associação Geral, partidário do

ensino cauteloso de literatura ficcional, incentivou a produção de materiais para o

aprofundamento desse conceito. Dunn (1974) organizou uma compilação contendo vários

artigos abordando o assunto; Wood (1976) escreveu aclarando sobre como eram as

diferentes publicações ficcionais nos dias de Ellen White; Davis (1987) retratou como as

novelas e ficções populares sufocaram nomes importantes da literatura norte-americana do

século 19 e, além disso, escreveu um importante livro propondo uma abordagem adventista

para o estudo literário (2002); e Tidwell (2013) foi o responsável por sintetizar a posição

desenvolvida ao longo do tempo entre os adventistas na Enciclopédia Ellen G. White, obra

de referência sobre a autora.

Com a finalidade de resumir os principais fatores contextuais que envolvem as

citações de Ellen White quanto à literatura, Knight (2010) propôs cinco pontos-chave. De

acordo com o autor, para compreender o que ela escreveu é preciso considerar que, em seus

dias, (a) “os clássicos gregos e latinos, lidos na língua original, ocupavam o centro do

55
currículo” educacional (p. 158); (b) a produção de livros sensacionalistas estava se

expandindo rapidamente (p. 158); (c) as editoras adventistas estavam imprimindo livros de

terceiros com qualidade duvidosa (p. 159); (d) as ideias panteístas de John H. Kellogg

ameaçavam a teologia adventista e eram divulgadas por meio de literatura especulativa na

virada do século 19 (p. 160); e, por fim, (e) jornais religiosos estavam incorretamente

propagando ou “glorificando” autores seculares (p. 160).

Apesar dos vários estudos feitos e das diversas perspectivas apresentadas, o assunto

ainda continua sendo “controverso e contencioso”, conforme qualificou Clouten (2014, p.

10). O fato de que em alguns círculos adventistas o tema não esteja plenamente maduro

quanto ao ensino de literatura faz com que essa realidade influencie diretamente a produção

editorial da igreja.

Ao avaliar essa nuance do debate, Land (2015, p. 197) afirmou: “Com uma visão

negativa acerca de ficção dominando o adventismo na maior parte de sua história, não é

surpreendente que as editoras adventistas tenham sido lentas ao adotar o gênero.” Em

realidade, após a publicação de Sabbath readings, é provável que o primeiro livro

adventista a usar recursos ficcionais tenha sido The marked Bible, lançado em 1919 (Land,

2015, p. 197).

Especialmente durante a segunda metade do século 20, é possível observar um

aumento no número de obras ficcionais produzidas pelos adventistas nos Estados Unidos

paralelamente às discussões conceituais a respeito do tema, ainda que os termos ficção ou

romance não tenham sido empregados explicitamente. Desse modo, na transição para o

século 21, “ficou aparente que a ficção havia conquistado um lugar na subcultura

56
adventista, mesmo que essa cultura tenha permanecido receosa de utilizar uma terminologia

comum” (Land, 2015, p. 198). Essa constatação justifica o entusiasmo de Moncrieff (1996),

que afirmou: “os professores de literatura podem selecionar ‘boa’ ficção para suas classes, e

as editoras adventistas podem publicar ‘boa’ ficção”.

A despeito da maneira pela qual os acadêmicos adventistas interpretaram o tema

nos escritos de Ellen White, é preciso manter em perspectiva que tais explicações não

substituem o fato de que ela jamais recomendou a publicação de materiais com as

características positivas que posteriormente viriam a ser chamadas de “boa ficção”. Como,

então, interpretar o silêncio da autora quanto a isso? Antes de propor uma resposta, é

importante avaliar o que ela exortou que autores e editores publicassem, a fim de cumprir a

missão singular do adventismo.

O que publicar

Ao orientar a obra de publicações, White incentivou que editoras e autores, em

primeiro lugar, preparassem materiais destinados a propagar a tríplice mensagem angélica e

a verdade presente. Por isso, disse que a base da obra adventista é “a proclamação da

mensagem do terceiro anjo, os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus” (White,

2010a, p. 92). “Temos um trabalho da maior importância para realizar: proclamar a terceira

mensagem angélica” (p. 115). E ainda, “conceda-se mais tempo à publicação e

disseminação de livros que contenham a verdade presente” (p. 11). A venda desses

materiais daria oportunidade para que as pessoas recebessem as “mensagens decisivas que

devem preparar um povo para que permaneça na plataforma da verdade eterna” (p. 95).

57
Esse tom predominantemente escatológico direcionou as orientações da escritora

para motivar a produção de periódicos e livros que explicassem as profecias e os sinais dos

tempos. “Mediante a pena e a voz devemos fazer soar a proclamação, mostrando sua ordem

e a aplicação das profecias que nos levam à terceira mensagem angélica” (White, 2010a, p.

19). De especial importância para esse propósito, encontrava-se a publicação de literatura

que tratasse especialmente dos livros de Daniel e Apocalipse (p. 43). Para ela, as pessoas

precisavam de “uma clara explanação do Apocalipse”, “com o mínimo possível de

explicações pessoais” (p. 20). Além disso, a autora defendia que “as profecias de Daniel e

Apocalipse” deviam ser “publicadas em livros pequenos, com as necessárias explicações”,

para que fossem distribuídos amplamente (White, 2014b, p. 117; White, 1997, p. 347).

A título de ilustração, White recomendou a ampla divulgação de livros como Daniel

e Apocalipse, de Uriah Smith, O grande conflito, Patriarcas e profetas e O Desejado de

todas as nações, de sua autoria (White 2014a, pp. 88, 123, 124, 126, 127), considerando

que a mensagem dessas obras “contêm exatamente a mensagem que as pessoas devem

receber, a luz especial que Deus tem dado a Seu povo” (White, 1997, pp. 228, 395).

Na concepção da autora, tão importante quanto a propagação dos elementos

escatológicos que fundamentam e impulsionam a missão adventista é apresentar de modo

mais claro, embasado e transparente possível (White, 1997, p. 245; White, 2010a, p. 70) as

doutrinas bíblicas que tornaram o adventismo do sétimo dia um movimento peculiar

(White, 2015a, p. 61). Por isso, recomendou a impressão de publicações que defendessem

legitimamente (White, 2010a, p. 27) “os pilares da nossa fé: as verdades que fizeram de nós

o povo que somos, guiando-nos passo a passo” (p. 20).

58
Livros e artigos deveriam apresentar com argumentação precisa e interessante

explicações doutrinárias, por exemplo, sobre o santuário celestial, a lei de Deus, o sábado, a

imortalidade condicional, o segundo advento de Cristo (White, 2010a, p. 21), a salvação

pela graça mediante a fé (p. 18), as Escrituras Sagradas, a criação (p. 46), as “maravilhas da

redenção” (p. 53) e o dom de profecia (White, 2015a, p. 638). Em suma, a igreja deveria

“dar a sua primeira atenção” a “livros que ensinem as doutrinas da Bíblia e preparem o

povo que há de ficar em pé nos tempos difíceis que estão diante de nós” (White, 2015a, p.

61).

Além disso, à semelhança da comunidade apostólica, os adventistas deveriam aliar a

expectativa escatológica e a solidez doutrinária com uma vida cristã piedosa. Por diversas

vezes, White pediu por livros que tratassem “da fé e da piedade prática”, assim como obras

que destacassem as profecias (White, 2010a, pp. 11, 18, 97). Nesse âmbito, encontram-se

“experiências reais, estudos bíblicos e apelos claros, simples e fervorosos” (p. 14), temas

relacionados com a salvação espiritual (p. 15), a religião doméstica e a santidade da família

(p. 10), o casamento (p. 71), “a religião pura e imaculada” (p. 16) ou a “religiosidade vital”

(p. 18) e “casos práticos de fé e esperança” (White, 1997, p. 252).

Ampliando a ideia de publicações que abordassem a família, a escritora fez especial

referência às crianças. Aliás, um número significativo de suas admoestações quanto ao tipo

de literatura foi motivado por sua preocupação com as crianças e os jovens. Mais do que

censurar o consumo de fábulas, contos, mitos, ficções ou romances de seus dias por parte

dos mais novos, White encorajou autores adventistas a “escrever livros que contenham

lições simples do Antigo e Novo Testamentos” (White, 1997, p. 109) endereçados a eles.

59
Um exemplo de sua preocupação com as novas gerações pode ser encontrado na seguinte

citação:

O uso de comparações, quadros-negros, mapas e gravuras será de auxílio na explicação


destas lições e na fixação das mesmas na memória. [...] O ensino da Bíblia deve ter os
nossos mais espontâneos pensamentos, nossos melhores métodos e o nosso mais
fervoroso esforço. (White, 2016, p. 186)

A propósito, ela também tinha seu olhar voltado para a publicação de subsídios para

a educação cristã. Embora o sistema educacional adventista ainda estivesse em formação, a

atenção da autora estava sobre o tipo de instrução que a igreja publicaria referente aos

princípios educacionais. Seu receio era de que a Christian Educator, primeira revista sobre

educação publicada pela igreja, tivesse como propósito exaltar conceitos distantes do ideal

redentivo da educação adventista (White, 2010a, pp. 77, 78).

Outro tema de grande interesse para White era a apresentação de testemunhos

missionários e relatos históricos do desenvolvimento da Igreja Adventista. Ela exortava os

obreiros a contar “experiências vivas” que, em textos curtos e simples, proporcionariam

“ajuda incalculável para a experiência cristã” (White, 2010a, p. 150). Isso incluía o trabalho

de missionários, pastores e colportores (White, 2010b, pp. 14, 71; White, 2014a, p. 79), e

ainda a reimpressão de artigos escritos pelos pioneiros, “que sabiam o custo de buscar a

verdade como a tesouros escondidos e que labutaram para estabelecer os fundamentos da

obra” (White, 2010a, pp. 20, 19, 96).

Por fim, a escritora deu grande ênfase na publicação de livros e revistas sobre saúde.

Como “braço direito da terceira mensagem angélica” (White, 2014c, p. 229), o “evangelho

da saúde” (White, 2014c, p. 131) era considerado uma ferramenta importante na obra de

“disseminação da luz que os habitantes do mundo devem possuir neste dia de preparo de

60
Deus” (White, 2010a, p. 82). Por meio de folhetos, livros e revistas (White, 2014a, p. 385),

a mensagem de saúde, temperança e higiene (White, 2016, p. 461) deveria alcançar a todos.

Ela mantinha a perspectiva de que essas publicações deveriam instruir as pessoas que não

tinham condições de serem atendidas nas instituições de saúde adventistas (White, 2014c,

pp. 552, 553), apresentando dicas práticas e aplicáveis a todos (White, 2014a, p. 86).

Ao avaliar as orientações de White quanto àquilo que as editoras da igreja deveriam

publicar, fica evidente que a autora dava preferência para materiais que apresentavam os

temas de modo claro e didático, com vistas ao preparo cabal dos leitores para o segundo

advento de Cristo. Por esse motivo, a proclamação da terceira mensagem angélica e da

verdade presente, das profecias, das doutrinas, dos princípios de piedade prática, dos

ensinamentos para crianças e jovens, dos fundamentos da educação cristã, dos testemunhos

do trabalho missionário, das histórias dos pioneiros e da mensagem de saúde não deveria

estar associada a gêneros literários que pudessem de alguma maneira lhe diluir a força dos

argumentos favoráveis.

Assim, retomando a discussão referente aos gêneros literários, nota-se que, em

função do claro propósito editorial das casas publicadoras da Igreja Adventista, White

priorizava os textos informativos, utilitários. Isso significa, entretanto, que os textos

ficcionais estariam definitivamente banidos das editoras denominacionais? O silêncio da

autora quanto à aplicação da “boa ficção” à causa adventista e sua participação como

compiladora do Sabbath readings indicam que esse não seria o caso.

Portanto, a partir dessas constatações, uma posição equilibrada parece ser que as

editoras adventistas priorizem os materiais claramente recomendados por White, sejam

61
muito criteriosas quanto àqueles que autora não abordou especificamente do modo como

eles são escritos e rejeitem em absoluto os textos que estejam em perfeito paralelo com

aqueles criticados por ela em seus dias.

Uso de ilustrações

A inserção de imagens nas publicações adventistas também foi orientada por Ellen

White. Ela deu conselhos acerca de questões como propósito, qualidade, temas e custos

com as ilustrações.

A autora entendia que as imagens deveriam conter “lições que orientam o estudo do

próprio livro” (White, 2010a, p. 110), ilustrar “acertadamente os temas tratados” (White,

1997, p. 238) e servir para ajudar pessoas menos instruídas a entender a mensagem de

modo simples e claro (White, 2009, p. 159; White, 2010a, p. 96). Portanto, para ela, as

ilustrações deveriam ter um propósito pedagógico: “Quando as ilustrações apresentam

lições que induzem a estudar o livro, isso é conveniente”; entretanto, imagens que “afastam

a atenção da verdade contida no livro e se fixam nelas mesmas” fracassam no objetivo de

“contribuir com o livro por meio das ilustrações” (White, 1997, p. 239).

White prezava pela qualidade das imagens usadas nas publicações assim como era

cuidadosa com as condições dos textos. “As figuras/quadros que representam cenas bíblicas

não devem ser desenhos mal-acabados” (White, 2010a, p. 110). De acordo com seu

entendimento, a reprodução grosseira dos temas bíblicos tende a imprimir na “memória

cenas que dão uma falsa concepção de Cristo e das coisas celestiais” (p. 110). Assim,

“muitas das pinturas malfeitas que aparecem em nossos livros e revistas dão uma ideia

enganosa para o público” (White, 2010a, p. 112). Além disso, ela temia que a falta de

62
qualidade das imagens pudesse rebaixar as publicações denominacionais à semelhança de

almanaques cômicos (p. 113). Desse modo, fica evidente que a excelência artística na

produção de literatura deveria ser buscada. “A devida representação de cenas bíblicas

requer talento de superior qualidade.” “Proíba Deus que agrademos ao diabo abaixando as

normas da verdade eterna mediante o emprego de ilustrações que serão ridicularizadas por

homens, mulheres e crianças” (White, 2010a, p. 110).

Ao discutir a respeito dos temas das ilustrações, White rejeitava a reprodução de

imagens alusivas à inquisição (White, 2010a, p. 113) e ao martírio de cristãos ao longo da

história, pois tais desenhos impactam negativamente a vida espiritual (White, 1997, p. 240).

Em relação às ilustrações bíblicas, a escritora esperava que as imagens fossem coerentes

com o texto sagrado e dignas de representar os personagens de sua narrativa (p. 240).

Quanto a esse ponto, algumas citações da autora têm sido mal utilizadas para

combater o uso de ilustrações de elementos celestiais, configurando uma transgressão do

segundo mandamento (Êx 20:4). Uma delas diz: “nem Deus, nem o Céu, nem Cristo que é

a imagem do Pai podem ser representados acertadamente pelo gênio artístico de um

homem” (White, 1997, p. 243). Outra afirma: “Deus pode formar ilustrações mais belas e

corretas, no olho da mente, do que aquelas que poderia realizar o melhor artista que tenha

oferecido ao mundo uma representação das coisas celestiais” (p. 243).

Os críticos do uso de ilustrações se precipitam quando utilizam essas passagens para

condenar essa prática editorial. Em primeiro lugar, ignoram o contexto em que Ellen White

fez essas afirmações. As duas foram escritas em cartas distintas no ano de 1899 e são parte

63
da argumentação da autora quanto aos exageros dos editores no uso de imagens. Desse

modo, o que estava em jogo não era o tema da ilustração, mas seus custos.

Em diversas ocasiões, a escritora admoestou administradores e editores das casas

publicadoras a serem racionais quanto ao emprego de ilustrações. Naqueles dias, foi-lhe

mostrado “que a abundância de ilustrações feitas para os nossos periódicos e livros está se

tornando uma ambição não santificada; e os perigos de rivalidade estão atingindo um grau

alarmante” (White, 2010a, p. 111). Como resultado, o trabalho editorial adventista estava se

afastando da simplicidade da fé, e os produtos estavam incorrendo em custos excessivos e

grandes atrasos, que dificultavam sua distribuição.

A fim de demonstrar a atitude de White referente a esse assunto, Burt (1987)

apresenta exemplos de como a autora lidava com as ilustrações de seus livros. Ela não

somente apoiava o uso de imagens como também participava ativamente de seu processo

de escolha e aprovação, e isso após 1899. Além disso, a escritora publicou o desenho de seu

esposo “Christ, the way of life” (p. 1), tinha em sua biblioteca ao menos dois livros

referentes a ilustrações bíblicas (p. 5) e mantinha em sua casa, em Elmshaven, no caminho

entre seu quarto e o escritório, um quadro da última ceia (p. 6). O pesquisador conclui seu

arrazoado dizendo:

Parece claro que, mesmo tarde em sua vida, Ellen White se sentia confortável em usar
ilustrações cuidadosamente feitas de certas “coisas celestiais” em seus livros. Ela
também as via como ferramentas valiosas para transmitir a verdade. Quando tais
imagens de boa qualidade estavam disponíveis, não iriam atrasar a produção de seus
livros nem aumentar seus custos indevidamente, Ellen White as usava em seus livros.
(Burt, 1987, p. 7)

Desse modo, é razoável afirmar que White mantinha uma postura pragmática e

ponderada quanto ao uso de ilustrações. Uma vez que elas fossem bem-feitas, coerentes

64
com a realidade bíblica, usadas de maneira pedagógica e não incorressem em tempo ou

custos desnecessários, deveriam compor a literatura adventista, servindo como apoio para a

absorção de sua mensagem.

Síntese

Este capítulo procurou estabelecer critérios editoriais a partir do Antigo e do Novo

Testamento, bem como dos escritos de Ellen White. Os princípios extraídos da Bíblia são

o alinhamento com a cosmovisão bíblica e os escritos inspirados, a centralidade do tema

da aliança (no contexto da salvação), a variedade de propósitos inter-relacionados

(fundamentos da religião, história do povo de Deus, aspectos práticos referentes aos

relacionamentos vertical e horizontal e as profecias), a veracidade, clareza e precisão do

conteúdo escrito e a contextualização com critérios em termos de linguagem, abordagem

e gêneros literários.

Por sua vez, a partir dos textos de White foi possível extrair princípios acerca dos

materiais escritos e também do uso de ilustrações. Quanto aos princípios gerais, ela

exortou que a literatura publicada tivesse uma linguagem refinada, ponderada e repleta da

influência das Escrituras Sagradas e do espírito de Cristo. Em relação à abordagem,

defendeu que os textos deveriam ser simples, claros, objetivos, prudentes e permeados

pela espiritualidade cristã.

A autora acreditava que a obra editorial adventista deveria se empenhar na

proclamação da terceira mensagem angélica e da verdade presente, das profecias, das

doutrinas, dos princípios de piedade prática, dos ensinamentos para crianças e jovens, dos

fundamentos da educação cristã, dos testemunhos do trabalho missionário, das histórias dos

65
pioneiros e da mensagem de saúde. Para que a missão editorial fosse bem-sucedida, esses

conteúdos não deveriam estar associados a gêneros literários que pudessem de alguma

maneira diluir a força de seus argumentos favoráveis.

Além de tratar de aspectos referentes ao texto, White também apresentou

orientações pertinentes ao uso de imagens. Ela acreditava que as ilustrações deveriam ser

bem-feitas, coerentes com a realidade bíblica, usadas de maneira pedagógica e

financeiramente viáveis. De acordo com seu juízo, boas imagens eram úteis no processo de

assimilação da mensagem pregada.

Assim, com base nos subsídios bíblicos e nas orientações de White, podem-se

sugerir os seguintes princípios editoriais:

Princípio 1 – Cosmovisão: A produção editorial adventista deve ser alinhada com a

cosmovisão bíblica e, por consequência, com os escritos inspirados.

Princípio 2 – Assunto: A produção editorial adventista deve contribuir para que seus

leitores cresçam na compreensão da salvação em Jesus Cristo.

Princípio 3 – Propósitos: A produção editorial adventista deve ser verdadeira, clara

e precisa e servir para edificar seus leitores com os seguintes temas: a verdade presente,

profecias, doutrinas, princípios de vida cristã, ensinamentos para crianças e jovens,

fundamentos da educação cristã, testemunhos do trabalho missionário, histórias dos

pioneiros e a mensagem de saúde.

Princípio 4 – Contextualização: A produção editorial adventista deve ser

contextualizada quanto à linguagem e abordagem, visando alcançar a todos com sua

mensagem peculiar.

66
Princípio 5 – Imagem: A produção editorial adventista deve prezar pelo uso

eficiente e ponderado das ilustrações, alinhadas à cosmovisão e aos princípios

anteriormente mencionados.

67
CAPÍTULO 3

MANUAL FILOSÓFICO PARA EDITORAS


NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA

A busca por bibliografia que tratasse da elaboração de manuais filosóficos indicou

três limitações significativas. A primeira é que não existem obras teóricas que abordem o

tema de modo específico. A segunda é que a maioria dos manuais disponíveis se refere a

empresas jornalísticas, e, portanto, suas orientações estão voltadas para a produção e

avaliação de conteúdo noticioso. A última é que a pretensão de consultar manuais utilizados

por editoras adventistas foi frustrada pelo fato de que as principais casas publicadoras da

denominação utilizam apenas manuais de estilo, e não manuais filosóficos. Foram

consultadas as seguintes editoras: Review and Herald, Pacific Press, Asociación Casa

Editora Sudamericana e Signs.

Diante dessa realidade, optou-se por desenvolver a revisão teórica acerca da

elaboração de um manual filosófico a partir da análise de cinco manuais editoriais, em

busca de seus elementos estruturais. O próximo passo foi identificar seus componentes

fundamentais e estudá-los separadamente, tendo em vista a elaboração do manual da CPB.

Foram identificados, portanto, os seguintes elementos: missão editorial, princípios e

práticas. Implicitamente, é preciso reconhecer também que todo texto reflete uma

68
cosmovisão, por isso, esse elemento é tratado à parte, e em primeiro lugar, na seção

correspondente.

Análise dos manuais

Os manuais analisados foram escolhidos de acordo com quatro critérios pré-

estabelecidos. O primeiro foi o da especificidade; o documento deveria ter alguma seção

específica sobre os aspectos filosóficos/éticos da empresa de comunicação. O segundo foi

a relevância; o manual deveria ter um conteúdo relevante que justificasse seu estudo. Na

sequência, foi considerado o critério da representatividade; a empresa de comunicação

deveria ser representativa em seu segmento de atuação. O quarto item considerou a

variedade; foram escolhidos manuais editoriais de empresas de comunicação vinculadas

ao governo de seus países e de entidades comerciais, sendo um deles elaborado por uma

editora cristã.

As análises foram objetivas e se detiveram nos principais aspectos estruturais. Não

foi propósito desta pesquisa avaliar pormenorizadamente a filosofia de cada manual nem

as orientações referentes a estilo. Cada material foi analisado do seguinte modo: (a) uma

breve exposição da empresa de comunicação; (b) apresentação do manual e da missão

editorial; (c) descrição dos elementos estruturais pertinentes para esta tese; e (d)

avaliação.

British Broadcasting Corporation

A British Broadcasting Corporation (BBC) foi estabelecida em 1927, após o

decreto real que tornou a British Broadcasting Company uma empresa pública de

69
radiodifusão. Ferrão Neto (2007) destaca a singularidade da BBC, uma vez que ela não

pode ser considerada uma emissora totalmente estatal, mas também não se enquadra em

um sistema empresarial de livre iniciativa (p. 4). Trata-se atualmente da maior emissora

do mundo, com 48 agências de notícias internacionais e relação com mais de 150 países

(Sambrooke, 2017, pp. 2, 3).

A BBC apresenta uma política editorial bem sistematizada. Ela se encontra nas

Editorial guidelines (British Broadcasting Corporation, 2016) que, por sua vez, foram

estabelecidas com base em dois documentos oficiais do Reino Unido: o Agreement

(Secretary of State for Culture, Media and Sport, 2016a) e a Royal charter (Secretary of

State for Culture, Media and Sport, 2016b). A Royal charter apresenta a missão da BBC e

seus propósitos públicos.

Conforme o documento, “a missão da BBC é agir em favor do interesse público,

servindo a todas as audiências por meio do fornecimento de produções e serviços

imparciais, distintivos e de alta qualidade que informam, educam e divertem” (Secretary

of State for Culture, Media and Sport, 2016b, item 5). Em relação aos propósitos

públicos, a declaração indica cinco finalidades: (a) fornecer notícias e informações

imparciais; (b) apoiar a aprendizagem de pessoas de todas as idades; (c) apresentar

produções e serviços distintivos, criativos e de alta qualidade; (d) refletir, representar e

servir as diversas comunidades de todas as nações e regiões que compõem o Reino

Unido; (e) refletir a cultura e os valores do Reino Unido para o mundo (Secretary of State

for Culture, Media and Sport, 2016b, item 6).

70
Como reflexo de sua missão e de seus propósitos públicos, a BBC elaborou suas

orientações editoriais enaltecendo 11 valores: confiança; verdade e acuracidade;

imparcialidade; integridade e independência editorial; proteção contra ameaça e ofensa;

serviço ao interesse público; justiça; privacidade; proteção à criança; transparência; e

prestação de contas (British Broadcasting Corporation, 2016).

Formulado para ser de fácil consulta, e a partir da “experiência, do senso comum e

dos valores” de “produtores, editores e administradores” da BBC ao longo dos anos

(British Broadcasting Corporation, 2016, p. 2), o documento explora cada um dos valores

por meio da seguinte estrutura: introdução, princípios, indicações obrigatórias e práticas.

A introdução esclarece o entendimento básico da BBC quanto ao significado de cada

valor. Os princípios são os padrões que fundamentam a implementação de determinado

valor. As indicações obrigatórias são os possíveis dilemas editoriais existentes em relação

àquele valor, e qual superior hierárquico deve ser procurado para avaliar a situação. Por

último, as práticas expõem atitudes que refletem os princípios editoriais e que foram

elaboradas ao longo do tempo por profissionais experientes, em relação ao valor

apresentado.

Alguns elementos estruturais se destacam nas orientações editoriais da BBC. Em

primeiro lugar, o documento demonstra seu compromisso com os valores gerais

defendidos pelo Reino Unido, em sua relação com o Estado, representado pela monarquia

britânica

71
Em seguida, nota-se que as declarações de missão, propósitos públicos e valores

editoriais são bem definidas e estão alinhadas entre si. A coesão entre esses elementos

promove a consistência das orientações e tende a facilitar sua aplicabilidade.

Outro ponto importante é a apresentação conjunta dos princípios e das práticas em

cada um dos 11 valores editoriais. Mais do que ser prescritivo, o documento estimula a

reflexão acerca do porquê algo deve ser feito ou evitado.

Por último, deve-se destacar o fato de que as orientações da BBC refletem o

resultado de anos de observação, avaliação e sistematização de práticas referentes à sua

produção editorial. Além disso, demonstra que as orientações estão sempre sob olhares

reflexivos e são passíveis de atualização contínua.

El País

O periódico El País foi fundado em 1976, em um momento de transição na

história da Espanha. Nesse ano, a ditadura de Francisco Franco dava lugar ao regime

democrático, e o jornal surgia como uma voz dos novos tempos para a nação (El País,

s.d., ¶ 1). Uma evidência de sua relevância no universo do jornalismo é o fato de ser,

atualmente, o periódico digital em língua espanhola mais lido do mundo (El País, 2016).

Seus princípios editoriais encontram-se em seu Libro de estilo (El País, 2014),

publicação que está em sua 22ª edição, é pioneira do gênero na Espanha e que conquistou

prestígio em diversas partes do mundo, especialmente na América Latina. Embora a

maior parte de seu conteúdo esteja relacionada com normas estilísticas, o capítulo 1,

“Princípios éticos”, apresenta informações pertinentes para esta tese.

72
O primeiro item do capítulo expõe a definição do El País: “um meio

independente, nacional, de informação geral, com uma clara vocação global e

especialmente latino-americana, defensor da democracia plural segundo os princípios

liberais e sociais, e que se compromete a guardar a ordem democrática e legal

estabelecida na Constituição” (El País, 2014, p. 27).

Sua declaração de propósito encontra-se no item 1.2: “O El País se esforça por

apresentar diariamente uma informação veraz, o mais completa possível, interessante,

atual e de alta qualidade, de maneira que ajude o leitor a entender a realidade e a formar

seu próprio critério” (El País, 2014, p. 27). O documento ainda reforça a intenção de se

manter livre de qualquer pressão pessoal, partidária, econômica, religiosa ou ideológica

que possa subjugar a informação aos interesses de terceiros (El País, 2014, p. 27).

O restante do capítulo está dividido nas seguintes seções: fontes, injúrias e

calúnias, tratamento da informação, singularidades informativas, tratamento de

publicidade, imagens, entrevistas, questionários, expressões malsonantes, correções de

erro e direito a esquecimento. Em cada uma delas, o manual apresenta instruções práticas

do que deve ou não ser feito, de acordo com parâmetros jornalísticos internacionais.

Diferentemente das orientações editoriais da BBC, não há explicação dos princípios que

fundamentam cada item, embora seja perceptível que eles estão alinhados à definição

estatutária do periódico.

Entre as seções há, contudo, uma que se destaca por apresentar critérios

particulares de conduta institucional. Na parte “singularidades informativas”, o El País

declara que não publica informações que promovam a prática do boxe, por compreender

73
que o ambiente desse esporte é “sórdido”; não reconhece como notícia as falsas ameaças

de bomba, a fim de evitar a publicidade dos delinquentes; é muito prudente ao noticiar

suicídios, porque entende que nem sempre as aparências coincidem com a realidade dos

fatos e para evitar que a notícia estimule pessoas a se suicidar; e age com especial

discrição em casos de estupro, com o propósito de preservar a identidade da vítima e de

menores de idade que estejam envolvidos no ato (El País, 2014, p. 27).

A observação dos elementos estruturais referentes aos aspectos filosóficos do

Libro de estilo permite identificar alguns pontos. Ao contrário da BBC, o jornal não

estabelece um compromisso formal com o Estado, embora assuma seu engajamento com

a “ordem democrática e legal estabelecida na Constituição” (El País, 2014, p. 27).

Outra característica importante é seu caráter essencialmente prescritivo. O Libro

de estilo não dedica espaço para a reflexão, embora seja possível constatar que as

orientações resultam de um longo processo de elaboração coletiva. Talvez essa

característica seja um dos motivos pelos quais o material tenha obtido tamanho êxito,

especialmente na cultura latino-americana, que, tradicionalmente, tende a ser mais prática

e menos reflexiva.

Por fim, chama atenção, também, a transparência e contundência em relação a

algumas posições particulares do jornal, conforme foi demonstrado na descrição da seção

“singularidades informativas”.

Empresa Brasil de Comunicação

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi criada em 2007 “para fortalecer o

sistema público de comunicação” e tem como finalidade gerir a TV Brasil, TV Brasil

74
Internacional, Agência Brasil, Radioagência Nacional e o sistema público de rádio

(Empresa Brasil de Comunicação, s. d., ¶ 2). Por ter independência editorial, a EBC é

considerada distinta dos canais estatais ou governamentais. Apesar dessa condição, ela

também não pode ser vista como uma empresa regida pela livre iniciativa, mantendo uma

condição semelhante à da BBC.

Em 2013, a instituição lançou o Manual de jornalismo da EBC. Dividido em oito

seções, esse guia editorial foi elaborado a partir de um processo que contou com as

seguintes fases: (a) formação de um grupo-base de trabalho; (b) estudo de manuais de

comunicação de empresas do Brasil, Inglaterra, França, Espanha, Portugal, África do Sul,

Canadá, Estados Unidos, Colômbia e Equador; (c) reuniões, produção de textos e

encontros para o debate e a formulação de um documento inicial, com a participação de

profissionais não vinculados à EBC; (d) apresentação do documento para apreciação

pública via internet; (e) discussão do documento pela Diretoria Executiva da EBC; (f)

permissão para que os empregados da EBC pudessem analisar a minuta do manual e,

assim, contribuir com críticas e sugestões; (g) aprovação final da Diretoria Executiva e do

Conselho Curador (Empresa Brasil de Comunicação, 2013).

Entre suas oito seções, duas apresentam conteúdo relevante para esta tese. A

primeira, intitulada “Princípios, valores, objetivos e diretrizes”, e a quinta, nomeada

“Orientações para temas e situações específicas”.

75
O manual da instituição apresenta cinco princípios norteadores de suas atividades:

(1) Fomento à construção da cidadania, ao aperfeiçoamento da democracia e à


participação da sociedade; (2) garantia da expressão da diversidade social, cultural,
regional e étnica e da pluralidade de ideias e de percepções da realidade e dos fatos que
são objeto de cobertura do jornalismo da EBC; (3) subordinação aos interesses da
sociedade, explicitados por instrumentos formais inseridos na constituição da empresa,
respeitando-se a pluralidade da sociedade brasileira; (4) observância de preceitos éticos
no exercício do jornalismo; e (5) autonomia para definir a produção, programação e
veiculação de seus conteúdos. (Empresa Brasil de Comunicação, 2013, p. 23)

O guia editorial ainda explora os seguintes valores, objetivos e diretrizes da EBC:

pluralidade, imparcialidade, liberdade, discernimento, regionalismo, educação, idioma,

rejeição ao proselitismo, debate público, inclusão, inovação, participação, repúdio à

discriminação, ética e família (Empresa Brasil de Comunicação, 2013).

Tanto em seus princípios quanto em seus valores, objetivos e diretrizes sobressai o

intuito de ser uma empresa orientada para a sociedade. Ao definir o foco de atuação da

EBC, o manual deixa claro que sua ênfase está no interesse público, e preza por duas

linhas de interação: o foco no cidadão e o foco do cidadão. Com isso, a organização

pretende valorizar o cidadão como público e também como referência do modo como seu

jornalismo será feito.

Por sua vez, a quinta seção traz “orientações para temas e situações específicas”.

Os principais assuntos da sociedade, como educação, saúde, esporte, política e segurança,

entre outros, foram tratados de modo individualizado, de tal maneira que o manual

apresenta diretrizes pormenorizadas acerca de como tratar cada um deles.

Destaca-se na análise do Manual de jornalismo da EBC a descrição de seu

processo de elaboração. O passo a passo apresentado ilustra de modo minucioso um

caminho a ser seguido para se produzir um guia editorial. Considerando a ausência de

76
estudos acadêmicos sobre esse processo de criação, para os propósitos desta pesquisa, tal

informação foi útil, pois deu boas sugestões para a elaboração do manual filosófico da

CPB.

Outro ponto relevante é o direcionamento claro da EBC em relação a seu público.

É notório o alinhamento entre princípios, valores, objetivos e diretrizes com foco na

sociedade brasileira. Por isso, os vários elementos que constituem o guia editorial estão

sintonizados com o alvo de seus esforços.

Por último, chama atenção as orientações específicas de acordo com os principais

temas sociais abordados nos meios de comunicação. Essas instruções direcionadas visam

promover equilíbrio na hora de noticiar informações, de tal maneira que se minimizam os

riscos de criar dissonâncias nesse processo.

Grupo Globo

O Grupo Globo teve seu início com o jornal O Globo, lançado em julho de 1925,

por Irineu Marinho. Desde sua fundação, caracteriza-se “por ser um jornal essencialmente

noticioso e voltado para a prestação de serviços” (Grupo Globo, 2013, “Lançamento de O

Globo”). A partir do periódico impresso, a empresa comercial se tornou a maior

organização de comunicação do Brasil, atuando nos segmentos de jornais, revistas, rádio

e TV, cinema e música.

Apesar de ser uma referência internacional na área da comunicação, o Grupo

Globo elaborou seus princípios editoriais somente em 2011. Na apresentação do

documento, os sócios-proprietários da empresa, que continua sendo administrada pela

família Marinho, justificam sua publicação a partir da necessidade que a era digital impôs

77
sobre os veículos de comunicação de expressar “de maneira formal os princípios que

seguem cotidianamente” (Grupo Globo, 2011, p.1). Desse modo, a organização pretende

“facilitar o julgamento do público sobre o trabalho dos veículos, permitindo, de forma

transparente, que qualquer um verifique se a prática é condizente com a crença” (p. 1).

Os princípios editoriais são divididos em três seções. A primeira trata dos atributos

da informação de qualidade; a segunda, do procedimento do jornalista diante de suas

fontes, do público, dos colegas e do veículo pelo qual trabalha; e a última, dos valores que

o Grupo Globo recomenda para seu jornalismo. A missão editorial da empresa não está

presente nesse manual, mas é apresentada no documento Visão, missão e valores do

Grupo, e diz: “Criar, produzir e distribuir conteúdos de qualidade que informem,

eduquem e divirtam, construindo relações que tornem melhor a vida dos indivíduos e das

comunidades” (Grupo Globo, 2008, “Missão”).

A primeira seção reflete as práticas que visam garantir três elementos destacados

como fundamentais pelo Grupo Globo: isenção, correção e agilidade. Esse tripé é

explicado em detalhes, com destaque à descrição normativa de como os jornalistas do

grupo devem proceder para atingir esse ideal.

Por sua vez, a seção dois se dedica a regulamentar as relações dos jornalistas com

os diversos elementos de sua rede de trabalho. Essa parte explora pontos da ética

profissional e, também, destaca-se pela característica prática com que o assunto é tratado.

A última seção apresenta uma afirmação dos valores referenciais da empresa. À

semelhança do El País, o Grupo Globo se declara “independente, apartidário [e] laico”

(Grupo Globo, 2011, p. 25). Além disso, é contundente em relação à defesa de elementos

78
como “a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa, os direitos humanos, a

república, o avanço da ciência e a preservação da natureza” (Grupo Globo, 2011, p. 25).

De fato, é possível observar nas seções anteriores como esses pontos entremeiam as

condutas recomendadas.

Ao analisar o manual editorial do Grupo Globo, a principal característica que se

destaca é seu pragmatismo. Ele não apresenta elementos teóricos e apenas normatiza as

práticas de seus colaboradores. Aliás, isso fica evidente a partir de uma declaração

introdutória, assinada pelos sócios do conglomerado: “o documento resultou de muita

reflexão, e sua matéria-prima foi a nossa experiência cotidiana de quase nove décadas.

Levou em conta os nossos acertos, para que sejam reiterados, mas também os nossos

erros, para que seja possível evitá-los” (Grupo Globo, 2011, p. 2).

Bethany House

A Bethany House é uma divisão da Baker Books, uma das mais prestigiadas

editoras cristãs dos Estados Unidos. Há mais de 50 anos no mercado, a Bethany House

começou produzindo livros para organizações missionárias e, atualmente, é a líder do

segmento de ficção inspiracional, além de publicar também obras não ficcionais. Presença

frequente nas listas de best-sellers cristãos, a editora lança mais de 75 títulos por ano e

tem suas obras traduzidas para cerca de 60 idiomas (Baker Publishing Group, s. d. a).

Seus princípios editoriais se encontram no documento Submission guideliness,

disponível para autores que pretendem publicar pela empresa. O material tem instruções

específicas referentes à produção de ficção para adultos, crianças e adolescentes. Não se

apresentam referências detalhadas acerca dos livros de não ficção para crianças, jovens e

79
adultos, devocionais, crescimento pessoal e sobre assuntos contemporâneos. Nesses

casos, a editora faz uma descrição resumida do tipo de material que se enquadra em cada

categoria e indica alguns exemplos publicados por ela.

Ao dar instruções para a publicação de livros de ficção para adultos, a Bethany

House (Baker Publishing Group, s. d. b, “Adult fiction guidelines”) afirma que seu

“princípio orientador é que as grandes histórias sempre encontrarão uma audiência”;

assim, considera “quase todos os estilos e gêneros de ficção”. O documento faz ressalvas

a “novelas (abaixo de 65 mil palavras), poesia, memórias e livros ilustrados” (Baker

Publishing Group, s. d. b, “How to submit your book proposal”), aparentemente em

função de mercado, não de princípios. Em seu catálogo estão ficções históricas, romances

históricos, ficção contemporânea, romance contemporâneo, suspense romântico, mistério,

suspense sobrenatural, fantasia e ficção literária.

No manual, a editora apresenta características muito específicas sobre o que

considera uma ficção cristã para adultos adequada para seu catálogo. A história deve:

[a] ser intrigante, bem escrita, com personagens bem desenvolvidos, argumento
convincente, descrição colorida e uma voz autoral forte; [b] ser coerente, com tema
identificável e/ou personagens que refletem valores ou ensinamentos cristãos, sem ser
maçante; [c] ser exata histórica, geográfica e socialmente; [d] apresentar
relacionamentos que retratam o verdadeiro significado do amor – compromisso e
responsabilidade – em vez de atração meramente emocional e física; [e] ser inteligente,
ter ideias originais e bom uso de palavras. (Baker Publishing Group, s. d. b, “Adult
fiction guidelines”)

Ao tratar da ficção para crianças e adolescentes, a Bethany House indica os

princípios que busca para as duas faixas etárias contidas nessa classificação: de 8 a 13

anos e acima de 12 anos. Em relação à primeira, a editora aponta a preferência por

histórias “singulares, imaginativas (40 a 60 mil palavras) com personagens críveis que

80
crescem e mudam como resultado dos eventos na história” (Baker Publishing Group, s .d

.b, “Middle-grade readers”). O manual destaca a importância de que o livro tenha, em sua

elaboração, a temática cristã.

De modo semelhante, ao apresentar as orientações para obras direcionadas ao

público maior de 12 anos, a editora indica os seguintes requisitos: ter pelo menos 60 mil

palavras, conter personagens críveis com apelo na vida real e unir em um enredo forte

questões contemporâneas e situações com as quais jovens adultos se identifiquem. Além

disso, os temas bíblicos devem ser habilmente elaborados, de tal modo que a história não

fique maçante (Baker Publishing Group, s. d. b, “Teens”).

Como forma de complementar as informações referentes a essa última

classificação, eles sugerem sete perguntas que ajudam o autor a refletir sobre as principais

características de sua obra. Elas tratam de adequação da linguagem, acuracidade dos

fatos, nível de complexidade do enredo, significado e relevância do tema, existência de

obras similares no mercado, objetividade do personagem principal e a naturalidade do

clímax da história (Baker Publishing Group, s. d. b, “Teens”).

A análise das orientações editoriais da Bethany House provê alguns elementos

distintos daqueles encontrados nos manuais anteriores. É necessário começar dizendo que

esse guia foi elaborado para o contexto da produção de livros cristãos, não de notícias.

Essa peculiaridade provê insights interessantes para os propósitos desta tese, uma vez que

se aproxima da natureza editorial da CPB.

81
Em primeiro lugar, destaca-se o fato de a empresa ser cristã e declarar se apoiar

nos princípios da cosmovisão bíblica. Essa característica fica evidente nas descrições de

cada gênero literário publicado pela empresa.

Na sequência, é digno de nota a segmentação clara que o manual apresenta. O

documento é muito específico quanto ao tipo de conteúdo e de gêneros literários que

interessam à editora.

Por último, percebe-se a aplicabilidade de suas orientações àqueles que pretendem

publicar pela Bethany House. As regras são claras e objetivas tanto para quem está

submetendo seu material quanto para a equipe editorial que irá avaliá-lo.

Elementos identificados

A partir da análise dos manuais selecionados, é possível identificar seis pontos.

Primeiro, não existe um padrão específico para a elaboração de um manual

editorial filosófico. Isso confere certa liberdade em seu processo de criação.

Em segundo lugar, apesar de não haver um modelo de elaboração, existem alguns

elementos que parecem ocorrer com frequência nos manuais editoriais,

independentemente da natureza da empresa de comunicação. São eles a missão editorial,

os princípios ou valores editoriais e as práticas recomendadas. Cada organização tem

liberdade de situá-los da forma como julga melhor em sua proposta de manual.

Em terceiro lugar, a formulação de um manual editorial é um trabalho coletivo,

que deve contar com a participação de profissionais experientes, a oportunidade de

reflexão de diversas formas e a avaliação contínua de cada prescrição. De fato, em muitos

aspectos, a elaboração dessas orientações é muito mais uma atividade de sistematização

82
do que de criação. Nesse processo dinâmico de pensar e repensar o trabalho é possível

que práticas costumeiras deixem de ser realizadas, práticas antes questionadas passem a

ser executadas e que práticas nunca antes pensadas sejam adotadas.

Em quarto lugar, não há rigidez em relação ao modo como filosofia e prática são

apresentadas no manual. Alguns abordam elementos teóricos e práticos, outros

apresentam somente os aspectos práticos, deixando implícito seus referenciais teóricos.

De toda forma, o manual editorial deve ter um caráter prático.

Em quinto lugar, o nível de detalhamento do manual filosófico é variável. Ele

pode apresentar os detalhes teóricos e as minúcias do trabalho prático, bem como pode se

deter apenas nos procedimentos gerais de cada aspecto retratado no documento.

Por fim, para que o manual filosófico alcance seu propósito de regulamentar a

produção editorial de acordo com a missão e os princípios da empresa de comunicação, é

necessário que as práticas sejam apresentadas com clareza, objetividade e especificidade.

Com base nessas observações, serão apresentados os fundamentos teóricos dos

elementos essenciais de um manual filosófico, partindo de seus conceitos gerais em direção

ao entendimento adventista de cada um deles.

Cosmovisão

O primeiro elemento apresentado é a cosmovisão. Embora não seja um

componente explícito, ele é subjacente a toda e qualquer ideia defendida. Por isso, é

importante compreender a origem do conceito e sua interação com o pensamento

adventista.

83
Conceito

A origem do termo cosmovisão está ligada ao filósofo iluminista Immanuel Kant.

Em sua obra Crítica do julgamento, ele utilizou pela primeira vez a palavra

Weltanschauung (visão de mundo) com o propósito de expressar a ideia de que o ser

humano utiliza somente a razão para compreender o significado do mundo e de seu lugar

dentro dele (Goheen e Bartholomew, 2016, p. 35).

Naugle (2002) observa que, embora o filósofo iluminista tenha usado o termo de

modo discreto e, aparentemente, uma única vez, isso foi suficiente para que pensadores

posteriores ampliassem o significado da expressão, de tal modo que ela assumiu grande

relevância nas discussões filosóficas europeias a partir do século 19 (p. 59).

George Hegel, Søren Kierkegaard, Wilhelm Dilthey, Friedrich Nietzsche, Edmund

Husserl e Martin Heidegger são alguns exemplos de estudiosos que se dedicaram a

conceituar cosmovisão. Contudo, na tentativa de identificar o que é, como se forma ou de

que modo ela se expressa, cada um deles seguiu uma linha de argumentação distinta e

profundamente influenciada pelas ideias iluministas. Assim, o termo se revestiu de

variadas explicações, na maioria das vezes contrastantes. A princípio, a expressão estava

situada no terreno da filosofia e passou a transitar na esfera da religião cristã somente

próximo do fim do século 19. Souza (2006) sintetiza como isso ocorreu:

O cristianismo europeu, não obstante as discussões em torno do conceito, consciente


das profundas implicações que este trouxera para as mentes e vidas de milhões de
pessoas, passou a se apropriar da categoria de cosmovisão como uma forma legítima de
abordagem do cristianismo em um tempo de desafios à sua presença e relevância como
força espiritual e cultural. (p. 47)

84
Nesse processo pioneiro de definição do termo cosmovisão sob a perspectiva cristã,

dois nomes se destacam: o do escocês James Orr e do holandês Abraham Kuyper. Coube a

Orr (1908) iniciar a discussão e afirmar que “‘uma visão cristã de mundo’ implica que o

cristianismo também tem seu elevado ponto de vista”, e que tal cosmovisão, “quando

desenvolvida, constitui um todo ordenado” (p. 3).

Desse modo, seu esforço estava em destacar que a revelação bíblica e os

pressupostos do cristianismo ofereciam subsídios muito mais amplos, coerentes e sólidos

para responder às inquietações filosóficas de seu tempo. Para o teólogo, as noções de

cosmovisão oferecidas pelas diferentes correntes de pensamento secular eram parciais e

insuficientes para abarcar a complexidade humana. Assim, somente uma percepção

teológica cristã poderia oferecer conteúdo consistente para forjar um conceito integral do

tema.

Tão importante quanto a contribuição de Orr foi o esforço de Kuyper. Seus

escritos são contundentes na contraposição entre a cosmovisão moderna (da ciência) e a

cosmovisão cristã (da teologia). Na base da discussão sobre a formulação de ambas estava

a explicação sobre as origens de todas as coisas, uma vez que tanto a ciência quanto a

teologia, “que reivindicam todo o domínio do conhecimento humano”, têm “sua própria

sugestão sobre o Ser Supremo como ponto de partida de sua cosmovisão” (Kuyper, 2009,

p. 133).

Bratt (2013) observa que as iniciativas de Orr e Kuyper refletiam o conhecimento

que eles tinham do pensamento alemão do século 19, de tal maneira que os aproxima,

com mérito, dos demais intelectuais identificados com os estudos sobre o tema (p. 207).

85
Em decorrência do trabalho realizado por eles, outros pensadores começaram a

explorar o conceito de cosmovisão cristã. Conforme Dockery e Thornbury (2002)

destacam, nomes como Carl Henry, C. S. Lewis, Charles Colson, Francis Schaeffer e

James Sire estão no rol daqueles que contribuíram com essa discussão no século 20 (p. 3).

A partir dos estudos desses eruditos, surgiram várias definições em uso de

cosmovisão: algumas pragmáticas, outras filosóficas, mas todas úteis para compreender

melhor o tema, que está intimamente ligado com a vida humana. É oportuno, neste ponto,

lembrar-se da afirmação de Sire (2015), que diz: “Recusar-se a adotar uma cosmovisão

explícita acabará por se tornar uma cosmovisão ou, pelo menos, uma posição filosófica.

Em suma, estamos capturados” (p. 21).

Nash (1999, capítulo 1, “Worldview thinking”), por exemplo, afirma que

cosmovisão é “um esquema conceitual que contém nossas crenças fundamentais; é

também o meio pelo qual interpretamos e julgamos a realidade”.

Geisler e Bochino (2001, p. 53), por sua vez, declaram que ela é “um sistema

filosófico que procura explicar como os fatos da realidade se relacionam e se ajustam um

ao outro”. Em consonância com as definições anteriores, e focalizando a cosmovisão

cristã, Nascimento (2016, capítulo 3, “Em direção a uma cosmovisão cristã”) diz que ela

“é a compreensão de todas as coisas a partir da perspectiva cristã; a leitura da realidade

através da lente das Escrituras Sagradas”.

Os três exemplos citados destacam o papel que a cosmovisão tem no processo de

interpretação da realidade. Entretanto, deixam de explicar como a visão de mundo é

incorporada pelos seres humanos.

86
Goheen e Bartholomew (2016) indicam a resposta ao conceituar cosmovisão como

“uma enunciação das crenças básicas embutidas em uma grande narrativa compartilhada, as

quais estão arraigadas em um compromisso de fé e dão forma e sentido à totalidade de

nossa vida individual e coletiva” (p. 52). Conforme apontam, não se pode ignorar o papel

da narrativa como elemento importante para que as pessoas absorvam determinada

cosmovisão.

Em sua definição do termo, Sire (2009) reconhece isso e ainda adiciona a

possibilidade de “um conjunto de pressuposições” servir como parte desse processo de

assimilação.

Uma cosmovisão é um comprometimento, uma orientação fundamental do coração, que


pode ser expressa como uma história ou um conjunto de pressuposições (hipóteses que
podem ser total ou parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas), que detemos
(consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a
constituição básica da realidade e que fornece o alicerce sobre o qual vivemos,
movemos e possuímos o nosso ser. (p. 16)

Em diálogo com essa declaração, é possível identificar pelo menos cinco grupos de

crenças básicas que compõem a narrativa ou as pressuposições que formam uma

cosmovisão, de acordo com a compreensão de Nash (1999, capítulo 1, “Worldview

thinking”). São elas as ideias sobre Deus, metafísica, epistemologia, ética e natureza

humana. Para Nicodemus (2015, capítulo 27, “A importância das cosmovisões”), o que

uma pessoa crê sobre esses cinco elementos “influencia, de forma decisiva, seu

relacionamento consigo mesmo, com o próximo, com o mundo, em casa, no trabalho e na

sociedade como um todo”.

A opinião de Nicodemus acerca do impacto da cosmovisão sobre a existência

humana parece ecoar aquilo que Walsh e Middleton afirmam na obra The transforming

87
vision (1984). Para eles, quem tem dificuldade em se identificar com uma cosmovisão

passa por uma tensão psicológica ou emocional que, em última instância, é uma crise de

fé. Isso porque a cosmovisão se assenta por meio de quatro perguntas: “Quem sou eu?”,

“Onde estou?”, “O que está errado?” e “Qual é o remédio?”. “Quando respondemos a

essas perguntas, isto é, quando nossa fé é estabelecida, então começamos a ver a realidade

em algum padrão sensível” (Walsh e Middleton, 1984, p. 35). Wright (1996) sugere ainda

uma quinta e última pergunta: “Que horas são?” (p. 138), em uma referência acerca da

expectativa escatológica.

Sob a perspectiva da definição de Sire, especialmente do papel da história ou do

conjunto de pressuposições para a formulação de uma cosmovisão, da compreensão de

Nash sobre os grupos de crenças básicas e das perguntas de Walsh/Middleton e Wright, é

possível afirmar que o adventismo tem, em seu conjunto teológico, elementos sólidos e

suficientes para a elaboração de uma cosmovisão bíblica singular, a qual segue na próxima

seção.

Cosmovisão adventista

A cosmovisão adventista está alicerçada nas Escrituras Sagradas (conforme se

encontra no capítulo 2) e admite a significativa contribuição de Ellen White para sua

elaboração. Se uma cosmovisão se expressa por meio de uma narrativa ou de um conjunto

de pressuposições, então a autora fornece esses elementos integrados por meio de um

tema fundamental em seus escritos: o grande conflito.

Holbrook (2011) indica que o início dessa compreensão se encontra na

publicação, em 1858, da obra Spiritual gifts: The great controversy between Christ and

88
his angels, and Satan and his angels (p. 1104). A partir dessa obra, é possível identificar

no conjunto de textos da escritora como o grande conflito se tornou aquilo que Douglass

(2002, p. 256) chama de a “chave conceitual” para compreender as perguntas essenciais

da humanidade: Como a vida começou? Por que existe o bem e o mal? Que acontece após

a morte? Por que existe o sofrimento?

As respostas para essas questões e para a resolução final desse conflito cósmico se

encontram nos sete eventos-chave que impactaram a existência humana, de acordo com

White: a criação no Céu, a rebelião no Céu, a criação da Terra, a queda da humanidade, a

redenção, a segunda vinda de Cristo e a consumação de todas as coisas (Rasi, 2013, p.

88). Lockton vê nesse conjunto de eventos sistematizados pela autora um equilíbrio entre

confiança e realidade não encontrado na maioria dos proponentes de uma cosmovisão

cristã. “Enquanto a criação e a redenção nos dão motivo para otimismo sobre assuntos

humanos, o grande conflito e a queda proporcionam um realismo que está ausente em

muitas cosmovisões cristãs” (Lockton, 1990, p. 12).

Embora White tenha fornecido em seus escritos a noção fundamental de uma

cosmovisão adventista, é importante repetir que tal conceito se sustenta por meio do

estudo sistemático das Escrituras. Aliás, o adventismo tem advogado consistência em

defender e praticar o princípio sola Scriptura em seu contínuo desenvolvimento

teológico, entendendo que os escritos de White estão restritos a guiar à Bíblia, à

compreensão bíblica e à aplicação prática dos princípios bíblicos (Associação Ministerial

da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, 2008).

89
Em anos recentes, Gulley (2003) propôs no primeiro volume de sua obra

Systematic theology uma abordagem bíblica que apoia a descrição do conflito cósmico

como metanarrativa. O autor demonstra que o assunto não é uma exclusividade

adventista, mas está presente nas obras de pensadores como Orígenes, Agostinho, João

Calvino, John Milton, C. S. Lewis, Gregory Boyd e Lewis S. Chafer, ainda que cada um

deles tenha compreendido o assunto de forma variável e não integral, como o adventismo

tem feito.

Além disso, Gulley dialoga com a perspectiva evangélica que enfatiza o plano da

salvação como metanarrativa. O autor reconhece que, embora tal noção esteja descrita em

toda a Bíblia, ela só consegue encontrar seu entendimento pleno quando visualizada

dentro do quadro mais amplo do grande conflito. Assim, “a questão da controvérsia

cósmica acerca da justiça de Deus perante o Universo dá tempo para que Deus revele sua

justiça, e Satanás, sua injustiça” (Gulley, 2003, p. 452). Como consequência, o grande

conflito se torna a moldura ideal para contextualização da teodiceia.

Acerca da importância do tema do grande conflito para uma cosmovisão cristã,

Canale (1999) destaca ainda que esse conceito desempenha um papel especial no nível

dos pressupostos para a compreensão das Escrituras, recuperando o pensamento bíblico

em sua plenitude e riqueza (p. 114).

As contribuições de White, Gulley, Holbrook e Canale mencionadas destacam as

muitas vantagens que a noção do grande conflito confere à cosmovisão adventista. Tal

compreensão é bíblica, racional, coerente, respeita a linearidade histórica e resulta em

uma visão de mundo judiciosa e integrada (Holbrook, 2011, p. 1098). Em decorrência

90
disso, é possível concordar com Pearson (1989), quando ele afirma que “a força da

cosmovisão cristã adventista está em sua ênfase na integralidade” (p. 4), atingindo todos

os aspectos da experiência humana.

A seguinte afirmação ajuda a concluir este breve arrazoado sobre a cosmovisão

adventista:

A cosmovisão é uma construção – uma construção de perspectiva acerca da vida e suas


discussões quanto a temas da realidade, verdade, ética e história; uma construção
confessional que provê um ponto de partida, um sentido de direção, um local de
destino, uma estratégia de unidade, uma construção repleta de propósito que atende as
necessidades básicas da vida e da ação humanas. (Fowler, 2013, p. 82)

Diante do que foi exposto, é possível concluir que uma noção clara acerca da

cosmovisão adventista é imprescindível no contexto da formulação de um manual

filosófico para uma editora denominacional. Esse conceito deve permear a missão, os

princípios e as práticas editoriais da CPB, proporcionando meios para explicar, avaliar,

validar, integrar e monitorar a produção literária que interage com a cultura e chega às

mãos dos editores (Oliveira, 2011, p. 653).

Missão editorial

Conforme foi observado nos manuais analisados, a missão editorial exerce um

papel importante ao definir o propósito da existência de uma empresa de comunicação.

Por isso, é importante entender o seu conceito e como ele se aplica à obra de publicações

adventista.

91
Conceito

Embora atualmente pareça óbvio que toda atividade ou empreendimento deva ter

uma missão clara que o direcione, o assunto foi tratado de modo teórico somente depois

da publicação do livro Management: Tasks, responsibilities, practices, de Peter Drucker,

em 1974. Nele, o autor dedica o capítulo 5 para explicar a importância de uma clara

definição de missão do negócio (Drucker, 1974). Desde essa iniciativa, o tema se tornou

recorrente e passou a ocupar um lugar especial no planejamento estratégico de qualquer

organização.

A declaração de missão visa definir ao menos três pontos: em primeiro lugar, que

necessidade o empreendimento se destina a atender; em seguida, a razão de ser da

organização; por último, que filosofias, valores ou propósitos adotará no decorrer de sua

existência (Kuazaqui, 2005, p. 17).

Apesar de apontar esses elementos fundamentais, é fato que nem todos

empreendimentos têm uma declaração de missão explícita. Campbell e Tawaday (1992)

observam que algumas empresas têm uma declaração e um senso de missão, ingrediente

fundamental para dar sentido às suas palavras. Outras têm a declaração, mas não o senso

de missão. Há aquelas ainda que têm o senso, mas não têm uma declaração de missão.

Quem abre mão da declaração ou do senso também abdica de uma série de vantagens que

resultam desses itens importantes (p. viii).

A primeira delas é que colaboradores que internalizam a missão da organização ou

do empreendimento são mais leais e comprometidos com a causa. Em seguida, quando

eles colocam a missão institucional acima das preferências pessoais, propiciam o aumento

92
do senso de cooperação e confiança mútuas. Além disso, a missão serve como referência

para selecionar e desenvolver colaboradores. Por último, Corain (2015) lembra que a

assimilação da missão aumenta a tranquilidade da equipe na hora da tomada de decisão,

levando-a para mais próximo do alvo do empreendimento (p. 165).

A despeito dessas vantagens, alguns críticos consideram a declaração de missão

uma ferramenta insípida e ampla. É verdade que isso pode ocorrer quando ela é mal

formulada; contudo, ainda assim, o recurso pode ser útil em caso de discordâncias entre

os colaboradores. Johnson, Scholes e Whittington (2011, p. 135) esclarecem que “as

declarações podem ser meios eficazes de concentrar o debate nos aspectos fundamentais

da organização”, dando a referência necessária para a solução dos impasses.

Como foi dito, são muitos os benefícios proporcionados pela declaração de missão

em um empreendimento. Para que ela alcance todo seu potencial, é necessário que seja

bem formulada e satisfaça alguns critérios, conforme Matos, Matos e Almeida (2007)

observam. Desse modo, a definição de missão deve ser (1) empreendedora para ter

impacto sobre o comportamento organizacional; (2) mais focalizada na satisfação do

cliente do que nas características do produto; (3) capaz de refletir as habilidades da

organização; e (4) entendível, realista, flexível e motivadora (p. 111).

Pode parecer estranho que a fundamentação teórica sobre missão editorial até aqui

tenha apresentado somente aportes extraídos da Administração como disciplina; entretanto,

é fato que as editoras se apropriaram desses conceitos e os aplicaram a seus produtos e

serviços.

93
Por exemplo, Ali (2009, p. 47) reconhece, em termos objetivos, que o fato de uma

revista não ter sua missão explícita pode comprometer seu processo produtivo e o

propósito pelo qual ela existe. Já Fernandes e Gonçalves (2011, p. 168) apresentam seu

projeto de gestão editorial totalmente influenciado pelas abordagens de marketing,

operações e serviços, dizendo que “os objetivos da editora especificam as áreas editoriais

pelas quais os objetivos sociais ou institucionais serão atendidos”, em uma linguagem

comum à disciplina da Administração.

Para finalizar, Tavares (2013) sintetiza bem a ideia da utilização do ferramental

administrativo na formulação de uma missão editorial, conforme um dos objetivos desta

tese:

No jornalismo, o uso corrente de expressões como linha editorial, missão editorial,


conceito ou perfil editorial compõe binômios frequentemente associados a um universo
de atuação comercial e política (em geral formalizados em manuais de redação e
projetos que circulam no interior de uma editora), situando a revista tanto no contexto
social de sua atuação quanto no horizonte daquilo que se espera ou se pretende do e
com seu jornalismo. (p. 77)

Com o auxílio dessas definições, portanto, torna-se necessário refletir acerca da

missão editorial da CPB, de sua vinculação com a cosmovisão adventista e também com

sua missão denominacional

Missão editorial adventista

O trabalho editorial está intimamente relacionado com o nascimento da Igreja

Adventista do Sétimo Dia. Um dos ramos provenientes do movimento iniciado por

William Miller na década de 1830, nos Estados Unidos, os adventistas do sétimo dia

herdaram o ímpeto editorial que fez do milerismo um fenômeno de proporções nacionais

em pouco tempo. Após o Desapontamento de 22 de outubro de 1844, dia em que os

94
mileritas aguardaram a segunda vinda de Cristo, conforme o entendimento profético que

tinham de Daniel 8:14, seus adeptos basicamente se dividiram em três grupos distintos:

aqueles que, decepcionados, abandonaram qualquer tipo de vinculação religiosa; aqueles

que retornaram para suas igrejas de origem; e aqueles que continuaram buscando

explicações para a profecia. Foi dessa terceira parte que surgiram os adventistas

observadores do sábado, que deram origem à Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Após quatro anos de estudos (1844-1848), que resultaram em um núcleo

doutrinário consistente e integrado, os adventistas sabatistas, liderados especialmente por

Tiago White, sua esposa, Ellen, e José Bates, começaram a empreender esforços no

sentido de publicar suas concepções teológicas. Sob a motivação de Ellen White, Tiago

publicou, em 1849, o primeiro periódico adventista sabatista, o Present Truth, destinado a

apresentar a doutrina bíblica do sábado e do santuário. No ano seguinte, foi lançada a

Advent Review, que resgatava bons artigos publicados pelo movimento milerita acerca do

segundo advento. Por motivos financeiros e estratégicos, em novembro de 1850 os dois

periódicos se fundiram, nascendo assim a Adventist Review and Sabbath Herald,

conhecida como Review and Herald (Knight, 2000, p. 56).

Schwarz e Greenleaf (2009, p. 79) são muito contundentes ao avaliar o papel que

o periódico assumiu naquele momento em que os adventistas sabatistas ainda relutavam

em se estabelecer como uma igreja organizada: “Seria difícil superestimar o papel

desempenhado pela Review and Herald em trazer coesão, ânimo e unidade doutrinária à

corporação de adventistas sabatistas que se expandia lentamente.”

95
O papel da obra editorial é tão marcante no adventismo do sétimo dia que foi em

função da legalização de sua casa publicadora que o movimento avançou em direção à

escolha de um nome e de sua organização formal.

O fato de a editora estar intimamente ligada à missão da Igreja Adventista faz com

que ela se inspire nessa mesma missão, formulada pela Comissão Executiva da

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (2005) nos seguintes termos:

A missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia é proclamar a todos os povos o evangelho


eterno no contexto das três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12, levando-os a
aceitar a Jesus como Salvador pessoal e unir-se à sua igreja, e ajudando-os a se
prepararem para o seu breve retorno. (p. 7)

Assim, a missão editorial deve refletir esse ideal da denominação. Ellen White

reforçou essa ideia diversas vezes em seus escritos. Para ela, “o grande objetivo” das

publicações adventistas “é exaltar a Deus e atrair a atenção das pessoas para as verdades

vivas da sua Palavra” (White, 2010a, p. 9). Os periódicos denominacionais “devem publicar

toda matéria possível que esteja relacionada com a confirmação das verdades bíblicas” (p.

69). Textos sobre educação precisam exaltar “a educação que vem do maior Mestre que o

mundo já conheceu e que é encontrada na Palavra de Deus” (p. 77), e livros e revistas sobre

saúde “são instrumentos para realizar no campo uma obra especial na disseminação da luz

que os habitantes do mundo devem possuir neste dia de preparo de Deus” (p. 82).

É perceptível que, independentemente do assunto ou do tipo de publicação, o

propósito das editoras adventistas deve ser “preparar um povo para encontrar-se com

Deus” (White, 2014a, p. 3). E mais, a própria conduta da instituição deveria chamar

atenção da comunidade em favor da mensagem pregada. “Nossos estabelecimentos de

96
publicações devem estar perante o mundo como uma concretização dos princípios

cristãos” (White, 2010b, p. 142).

Refletindo essa filosofia, a CPB tem a seguinte declaração de missão institucional:

“Produzir e distribuir literatura cristã, educativa e de saúde, para promover o bem-estar

físico, mental e espiritual do ser humano.” Embora a declaração não mencione o aspecto de

preparar o povo para o encontro com o Senhor, esse objetivo faz parte do ideal da editora

desde seu início, em 1900.

Valores editoriais

À semelhança do que ocorre com o conceito de missão editorial, a elaboração dos

valores editoriais também se baseia em práticas extraídas da Administração como

disciplina. Ainda que não haja fundamentação teórica que aplique explicitamente as

noções de planejamento estratégico sobre a elaboração de valores à área editorial, tal

afirmação se justifica por meio daquilo que se pode observar no cotidiano das editoras ou

de seus produtos.

Conceito

Uma definição objetiva de valores os descreve como “compromissos e princípios

éticos nos quais a organização baseia a sua conduta” (Daychoum, 2106, p. 35). Embora

tais princípios estejam geralmente relacionados com os procedimentos que os fundadores,

proprietários ou dirigentes julgam ser fundamentais para o cumprimento da missão

institucional (Carvalho, 2013, p. 31), a formulação deles por meio do trabalho de equipe

parece ser mais adequado e eficaz (Simerson, 2011, p. 130).

97
Ebener e Smith (2015, “Describe your culture”) sugerem cinco passos para a

identificação dos valores organizacionais: (a) cada membro da equipe responsável por

formular a declaração de princípios deve refletir sobre os elementos imprescindíveis no

documento final; (b) formam-se duplas para discutir as escolhas de cada um; (c) cada

dupla elabora uma lista com os cinco itens consensuais que resultaram de sua conversa;

(d) todo o grupo se reúne para ouvir as listas e identificar similaridades, contrastes e

ajustes nos valores apresentados; (e) em conjunto, a equipe elabora uma lista com os

princípios de maior destaque.

Baseados nessa listagem, o grupo deve escolher os cinco valores mais expressivos

para o cumprimento da missão organizacional. É importante que, nesse processo, procure-

se equilibrar aquilo que Ebener e Smith chamam de valores instrumentais, que descrevem

o negócio, com os valores expressivos, que explicam o propósito do negócio. O resultado,

então,é a declaração de valores, elaborada de modo consensual.

Um detalhe que chama atenção está relacionado com o referencial dos valores

adotados pelas organizações. É possível constatar que, de acordo com as orientações

teóricas oferecidas pelos autores, os princípios a serem listados partem das pessoas, sem

necessariamente haver uma fonte específica, onde os valores encontram suas raízes. As

afirmações de Srour (2008, p. 7) de que “toda coletividade formula e adota os padrões

morais que mais lhe convém” e de que “nenhum sistema de normas morais consegue

obter o selo da eternidade ou a aura da universalidade” (2008, p. 10) ilustram a

mentalidade predominante que subjaz nesse contexto.

98
De fato, o subjetivismo que está por trás dessa afirmação e do espírito de nosso

tempo ecoa o estado da ética pós-moderna, “do pluralismo e do pragmatismo, a ética em

que o único ‘pecado’ é a intolerância” (Pallister, 2005, p. 29). Em consonância com a

cosmovisão e a missão editorial adventistas, esses pressupostos não podem ser adotados na

formulação de seus valores editoriais.

Valores editoriais adventistas

Após dissertar acerca da importância e do papel das Escrituras Sagradas para uma

cosmovisão adventista e sua missão editorial, seria infrutífero dedicar-se a uma grande

discussão sobre a fonte de seus valores editoriais. Como mencionado, White (2010b) foi

específica ao afirmar que as editoras adventistas deveriam “estar perante o mundo como

uma concretização dos princípios cristãos” (p. 142).

Assim, fica evidente que todo o processo de elaboração de valores editoriais deve

considerar o compromisso inegável com a ética bíblica. Contrariando a definição de

Srour, a Igreja Adventista reconhece que as normas morais encontradas na Palavra de

Deus têm o “selo da eternidade” e a “aura da universalidade”. Kis (2011) ressalta o papel

das Escrituras na formulação dos valores cristãos ao dizer:

Os padrões bíblicos auxiliam as limitadas e pecaminosas faculdades humanas (a)


fornecendo uma declaração autorizada e absoluta da vontade de Deus; (b) ajudando a
distinguir entre o bem e o mal; (c) apresentando um ethos que abrange vários milênios e
muitas culturas nas quais os padrões divinos funcionaram; (d) dando exemplos que
motivam e ilustram as consequências da conformidade ou da rebelião […], e que
explicam as razões para os padrões; e ainda (e) articulando um bom número de regras
concretas de ação. (p. 753)

99
Em suma, espera-se que a declaração de valores ou princípios presente no manual

filosófico expresse claramente estar enraizada nas Escrituras Sagradas, alinhada assim à

missão e à cosmovisão adventista.

Práticas

Toda discussão anterior foi desenvolvida para culminar neste ponto: a prática

editorial adventista. Aqui o propósito não é tratar de uma teoria sobre a prática, mas

afirmar o importante papel da ponderação consciente e intencional a respeito do que se

faz no dia a dia da editora.

As práticas editoriais adventistas, portanto, devem refletir sua cosmovisão, sua

missão e seus valores. Isso não significa que os procedimentos profissionais ou subsídios

teóricos desenvolvidos em outros ambientes que não sejam denominacionais devam ser

ignorados. A postura adventista tem sido de “provar todas as coisas e ficar com o que é

bom” (1Ts 5:21). Contudo, qualquer conduta, seja ela oriunda da tradição institucional ou

trazida da experiência de outras editoras deve passar por essa reflexão. Assim, o grande

desafio ao se estabelecer um manual filosófico para a CPB está em alinhar os elementos

cosmovisão, missão, valores e práticas em torno de uma compreensão genuinamente

adventista.

Síntese

Este capítulo apresentou subsídios da literatura contemporânea para a elaboração

do manual filosófico da CPB. Diante do fato de que não há produção acadêmica que

discuta o desenvolvimento de manuais desse tipo, optou-se por avaliar o que tem sido

feito no contexto editorial, em busca de informações que dessem um ponto de partida

100
para esta pesquisa. A partir da análise de cinco manuais adotados por empresas variadas e

relevantes em seus contextos, observou-se a presença de três itens fundamentais: missão,

princípios e práticas. Além deles, foi considerado ainda a influência implícita da

cosmovisão na composição de cada documento.

Foi possível compreender que a cosmovisão adventista está baseada na

metanarrativa do grande conflito, e que isso é consistente com as definições filosóficas do

termo. O tema se encontra evidente na Bíblia e recebeu um tratamento sistematizado nos

escritos de Ellen White.

O capítulo também apresentou as noções referentes à missão editorial adventista, a

partir da relevância que a obra de publicações tem desde o surgimento da denominação, e

do papel que Ellen White atribuiu às editoras da igreja.

Além disso, destaque foi dado aos princípios que devem nortear a obra editorial

adventista. Considerando sua cosmovisão e missão, e contrariando a ética pós-moderna,

as casas publicadoras da denominação devem basear sua conduta na revelação divina,

conforme se encontra na Palavra de Deus.

Por último, indicou-se que as práticas editoriais devem ser sistematizadas e

incorporadas respeitando o alinhamento entre cosmovisão, missão e princípios

adventistas.

Os elementos discutidos neste capítulo acerca da estrutura de um manual

filosófico, somados aos princípios teológicos abordados no capítulo anterior, fornecem o

arcabouço e as referências de conteúdo para a elaboração do manual filosófico da CPB,

que norteará a avaliação de textos e imagens que serão publicados pela editora.

101
CAPÍTULO 4

ELABORAÇÃO DO MANUAL FILOSÓFICO

Este capítulo descreve o processo de investigação e elaboração do manual

filosófico, com base na metodologia de pesquisa escolhida para direcionar sua produção.

Metodologia de pesquisa

A partir da análise de diferentes metodologias, com o objetivo de encontrar aquela

que melhor se adequasse à proposta desta tese, decidiu-se que seriam seguidos os passos

sugeridos pela pesquisa-ação. Thiollent (1985) explica que esse é o tipo de investigação

realizada “em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema

coletivo e no qual os participantes representativos da situação ou do problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo” (p. 14).

Desse modo, esta tese seguiu um conceito de aprimoramento cíclico, no qual ação e

investigação caminharam paralelamente. Tripp (2005) explica esse processo, salientando

que a sequência de planejamento, implementação, descrição e avaliação promove o

aperfeiçoamento da prática, bem como o aprofundamento da própria pesquisa (p. 446).

Assim, Nunes e Infante (1996) entendem que, “utilizando dados/achados da própria

organização e valorizando o saber e a prática diária dos profissionais envolvidos, aliados

102
aos conhecimentos teóricos e experiências adquiridas pelos pesquisadores”, a pesquisa-ação

resulta em propostas válidas para a solução dos problemas diagnosticados (p. 97).

Portanto, seguindo esses conceitos, esta tese foi desenvolvida em três fases, de duas

etapas cada uma. A partir da identificação do problema de pesquisa, a fase inicial foi

composta da etapa de observação e reflexão. Em seguida, a fase de desenvolvimento contou

com as etapas de pesquisa e redação do manual. Por sua vez, a fase de avaliação foi

dividida em duas etapas simultâneas: a de avaliação interna e externa. Finalmente, o manual

filosófico foi disponibilizado para sua inserido no Manual de Redação CPB.

A necessidade de um manual filosófico

A CPB é uma instituição vinculada à Divisão Sul-Americana e uma das 60 editoras

pertencentes à Igreja Adventista do Sétimo Dia ao redor do mundo (General Conference of

Seventh-day Adventists, 2019, p. 4). Assim como a editora Review and Herald exerceu

uma importante influência no desenvolvimento da denominação nos Estados Unidos, a

CPB desempenhou um papel significativo no estabelecimento do adventismo no Brasil.

O primeiro missionário adventista a trabalhar no país foi o colportor Albert Stauffer,

a partir de 1893 (Neufeld, 1996, p. 243). Pouco tempo depois, em virtude da demanda por

materiais adventistas, a Associação Geral enviou, em 1894, William Thurston e sua esposa

para estabelecer um depósito de livros no Rio de Janeiro, à época capital federal. O

primeiro membro batizado no Brasil (1895), Guilherme Stein Jr., tornou-se também o

primeiro editor de um periódico adventista publicado no país, O Arauto da Verdade, em

1900 (Greenleaf, 2011, pp. 72, 73). Essas informações mostram como o trabalho editorial

103
esteve intimamente relacionado com os primórdios do desenvolvimento denominacional

em terras brasileiras.

Embora William Thurston tenha sido enviado ao país para abrir um depósito de

livros, isso veio a ocorrer somente em 1900. Quatro anos depois, a incipiente editora foi

transferida para Taquari, RS, onde começou a operar com um prelo manual doado pelo

Emmanuel Missionary College. Curiosamente, o equipamento era remanescente do grande

incêndio que destruiu as instalações da Review and Herald um ano antes (Greenleaf, 2011,

p. 73). Não demorou muito para que a pequena gráfica fosse transferida para uma região

melhor localizada. Assim, em 1907, a editora iniciou suas atividades na então chamada

Estação São Bernardo, atual Santo André, SP.

A propriedade, conhecida anteriormente como “Chácara dos Alemães”, abrigou a

editora por 77 anos. Nessas décadas, a CPB cresceu em diversidade de produtos, qualidade

editorial e número de funcionários. Quando Santo André se tornou uma grande cidade e a

expansão urbana cercou o parque gráfico, a administração da editora decidiu procurar um

local que aliasse vantagens logísticas, custo apropriado e distância da zona urbana. Entre

algumas opções, foi decidido que Tatuí, SP, seria a nova sede da casa publicadora (Lessa,

2000, pp. 113, 114).

O novo parque gráfico entrou em operação em 1985. De lá para cá, a expansão da

editora tem sido notória. Em seus mais de 25 mil metros quadrados de área construída,

estão instalados os equipamentos responsáveis por produzir mensalmente milhões de

páginas que tratam de aspectos intimamente relacionados com o chamado tripé da missão

adventista: a pregação do evangelho, saúde e educação.

104
Apesar de sua história centenária e seu protagonismo no cenário adventista mundial,

a ideia de padronizar de maneira documental as práticas editoriais da CPB é algo recente

em sua trajetória. Na década de 1980, Márcio Dias Guarda apresentou uma proposta de

manual de redação que não foi incorporada plenamente ao processo produtivo. Em anos

subsequentes, orientações para os editores de livros denominacionais e ainda o manual da

editoria de livros didáticos procuraram suprir a necessidade de respostas relacionadas a

grafias e estilos. Contudo, nenhum desses documentos tratou com profundidade os

questionamentos filosóficos inerentes ao processo editorial.

Entre os anos de 2014 e 2017, a Gerência de Redação se empenhou em elaborar o

Manual de Redação CPB. Partindo do conhecimento acumulado pela equipe editorial e das

coletâneas mencionadas, o material se limitou a normatizar os aspectos referentes ao texto e

à língua. Foi no contexto do desenvolvimento desse material que se tornou explícita a ideia

de produzir, em ocasião futura, um manual para tratar dos temas filosóficos. Uma vez que

eu estava iniciando o doutorado em Ministério, e o editor-chefe da CPB é orientador

credenciado desse programa doutoral, surgiu a ideia de unir a necessidade institucional ao

requisito acadêmico. Assim, nasceu a proposta de elaboração do manual filosófico para os

editores da CPB.

Inicialmente, o manual filosófico seria publicado de forma independente.

Entretanto, por ocasião do lançamento do Manual de Redação CPB, considerou-se a

possibilidade de ele ser incorporado a este último como uma seção do trabalho já

desenvolvido, tornando o documento mais amplo e completo.

105
Fase inicial

Após a proposta de pesquisa ser analisada e aprovada pelo orientador e também

pelo programa de doutorado da Universidade Andrews, o primeiro passo foi observar o

processo editorial, com o objetivo de compreender melhor a necessidade de um manual

filosófico, considerando as necessidades peculiares de cada coordenadoria da Redação. A

partir da observação, foi possível refletir e chegar a conclusões importantes que nortearam a

elaboração do material proposto.

Etapa de observação

O projeto de elaboração do manual filosófico para a CPB começou com a

observação de como as diferentes editorias lidam com as questões filosóficas em seus

materiais. Nesse processo, dois pontos foram analisados: o método de escolha de originais e

o modo como dúvidas acerca de problemas filosóficos são resolvidas.

A primeira editoria considerada foi a de livros didáticos. A CPB produz materiais

para todos os níveis da educação básica no Brasil, o que corresponde ao ensino infantil (2 a

5 anos), fundamental (6 a 14 anos) e médio (15 a 17 anos). A variedade de produtos, a

diversidade de disciplinas, a necessidade de atender as exigências da Base Nacional

Curricular Comum (BNCC) e a extensão da faixa etária atendida implicam uma grande

quantidade de questionamentos acerca de itens filosóficos.

Duas situações ajudam a ilustrar os vários tipos de questionamentos. De acordo com

o BNCC, nos livros de língua portuguesa devem-se abordar diferentes escolas de literatura,

apresentando, inclusive, textos representativos de cada movimento. Embora a Igreja

Adventista tenha um documento oficial (Department of Education, 1971) que trate do

106
assunto, com critérios específicos para auxiliar na seleção de literatura secular, alguns

pontos geram dúvidas no cotidiano editorial, levando a diferentes opiniões acerca dos

materiais escolhidos para ser publicados.

Outro caso ilustrativo se refere à questão alimentar. Os adventistas têm

ensinamentos muito consistentes em relação à alimentação, sendo, desde seus primórdios,

promotores de um regime ovolactovegetariano (Robinson, 2018; White, 2016). Entretanto,

alguns materiais tratam de assuntos relacionados à pirâmide alimentar ou tabela nutricional

e, inevitavelmente, mencionam alimentos cárneos, sejam eles lícitos ou ilícitos, conforme a

classificação das Escrituras (Lv 11). O que fazer nessas situações? As respostas podem

variar, o que indica a pertinência de um parâmetro a ser utilizado por todos os autores,

coordenadores e editores.

Quanto ao método de escolha de originais, a editoria se utiliza da abertura de editais

para a submissão de propostas de livros que incluem uma amostra do material (por

exemplo, Gerência de Didáticos, 2017). Os projetos devem ser preparados por, no mínimo,

dois autores, e exige-se que: (a) ambos tenham experiência docente; (b) sejam licenciados

na disciplina explorada no projeto; e (c) pelo menos um deles esteja vinculado à rede

educacional adventista.

As propostas enviadas são avaliadas por uma comissão ad hoc, composta pelos

gerentes de didáticos, pelas coordenadoras pedagógicas da editora, por coordenadores

pedagógicos convidados da rede educacional adventista, professores, departamental de

Educação de uma das Uniões brasileiras e editores designados para a disciplina em questão.

107
Após as deliberações dessa comissão, os autores da proposta aprovada recebem um tempo

limite para concluir o projeto, a fim de que ele seja incluído no processo editorial.

Quando o material é entregue, a coordenadora pedagógica faz a primeira leitura,

sendo ela responsável por avaliar não somente os aspectos pedagógicos, mas também

filosóficos do texto. Na sequência, o editor trabalha o conteúdo e também as questões

filosóficas, sendo o segundo filtro desse processo. Quando algum problema filosófico é

identificado pela coordenadora ou pelo editor, o autor é contatado, e os três avaliam a

melhor forma de adequar o texto didático à cosmovisão bíblico-adventista.

Na sequência, foi avaliada a editoria de livros denominacionais. Ela é responsável

pela produção de obras infantojuvenis, devocionais, teológicas e que tratam de diferentes

aspectos da vida cristã. Sob sua responsabilidade está a produção de aproximadamente 30

títulos por ano, que perfazem um catálogo com 450 livros.

A edição de livros também apresenta desafios que demandam a necessidade de um

manual filosófico normatizador. Por exemplo, ao produzir livros teológicos, os editores

podem lidar com conceitos particulares de alguns autores, que são distintos das posições

majoritariamente aceitas pela Igreja Adventista. A denominação tem orientações referentes

ao modo como devem ser tratadas ideias originais (White, 2010a, pp. 23-36); entretanto, os

critérios de avaliação desses conteúdos podem variar de acordo com os editores, resultando

em diferença de julgamento. Portanto, é razoável crer que a enunciação de princípios

filosóficos seja pertinente para ajudar nesse tipo de situação.

Em relação ao processo de escolha de materiais, ele difere daquele adotado pela

editoria de livros didáticos. Em primeiro lugar, porque não envolve edital. Os livros são

108
enviados espontaneamente pelos autores ou indicados por líderes, editores ou membros da

Igreja Adventista. Outro ponto de distinção é o modo como ocorre a comissão editorial. Ela

se reúne semestralmente e é composta pelos diretores geral e financeiro da instituição,

gerentes de redação e vendas, nove editores, e representantes externos da Divisão Sul-

Americana, editora Aces (Argentina), União Central Brasileira e seminário adventista. Ao

todo, a comissão é formada por 25 membros.

Antes, porém, dessa reunião, os livros passam por um processo de revisão em pares,

no qual os editores, de acordo com suas especialidades, avaliam os materiais com base em

um formulário elaborado a partir da experiência acumulada ao longo do tempo (Gerência de

Redação, 2018). Quando os avaliadores consideram que o livro tem méritos para

publicação, a obra segue para a relação que será apresentada na comissão editorial. Caso

contrário, é colocado em uma lista de obras de pouco interesse, à disposição dos membros

da comissão editorial, mas que não serão discutidos extensivamente por ela. Por fim,

quando não há consenso, o material é submetido a mais um ou dois avaliadores, para que se

chegue a uma definição sobre sua condição.

Dessa maneira, quando um livro completo é aprovado para publicação e entra no

processo editorial, ele já passou pela avaliação de vários editores, minimizando a

possibilidade de se deparar com algum problema filosófico. Contudo, esse risco não é de

todo descartado e, quando um dos editores encontra algum ponto questionável, recorre ao

coordenador da editoria para a busca de uma solução. O autor é contatado e, em parceria

com o coordenador e o editor, resolve a questão. Em casos mais complexos, o editor-chefe

também é consultado.

109
Por sua vez, na coordenadoria de colportagem, os materiais são escolhidos por uma

junta de líderes desse departamento, com representantes da CPB. Depois o material é

oficializado por meio das comissões regulares. Frequentemente, essas obras já foram

publicadas por outras editoras adventistas ao redor do mundo e, de modo geral, não trazem

problemas de ordem filosófica. Entretanto, quando algum ponto é contestado, o ajuste é

feito pelo coordenador em consulta com o autor da obra.

A área de periódicos, composta pelas revistas Adventista, Vida e Saúde, Nosso

Amiguinho, Ministério, Revista do Ancião e Conexão 2.0, e também pelas lições de Escola

Sabatina do Rol do Berço, Jardim da Infância, Primários, Juvenis, Adolescentes, Jovens e

Adultos, entre outros títulos, tem um processo diferente dos apresentados anteriormente. As

revistas, cada qual com uma equipe de dois a três editores (titular e associados), têm sua

pauta definida internamente, e cabe aos editores avaliar criticamente se o conteúdo está em

conformidade com a cosmovisão bíblico-adventista. Quando se deparam com problemas

nesse quesito, são livres para ajustar com o autor uma solução ou substituir o texto por

outro mais adequado. Em casos mais complicados, são consultadas instâncias superiores,

como a gerência de Redação.

Quanto às lições, elas são elaboradas pelo departamento da Escola Sabatina e

Ministério Pessoal da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Ainda assim, é

possível que algum ponto questionável seja identificado pelos editores da CPB. Nesse caso,

o departamento da sede mundial da igreja é contatado, e uma solução é proposta segundo

seu conselho.

110
Por fim, a editoria de livros de Ellen White trabalha com a tradução e editoração de

obras da autora, de tal maneira que praticamente não se depara com divergências referentes

à cosmovisão bíblico-adventista.

Etapa de reflexão

A observação do trabalho realizado pelas diferentes editorias no que se refere ao

modo como cada uma lida com os problemas filosóficos permitiu tecer algumas reflexões.

Em primeiro lugar, o maior desafio quanto ao alinhamento filosófico reside na editoria de

didáticos. Os seguintes pontos favorecem essa percepção: (a) a variedade de disciplinas

demanda autores de diferentes formações, muitos deles egressos de universidades laicas,

mais suscetíveis a absorver elementos que destoam da cosmovisão bíblico-adventista; (b) o

parâmetros governamentais apresentados pelo BNCC impõem o desafio de ter que tratar de

posições acadêmicas que divergem da cosmovisão bíblico-adventista; (c) uma vez que a

avaliação do projeto é feita com base em uma amostra do livro, corre-se o risco de

encontrar no conteúdo completo pontos questionáveis; e (d) coordenadoras e editores

acabam tendo que avaliar um grande volume de informações de diversas disciplinas, e em

pouco tempo, estando sujeitos a equívocos de julgamento.

Por sua vez, as editorias de livros denominacionais e de colportagem parecem ter o

processo mais seguro de avaliação, pois: (a) os livros analisados estão completos; (b)

muitos deles já foram publicados em outras línguas por editoras adventistas; (c) o grupo de

editores, em sua maioria, é de especialistas nos assuntos com os quais tem contato; e (d) o

tempo de avaliação é maior, permitindo um julgamento mais acurado. Isso, evidentemente,

não significa que a editoria esteja livre de pontos discutíveis quanto a aspectos filosóficos.

111
Embora o grupo trabalhe junto há algum tempo e obtenha consenso na maior parte das

vezes, alguns assuntos ainda não foram padronizados, como por exemplo, os limites

referentes a posições teológicas originais, uso de ficção e critérios para ficções que

envolvem relatos bíblicos ou parâmetros para publicação de biografias.

Já os editores de revistas estão em uma posição intermediária no processo de

avaliação filosófica dos conteúdos. Eles (a) têm mais liberdade quanto à escolha de

materiais; e (b) trabalham com produtos segmentados, o que promove a especialização; no

entanto, (c) contam com uma avaliação mais limitada, em virtude do número menor de

pessoas que analisam os textos; e (d) lidam com o desafio de avaliar mais materiais com

maior periodicidade.

A partir das constatações acerca da variedade de revistas e livros produzidos, dos

autores e editores com diferentes formações acadêmicas e dos processos de avaliação e

resolução de dúvidas acerca de questões filosóficas, foi possível compreender melhor a

importância do manual filosófico no que diz respeito a responder aos principais

questionamentos e padronizar os pontos fundamentais que expressam a cosmovisão bíblico-

adventista em sua produção editorial.

Fase de desenvolvimento

Considerando o diagnóstico da fase inicial, a pesquisa seguiu para o

desenvolvimento do manual filosófico. Isso incluiu a pesquisa acadêmica, que constitui a

fundamentação teológica/teórica desta tese, mas também a elaboração do manual

propriamente dito, que se encontra no apêndice C.

112
Etapa de pesquisa

Um dos principais desafios para a elaboração do manual filosófico foi encontrar

bibliografia acadêmica que tratasse do assunto. Por isso, foram de especial importância os

capítulos dois e três desta tese. Como requisito do programa doutoral, o capítulo três foi

escrito primeiro, tendo como objetivo fazer um levantamento da bibliografia recente acerca

do tema.

Diante da ausência de literatura especializada, o primeiro passo foi buscar exemplos

de manuais filosóficos empregados em veículos de comunicação relevantes. A intenção era

avaliar manuais adotados por editoras adventistas, cristãs e, por fim, seculares. Contudo,

nenhuma das editoras adventistas procuradas tinha esse documento e, entre as editoras

cristãs, somente a Bethany House disponibilizava suas orientações editoriais na internet.

Desse modo, foram avaliados cinco manuais: BBC, El País, Empresa Brasil de

Comunicação, Grupo Globo e Bethany House.

A partir dessa análise, foi possível chegar às seguintes conclusões: (a) não existe um

padrão específico para a elaboração de um manual filosófico; (b) apesar de não haver um

modelo, existem alguns elementos que parecem ocorrer com frequência nos manuais

editoriais; (c) a formulação de um manual editorial é um trabalho coletivo; (d) não há

rigidez em relação ao modo como filosofia e prática são apresentadas no manual; (e) o nível

de detalhamento do manual filosófico é variável; e (f) é imprescindível que as

recomendações práticas sejam apresentadas com clareza, objetividade e especificidade.

Assim, a pesquisa se aprofundou nos elementos comuns entre os diferentes manuais

editoriais pesquisados. São eles a missão editorial, os valores/princípios editoriais e as

113
práticas. Além disso, reconheceu-se a presença implícita da cosmovisão como elemento

norteador na produção dos documentos. Na sequência, foi possível investigar a bibliografia

recente acerca de cada tema e, ainda, procurar identificar como eles se aplicam à Igreja

Adventista. Finalmente, o capítulo três contribuiu para a elaboração do esboço do manual,

tendo como itens fundamentais: (a) a importância das publicações adventistas; (b)

cosmovisão; (c) missão/visão editorial; (d) princípios/valores; (e) práticas.

Por sua vez, a escrita do capítulo dois teve como propósito apresentar fundamentos

teológicos úteis para o processo de elaboração do manual filosófico. A pesquisa considerou,

em primeiro lugar, a Bíblia como um conjunto literário organizado ao longo do tempo.

Desse modo, buscou-se compreender quais elementos unificadores são encontrados nas

Escrituras Sagradas. Com base nas reflexões de Ryken (1976), foi possível distinguir cinco

deles: unidade de cosmovisão e teologia, autores da mesma nacionalidade, assunto,

propósito e alusões (p. 15).

Na sequência, a investigação procurou identificar, ao longo da Bíblia, princípios

editoriais norteadores para a formação do cânon que pudessem ser úteis para a elaboração

do manual filosófico. Além disso, o item cosmovisão bíblica recebeu atenção especial, visto

ser o elemento imprescindível para o direcionamento das práticas editoriais adventistas.

Sem uma compreensão satisfatória desse ponto, a produção de um manual filosófico para a

CPB seria irrelevante.

Como parte da pesquisa teológica, foram analisadas também orientações de Ellen

White acerca da produção editorial adventista. A grande quantidade de conselhos da autora

sobre o assunto permitiu o levantamento de uma série de itens práticos essenciais para a

114
formulação do manual filosófico. Eles foram classificados em: (a) orientações gerais; (b)

gêneros textuais; e (c) uso de ilustrações.

A convergência entre as informações extraídas da Bíblia e dos escritos de Ellen

White permitiu elaborar cinco princípios editoriais: (a) cosmovisão (deve refletir a

cosmovisão bíblica); (b) assunto (deve contribuir para que os leitores cresçam na

compreensão da salvação em Jesus Cristo); (c) propósito (deve abranger temas relacionados

à Bíblia, vida cristã prática, educação cristã e saúde); (d) contextualização (deve ser

contextualizada quanto à linguagem e abordagem, visando alcançar a todos com sua

mensagem peculiar); (e) imagem (deve prezar pelo uso eficiente e ponderado das

ilustrações, alinhadas à cosmovisão e aos princípios anteriormente mencionados).

Os capítulos dois e três, portanto, foram imprescindíveis para se cumprir o objetivo

de produzir o manual filosófico, pois forneceram sua estrutura e seus princípios

norteadores. De fato, esses dois elementos são evidentes até mesmo quando se lê

superficialmente o produto final.

Etapa de redação

Simultaneamente à etapa de pesquisa, e em atenção ao fato de que a elaboração de

um manual editorial é um trabalho coletivo, foi proposto que uma comissão fosse

estabelecida. Sob a orientação do editor-chefe (e orientador desta tese), o grupo foi formado

com os seguintes componentes: editor-chefe, coordenadora de livros didáticos, coordenador

de livros denominacionais, coordenadora de livros infantojuvenis, duas coordenadoras

pedagógicas e eu.

115
Ao todo foram oito reuniões dessa comissão. Em 2017, o grupo se reuniu seis vezes

(13 de abril, 24 de maio, 21 de junho, 19 de julho, 16 de agosto e 24 de novembro). Em

2018, duas vezes (9 de maio e 2 de julho). No primeiro encontro da comissão, foi definido

o método de trabalho que nortearia o processo de elaboração do manual. Alguns passos

foram sugeridos: (a) definição da estrutura do manual; (b) escolha dos questionamentos

filosóficos a serem respondidos; (c) análise das respostas; e (f) aprovação das orientações.

Em reuniões subsequentes, a comissão aprovou a estrutura de manual proposta por

mim: (a) a importância das publicações adventistas; (b) cosmovisão; (c) missão/visão

editorial; (d) princípios/valores; (e) práticas. Na sequência, o diálogo foi direcionado para o

modo como os questionamentos filosóficos seriam escolhidos. Foi estabelecido então que

eles seriam definidos a partir da análise e seleção de casos concretos que ocorrem no

cotidiano. Nesse ponto, foi necessário deliberar acerca da forma como as orientações

seriam apresentadas no manual. O grupo julgou que seria apropriado que se utilizassem

verbetes, em ordem alfabética, para facilitar seu uso.

Assim que os verbetes foram definidos, partiu-se para a escrita deles. Cada um foi

estruturado da seguinte maneira: (a) breve fundamentação teológica sobre o tema; (b)

apresentação de posições majoritárias da Igreja Adventista acerca do assunto; (c) princípios

editoriais; e (d) bibliografia consultada. À medida que os verbetes foram sendo escritos,

eram também compartilhados com o editor-chefe, que fazia a primeira apreciação crítica do

material. Depois da incorporação das sugestões dadas por ele, eram submetidos à comissão

do manual para nova avaliação. Com base nas sugestões feitas pelo grupo, o verbete era

116
retrabalhado para nova submissão ao editor-chefe e à comissão. Obtendo a aprovação do

grupo, era inserido no texto do manual.

Após o projeto ser aprovado pela comissão, foi submetido a uma série de

avaliações, que antecederam à sua disponibilização.

Fase de avaliação

Sob a orientação do editor-chefe, foi definido que a avaliação do manual filosófico

ocorreria mediante o uso de questionário, majoritariamente constituído de perguntas abertas

(Carmo, 2013, pp. 2, 3), e aplicado a dois grupos distintos: o primeiro, formado por

coordenadores editoriais, pedagógicos e editores da CPB; e o segundo, por representantes

de outras instituições da Igreja Adventista ligadas à comunicação na América do Sul. Esse

questionário foi entregue aos avaliadores em 28 de agosto de 2019, e eles tiveram 30 dias

para devolvê-lo preenchido.

Etapa de avaliação interna

O questionário preparado foi revisado, visando validar suas perguntas, e então

entregue, com uma cópia do manual, a quatro coordenadores editoriais e a quatro

coordenadoras pedagógicas. Embora uma parte de ambos os grupos tivesse participado da

comissão de elaboração, nessa etapa todos tiveram a oportunidade de analisar

pessoalmente, e a seu tempo, o resultado do trabalho.

Simultaneamente, o questionário, com uma cópia do manual, foi entregue a um

grupo de editores definido em conjunto com o editor-chefe, os coordenadores editoriais e

eu. Com base nos conceitos de amostragem não probabilística por julgamento (Aaker,

117
Kumar e Day, 1995, p. 376), foram escolhidos quatro editores para avaliar o manual

filosófico. Os critérios adotados foram: (a) diversidade de editorias; (b) variedade de

especialização acadêmica; e (c) diferentes tempos de experiência com o trabalho editorial.

Etapa de avaliação externa

Além da avaliação interna, o manual filosófico também foi submetido à avaliação

externa. Foram contatados dois avaliadores: um representante da Divisão Sul-Americana e

um da Asociación Casa Editora Sudamericana. O procedimento adotado com eles foi o

mesmo utilizado no processo de avaliação interna.

A importância dessa etapa se deu pelo fato de que os profissionais procurados

possuem experiência diferenciada com a comunicação adventista, permitindo enxergar o

manual sob outra perspectiva, tendo a possibilidade de detectar possíveis lacunas em

relação aos assuntos abordados.

Tendo em mãos as avaliações internas e externas, foi possível analisar os dados

recebidos e averiguar qualitativamente a relevância do manual (ver capítulo 5 desta tese).

Síntese

Durante a escrita desta tese, foi possível constatar a validade da metodologia

adotada e sua pertinência para o processo de elaboração de um documento normativo como

o manual filosófico.

Na fase inicial, as etapas de observação e análise permitiram que o problema de

pesquisa pudesse ser bem delineado, a fim de que a busca por respostas fosse realizada a

partir de pressupostos corretos.

118
Por sua vez, na fase de desenvolvimento, composta pelas etapas de pesquisa e

redação, o manual pôde ser estruturado e redigido com a segurança de contar com uma

fundamentação teológica consistente e com o conselho e a orientação de profissionais

experientes que enriqueceram a elaboração do documento.

Já na fase de avaliação, que envolveu as etapas interna e externa, o manual pôde ser

analisado a partir de perspectivas distintas, permitindo que houvesse ainda sugestões para

que o resultado final expressasse uma visão ampla e embasada das questões filosóficas que

permeiam a produção editorial adventista.

Finalmente, os pontos críticos identificados nas avaliações interna e externa

forneceram informações para o último aperfeiçoamento do manual filosófico, antes de sua

inserção como uma seção do Manual de Redação CPB.

119
CAPÍTULO 5

AVALIAÇÃO DO MANUAL FILOSÓFICO

Este capítulo tem o propósito de apresentar as respostas do questionário de

avaliação do manual filosófico, bem como uma análise desse conteúdo. Ele segue a

estrutura do documento entregue aos avaliadores e foi dividido em sete seções: (a) perfil do

avaliador; (b) “apresentação” e “a importância das publicações adventistas”; (c) “visão e

missão editorial”; (d) “valores editoriais”; (e) “cosmovisão”; (f) “verbetes”; e (g) “avaliação

geral”.

As perguntas foram formuladas de maneira a tentar descobrir, a partir de enfoques

distintos, os pontos fortes e fracos do manual. Assim, nas seções dois a cinco, elas foram

ordenadas da seguinte maneira: (a) percepção de suficiência ou insuficiência; (b) aspectos

positivos e negativos encontrados; (c) sugestões; e (d) avaliação característica específica,

conforme a natureza da seção. Já as seções seis e sete, em virtude de sua especificidade,

têm uma estrutura diferenciada de questões.

Com exceção da primeira seção, as demais foram divididas em duas partes: (a)

descrição e (b) análise das respostas. Essa análise considerou os itens positivos ou negativos

predominantes nas respostas e a convergência com o propósito do manual. Por isso, para

manter sua objetividade, ela desconsiderou observações referentes a questões ortográficas,

gramaticais ou muito peculiares a uma atividade específica no processo editorial. Além

120
disso, embora toda contribuição tenha valor, também não se demorou em respostas ou

sugestões que fogem ao escopo do manual.

Perfil dos avaliadores

A escolha dos avaliadores foi feita procurando proporcionar uma amostra

equilibrada quanto aos seguintes itens: atividade profissional, gênero, tempo de trabalho na

área de comunicação e formação acadêmica. No total, 14 pessoas foram convidadas a

participar e efetivamente entregaram o questionário dentro de 30 dias, conforme havia sido

combinado.

Em relação ao quesito “atividade profissional”, foram convidados coordenadores

editoriais (CE), coordenadoras pedagógicas (CP) e editores (Ed) da CPB, e avaliadores

externos (AE), representantes da Divisão Sul-Americana e da Asociación Casa Editora

Sudamericana. O gráfico abaixo apresenta o percentual de cada atividade em relação ao

total de avaliadores.

14.3%
Coordenador editorial
28.6%
Coordenadora pedagógica
28.6% Editor(a)
Avaliador externo
28.6%

Gráfico 1. Atividade profissional.

121
Observa-se que, entre os avaliadores internos, manteve-se o mesmo percentual por

atividade desempenhada (28,6%), enquanto entre os avaliadores externos o percentual

correspondente ficou pela metade (14,3%). Essa diferença entre avaliadores internos e

externos foi proposital. O objetivo de se manter o mesmo número de participantes entre as

atividades internas foi procurar convergências e divergências de pensamento sobre o

manual, a partir de diferentes partes do processo em uma mesma cultura organizacional. Ao

escolher avaliadores externos de diferentes culturas organizacionais e posições distintas,

mas ligados à obra editorial adventista na América do Sul, foi possível verificar se o manual

sugeriu normas que transcendem a cultura editorial da CPB, estabelecendo, assim,

princípios gerais, ou se apresentou diretrizes restritas ao ambiente de trabalho dos

avaliadores internos.

Quanto ao percentual de avaliadores por gênero, 57,1% foram homens, e 42,9%,

mulheres. Esse número, que expressa a maioria masculina da amostra, ficou condicionado à

escolha dos participantes a partir de sua atividade profissional, não se devendo, portanto, a

nenhum viés particular que eu alimente. Por sua vez, em relação ao tempo de trabalho na

área editorial/comunicação, a amostra apresenta amplitude de experiências, conforme

indica o gráfico a seguir.

122
7.1%
Até 5 anos
14.3%
35.7% De 6 a 10 anos
De 11 a 15 anos
14.3%
De 16 a 20 anos
Mais de 20 anos
28.6%

Gráfico 2. Tempo de trabalho.

Em primeiro lugar, destaca-se que mais da metade dos avaliadores (64,3%)

trabalha, no máximo, há 10 anos no ramo editorial. Isso evidencia, de modo especial, o

processo de renovação de colaboradores que a editora tem experimentado nos últimos anos.

De certa maneira, também é um indício de que há espaço para refletir sobre os desafios

filosóficos da atividade editorial e aceitar princípios que ajudem a realizar o trabalho. Por

outro lado, 35,7% dos avaliadores têm mais de 10 anos de experiência na área, um número

representativo que pode indicar se há pertinência nas normas sugeridas ou se o manual é

irrelevante para a prática cotidiana.

Em relação à formação acadêmica dos avaliadores, observa-se a seguinte

distribuição:

123
Graduação
7.1% 7.1%
7.1% Pós-graduação lato sensu
completa
21.4% Mestrado incompleto

Mestrado completo
7.1%
50.0% Doutorado incompleto

Doutorado completo

Gráfico 3. Formação acadêmica.

Os números mostram que os avaliadores têm sólida formação acadêmica, o que

confere um peso crítico maior às respostas. Nota-se que 92,9% são pós-graduados; mais da

metade dos participantes estão em nível de mestrado (57,1%) e 14,2% estão em nível de

doutorado.

Além disso, todos trabalham no cotidiano com a avaliação de ideias e a maioria

(92,9%) lida diretamente com o processo editorial, que demanda precisão ortográfica,

gramatical e conceitual. Assim, os comentários feitos por eles refletem alto rigor avaliativo,

que certamente contribui com o enriquecimento do material.

A seguir é apresentada uma tabela com a relação de avaliadores.

124
Tabela 1

Perfil dos avaliadores

Avaliador(a) Tempo de trabalho Formação acadêmica


AE1 16 a 20 anos Doutorado completo
AE2 6 a 10 anos Doutorado incompleto
CE1 6 a 10 anos Mestrado completo
CE2 6 a 10 anos Pós-graduação lato sensu completa
CE3 11 a 15 anos Mestrado completo
CE4 16 a 20 anos Graduação
CP1 Até 5 anos Mestrado completo
CP2 Até 5 anos Mestrado completo
CP3 11 a 15 anos Mestrado completo
CP4 Até 5 anos Mestrado completo
Ed1 6 a 10 anos Mestrado incompleto
Ed2 Até 5 anos Mestrado completo
Ed3 Até 5 anos Pós-graduação lato sensu completa
Ed4 Mais de 20 anos Pós-graduação lato sensu completa

É importante destacar algumas informações úteis para a compreensão da tabela. Em

primeiro lugar, para preservar a identidade dos participantes, eles são mencionados por

códigos formados da seguinte maneira: abreviatura da atividade profissional, somada à

posição de entrega do questionário por meio eletrônico. Por exemplo, o primeiro

coordenador editorial a entregar está identificado como CE1. Em segundo lugar, a tabela

não contém distinção de gênero, uma vez que isso poderia revelar àqueles que estão

familiarizados com os profissionais a identidade de alguns deles. Por fim, os questionários

preenchidos em outras línguas foram traduzidos ao português, com o propósito de preservar

a identidade dos avaliadores.

125
“Apresentação” e “A importância das publicações adventistas”

Na seção introdutória, o manual contou com dois textos: a “Apresentação”, de

autoria do editor-chefe; e “A importância das publicações adventistas”, de minha autoria. O

propósito foi destacar a importância do manual à luz da missão editorial adventista e do

trabalho editorial cotidiano.

Descrição

A primeira pergunta aos avaliadores foi: “Você acredita que as informações

fornecidas na seção são suficientes para o propósito do Manual? Justifique.” Eles foram

unânimes em responder “sim” em relação aos dois textos. Nas justificativas gerais,

destacaram a clareza (AE1, CE2, CE4, CP2, Ed3), praticidade (CE3, CP2, Ed4) e

objetividade (CE1, CE3). Em seu parecer, AE2 salientou que “o manual apresenta todas as

justificativas para que decisões sejam tomadas da maneira como devem ser”, eliminando,

assim, as dúvidas “sobre a posição da Igreja Adventista nos temas citados, abrindo caminho

para estabelecer o posicionamento”. Já CE3 enfatizou que a seção “contextualiza o

problema e delimita a abordagem de maneira objetiva e prática”. Por sua vez, Ed1 observou

que essa parte “apresenta um breve histórico da utilização das publicações no contexto

adventista e sua importância, justificou a necessidade do manual filosófico e posicionou em

relação a uma obra mais ampla que ainda precisa ser completada”.

Nas justificativas específicas, em relação ao texto de apresentação, AE1 pontuou

que o material “deixa bem claro os propósitos do manual”, enquanto CP2 sublinhou que o

126
conteúdo ressalta o papel do manual como “facilitador para a escolha e organização dos

textos de forma criteriosa, prática e sem polêmicas dentro da editora”.

Quanto ao teor de “A importância das publicações adventistas”, AE1 afirmou que o

texto apresenta “um bom marco histórico e contextual para seu uso”, convergindo com a

percepção de CP2. Ampliando essa ideia, Ed3 ressaltou que “rememorar nossa história

como povo adventista do sétimo dia é fundamental para que encontremos nosso propósito

nesses últimos dias”.

Na segunda questão, “Mencione os aspectos positivos encontrados na seção”, os

avaliadores salientaram a clareza do texto (AE2, CE2, CE3, CP1, CP2, CP4, Ed3), a

contextualização histórica (AE1, AE2, CE2, CP3, CP4, Ed3), a demonstração da relevância

do manual filosófico (AE2, CE2, CE4, CP2, CP3, CP4) e o posicionamento em relação à

importância do trabalho editorial (AE1, CE1, CE2, CP2, CP4). Um comentário que chamou

atenção foi a avaliação de Ed4, que ressaltou como “ponto predominante e positivo [...]

mostrar a relevância do material no processo editorial de produtos com a cosmovisão

adventista”. O destaque se dá porque esse não é o propósito principal da seção; ainda assim,

foi perceptível para um dos avaliadores esse elemento que é subjacente a todo o material

que foi produzido.

Sete avaliadores responderam à terceira questão, “Mencione os aspectos negativos

encontrados na seção”, dizendo que essa parte não apresentou pontos negativos (CE1, CE2,

CE3, CE4, CP2, Ed2, Ed4). Contudo, os demais exprimiram diferentes percepções. Três

avaliadores viram problemas na “Apresentação”. Para CP3, esse foi um “tópico mais

poético-jornalístico do que acadêmico”, com foco “até exagerado ao definir o papel do

127
editor”. Vale ressaltar que a apresentação do manual filosófico, embora esteja incluída neste

trabalho acadêmico, não faz parte da tese em si, e sim do próprio manual. Por isso, seu

objetivo não é apresentar uma visão acadêmica do trabalho editorial, mas introduzir o

manual ao leitor. CP4 também notou certa distinção em relação aos editores, dizendo que

“o texto se confunde entre a exaltação ao papel do editor e as justificativas para a

elaboração de um manual filosófico”. O último, Ed3, salientou que “a apresentação ficou

mais extensa e detalhada que o tópico ‘A importância das publicações adventistas’”.

Naturalmente, ajustes em relação a esses detalhes poderão ser feitos antes da publicação do

manual.

Quanto ao texto “A importância das publicações adventistas”, CP3 disse que sentiu

“falta de mais texto sobre a importância”, observando que “ali foi feito um histórico da

editora e o papel do editor”, sendo “apenas” “pincelada a importância das publicações”. Por

sua vez, AE2 criticou o fato de que foi inserido “um texto curto de Ellen White,

confirmando a importância do uso das publicações na pregação adventista dentro do

contexto escatológico”. Finalmente, Ed3 pontuou que “a história da Casa Publicadora desde

sua mudança para Santo André até hoje é resumida em quatro linhas”.

No campo das observações gerais, AE1 comentou que os textos não “situam a CPB

no contexto das demais editoras da Igreja Adventista nem menciona outros documentos

oficiais da igreja [...] que enquadram o manual dentro de uma linha teológico-filosófica”.

Para CP1, apesar de o texto ter trazido a “essência” do assunto, “poderia ser mais

pormenorizado”. Já Ed1 fez um comentário um pouco mais elaborado. O avaliador

declarou:

128
Acho que faltou destacar que o adventismo é um movimento centrado no texto, assim
como o protestantismo, mas em maior intensidade do que ele, talvez por dois fatores:
(1) o legado profético de Ellen White ficou registrado textualmente; e (2) o uso da
mídia impressa teve a legitimação da profetisa por meio de uma visão. Outro ponto:
apesar de o pastor Marcos ter citado que outros atores hoje formam esse espaço de
comunicação e reflexão no adventismo, a escrita parece ter perdido prestígio,
especialmente no Brasil, onde a cultura audiovisual é mais forte e historicamente o
papel dos editores foi mais operacional do que de reflexão, seja no campo teológico ou
na área de proposição para a igreja.

A resposta apresenta dois itens interessantes que talvez pudessem ser tratados com

mais profundidade em outro contexto. A discussão é ampla e possivelmente não poderia ser

desenvolvida da melhor maneira nas primeiras páginas do manual filosófico.

Em relação à penúltima pergunta, “Que sugestões ou críticas você gostaria de fazer

quanto à seção?”, seis avaliadores disseram não haver itens a mencionar (AE2, CE1, CE2,

CE3, CP1, Ed4). Quanto aos demais, cada um apresentou sugestões diferentes. AE1 sugeriu

que o texto poderia “expandir um pouco mais acerca da função da CPB” e de como o

manual “pode ajudar a manter uma linha editorial, no contexto da rede de editoras” da

Igreja Adventista. Por sua vez, CP2 indicou a necessidade de “deixar mais evidente a

atuação entre autor e editor” no processo de produção de materiais. Destacando também a

relação entre colaboradores inseridos na dinâmica editorial, CP3 propôs que fossem

inseridos na discussão os papeis desempenhados por coordenadoras pedagógicas, designers

e profissionais do marketing na elaboração de diferentes publicações. Com objetividade,

CP4 solicitou que a apresentação “de fato ‘apresente’ o manual filosófico e sua relevância”.

Para Ed1, faltou dizer “como os verbetes foram produzidos” e, ainda, uma afirmação de que

o manual “não tem a pretensão de ser a palavra final sobre esses tópicos, mas um ponto de

partida, ao procurar sintetizar o que se produziu em termos de consenso sobre esses

129
assuntos”. Por fim, dois avaliadores, Ed2 e Ed3, disseram que seria importante falar um

pouco mais sobre a relevância das publicações adventistas na atualidade.

Finalmente, foi perguntado “Como você avalia a seção em termos de extensão,

profundidade e aplicabilidade?” A maioria dos avaliadores (AE1, AE2, CE1, CE2, CE3,

CP1, CP2, Ed1, Ed4) disse que a seção tem extensão, profundidade e aplicabilidade

satisfatória. Por sua vez, cinco participantes (CE4, CP3, CP4, Ed2, Ed3) indicaram que a

extensão está boa/razoável, sugerindo que o texto “A importância das publicações

adventistas” devesse ser ampliado.

Análise das respostas

De maneira geral, os avaliadores qualificaram positivamente a seção, indicando em

diferentes perguntas as principais virtudes dos dois textos de abertura do manual. Clareza e

objetividade foram pontos especialmente apreciados, e certamente contribuem para que o

leitor seja estimulado a continuar a leitura do material. Além disso, o destaque dado ao

fundamento histórico, justificando a importância do material e posicionando-o como uma

ferramenta para a disseminação da cosmovisão bíblico-adventista, parece ter atingido seu

objetivo, embora não sem ter levantado observações.

Em relação ao fundamento histórico, que caracterizou especialmente o texto sobre a

importância das publicações adventistas, o sentimento foi ambíguo: para um grupo, esse

atributo foi positivo, devendo, inclusive, ser ampliado em alguns pormenores; para outro,

foi excessivo ou até difuso. Encontrar o equilíbrio certamente é um desafio, uma vez que

essas considerações são muito subjetivas. Talvez o caminho seja expandir o argumento em

direção à relevância contemporânea das publicações, algo que, de fato, não foi realizado.

130
Outro item que merece atenção está relacionado à percepção de alguns avaliadores

que não são editores quanto a algumas partes do texto que soaram bastante segmentadas,

com ênfase demasiada sobre o trabalho que se faz na Gerência de Redação, em detrimento

a outros setores importantes do processo editorial. Essa ressalva deve ser considerada no

processo de publicação do manual.

Além disso, a desproporcionalidade na extensão entre os dois textos parece ter

causado um ruído no propósito da seção, algo que deve ser considerado, seja diminuindo a

“apresentação” ou, como foi dito, ampliando “a importância das publicações adventistas”.

Finalmente, a sugestão para explicar o processo de produção do manual em sua

apresentação e o esclarecimento de que esse é um processo contínuo são recomendações

oportunas, que podem ser inseridas na seção ou em outra parte do manual, dependendo de

como ele será posicionado no Manual de Redação da CPB. Na verdade, essas explicações

já foram contempladas na parte referente às normas técnicas de redação e facilmente

poderão ser ajustadas em relação ao todo.

“Visão e missão editorial”

Embora visão, missão e valores editoriais estejam em uma única página do manual,

foi necessário distinguir sua avaliação por um motivo: as declarações de visão e missão não

foram elaboradas pelo pesquisador ou pelos membros da comissão do manual filosófico,

mas definidas há anos pela Comissão Diretiva da editora. Assim, essa parte do questionário

verifica dois itens que não foram escritos em função do trabalho acadêmico, mas fazem

parte da cultura organizacional da CPB.

131
Descrição

Em relação à suficiência da seção, os avaliadores foram unânimes ao dizer que ela

está adequada. Apenas um deles, Ed1, pontuou que “faltaria contextualizar a elaboração

dessas declarações e tentar resgatar se a editora já teve outras declarações e como foi esse

processo”.

Quanto aos aspectos positivos, os participantes destacaram: clareza (AE2, CE4,

CP1, CP2, Ed1, Ed3, Ed4), concisão (CP2, Ed1), solidez (AE1), objetividade (CE1),

abrangência da essência do trabalho editorial adventista (CE2), comunicabilidade (CE3) e

simplicidade (CE4). No que diz respeito aos aspectos negativos, nove avaliadores disseram

não haver pontos negativos (AE1, CE2, CP1, CP2, CP3, CP4, Ed2, Ed3, Ed4). Entre

aqueles que fizeram observações, AE2 disse que “poderia ter algo que trate dos aspectos

mercadológicos diferenciados da editora”; CE1 sentiu “falta de alguma informação

complementar” que indicasse “se a missão e visão se referem à CPB ou à obra de

publicações adventista como um todo”; CE3 indicou a necessidade de haver nessa

“declaração oficial de visão e missão da editora algum componente mais adventista,

relacionado à missão da igreja”; CE4 teve a impressão de que a visão “parece limitada

diante da missão da editora”; e Ed1 propôs “problematizar essas definições, talvez

sugerindo aperfeiçoamentos ou mudanças”.

Quando tiveram a oportunidade de sugerir mudanças, sete avaliadores disseram não

haver sugestões ou críticas (CE2, CE3, CP1, CP4, Ed2, Ed3, Ed4). Por sua vez, AE1

recomendou que “talvez a visão e a missão pudessem ser enquadradas dentro da visão e

missão da Igreja Adventista”. AE2 destacou dois pontos: “apresentar que a editora também

132
trabalha para um público mais amplo” e elaborar uma “visão mais pragmática e ousada”.

Dois avaliadores, CE1 e CP2, sentiram falta de um título que identificasse a seção; CP2

ainda sugeriu a inserção de um “pequeno texto introdutório reforçando que o uso do manual

irá contribuir para o cumprimento da visão e da missão” da editora. Por fim, CE4

recomendou que a visão fosse aprimorada, pois se “parece mais com uma meta do que com

uma declaração realmente visionária”.

Em relação à ultima pergunta “Como você avalia a seção em termos de

compreensão, eficiência e motivação?”, todos os avaliadores consideraram que a seção

atendeu a esses requisitos de maneira satisfatória. Apenas um participante, CE4, qualificou

a motivação como razoável, “em decorrência da visão”.

Análise das respostas

As respostas indicam que a visão e a missão da editora, em suas linhas gerais,

convergem com a orientação teórica apresentada no capítulo 3 desta tese, sob os intertítulos

“missão editorial” (p. 91) e “missão editorial adventista” (p. 94). Os avaliadores

identificaram muitas virtudes recomendadas pela literatura contemporânea, como solidez,

clareza, concisão, objetividade e motivação.

Entretanto, eles também notaram algumas fragilidades. Uma vez que a visão e a

missão institucional devem demonstrar explicitamente a identidade da organização, é

preciso reconhecer o fato de que esses elementos da cultura organizacional da CPB carecem

de aperfeiçoamento. Em realidade, do modo como estão redigidos, podem ser utilizados por

qualquer editora cristã. Nesse caso, é preciso considerar a possibilidade de reformulá-los

com termos que os identifiquem com a missão singular da Igreja Adventista do Sétimo Dia,

133
talvez promovendo a intertextualidade entre a visão/missão denominacional com a

visão/missão editorial.

Além disso, é preciso refletir acerca da necessidade de expressar com mais

contundência ou ousadia a visão/missão editorial, considerando não apenas o público

adventista; mas, sobretudo, o propósito de alcançar o público ainda não evangelizado.

Por fim, parece oportuna a sugestão de tornar mais explícito como o manual

filosófico poderá contribuir com a visão/missão da CPB, embora isso talvez não seja

necessário, dependendo da maneira como o material será inserido no Manual de Redação

da editora.

“Valores”

Os valores apresentados no documento são resultantes da pesquisa e se tratam de

uma proposta, uma vez que esse item, para ser incorporado à identidade institucional,

também deve ser votado na Comissão Diretiva da CPB.

Descrição

A primeira pergunta quis avaliar o grau de suficiência da seção. Os avaliadores

foram unânimes ao responder que o conteúdo é suficiente para o propósito do manual. Nas

justificativas, eles destacaram o alinhamento com os princípios bíblicos e o pensamento

denominacional (AE2, CE1, CE2, CP1, Ed1, Ed3, Ed4) e sua clareza e concisão (CE1,

CE4, CP3, Ed4). Um dos avaliadores, CE3, fez uma ressalva, ao afirmar que a proposta

“poderia expressar melhor de alguma maneira a identidade adventista de nossos valores

cristãos. Por outro lado, poderíamos dizer que o adventismo é nossa maneira de enxergar o

134
cristianismo; se entendermos adventismo como sinônimo de cristianismo, não haveria o que

mudar”.

Ao responderem à segunda questão, sobre os aspectos positivos, os avaliadores

ressaltaram a clareza (CE3, CE4, CP1, CP2, CP4, Ed3, Ed4), abrangência (AE1, AE2, CE2,

CP3, Ed1) e objetividade (CE1, CE3, CE4, CP1). Por sua vez, quanto aos aspectos

negativos, na terceira pergunta, nove participantes não identificaram problemas (AE1, CE2,

CP1, CP2, CP3, CP4, Ed2, Ed3, Ed4). Entre aqueles que indicaram pontos negativos, CE3

e CE4 disseram que faltou algum componente distintivo relacionado com a singularidade

adventista; AE2 salientou que “faltou algo que abordasse o cumprimento da missão

evangelística por meio das publicações”; CE1 pontuou que a seção não deixou claro “se os

valores se referem à CPB ou à obra de publicações adventista como um todo”; e Ed1

sugeriu que “os valores ‘compromisso com a Bíblia’ e ‘produção cristã’ poderiam ser

sintetizados em um item apenas”.

Quanto às sugestões ou críticas, seis avaliadores se abstiveram de fazê-las (AE1,

CE2, CP1, CP3, Ed3, Ed4); cinco mencionaram o que responderam na questão anterior

(AE2, CE1, CE3, CE4, Ed1); dois fizeram sugestões de redação, nos itens “paixão pela

excelência” (CP4) e “produção cristã” (Ed2); e CP2 reafirmou uma dúvida mencionada em

uma questão anterior: “o foco seriam os valores da instituição ou seria o uso do material

para contribuir com ela”?

Por fim, foi perguntado como os participantes avaliavam a seção “em termos de

objetividade, abrangência e convergência com a ética bíblica”. Eles foram unânimes em

135
apresentar uma visão positiva da seção. Apenas um avaliador, CE4, considerou “boa” a

objetividade, abrangência e convergência com a ética bíblica.

Análise das respostas

Conforme foi considerado no capítulo 3 desta tese, sob os intertítulos “valores

editoriais” (p. 97) e “valores editoriais adventistas” (p. 99), os valores devem refletir os

princípios éticos que norteiam a instituição; nesse caso, fundamentos extraídos da revelação

profética. O capítulo 2 desta tese, a partir de uma análise teológica, sugeriu princípios que

estão subjacentes aos valores apresentados (p. 65). De fato, os avaliadores reconheceram

que a proposta apresentada no manual é compatível com o aporte teórico, ao dizerem que

ela está alinhada com os princípios bíblicos e o pensamento denominacional. Ademais,

ainda relataram que os itens enunciados são claros, objetivos e concisos, algo que favorece

a compreensão e a assimilação desses valores.

No entanto, os participantes também indicaram pontos a serem melhorados.

Curiosamente, esses itens ecoam elementos já mencionados na seção anterior: apresentar

explicitamente a característica distintiva da Igreja Adventista, bem como a importância das

publicações no cumprimento da missão denominacional. Assim, a repetição dessas

observações sinaliza uma fragilidade que precisa ser considerada no processo final de

publicação do manual.

“Cosmovisão”

Ao comparar diferentes manuais de redação ou orientações/princípios editoriais,

nota-se que, embora todos tenham uma cosmovisão subjacente, nenhum deles tornou isso

136
explícito. Desse modo, o posicionamento sobre a cosmovisão que norteia o manual

filosófico é bastante peculiar.

Descrição

Em relação à suficiência, dos 14 avaliadores, 13 disseram que o texto supre as

necessidades do manual (AE1, AE2, CE1, CE2, CE3, CE4, CP1, CP2, CP4, Ed1, Ed2, Ed3,

Ed4). De acordo com esses participantes, a argumentação apresentou o motivo da

necessidade de um manual (AE1, E3, Ed4), “realça os seus aspectos de formação e

validação” (AE2), “tem uma abordagem sensível ao tema, com análises pormenorizadas e

extremamente úteis” (CE3), e “está muito bem fundamentada e estabelece um paradigma

sólido” (CE4). Por sua vez, CP3 afirmou que a seção foi insuficiente, pois “poderia deixar

mais claro qual é a cosmovisão adventista e esclarecer os outros elementos filosóficos

fundamentais: ontologia, ética e estética, inclusive para deixar claro porque esses elementos

são significativos para o manual”.

Quanto aos aspectos positivos, os avaliadores destacaram a argumentação e

fundamentação do texto (AE1, AE2, CE3, CE4, CP1, CP2, CP4, Ed3), a estrutura

apresentada (AE2, CE1, CE2, CE3, CP2), a comparação entre as principais cosmovisões

existentes (CP3, Ed1, Ed2, Ed4), a clareza e a objetividade do conteúdo (CE3, CP1, CP2), a

contribuição prática do assunto para o trabalho editorial (CE3, CP2) e a menção ao papel

das metanarrativas e ao “grande conflito como o elemento que confere equilíbrio à

cosmovisão cristã” (Ed3).

Ao serem perguntados sobre os aspectos negativos, nove avaliadores disseram não

haver pontos negativos (AE2, CE1, CE2, CE3, CP1, CP2, CP4, Ed2, Ed4), embora três

137
deles tenham feito pequenas ressalvas (AE2, CP1, CP4). Dos avaliadores que indicaram

aspectos negativos, AE1 assinalou que, no intertítulo “cosmovisão adventista”, o argumento

segue “diretamente à importância de Ellen White para a cosmovisão adventista, sem

apresentar a importância da Bíblia primeiro”. Já CE4 pontuou que “a definição da

cosmovisão bíblico-adventista poderia ter um parágrafo de fechamento mais detalhado”.

CP3 afirmou que “o início ficou muito histórico para um manual, e a parte mais importante,

que é justamente esclarecer a cosmovisão adventista e sua importância para este manual,

ficou vaga”. Por sua vez, Ed1 disse que “faltou problematizar um pouco a relação entre

cosmovisão e cultura”. Finalmente, Ed3 sinalizou uma aparente confusão entre os termos

cosmovisão cristã e cosmovisão cristã/adventista, perguntando: “O que realmente

diferencia a cosmovisão cristã da adventista?”

Quando lhes foi dada a oportunidade de fazer sugestões ou críticas à seção, cinco

avaliadores disseram não haver necessidade disso (CE1, CE2, CE3, CP1, Ed4). Entre as

observações, AE1 aconselhou “ampliar a discussão sobre por que ter a Bíblia como

fundamento da cosmovisão e apresentar também a ideia do corpus de materiais teológicos,

filosóficos e práticos da Igreja Adventista”. AE2 refletiu acerca da necessidade de se

considerar no texto os efeitos pessoais da mudança de cosmovisão. Por sua vez, CE4

sugeriu aprofundar a “discussão sobre o grande conflito como eixo norteador da

cosmovisão adventista e seu desdobramento na prática editorial”. CP3 reiterou sua opinião

a respeito da necessidade de “deixar mais claro qual é a cosmovisão adventista e esclarecer

os outros elementos filosóficos fundamentais: ontologia, ética e estética”. Na sequência,

CP4 e Ed2 também sinalizaram que seria importante deixar mais evidente qual é a

138
definição de cosmovisão bíblico-adventista. Já Ed1 referiu-se ao ponto que havia

mencionado na pergunta anterior e, finalmente, CP2 e Ed3 fizeram observações relativas a

minúcias ou dúvidas encontradas no texto, que não têm que ver com questões estruturais.

Na última pergunta, “Como você avalia a seção em termos de fundamentação,

clareza e relação com a área editorial?”, 11 participantes afirmaram que a seção alcançou

nível satisfatório, utilizando para isso termos como “adequada”, “excelente” ou “positiva”

(AE2, CE1, CE2, CE3, CP1, CP2, Ed1, Ed2, Ed3, Ed4).

Entretanto, AE1 reafirmou que “algo mais poderia ser inserido em relação à

fundamentação bíblica”; no entanto, também destacou que o texto está claro e “apresenta

bem a relação com a área editorial”. CE4, embora tenha afirmado que a fundamentação e a

relação com a área editorial estejam “excelentes”, qualificou como “boa” a clareza do texto.

CP3 achou a fundamentação “vaga”, que a seção “não esclarece a importância para este

manual” e sugeriu, ainda, cortar “parte da fundamentação” e aumentar “o texto sobre a

importância deste tópico para o manual, explicando os outros elementos filosóficos que

foram mencionados”. Finalmente, CP4 sinalizou que a fundamentação foi “excessiva” e

ficou “razoavelmente” clara, mas reconheceu que a seção, em relação com a área editorial,

ficou “satisfatória”.

Análise das respostas

A discussão sobre cosmovisão tem diversas nuances e provoca alguns

questionamentos, o que pode ser notado nas respostas desta seção, que trata dos intertítulos

“cosmovisão” (p. 72) e “cosmovisão adventista” (p. 77) no capítulo 3 desta tese. Por um

lado, a maioria dos avaliadores considerou a argumentação clara, objetiva, didática, bem

139
fundamentada, adequadamente estruturada e relevante em sua aplicação na prática editorial.

Por outro lado, alguns participantes sentiram falta de uma definição conceitual exata do que

é a cosmovisão bíblico-adventista. O tema é amplo e talvez não haja uma resposta

consensual, uma vez que se trata de um debate aberto nos círculos acadêmicos

denominacionais.

Assim, para minimizar esse efeito e manter o propósito da seção no manual, parece

ser adequada a sugestão de expandir o texto sobre a fundamentação bíblica que sustenta a

cosmovisão bíblico-adventista, material que pode ser encontrado no capítulo 2 desta tese

(pp. 24-34). Nesse sentido, também é necessário indicar com mais clareza, ao longo da

argumentação, quais são as respostas adventistas a cada pergunta norteadora para a

formulação de uma cosmovisão. Essas duas ações provavelmente ajudem os leitores a

visualizar melhor os indicadores que moldam a cosmovisão bíblico-adventista.

“Verbetes”

Essa seção apresenta o cerne do manual filosófico e ocupa 103 páginas de um total

de 122. Cabe aqui relembrar que observações referentes a questões ortográficas,

gramaticais, muito peculiares a uma atividade específica ou que fogem do escopo do

manual não são destacadas nesta análise, de modo que o olhar sobre as respostas será

direcionado a questões estruturais, filosóficas ou teológicas.

Descrição

Na primeira pergunta, “O que você achou da maneira como os verbetes foram

elaborados?”, todos os avaliadores expressaram uma visão positiva. As principais virtudes

140
mencionadas foram a boa fundamentação do material (AE1, CE1, CE2, CE4, CP1, Ed1), a

forma como está estruturado (CE2, CP2, CP4, Ed1, Ed3, Ed4), a convergência com o

cotidiano editorial (AE1, AE2, CE3, CE4, CP1) e a clareza e objetividade dos verbetes

(CE1, CE3). Duas observações foram indicadas: CP2 sugeriu que fosse inserido “um texto

inicial que explique melhor a forma como foi pensada a construção dos verbetes” e CP3

pontuou que “alguns verbetes [ficaram] mais [bem] fundamentados do que outros”.

Na sequência, os participantes responderam à seguinte questão: “Quais verbetes

mais lhe chamaram atenção? Por quê?” A pergunta provocou dois tipos de respostas:

verbetes que chamaram atenção positiva ou negativamente. Dos 14 avaliadores, 12

indicaram elementos positivos e dois pontuaram aspectos negativos.

Os verbetes que se destacaram positivamente foram: literatura (CE4, CP2, CP4,

Ed1, Ed2, Ed3), celebridades (AE1, CE2, CP1, Ed1), sexualidade (AE1, CE1, CE2, CP1),

aborto (AE1, AE2, CE3), pena de morte (AE1, AE2, Ed1), adorno e vestuário (CE3, CP2),

biografias (Ed1, Ed3), filmes (CE2, Ed2), história (CE2, Ed3), música (CE2, Ed2), origem

da Terra (CE2, Ed3), meio ambiente (AE1, Ed3), críticos e dissidentes (CE2), família

(CE2), imagens e recursos artísticos (CE4), jogos (Ed1), legalização das drogas (Ed1),

notícias referentes a decisões administrativas (CE3) e política (CE1). Ao refletir sobre as

justificativas para a menção desses verbetes, os participantes notaram a relevância do

material, bem como o direcionamento que ele deu para o trabalho editorial.

Por outro lado, dois avaliadores (CP3 e CP4) apontaram itens negativos nos

seguintes verbetes: filmes (CP3, CP4), história (CP3, CP4), adornos e vestuário (CP4),

atividades competitivas (CP4), imagens e recursos artísticos (CP3), música (CP4),

141
publicidade e propaganda (CP3) e sexualidade (CP4). Os dois participantes indicaram

minúcias do texto, à luz da necessidade específica do trabalho que desempenham.

Quanto à pergunta “Houve algum verbete que não foi bem elaborado? Por quê?”,

nove avaliadores indicaram ausência de material mal produzido (AE1, AE2, CE1, CE2,

CE3, CP1, Ed2, Ed3, Ed4). Entre eles, três mencionaram o processo de elaboração como

fator importante para a boa qualidade do material (CE3, CP1, Ed4). Por exemplo, CE3

afirmou:

Sem dúvida, não. Todos foram bem apurados e escritos pelo autor. Em seguida, foram
avaliados detalhadamente. Se houve alguma dificuldade em relação a algum verbete,
ela foi resolvida nas longas reuniões multidisciplinares que tivemos. Todas as
observações foram feitas ali. Nós, como participantes, avaliamos cada pormenor do
texto, com todo o cuidado, e tudo foi conduzido de maneira a que o texto refletisse um
consenso do grupo avaliador.

Em relação aos cinco participantes que indicaram problemas na elaboração dos

verbetes, CP2 e CP3 pontuaram minúcias específicas de seu campo de trabalho, seguindo

aquilo que observaram na pergunta anterior; CP4 sugeriu que o texto sobre família fosse

“um pouco mais abrangente”; e Ed1 destacou que, “de modo geral, faltou nos verbetes ter

um diálogo maior com o que pesquisadores adventistas estão produzindo na academia”.

Por sua vez, CE4 fez algumas observações que tocam em questões argumentativas.

Quanto ao verbete “legalização das drogas”, que fez distinção entre drogas ilícitas e

medicamentos, o avaliador sugeriu, em primeiro lugar, que houvesse um texto separado

para as “drogas farmacêuticas”, diante da “complexidade do assunto”. Ele mencionou que,

embora Ellen White tenha feito uso de “recursos modernos da medicina”, “ela nunca

recomendou o uso de medicamentos para tratar doenças crônicas relacionadas ao estilo de

vida. Nesses casos, ela sempre indicou os remédios simples disponíveis na natureza”. Em

142
relação ao verbete “meio ambiente”, o participante recomendou que o texto “poderia refletir

sobre o consumo consciente, uso de transgênicos e agrotóxicos”, uma vez que “essas

questões são decisivas para a prática da mordomia relacionada ao meio ambiente”.

Finalmente, ponderou que o verbete “‘saúde’ traz uma posição bem fundamentada sobre

alimentação, mas ficou restrito a esse tópico. Poderia ser renomeado para ‘alimentação

saudável’. O verbete ‘saúde’ poderia tratar da visão de saúde integral”.

Os avaliadores também tiveram que responder à pergunta “Você sentiu falta de

algum verbete? Por quê?”. Seis participantes responderam que não (CE2, CE3, CP1, Ed2,

Ed3, Ed4). Isso não significa que o material seja completo, mas que atende as necessidades

momentâneas do trabalho. É preciso reconhecer que a atividade editorial é dinâmica e que,

naturalmente, novas discussões demandarão pesquisas complementares ou adicionais, para

a ampliação ou formulação de novos verbetes.

Entre aqueles que responderam afirmativamente à questão, AE1 destacou a

necessidade de falar sobre “o uso da ficção em relação com os personagens bíblicos e

históricos” e também “como apresentar a visão da Igreja Adventista acerca das profecias e

do tempo do fim com equilíbrio e sem sensacionalismo”. AE2 e CP4 sugeriram tratar do

tema “identidade de gênero” e o “papel do homem e da mulher”. CE1 pontuou ser

importante tratar da “relação do adventismo com algumas áreas do conhecimento, como a

Psicologia e a Filosofia”. CE4 indicou um verbete sobre “economia, destacando alguns

aspectos macro e microeconômicos”.

Alguns avaliadores não apresentaram novos verbetes, mas fizeram sugestões para o

aperfeiçoamento de alguns temas discutidos. CE4 mencionou que, no texto sobre

143
“teologia”, um “dos princípios editoriais deve ser a publicação de obras em harmonia com

os escritos de Ellen G. White”. Contudo, ele se perguntou: “Qual é o nível de autoridade do

Espírito de Profecia que aplicamos às práticas editoriais?” Por sua vez, CP2 lembrou de

vários itens que constam em um material de orientação usado em sua área de trabalho que

não foram mencionados no manual. CP3 também abordou dois pontos muito específicos de

sua atividade editorial, referentes a “atividades, questões de vestibular e simulados” e “não

utilizar questões evolucionista em tópicos diversos fora do contexto”. Finalmente, Ed1

sugeriu que o verbete “notícias referentes a decisões administrativas da Igreja Adventista”

incluísse também a discussão sobre “tratar ou não tratar dos problemas internos da igreja

em suas publicações, como transparência dos dados, altos índices de apostasia, uso do

dinheiro, escândalos morais, etc.”.

Em relação à pergunta “Você tem alguma sugestão para melhorar a seção de

verbetes?”, sete avaliadores responderam que não (AE1, AE2, CE2, CE3, CE4, CP1, Ed4).

Contudo, CP2, CP3 e CP4 indicaram a necessidade de fazer algumas inserções: um título

para a seção, um texto introdutório ou de fundamentação e um texto de encerramento. Além

disso, CP2 sugeriu reiterar que o manual “pode ser passível de novas inserções/mudanças

de acordo com as realidades vivenciadas dentro do processo de produção”. CE1 e Ed1

referiram-se às ideias que compartilharam na questão anterior, enquanto Ed2 fez sugestões

pontuais em três verbetes (literatura, notícias referentes a decisões administrativas da Igreja

Adventista e saúde) e Ed3 abordou minúcias de outros dois verbetes (origem da Terra e

meio ambiente).

144
Por fim, os avaliadores responderam à questão “Como você avalia a seção em

termos de fundamentação teórica, aplicação prática e alcance?”. Todos qualificaram

positivamente a seção, sem ressalvas, com expressões como “bem embasada’, “bem

elaborada” e “excelente”. CP2 salientou que a seção “ajudará os envolvidos com a

produção dos materiais nas esferas denominacionais e didáticos, bem como poderá ajudar

outros profissionais (como o setor de arte) a terem maior percepção na elaboração” desses

materiais. CE2 também viu a possibilidade de o material servir “outras instituições da

igreja. Seria muito importante que houvesse uniformidade em todos os materiais

produzidos ou divulgados pela Igreja Adventista do Sétimo Dia”.

Análise das respostas

Apesar de ser um conteúdo extenso, bastante variado e com assuntos sensíveis, de

maneira geral os verbetes foram muito apreciados. Dois pontos evidenciam esse fato: a

unanimidade em qualificar positivamente a seção e a quantidade de temas considerados

preeminentes: dos 26 tópicos tratados, 19 foram apontados como destaques positivos. As

principais virtudes mencionadas foram a boa fundamentação teórica dos verbetes, a forma

como estão estruturados, a convergência com o cotidiano editorial e a clareza e objetividade

de sua redação.

Em relação às ressalvas apontadas em 16 verbetes, nota-se que elas não

desqualificam o material, uma vez que não contestam nem julgam mal-escritas as linhas

centrais da fundamentação teórica realizada. De fato, as observações se caracterizam como

sugestões de refinamento ou ampliação da abrangência do material.

145
Nesse sentido, é possível observar que parte significativa dessas ressalvas está

ligada a um setor específico de trabalho, a produção de livros didáticos. Assim, é oportuno

olhar com mais atenção para essas minúcias, a fim de suprir as necessidades específicas

identificadas, embora isso tenha sido buscado durante o processo de elaboração do manual,

nas reuniões da comissão designada para isso, que tinha representantes dessa área.

Além disso, a sugestão de inserir um título e um texto introdutório à seção parece

ser oportuna, uma vez que alguns detalhes sobre a utilização dos verbetes, por mais que

sejam intuitivos, podem ser melhor aclarados. Esse recurso pode incluir também outra

reivindicação apresentada em questão anterior: a de se explicar o processo de escolha,

elaboração e aprovação dos verbetes.

Por fim, a ideia para elaboração de novos verbetes é bastante adequada e segue o

fluxo tencionado para o manual filosófico, que não deve se limitar aos temas que foram

explorados. Dessa maneira, é pertinente considerar a produção dos seguintes verbetes:

identidade de gênero, papel do homem e da mulher, psicologia, filosofia e economia.

“Avaliação geral”

Na última seção, composta de três perguntas, o propósito foi identificar o grau de

utilidade que o manual filosófico teve para os participantes, bem como observar se o

material pode ser considerado pertinente para a prática editorial.

Descrição

Na primeira pergunta, “Você foi pessoalmente/profissionalmente beneficiado (a)

com a leitura do Manual Filosófico? Por quê?”, todos os avaliadores responderam que sim.

146
Nove participantes destacaram que o material serviu para fazê-los refletir e crescer em

relação ao trabalho que desempenham (CE1, CE2, CE3, CE4, CP1, CP2, Ed1, Ed3, Ed4).

Nesse contexto, por exemplo, CE1 afirmou que “certos pontos que permaneciam numa

‘área cinzenta’ foram esclarecidos e bem posicionados, de modo a diminuir a possibilidade

de que erremos ao escrever e opinar sobre tais assuntos”; CE2 admitiu que o material “foi

de grande ajuda para reafirmar minhas convicções e reanalisar o que era necessário”; e Ed1

reconheceu que teve “contato com obras que não conhecia”, aprendeu “novos conceitos”,

pensou “em nuances sobre as quais não havia refletido em temas polêmicos” e declarou

“que boa parte das conclusões o que o autor chegou é equilibrada e exequível”.

Quanto aos demais avaliadores, AE1 expressou que “era necessário contar com um

manual assim. O manual satisfaz uma necessidade real”; AE2 sugeriu o uso do material

para além dos limites da CPB, ao dizer que, “quando cada instituição tiver acesso aos

princípios editoriais, teremos menos risco de que pressuposições pessoais sejam publicadas

em nome da igreja”; CP3 salientou que foi “benéfico participar das comissões, bem como

ser ouvida quando verbetes se referiam ao material didático”; CP4 disse ter apreciado a

leitura e crer “que será um documento norteador”; e Ed2 indicou especificamente o valor da

seção “A importância das publicações adventistas”, dizendo ser “inspirador relembrar o

papel das publicações na história da igreja”.

A segunda questão, “Você acredita que o Manual Filosófico será relevante para o

direcionamento da produção editorial da Casa Publicadora Brasileira? Por quê?”, também

provocou uma resposta positiva unânime. Os avaliadores entenderam que o material é útil

para “delimitar a produção editorial no contexto dos princípios teológicos e filosóficos” da

147
Igreja Adventista (AE1), permitindo que haja clareza, coerência, alinhamento, fundamento

e unidade na produção da editora (AE2, CE1, CP1, CP2, CP3, CP4, Ed4).

Além disso, CE2, CE4 e Ed1 ressaltaram o pioneirismo da iniciativa, no sentido de

fornecer um “documento norteador” (CE4), “sistematizado” (CE2), para as decisões

filosóficas na editora. Evidentemente, isso não significa que não houvesse reflexão;

contudo, esse exercício foi feito de maneira “intuitiva ou informalmente até aqui” (Ed1).

Assim, o manual “é uma grande contribuição para o trabalho editorial na atualidade e um

marco importante para as novas gerações de editores” (CE4).

Outros pontos também foram mencionados. CE3 destacou a importância da

proposta à luz de sua natureza acadêmica, ao dizer que “esse foi o melhor caminho para a

produção do manual, que uniu o que há de melhor em termos de consistência acadêmica e

experiência prática, do dia a dia da editora”. Já Ed2 salientou que o material vai “facilitar e

acelerar o trabalho editorial, uma vez que o editor não terá que pesquisar o tema em questão

para saber exatamente qual é o posicionamento oficial da igreja”. Finalmente, Ed3 propôs

que o manual “deverá ser um material não só de pesquisa, mas de estudo e discussão.

Sugiro que as editorias se reúnam para discutir os verbetes mais ligados à sua área,

garantindo que todos falem a mesma linguagem”.

A última pergunta do questionário foi: “Você tem alguma consideração adicional a

fazer nesta avaliação?” Seis avaliadores parabenizaram os envolvidos na elaboração do

manual pelo trabalho feito (AE1, CE2, CE4, CP1, CP2, Ed1). Por sua vez, AE1, AE2 e CP4

indicaram o uso do manual em outras instituições adventistas. Como exemplo, AE2

afirmou: “O material deve ser distribuído a todos os produtores de conteúdo, além da Casa

148
Publicadora Brasileira”, incluindo a disponibilização do “conteúdo em espanhol para a

ACES e demais instituições da igreja do lado hispano”.

Já CE3, Ed1 e Ed3 lembraram que o manual deve ser revisado e ampliado ao longo

do tempo, à medida que novas necessidades forem percebidas. Ed1 ainda disse que, com o

manual filosófico, “a gente dá um passo importante para futuras pesquisas e certamente

esse material poderá servir de referência e ponto de partida para outras instituições de

comunicação da igreja”. CE1 tocou em algo que outro avaliador havia dito em momento

anterior:

Sugiro que, após a publicação do manual, sejam dados treinamentos com base nesse
conteúdo, pois, diferentemente de um manual de normas, este não pode se dar ao luxo
de ser consultado apenas ocasionalmente, quando surge a dúvida; antes, o material deve
estar internalizado e incorporado por todos os integrantes da Redação.

Finalmente, CP3 solicitou que o manual estivesse de acordo com os padrões da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Análise das respostas

As respostas dessa seção evidenciam que a percepção dos avaliadores ao terminar a

análise do manual foi muito positiva. Em primeiro lugar, os participantes foram unânimes

ao reconhecer que o material trouxe benefícios pessoais, profissionais e institucionais

significativos. Nesse sentido, eles reconheceram que o conteúdo é útil para promover

reflexão, crescimento, transformação, celeridade e unidade na prática editorial.

Em segundo lugar, os avaliadores também destacaram a importância do manual

como ferramenta para moldar a produção editorial, conforme os contornos da cosmovisão

bíblico-adventista. Dessa maneira, espera-se que as publicações denominacionais estejam

149
em consonância com os propósitos que devem nortear o trabalho da CPB como editora da

Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Em terceiro lugar, foi mencionado o pioneirismo do manual filosófico no contexto

das editoras adventistas. Nesse ponto, é oportuno salientar que a CPB sempre se preocupou

em publicar materiais convergentes com o posicionamento denominacional. No entanto, o

aumento na demanda de produtos, a quantidade significativa de profissionais envolvidos, a

variedade de assuntos tratados e a complexidade da sociedade atual exigem algo que oriente

as discussões e procedimentos adotados. Talvez há 20 anos a elaboração de um manual

assim fosse desnecessária; contudo, atualmente ele é reconhecido como um instrumento útil

para o bom desempenho do trabalho.

Em quarto lugar, os avaliadores destacaram a necessidade de capacitar

intencionalmente todos os envolvidos com a produção editorial com base no conteúdo do

manual filosófico. Assim, reconheceram que o material é relevante não somente para a

atividade que desempenham, mas também para os demais elos dessa cadeia criativa e

produtiva.

Por último, os avaliadores sugeriram a utilização do manual filosófico por outras

editoras ou empresas de comunicação da igreja. Isso revela que a maneira como o conteúdo

foi elaborado transcende as especificidades do trabalho na CPB e pode contribuir

amplamente para que as demais instituições adventistas mantenham diante de si a

importância de fortalecer continuamente seu compromisso com a cosmovisão bíblico-

adventista e com a missão pela qual foram constituídas.

150
Síntese

Este capítulo apresentou as respostas do questionário de avaliação do manual

filosófico, bem como a análise desse conteúdo. Os 14 participantes, compostos por

coordenadores editoriais, coordenadoras pedagógicas, editores da CPB e avaliadores

externos tiveram 30 dias para examinar o manual elaborado pelo pesquisador, conforme o

relato apresentado no capítulo 4.

O manual foi muito apreciado pelos avaliadores, que destacaram como

características essenciais: clareza, objetividade, concisão, relevância, cuidadosa

fundamentação teórica, boa estruturação, alinhamento bíblico e denominacional e

convergência com o trabalho editorial cotidiano.

Contudo, em cada seção houve observações ou sugestões que podem enriquecer

ainda mais o material. Na seção “Apresentação” e “A importância das publicações

adventistas”, os avaliadores notaram a necessidade de ajustar a proporção dos dois textos,

mencionar o papel de outros colaboradores no processo editorial, além dos editores, e

enfatizar a relevância atual das publicações adventistas.

Quanto à seção “Visão e missão editorial”, os participantes indicaram que os

enunciados devem mostrar explicitamente a identidade adventista da editora e ser mais

ousados, considerando não apenas o público interno, mas também a missão da CPB em

alcançar o público externo. Essas observações também se repetiram na seção “Valores”.

Em relação à seção sobre “Cosmovisão”, a principal ressalva foi acerca da

necessidade de se conceituar claramente o que é a cosmovisão bíblico-adventista. É

importante relembrar, nesse ponto, que o assunto é tema de debate nos círculos acadêmicos

151
adventistas e que a proposta apresentada no manual indica os fundamentos da cosmovisão,

não um conceito específico em si.

No que diz respeito aos “Verbetes”, a seção mais extensa e elementar do manual, os

avaliadores fizeram algumas observações no sentido ampliar ou refinar a abrangência do

material. É preciso destacar que boa parte dessas observações está ligada às especificidades

da produção de livros didáticos. Além disso, eles sugeriram a inserção de um título e um

texto introdutório à seção, bem como a elaboração de novos verbetes.

Na última seção, “Avaliação geral”, os participantes tiveram a oportunidade de

expressar sua percepção acerca da relevância do manual filosófico para sua vida pessoal,

profissional, assim como para o contexto institucional. Nesse sentido, reconheceram a

importância do material para promover reflexão, crescimento, transformação, celeridade e

unidade na prática editorial; salientaram o papel do manual como ferramenta para moldar a

produção editorial conforme os contornos da cosmovisão bíblico-adventista; lembraram do

pioneirismo da iniciativa; destacaram a necessidade de capacitar os envolvidos com a

produção editorial com base no conteúdo do manual; e sugeriram a utilização do material

por outras editoras ou empresas de comunicação da Igreja Adventista.

152
CAPÍTULO 6

RESUMO, CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A jornada que se iniciou em setembro de 2016 teve sua conclusão em outubro de

2020. Foi um processo enriquecedor, que abrangeu pesquisa em diferentes áreas como

Teologia, Letras e Administração, demandou o aperfeiçoamento das habilidades de escrita e

reflexão e criou oportunidades de desenvolvimento interpessoal. Esses elementos são

pormenorizados a seguir.

Resumo

Este projeto nasceu a partir do propósito de conjugar dois pontos: a necessidade

constatada pela Gerência de Redação de produzir um manual filosófico para a CPB e minha

disposição em elaborar um projeto de Doutorado em Ministério que atendesse essa

necessidade.

Após diálogo com o editor-chefe da CPB e orientador desta tese e análise inicial

para compreensão da complexidade do trabalho realizado na editora, foi elaborada a

seguinte pergunta-problema: “De que maneira um manual filosófico pode ajudar a nortear a

produção editorial da CPB?” Assim, o objetivo deste projeto foi elaborar e avaliar uma

proposta de manual filosófico para editores da CPB. Para atingir esse propósito, cada

capítulo foi fundamental para estabelecer, ponto a ponto, os princípios que direcionaram a

153
produção do conteúdo, a estrutura, a metodologia de desenvolvimento e a avaliação do

manual filosófico.

É importante ressaltar que esta pesquisa foi pioneira neste gênero e que foi preciso

desenvolver um caminho inédito para sua produção, dada a ausência de bibliografia

direcionada ao tema ou documentos sobre o assunto no contexto cristão/adventista.

O capítulo 2 estabeleceu critérios editoriais a partir da Bíblia e dos escritos de Ellen

White. Ao analisar as Escrituras Sagradas, o propósito foi identificar macroprincípios de

produção literária considerando o livro sagrado como literatura. Assim, os princípios

observados foram o alinhamento do conteúdo com a cosmovisão bíblica, a centralidade do

tema da aliança (no contexto da salvação), a variedade de propósitos inter-relacionados

(fundamentos da religião, história do povo de Deus, aspectos práticos referentes aos

relacionamentos vertical e horizontal e as profecias) e a contextualização.

Se a Bíblia não é específica em apresentar orientações para a produção editorial,

Ellen White escreveu muito a respeito do tema, especialmente considerando o papel que a

obra de publicações ocupou nos primórdios da Igreja Adventista. Para sistematizar o

conteúdo produzido pela autora, seus conselhos foram divididos em três categorias: (a)

orientações gerais, que envolvem linguagem e abordagem; (b) conteúdo; e (c) ilustrações.

Isso quer dizer que, para ela, a literatura adventista deveria ter linguagem refinada,

ponderada e repleta da influência das Escrituras Sagradas e do espírito de Cristo. Quanto à

abordagem, defendeu que os textos deveriam ser simples, claros, objetivos, prudentes e

permeados pela espiritualidade cristã. Em relação aos temas, exortou para que a igreja

publicasse materiais sobre a terceira mensagem angélica e a verdade presente, as profecias,

154
as doutrinas, os princípios de piedade prática, os ensinamentos para crianças e jovens, os

fundamentos da educação cristã, os testemunhos do trabalho missionário, as histórias dos

pioneiros e a mensagem de saúde. Finalmente, Ellen White orientou que as ilustrações

utilizadas deveriam ser bem produzidas, coerentes com a realidade bíblica, usadas de

maneira pedagógica e financeiramente viáveis.

O resultado da reflexão sobre princípios editoriais bíblicos e aqueles encontrados

nos escritos de Ellen White pode ser resumido em cinco pontos: (a) cosmovisão; (b)

assunto; (c) propósitos; (d) contextualização; e (e) imagem. Esses princípios serviram como

fundamento para estabelecer os valores editoriais e nortear a produção do conteúdo do

manual filosófico.

Por sua vez, o capítulo 3, que cronologicamente foi o primeiro a ser escrito, proveu

informações importantes para a definição da estrutura do manual. A partir da análise de

cinco manuais adotados por empresas de comunicação variadas e relevantes em seus

contextos, observou-se a presença de quatro itens fundamentais: missão, princípios, práticas

e, implicitamente, a cosmovisão.

Com o olhar dirigido à proposta desta tese, em relação à cosmovisão adventista,

ficou claro o papel que a moldura do grande conflito exerce em sua compreensão. No que

se refere à missão editorial adventista, destacou-se o papel da obra de publicações e sua

relevância para o cumprimento da missão profética denominacional, conforme

compreendida pela igreja. Quanto aos princípios, a pesquisa identificou que, em oposição à

ética pós-moderna, as casas publicadoras adventistas devem basear sua conduta na

revelação divina, conforme se encontra nas Escrituras Sagradas. Finalmente, concluiu-se

155
que as práticas editoriais devem ser sistematizadas e incorporadas respeitando o

alinhamento entre cosmovisão, missão e princípios adventistas.

A união dos princípios estabelecidos no capítulo 2 com os elementos estruturais

encontrados no capítulo 3 deu condições para que eu tivesse um ponto de partida para a

elaboração do manual. Com essas informações, iniciou-se o processo coletivo de

desenvolvimento do documento, descrito no capítulo 4.

Como metodologia de desenvolvimento, foram escolhidos os passos sugeridos pela

pesquisa-ação, uma estratégia que recomenda o conceito de aprimoramento cíclico. Dessa

maneira, ação e investigação caminharam paralelamente, permitindo o aperfeiçoamento da

prática editorial, bem como o aprofundamento da pesquisa.

Esse processo foi realizado em três fases, de duas etapas cada uma. A partir da

identificação da necessidade institucional, a fase inicial foi composta da etapa de

observação e reflexão (definição da pesquisa). Em seguida, a fase de desenvolvimento

contou com as etapas de pesquisa e redação do manual (escrita dos capítulos 2 e 3,

submissão do manual à comissão, aperfeiçoamento do material com base nas observações

do grupo de trabalho e conclusão da versão de avaliação). Por sua vez, a fase de avaliação

(capítulo 5) foi dividida em duas etapas simultâneas: a de avaliação interna e externa.

A avaliação foi feita por um grupo de 14 participantes, composto por coordenadores

editoriais, coordenadoras pedagógicas, editores da CPB e avaliadores externos,

representantes de funções ligadas à área de comunicação da Divisão Sul-Americana. Eles

responderam a um questionário dividido em sete seções: (a) perfil do avaliador; (b)

156
apresentação e a importância das publicações adventistas; (c) visão e missão editorial; (d)

valores editoriais; (e) cosmovisão; (f) verbetes; e (g) avaliação geral.

O manual foi aprovado pelos avaliadores, que destacaram como características

essenciais: clareza, objetividade, concisão, relevância, cuidadosa fundamentação teórica,

boa estruturação, alinhamento bíblico e denominacional e convergência com o trabalho

editorial cotidiano. Além disso, em cada seção, eles fizeram sugestões pertinentes para o

enriquecimento do material. É importante reiterar o fato de que o manual não é uma

produção estática, mas algo dinâmico que deve ser continuamente aperfeiçoado e

expandido. Por exemplo, alguns verbetes que em seu período da escrita não foram

lembrados, hoje são imprescindíveis, como por exemplo, fake news, justiça social,

democracia, liberdade, pandemia e racismo. Em ocasião oportuna, eles serão inseridos no

manual.

O processo de desenvolvimento do manual filosófico a partir de seus fundamentos

bíblico-teológicos e revisão de literatura até a elaboração dos verbetes pode ser visualizado

no diagrama teórico-conceitual que se encontra na próxima página. Trata-se de um recurso

didático que facilita a compreensão do caminho adotado para se alcançar o propósito desta

tese.

157
Deus

Quem s ou Onde O que es tá Qua l é o Que hora s


Cosmovisão
eu? es tou? erra do? remédi o? s ã o?

Pentateuco
Princípios
Hi s tóri cos Éti co- Proféti cos Assunto : s a l va çã o
(Hi s tóri cos / norma ti vos (Proféti cos / em Jes us Cri s to
Atos ) (Sa pi enci a i s / Apoca l i ps e)
Epís tol a s )
Bíblia

Propósito : res ga ta r
a i ma gem di vi na no
s er huma no (2Tm
3:16, 17)

Jesus Contextualização : a
verda de
(Eva ngel hos ) contextua l i za da
Pa l a vra qua nto à
enca rna da l i ngua gem e
a borda gem

Arti cul a çã o e
Ellen G. White a pl i ca çã o
es pecífi ca dos
pri ncípi os à obra
edi tori a l
Li ngua gem Aborda gem Ima gem

Si s tema ti za çã o e
Manual Filosófico norma ti za çã o pa ra
o tra ba l ho da CPB

Vi s ã o e Pri ncípi os ou Prá ti ca s


Mi s s ã o Va l ores (verbetes )
Edi tori a l Gera i s

Bíbl i a El l en Whi te Igreja

Pri ncípi os edi tori a i s es pecífi cos

Diagrama 1. Estrutura teórico-conceitual do manual filosófico.

158
Conclusões

Em resposta à pergunta-chave da pesquisa, o manual filosófico elaborado como

resultado desta investigação demonstrou ser uma ferramenta relevante para promover

reflexão, crescimento, transformação, celeridade e unidade na prática editorial; moldar a

produção editorial conforme os contornos da cosmovisão bíblico-adventista; capacitar os

envolvidos com a produção editorial com base no conteúdo do manual; e eventualmente ser

usado por outras editoras ou empresas de comunicação da Igreja Adventista.

É importante destacar que, de fato, o manual já transcendeu os limites da CPB,

sendo em parte absorvido pelo departamento de Comunicação da Divisão Sul-Americana,

na composição de sua Política Editorial, aprovada recentemente em sua comissão diretiva.

Assim, seu conteúdo passa a contribuir para o trabalho dos assessores de comunicação das

Associações e Uniões, bem como da Rede Novo Tempo de Comunicação.

Transformação pessoal

Além dos benefícios apurados na avaliação do manual filosófico, a produção desta

tese resultou em expressivo crescimento ministerial para mim. Em primeiro lugar, destaco o

desafio de produzir algo inédito para a obra editorial adventista. Ser conhecedor da lacuna

existente e dedicar tempo para ponderação e proposição de caminhos a fim de preenchê-la

estimulou o aperfeiçoamento do meu raciocínio analítico, da capacidade de dialogar com

diferentes pontos de vista dentro do mesmo campo de ideias e redigir textos que expressem

o caráter consensual de um documento como esse produzido. Apreciei muito as respostas

positivas da comissão do manual filosófico e do grupo de avaliadores.

159
Em segundo lugar, a investigação me proporcionou a oportunidade de refletir, em

detalhes, sobre a importância da obra editorial adventista. Mais do que produzir literatura

cristã, a missão das casas publicadoras denominacionais ocupa um papel estratégico na

disseminação da mensagem adventista, bem como na edificação de pessoas para o reino dos

Céus. Dessa maneira, é imprescindível que seus produtos sejam intencionalmente

preparados para expressar com correção os ensinamentos bíblicos e, assim, servir como

ferramenta para que Deus molde o pensamento dos leitores de acordo com Seu querer. Essa

compreensão mais ampla e profunda teve grande impacto sobre meu trabalho cotidiano,

minha visão de texto, contexto e imagens, bem como no estímulo ao aprofundamento de

uma cosmovisão bíblico-adventista.

Este último ponto, a cosmovisão bíblico-adventista, talvez tenha sido o elemento de

maior impacto sobre mim no processo de desenvolvimento do projeto. A discussão

conceitual, a visão sistêmica do assunto e a compreensão da importância da cosmovisão,

primeiro em nível pessoal e, como decorrência, na produção editorial, foram grandes

benefícios desta pesquisa, que transcendem a aplicação específica para o local em que

exerço meu ministério e se solidificam para outros contextos da vida.

Recomendações

Esta pesquisa investigou um campo pouco explorado dentro do trabalho editorial e

de comunicação da Igreja Adventista. Por isso, trata-se de um ponto de partida para que

outros pesquisadores aprofundem a compreensão de diferentes aspectos do tema. Algumas

sugestões para pesquisas futuras são: a análise histórica do trabalho dos editores no

160
processo de formação do cânon bíblico; a pesquisa sobre o papel da literatura e dos editores

no cristianismo e, de maneira específica, no adventismo; o estudo dos estilos literários

usados nas Escrituras e o estabelecimento de princípios editoriais contemporâneos; e o

desenvolvimento de princípios teológicos para a elaboração de ficção religiosa, criação de

ficção com personagens bíblicos e produção de teledramaturgia no contexto da

comunicação adventista.

161
APÊNDICE

162
APÊNDICE A

CARTA DE APROVAÇÃO DO IRB

163
APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Wellington Vedovello Barbosa, aluno da Universidade Andrews, Berrien Springs,


Michigan, está realizando uma pesquisa como parte do projeto Elaboração de um Manual
Filosófico para a Casa Publicadora Brasileira, em cumprimento parcial dos requisitos
para o título de Doutor em Ministério.
O estudo tem como objetivo elaborar, implementar e avaliar um manual filosófico
para editores da Casa Publicadora Brasileira. Como parte desse processo, fui
convidado(a) a participar por meio do preenchimento de um questionário que levará cerca
de uma hora para ser concluído.
O manual filosófico será parte do Manual de Redação CPB e ajudará a nortear a
produção da editora, a fim de que a literatura produzida esteja em conformidade com a
cosmovisão bíblico-adventista do sétimo dia. Isso implica discutir aspectos relacionados
ao texto e também a imagens.
Estou ciente de que a pesquisa não promove riscos contra minha integridade
física, mental, profissional, social e espiritual. Além disso, fui informado(a) de que minha
participação neste estudo é totalmente voluntária e gratuita. Estou consciente de que não
haverá qualquer sanção ou perda de benefícios, aos quais tenho direito, se decidir
cancelar minha participação.
Entendo também que minha identidade neste estudo não será revelada em
qualquer documento publicado, uma vez que minhas informações pessoais serão
confidenciais. Meu nome será identificado por códigos, conforme a atividade que
desempenho, e o pesquisador manterá os registros em pastas virtuais protegidas por
senha, pelo prazo protocolar de três anos.

164
Sei que posso entrar em contato com o orientador da pesquisa, doutor Marcos De
Benedicto (marcos.benedicto@cpb.com.br) e também com o autor do estudo, Wellington
Vedovello Barbosa (wellington.barbosa@cpb.com.br), a fim de obter respostas para as
perguntas relacionadas com o projeto. Também posso contatar a Comissão de Revisão
Institucional da Universidade Andrews (+55 269 471-6361, ou irb@andrews.edu).
Li o conteúdo deste documento e recebi explicações verbais para os
questionamentos que tinha. Minhas perguntas relacionadas a este estudo foram
respondidas satisfatoriamente. Portanto, participo voluntariamente da pesquisa. Estou
plenamente consciente de que, se tiver qualquer pergunta adicional, poderei contatar
Wellington Vedovello Barbosa (wellington.barbosa@cpb.com.br) ou o doutor Marcos De
Benedicto (marcos.benedicto@cpb.com.br).

__________________________ _________________
Assinatura do participante Data

__________________________ _________________
Wellington Vedovello Barbosa Data
(15) 98105-2403

165
APÊNDICE C

MANUAL FILOSÓFICO

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

MANUAL FILOSÓFICO

Wellington Vedovello Barbosa

2019

166
Diretor-Geral
José Carlos de Lima

Diretor Financeiro
Uilson Garcia

Editor-chefe
Marcos De Benedicto

Comissão do Manual Filosófico


(2017-2019)

Marcos De Benedicto
Wellington Barbosa
Adriana Teixeira (2017/2018)
Flaverlei Silva (2018/2019)
Diogo Cavalcanti
Dóris Lima
Nádia Teixeira
Sueli Oliveira

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,
sem prévia autorização escrita do autor ou da Casa Publicadora Brasileira.

167
Sumário*

Apresentação .....................................................................................................................4
A importância das publicações adventistas .......................................................................7
Visão, missão e valores .....................................................................................................9
Introdução à cosmovisão adventista .................................................................................10

VERBETES
Aborto ............................................................................................................................... 19
Adorno e vestuário ............................................................................................................22
Atividades competitivas ....................................................................................................27
Atividades esportivas ........................................................................................................30
Biografias .......................................................................................................................... 33
Celebridades ......................................................................................................................37
Críticos e dissidentes.........................................................................................................39
Família .............................................................................................................................. 42
Filmes ................................................................................................................................ 47
História .............................................................................................................................. 53
Imagens e recursos artísticos............................................................................................. 56
Jogos .................................................................................................................................63
Legalização das drogas .....................................................................................................66
Literatura ........................................................................................................................... 69
Meio ambiente ..................................................................................................................81
Música ............................................................................................................................... 84
Notícias referentes a decisões administrativas da Igreja Adventista ................................ 88
Origem da Terra ................................................................................................................91
Pena de morte ....................................................................................................................95
Política e eleições ..............................................................................................................97
Publicidade/propaganda ................................................................................................. 101
Relacionamento com outras religiões ............................................................................ 103
Saúde .............................................................................................................................. 107
Sexualidade .................................................................................................................... 110
Suicídio .......................................................................................................................... 115
Teologia ......................................................................................................................... 118

*A paginação do sumário corresponde ao documento enviado aos avaliadores.

168
Apresentação
Um guia essencial

Em certo sentido, o adventismo nasceu como um movimento editorial. Algumas das


vozes mais influentes da igreja em suas primeiras décadas pertenciam ao mundo da
página impressa, como Tiago White, John Andrews, Uriah Smith, Alonzo Jones, Ellet
Waggoner e William Prescott. Todos eles foram editores.
A menção a esses nomes não é para exaltar o papel do editor, mas para ressaltar que
a igreja tem uma ligação histórica com a área editorial e a valoriza. À medida que o
processo de institucionalização avançou no território adventista, surgiram novos atores no
palco do adventismo. Porém, as vozes proféticas dos escritores e editores continuaram
tendo reverberação e relevância. E muito do que se faz hoje é construído sobre o legado
deles.
Nessa fase inicial, os pioneiros tinham mais flexibilidade para experimentar e
inovar no âmbito editorial, uma vez que as doutrinas ainda estavam sendo codificadas.
Mais tarde, com o desenvolvimento da denominação e o estabelecimento dos principais
marcos teológicos da igreja, surgiu a necessidade de parâmetros mais definidos para
nortear o trabalho.
Hoje, neste mundo complexo e fragmentado, numa época em que as fronteiras
culturais, eclesiásticas e teológicas estão diluídas, um manual filosófico se tornou
indispensável. Se os pioneiros não tinham que tratar, por exemplo, com uniões
homoafetivas ou transgeneridade, atualmente esses temas polêmicos entraram em pauta.
Assim, autores, editores e designers precisam de diretrizes para orientar seu trabalho e
facilitar as decisões no dia a dia. Ao mesmo tempo, o manual, validado por um colegiado,
ajuda a proteger a editora e a igreja contra posicionamentos particulares e polêmicos.
Movimento “cognitivizado”, valorizador do conhecimento correto, o adventismo se
caracterizou desde o início pela busca intensa da lógica bíblica. Ser adventista é conhecer
a razão de sua fé. Por isso, é importante saber o que publicar. E, para tanto, é importante
moldar a mente do editor com a verdade eterna e o conhecimento atual para que, falando

169
a linguagem de Deus e a da cultura contemporânea, ele alimente outros seres pensantes de
maneira equilibrada, inteligente e responsável.
Longe de ser um burocrata das letras, o editor é um avaliador de ideias, um
aperfeiçoador de pensamentos, um sintetizador de conceitos, um formador de opinião, um
criador de cultura. Ele não é apenas um revisor de palavras, organizador de textos ou
idealizador de obras; é um divulgador de ideais, um sonhador de possibilidades, um
visionário de novos mundos. O editor analisa, propõe, revisa, melhora, cria e faz uma
infinidade de outras tarefas creditadas e anônimas. Leitor privilegiado, facilitador
generoso, ele é a ponte entre o autor e o leitor. Mistura de artista e erudito, o editor
contextualiza o assunto e dirige o olhar do leitor para dados importantes. Não chama
atenção para si, mas para a verdade revelada no texto. Sua missão é descobrir bons
materiais e viabilizar sua publicação. Ele organiza e aperfeiçoa o conteúdo tendo em
mente o público-alvo.
Editar é dar forma, criar estrutura, imaginar o belo, apostar na simetria, provocar
emoções, pôr ordem na cabeça do autor e adivinhar a coração do leitor. De Gutenberg até
hoje, as tecnologias gráficas passaram por grandes transformações. A era digital trouxe
novos horizontes para a editoração, apresentando desafios e possibilidades impensáveis
no passado. Entretanto, qualquer que seja o formato, um bom material precisa de um bom
editor, e um bom editor carece de critérios. Não existe livro bem trabalhado sem o toque
do editor, nem um bom editor sem o toque da filosofia da editora.
Nesse sentido, o editor adventista precisa conhecer a cosmovisão bíblica e
adventista, assunto que abre este manual filosófico. Cosmovisão é um sistema de ideias, a
matriz do pensamento, a lógica das reflexões, a peculiaridade do olhar, a moldura pela
qual a pessoa percebe o mundo, o desejo encarnado do coração, a conexão entre as peças
do quebra-cabeça, a força que dirige a cultura. Na definição de Anderson, Clark e Naugle
(2017, p. 8), cosmovisão é “a lente conceitual através da qual nós vemos, entendemos e
interpretamos o mundo e nosso lugar dentro dele”. Em síntese, a verdadeira cosmovisão
significa ver o mundo pela perspectiva de Deus.

170
O propósito deste manual filosófico, preparado por Wellington Barbosa e avaliado
por um dedicado grupo, é ajudar a equipe editorial da CPB a entender melhor a cultura e a
missão da nossa própria editora. O objetivo não é censurar ou limitar a criatividade, mas
indicar caminhos e responder inquirições editoriais. De acordo com Kate Turabian (2013,
p. 8), as perguntas mais comuns no meio acadêmico são conceituais (“O que eu deveria
pensar?”), enquanto as questões mais comuns nas profissões são práticas (“O que eu
deveria fazer?”). Este manual procura unir as duas coisas. Ele não apresenta normas
detalhadas, mas princípios testados. Acima de tudo, incentiva o alinhamento com a
Palavra de Deus e o uso do bom senso.
O manual filosófico da CPB não funcionará sozinho, mas fará parte de um manual
mais amplo que incluirá três partes: (1) estilo literário, (2) filosofia editorial e (3) normas
de redação. Esperamos que este projeto, um sonho antigo agora quase realizado, seja útil
para a elaboração de materiais cada vez mais sólidos, para a glória de Deus.

Marcos De Benedicto
Redator-chefe da Casa Publicadora Brasileira

Bibliografia
Anderson, T., Clark, W. & Naugle, D. (2017). An introduction to Christian worldview:
Pursuing God’s perspective in a pluralistic world. Downers Grove, IL:
InterVarsity.

Turabian, K. (2013). A manual for writers of research papers, theses, and dissertations:
Chicago Style for students and researchers (Ed. rev.). Chicago: University of
Chicago Press.

171
A importância das publicações adventistas

É impossível subestimar o valor que a obra de publicações tem para a Igreja


Adventista do Sétimo Dia. Fruto do movimento iniciado por Guilherme Miller, a
denominação seguiu a trajetória impulsionada pelos esforços de Josué Himes, que fez da
página impressa o principal veículo de comunicação das ideias mileritas.
Em novembro de 1848, a partir de uma visão que Ellen White teve em Dorchester,
Massachusetts, o movimento dos adventistas sabatistas começou a publicar seu próprio
periódico, Present Truth, lançado no ano seguinte, tendo Tiago White como seu editor.
Pouco depois, também foi lançada a Advent Review. Em 1850, porém, a junção de ambas
as publicações deu origem à Second Advent Review and Sabbath Herald, conhecida
posteriormente como Review and Herald.
Com um início simples, repleto de sacrifícios por parte dos pioneiros adventistas do
sétimo dia, a obra de publicações assumiu em pouco tempo posição de preeminência. Por
meio das páginas da Review, os fiéis recebiam orientação doutrinária, eram instruídos
sobre a ordem eclesiástica e se mantinham unidos em torno de uma esperança comum.
Logo, a incipiente editora se tornou a sede do movimento e motivo para a escolha de um
nome para a denominação e a legalização de sua condição jurídica.
A experiência foi tão bem-sucedida que se transformou em motivação para que os
líderes adventistas investissem em editoras que produzissem grande quantidade de
literatura evangelística. Antes do fim do século 19, a denominação já possuía o parque
gráfico mais moderno do estado do Michigan e editoras em outros lugares, inclusive fora
dos Estados Unidos.
Foi nesse contexto que a Casa Publicadora Brasileira nasceu, no início do século 20.
Em 1893, o colportor Albert Stauffer começou oficialmente a obra missionária adventista
no Brasil. Diante da crescente demanda por materiais denominacionais, no ano seguinte a
Associação Geral enviou ao país William Thurston e sua esposa, para estabelecer um
depósito de livros no Rio de Janeiro, à época capital federal. O primeiro membro batizado

172
no Brasil (1895), Guilherme Stein Jr., tornou-se também o primeiro editor de um
periódico adventista publicado no país, O Arauto da Verdade, em 1900.
Embora William Thurston tenha sido enviado ao país para abrir um depósito de
livros, foi somente em 1900 que isso ocorreu. Quatro anos depois, a pequena editora foi
transferida para Taquari, RS, onde começou a operar com um prelo manual doado pelo
Emmanuel Missionary College. Curiosamente, o equipamento era remanescente do
grande incêndio que havia destruído as instalações da Review and Herald um ano antes.
Assim, uma semente salva das cinzas deu origem a uma frondosa árvore no maior país da
América do Sul. Não demorou muito para que as instalações fossem transferidas para
dependências mais amplas e melhor localizadas. Em 1907, a editora iniciou suas
atividades na então chamada Estação São Bernardo, atual Santo André, SP. Por 77 anos, a
obra editorial ficou sediada nas imediações da capital paulista, até que, em 1985, a Casa
Publicadora Brasileira foi transferida para Tatuí, SP.
Desde seu início até o momento, o ministério de publicações mantém sua relevância
na estratégia missionária da denominação. Para os adventistas do sétimo dia, a obra
editorial é mais do que papel e tinta, impressão e distribuição ou posicionamento de
mercado e lucro. Seus produtos são alimentos espirituais que nutrem o público, elos da
unidade que mantêm a igreja segura e instruções fundamentadas que visam fortalecer o
povo de Deus no tempo do fim.
Diante de tamanha responsabilidade, é necessário refletir continuamente a respeito
de quão alinhada se encontra a produção editorial com os princípios teológicos que
caracterizam a Igreja Adventista. É com o propósito de facilitar esse processo que este
manual foi elaborado. Como um recurso que deve se manter em contínuo
desenvolvimento, ele é apresentado ao público como evidência de que o grande objetivo
dos materiais produzidos pela Casa Publicadora Brasileira “é exaltar a Deus e atrair a
atenção das pessoas para as verdades vivas de Sua Palavra” (Ellen White, O outro poder,
p. 9).

173
Visão

Ser, pela graça de Deus, uma instituição reconhecida por sua ética e excelência de seus
produtos e serviços, e ampliar a participação no mercado editorial, buscando a satisfação
do cliente.

Missão

Produzir e distribuir literatura cristã, educativa e de saúde, para promover o bem-estar


físico, mental, social e espiritual do ser humano.

Valores

Compromisso com a Bíblia. Nossa produção editorial deve estar alinhada com a
cosmovisão bíblico-adventista.

Comportamento ético. Nosso procedimento em todos os aspectos deve ser verdadeiro,


justo, honesto e respeitoso.

Produção cristã. Nossos diferentes produtos devem apontar para a mensagem do


evangelho e da salvação em Jesus Cristo.

Foco nas pessoas. Nossos esforços devem resultar em produtos relevantes e


contextualizados, visando suprir as necessidades de nosso público e alcançá-lo com a
mensagem adventista.

Paixão pela excelência. Nossos colaboradores, processos e produtos devem ser


aperfeiçoados continuamente.

174
Introdução à cosmovisão adventista

A origem do termo cosmovisão está ligada ao filósofo iluminista Immanuel Kant.


Em sua obra Crítica do julgamento, ele utilizou pela primeira vez a palavra
Weltanschauung (visão de mundo), com o propósito de expressar a ideia de que o ser
humano utiliza somente a razão para compreender o significado do mundo e de seu lugar
dentro dele (Goheen e Bartholomew, 2016, p. 35).
David Naugle (2002) observa que, embora o filósofo iluminista tenha usado o termo
de modo discreto e, aparentemente, uma única vez, isso foi suficiente para que pensadores
posteriores ampliassem o significado da expressão, de tal modo que ela assumiu grande
relevância nas discussões filosóficas europeias a partir do século 19 (p. 59).
Georg Hegel, Søren Kierkegaard, Wilhelm Dilthey, Friedrich Nietzsche, Edmund
Husserl e Martin Heidegger são alguns exemplos de estudiosos que se dedicaram a
conceituar cosmovisão. Contudo, na tentativa de identificar o que é, como se forma ou de
que modo ela se expressa, cada um deles seguiu uma linha de argumentação distinta e
profundamente influenciada pelas ideias iluministas. Assim, o termo se revestiu de
variadas explicações, na maioria das vezes contrastantes. A princípio, a expressão estava
situada no terreno da filosofia e passou a transitar na esfera da religião cristã somente
próximo do fim do século 19. Souza (2006) sintetiza como isso ocorreu:
O cristianismo europeu, não obstante as discussões em torno do conceito, consciente
das profundas implicações que este trouxera para as mentes e vidas de milhões de
pessoas, passou a se apropriar da categoria de cosmovisão como uma forma legítima
de abordagem do cristianismo em um tempo de desafios à sua presença e relevância
como força espiritual e cultural (p. 47).
Nesse processo pioneiro de definição do termo cosmovisão sob a perspectiva cristã,
dois nomes se destacam: o do escocês James Orr e o do holandês Abraham Kuyper.
Coube a Orr (1908) iniciar a discussão e afirmar que “‘uma visão cristã de mundo’
implica que o cristianismo também tem seu elevado ponto de vista”, e que tal
cosmovisão, “quando desenvolvida, constitui um todo ordenado” (p. 3).

175
Desse modo, seu esforço estava em destacar que a revelação bíblica e os
pressupostos do cristianismo ofereciam subsídios muito mais amplos, coerentes e sólidos
para responder às inquietações filosóficas de seu tempo. Para o teólogo, as noções de
cosmovisão oferecidas pelas diferentes correntes de pensamento secular eram parciais e
insuficientes para abarcar a complexidade humana. Assim, somente uma percepção
teológica cristã poderia oferecer conteúdo fundamentado para forjar um conceito integral
do tema.
Tão importante quanto a contribuição de Orr foi o esforço de Abraham Kuyper.
Seus escritos são contundentes na contraposição entre a cosmovisão moderna (da ciência)
e a cosmovisão cristã (da teologia). Na base da discussão sobre a formulação de ambas
estava a explicação sobre as origens de todas as coisas, uma vez que tanto a ciência
quanto a teologia, “que reivindicam todo o domínio do conhecimento humano”, têm “sua
própria sugestão sobre o Ser Supremo como ponto de partida de sua cosmovisão”
(Kuyper, 2009, p. 133).
Bratt (2013) observa que as iniciativas de Orr e Kuyper refletiam o conhecimento
que eles tinham do pensamento alemão do século 19, de tal maneira que os aproxima,
com mérito, dos demais intelectuais identificados com os estudos sobre o assunto (p.
207).
Em decorrência do trabalho realizado por eles, outros pensadores começaram a
explorar o conceito de cosmovisão cristã. Conforme Dockery e Thornbury (2002)
destacam, nomes como Carl Henry, C. S. Lewis, Charles Colson, Francis Schaeffer e
James Sire estão no rol daqueles que contribuíram com essa discussão no século 20 (p. 3).
A partir dos estudos desses eruditos, surgiram várias definições em uso de cosmovisão:
algumas pragmáticas, outras filosóficas, mas todas úteis para compreender melhor o tema,
que está intimamente ligado com a vida humana. É oportuno, neste ponto, lembrar-se da
afirmação de Sire (2015, p. 21), que diz: “Recusar-se a adotar uma cosmovisão explícita
acabará por se tornar uma cosmovisão ou, pelo menos, uma posição filosófica. Em suma,
estamos capturados.”

176
Nash (1999, capítulo 1, “Worldview thinking”), por exemplo, afirma que
cosmovisão é “um esquema conceitual que contém nossas crenças fundamentais; é
também o meio pelo qual interpretamos e julgamos a realidade”. Geisler e Bochino
(2001, p. 53), por sua vez, declaram que ela é “um sistema filosófico que procura explicar
como os fatos da realidade se relacionam e se ajustam um ao outro”. Em consonância
com as definições anteriores, e focalizando a cosmovisão cristã, Nascimento (2016,
capítulo 3, “Em direção a uma cosmovisão cristã”) diz que ela “é a compreensão de todas
as coisas a partir da perspectiva cristã; a leitura da realidade através da lente das
Escrituras Sagradas”.
Os três exemplos citados destacam o papel que a cosmovisão tem no processo de
interpretação da realidade. Entretanto, deixam de explicar como a visão de mundo é
incorporada pelos seres humanos.
Goheen e Bartholomew (2016, p. 52) indicam a resposta ao conceituar cosmovisão
como “uma enunciação das crenças básicas embutidas em uma grande narrativa
compartilhada, as quais estão arraigadas em um compromisso de fé e dão forma e sentido
à totalidade de nossa vida individual e coletiva”.
Conforme apontam, não se pode ignorar o papel da narrativa como elemento
importante para que as pessoas absorvam determinada cosmovisão. Em sua definição do
termo, James Sire (2009) reconhece isso e ainda adiciona a possibilidade de “um conjunto
de pressuposições” servir como parte desse processo de assimilação.
Uma cosmovisão é um comprometimento, uma orientação fundamental do coração,
que pode ser expressa como uma história ou um conjunto de pressuposições
(hipóteses que podem ser total ou parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas), que
detemos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre
a constituição básica da realidade e que fornece o alicerce sobre o qual vivemos,
movemos e possuímos o nosso ser (Sire, 2009, p. 16).

Em diálogo com essa declaração, é possível identificar pelo menos cinco grupos de
crenças básicas que compõem a narrativa ou as pressuposições que formam uma
cosmovisão, de acordo com a compreensão de Nash (1999, capítulo 1, “Worldview
thinking”). São elas as ideias sobre Deus, metafísica, epistemologia, ética e natureza

177
humana. Para Nicodemus (2015, capítulo 27, “A importância das cosmovisões”), o que
uma pessoa crê sobre esses cinco elementos “influencia, de forma decisiva, seu
relacionamento consigo mesmo, com o próximo, com o mundo, em casa, no trabalho e na
sociedade como um todo”.
A opinião de Nicodemus acerca do impacto da cosmovisão sobre a existência
humana parece ecoar aquilo que Walsh e Middleton afirmam na obra The transforming
vision (1984). Para eles, quem tem dificuldade em se identificar com uma cosmovisão
passa por uma tensão psicológica ou emocional que, em última instância, é uma crise de
fé. Isso porque a cosmovisão se assenta por meio de quatro perguntas: “Quem sou eu?”,
“Onde estou?”, “O que está errado?” e “Qual é o remédio?”. “Quando respondemos a
essas perguntas, isto é, quando nossa fé é estabelecida, então começamos a ver a realidade
em algum padrão sensível” (Walsh e Middleton, 1984, p. 35). N. T. Wright (1996) sugere
ainda uma quinta e última pergunta: “Que horas são?”, em uma referência acerca da
expectativa escatológica.
Sob a perspectiva da definição de Sire, especialmente do papel da história ou do
conjunto de pressuposições para a formulação de uma cosmovisão, da compreensão de
Nash sobre os grupos de crenças básicas e das perguntas de Walsh/Middleton e Wright, é
possível afirmar que o adventismo tem, em seu conjunto teológico, elementos sólidos e
suficientes para a elaboração de uma cosmovisão bíblica singular, descrita a seguir.

Cosmovisão adventista
É impossível falar de uma cosmovisão adventista sem considerar a significativa
contribuição de Ellen White para sua elaboração. Se uma cosmovisão se expressa por
meio de uma narrativa ou de um conjunto de pressuposições, então a autora fornece esses
elementos integrados por meio de um tema fundamental em seus escritos: o grande
conflito.
Holbrook (2011) indica que o início dessa compreensão se encontra na publicação,
em 1858, da obra Spiritual gifts: The great controversy between Christ and his angels,
and Satan and his angels (p. 1104). A partir dessa obra, é possível identificar no conjunto

178
de textos da escritora como o grande conflito se tornou aquilo que Douglass (2002, p.
256) chama de a “chave conceitual” para compreender as perguntas essenciais da
humanidade: Como a vida começou? Por que existe o bem e o mal? Que acontece após a
morte? Por que existe o sofrimento?
As respostas para essas questões e para a resolução final desse conflito cósmico se
encontram nos sete eventos-chave que impactaram a existência humana, de acordo com
Ellen White: a criação no Céu, a rebelião no Céu, a criação da Terra, a queda da
humanidade, a redenção, a segunda vinda de Cristo e a consumação de todas as coisas
(Rasi, 2013, p. 88). Harwood Lockton vê nesse conjunto de eventos sistematizados pela
autora um equilíbrio entre confiança e realidade não encontrado na maioria dos
proponentes de uma cosmovisão cristã. “Enquanto a criação e a redenção nos dão motivo
para otimismo sobre assuntos humanos, o grande conflito e a queda proporcionam um
realismo que está ausente em muitas cosmovisões cristãs” (Lockton, 1990, p. 12).
Embora Ellen White tenha fornecido em seus escritos a noção fundamental de uma
cosmovisão adventista, é importante destacar que tal conceito se sustenta por meio do
estudo sistemático das Escrituras. Aliás, o adventismo tem advogado consistência em
defender e praticar o princípio sola Scriptura em seu contínuo desenvolvimento
teológico, entendendo que os escritos de Ellen White estão restritos a guiar à Bíblia, à
compreensão bíblica e à aplicação prática dos princípios bíblicos (Associação Ministerial
da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, 2018).
Em anos recentes, Norman Gulley (2003) propôs no primeiro volume de sua obra
Systematic theology uma abordagem bíblica que apoia a descrição do conflito cósmico
como metanarrativa. O autor demonstra que o assunto não é uma exclusividade
adventista, mas está presente nas obras de teólogos como Orígenes, Agostinho, João
Calvino, John Milton, C. S. Lewis, Gregory Boyd e Lewis S. Chafer, ainda que cada um
deles tenha compreendido o assunto de forma variável e não integral, como o adventismo
tem feito.
Além disso, Gulley dialoga com a perspectiva evangélica que enfatiza o plano da
salvação como metanarrativa. O autor reconhece que, embora tal noção esteja descrita em

179
toda a Bíblia, ela só consegue encontrar seu entendimento pleno quando visualizada
dentro do quadro mais amplo do grande conflito. Assim, “a questão da controvérsia
cósmica acerca da justiça de Deus perante o Universo dá tempo para que Deus revele Sua
justiça, e Satanás, sua injustiça” (Gulley, 2003, p. 452). Como consequência, o grande
conflito se torna a moldura ideal para contextualização da teodiceia.
Acerca da importância do tema do grande conflito para uma cosmovisão cristã,
Fernando Canale (1999) destaca ainda que esse conceito desempenha um papel especial
no nível dos pressupostos para a compreensão das Escrituras, recuperando o pensamento
bíblico em sua plenitude e riqueza (p. 114).
As contribuições de Ellen White, Norman Gulley, Frank Holbrook e Fernando
Canale mencionadas destacam as muitas vantagens que a noção do grande conflito
confere à cosmovisão adventista. Tal compreensão é bíblica, racional, coerente, respeita a
linearidade histórica e resulta em uma visão de mundo judiciosa e integrada (Holbrook,
2011, p. 1098). Em decorrência disso, é possível concordar com Pearson, quando ele
afirma que “a força da cosmovisão cristã adventista está em sua ênfase na integralidade”
(Pearson, 1989, p. 4), atingindo todos os aspectos da experiência humana.
Isso se torna evidente quando se compara as três principais correntes de cosmovisão
– naturalismo, panteísmo e teísmo (nesse caso, sob a ótica adventista) –, a partir de
parâmetros derivados das pressuposições de cosmovisão. A análise proposta por
Humberto Rasi (2013) parece útil e segue na tabela que se encontra na próxima página.

180
Pressuposições de Humanismo secular Cristianismo bíblico Neopanteísmo
cosmovisão [naturalismo] [adventistmo] [neoespiritualismo]
Realidade fundamental Matéria inanimada e energia Um Deus transcendente e O universo espiritual, que
que sempre existiu. imanente, conhecido pelos abrange deus/mente/um/tudo.
seres humanos.
Natureza de Deus Deus não existe. Um Deus pessoal, triúno, Um deus/mente/um/tudo
criador, moralmente perfeito, impessoal e amoral.
onisciente, soberano e eterno.
Origem da vida e do O Universo é eterno e funciona Criado por Deus, mediante Manifestações do eterno deus/
Universo segundo as leis de causa e Sua palavra, para funcionar mente/um/tudo.
efeito num sistema fechado. segundo as leis de causa e
Ou, de acordo com a Teoria do efeito num sistema aberto.
Big Bang, o universo apareceu
de repente e nexplicavelmente.
Meios de conhecer a Raciocínio humano e intuição, A revelação de Deus em Jesus Introspecção exercitada e
verdade trabalhando através do método Cristo através da Bíblia, da revelações canalizadas de deus/
científico e sendo confirmado consciência humana e do mente/um/tudo.
por ele. raciocínio iluminado pelo
Espírito Santo.
Natureza do ser humano “Máquinas” complexas, Seres físico-espirituais Seres espirituais,parte de deus/
animais altamente evoluídos. dotados de personalidade, mente/um/tudo, habitando
criados à imagem de Deus, temporariamente em
capazes de tomar decisões corpos materiais.
morais com liberdade, agora
em condição caída.
Propósito da vida Incerto e discutível: realização Estabelecer um Transição através da progressão
própria, prazer, serviço e relacionamento amorável com (ou regressão) até a união com
melhoramento para gerações Deus, ampliar nosso potencial, deus/mente/um/tudo.
futuras. servir à raça humana, desfrutar
a vida e preparar-se para a
eternidade.
Fundamento da A opinião da maioria, O imutável caráter de Deus Impulsos interiores e
moralidade costumes contemporâneos, a (justo e misericordioso), inclinações: não há
tradição, circunstâncias revelado em Cristo e na comportamento "certo" ou
particulares, uma combinação Bíblia. "errado".
desses elementos
Causa do sofrimento A ignorância da realidade O pecado: rebelião consciente Ignorância da realidade e do real
humano e do real potencial humano; contra Deus e Seus princípios; potencial humano; falta de
leis ruins; governo tentativa de entronizar os seres compreensão da comunicação
incompetente; falta de humanos como autônomos e sobrenatural, desatenção quanto
compreensão e cooperação autossuficientes. Como ao equilíbrio ambiental.
humanas. resultado; a imagem divina foi
distorcida, e o mundo sofre.
Solução para o Educação, mais apoio ao Renascimento espiritual: fé Mudança na consciência, que
sofrimento humano progresso da ciência e em Jesus Cristo, que conduz a conduz a autoentendimento,
tecnologia, leis justas, uma nova vida de amorável melhores relações humanas e
governos competentes, obediência a Deus, cuidado da biosfera, enfim,
aumento da compreensão e autoentendimento adequado, redenção própria.
cooperação humana e cuidado relacionamentos apropriados e
com a biosfera. cuidado com a Terra.
Morte O fim da existência em todas Um parêntese da vida em Uma ilusão; entrada no próximo
as suas dimensões. estado inconsciente. estágio da vida cósmica.
História humana Imprevisível e sem objetivos Uma sequência de eventos Uma ilusão e/ou um processo
claros, guiada por decisões com significado, guiada por cíclico.
individuais e por forças além livres decisões humanas, mas
do controle humano. também supervisionadas por
Deus; movendo-se em direção
ao cumprimento do plano de
Deus.
Destino final da A não existência. Seres transformados na nova União permanente com
humanidade Terra, ou completa destruição. deus/mente/um/tudo; perda da
individualidade na felicidade
eterna.

181
A resposta bíblico-adventista para os pressupostos de cosmovisão decididamente
norteia a percepção acerca de elementos filosóficos fundamentais, como epistemologia,
ontologia, ética e estética.
Quanto à epistemologia, admite-se, portanto, que a Bíblia se torna fundamental para
responder questões essenciais da existência humana. É por meio do relato da vida de
Jesus que tanto a epistemologia quanto a ontologia se tornam cristocêntricas. Fowler
(1988) pontua que “Cristo Se identificou com a situação humana a fim de que Deus
pudesse ser conhecido e experimentado aqui e pessoalmente; além disso, a verdade é
capaz de integrar a transcendência do saber com a imanência do se relacionar” (p. 13).
Essa integração promove a “renovação da mente” (Rm 12:2), de tal modo que tanto
a ética quanto a estética passam a ser, agora, conduzidas pelos valores oriundos das
Escrituras, como reflexo de um relacionamento dinâmico com Deus. Nesse sentido, a
vida passa a ser vista a partir da ótica do senhorio e da salvação que há em Cristo.
A seguinte afirmação ajuda a concluir esta breve introdução sobre a cosmovisão
adventista:
A cosmovisão é uma construção – uma construção de perspectiva acerca da vida e
suas discussões quanto a temas da realidade, verdade, ética e história; uma construção
confessional que provê um ponto de partida, um sentido de direção, um local de
destino, uma estratégia de unidade, uma construção repleta de propósito que atende as
necessidades básicas da vida e da ação humanas (Fowler, 2013, p. 82).

Portanto, uma noção clara acerca da cosmovisão bíblico-adventista é imprescindível


para o processo editorial. Esse conceito permeia as práticas editoriais da Casa Publicadora
Brasileira; portanto, é subjacente aos verbetes que compõem este manual.

Bibliografia
Associação Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2018). Nisto
cremos: As 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí,
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184
ABORTO.* A discussão acerca do aborto se torna cada vez mais intensa, à medida que
movimentos favoráveis à prática ganham maior projeção e a legislação de vários países
tem aprovado esse procedimento. George Gainer (1991) demonstra que, na Igreja
Adventista, até o fim da década de 1960, a posição contrária ao aborto era majoritária.
Contudo, os anos de 1970 e 1971 viram o tema se tornar efervescente nos círculos
adventistas norte-americanos, uma vez que passou a haver um descompasso entre o
entendimento legal, a compreensão profissional (médica) e a posição denominacional
sobre a questão. Oscilando entre uma posição mais conservadora (votada em 13/5/1970 e
tornada pública) e outra mais liberal (votada em 25/1/1971 e mantida nos círculos
institucionais), a sede mundial da Igreja Adventista finalmente aprovou, em 1992, um
documento que buscou ser teologicamente consistente em relação a esse assunto
complexo.
O documento, intitulado “Aborto” (2012, pp. 219-222), apresenta uma seção
denominada “Princípios para uma visão cristã da vida” (pp. 221, 222), que enuncia 11
itens. Para os propósitos deste manual, apresentaremos alguns deles de maneira resumida:
(1) “Deus é a Fonte, o Doador e o Mantenedor de toda a vida” (At 17:25, 28; Gn 1:30;
2:7; Sl 36:9; Jo 1:3, 4); (2) “A vida humana tem valor único, pois os seres humanos,
embora caídos, são criados à imagem de Deus” (Gn 1:27; 1Jo 2:2; 3:2; 1Pe 1:18, 19); (3)
“Valiosa como é, a vida humana não é a única e última preocupação. O sacrifício próprio
em devoção a Deus e aos Seus princípios pode tomar precedência sobre a vida” (Ap
12:11; 1Co 13); (4) “Deus nos chama para a proteção da vida humana e responsabiliza a
humanidade por sua destruição” (Êx 20:13; Ap 21:8; Dt 24:16; Pv 6:16, 17; Mq 6:7; Gn
9:5, 6); (5) “Deus está especialmente preocupado com a proteção do fraco, indefeso e
oprimido” (Sl 82:3, 4; Tg 1:27; Mq 6:8; At 20:35, Lc 1:52-54); (6) “O amor cristão
(ágape) é a valiosa dedicação de nossas vidas para elevar a vida de outros. O amor
também respeita a dignidade pessoal e não tolera a opressão de uma pessoa para apoiar o
comportamento abusivo de outra” (Mt 16:21; Fp 2:1-11; 1Jo 3:16; 4:8-11); (7) “Deus dá à
humanidade a liberdade de escolha, mesmo que isso conduza ao abuso e a consequências
trágicas” (Dt 30:19, 20; Gn 3; 1Pe 2:24; Rm 3:5, 6; 6:1, 2); (8) “Deus convida cada um de

185
nós individualmente a fazer decisões morais e a buscar nas Escrituras os princípios
bíblicos que fundamentam tais escolhas” (Jo 5:39; 1Pe 2:9; Rm 7:13-25); (9) “Decisões
sobre a vida humana, do início ao fim, devem ser tomadas no contexto de
relacionamentos familiares saudáveis, com o apoio da comunidade de fé (Êx 20:12; Ef
5:6, 12). As decisões humanas devem ser sempre centralizadas na busca da vontade de
Deus (Rm 12:2; Ef 6:6; Lc 22:42)”.
Com base nesses pontos, o documento aprovado se propõe a ser “uma tentativa de
prover orientações quanto a uma série de princípios e temas”, refletindo a
“responsabilidade e a liberdade cristãs” defendidas pela Igreja Adventista (2012, p. 219).
Alguns itens são relevantes para nortear a discussão do assunto nas publicações
denominacionais: (1) “O ideal de Deus para os seres humanos atesta a santidade da vida
humana, criada à imagem de Deus, e exige o respeito pela vida pré-natal. [...] O aborto
somente deveria ser praticado por motivos muito sérios”; (2) “O aborto é um dos trágicos
dilemas da degradação humana. As atitudes condenatórias são impróprias para os que
aceitaram o evangelho. Os cristãos são comissionados a se tornar uma comunidade de fé
amorosa e carinhosa, auxiliando as pessoas em crise ao considerarem as alternativas”; (3)
“De forma prática e tangível, a igreja, como uma comunidade de apoio, deve expressar
seu compromisso de valorizar a vida humana. Isso deve incluir: (a) ‘O fortalecimento do
relacionamento familiar’; (b) ‘Instrução de ambos os sexos quanto aos princípios cristãos
da sexualidade humana’; (c) ‘Ênfase na responsabilidade do homem e da mulher no
planejamento familiar’; (d) ‘Apelo a ambos para que sejam responsáveis pelas
consequências dos comportamentos incoerentes com os princípios cristãos’; (4) “A igreja
não deve servir como consciência para os indivíduos; contudo, ela deve oferecer
orientação moral. O aborto por motivo de controle natalício, escolha do sexo ou
conveniência não é aprovado pela igreja. Contudo, as mulheres, às vezes, podem se
deparar com circunstâncias excepcionais que apresentam graves dilemas morais ou
médicos, como: ameaça significativa à vida da mulher gestante, sérios riscos à sua saúde,
defeitos congênitos graves cuidadosamente diagnosticados no feto e gravidez resultante
de estupro ou incesto. A decisão final quanto a interromper ou não a gravidez deve ser

186
feita pela mulher grávida após o devido aconselhamento”; (5) “Os membros da igreja
devem ser incentivados a participar no desenvolvimento das considerações de suas
responsabilidades morais com respeito ao aborto à luz do ensino das Escrituras.”

Princípios editoriais
1. Os materiais da editora defendem a santidade da vida humana e não promovem o
aborto em nenhuma publicação. No entanto, há situações excepcionais em que o
aborto pode ser moralmente defensável.
2. Ao tratar do aborto em situações extremas, como ameaça significativa à vida da
gestante, sérios riscos à sua saúde, defeitos congênitos graves cuidadosamente
diagnosticados no feto e gravidez resultante de estupro ou incesto, é preciso ter
cuidado para não impor um peso espiritual, emocional e social adicional aos
envolvidos com essa decisão.
3. É importante deixar claro que o aborto por motivo de controle de natalidade,
escolha do sexo ou conveniência não é aprovado pela Igreja Adventista.
4. Os materiais da editora devem prover orientação para que seu público fortaleça
seus relacionamentos familiares, compreenda a perspectiva bíblica sobre a
sexualidade, seja responsável em relação ao planejamento familiar e também
quanto às consequências de comportamentos opostos aos princípios das
Escrituras.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012). Aborto. Em Declarações da
igreja (pp. 219-222). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Gainer, G. (1991, agosto). Abortion: History of Adventist guidelines. Ministry, 11-17.

* Este verbete foi escrito antes da apresentação da “Declaração sobre a visão bíblica da
vida intrauterina e suas implicações para o aborto”, aprovado em outubro de 2019. Uma
versão atualizada do verbete já está sendo preparada para substituir este texto.

187
ADORNO E VESTUÁRIO (ver também Imagens e Recursos Artísticos). As Escrituras
declaram que os cristãos devem praticar um comportamento distinto dos padrões
mundanos (Jo 17:15, 16; Rm 12:1, 2; 1Jo 2:15-17). Isso inclui, entre outras coisas, a
adoção de um vestuário modesto e decoroso (1Tm 2:9; 1Pe 3:3, 4). Ademais, a Bíblia
também não endossa o uso indiscriminado de joias, associando-as, inclusive, a pessoas
infiéis (2Rs 9:30; Is 3:16-24), e desaprova tatuagens (Lv 19:28). Em duas ocasiões, o
Senhor foi enfático ao demandar de Seu povo a remoção dos adornos, como evidência de
reavivamento espiritual (Gn 35:2, 4; Êx 33:5, 6).
Em seus escritos, Ellen White defendeu o conceito de que “julgamos o caráter de
uma pessoa pelo estilo do seu traje. O vestuário pomposo indica um espírito fraco e
vaidoso. A mulher modesta e piedosa se trajará modestamente. Fino gosto e espírito culto
se revelarão na escolha de traje simples e apropriado” (White, 2014a, p. 643). Assim, os
cristãos devem ser discretos em sua forma de se vestir, adotando “hábitos de asseio,
ordem e bom gosto” (White, 2016a, p. 350), e usando roupas de “material bom e durável,
apropriado para esta época” (White, 2015a, p. 414). Em relação ao estilo, ela ainda
afirmou: “Caso o mundo introduza uma moda modesta, conveniente e saudável no vestir,
que esteja de acordo com a Bíblia, não mudará nossa relação para com Deus ou para com
o mundo adotar tal estilo” (p. 414).
Ao escrever sobre joias e adornos, Ellen White manteve em perspectiva o princípio
da modéstia e do bom senso. Ela descreveu uma situação que ajuda a compreender suas
ideias sobre o assunto. “Uma irmã que passara algumas semanas em uma de nossas
instituições [...] disse que ficou muito desapontada com o que vira e ouvira ali. [...] Antes
de aceitar a verdade, seguira as modas do mundo na sua maneira de trajar-se e usara joias
de valor e outros ornamentos; mas, ao decidir obedecer à Palavra de Deus, notou que seus
ensinos exigiam dela o abandono de todo adorno extravagante e supérfluo. Foi ensinada
que os adventistas do sétimo dia não usam joias, ouro, prata ou pedras preciosas, e não
seguem, no vestuário, as modas mundanas. Ao ver entre os que professam a fé um tão
grande afastamento da simplicidade bíblica, sentiu-se perplexa. Não possuíam eles a
mesma Bíblia que ela estivera estudando, e com a qual ela se empenhara por conformar a

188
vida?” Concluindo o relato, a autora questionou: “Temos nós de seguir a Palavra de Deus
ou os costumes do mundo? Nossa irmã decidiu que o mais seguro era seguir a norma
bíblica” (White, 2016b, pp. 270, 271).
Em relação à aliança de casamento, uma joia considerada funcional, seu conselho
foi: “Nós não precisamos usar este anel, pois não somos infiéis a nosso voto matrimonial,
e o trazer a aliança não seria prova de sermos fiéis. [...] Nos países em que o costume for
imperioso, não temos o encargo de condenar os que usarem sua aliança; que o façam,
caso possam fazê-lo em boa consciência” (White, 2014b, pp. 180, 181).
Resumindo sua posição quanto ao uso de adornos, ela afirmou: “A abnegação no
vestir faz parte de nosso dever cristão. Trajar-se com simplicidade e abster-se de
ostentação de joias e ornamentos de toda espécie está em harmonia com nossa fé” (White,
2015b, p. 366). Miroslav Kis, no Tratado de teologia adventista do sétimo dia, reflete a
respeito dos principais textos bíblicos relacionados ao tema e afirma: “Um cristão deve
levar uma vida simples, isenta de ostentação, despesas desnecessárias e qualquer espírito
de competição. Em uma sociedade que dá grande importância à aparência exterior, o
cristão deve cultivar o que Pedro chama de o ‘incorruptível trajo de um espírito manso e
tranquilo’ (1Pe 3:4)” (2011, p. 785).
Nesse contexto, ele não ignora as passagens bíblicas que apresentam o uso de
adornos sem recriminação. Kis lembra que “devemos ter em mente as diversas formas de
adorno e os diferentes propósitos e intenções que motivaram o seu uso” (2011, p. 785).
Sua argumentação menciona, em primeiro lugar, o vestuário adornado do sumo sacerdote
(Êx 28). Nesse sentido, o autor declara que “um estudo cuidadoso das vestes sacerdotais
confirma que os propósitos simbólicos e litúrgicos tinham precedência sobre os estéticos”
(p. 785).
Na sequência, apresenta a descrição bíblica das noivas, que geralmente incluía
ornamentos preciosos. Para Kis, “não se tratava de uma exibição de riqueza nem uma
manobra para atrair a atenção de outros homens, mas uma tentativa de agradar ao amado”
(2011, p. 785). É dentro dessa perspectiva que ele compreende a caracterização da Nova

189
Jerusalém em Apocalipse 21:2. Portanto, “essa espécie de embelezamento é diferente em
espírito e intenção dos modernos adornos de ouro e joias” (p. 785).
Por fim, Kis explica pontos relacionados ao que ele chama de “a lógica adventista”
(2011, p. 786). (1) “Cremos no Deus Criador”, e “depender, ainda que ligeiramente, da
posse de valiosos ornamentos perecíveis comprometeria nosso testemunho”; (2) “Somos
discípulos do humilde e modesto Mestre”; (3) “Valorizamos a beleza interior e nos
esforçamos por resistir à manipulação da publicidade e da influência de nossa sociedade”;
(4) “Preocupamo-nos com as necessidades dos outros”, o que “exige simplicidade no
estilo de vida” (p. 786).
Embora Kis tenha discorrido a respeito dos itens mais recorrentes sobre vestuário e
adornos, um tema que ficou fora de sua discussão foi o uso de tatuagens, algo que tem se
tornado comum, inclusive entre cristãos evangélicos. Ángel Rodríguez (2012), do
Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral, aborda a questão em três pontos.
Em primeiro lugar, ele retrata o uso de tatuagens nos tempos bíblicos e na
atualidade. Conforme o autor, no Antigo Oriente Médio, as tatuagens podiam indicar
status social, ter significado religioso ou ser usadas como talismãs. Na atualidade, podem
identificar pertencimento a um grupo social, algum evento importante na vida da pessoa
ou ter outro significado simbólico.
Na sequência, Rodríguez reconhece que o único texto bíblico que toca diretamente
no assunto é Levítico 19:28. O versículo “é parte de uma coleção de leis em que se
proíbem práticas pagãs relacionadas com os mortos”. Contudo, não se tem registro de que
os rituais de luto incluíssem essa prática. Assim, “talvez a proibição se refira às tatuagens
religiosas” (2012).
Por fim, o autor afirma que a passagem não apoia o uso de tatuagens em qualquer
contexto. Isso porque o texto está inserido em uma seção que chama o povo de Deus à
santidade, expressa “não somente no âmbito espiritual, mas também mediante nosso
corpo, que é templo do Espírito Santo”. Desse modo, “mutilações ou tatuagens [...]
podem ser vistas como algo que fere a criação de Deus”. Uma vez que o corpo não nos

190
pertence, mas é dom de Deus, “é melhor que os cristãos se abstenham dessa prática”
(2012).
Em 2012, a Divisão Sul-Americana publicou e distribuiu amplamente o voto “Estilo
de vida cristã adventista”, que, entre outras coisas, inclui a questão do adorno e do
vestuário. Ecoando as orientações contidas no Tratado de teologia, o documento reafirma
o princípio geral da “modéstia e da beleza interior que implicam bom gosto com decoro”
(2012, p. 9).
Nesse sentido, “o cristão deve se vestir com modéstia, decência, bom-senso,
evitando a sensualidade provocativa [...]. Esse princípio deve aplicar-se não apenas a
roupas, mas a todas as questões que envolvem a aparência pessoal e seus enfeites”
(Divisão Sul-Americana, 2012, p. 10). Referindo-se aos textos de 1 Timóteo 2:9 e 1 Pedro
3:3, o voto expressa o entendimento consolidado dentro do adventismo de que “o cristão
deve abster-se do uso de joias e de outros ornamentos, como bijuterias e piercing, e de
tatuagens” (p. 10). Quanto às chamadas “joias funcionais, usadas segundo o contexto
sociocultural”, como a aliança de casamento, o documento lembra que “também devem
seguir os mesmos princípios” (p. 10).

Princípios editoriais
1. Na representação de figuras humanas, o vestuário e outros elementos de aparência
pessoal devem refletir simplicidade, decência e bom gosto. Os trajes devem ser
apropriados para o contexto (social e histórico) e o ambiente em que são
apresentados.
2. Nas imagens de crianças deve-se atentar para que os gêneros fiquem bastante
distintos. Esse cuidado deve ser tomado especialmente em relação ao tipo de
roupas utilizadas e comprimento do cabelo.
3. De modo geral, não se devem utilizar imagens nas quais as pessoas estejam com
pulseiras, colares, anéis, gargantilhas, piercings ou outros adornos, inclusive
tatuagens.

191
4. Não se devem utilizar imagens de pessoas com penteados ou barbas que possam
ferir a sensibilidade do público da editora ou padrões de vestuário alusivos a
movimentos cujos pressupostos contrariem a cosmovisão bíblico-adventista.
5. Em algumas publicações, como livros didáticos, faz-se necessário o uso de
imagens históricas, culturais, étnicas, obras de artes, charges ou tiras em que as
imagens contêm adornos ou vestuário não compatíveis com o entendimento
adventista. Nesses casos, as imagens devem ser analisadas de acordo com os
seguintes critérios: idade e maturidade do público a que se destinam, contexto em
que são usadas e relevância para o entendimento do texto que estão ilustrando.
6. No contexto editorial, não é incomum a necessidade de retratar algum entrevistado
que não pertença à Igreja Adventista e adote padrões de aparência e vestuários
diferentes do padrão denominacional. Desde que não se trate de algo ofensivo e
inapropriado, é permitido o uso de imagens nestes casos.
7. Nas imagens em que se veem alianças de casamento, noivado ou compromisso ou
outras joias funcionais utilizadas em diferentes culturas, quando necessário, esse
uso deve ser acompanhado de explicações acerca de tal funcionalidade.
8. Em muitos casos, é possível eliminar joias e adereços por meio de ferramentas
eletrônicas sem nenhuma implicação legal. Contudo, deve-se tomar todo o
cuidado para não incorrer em violação de direitos de imagem.

Bibliografia
Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2012). Estilo de vida cristã
adventista. Recuperado de https://tinyurl.com/y5trwlof.

Kis, M. (2018). Vestuário e adorno. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.). Enciclopédia Ellen
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White, E. (2016b). Evangelismo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

193
ATIVIDADES COMPETITIVAS (ver também Atividades esportivas). A discussão sobre
como lidar com as atividades competitivas tem levado a conclusões antagônicas em
círculos cristãos. Por um lado, estudiosos defendem a ideia de que a competitividade
possibilita o desenvolvimento de habilidades fundamentais para o êxito em um mundo no
qual a concorrência é um fato cada vez mais intenso. Por outro, vozes se levantam para
apresentar os efeitos nocivos sobre a espiritualidade e a ética que a competitividade
provoca naqueles que estão envolvidos com ela.
Ao analisar a Bíblia, nota-se, em primeiro lugar, que o lar edênico não acolhia
qualquer indício de competitividade, mas de complementaridade e companheirismo (Gn
2:18, 20). Contudo, a entrada do pecado transtornou essa ordem (Gn 3) e, como primeira
evidência de rivalidade na Terra, o texto bíblico apresenta o relato do assassinato de Abel
(Gn 4:4-13).
As Escrituras não ignoram a existência da competitividade, mas ilustram por meio
de histórias seus resultados negativos. Observam-se os efeitos problemáticos da
rivalidade no contexto familiar, mais restrito (Gn 21:8-11; 25:27, 28; 37:1-4), e também
sob uma perspectiva mais ampla, na comunidade ou política (1Sm 18:6-8; 2Rs 14:8-12).
Em última instância, foram o orgulho e o desejo de supremacia de Lúcifer que o lançaram
fora do Céu (Is 14:12-15; Ez 28:14-17).
Nos evangelhos, Jesus Cristo indica que o amor, a abnegação e o serviço ao
próximo são essenciais a Seus seguidores (Mt 7:12; Mc 9:35; 10:42-45). Além disso, Ele
recriminou a atitude competitiva dos discípulos, que buscavam uma posição preeminente
em Seu reino (Lc 9:46-48; 22:24-27). Nas epístolas, Paulo foi enfático ao recomendar que
os cristãos vivessem de modo abnegado, considerando os outros superiores a si mesmos
(Rm 12:10; Fp 2:3, 4). Ao comparar a igreja como um corpo (1Co 12), o apóstolo
salientou a dimensão cooperativa da comunidade cristã, na qual, apesar das distinções
funcionais, todos ocupam um papel de importância, e ninguém está autorizado a rebaixar
seus irmãos.
É importante distinguir, porém, a diferença entre atitude competitiva e aspiração
pela excelência (Ec 9:10; Pv 22:29; Cl 3:23; Tt 2:7). Daniel pode ser indicado como um

194
exemplo representativo de como isso se dá na prática. Longe de alimentar um espírito de
rivalidade quanto aos demais sábios de seu tempo, ele usou seus dons e talentos para
servir às pessoas e testemunhar a respeito do Senhor (Dn 1:20; 2:24-28; 4:9; 5:14; 6:1-4).
Assim, cada indivíduo é desafiado a desenvolver ao máximo suas potencialidades,
buscando continuamente o crescimento pessoal, para servir ao próximo e glorificar a
Deus.
Ao discutir o tema, Ellen White refletiu os princípios bíblicos mencionados para
condenar o espírito competitivo. Ela era totalmente contrária a atividades que
promovessem qualquer traço de competitividade (White, 2016a, pp. 101, 102) ou alta
estimulação física e mental (White, 2004, pp. 131; 2015a, p. 627). Além disso, expressou
sua reprovação à rivalidade e supremacia entre cristãos (White, 2015b, p. 382; 1965, p.
172), pastores (White, 2016a, p. 19), médicos obreiros (White, 2015b, p. 48) e editoras
(White, 2010, p. 173).
White também abordou a diferença entre competitividade e excelência por meio de
uma clara argumentação. Para ela, “cada um deve aperfeiçoar os seus talentos até ao
máximo ponto; e a fidelidade no fazer isso confere honra à pessoa, sejam muitos ou
poucos os seus dons” (2016b, p. 225). Contudo, afirmou: “O fermento da verdade não
produzirá espírito de rivalidade, amor de ambição, desejo de primazia. O amor
verdadeiro, oriundo do alto, não é egoísta nem mutável. Não é dependente do louvor
humano. [...] O eu não luta por nenhum reconhecimento” (White, 2016a, pp. 101, 102).
Autores adventistas discutiram o assunto, em sua maior parte, aplicando-o a
questões referentes à prática de esportes em instituições confessionais. Isso gerou a
elaboração de alguns documentos oficiais da denominação, lançados em 1962 (Guide for
health and physical education in Seventh-day Adventist schools), 1964 (Department of
education statement of denominational attitude toward sports), 1976 (Guidelines for
activities with elements of competition) e 1988 (Atividades competitivas). Este último
apresenta três conclusões gerais quanto ao tema: (1) “Os cristãos devem atuar com os
mais elevados motivos em sua busca de excelência atlética”; (2) “Os jogos amistosos
ocasionais envolvendo instituições em reuniões sociais conjuntas não são classificados

195
como atletismo intermural ou interescolar”; (3) “Todos têm talentos – uns mais, outros
menos. Deus espera fidelidade no serviço sem considerar os talentos ou a remuneração
(Mt 20:1-16). Embora os talentos sejam distribuídos diferentemente, Deus espera que as
pessoas desenvolvam ao máximo sua capacidade, e lhes será dada responsabilidade
segundo a sua fidelidade” (2012, p. 81).

Princípios editoriais
1. Não se deve promover histórias que exaltem a competitividade como qualidade a
ser desenvolvida. Em narrativas, ilustrações ou exemplos que tratem do assunto,
deve-se intencionalmente, quando apropriado, apresentar os efeitos negativos
dessa atitude. Por outro lado, as virtudes cristãs da solidariedade, cooperação,
abnegação e serviço devem ser exaltadas e incentivadas como princípios
elementares no exercício da cidadania e vida cristã.
2. Deve-se evitar ao máximo utilizar de recursos que promovam a competitividade.
O ideal é que as dinâmicas envolvam o trabalho cooperativo, de modo a
desenvolver nos participantes uma disposição integradora, solidária e serviçal.
Caso seja necessário empregar alguma prática, física ou mental, que envolva a
competição, o(s) vencedor(es) deve(m), como parte do privilégio de ganhar,
compartilhar de alguma maneira criativa o prêmio com os demais participantes.
3. Deve-se dar espaço a histórias, ilustrações e exemplos que enfatizem a excelência
ou superação pessoal como meio de serviço amoroso ao próximo.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (2012). Atividades competitivas. Em
Declarações da igreja (pp. 74-81). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Graybill, R. (1974, julho). Ellen G. White and competitive sports. The Ministry, 4-7.

Knight, G. (2018). Competição. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.). Enciclopédia Ellen G.


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academies and colleges. Recuperado de https://tinyurl.com/y7me9ujm.

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White, E. (2015a). Conselhos sobre saúde. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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White, E. (2016b). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

197
ATIVIDADES ESPORTIVAS (ver também Atividades competitivas). Entre as denominações
cristãs, a Igreja Adventista do Sétimo Dia se destaca por sua visão integral acerca da
saúde*. Fundamentados em argumentos teológicos, os adventistas defendem que o
cuidado com as dimensões física, mental e espiritual faz parte de uma experiência
religiosa enriquecedora (1Ts 5:23; 3Jo 2). Entretanto, a Bíblia não fala de modo
específico ou normativo sobre a prática de esportes.
No Antigo Testamento, existem poucas referências a práticas esportivas. De modo
geral, essas atividades estavam mais relacionadas com habilidades militares do que com
um treinamento esportivo ou momento recreativo (Jz 20:16; 1Sm 20:20-22, 35-38; 2Sm
2:18; 1Cr 12:2).
Por sua vez, o Novo Testamento, especialmente os escritos de Paulo, contém várias
alusões aos esportes ou a temas relacionados (1Co 9:24-27; 2Tm 4:7; Hb 12:1). No
entanto, o uso que o apóstolo faz desse assunto é ilustrativo. Parece evidente em seus
textos que ele apenas se utiliza de exemplos conhecidos e validados por seu público-alvo
primário como recurso retórico. É importante destacar que, em seus dias, os Jogos
Olímpicos eram muito conhecidos e estavam intimamente relacionados com o paganismo.
Ellen White escreveu sobre atividades esportivas e, a partir de suas orientações,
pode-se concluir que ela fazia distinção entre atividades físicas, atividades recreativas e
atividades competitivas.*
Em harmonia com seu pensamento acerca de saúde integral, a autora estimulou a
prática de atividades físicas. Ela foi categórica ao afirmar que “os estudantes devem fazer
exercício vigoroso” (White, 2016a, p. 210). Em sua concepção, esses exercícios deveriam
ser tarefas manuais úteis que, além de estimular o corpo, preparariam os jovens para a
vida (White, 2014, p. 354). Isso incluía o desenvolvimento de atividades em contato com
a natureza (White, 2016a, p. 212). Ademais, Ellen White apoiava a recreação sadia, que
“proporciona descanso ao espírito e ao corpo” (p. 207). Mesmo os jogos com bola não
eram de todo condenados por ela (White, 2015b, p. 322), desde que se mantivessem
dentro dos limites de uma brincadeira espontânea, sem desenvolver o espírito da
rivalidade ou competição.

198
Por outro lado, Ellen White foi contundente ao reprovar atividades como “boxe,
futebol [football], jogos de equipe e esportes com animais” (Carta 27, 1895; ver White,
2016a, p. 210). Ela tinha preocupações quanto à natureza de alguns esportes específicos,
bem como com o perigo de que eles se tornassem todo-absorventes. Além disso, era
totalmente contrária a atividades que promovessem qualquer traço de competitividade
(White, 2016b, pp. 101, 102) ou alta estimulação física e mental (White, 2004, p. 131;
2015a, p. 627).
Por anos, a prática de esportes em instituições educacionais adventistas foi tema de
debates e questionamentos, especialmente ao Ellen G. White Estate. Em 1959, Arthur
White publicou um documento intitulado “Sports in Seventh-day Adventist academies
and colleges”, em que concluiu dizendo: “Vejo claramente a distinção entre um dia de
recreação no qual certos jogos podem ser jogados e o desenvolvimento de times bem
treinados em nossos institutos e faculdades, para engajamento em um programa
esportivo” (White, A., 1959)
Em 1988, um documento da Associação Geral intitulado “Atividades competitivas”
trouxe como exemplos de práticas que desenvolvem os aspectos físico, mental e espiritual
as seguintes atividades ao ar livre: “natação, ciclismo, equitação, esqui, canoagem,
ginástica, jardinagem, caminhada, acampamento, coleção de pedras, mergulho,
exploração de cavernas e outras recreações” (2012, p. 80).

Princípios editoriais
1. O uso de práticas esportivas como ilustração é um recurso possível, mas deve-se
cuidar quanto à menção a determinados tipos de esportes, especialmente aqueles
que incentivam a competitividade exacerbada, a violência, o desafio à vida e
procedimentos como a mentira e a dissimulação.
2. A prática de atividades físicas e recreativas condizentes com a visão integral de
saúde adventista (aspectos físico, mental e espiritual) deve ser promovida nas
diversas publicações produzidas pela editora.

199
3. Esportes agressivos, que expõem seus praticantes ao risco de morte, alinhados a
filosofias contrárias à cosmovisão bíblico-adventista ou de reputação duvidosa
não devem ser promovidos sob nenhuma circunstância.
4. Deve-se cuidar para não promover a imagem de atletas ou de eventos esportivos
que estejam associados a comportamentos objetáveis ou patrocinadores cujos
produtos ou serviços estejam em desarmonia com a cosmovisão bíblico-
adventista.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (2012). Atividades competitivas. Em
Declarações da igreja (pp. 74-81). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Graybill, R. (1974, Julho). Ellen G. White and competitive sports. The Ministry, 4-7.

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Publicadora Brasileira.

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White, E. (2016a). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2016b). Parábolas de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

200
BIOGRAFIAS. A Bíblia apresenta uma grande quantidade de biografias que demonstram a
trajetória de homens e mulheres que foram fiéis a Deus, bem como de pessoas que foram
infiéis. Contudo, Ryken (2017) lembra que as biografias retratadas nas Escrituras são
peculiares em sua constituição. “Por um lado, todas as histórias de vida que encontramos
na Bíblia são biográficas no sentido de serem histórias de pessoas que realmente viveram.
Por outro lado, quanto ao formato, nenhuma dessas histórias nos lembra o tipo [de
biografia] com o qual estamos familiarizados” (p. 23).
Isso fica evidente quando se observa as diferenças entre biografias de
personalidades como Jó (livro), José (Gn 37–50), Sansão (Jz 13–16), Davi (1Sm 15–2Sm
24), Daniel (livro) e, de modo especial, do próprio Cristo, retratado nos evangelhos. Esses
exemplos indicam claramente distinções quanto ao formato de cada biografia e à
abordagem do autor em relação ao biografado (incluindo, no caso de Daniel, a
perspectiva autobiográfica), bem como a finalidade de cada narrativa. Dois pontos
importantes em relação a esse último aspecto parecem se destacar: a relação dos
personagens com a história do povo de Deus (seja como protagonistas ou antagonistas) e
também o papel instrutivo das biografias (Rm 15:4).
Nesse caso, as biografias bíblicas mostram, sobretudo, como pessoas comuns, com
virtudes e defeitos, podem desenvolver um relacionamento redentivo com Deus ou
rejeitar a oferta divina da graça salvadora. Aliás, para Ellen White, esse papel educativo é
preeminente, pois os relatos biográficos da Bíblia reforçam a realidade de que, “em
grande parte, as experiências da vida são o fruto de nossos próprios pensamentos e ações”
(White, 2016, p. 146).
Para ela, a transparência com a qual os autores bíblicos apresentaram a vida dos
personagens da história sagrada era uma demonstração da autenticidade das Escrituras,
uma vez que seria impossível ao ser humano “narrar imparcialmente a história de um
contemporâneo”, já que “os defeitos da pessoa em questão são excessivamente realçados,
ou suas virtudes demasiado enaltecidas, dependendo do ponto de vista preconcebido do
autor” (White, 2014, pp. 9, 10).

201
Entretanto, os autores bíblicos, inspirados pelo Espírito Santo, fizeram um
“relatório fiel das experiências religiosas de notáveis personagens da história bíblica. Os
homens favorecidos por Deus, e a quem confiou grandes responsabilidades, foram por
vezes vencidos pela tentação e cometeram pecados, mesmo como nós da época presente
lutamos, vacilamos e caímos frequentemente em erro. É, porém, animador para nosso
coração desfalecido saber que, mediante a graça de Deus, eles puderam obter novo vigor
para se erguer outra vez acima de sua má natureza; e, lembrando-nos disso, estamos, por
nossa vez, prontos a recomeçar o conflito” (White, 2014, pp. 10, 11).
Ao comparar a composição das biografias bíblicas a biografias de personalidades do
cristianismo, Ellen White ponderou acerca da inconsistência de se retratar o biografado
sob uma perspectiva perfeita, como exemplo de “imaculada piedade”. “Defeito algum
manchou a beleza da santidade deles, falta alguma é registrada de modo a lembrar-nos de
que eram barro comum, sujeitos às naturais tentações da humanidade. Todavia, houvesse-
lhes a pena da Inspiração escrito a história, e quão diversos pareceriam eles! Ter-se-iam
revelado fraquezas humanas, lutas com o egoísmo, hipocrisia e orgulho, talvez pecados
ocultos, e a luta contínua entre o espírito e a carne” (White, 2014, p. 10). Portanto,
produzir biografias de personalidades cristãs no contexto adventista demanda cuidado e
atenção especiais.
Em relação a biografias de autores “que não têm sido leais ao Deus do Céu” (White,
2010, p. 78), Ellen White foi contundente ao afirmar que eles não deveriam ser exaltados
nas publicações adventistas. “Ao invés da constante referência aos autores em nossos
periódicos, [...] que uma decidida mensagem ao mundo seja proclamada pelos textos dos
homens cujos escritos revelem que estão sob a influência do Espírito Santo” (p. 78). Ou
seja, o foco deve estar nas biografias positivas, e não nas negativas.
Essas orientações foram consideradas no documento “Guide to the teaching of
literature in Seventh-day Adventist schools”, preparado pelo Departamento de Educação
da Associação Geral da Igreja Adventista em 1972. O guia explica que “biografias podem
incluir a vida de pessoas cuja visão religiosa ou vida pessoal sejam indignas de imitação,
assim como romances ou apresentação imaginativa”, e reforça a orientação de Ellen

202
White referente a biografias de autores não religiosos. Além disso, indica que “todas as
biografias selecionadas [no contexto educacional adventista] devem ser escolhidas com
cautela, e as mesmas diretrizes recomendadas para outros materiais de leitura devem ser
seguidas” (seção “Biografias”). As diretrizes mencionadas são: (1) ser uma arte séria,
compatível com os valores defendidos pela Igreja Adventista; (2) evitar o
sensacionalismo e o sentimentalismo barato; (3) ser isenta de linguagem ofensiva e
obscena; (4) evitar elementos que valorizem a má conduta e desvalorizem a bondade; (5)
evitar histórias simplificadas, estimulantes, cheias de suspense que estimulem uma leitura
superficial; (6) estar adaptada ao nível de maturidade do público leitor (seção “Geral”).
Uma lembrança importante que o documento faz está relacionada com a citação de
“gemas de sabedoria e verdade” escritas por autores “irreligiosos e ímpios”, que
“expressam valores culturais, morais e estéticos” (seção “Glorificação de autores”). O
guia destaca uma citação de Ellen White na qual ela afirma: “Assim como a Lua e as
estrelas do nosso sistema planetário resplandecem pela luz refletida do Sol, assim também
os grandes pensadores do mundo, tanto quanto são verdadeiros os seus ensinos, refletem
os raios do Sol da Justiça. Cada raio de pensamento, cada lampejo do intelecto, procede
da Luz do mundo” (White, 2016, pp. 13, 14). Assim, as biografias e as ideias dos
biografados devem servir, em última instância, para exaltar Aquele que tem o domínio da
vida e é a fonte de toda sabedoria.

Princípios editoriais
1. Ao abordar biografias bíblicas, deve-se ter cautela em manter a perspectiva
apresentada nas Escrituras sobre o personagem, procurando extrair de sua história
lições contextualizadas à atualidade.
2. No caso de biografias de personalidades cristãs, deve-se evitar a parcialidade que
enaltece exageradamente ou deprecia o biografado. O alvo deve ser apresentar
uma perspectiva positiva, mas realista. O propósito da exposição de uma biografia
deve ser focalizar mais as ideias, princípios e lições de vida da pessoa em questão
do que suas virtudes ou defeitos.

203
3. Não se deve dar destaque a biografias de pessoas cujos valores e vida não sejam
compatíveis com a compreensão bíblico-adventista, embora eventualmente seja
possível citar pérolas de pensamento de autoria delas, pois refletem uma verdade
anterior e maior do que elas. Contudo, deve-se considerar a pertinência e o
contexto da citação e o público a que se destina o material. Em nenhuma hipótese,
essas citações devem legitimar o conjunto de crenças do autor mencionado.
4. Caso uma biografia contenha alguma passagem que possa comprometer a
percepção do público em relação ao caráter do biografado ou de alguém
relacionado a ele, deve-se preservar a identidade da pessoa nessa condição, por
meio de pseudônimo, uso de iniciais ou recursos visuais.
5. Os perfis apresentados devem se basear na contribuição real da pessoa para a
igreja ou sociedade, ou na sua mudança de vida, e não simplesmente no fato de ser
ela uma pessoa de expressão no ambiente adventista ou fora dele. Deve-se ter um
cuidado especial com entrevistas, perfis e relatos biográficos de pessoas que
acabaram de aceitar a fé e ainda não deram prova de maturidade espiritual.

Bibliografia
General Conference of Seventh-day Adventists, Department of Education. (1972). Guide
to the teaching of literature in Seventh-day Adventist schools. Recuperado de
https://tinyurl.com/y6btewd8.

Ryken, L. (2017). Formas literárias da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã.

White, E. (2010). O outro poder. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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Brasileira.

White, E. (2016). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

204
CELEBRIDADES. A expansão das mídias sociais trouxe consigo o aumento significativo
da cultura da celebridade. Isso quer dizer que, atualmente, o valor de uma pessoa tem sido
avaliado, em grande medida, pela popularidade que conquistou, a partir do desejo de
atrair atenção e se colocar como voz autêntica em diferentes discussões do cotidiano.
Desse modo, personalidades populares como artistas, comunicadores e líderes de
diferentes segmentos, inclusive religiosos, passaram a ser vistas como vozes autoritativas
da sociedade. Nesse contexto, contar com o apoio ou a presença de alguma delas tornou-
se um alvo para muitas pessoas ou instituições, que veem nisso certa valorização ou
legitimação de suas ideias ou projetos. Atitudes lisonjeiras e tratamento diferenciado
fazem parte do cenário e reforçam o status da fama.
É importante, porém, diferenciar celebridades de pessoas públicas. Enquanto as
celebridades são forjadas em uma dinâmica midiática, figuras públicas são “pessoas que
ocupam cargos ou posições que dizem respeito à vida coletiva de uma sociedade e, nesse
sentido, devem se ater à ideia de bem comum e interesse público, necessitando dar
transparência às suas ações e delas prestar contas à coletividade” (França, 2012, pp. 16,
17). Desse modo, enquanto figuras públicas são reconhecidas pelo papel social que
ocupam, e inevitavelmente sejam retratadas em publicações de interesse coletivo,
celebridades se destacam pela fama que buscam para si.
As Escrituras não apoiam o espírito por trás da cultura da celebridade. Ele está
fundamentado no orgulho e egoísmo, raízes do pecado que provocou a queda de Lúcifer e
de Adão e Eva (Gn 3:4, 5; Is 14:12-15; Ez 28:17, 18). Jesus advertiu acerca do perigo da
autoexaltação (Mt 23:12) e salientou a postura humilde que espera de Seus seguidores
(Mt 5:5; 18:3, 4). Nas epístolas, Paulo apresentou Cristo como paradigma de humildade e
serviço (Fp 2:5-8) e exortou os cristãos a desenvolverem esse comportamento (Rm 12:3,
16; Ef 4:2). Por sua vez, Tiago criticou duramente qualquer tipo de distinção social ou
bajulação na comunidade cristã (Tg 2:1-13).
Ao invés de agir como a sociedade atual, reforçando a cultura da celebridade, a
igreja é chamada a tratar com respeito todas as pessoas que a procuram, não por serem
famosas, mas por serem amadas por Deus. Esse parece ter sido o comportamento de

205
Eliseu em relação a Naamã (2Rs 5:1-19), Daniel em relação a Nabucodonosor e Dario
(Dn 1; 2; 4; 6), Jesus em relação ao centurião (Lc 7:1-10) e Paulo em relação ao pai de
Públio (At 28:7-9). À medida que as chamadas celebridades se aproximam da igreja e
manifestam o desejo de conhecer mais o evangelho, devem ser ensinadas quanto aos
princípios da humildade, do serviço e da igualdade de todos perante o Senhor.

Princípios editoriais
1. A cultura da celebridade não deve ser incentivada nos materiais da editora. Por
isso, não se deve utilizar a presença ou o nome de pessoas famosas para promover
ou legitimar ações da Igreja Adventista.
2. Caso alguma celebridade queira espontaneamente promover algum aspecto
relacionado à Igreja Adventista, deve-se cuidar em relação à menção do nome ou
compartilhamento de publicação. Atrelar a imagem da igreja a pessoas cuja
profissão/atividade possa gerar debates públicos entre os membros é um risco que
precisa ser avaliado.
3. A presença voluntária de alguma celebridade em programações da igreja não deve
receber destaque nas publicações denominacionais. Deve-se respeitar a
privacidade e o direito que ela tem de participar como convidada/frequentadora da
comunidade, a fim de desenvolver um relacionamento pessoal com Deus. No
entanto, a visita de pessoas públicas a instituições da igreja pode ser
eventualmente mencionada em nossas publicações.
4. Antes de divulgar entrevistas ou relatos sobre celebridades que se unem à igreja,
deve-se ter o cuidado de checar se a pessoa está realmente firmada na fé. Ou seja,
é preciso ter cautela e evitar o deslumbramento.
5. Nenhuma celebridade ou pessoa pública deve ser alvo de críticas gratuitas nas
publicações denominacionais. Elas não devem ser usadas como exemplo para
reprovar ideias ou comportamentos que contrariam a cosmovisão bíblico-
adventista.

206
Bibliografia
França, V. (2014). Celebridades: identificação, idealização ou consumo? Em França, V.,
et al. Celebridades no século XXI (pp. 15-36). Porto Alegre, RS: Sulina.

207
CRÍTICOS E DISSIDENTES (ver também Teologia). Desde seus primórdios, o cristianismo
teve que lidar com críticos e dissidentes que, a partir de interpretações particulares da
Bíblia, se levantaram contra a igreja cristã. Jesus e os apóstolos alertaram sobre a
presença e influência dessas pessoas ao longo da história (Mt 7:15-20; At 20:29-31; 2Pe
2:1)
É importante destacar, em primeiro lugar, que a leitura, análise e interpretação da
Bíblia são estimuladas pelas próprias Escrituras (Jo 5:39; At 17:11; 1Tm 4:13; 2Tm 2:15).
Essas atividades devem ser realizadas com base no livre-arbítrio que a raça humana
recebeu ao ser criada. Entretanto, essa liberdade não deve ferir o princípio da unidade da
igreja nem criar um ambiente hostil na comunidade de fé (Rm 15:5, 6; 1Co 12; Ef 4:1-6;
Fp 2:1-4). Um exemplo que parece ser paradigmático em relação a esse ponto é
encontrado em Atos 15:1 a 35, no qual a igreja, reunida em assembleia representativa,
apreciou um importante ponto doutrinário e, a partir das Escrituras, deliberou acerca da
conduta dos fiéis em todas as partes onde congregações eram estabelecidas. O que se
apreende desse exemplo é que o Espírito Santo (At 15:28) revela Sua vontade quando o
corpo de crentes se submete a Ele e busca compreender melhor a Palavra de Deus. Desse
modo, a igreja avança em sua compreensão da verdade sem ferir a unidade que deve
caracterizá-la como povo escolhido (Jr 32:38, 39; Jo 17:20-23)
Contudo, sempre houve quem decidisse agir à parte desse procedimento, adotando
uma postura crítica e defendendo pontos de vista peculiares. Seja por ganância, dolo ou
ignorância, essas pessoas causam transtornos significativos à igreja e aos seus membros.
Nas epístolas, Paulo (Gl 1:6-9; Rm 16:17, 18; 1Tm 6:3-5, 11; Tt 1:10, 11; 3:9-11), Pedro
(2Pe 3:15-18) e João (1Jo 2:18-24; 4:1-4; 2Jo 7-11) foram contundentes em relação à
defesa da fé e à confrontação dos falsos mestres, demonstrando o perigo que eles
oferecem à comunidade cristã.
Na história da Igreja Adventista, críticos e dissidentes se levantaram contra
doutrinas e aspectos administrativos da denominação. Alguns se organizaram em
ministérios independentes e atacaram a igreja por meio de diferentes publicações. Ellen

208
White teve que lidar com a oposição ao longo de sua vida e indicou como proceder diante
de tais contestações.
Em primeiro lugar, ela achava que “tempo e energia podem ser melhor empregados
do que demorar-nos sobre os enganos de nossos oponentes que usam de calúnia e falsas
representações” (White, 2010, p. 37). Em sua opinião, a igreja não deveria salientar as
ideias dos críticos, dando atenção àquilo que escrevem. “Eles desaparecerão mais
rapidamente se forem ignorados, se deixarmos que seus erros e falsidades sejam tratados
com desprezo silencioso. [...] Oposição é o elemento que amam. Não fosse por isso,
teriam pouca influência” (p. 37).
Quando, porém, é absolutamente necessário que as ideias dos críticos sejam
contestadas, “isso deve ser feito logo e em poucas palavras, e depois deveríamos
prosseguir com nosso trabalho” (White, 2010, p. 37). Nesse caso, “não é o melhor
procedimento ser explícito demais e dizer tudo o que pode ser dito sobre um ponto,
quando uns poucos argumentos abrangeriam o assunto e seriam suficientes para todos os
propósitos práticos a fim de convencer ou silenciar os oponentes” (p. 37).
A autora via a crítica e a dissidência como estratégias satânicas para atrapalhar a
proclamação do evangelho no tempo do fim. Por isso, destacava o foco que os adventistas
deveriam ter em seu trabalho. “Se homens que se empenham em apresentar e defender a
verdade da Bíblia se empenharem em examinar e mostrar o engano e incoerência de
homens que desonestamente mudam a verdade de Deus em mentira, Satanás suscitará
oponentes suficientes para manter suas canetas constantemente em uso, enquanto outros
ramos da obra serão deixados a sofrer. [...] Se Satanás percebe que pode manter homens
respondendo às objeções de oponentes, e assim manter suas vozes silenciosas, e impedir
que façam a obra mais importante para o tempo presente, seu objetivo é alcançado”
(White, 2010, p. 38).
Em 1987, a Igreja Adventista aprovou um documento intitulado “Liberdade e
responsabilidade teológica e acadêmica”, no qual discute o procedimento para com ideias
divergentes e posturas dissidentes de obreiros da denominação. As orientações, no
entanto, servem também como referência para lidar com membros que adotam tais

209
comportamentos (2012, pp. 163-172). Como exemplos da aplicação desse documento,
pode-se mencionar os relatórios do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral
publicados no ano 2000 em relação aos ministérios Hope International e 1888 Message
Study Committee.
Em 2010, a Divisão Sul-Americana votou o documento “Unidade de doutrina e
missão”, no qual reprova “qualquer ministério, grupo ou pessoa” que (1) difame a igreja
de forma pública ou particular; (2) promova teorias doutrinárias em desacordo com as 28
crenças fundamentais da Igreja Adventista; (3) aceite dízimos; ou (4) exerça suas
atividades sem o apoio da liderança eclesiástica. A reprovação a essas condutas através
dos meios de comunicação deve, porém, ocorrer em conformidade com as orientações
bíblicas e os conselhos de Ellen White.

Princípios editoriais
1. Não se deve reagir a toda e qualquer manifestação de críticos e dissidentes da
Igreja Adventista.
2. Quando os ataques dos críticos demandam uma atitude, deve-se responder de
modo objetivo e respeitoso, sem esgotar todos os argumentos em relação ao
assunto. Se houver reincidência, novos argumentos biblicamente fundamentados
podem ser utilizados, fornecendo variedade de abordagens para lidar com as
mesmas críticas.
3. Não se deve promover o debate com críticos em nossas publicações. Em uma
atitude preventiva, deve-se produzir materiais que apresentem respostas
fundamentadas a seus argumentos, sem a necessidade de se dirigir ataques diretos
a pessoas ou grupos dissidentes.
4. Não se deve abrir espaço para que os dissidentes manifestem suas opiniões e
defendam seus pontos de vista particulares em nossas publicações.
5. Em algumas situações de crise, em que os dissidentes apresentarem críticas na
mídia contra a igreja, o assunto eventualmente pode ser direcionado para a área
responsável pelo gerenciamento de crises da Associação, União ou Divisão.

210
Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012). Liberdade e responsabilidade
teológica e acadêmica. Em Declarações da igreja (pp. 163-172). Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira.

Biblical Research Institute of General Conference of Seventh-day Adventists. (2000).


Primacy of the Gospel Committee – Report. Recuperado de
http://tinyurl.com/mhglhxb.

Biblical Research Institute of General Conference of Seventh-day Adventists. (2000).


Report on Hope International and Associated Groups. Recuperado de
http://tinyurl.com/y2ktn7xx.

Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2010). Unidade de doutrina


e missão. Brasília, DF.

Douglass, H. (2018). Crítica, Como Ellen G. White lidava com a. Em D. Fortin & J.
Moon (Eds.), Enciclopédia Ellen G. White (pp. 800, 801). Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira.

Douglass, H. (2003). Mensageira do Senhor: O ministério profético de Ellen G. White.


Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2010). O outro poder. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

211
FAMÍLIA (ver também Sexualidade). As Escrituras afirmam que Deus criou o casamento
como uma instituição heterossexual, monogâmica e vitalícia, para cumprir Seus
propósitos e satisfazer as necessidades humanas de segurança, pertencimento, autoestima
e autorrealização (Gn 2:18-25; Mt 19:5, 6). Na dinâmica conjugal, homens e mulheres
têm papéis distintos e complementares (1Co 11:3; 1Pe 3:1-7; Pv 31), e a submissão mútua
deve moldar o relacionamento a dois (1Co 11:11, 12; Ef 5:21-33).
Uma vez que a família deve ser um núcleo espiritual, no qual a fé verdadeira deve
ser cultivada, o Senhor não aprova o casamento em que haja jugo desigual (Dt 7:2-6; Ed
9:12; Ne 13:23-28; 2Co 6:14-18). Além disso, Ele repudia o adultério e o divórcio (Ex
20:14; Ml 2:13-16), embora, em relacionamentos nos quais um dos cônjuges tenha
cometido adultério, a parte que se manteve fiel tenha o direito a se divorciar (Mt 19:4-6,
8, 9; 11, 12). Quanto ao recasamento, essa é uma concessão que só é legitimada pela
Bíblia em caso de viuvez ou adultério do cônjuge (Mt 19:9; 1Co 7:8, 9, 39; 1Tm 5:14).
Por fim, as Escrituras afirmam que os filhos são bênçãos do Senhor (Sl 127:3-5).
Assim, os pais devem suprir integralmente as necessidades dos filhos (Dt 6:6-9; Pv 22:6;
29:15, 17; Lc 15:20-24; Ef 6:4; Cl 3:21), enquanto os filhos devem, em contrapartida,
honrar seus pais e obedecer-lhes (Ex 20:12; Ef 6:1-4; Cl 3:20; 1Tm 5:3, 4, 8).
A noção apresentada por Ellen White a respeito da família cristã é ampla e estava
muito à frente de seu tempo. Ela entendia que “a restauração e reerguimento da
humanidade começam no lar. [...] A felicidade da sociedade, o êxito da igreja e a
prosperidade da nação dependem das influências domésticas” (White, 2015a, p. 349). No
lar cristão, o casal deveria refletir o ideal divino estabelecido no Éden, onde homem e
mulher se encontravam no mesmo nível. A autora afirmou: “Eva foi criada de uma
costela tirada do lado de Adão, significando que não o deveria dominar, como a cabeça,
nem ser pisada sob os pés como se fosse inferior, mas estar a seu lado como igual, e ser
amada e protegida por ele. Como parte do homem, osso de seus ossos, e carne de sua
carne, era ela o seu segundo eu, mostrando isto a íntima união e apego afetivo que deve
existir nesta relação” (White, 2013, p. 25).

212
Diante da importância que Deus confere ao matrimônio, Ellen White apresentou
vários conselhos para quem pretendia se casar. Ela reafirmou o caráter vitalício e a
responsabilidade que cercam o casamento (White, 2014, p. 507) e incentivou jovens a
analisar criticamente diversos aspectos da vida de um pretendente ao matrimônio (White,
2015b, p. 362). Para a autora, “a modéstia, simplicidade, sinceridade, moralidade e
religião devem caracterizar todos os passos em direção de uma aliança matrimonial”
(White, 2016, p. 459). Em contrapartida, reprovou os casamentos precipitados e precoces
(p. 452) e repudiou o jugo desigual. “Os que professam a verdade espezinham a vontade
de Deus ao desposar incrédulos [...]. O incrédulo poderá ser dotado de excelente caráter
moral; o fato, porém, de que ele ou ela não atendeu às reivindicações de Deus, e
negligenciou tão grande salvação, é razão suficiente para que se não consume tal união”
(White, 2014, p. 505).
Ao falar sobre crescimento familiar, Ellen White defendeu uma atitude ponderada.
“Antes de aumentar a família, devem pensar se Deus é glorificado ou desonrado com
trazerem filhos ao mundo” (2016, p. 462). Além disso, “os pais não devem aumentar a
família mais depressa do que possam os filhos serem bem cuidados e educados” (White,
2013, p. 163). As crianças, criadas na disciplina e no temor do Senhor, “poderiam
abrandar e subjugar traços de caráter naqueles [pais] que necessitam ser mais otimistas e
calmos. A presença de uma criança num lar suaviza e refina” (p. 160).
Em conformidade com a perspectiva bíblica de submissão mútua entre cônjuges,
pais e filhos, a autora afirmou: “Os pais estão sob a obrigação de alimentar, vestir e
educar seus filhos, e estes de servir a seus pais com alegria e fervente fidelidade. Quando
os filhos deixam de sentir a obrigação de partilhar com seus pais trabalhos e encargos,
como se sentiriam então se seus pais deixassem de sentir sua obrigação de cuidar deles?
Deixando de cumprir os deveres que recaem sobre eles de serem úteis a seus pais, de
aliviar-lhes as cargas fazendo o que possa ser desagradável e trabalhoso, os filhos perdem
a oportunidade de obter a mais valiosa educação que os capacitaria para prestatividade
futura” (White, 2013, p. 282).

213
Em resumo, Ellen White entendia que “uma família bem-ordenada, bem
disciplinada, fala mais em favor do cristianismo do que todos os sermões que se possam
pregar. Essa família dá provas de que os pais têm sido bem-sucedidos em seguir as
instruções de Deus, e que os seus filhos vão servi-Lo na igreja” (White, 2013, p. 32).
Ao longo do tempo, a Igreja Adventista aprovou declarações que reafirmam esses
conceitos e solidificam a visão ensinada pela denominação. No documento “Lar e
Família”, votado em 1985, os adventistas ratificaram a crença fundamental nº 23 (à
época) e se posicionaram ao dizer que a igreja “incentiva cada membro da família a
fortalecer sua dimensão espiritual e sua relação familiar por meio de amor mútuo, honra,
respeito e responsabilidade” (2012a, p. 60).
Em 1990, na declaração “Família”, os adventistas afirmaram, em consonância com
sua declaração de crenças, que “o matrimônio, feito de amor mútuo, honra, intimidade e
compromisso vitalício, reflete o amor, a santidade, a intimidade e a permanência do
vínculo entre Cristo e Sua igreja” (2012b, p. 58). Por sua vez, “o ensino e a correção dos
filhos por seus pais e a amorosa resposta dos filhos à afeição a eles demonstrada refletem
a experiência dos crentes como filhos de Deus. Pela graça divina, a família pode ser um
meio poderoso para conduzir seus membros a Cristo” (p. 58).
Nos anos de 1995 e 1996, a igreja abordou em dois documentos a questão da
violência no ambiente familiar. No primeiro, declarou: “Aceitamos nossa
responsabilidade de cooperar com outros serviços profissionais em atender e cuidar
daqueles que sofrem de abuso e violência no âmbito doméstico, em chamar atenção para
as injustiças e em falar em defesa das vítimas” (2012c, p. 63). No segundo, mais amplo,
apresentou três compromissos: (1) “interessar-se pelos envolvidos em violência
doméstica e mostrar-se sensível às suas necessidades”; (2) “fortalecer a vida familiar” por
meio de instrução bíblica, “compreensão dos fatores que contribuem para a violência na
família”, estratégias de prevenção e “correção de crenças religiosas e culturais usadas
frequentemente para justificar ou encobrir a violência na família”; e (3) “aceitar a
responsabilidade moral de estarmos alertas e de reagirmos ao abuso nas famílias de

214
nossas congregações e comunidades, declarando que tal comportamento abusivo é uma
violação das normas adventistas de vida” (2012c, pp. 65, 66).
Finalmente, na declaração intitulada “Matrimônio”, em 1996, os adventistas
reiteraram a ideia de que o casamento foi “instituído no Éden e confirmado por Jesus
Cristo para ser monogâmico e heterossexual, uma união vitalícia de amoroso
companheirismo entre um homem e uma mulher” (2012d, p. 61). Tal união “é a única
esfera moralmente apropriada para a expressão sexual genital e as intimidades a ela
associadas” (p. 61). A igreja ainda reconhece que “o matrimônio não é o único plano de
Deus para a satisfação das necessidades humanas de relacionamento ou para conhecer a
experiência de família. O celibato e a amizade dos solteiros estão também dentro do
desígnio divino”; contudo, a Bíblia apresenta “uma sólida demarcação social e sexual
entre tais relações de amizade e o casamento” (2012d, p. 62).

Princípios editoriais
1. Deve-se enfatizar o modelo de família no qual um casal heterossexual e
monogâmico estabelece o lar tendo os princípios bíblicos como fundamento.
Desse modo, homem e mulher têm papéis distintos e complementares, e a
submissão mútua deve moldar o relacionamento a dois.
2. Adultério e jugo desigual devem ser tratados como desvios do propósito de Deus
para a família, pois trazem sofrimento emocional e social, bem como um impacto
negativo sobre a espiritualidade e a salvação dos cônjuges e dos filhos.
3. O recasamento não deve ser tratado como uma alternativa válida se não ocorrer
em um contexto no qual um dos cônjuges seja viúvo ou tenha sido vítima de
adultério.
4. Quanto à criação de filhos, deve-se estimular o planejamento familiar e a
paternidade/maternidade responsável, que reconhece os privilégios e obrigações
de pais e filhos.

215
5. A violência familiar deve ser condenada e combatida com instrução preventiva e
corretiva, de acordo com os preceitos bíblicos e os melhores conhecimentos
disponíveis.
6. Deve-se reconhecer que outros arranjos familiares são possíveis, incluindo o
celibato e os lares sem filhos, com filhos adotivos, reconstituídos e
monoparentais; contudo, nenhuma configuração familiar contrária aos preceitos
bíblicos deve ser legitimada e incentivada, embora deva ser tolerada e respeitada.
7. Nenhuma condição familiar deve ser alvo de discriminação, constrangimento ou
humilhação.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012a). Lar e família. Em
Declarações da igreja (p. 60). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012b). Família. Em Declarações da


igreja (pp. 58, 59). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012c). Abuso e violência na família.
Em Declarações da igreja (p. 63). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012d). Matrimônio. Em Declarações


da igreja (pp. 61, 62). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012). Violência doméstica. Em


Declarações da igreja (pp. 64-66). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2013). O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2014). Testemunhos para a igreja (V. 4). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

White, E. (2015a). A ciência do bom viver. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2015b). Testemunhos para a igreja (V. 5). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

White, E. (2016). Mensagens aos jovens. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

216
FILMES. Nascida no século 19, a cinematografia une em si “as artes do espaço
(arquitetura, escultura e pintura)” e as “artes do tempo (música, dança e poesia)” (Pereira,
2017, p. 38). Nesse sentido, o uso editorial da produção cinematográfica deve ser regido
pelos mesmos princípios teológicos que norteiam as demais artes tratadas neste manual
(ver Imagens e Recursos Artísticos, Música, Literatura).
A Bíblia revela que Deus é um Ser criativo (Gn 1, 2; Êx 28; Ap 21). Ao formar a
humanidade à Sua imagem e semelhança, dotou Seus filhos com a capacidade de também
usar a criatividade (Gn 1:27; 4:21, 22) e se expressar artisticamente (Êx 28:3; 31:1-6;
35:30-35; 1Rs 4:29-34). Uma vez que nossas ações devem servir para glorificar a Deus
(1Co 10:31), toda produção artística deve refletir princípios aprovados por Sua Palavra
(Rm 12:1, 2; Cl 3:1, 2; 13:14). Isso significa que devemos ter cuidado com tudo aquilo
que tenha potencial para minar a fé (Cl 2:8; 1Tm 1:4; 4:7) ou fomentar a imoralidade,
murmurações e soberba (Nm 16:20-40; Sl 21:3, 4; 1Co 10:10, 11; 2Co 10:17, 18; Ef 4:29;
5:3, 4; Fp 2:14, 15). Além disso, a produção artística não deve promover atitudes
negativas contra o próximo (Êx 20:16; Pv 6:16-19; Mt 5:21, 22; Ef 4:25; 1Pe 3:9, 10)
nem divisões entre o povo de Deus (Pv 6:16-19; Rm 16:17, 18; 1Co 1:10-13; Gl 5:19-21;
Fp 2:3).
Ellen White não testemunhou a consolidação da cinematografia como
entretenimento. Contudo, ela conheceu a influência da literatura popular de sua época,
bem como o entusiasmo provocado pelos espetáculos teatrais, certamente uma das
principais influências para o surgimento do cinema.
A autora criticou romances, contos, novelas, fábulas, narrativas míticas, comédias e
ficções produzidos em seus dias (White, 1997, p. 235; 2010a, p. 16; 2014a, p. 143). Além
disso, reprovou histórias que retratavam o cotidiano de modo irreal (White, 2010a, p. 97),
exaltavam a malignidade humana (White, 2010b, p. 165), enalteciam o ser humano
(2010a, p. 14) ou que fossem redigidas “de modo a assumir a frivolidade de uma
representação teatral” (p. 16).
Sua preocupação quanto às representações teatrais refletia as condições desse
ambiente no século 19. Ela chamou o teatro de “viveiro da imoralidade”, lugar em que

217
“hábitos viciosos e tendências pecaminosas são fortalecidos e confirmados por esses
entretenimentos. As cantigas baixas, os gestos, expressões e atitudes indecentes
corrompem a imaginação e rebaixam a moral” (White, 2014b, p. 653). O que se percebe,
portanto, é que suas críticas em relação à literatura popular estavam relacionadas com as
peças teatrais do período, algo que se transferiu, consequentemente, aos primeiros filmes
produzidos.
Assim, a compreensão de que qualquer filme invariavelmente era inadequado para
os adventistas perdurou até meados da década de 1930. Contudo, em 1937, o Comitê
Executivo da Associação Geral aprovou o documento “Principles and standard in the use
of motion pictures”, que admitiu o uso de filmes selecionados para propósitos
educacionais, ilustrativos e recreacionais (1937, p. 1), preferencialmente fora de locais
“dedicados a apresentações e performances teatrais” (p. 3). O texto, no entanto, mantinha
a restrição “contra todos os filmes dramatizados que usam a atuação de personagem com
o propósito de representar um enredo teatral” (p. 3).
Na lista de “filmes aceitáveis” estavam produções que apresentavam imagens de
atividades industriais (processos fabris, utilidade pública, transportes, comércio,
informações), cenários da natureza, viagens culturais (“exceto cenas que possam ter
influência corruptora”), natureza e vida selvagem (“exceto cenas que enfatizam a
crueldade”), arte e arqueologia (“exceto filmes que mostram arte indecente e impura”),
boletins de notícia e história atual (“exceto filmes que são contrários aos nossos padrões
reconhecidos”), filmes educativos, imagens e lugares históricos e atividades
denominacionais (p. 3).
Por sua vez, a relação de “filmes inaceitáveis” trazia filmes que retratavam a
“Cristo e aos homens inspirados”; representavam cenas de “amor romântico”; “contrárias
aos padrões e ideais adventistas do sétimo dia, tais como dança, jogo de cartas, bebidas,
etc.”; “crimes ou exaltação a criminosos”; “violência ou crueldade, como lutas
profissionais”; diminuição da “estima pela santidade do casamento”; “vida noturna”;
imagens que apresentem o “fumo como atividade social”; ridicularizam a religião, o
ministério, a dignidade da pessoa humana ou as agências de aplicação da lei; “filmes de

218
caráter científico ou histórico que mesclam fatos deturpados com a realidade” ou que
“apresentam cenas de crueldade e derramamento de sangue” (p. 3). Em 1951, esse
documento foi revisado, e a proibição a filmes que retratavam “homens inspirados”,
retirada (Hancock, 1974, Apêndice 25).
Reagindo às várias mudanças sociais, culturais e religiosas que ocorreram
especialmente a partir da década de 1960, os adventistas se dedicaram a buscar respostas
teologicamente fundamentadas para atender às diferentes inquietações referentes à cultura
que surgiam entre os membros da igreja e também em suas instituições. A publicação do
documento “Guide to the teaching of literature in Seventh-day Adventist schools”,
preparado pelo Departamento de Educação da Associação Geral em 1971, é uma
evidência disso. Suas orientações a respeito do que era literatura aceitável ou não em
colégios confessionais procurou regulamentar uma questão sensível para muitos
professores, estudantes e membros da igreja.
Na sequência, nos anos de 1973 e 1974, a Associação Geral estabeleceu duas
comissões específicas: uma voltada para Rádio e TV e outra para orientações referentes a
atividades competitivas e dramatizações (Ellis, 2019, p. 80). Frank Knittel, membro dessa
última comissão, reconheceu que os princípios apresentados no documento sobre
literatura satisfaziam “os critérios para filmes e dramatizações, uma vez que todos caem
no domínio geral da comunicação verbal” (1974, Apêndice 26). Essa conexão pode ser
vista no relatório final da comissão, votado como documento em 1978.
O texto “Guidelines for the use of dramatization among Seventh-day Adventists”
estava voltado especialmente para as encenações promovidas pela igreja. Contudo,
expressa critérios que também podem ser utilizados na avaliação de filmes no contexto
adventista. Após apresentar considerações de Ellen White acerca da possibilidade do uso
das dramatizações em eventos denominacionais, o material afirma que “a dramatização
em si, como meio de comunicação, é de qualidade neutra. O conteúdo comunicado, a vida
do ator e a teatralidade de uma produção definem seu caráter” (1974, Apêndice 29). Por
isso, “uma filosofia orientadora sobre dramatização reconhece os perigos predominantes

219
do meio, enquanto identifica seu possível uso para o bem como comunicação, educação e
recreação nos ambientes adventistas do sétimo dia” (1974, Apêndice 29).
Na seção de critérios, a proximidade com o guia para o ensino de literatura fica
muito evidente. Com base no texto de Filipenses 4:8, o documento recomenda os
seguintes princípios:
a) “Fiel aos princípios, livre de distorção, simplificação ou exagero, evitando o
sensacionalismo (exploração de sexo ou violência ou outros elementos
calculados para chocar) e sentimentalismo barato.”
b) “Arte séria, caracterizada por uma tentativa honesta de apresentar uma visão
verdadeira e significativa da vida.”
c) “Ênfases equilibradas, evitando elementos que pareçam fazer o mal desejável
ou insinuar que a bondade seja trivial.”
d) “Propícia para purificar o pensamento e a conduta.”
e) “Permeada com um alto idealismo, digno de nossos afetos.”
f) “Livre de palavrões ou outro tipo de linguagem rude e ofensiva.”
g) “Caracterizada pela integridade artística e moral.”
Esses elementos estão contidos, embora de maneira muito resumida, no Manual
da igreja: “Devemos evitar tudo o que dramatize, apresente visualmente ou sugira os
pecados e crimes da humanidade – homicídio, adultério, roubo e males semelhantes, os
quais são em elevado grau os responsáveis pela decadência da moralidade” (2015, p.
154).
Portanto, o uso ou a recomendação de filmes no contexto editorial deve ser feito
com muito cuidado. O lembrete de Fernando Beier é bastante oportuno: “Todo filme trará
algum nível de influência, seja boa ou ruim. Compete a cada um buscar os mecanismos à
disposição para não ser enganado” (2019, p. 119).

220
Princípios editoriais
1. Deve-se priorizar a recomendação de filmes que explorem os seguintes temas:
documentários, viagens culturais, natureza e vida selvagem, ciências, artes,
arqueologia e história. É preciso também ter cautela para que o conteúdo desses
filmes esteja em harmonia com a cosmovisão bíblico-adventista. Caso isso não
seja possível, a indicação deve ser acompanhada de uma contra-argumentação
adventista cientificamente fundamentada.
2. Quando for necessário indicar filmes ficcionais, eles devem ser avaliados com
base nos seguintes critérios:
a) Ter conteúdo livre de distorções, evitando sensacionalismo (exploração de
sexo ou violência) e sentimentalismo.
b) Ser uma obra séria, caracterizada pela apresentação de uma visão verdadeira e
significativa da vida.
c) Evitar elementos que pareçam fazer o mal desejável ou insinuar que a bondade
seja trivial.
d) Ser livre de linguagem rude e ofensiva.
e) Ser caracterizada pela integridade artística e moral.
f) Fazer o espectador se sentir mais sensível à experiência humana.
g) Estimular a empatia.
h) Estar adaptado ao perfil do público-alvo.
3. Ao mencionar personagens de filmes ou seus intérpretes, deve-se levar em conta a
representatividade do personagem ou do artista, os valores que eles representam e
a pertinência da citação para o argumento do texto. Personagens ou seus
intérpretes cuja vida seja oposta aos valores bíblico-adventistas não devem ser
promovidos, e mesmo aqueles que aparentam estar em consonância com os
princípios denominacionais devem ser mencionados com muito critério.

Bibliografia
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222
HISTÓRIA. A história da Terra tem seu início com o relato da criação (Gn 1–2); contudo,
ela está inserida em uma moldura maior, a do grande conflito, que apresenta Satanás e
seus anjos em rebelião aberta contra o reino de Deus (Is 14:12-15; Ez 28:17, 18; Ap 12:7-
9). Fazendo uso do livre-arbítrio, o primeiro casal aceitou a proposta do inimigo e
permitiu que o planeta se tornasse o palco mais intenso da controvérsia entre Deus e
Satanás (Gn 3; Jó 1–2), algo que se evidencia ao longo da história. A Bíblia revela que o
Senhor deu ordens para que se mantivessem os registros históricos (Êx 17:14; 34:27, 28;
31:19, 21, 22), a fim de que seu estudo servisse para nossa reflexão e nosso aprendizado
(1Co 10:11). Ao relatar a trajetória humana, as Escrituras indicam que a história do
mundo segue uma sequência linear (início–fim), está sob controle de Deus, reflete o bom
ou mau emprego do livre-arbítrio humano e terá seu clímax na segunda vinda de Cristo
(Dn 2, 7, 8, 9, 11, At 17:24-27; Ap).
Em seus escritos, Ellen White defendeu o conceito de que “a Bíblia revela a
verdadeira filosofia da história” (White, 2016, p. 173). Assim, indicou alguns pontos
fundamentais: (1) “A Bíblia é a história mais antiga e compreensiva que os homens
possuem”; (2) apresenta quem “lançou os fundamentos da Terra”; (3) mostra um “relato
autêntico da origem das nações”; (4) e revela “a história de nossa raça, não maculada do
orgulho e preconceito humanos” (p. 173). Ademais, as Escrituras vão além da exposição
convencional da história, na qual “o desenvolver dos acontecimentos em grande parte
parece determinar-se” pelo “poder, ambição ou capricho” humanos (p. 173). Para ela, tal
perspectiva não poderia deixar de ser prejudicial, pois “as pungentes repetições de crimes
e atrocidades, as monstruosidades, as crueldades que são descritas, plantam sementes que
em muitas vidas produzirão fruto em uma colheita de males” (White, 2016, p. 238). “Na
Palavra de Deus, porém, afasta-se a cortina, e contemplamos ao fundo, em cima, e em
toda a marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de um
Ser todo misericordioso, a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua
própria vontade” (White, 2016, p. 173).
Por sua vez, o estudo proveitoso da história “proporcionará amplas e compreensivas
visões da vida” (White, 2015, p. 442). Isso inclui perceber a interdependência dos seres

223
humanos, como “nos achamos ligados na grande fraternidade social e das nações, e em
que grande medida a opressão e o aviltamento de um membro importam em prejuízo de
todos” (p. 442). Em síntese, “devemos ver na história o cumprimento da profecia, estudar
as operações da Providência nos grandes movimentos reformatórios, e entender o
progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do
grande conflito” (White, 2010, p. 307).
Ao refletir sobre a visão adventista em relação à história, Zhigankov se volta para
elementos fundamentais da cosmovisão cristã – os conceitos sobre Deus, homem, ética e
história – e extrai os seguintes princípios: (1) “visões teístas afetam fortemente a
percepção da história, embora não a predetermine inteiramente, já que os fatos históricos
sempre controlam o historiador”; (2) “aceitar a imagem bíblica do homem ajuda o
historiador cristão a ver a história [...] sem os óculos perversos de hipóteses humanistas
duvidosas [marxismo, capitalismo, naturalismo]”; (3) “a compreensão de que os seres
humanos são seres responsáveis, que receberam leis morais específicas, fornece ao
historiador uma ferramenta para avaliar os eventos da história como tendo valor moral
intrínseco”; e (4) “a abordagem adventista do sétimo dia em relação à história é baseada
na abordagem historicista para interpretação dos livros de Daniel e Apocalipse” (1999,
pp. 8-10).
Gary Land também tocou nesses temas, ao apresentar aquilo que chamou de as “três
suposições básicas” para um historiador adventista: a “compreensão cristã da natureza
humana, o julgamento moral bíblico e o senso de que a vida espiritual é de extrema
importância” (1998, p. 13). Ele concluiu sua argumentação dizendo: “Assim como nosso
ponto de vista cristão nos torna conscientes e nos ajuda a entender as evidências que
encontramos, as evidências também interagem com essa cosmovisão cristã, modificando-
a na direção de um maior realismo sobre o mundo atual. [...] O esforço para compreender
o passado da humanidade é uma tarefa séria que exige honestidade, perseverança e
humildade, bem como pensamento crítico, qualidades que nos permitem lidar com as
dimensões mais profundas da experiência humana” (Land, 1998, p. 18).

224
Princípios editoriais
1. A perspectiva adventista de história deve levar em consideração a realidade do
grande conflito e o fato de que Deus tem controle sobre os eventos mundiais, que
ocorrem em uma sequência linear e culminarão na segunda vinda de Cristo.
2. O estudo da história deve proporcionar uma visão mais ampla da vida, para além
da perspectiva humana convencional, que se concentra nas relações de ambição e
poder.
3. A visão teísta, que inclui a teoria criacionista das origens, deve nortear a avaliação
dos eventos históricos.
4. A história deve ser compreendida a partir da perspectiva bíblica do ser humano
como agente moral livre, o que confere aos fatos históricos um componente moral
intrínseco que precisa ser analisado.
5. Perspectivas históricas que sejam divergentes da cosmovisão bíblico-adventista
podem ser debatidas e avaliadas criticamente, mas não devem ser promovidas ou
endossadas.

Bibliografia
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Zhigankov, O. (1999). Teaching national history in the context of the Biblical-Christian
worldview. Recuperado de https://tinyurl.com/y58zdgm7.

226
IMAGENS E RECURSOS ARTÍSTICOS (ver também Adorno e Vestuário). A beleza e a
complexidade da Terra (Gn 1, 2; Êx 28) e a descrição da nova Terra (Ap 21) demonstram
que Deus é um Ser criativo. Por extensão, ao formar a humanidade à Sua imagem e
semelhança, o Senhor dotou Seus filhos com a capacidade de usar a criatividade (Gn
1:27; 4:21, 22) e se expressar artisticamente (Êx 28:3; 31:1-6; 35:30-35; 1Rs 4:29-34). A
Bíblia afirma que Ele concedeu sabedoria e aptidão para que pessoas pudessem fazer
entalhes (1Rs 6:18, 29, 32, 35), desenhos (Ez 4:1), tinturas (Ex 25:5; 26:14), gravações
(Êx 28:9-11, 21, 36-38), lapidações (Êx 31:5; 35:33), costuras/bordados (Êx 26:1, 31, 36;
27:16), cerâmicas (1Cr 4:23; Jr 18:1-6) e fiações (Êx 26:1-13, 31, 36), entre outras
habilidades. Seguindo o princípio de que nossas ações devem servir para glorificar a Deus
(1Co 10:31), toda produção artística deve refletir princípios aprovados por Sua Palavra
(Rm 12:1, 2; Cl 3:1, 2; 13:14).
Ellen White abordou o uso de recursos artísticos, especificamente de ilustrações,
nas publicações adventistas e tratou de questões como propósito, qualidade, temas e
custos. Em primeiro lugar, ela entendia que as imagens deveriam conter “lições que
orientam o estudo do próprio livro” (White, 2010a, p. 110), ilustrar “acertadamente os
temas tratados” (White, 1997, p. 238) e servir para ajudar pessoas menos instruídas a
entender a mensagem de modo simples e claro (White, 2009, p. 159; 2010a, p. 96).
Portanto, as ilustrações deveriam ter um propósito pedagógico. “Quando as ilustrações
apresentam lições que induzem a estudar o livro, isso é conveniente”; entretanto, imagens
que “afastam a atenção da verdade contida no livro e se fixam nelas mesmas” fracassam
no objetivo de “contribuir com o livro por meio das ilustrações” (White, 1997, p. 239).
Além disso, Ellen White prezava pela qualidade das imagens usadas nas
publicações. “As figuras/quadros que representam cenas bíblicas não devem ser desenhos
mal-acabados” (White, 2010a, p. 110). Em seu entendimento, a reprodução grosseira dos
temas bíblicos tende a imprimir na “memória cenas que dão uma falsa concepção de
Cristo e das coisas celestiais” (p. 110). Assim, “muitas das pinturas malfeitas que
aparecem em nossos livros e revistas dão uma ideia enganosa para o público” (p. 112).
Ela temia que a falta de qualidade das imagens pudesse rebaixar as publicações

227
denominacionais à semelhança de almanaques cômicos (p. 113). Por isso, era enfática ao
afirmar que a “devida representação de cenas bíblicas requer talento de superior
qualidade.” “Proíba Deus que agrademos ao diabo abaixando as normas da verdade eterna
mediante o emprego de ilustrações que serão ridicularizadas por homens, mulheres e
crianças” (p. 110).
No que diz respeito aos temas das ilustrações, Ellen White rejeitava a reprodução de
imagens alusivas à Inquisição (White, 2010a, p. 113) e ao martírio de cristãos ao longo da
história, pois tais desenhos impactam negativamente a vida espiritual (White, 1997, p.
240). Em relação às ilustrações bíblicas, ela esperava que as imagens fossem coerentes
com o texto sagrado e dignas de representar os personagens de sua narrativa (p. 240).
Quanto a esse ponto, algumas citações da autora têm sido mal utilizadas para
combater o uso de ilustrações de elementos celestiais, configurando uma transgressão do
segundo mandamento (Êx 20:4). Uma delas diz: “nem Deus, nem o Céu, nem Cristo, que
é a imagem do Pai, podem ser representados acertadamente pelo gênio artístico de um
homem” (White, 1997, p. 243). Outra afirma: “Deus pode formar ilustrações mais belas e
corretas, no olho da mente, do que aquelas que poderia realizar o melhor artista que tenha
oferecido ao mundo uma representação das coisas celestiais” (p. 243).
Os críticos do uso de ilustrações se precipitam quando utilizam essas passagens
para condenar essa prática editorial. Em primeiro lugar, ignoram o contexto em que Ellen
White fez essas afirmações. As duas foram escritas em cartas distintas no ano de 1899 e
são parte da argumentação dela quanto aos exageros dos editores no uso de imagens.
Desse modo, o que estava em jogo não era o tema da ilustração, mas seus custos.
Em diversas ocasiões, a escritora admoestou administradores e editores das casas
publicadoras a serem racionais quanto ao emprego de ilustrações. Naqueles dias, foi-lhe
mostrado que “a abundância de ilustrações feitas para os nossos periódicos e livros está se
tornando uma ambição não santificada; e os perigos de rivalidade estão atingindo um grau
alarmante” (White, 2010a, p. 111). Como resultado, o trabalho editorial adventista estava
se afastando da simplicidade da fé, e os produtos estavam incorrendo em custos
excessivos e grandes atrasos, que dificultavam sua distribuição.

228
A fim de demonstrar a atitude de Ellen White referente a esse assunto, Merlin Burt
apresenta exemplos de como a autora lidava com as ilustrações de seus livros. Ela não
somente apoiava o uso de imagens como também participava ativamente de seu processo
de escolha e aprovação, e isso após 1899. Além disso, Ellen White publicou um desenho
de seu esposo intitulado “Christ, the Way of Life” (Burt, 1987, p. 1), tinha em sua
biblioteca ao menos dois livros referentes a ilustrações bíblicas (p. 5) e mantinha em sua
casa, em Elmshaven, no caminho entre seu quarto e o escritório, um quadro da última ceia
(p. 6). O pesquisador conclui seu arrazoado dizendo que, “mesmo tarde em sua vida,
Ellen White se sentia confortável em usar ilustrações cuidadosamente feitas de certas
‘coisas celestiais’ em seus livros. Ela também as via como ferramentas valiosas para
transmitir a verdade. Quando tais imagens de boa qualidade estavam disponíveis, não
iriam atrasar a produção de seus livros nem aumentar seus custos indevidamente, Ellen
White as usava em seus livros” (Burt, 1987, p. 7).
Evidentemente, ela não tratou de todos os recursos gráficos que agora estão
disponíveis no ramo editorial. Contudo, suas orientações demonstram princípios
importantes para a prática contemporânea. Ellen White mantinha uma postura pragmática
e ponderada quanto ao uso de ilustrações. Uma vez que elas fossem bem-feitas, coerentes
com a realidade bíblica, usadas de maneira pedagógica e não incorressem em tempo ou
custos desnecessários, deveriam compor a literatura adventista, servindo como apoio para
a absorção de sua mensagem.
No contexto adventista contemporâneo, critérios sobre a produção, avaliação e
estudo da arte foram discutidos em alguns fóruns acadêmicos, e podem ser úteis à prática
editorial. Marquita Halstead (2008, p. 43) sugere um esboço de currículo para o ensino de
artes que indica quatro áreas relevantes da disciplina: (1) produção (conhecimento das
habilidades e técnicas), (2) crítica (descrição, interpretação, avaliação, teorização e
julgamento das qualidades e propriedades da arte visual), (3) história (compreensão das
produções artísticas ao longo do tempo, conhecimento dos estilos e técnicas usados,
entendimento sobre como interagem com movimentos culturais, políticos, sociais,
religiosos e econômicos) e (4) estética (avaliação da natureza, significado, impacto e

229
valor da arte). Assim, parece ser oportuno considerar esses pontos no processo decisório
acerca do uso de recursos artísticos.
Por sua vez, John Wesley Taylor V propõe uma abordagem baseada em cinco
critérios fundamentais para “identificar princípios bíblicos que guiam a expressão criativa
e prover regras para avaliação artística” (2008, p. 6).
Em primeiro lugar, “níveis de entendimento influenciam a apreciação” (Taylor,
2008, p. 6). Segundo o autor, existem três níveis de compreensão artística: sensação (o
que uma pessoa percebe a partir dos órgãos dos sentidos e que desperta uma emoção),
compreensão (a relação entre meio e mensagem) e avaliação. Quanto à avaliação, Taylor
destaca que deve ser feita com base na cosmovisão pessoal, e “isso requer discernimento,
pois se coloca a experiência estética dentro de um quadro conceitual e a expõe a
princípios normativos e critérios de julgamento” (2008, p. 6). Para os cristãos, “um
trabalho estético não deve ser apenas algo compreensível ou de que se gosta, mas uma
experiência que eleva a um plano maior, espiritual” (p. 7).
Em segundo lugar, o autor declara que “meio [estilo] e mensagem devem ser
considerados” (Taylor, 2008, p. 7). Quanto à mensagem, Taylor ressalta que “as formas de
arte podem ser usadas para transmitir muitos tipos de mensagens: realismo ou fantasia,
verdade ou falsidade, bem ou mal” (p. 7). “De fato, a arte geralmente amplia o impacto de
uma ideia. Acrescenta força à cosmovisão encapsulada, seja ela qual for. […]
Consequentemente, a mensagem artística deve ser cuidadosamente examinada, para ver
se corresponde às crenças de uma pessoa” (p. 7). Em relação ao estilo, ele afirma que os
cristãos não devem ter receio de apreciar expressões artísticas de diferentes períodos
históricos ou contextos culturais; contudo, devem avaliar todos os estilos e usar como
critério a cosmovisão cristã. Finalizando, também reitera que, “ao longo do tempo, certas
formas de arte tornam-se simbolicamente associadas a mensagens particulares” (p. 7), e
isso deve ser levado em consideração ao se avaliar tais obras.
Em terceiro lugar, “é possível diferenciar habilidade técnica e cosmovisão”
(Taylor, 2008, p. 7). Desse modo, pode-se reconhecer que um artista alcançou excelência
técnica, ainda que não se concorde com sua perspectiva de vida. “Em outras palavras,

230
uma obra de arte não é desprezível porque discordamos da cosmovisão do artista. Por
outro lado, se algo imoral ou falso é incorporado numa grande obra, pode ser muito mais
destrutivo do que se fosse expressa grosseiramente” (pp. 7, 8). Assim, “quanto maior a
excelência da obra de arte, mais cuidadosamente sua cosmovisão deve ser criticada” (p.
8).
Em quarto lugar, “tanto o propósito quanto o efeito de uma obra de arte devem ser
cuidadosamente considerados” (Taylor, 2008, p. 8). Existem algumas razões pelas quais
uma obra de arte é feita. Taylor assinala três delas: simplesmente pela beleza, “como uma
avenida para a imaginação” e como “elemento de adoração” (p. 8). Contudo, para o
cristão, “o teste final de uma obra de arte é seu efeito na vida espiritual de uma pessoa. A
arte que nos ajuda a ser pessoas melhores [...] é apropriada para o cristão estudar e criar”
(p. 8).
Finalmente, “embora a expressão artística deva sempre transmitir uma mensagem
espiritual edificante, não precisa ser religiosa” (Taylor, 2008, p. 8). O autor reconhece que
“a expressão artística pode se concentrar em temas religiosos”; contudo, “o tema religioso
não garante que uma obra de arte transmita uma cosmovisão cristã’ (p. 8). Por sua vez,
“as dimensões não religiosas da vida também oferecem temas apropriados para o artista
cristão, desde que a totalidade da vida seja vista a partir de uma perspectiva do Espírito”
(p. 8). Taylor ainda afirma que “expressões artísticas não religiosas são apropriadas para o
cristão se transmitirem valores espirituais e elucidarem a cosmovisão cristã” (p. 9).
Por fim, é importante lembrar que a “arte é um meio de autoexpressão, um ponto de
vista singular expresso em cada criação. Ela nasce a partir das ideias, emoções,
pensamentos, sentimentos, medos, sonhos e observações do artista” (Root, 1989, p. 32).
Assim, as publicações adventistas devem ser um canal pelo qual boas peças artísticas e
bons artistas possam ser instrumentos para conduzir os leitores a uma experiência mais
profunda com o Senhor de toda arte.

231
Princípios editoriais
1. Sempre que necessário, imagens e recursos artísticos como objetos, modelos,
gráficos, grafismos, mapas, diagramas, desenhos, tabelas e infográficos, entre
outros, devem ser usados de modo equilibrado, proposital e didático.
2. As imagens e recursos artísticos referentes às cenas bíblicas devem ser de
qualidade, nobres e condizentes tanto quanto possível com o relato das Escrituras.
Neles não deve haver nenhum traço que desvalorize, distorça ou ridicularize o
relato sagrado.
3. Representações de Jesus Cristo devem ser feitas com muito critério, considerando
Seu contexto histórico, étnico e social. Além disso, é preciso cuidar para que as
imagens de Seu ministério e Sua cruz não sejam identificadas com tradições
religiosas que divergem da cosmovisão bíblico-adventista.
4. Não se deve usar imagens ou recursos artísticos que sejam sangrentos, chocantes
ou indecentes.
5. Em algumas publicações, como livros didáticos, faz-se necessário o uso de
imagens históricas, culturais, étnicas ou obras de artes que envolvem a exposição
do corpo, bem como violência. Nesses casos, as imagens devem priorizar um
ângulo de apresentação que não exiba suas partes inadequadas e ser analisadas de
acordo com os seguintes critérios: idade e maturidade do público a que se
destinam, contexto em que são usadas e relevância para o entendimento do texto
que estão ilustrando.
6. Deve-se cuidar para que os símbolos usados em vinhetas, fundos e grafismos não
estejam associados a crenças ou movimentos divergentes da cosmovisão bíblico-
adventista.
7. Ao retratar a figura humana, as ilustrações devem preservar todos os membros e
órgãos do sentido, embora seja possível apresentá-las de maneira desproporcional,
conforme adequação ao público-alvo.
8. Deve-se considerar a variedade étnica ao ilustrar livros e revistas, levando em
conta a diversidade dos leitores alcançados pela editora.

232
9. O uso de marcas ou rótulos comerciais deve seguir os seguintes critérios: a
legislação nacional sobre direitos autorais, idade e maturidade do público a que se
destinam, contexto em que são usadas e relevância para o entendimento do texto
que estão ilustrando.
10. Ao ilustrar elementos folclóricos, deve-se considerar os seguintes critérios: idade
e maturidade do público a que se destinam, contexto em que os recursos são
usados e relevância para o entendimento do texto que estão ilustrando.
11. Super-heróis, duendes, fadas, fantasmas, ogros, espíritos, monstros ou outros seres
mitológicos da cultura popular não devem ser ilustrados, a não ser que haja um
propósito didático objetivo, num contexto de análise crítica de tais elementos.
Mesmo assim, o uso deve ser criterioso.
12. O uso de imagens e recursos artísticos deve ser norteado pelos seguintes critérios:
a. Produção: tecnicamente bem feitos.
b. Crítica: sua avaliação deve ser feita à luz da cosmovisão bíblico-
adventista.
c. História: como a imagem ou recurso artístico interage com diferentes
movimentos culturais, sociais, políticos e religiosos ao longo do tempo.
d. Estética: seus significados devem ser convergentes com a cosmovisão
bíblico-adventista.
e. Propósito: a imagem ou o recurso artístico enobrece e enleva ou
empobrece e rebaixa o caráter daquele que o contempla?

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234
JOGOS. Evidências arqueológicas indicam que há milênios a humanidade utiliza
diferentes tipos de jogos para recreação. Embora a Bíblia não mencione especificamente
nenhum deles, a presença de “diversos brinquedos infantis encontrados na Palestina
confirma que as crianças hebreias, assim como as crianças de quase todas as culturas e
épocas, brincavam com jogos recreativos” (Vickers, 2003, p. 619). Corroborando essa
informação, Allen Myers lembra que “alguns jogos de tabuleiro podem ter se originado
na Mesopotâmia, onde, por exemplo, o xadrez era jogado no terceiro milênio a.C.” (1987,
p. 401).
Em sua principal citação sobre o tema, Ellen White afirmou: “Não é essencial à
nossa salvação, nem para a glória de Deus, manter o espírito em contínuo e excessivo
labor, mesmo sobre temas religiosos. Há distrações, como a dança, o jogo de cartas,
xadrez, damas, etc., que não podemos aprovar porquanto o Céu as condena. Essas
diversões abrem a porta a grandes males. Não são benéficas em sua tendência, antes
exercem efeito excitante, produzindo em alguns espíritos uma paixão por aquelas
diversões que conduzem ao jogo e à dissipação. Todos esses divertimentos devem ser
condenados pelos cristãos, e seu lugar ser substituído por qualquer coisa perfeitamente
inofensiva” (White, 2014a, p. 514).
Ao longo do tempo, esse texto foi usado para condenar qualquer tipo de jogo de
salão. Entretanto, um estudo mais cuidadoso demonstra que a preocupação de Ellen
White não estava centrada no jogo em si, mas em suas implicações para a vida. Jud Lake
(s/d) analisou contextualmente a citação, escrita em 1867, e destacou alguns pontos.
Em primeiro lugar, Ellen White escreveu em um período no qual jogos de cartas,
damas e xadrez, entre outros, eram associados a comportamentos reprováveis como
vícios, falsidade, engano, embriaguez e confusão. Isso fica evidente em outras citações
nas quais ela destaca os problemas associados aos jogos. Por exemplo, em 1881,
declarou: “Deve-se proibir o jogo de cartas. As companhias e tendências são perigosas.
[...] A conversa gira em torno de assuntos triviais e degradantes. Ouve-se aí gracejo
indecente, palavreado baixo e vil, que diminui e destrói a verdadeira dignidade varonil.
Essas diversões são as mais néscias, inúteis, prejudiciais e perigosas atividades que os

235
jovens podem praticar. [...] A perícia no manuseio das cartas conduzirá logo ao desejo de
empregar esse conhecimento e tato em proveito próprio. É apostada uma pequena soma e,
em seguida, uma maior, até que se adquire uma sede de jogar que leva a ruína certa. A
quantos não têm essa diversão perniciosa levado a toda sorte de práticas pecaminosas, à
miséria, à prisão, ao assassínio e à morte” (White, 2014b, p. 652).
Por isso, Ellen White via nesses divertimentos a porta de entrada para “grandes
males”, tendo “efeito excitante” e estimulando a “paixão por aquelas diversões que
conduzem ao jogo e à dissipação”, ligada à perda da saúde, do dinheiro e, por fim, da
salvação. Em outra citação, ela deixa claro que “exercícios mentais como jogar cartas,
xadrez e damas, agitam, fatigam a mente e impedem a recuperação” dos doentes, que
eram ensinados a ficar reclusos quando deveriam estar ativos em trabalhos físicos à luz do
Sol (White, 2014a, p. 555).
Seria esse o caso na atualidade? Jud Lake pondera: “Certamente, pode-se
argumentar que alguns jogos de cartas estão associados ao jogo de azar e, em alguns
ambientes on-line, xadrez e damas também podem ter essa associação. Mas, em geral,
esses jogos não estão ligados ao jogo de azar e aos vícios que o acompanham,
especialmente no contexto familiar” (s/d, p. 3).
Desse modo, é preciso identificar qual é o princípio bíblico por trás da reprovação
de Ellen White aos jogos no século 19. O autor declara: “Os cristãos devem evitar
qualquer divertimento associado à imoralidade, como jogar, beber ou estimular a
atividade sexual. [...] Assim, enquanto um jogo de tabuleiro estiver livre dessas ou de
quaisquer outras influências negativas como o espiritualismo (tábua de Ouija), não
acredito que Ellen White faria uma declaração sobre isso hoje, contanto que o jogo não
seja levado ao extremo” (Lake, s/d, p. 4).
Isso parece se harmonizar com a visão equilibrada que a autora nutria em relação ao
divertimento sadio. Ela afirmou: “Há pessoas de imaginação doentia, para quem a religião
é um tirano, governando-as com vara de ferro. [...] Ficam frias ao inocente riso da
juventude ou de quem quer que seja. Consideram toda recreação ou diversão pecado, e
pensam que a mente deve estar constantemente trabalhando no mesmo grau de severa

236
tensão. Isto é um extremo. Outras acham que a mente deve estar de contínuo em tensão
para inventar entretenimentos e diversões a fim de obter saúde. [...] Vão ao outro
extremo. Os verdadeiros princípios do cristianismo abrem a todos uma fonte de
felicidade, cuja altura e profundidade, comprimento e largura são incomensuráveis”
(White, 2014a, p. 565).
Por isso, Lake conclui sua argumentação dizendo: “Se jogar jogos de tabuleiro
simples (ou jogos de computador) se torna uma obsessão para uma pessoa, consumindo
quantidades exageradas de tempo”, esse comportamento deve ser “controlado ou
descartado”. Por outro lado, se a brincadeira é benigna, “livre de qualquer influência do
mal e jogada na simplicidade e beleza das relações familiares, pode ser uma experiência
positiva para todos” (s/d, p. 5).

Princípios editoriais
1. O uso de jogos que estimulam a cooperação, o conhecimento, o raciocínio lógico,
a solidariedade e a recreação sadia podem ser recomendados.
2. Não se deve promover qualquer tipo de jogo que estimule vícios, ambição,
avareza, competitividade,* falsidade, engano, imoralidade, linguagem obscena,
profana ou qualquer coisa oposta à cosmovisão bíblico-adventista.
3. Atividades lúdicas que simulem jogos de azar como bingo, loteria, roleta, pôquer
ou similares devem ser evitados.

Bibliografia
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White, E. (2014b). Testemunhos para a igreja (V. 4). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

238
LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é reconhecida por seu
compromisso com a promoção de práticas saudáveis, a partir de uma perspectiva bíblica
(ver Saúde). Uma vez que o corpo é o templo do Espírito Santo (1Co 6:19, 20) e tudo o
que fazemos deve glorificar a Deus, incluindo o cuidado com a saúde (1Co 10:31), a
posição denominacional é contrária a tudo que conspira contra esses ideais.
Ellen White dedicou muito tempo de seu ministério para orientar contra o consumo
de substâncias prejudiciais, como o álcool, o fumo, os chás e entorpecentes. No livro
Temperança (2016) encontram-se os principais conceitos sustentados por ela a respeito
do tema. Em relação ao consumo de substâncias nocivas ao corpo, a autora defendia que
os adventistas deveriam se abster de artigos como chá, café, fumo e álcool. Além disso,
também tinha uma postura crítica quanto aos medicamentos recomendados pelos médicos
de seus dias, que incluíam os nocivos ópio, morfina, estricnina, arsênico, mercúrio e
quinino, promovendo em seu lugar o uso dos remédios naturais e da medicina preventiva
(ver “Estimulantes e narcóticos”, pp. 73-89).
Quanto a esse último ponto, é importante destacar que a autora revela bom senso a
respeito do uso de remédios cuja segurança e eficácia eram comprovadas. “Não é negação
da fé usar os remédios que Deus proveu para aliviar a dor e ajudar a natureza em sua obra
de restauração. Não é nenhuma negação da fé cooperar com Deus, e colocar-se nas
condições mais favoráveis para o restabelecimento. Deus pôs em nosso poder o obter
conhecimento das leis da vida” (White. 2015, p. 286). Digno de nota é que ela mesma foi
beneficiada com medicamentos e inovações contemporâneas da medicina (pp. 292-303).
Ellen White também encorajou a igreja a se posicionar publicamente contra a venda
e o consumo de substâncias tóxicas ao organismo, especialmente a bebida alcoólica. “Os
defensores da temperança deixam de cumprir seu inteiro dever a menos que exerçam sua
influência por preceito e exemplo – pela voz e pela pena e pelo voto – em favor da
proibição e da abstinência total” (White, 2016, pp. 253, 254).
Nessa luta em favor da temperança, Ellen White defendeu o trabalho colaborativo
com outras entidades promotoras da causa, como, por exemplo, a União Feminina de
Temperança Cristã. Não havendo comprometimento dos princípios defendidos pela Igreja

239
Adventista, deveria haver cooperação entre as entidades para alcançarem seu propósito
comum (White, 2016, pp. 223, 224).
Em consonância com esses princípios, a denominação emitiu documentos que
deixam clara sua posição quanto ao uso e à promoção de substâncias nocivas ao corpo.
Em sua declaração de crenças, Nisto cremos, a igreja afirma: “Visto que as bebidas
alcoólicas, o fumo e o uso irresponsável de medicamentos e narcóticos são prejudiciais a
nosso corpo, também devemos nos abster dessas coisas. Em vez disso, devemos nos
empenhar em tudo que submeta nossos pensamentos e nosso corpo à disciplina de Cristo,
o qual deseja nossa integridade, alegria e bem-estar” (2018, p. 351).
Em 1985, no documento “Uso de drogas”, a igreja reiterou essa compreensão
dizendo que, “para um viver saudável, os adventistas insistem que todos sigam um estilo
de vida que evite os produtos do fumo, as bebidas alcoólicas e o uso impróprio de drogas”
(2012a, p. 69). Cinco anos depois, a denominação asseverou: “A posição da igreja com
respeito ao uso do álcool e do fumo não mudou” (2012b, p. 67).
Assim, à medida que a sociedade procura impor a agenda da legalização das drogas,
é necessário que a Igreja Adventista seja enfática na defesa da temperança e relevante na
promoção de princípios de vida saudável.

Princípios editoriais
1. A Igreja Adventista tem o compromisso de defender o estilo de vida saudável,
conforme apresentado na Bíblia e nos escritos de Ellen White. Por meio das
publicações, a igreja e a sociedade devem encontrar informações relevantes que
auxiliem na educação antiálcool e antidrogas.
2. Historicamente, a Igreja Adventista é contrária à legalização de substâncias como
álcool e fumo. Coerentemente, também é contrária à legalização da maconha,
cocaína ou qualquer substância narcótica vendida para uso recreativo.
3. Materiais que relativizam o consumo de narcóticos sob o pretexto do uso
medicinal não devem ser produzidos na editora. Por sua vez, os adventistas
entendem que a ciência pode encontrar usos apropriados para os princípios ativos

240
encontrados nas matérias-primas dessas drogas e que, após o desenvolvimento de
medicamentos seguros e eficazes, livres de seus efeitos alucinógenos, o remédio
pode ser consumido de acordo com as prescrições médicas.
4. Apesar da importância da pauta antidrogas, deve-se ter bom senso, equilíbrio e
prudência ao discutir o assunto, evitando confrontos, polêmicas e provocações
inúteis e prejudiciais à imagem da igreja. É preciso manter o debate em alto nível,
apresentando argumentos sólidos.

Bibliografia
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Declarações da igreja (p. 69). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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substâncias químicas. Em Declarações da igreja (pp. 67, 68). Tatuí, SP: Casa
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241
LITERATURA. A Bíblia é reconhecida como uma antologia literária, cuja abrangência e
variedade se destacam entre as obras compostas ao longo da história. Sua preparação e
preservação foram direcionadas por Deus (2Tm 3:16, 17; 2Pe 1:20, 21), que intencionou
que houvesse um registro escrito que orientasse Seu povo (Êx 17:14; 34:27, 28; Dt 17:18-
20; Ap 1:11, 19).
As Escrituras são repletas de gêneros literários como (a) história ou narrativa
(Pentateuco, livros históricos do AT, evangelhos, Atos); (b) poesia (Jó, Salmos,
Eclesiastes, Cantares); (c) provérbios (Provérbios); (d) epístolas (paulinas e gerais); (e)
escrita visionária (livros proféticos do AT, Apocalipse). Além disso, os autores inspirados
utilizaram diversos recursos de linguagem, entre os quais se encontram (a) símiles e
metáforas (Sl 1:3; 23:1; 42:1; 57:4); (b) contrastes (Jr 2:2-8, 32-36); (c) parábolas (2Sm
12:1-6; Mt 13; Lc 15); (d) fábulas (Jz 9:8-15; 2Rs 14:9); (e) ironia dramática (Jó); (f)
alusões (Sl 133:1, 2); (g) personificações (Jz 5:17; Sl 73:9; 98:8); (h) hipérboles (Sl
18:29, 42; 42:3); e outros mais. Assim, a partir de uma análise da Bíblia como literatura, é
possível observar que existe uma ampla gama de recursos artísticos-literários que podem
ser usados para comunicar os princípios e valores estabelecidos por Deus.
Contudo, essa variedade não legitima todo tipo de obra escrita. Deve-se ter cuidado
com a literatura consumida, pois ela pode estimular o desvio da fé (At 19:18-20; Cl 2:8;
1Tm 1:4; 4:7). Além disso, a literatura não deve promover atitudes negativas contra o
próximo (Êx 20:16; Pv 6:16-19; Mt 5:21, 22; Ef 4:25; 1Pe 3:9, 10) nem divisões entre o
povo de Deus (Pv 6:16-19; Rm 16:17, 18; 1Co 1:10-13; Gl 5:19-21; Fp 2:3). Mesmo
escritos seculares podem, com critério, ser usados para propósitos nobres (Dn 1:4, 17; At
17:28; 22:3), desde que não fomentem imoralidade, apostasia, murmurações e soberba,
pois essas atitudes desonram o Senhor (Nm 16:20-40; Sl 21:3, 4; 1Co 10:10, 11; 2Co
10:17, 18; Ef 4:29; 5:3, 4; Fp 2:14, 15). Finalmente, é preciso considerar que as palavras
devem servir para edificação das pessoas, conforme a revelação divina (Ef 4:25, 29; 1Tm
4:13; 2Tm 2:24, 25; 4:2; Hb 10:24, 25)
No tempo de Ellen White, a imprensa era o principal meio de comunicação. Por
isso, ela escreveu muito acerca de como utilizá-la no cumprimento da missão, bem como

242
a respeito da qualidade das obras e dos periódicos produzidos. A autora criticou
duramente diversos gêneros literários propagados em seus dias, como o romance, o conto,
a novela, a fábula, a narrativa mítica, a comédia e a ficção. Para Ellen White, “a vida
religiosa não deve ser representada do púlpito ou em nossos folhetos na forma de um
romance”, pois “novelas e romances não honram nossas publicações” (White, 2010a, p.
16). O impacto desses tipos de escritos “debilita a impressão que deve ser causada pela
mais solene verdade já confiada aos mortais” (p. 17).
Nos periódicos adventistas não deveria haver “histórias vulgares, destituídas de
valor”, nem “artigos romanceados e de ficção” (White, 2010a, p. 13). Livros contendo
“histórias de amor” e “frívolos e excitantes contos” não deveriam ser publicados,
recomendados ou vendidos por editoras da denominação (White, 2014, p. 143; 1997, p.
235). Mesmo que contivessem traços de “boa moral”, e o autor tivesse permeado seu
texto com “sentimentos religiosos”, ainda assim trata-se de um instrumento de Satanás
“vestido em trajes angélicos, para, tanto mais eficazmente, enganar e seduzir” (White,
2014, p. 143).
A respeito da produção de livros, Ellen White também afirmou: “Tenho sido
instruída que histórias comuns apresentadas em forma de livro não são essenciais ao
nosso bem-estar” (2010a, p. 97). A autora tinha uma visão muito crítica quanto a histórias
que retratam o cotidiano de modo irreal. “Nós não necessitamos de fantasia; pois estamos
tratando com cruas realidades da vida” (p. 97).
Por outro lado, mesmo as realidades da vida deveriam ser apresentadas com
critério. A escritora não endossou a impressão de materiais cujos temas fossem as guerras
indígenas, os crimes ou as atrocidades. Mesmo livros estritamente históricos careciam de
análise cuidadosa, pois “as atrocidades, as crueldades e as práticas licenciosas descritas
nessas obras têm atuado em muitos espíritos como um fermento que os leva à prática de
atos semelhantes” (White, 2010b, p. 165).
Ela ainda criticou o uso de material nos periódicos que “se prestaria muito bem para
um almanaque humorístico” (White, 2010a, p. 13), que fosse redigido “de modo a
assumir a frivolidade de uma representação teatral” (p. 16) e que exaltasse o ser humano,

243
estivesse ele vivo ou morto. “Todo aquele que for a público, seja pela pena ou pela voz,
esteja livre de qualquer tendência de enaltecer um ser humano; pois, ao agir assim,
ultrapassa totalmente sua esfera de ação” (p. 14).
A partir das citações mencionadas, parece natural concluir que Ellen White tinha
uma opinião muito negativa em relação aos principais gêneros literários utilizados pelos
autores de seus dias. Contudo, a partir do final da década de 1940, pesquisadores
adventistas começaram a debater acerca das possíveis interpretações referentes aos
conselhos da autora quanto à literatura, especialmente ficcional.

Literatura em debate
Alguns fatores levaram estudiosos adventistas a investigar qual era a amplitude do
significado dos conselhos de Ellen White em relação à literatura (Tidwell, 2013, p. 946).
Em primeiro lugar, houve a necessidade de se compreender melhor o uso que a autora
fazia dos termos “ficção” e “novela” em seus escritos. Os pesquisadores foram levados a
analisar contextualmente o significado dessas palavras no período em que ela viveu.
Outro ponto importante estava relacionado com o aparente conflito entre a postura
de rejeição absoluta da ficção por parte da escritora e o uso, ainda que limitado, de
recursos ficcionais na composição da Bíblia.
Por fim, era preciso entender a suposta contradição entre seus escritos e suas
práticas, especialmente quanto à recomendação do clássico evangélico O peregrino
(1678), de autoria de John Bunyan, algumas de suas visões que foram transmitidas por ela
de forma alegórica e a publicação de Sabbath readings for the home circle, cujo primeiro
volume foi publicado em 1877.
Basicamente, as respostas a essas inquietações giraram entre dois extremos. Numa
das pontas do continuum estava a defesa de uma leitura rígida de seus escritos. Leon
Cobb (1966) foi o principal promotor dessa posição, negando a presença de ficção tanto
no texto bíblico quanto nas histórias publicadas em Sabbath readings. Em seu panfleto
“Give attendance to reading”, ele adotou um tom apologético e procurou responder aos
argumentos de que as orientações da autora quanto à ficção deveriam ser lidas à luz de

244
seus dias. Portanto, para resolver o problema de professores e alunos quanto aos
requisitos acadêmicos que demandavam o estudo de literatura, Cobb sugeriu um plano de
ensino baseado em esboços e resumos das obras exigidas pelo currículo escolar (1966, p.
26).
Delmer Davis (2002, pp. 53, 54) apresenta três objeções significativas aos
argumentos de Cobb. Em primeiro lugar, cita o tom negativo da abordagem proposta, que
parte do pressuposto de que toda ficção prejudica a experiência cristã. Na sequência,
critica o fato de que o autor “nunca aborda realmente a natureza variável e complexa dos
termos ‘ficção’, ‘novela’ e ‘história’” (p. 54). Por fim, considera contraditória a sugestão
de usar esboços e resumos para o conhecimento de autores e suas obras. “Por que ler uma
versão resumida é melhor do que ler a obra completa?” (p. 54).
Por sua vez, na outra ponta do continuum estavam estudiosos que defendiam uma
leitura contextualizada de Ellen White. Harry Tippett, Paul Gibbs e John Waller foram os
principais nomes contemporâneos de Cobb a elaborar estudos favoráveis à abordagem
analítica dos escritos da autora. O artigo de Waller intitulado “A contextual study of Ellen
G. White’s counsel concerning fiction” (1965) foi um divisor de águas para a
compreensão adventista a respeito do assunto.
Waller foi direto ao refutar as alegações de Cobb. Ele contextualizou as citações de
Ellen White em termos da discussão protestante sobre ficção e analisou os textos que
fizeram parte de Sabbath readings selecionados pela autora. Ao concluir seu texto,
afirmou ter dúvidas “se ela condenaria a abordagem cautelosa, seletiva e crítica para
alguma ficção padrão ou mais recente usada em nível de ensino médio ou faculdade”
(1965, p. 59).
No início da década de 1970, William Bradley (1971), membro do Patrimônio
Literário Ellen G. White, apresentou uma monografia intitulada “Ellen G. White on
literature” ao Comitê de Ensino de Literatura, em que corroborou as principais ideias de
Waller. Seu estudo foi introduzido por algumas considerações preliminares e trazia uma
série de materiais relacionados com a autora referentes à atitude dela quanto ao tema.

245
Ele defendeu três ideias principais. A primeira é que Ellen White não aprovava uma
peça literária somente por sua atualidade. “Em vez disso, o critério de dignidade
intrínseca do material deve ser aplicado, e seu efeito no caráter e na mente do leitor,
avaliado” (Bradley, 1971, p. 2). A segunda é que a autora foi muito seletiva no modo
como escreveu sobre certos escritores e ainda na maneira como usou alguns dos materiais
deles (p. 3). Finalmente, expressou que, ao estudar a compilação Sabbath readings, ele
mesmo não via razões para discordar das conclusões de Waller (p. 3).
Em 1971, a posição contextual ganhou força com a publicação do “Guide to the
teaching of literature in Seventh-day Adventist schools”, preparado pelo Departamento de
Educação da Associação Geral. Com base em um “cuidadoso estudo dos conselhos de
Ellen G. White e seu total relacionamento com os princípios de leitura” (Department of
Education, 1971, p. 3), o documento favoreceu o ensino criterioso de literatura ficcional e
não ficcional em escolas adventistas.
Ao abordar especificamente a relação entre Ellen White e a ficção, o guia seguiu o
entendimento de que ela “usou o termo ‘ficção’ para se referir a obras com as seguintes
características: (1) viciantes; (2) sentimentalistas, sensacionalistas, eróticas, profanas ou
inúteis; (3) escapistas, fazendo com que o leitor se volte para um mundo de sonhos e seja
incapaz de lidar com os problemas da vida cotidiana; (4) que inabilitam a mente para o
estudo sério e a vida devocional; (5) que consomem tempo e são sem valor” (Department
of Education, 1971, p. 4).
Desse modo, a literatura empregada em instituições educacionais adventistas
deveria:
a) “Ser uma arte séria. Isso levará a uma visão significativa da natureza do
homem na sociedade e será compatível com os valores adventistas do sétimo
dia.”
b) “Evitar o sensacionalismo (exploração do sexo ou da violência) e o
sentimentalismo (exploração de sentimentos mais brandos em detrimento de
uma visão de vida sã e equilibrada).”
c) “Não ser caracterizada por palavrões ou linguagem grosseira e ofensiva.”

246
d) “Evitar elementos que pareçam fazer o mal desejável ou insinuar que a
bondade seja trivial.”
e) “Evitar histórias simplórias, cheias de suspense ou dominadas por enredos que
estimulem uma leitura apressada e superficial.”
f) “Estar adaptada ao nível de maturidade do grupo ou indivíduo” (Department of
Education, 1971, pp. 3, 4).
O parecer oficial do Departamento de Educação da Associação Geral, partidário do
ensino cauteloso de literatura ficcional, incentivou a produção de materiais para o
aprofundamento desse conceito. Robert Dunn (1974) organizou uma compilação
contendo vários artigos abordando o assunto; John Wood (1976) escreveu aclarando
sobre como eram as diferentes publicações ficcionais nos dias de Ellen White; Delmer
Davis (1987) retratou como as novelas e ficções populares sufocaram nomes importantes
da literatura norte-americana do século 19 e, além disso, escreveu um importante livro
propondo uma abordagem adventista para o estudo literário (2002); e Charles Tidwell
(2013) foi o responsável por sintetizar a posição desenvolvida ao longo do tempo entre os
adventistas na Enciclopédia Ellen G. White.
Com a finalidade de resumir os principais fatores contextuais que envolvem as
citações de Ellen White quanto à literatura, George Knight propôs cinco pontos-chave. De
acordo com o autor, para compreender o que ela escreveu é preciso considerar que, em
seus dias, (a) “os clássicos gregos e latinos, lidos na língua original, ocupavam o centro
do currículo” educacional (2010, p. 158); (b) a produção de livros sensacionalistas estava
se expandindo rapidamente (p. 158); (c) as editoras adventistas estavam imprimindo
livros de terceiros com qualidade duvidosa (p. 159); (d) as ideias panteístas de John H.
Kellogg ameaçavam a teologia adventista e eram divulgadas por meio de literatura
especulativa na virada do século 19 (p. 160); e, por fim, (e) jornais religiosos estavam
incorretamente propagando ou “glorificando” autores seculares (p. 160).
Apesar dos vários estudos feitos e das diversas perspectivas apresentadas, o assunto
ainda continua sendo “controverso e contencioso”, conforme qualificou Keith Clouten
(2014, p. 10). O fato de que em alguns círculos adventistas o tema não esteja plenamente

247
maduro quanto ao ensino de literatura faz com que essa realidade influencie diretamente a
produção editorial da igreja.
Ao avaliar essa nuance do debate, Gary Land afirma: “Com uma visão negativa
acerca de ficção dominando o adventismo na maior parte de sua história, não é
surpreendente que as editoras adventistas tenham sido lentas ao adotar o gênero” (2015,
p. 197). Em realidade, após a publicação de Sabbath readings, é provável que o primeiro
livro adventista a usar recursos ficcionais tenha sido The marked Bible, lançado em 1919
(Land, 2015, p. 197).
Especialmente durante a segunda metade do século 20, é possível observar um
aumento no número de obras ficcionais produzidas pelos adventistas nos Estados Unidos
paralelamente às discussões conceituais a respeito do tema, ainda que os termos “ficção”
e “romance” não tenham sido empregados explicitamente. Desse modo, na transição para
o século 21, “ficou aparente que a ficção havia conquistado um lugar na subcultura
adventista, mesmo que essa cultura tenha permanecido receosa de utilizar uma
terminologia comum” (Land, 2015, p. 198). Essa constatação justifica o entusiasmo de
Scott Moncrieff (1996), que afirmou: “os professores de literatura podem selecionar ‘boa’
ficção para suas classes, e as editoras adventistas podem publicar ‘boa’ ficção”.
A despeito da maneira como os acadêmicos adventistas interpretaram o tema nos
escritos de Ellen White, é preciso manter em perspectiva que tais explicações não
substituem o fato de que ela jamais recomendou explicitamente a publicação de materiais
com as características positivas que posteriormente viriam a ser chamadas de “boa
ficção”. Como, então, interpretar o silêncio da autora quanto a isso? Antes de propor uma
resposta, é importante avaliar o que ela exortou que autores e editores publicassem, a fim
de cumprir a missão singular do adventismo.

O que publicar
Ao orientar a obra de publicações, Ellen White estimulou que editoras e autores, em
primeiro lugar, preparassem materiais destinados a propagar a tríplice mensagem angélica
e a verdade presente. Por isso, disse que a base da obra adventista é “a proclamação da

248
mensagem do terceiro anjo, os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus” (White,
2010a, p. 92). “Temos um trabalho da maior importância para realizar: proclamar a
terceira mensagem angélica” (p. 115). E ainda: “conceda-se mais tempo à publicação e
disseminação de livros que contenham a verdade presente” (p. 11). A venda desses
materiais daria oportunidade para que as pessoas recebessem as “mensagens decisivas
que devem preparar um povo para que permaneça na plataforma da verdade eterna” (p.
95).
Esse tom predominantemente escatológico direcionou as orientações da escritora
para estimular a produção de periódicos e livros que explicassem as profecias e os sinais
dos tempos. “Mediante a pena e a voz devemos fazer soar a proclamação, mostrando sua
ordem e a aplicação das profecias que nos levam à terceira mensagem angélica” (White,
2010a, p. 19). De especial importância para esse propósito, encontrava-se a publicação de
literatura que tratasse especialmente dos livros de Daniel e Apocalipse (p. 43). Para ela,
as pessoas precisavam de “uma clara explanação do Apocalipse”, “com o mínimo
possível de explicações pessoais” (p. 20). Além disso, a autora defendia que “as profecias
de Daniel e Apocalipse” deviam ser “publicadas em livros pequenos, com as necessárias
explicações”, para que fossem distribuídos amplamente (White, 2014, p. 117; 1997, p.
347).
Em sua concepção, tão importante quanto a propagação dos elementos
escatológicos que fundamentam e impulsionam a missão adventista é apresentar de modo
mais claro, embasado e transparente possível (White, 1997, p. 245; 2010a, p. 70) as
doutrinas bíblicas que tornaram o adventismo do sétimo dia um movimento peculiar
(White, 2015, p. 61). Por isso, recomendou a impressão de publicações que defendessem
legitimamente (White, 2010a, p. 27) “os pilares da nossa fé: as verdades que fizeram de
nós o povo que somos, guiando-nos passo a passo” (p. 20).
Livros e artigos deveriam apresentar com argumentação precisa e interessante
explicações doutrinárias, por exemplo, sobre o santuário celestial, a lei de Deus, o sábado,
a imortalidade condicional, o segundo advento de Cristo (White, 2010a, p. 21), a salvação
pela graça mediante a fé (p. 18), as Escrituras Sagradas, a criação (p. 46), as “maravilhas

249
da redenção” (p. 53) e o dom de profecia (White, 2015a, p. 638). Em suma, a igreja
deveria “dar a sua primeira atenção” a “livros que ensinem as doutrinas da Bíblia e
preparem o povo que há de ficar em pé nos tempos difíceis que estão diante de nós”
(White, 2015a, p. 61).
Além disso, à semelhança da comunidade apostólica, os adventistas deveriam aliar
a expectativa escatológica e a solidez doutrinária com uma vida cristã piedosa. Por
diversas vezes, Ellen White pediu por livros que tratassem “da fé e da piedade prática”,
assim como obras que destacassem as profecias (White, 2010a, pp. 11, 18, 97). Nesse
âmbito, encontram-se “experiências reais, estudos bíblicos e apelos claros, simples e
fervorosos” (p. 14), temas relacionados com a salvação espiritual (p. 15), a religião
doméstica e a santidade da família (p. 10), o casamento (p. 71), “a religião pura e
imaculada” (p. 16) ou a “religiosidade vital” (p. 18) e “casos práticos de fé e esperança”
(White, 1997, p. 252).
Ampliando a ideia de publicações que abordassem a família, a escritora fez especial
referência às crianças. Aliás, um número significativo de suas admoestações quanto ao
tipo de literatura foi motivado por sua preocupação com as crianças e os jovens. Mais do
que censurar o consumo de fábulas, contos, mitos, ficções ou romances de seus dias por
parte dos mais novos, Ellen White encorajou autores adventistas a escrever livros que
contivessem “lições simples do Antigo e Novo Testamentos” (White, 1997, p. 109)
endereçados a eles.
A propósito, ela também tinha seu olhar voltado para a publicação de subsídios para
a educação cristã. Embora o sistema educacional adventista ainda estivesse em formação,
a atenção da autora estava voltada para o tipo de instrução que a igreja publicaria
referente aos princípios educacionais. Seu receio era de que a Christian Educator,
primeira revista sobre educação publicada pela igreja, tivesse como propósito exaltar
conceitos distantes do ideal redentivo da educação cristã (White, 2010a, pp. 77, 78).
Outro tema de grande interesse para Ellen White era a apresentação de testemunhos
missionários e relatos históricos do desenvolvimento da Igreja Adventista. Ela exortava
os obreiros a contar “experiências vivas” que, em textos curtos e simples,

250
proporcionariam “ajuda incalculável para a experiência cristã” (White, 2010, p. 150). Isso
incluía o trabalho de missionários, pastores e colportores (White, 2010a, pp. 14, 71; 2014,
p. 79), e ainda a reimpressão de artigos escritos pelos pioneiros, “que sabiam o custo de
buscar a verdade como a tesouros escondidos e que labutaram para estabelecer os
fundamentos da obra” (White, 2010a, pp. 20, 19, 96).
Por fim, a escritora deu grande ênfase à publicação de livros e revistas sobre saúde.
Como “braço direito da terceira mensagem angélica” (White, 2014, p. 229), o “evangelho
da saúde” (p. 131) era considerado uma ferramenta importante na obra de “disseminação
da luz que os habitantes do mundo devem possuir neste dia de preparo de Deus” (White,
2010, p. 82). Por meio de folhetos, livros e revistas (White, 2014, p. 385), a mensagem de
saúde deveria alcançar a todos. Ellen White mantinha a perspectiva de que essas
publicações deveriam instruir as pessoas que não tinham condições de ser atendidas nas
instituições de saúde adventistas (White, 2014, pp. 552, 553), apresentando dicas práticas
e aplicáveis a todos (White, 2014a, p. 86).
Ao avaliar as orientações de Ellen White quanto àquilo que as editoras da igreja
deveriam publicar, fica evidente que a autora dava preferência a materiais que
apresentavam os temas de modo claro e didático, com vistas ao preparo cabal dos leitores
para o segundo advento de Cristo. Por esse motivo, a proclamação da terceira mensagem
angélica e da verdade presente, das profecias, das doutrinas, dos princípios de piedade
prática, dos ensinamentos para crianças e jovens, dos fundamentos da educação cristã,
dos testemunhos do trabalho missionário, das histórias dos pioneiros e da mensagem de
saúde não deveria estar associada a gêneros literários que pudessem de alguma maneira
lhe diluir a força dos argumentos favoráveis.
Assim, retomando a discussão referente aos gêneros literários, nota-se que, em
função do claro propósito das casas publicadoras da Igreja Adventista, Ellen White
priorizava os textos informativos, utilitários. Isso significa, entretanto, que os textos
ficcionais estariam definitivamente banidos das editoras denominacionais? O silêncio da
autora quanto à aplicação da “boa ficção” à causa adventista e sua participação como
compiladora do Sabbath readings indicam que esse não seria o caso.

251
Portanto, a partir dessas constatações, uma posição equilibrada parece ser que as
editoras adventistas priorizem os materiais claramente recomendados por Ellen White,
sejam muito criteriosas quanto àqueles que autora não abordou especificamente do modo
como eles são escritos e rejeitem os textos que estejam em perfeito paralelo com aqueles
criticados por ela em seus dias.

Princípios editoriais
1. A variedade de gêneros literários, assim como de recursos de linguagem, pode ser
usada para comunicar princípios e valores espirituais.
2. Deve-se priorizar a publicação de textos que apresentem de modo claro e didático
a proclamação da mensagem bíblica, com atenção especial aos seguintes temas: a
terceira mensagem angélica e a verdade presente, as profecias, as doutrinas, os
princípios de piedade prática, os ensinamentos para crianças e jovens, os
fundamentos da educação cristã, os testemunhos do trabalho missionário, as
histórias dos pioneiros e a mensagem de saúde.
3. Deve-se evitar a publicação de histórias viciantes, sentimentalistas,
sensacionalistas, eróticas, profanas, inúteis, que distorçam a realidade da vida,
estimulem o enfraquecimento ou desvio da fé, promovam atitudes negativas
contra o próximo ou divisões entre o povo de Deus, retratem crimes e atrocidades,
inabilitem a mente para o estudo sério e a vida devocional, consumam tempo,
sejam sem valor e enalteçam o ser humano.
4. Escritos seculares podem ser usados com critério na produção editorial adventista
para bons propósitos, desde que não fomentem ideias contrárias à cosmovisão
bíblico-adventista. Alguns critérios devem ser considerados para avaliar o tipo de
texto a ser usado:
a) Ser arte séria.
b) Evitar a exploração do sexo, da violência e do sentimentalismo desequilibrado.
c) Usar linguagem sadia.
d) Evitar elementos que enalteçam o mal ou rebaixem o bem.

252
e) Evitar histórias fúteis ou dominadas por enredos que estimulem uma leitura
apressada e superficial.
f) Evitar elementos fantasiosos e inverossímeis.
g) Estar adaptada ao perfil do público-leitor.
5. Obras de ficção podem ser publicadas, desde que levem em conta os critérios
enunciados no item 4.
6. Quanto à ficção que envolve personagens bíblicos ou históricos, recomenda-se
que a narrativa não distorça os fatos ou acrescente informações que não se
sustentem por evidências confiáveis. Nesses casos, personagens ficcionais não
devem ser retratados interferindo no relato sagrado ou histórico. Se houver
necessidade, deve-se deixar claro na apresentação ou apêndice, por exemplo, que
determinados personagens são ficcionais.
7. Fábulas e personificações podem ser publicadas com critério, considerando o
desenvolvimento cognitivo do público-alvo (acima dos 12 anos), o contexto em
que são usadas e a relevância do recurso para o processo de ensino-aprendizagem.

Bibliografia
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Clouten, K. (2014). Ellen White and fiction: A closer look. Recuperado de


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254
MEIO AMBIENTE. As Escrituras afirmam que, ao criar a Terra, Deus preparou para a
humanidade um ambiente totalmente adequado para suprir suas necessidades físicas,
mentais, emocionais e espirituais (Gn 1–2). À humanidade, contudo, foi dada a
responsabilidade de “dominar” sobre os animais da terra (Gn 1:26, 28), cultivar e guardar
o Jardim do Éden (Gn 2:15). Após a entrada do pecado (Gn 3), responsável por promover
o desequilíbrio da ecologia do planeta (Rm 8:22), o Senhor ordenou a Seu povo recém-
estabelecido que fosse zeloso com a terra (Êx 23:10, 11; Lv 25:2-7, 23, 24) e com os
animais (Êx 23:5, 12; Nm 22:23-33; Dt 25:4). Em Seus ensinos, Cristo destacou o
cuidado que Deus tem para com a natureza (Mt 6:25-30; 10:29; Lc 12:6), e que os seres
humanos devem ter para com os animais (Mt 12:11). Em Apocalipse 11:18, os 24 anciãos
adoram a Deus porque “chegou [...] o tempo determinado [...] para destruíres os que
destroem a terra”.
Ellen White, seguindo a perspectiva bíblica, acreditava que a humanidade deveria
manter uma relação equilibrada com o meio ambiente. Para ela, “o livro-texto da natureza
está aberto a todos. Quando homens e mulheres deixarem de se contrapor aos propósitos
da Divindade; quando se colocarem no âmbito da disciplina da graça, verão que têm um
trabalho a fazer em se familiarizar com a vida vegetal e animal” (White, 1899). Ao se
“familiarizar com a vida vegetal e animal”, o ser humano deveria cuidar da criação como
um todo, demonstrando sua mordomia responsável pelo planeta. A autora tinha, inclusive,
orientações específicas em relação ao trato com os animais. “O abuso em relação aos
animais, ou sofrimento infligido sobre eles por negligência, é pecado” (White, 1880).
Stephen Bauer (2018), analisando a compreensão de Ellen White em relação ao
meio ambiente e à ética animal, destaca alguns pontos: (1) os deveres dos seres humanos
em relação ao meio ambiente são deveres indiretos para com Deus, criador e proprietário
do planeta; (2) a Terra não é santa em si mesma, como sugerem os panteístas ou
panenteístas; (3) a humanidade é superior aos animais moral e existencialmente; e (4) a
superioridade dos seres humanos em relação aos animais não é justificativa para o abuso e
a crueldade para com eles. Ao final, ele afirma: “parece seguro concluir que Ellen White
defenderia a responsabilidade e o cuidado ambiental, mas é evidente que não à custa do

255
bem-estar humano”. Assim, “a humanidade deve cuidar da natureza, mas a natureza não
deve ser elevada acima dos seres humanos. É improvável que ela defendesse o
ambientalismo radical, mas é mais provável que defenderia o cuidado e uso responsável
do ambiente terrestre” (p. 843).
Ao se posicionar oficialmente sobre o assunto, a Igreja Adventista afirmou ser o
cuidado com o meio ambiente parte da responsabilidade cristã. Em 1992, a igreja votou o
documento intitulado “O cuidado com a criação”, no qual declara que “os adventistas
mantêm que a preservação e a manutenção da criação estão intimamente relacionadas
com o culto a Deus” (2012a, p. 26). Além disso, destacou que a denominação valoriza o
“relacionamento respeitoso e cooperativo entre as pessoas, reconhecendo nossa origem
comum e compreendendo a dignidade humana como uma dádiva do Criador. Uma vez
que a miséria humana e a degradação do meio ambiente estão inter-relacionadas, nós nos
empenhamos por melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Nosso objetivo é o
desenvolvimento sustentável dos recursos, atendendo concomitantemente às necessidades
humanas” (p. 26).
Três anos depois, a declaração intitulada “Meio ambiente” abordou a destruição dos
recursos do planeta motivada pelo “egoísmo humano” e pela “egocêntrica atividade para
obter mais e mais por meio do aumento da produtividade, do consumo ilimitado e do
esgotamento de recursos não renováveis” (2012b, p. 55). Por isso, “os adventistas
defendem um estilo de vida simples e saudável, onde as pessoas não participam da rotina
do consumismo desenfreado, do acúmulo de bens e da produção exagerada de lixo” (p.
55).
Em 1996, por ocasião do Concílio Anual realizado na Costa Rica, a igreja reiterou o
documento votado um ano antes, fazendo um pequeno adendo em sua conclusão: “É
necessário que haja uma reforma no estilo de vida, baseada no respeito pela natureza, na
restrição do uso dos recursos da Terra, na reavaliação das necessidades do outro e na
reafirmação da dignidade da vida criada” (2012c, p. 56).

256
Princípios editoriais
1. Os materiais produzidos na editora devem refletir os princípios bíblicos da
mordomia cristã em relação ao planeta, destacando o papel do ser humano em
cultivar a terra e cuidar dos animais e recursos naturais.
2. Nenhum conceito de ecologia que esteja fundamentado em pressupostos
panteístas, panenteístas ou naturalistas deve ser defendido.
3. Deve-se promover um estilo de vida simples, que considera o uso dos recursos
naturais de maneira consciente e equilibrada, visando à preservação da natureza
como reconhecimento de que ela é obra do Criador.
4. Deve-se fazer um esforço intencional para incluir o assunto da preservação do
ambiente nas pautas da editora. Isso inclui o tratamento adequado do tema em
livros didáticos, paradidáticos e denominacionais. Quanto aos periódicos, deve-se
considerar a possibilidade de explorar o tópico com mais frequência, inclusive
aproveitando-se de datas relacionadas a ele.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012a). O cuidado com a criação. Em
Declarações da igreja (pp. 26, 27). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012b). Meio ambiente. Em


Declarações da igreja (p. 55). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012c). Mordomia do meio ambiente.
Em Declarações da igreja (p. 56). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Bauer, S. (2018). Ecologia. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.). Enciclopédia Ellen G. White
(pp. 848, 849). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Bauer, S. (2018). Ética animal. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.). Enciclopédia Ellen G.
White (pp. 891, 892). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Dunbar, S., Gibson, L., & Rasi, H. (2016). Custodios del planeta: Ecoteología y
ambientalismo. Libertador San Martín: Universidad Adventista del Plata; Nuevo
León: Adventus; Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana.

257
White, E. (1880, 25 de Novembro). Balaam’s encounter with the Angel. The Signs of the
Times.

White, E. (1899, 7 de Agosto). Teaching from nature. The Bible Echo.

258
MÚSICA. As Escrituras indicam que Deus sempre valorizou o papel que a música
desempenha na vida de Seus filhos. Ela faz parte da realidade celestial (Ez 28.12-15; Ap
5:8, 9; 14:2, 3; 15:2, 3), onde exalta os diferentes atributos da Divindade. Na criação da
Terra, anjos entoaram louvores ao nome do Senhor (Jó 38:4-7). A Bíblia ainda demonstra
que Deus concede aos homens habilidades para produzir instrumentos e compor músicas
(Gn 4:21; 1Cr 23:5; Dt 31:19-22, 30; 32:1-44; 1Rs 4:29-32; Sl). Essas composições
acabam por retratar diversos temas da realidade humana (Jz 4:23, 24; 5:1-31; 11:34; 1Sm
18:6, 7; 2Sm 6:5, 15; 1Rs 1:39, 40; Sl; Ct), bem como expressam várias emoções (2Sm
1:17-27; 2Cr 35:25; Lm). Além disso, o texto sagrado mostra que os mesmos
instrumentos musicais podem ser usados para propósitos benignos ou malignos (1Cr
15:24, 28; 16:6, 42; 2Cr 5:12, 13; Sl 33:2; 43:4; Dn 3:5). Por fim, como em todas as
outras dimensões da vida, a produção musical deve refletir princípios aprovados pela
Palavra de Deus (Rm 12:1, 2; Cl 3:1, 2; 13:14).
Ellen White apresentou em seus escritos vários pontos importantes a respeito desse
assunto, que, ao longo da história cristã, tem gerado controvérsias. Com o objetivo de
ajudar os membros da Igreja Adventista a adotar uma postura equilibrada sobre o tema,
em 1972 o Patrimônio Literário de Ellen G. White preparou, a pedido da Associação
Geral, uma compilação de textos intitulada Música: Sua influência na vida do cristão
(2005).
Para a autora, “a música, quando bem utilizada, é uma grande bênção, mas[,]
quando mal-usada, uma terrível maldição” (White, 2005, p. 48). Em seu uso correto, a
música deve servir “a um santo propósito, a fim de erguer os pensamentos àquilo que é
puro, nobre e edificante, e despertar na pessoa devoção e gratidão para com Deus” (p.
19). Além disso, “deve possuir beleza, poder e ternura” (p. 25). Ao analisar essas três
características apresentadas por Ellen White, Lilianne Doukhan (2018) afirma que elas
“tocam o reino espiritual: beleza implica maravilha, transcendência e excelência; ternura
desperta e agita a alma e impressiona o coração com as verdades espirituais; poder inclina
o coração à transformação e mudança” (p. 1108).

259
Por outro lado, Ellen White declarou que a música usada de maneira incorreta se
torna um instrumento nas mãos de Satanás, que, por meio dela, tem acesso à mente
(White, 2005, p. 49). A autora não aprovava o uso de música ruidosa e confusa (p. 40),
que estimulava agitação e histeria (p. 39). Além disso, “canções baixas, gestos,
expressões e atitudes licenciosos depravam a imaginação e rebaixam a moralidade” (p.
50).
A partir das informações bíblicas e dos escritos de Ellen White, a Associação Geral
elaborou o documento intitulado “Filosofia adventista do sétimo dia com relação à
música” (Voto 144-03G). O texto reconhece que “nem toda música considerada sacra ou
religiosa pode ser aceitável para um adventista do sétimo dia”, e que a música “não deve
evocar associações seculares ou sugerir a conformação com normas de pensamento ou
comportamento da sociedade em geral”. Quanto à música secular, o documento afirma
que ela “apela aos assuntos comuns da vida e das emoções básicas do ser humano. Tem
sua origem no homem e é uma reação do espírito humano para a vida, para o amor e para
o mundo em que Deus nos colocou. Pode elevar ou degradar moralmente o ser humano.
Embora não esteja destinada a louvar a Deus, pode ter um lugar autêntico na vida do
cristão”.
Alguns princípios selecionados do documento, pertinentes para orientar o
tratamento do tema na produção editorial são: (1) “Toda música que se ouve, toca ou
compõe, quer seja sacra ou secular, deve glorificar a Deus”; (2) “toda música que o
cristão ouve, toca ou compõe, quer seja sacra ou secular, deve ser a mais nobre e melhor”;
(3) “a música se caracteriza pela qualidade, equilíbrio, adequação e autenticidade. A
música favorece nossa sensibilidade espiritual, psicológica e social, como também nosso
crescimento intelectual”; (4) “a música revela criatividade e obtém melodia de
qualidade”; (5) “a música vocal emprega versos que estimulam positivamente a
capacidade intelectual como também nossas emoções e nosso poder da vontade. Os bons
versos são criativos, ricos no conteúdo e bem compostos. Focalizam no positivo e
refletem os valores morais; instruem e enaltecem; e estão em harmonia com a sólida
teologia bíblica”; (6) “os elementos musicais e literários operam juntos e em harmonia

260
para influenciar o pensamento e o comportamento em concordância com os valores
bíblicos”; (7) “a música mantém judicioso equilíbrio dos elementos espiritual, intelectual
e emocional” (Voto 144-03G).
Complementando os princípios apresentados pelo voto da Associação Geral, a
Divisão Sul-Americana (2005) votou o documento “Orientações com relação à música
para a Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul”. Dele se destacam as
seguintes orientações:
“II. A música: (a) deve ser compatível com a mensagem, mantendo o equilíbrio
entre ritmo, melodia e harmonia; (b) deve harmonizar letra e melodia, sem combinar o
sagrado com o profano; (c) não segue tendências que abram a mente para pensamentos
impuros, que levem a comportamentos pecaminosos ou que destruam a apreciação pelo
que é santo e puro; (d) não se deixa guiar apenas pelo gosto e experiência pessoal”, uma
vez que os “hábitos e a cultura não são guias suficientes na escolha da música; (e)
provoca uma reação positiva e saudável naqueles que a ouvem.”
“III. A letra: (a) deve ser de fácil compreensão e estar em harmonia com os
ensinamentos da Bíblia; (b) deve ter valor literário e teológico consistente”, e não ser
“leviana, vaga e sentimental, que apele somente às emoções.”
“XII. Músicas seculares: (a) os princípios de escolha musical devem servir tanto
para a música ‘sacra’ quanto para a ‘secular’”, pois em “momento algum deixamos de ser
filhos e filhas de Deus que buscam glorificá-Lo em todas as coisas” [...]; (b) a escolha da
música ‘secular’ deve ser caracterizada por um equilíbrio saudável nos elementos do
ritmo, melodia e harmonia com uma letra que expresse ideais de alto valor.”

Princípios editoriais
1. Músicas que contrariem princípios claros da Palavra de Deus não devem ser
apresentadas em produtos da editora.
2. Não se deve promover músicas cujas letras sejam linguisticamente pobres,
levianas, sentimentais/existencialistas ou que associem o sagrado com o profano.

261
3. Ao apresentar alguma música, deve-se verificar se a obra ou seu autor estão
vinculados a movimentos sociais, filosóficos ou culturais que se opõem à
mensagem cristã.
4. As músicas empregadas nos materiais da editora devem ser reconhecidas por sua
qualidade, em conformidade com os critérios indicados pelos documentos oficiais
da Igreja Adventista apresentados neste verbete.
5. Deve-se evitar a publicação de músicas cujos autores ou intérpretes vivam em
claro desrespeito aos princípios da moralidade cristã.
6. Ao atender os parâmetros governamentais relacionados a valores culturais, deve-
se procurar músicas que estejam alinhadas aos critérios apresentados neste
verbete.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (1981). Filosofia adventista do sétimo
dia com relação à música. Recuperado de https://tinyurl.com/yc9wa53q.

Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2005). Orientações com


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White, E. (2005). Música: Sua influência na vida do cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

262
NOTÍCIAS REFERENTES A DECISÕES ADMINISTRATIVAS DA IGREJA ADVENTISTA.
Transmitir as deliberações oficiais da Igreja Adventista de modo objetivo, intencional e
positivo é uma importante tarefa que recai sobre os veículos denominacionais de
comunicação. Para que isso ocorra, é necessário atentar para alguns detalhes importantes,
a fim de que o compartilhamento da informação seja um instrumento de unidade e
promoção da missão da igreja.
Na Bíblia, o relato de Atos 15:1 a 29 parece apresentar princípios oportunos para
nortear a prática da igreja em informar aos membros suas decisões administrativas. O
texto narra o Concílio de Jerusalém e está estruturado da seguinte maneira: (1) a questão
em debate (no caso, a circuncisão dos gentios e a observância das leis cerimoniais) (v. 1-
5); (2) as considerações de Pedro (v. 6-11); (3) o relatório de Paulo e Barnabé sobre o
trabalho com os gentios (v. 12); (4) a proposta de Tiago (v. 13-21); e (5) o relatório final
com o voto tomado (v. 22-29).
Alguns detalhes dessa narrativa chamam atenção: (1) o autor faz uma apresentação
geral do tema em debate; (2) as posições em torno do tema principal são narradas sem
atribuição de juízo de valor; (3) a decisão do concílio é descrita de modo direto, sem
justificativas adicionais; e (4) não se menciona a reação dos votantes favoráveis à posição
vencida no concílio.
Essas características podem ser encontradas no primeiro relatório administrativo
publicado em um periódico oficial adventista do sétimo dia. Em outubro de 1861, a
Review and Herald publicou a ata de constituição da primeira Associação local, no estado
de Michigan. A cada tema apresentado no relatório seguiam-se as considerações
principais e o respectivo voto. A proposta de se publicar a ata na Review foi apresentada
por Tiago White e aceita pelos delegados reunidos.
A própria ata de estabelecimento da Associação Geral foi publicada na Review, em
26 de maio de 1863. Além dos artigos da constituição, a ata apresentou os votos tomados,
destacando apenas as considerações de temas mais sensíveis, como a rejeição de Tiago
White à indicação para a presidência da Associação Geral e o relatório da Igreja

263
Adventista quanto à idoneidade deste líder, diante de algumas acusações levantadas
publicamente contra ele.
Em anos posteriores, a Review publicou as atas das assembleias gerais da Igreja
Adventista baseando-se nas experiências da Associação de Michigan e da constituição da
Associação Geral. Em 1888, porém, os delegados da igreja, reunidos em Mineápolis,
deliberaram sobre a necessidade de se publicar um boletim diário de cada assembleia
geral dos adventistas.
A ata apresenta o assunto nas seguintes palavras: “Considerando que agora os
delegados sentem a necessidade de um Boletim diário com os procedimentos da
Assembleia Geral; Considerando que existem milhares de pessoas que não podem
comparecer à Assembleia Geral, mas que desejam ansiosamente saber o que é feito no dia
a dia e que anelam relatos mais completos do que o relatório do secretário sobre os
procedimentos adotados; Resolvido que é o entendimento deste órgão que o Boletim
Diário da Assembleia Geral deve ser publicado em todas as sessões da Assembleia; que
deve ser de tamanho suficiente para admitir a inserção não apenas de um relato completo
de todas as reuniões administrativas, mas também de um esboço dos principais sermões
pregados e da instrução geral dada; e que no início de cada ano a Comissão da Associação
Geral escolha um editor e faça todos os outros arranjos necessários para o Boletim, a fim
de que o preço possa ser divulgado, e uma lista de assinaturas assegurada com
antecedência” (General Conference of Seventh-day Adventists, 1888, p. 2).
Os boletins começaram a ser publicados na sequência, como edição extra da
Review, considerando as sugestões da proposta acima mencionada e seguindo a estrutura
básica de cada ponto discutido: considerações, proposta e voto. A partir de 1899, as
edições passaram a conter a transcrição das principais discussões referentes aos trabalhos
das comissões constituídas na Assembleia Geral.
A partir do precedente bíblico e da prática centenária adotada pela Igreja
Adventista, é possível estabelecer alguns critérios para publicação de notícias referentes a
decisões administrativas da igreja.

264
Princípios editoriais
1. Ao divulgar notícias referentes a decisões administrativas da Igreja Adventista, é
imperativo ser objetivo na apresentação do tema em questão.
2. Quando houver posições diferentes em torno do assunto, elas devem ser mostradas
sem atribuição de juízo de valor. O escritor, editor ou jornalista deve mostrar
imparcialidade em seu material e evitar defender seus pontos de vista particulares.
3. A decisão tomada deve ser apresentada de modo objetivo, sem justificativas
adicionais.
4. Quando o assunto suscitar posições antagônicas, não se deve destacar eventuais
reações críticas, evitando assim a polarização.
5. Não é papel da editora polemizar acerca dos méritos das decisões tomadas, o que
não exclui uma reflexão equilibrada e responsável sobre o tema. A abordagem
sobre os procedimentos administrativos deve servir para fortalecer a unidade e
promover a missão da igreja.

Bibliografia
The Michigan Conference of Seventh-day Adventists. (1861, 5 e 6 de Outubro). Doings
of the Battle Creek Conference, Oct. 5 & 6, 1861, Review and Herald.

General Conference of Seventh-day Adventists. (1863, 26 de Maio). Report of General


Conference of Seventh-day Adventists, Review and Herald.

General Conference of Seventh-day Adventists. (1888, 2 de Novembro). The daily


bulletin of the General Conference. Review and Herald.

General Conference of Seventh-day Adventists. (1889, 18 de Outubro). The daily bulletin


of the General Conference, Review and Herald.

265
ORIGEM DA TERRA. A Bíblia afirma que Deus é o Criador de todas as coisas, animadas e
inanimadas (Gn 1:1; Êx 20:11; Ne 9:6; Ap 4:11). O livro de Gênesis apresenta o fato de
que a Terra foi criada em seis dias literais de 24 horas (Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31). Por
meio de Sua palavra, o Senhor criou os céus e a terra, a luz, a divisão do firmamento, a
divisão da Terra em porção seca e mares, os astros, as aves, os peixes e os animais
terrestres (Gn 1:3, 6, 9, 11, 12, 14, 15, 20-25). Contudo, ao criar homem e mulher, no
sexto dia, Ele os fez com Suas próprias mãos, soprando nas narinas de Adão e Eva o
fôlego de vida e fazendo-os alma vivente (Gn 1:26, 27; 2:21, 22). No sétimo dia, o Senhor
descansou, instituindo o sábado como memorial da criação (Gn 2:1-3).
A Terra foi criada perfeita (Gn 1:31), mas a desobediência de Adão e Eva provocou
o desequilíbrio do planeta (Gn 3:17-19; Rm 5:12; Rm 8:20-22). O pecado afetou as
relações de todos os elementos da natureza entre si e introduziu a morte no mundo (Gn
6:23). Em virtude do aumento da iniquidade resultante dessa condição, Deus julgou a
Terra por meio de um cataclismo mundial, o dilúvio (Gn 7, 8; Mt 24:37-39; Hb 11:7).
Portanto, o planeta, da forma como o conhecemos, reflete as condições posteriores a esse
evento de grandes proporções e rápido acontecimento.
Ellen White via no relato do Gênesis uma narrativa fidedigna das origens (1990, p.
184). Ela ainda considerou as consequências indiscutíveis do dilúvio, ao afirmar que isso
“está registrado nas rochas e montanhas”, e também na superfície fragmentada da Terra
(p. 217). Para a autora, “homens, animais e árvores [...] foram sepultados, e assim
conservados, como prova para as gerações posteriores de que os antediluvianos
pereceram por um dilúvio. Era o desígnio de Deus que a descoberta destas coisas
estabelecesse fé na história inspirada, mas os homens, com seus vãos raciocínios, caem no
mesmo erro em que caiu o povo anterior ao dilúvio – as coisas que Deus lhes dera como
benefício, mudam eles em maldição, fazendo delas mau uso” (White, 2014, p. 112).
A crença na descrição bíblica da criação, contudo, não impede o desenvolvimento
do pensamento científico. Ellen White acreditava que “há harmonia entre a natureza e o
cristianismo; pois ambos têm o mesmo Autor. O livro da natureza e o livro da Revelação
indicam a atuação da mesma mente divina” (White, 2016a, p. 85). Por isso, quando

266
“corretamente entendidas, tanto as revelações da ciência como as experiências da vida se
acham em harmonia com o testemunho das Escrituras relativo à constante operação de
Deus na natureza” (White, 2016b, p. 130).
Como reflexo dessa compreensão, ao longo do tempo a Igreja Adventista tem
defendido enfaticamente o relato bíblico e incentivado a prática da verdadeira ciência.
Jim Gibson (1996) sugere três pontos fundamentais para uma abordagem cristã em
relação à ciência: (1) usar a razão no estudo científico; (2) abordar o estudo das ciências
com comprometimento cristão; e (3) abordar a ciência reconhecendo suas limitações e
com disposição para viver com incertezas.
Esses elementos podem ser encontrados nas declarações oficiais da denominação
referentes ao tema. Entre os anos de 2002 e 2004, a igreja promoveu uma série de
conferências ao redor do mundo para discutir como teologia e ciência explicam a origem
do Universo e da vida. Centenas de teólogos, cientistas e administradores da igreja se
reuniram e, ao final, votaram a declaração intitulada “Uma afirmação a respeito da
criação” (2012a). Entre outros pontos, o documento valoriza o trabalho de cientistas e
teólogos adventistas e apresenta dois entendimentos fundamentais para o debate sobre o
assunto.
O primeiro estabelece o papel fundamental da crença na criação para a Igreja
Adventista, uma vez que “ela se relaciona diretamente com muitas, se não todas as outras,
crenças fundamentais. Qualquer interpretação alternativa da história da criação precisa ser
examinada à luz de seu impacto em todas as demais crenças” (2012a, p. 34).
Por sua vez, o segundo entendimento apresenta a relação entre teologia e ciência em
perspectiva, dizendo: “Respeitamos as reivindicações da ciência, as estudamos e
esperamos por uma resolução. [...] No entanto, quando uma interpretação bíblica
harmoniosa com as descobertas da ciência não é possível, não concedemos à ciência uma
posição privilegiada para que ela automaticamente determine o resultado. Pelo contrário,
reconhecemos que não é justificável manter ensinamentos claros das Escrituras reféns das
atuais interpretações científicas de dados” (2012a, p. 35).

267
Na sequência desse documento, a Associação Geral aprovou uma “Resposta à
afirmação a respeito da criação”, no qual reafirma “a compreensão adventista a respeito
da historicidade de Gênesis 1—11: que os sete dias do relato da criação foram dias literais
de 24 horas, formando uma semana idêntica em tempo à que temos agora; e que o dilúvio
foi de natureza global” (2012b, p. 38).
Em 2010, na declaração “Cosmovisão bíblica da criação”, a igreja reiterou esses
conceitos e foi mais descritiva ao enumerar a relação da doutrina da criação com “muitas
outras questões além das origens. Os propósitos e a missão de Deus, descritos na Bíblia; a
responsabilidade humana na gestão do ambiente, a instituição do casamento e a
característica sagrada do sábado – todos encontram seu significado na doutrina da
criação” (2012c, p. 28). Ao mesmo tempo, “os adventistas reconhecem que o registro
bíblico da criação não responde a todas as perguntas que podem ser feitas sobre as
origens. [...] Prevemos que o estudo continuado, tanto da Bíblia quanto da natureza,
aprofundará nossa compreensão a respeito do poder de Deus e fortalecerá nossa fé em
Sua Palavra e no relato da criação nela contido” (p. 28).
Entre essas perguntas, encontra-se aquela relacionada à idade da Terra. Conforme o
Instituto de Pesquisas em Geociência da Associação Geral (s/d), há duas possibilidades de
resposta para esse questionamento. A primeira, que segue os dados genealógicos das
Escrituras, indica uma idade entre 6 e 10 mil anos. A segunda, baseada na datação
radiométrica, sugere 4,5 bilhões de anos. “Assim, a questão da idade da Terra pode se
referir ao tempo desde a semana de criação do Gênesis ou ao tempo desde que o planeta
foi criado. A Bíblia não apresenta uma idade para a Terra nem existe qualquer ponto
teológico extraído desse tema; então, essa pode não ser uma questão tão importante
quanto algumas outras.” Contudo, a segunda alternativa parece harmonizar melhor fé e
ciência.
Portanto, a posição da Igreja Adventista em relação às origens afirma a literalidade
de Gênesis 1 a 11, aceita a possibilidade de uma criação antiga do nosso planeta e de uma
criação recente da vida nele, rejeita a teoria da macroevolução e reconhece que a

268
diversificação de baixo nível e a possibilidade de mudanças limitadas nas espécies são
compatíveis com a explicação bíblica para a criação da Terra.

Princípios editoriais
1. O tema das origens deve ser apresentado com argumentos bíblicos e científicos
consistentes, em uma perspectiva criacionista. Os adventistas defendem que Deus
criou o mundo em seis dias de 24 horas e descansou no sétimo dia da obra que
havia realizado, conforme o relato do Gênesis. Isso também inclui a compreensão
de que o mundo atual reflete os efeitos do pecado e do cataclismo global, o
dilúvio.
2. Embora seja possível crer na idade recente da Terra (entre 6 e 10 mil anos), a ideia
de que o planeta foi criado há cerca de 4,5 bilhões de anos, antes da criação da
vida (entre 6 e 10 mil anos), parece harmonizar melhor fé e ciência.
3. Os materiais produzidos pela editora devem expressar a ideia de que ciência e
religião não são excludentes. Ao contrário, quando bem entendidas, ambas se
iluminam mutuamente.
4. A teoria da macroevolução deve ser rejeitada como explicação das origens,
enquanto se reconhece que a diversificação de baixo nível e a possibilidade de
mudanças limitadas nas espécies são compatíveis com a explicação bíblica para a
criação da Terra.
5. A apresentação dos argumentos, termos e datações evolucionistas em livros
didáticos sempre deve ser acompanhada de uma contra-argumentação criacionista
cientificamente fundamentada. Biologia é a matéria mais apropriada para isso.

Bibliografia

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012a). Uma afirmação a respeito da
criação. Em Declarações da igreja (pp. 29-37). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

269
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012b). Resposta à afirmação a
respeito da criação. Em Declarações da igreja (pp. 38, 39). Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012c). Cosmovisão bíblica da


criação. Em Declarações da igreja (p. 28). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Criacionismo. Recuperado


de https://tinyurl.com/yxtwt5zx.

Gibson, J. (1996). An Adventist view of science. Recuperado de


https://tinyurl.com/y4qujhmr.

Geoscience Research Institute. (s/d). Age of the earth. Recuperado de


https://tinyurl.com/y6ypng8a.

Seventh-day Adventist Theological Seminary, Andrews University. (2010). A statement


on the biblical doctrine of creation. Recuperado de https://tinyurl.com/yxvy4r4e.

White, E. (1990). Manuscript releases (V. 3). Silver Spring, MD: Ellen G. White Estate.

White, E. (2014). Patriarcas e profetas. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2016a). Fundamentos da educação cristã. Tatuí, SP: Casa Publicadora


Brasileira.

White, E. (2016b). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

270
PENA DE MORTE. Embora a maioria das nações não pratique a pena capital, países
expressivos como a China e os Estados Unidos adotam esse recurso em seu sistema
jurídico. Frequentemente o assunto vem à tona, e os debates públicos demandam da
sociedade um posicionamento diante da discussão.
Até 2017, a Igreja Adventista não havia apresentado suas considerações a respeito
do tema. Contudo, o documento “Pena de morte: uma opinião”, preparado pelo Comitê de
Ética do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral, a pedido da Divisão Sul-
Americana, manifestou o atual entendimento denominacional em relação ao assunto.
A igreja não ignora a complexidade do tema e o sofrimento das famílias daqueles
que foram vítimas de crimes hediondos. Entretanto, os adventistas, “a partir de várias
perspectivas” (filosófica, sociológica, prática e bíblico-teológica) (2017, p. 1), também
reconhecem que a aplicação da pena capital não está isenta de perguntas cujas respostas
não são encontradas satisfatoriamente.
Por princípio, a igreja busca “preservar e proteger a vida humana”, conforme fica
evidente em declarações oficiais sobre temas como “violência, a guerra, a eutanásia, e a
favor da tolerância e da não combatividade” (2017, p. 1).
Apesar das várias menções veterotestamentárias à pena capital, “os adventistas
acreditam que a violência e a pena de morte não têm lugar na igreja. Em outras palavras,
não é tarefa da igreja tirar a vida humana” (2017, p. 2). Com base no fato de que Cristo
revogou a teocracia judaica, nos princípios éticos apresentados por Ele no Novo
Testamento e na maneira como a igreja apostólica lidava com os pecados dos primeiros
cristãos (por exemplo, a relação incestuosa narrada em 1Co 5), é possível concluir que “a
pena capital não mais é praticada pelo povo de Deus. Antes, a igreja tem a
responsabilidade de se aproximar dos pecadores com o objetivo de ganhá-los para um
comportamento semelhante ao de Cristo e aceitarem os ensinos bíblicos” (p. 2).
Ao se referir à aplicação da pena de morte por parte dos governos constituídos, o
documento considera dois textos bíblicos: Gênesis 9:5, 6 e Romanos 13:4. Depois de
tecer breves considerações exegéticas a respeito das duas passagens, ele afirma: “Os dois
textos devem ser cuidadosamente estudados, levando em consideração seu contexto

271
literário e marco histórico, a verdade principal do argumento na passagem e o vocabulário
e a gramática em hebraico e grego. Além disso, a Bíblia, como um todo, e seus princípios
sobre a vida e a morte, a violência e a graça, a justiça e o perdão devem ser consultados.
No presente, não há consenso quanto à interpretação dos textos acima mencionados entre
a ampla comunidade cristã ou na Igreja Adventista” (2017, p. 3). Uma vez que se
reconhece a falta de consenso teológico a respeito do tema, é importante não ficar
evidenciando as divergências.
Finalmente, o documento declara: “Diante do fato de que a pena capital não tem
lugar na igreja cristã, não é correto que a igreja seja vista como agente que advoga a pena
capital, embora o estado possa executá-la. Portanto, recomenda-se que haja apoio à
prática da Igreja Adventista do Sétimo Dia de valorizar a vida humana [...]. Recomenda-
se também que os membros da igreja não se envolvam em qualquer campanha para
promover a pena de morte. A missão da igreja não é promover a morte, mas anunciar a
vida e a esperança” (2017, p. 3).

Princípios editoriais
1. A Igreja Adventista defende a santidade da vida humana e não promove a pena de
morte em nenhum material.
2. Em virtude da falta de consenso teológico sobre o assunto, deve-se evitar o debate
envolvendo opiniões favoráveis e desfavoráveis à aplicação da pena capital.
3. Os dois princípios anteriores não impedem a análise do tema; apenas estabelecem
que isso deve ser feito sempre de maneira responsável e sem dogmatismo.

Bibliografia
Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2017).
Death penalty: An opinion. Recuperado de https://tinyurl.com/y6ztdwjc.

Lemos, F. (2017). Igreja vota documento sobre pena de morte. Recuperado de


https://tinyurl.com/y235tnpa.

272
POLÍTICA E ELEIÇÕES. Algumas formas de governo são mencionadas ao longo do relato
bíblico. Quando a nação de Israel foi constituída, a primeira forma adotada foi a
teocracia, em que Deus era o líder supremo, contando com a intermediação, primeiro de
Moisés, depois de Josué, para fazer Sua vontade conhecida ao povo. Após a morte de
Josué, as 12 tribos viveram dias de instabilidade política, econômica, social e espiritual,
dando origem àquilo que é chamado de o ciclo dos juízes. Nesse ciclo, cujas fases são
apostasia, opressão, clamor, intervenção divina, libertação e, novamente, apostasia, o
Senhor chamava juízes para liderar o povo no processo de libertação.
Nos dias de Samuel, o último juiz, o povo pediu um rei, à semelhança das nações
vizinhas. Nesse contexto, Saul foi ungido como primeiro monarca de Israel. Na
sequência, vieram Davi, Salomão e Roboão, o responsável pela divisão entre as dez tribos
do Norte (Israel) e as duas do Sul (Judá). Com as tribos divididas, Israel capitulou diante
das forças do Império Assírio (722 a.C.), e os judeus foram para o exílio no Império
Babilônico (605 a.C.). Desse ponto da história em diante, os judeus estiveram sob o
controle dos impérios babilônico, medo-persa, grego e romano. Digno de nota é o fato de
que, à parte da teocracia (forma de governo que, por fim, os salvos experimentarão por
toda eternidade), as Escrituras não prescrevem nenhuma outra forma conhecida, nem
mesmo a democracia.
Contudo, a Bíblia apresenta princípios de convivência com o governo aplicáveis a
qualquer tempo ou situação. Afirma que Deus é soberano sobre todas as autoridades da
Terra (Sl 22:28; Dn 2:20, 21), e o poder é, em última instância, concedido por Ele, seja
por Sua vontade ou permissão. Por esse motivo, os cristãos devem ser submissos aos
governos, sendo exemplos de cidadania e promoção das virtudes do reino (Mc 12:17; Rm
13:1-7; 1Tm 2:1, 2; Tt 3:1, 2; 1Pe 2:13, 14). Os exemplos de José e Daniel (Gn 39-50; Dn
2, 3, 6) demonstram que é possível um fiel exercer funções governamentais,
influenciando positivamente os rumos da nação. Evidentemente, a obediência a Deus está
acima da obediência às leis humanas (At 5:28-33), e os cristãos precisam estar prontos a
demonstrar a força de sua fé, ao se posicionar em favor dos princípios divinos.

273
Entre os adventistas do sétimo dia, a interação com o governo e a política tem sido
discutida a partir de duas perspectivas: pessoal e eclesiástica. Entre 1856 e 1860, a igreja
se aproximou da ideia de que seus membros deveriam ser livres para exercer seu direito
ao voto, e esse tem sido o consenso desde então. Nesse caso, a motivação por trás dessa
atitude não deveria ser a política partidária, com conhecido potencial divisivo, mas a
defesa de princípios relacionados à justiça, humanidade e direito.
Ellen White promoveu o conceito de que os adventistas deveriam defender por
meio de seu voto a temperança (White, 2016b, pp. 253-255; 2015, p. 337), um tema
debatido em seus dias com profundas implicações sociais, políticas, econômicas e,
sobretudo, espirituais. Os candidatos, portanto, deveriam ser escolhidos a partir de seu
compromisso com os princípios bíblicos defendidos pelos adventistas. Por outro lado, a
autora se opôs ao engajamento denominacional nas discussões político-partidárias (White,
2014, pp. 391-396; 2016a, pp. 475-484). Para ela, esse envolvimento tinha impactos
negativos sobre a identidade e lealdade dos obreiros, a unidade e a missão da igreja.
Documentos oficiais, como “A relação entre Igreja e Estado” (2012), têm mantido
em perspectiva o apartidarismo denominacional, bem como a liberdade de membros
participarem da política, tanto como candidatos quanto como eleitores. No contexto da
Divisão Sul-Americana, o documento “Os adventistas e a política” (2018) afirma o
seguinte, entre outros pontos: (1) “Recomenda que seus membros cumpram o direito ou o
dever do voto, desde que nessas ocasiões não haja qualquer incompatibilidade com os
princípios bíblicos defendidos pela igreja”; (2) “orienta que seus membros votem de
acordo com a consciência individual, que escolham candidatos que defendam os
princípios da qualidade de vida e da saúde, do modelo bíblico de família, dos valores
éticos e morais, da liberdade religiosa e da separação entre Igreja e Estado”; (3)
“determina que pastores, servidores da organização, líderes locais e membros não
promovam candidatos em cultos da denominação, seja em suas sedes administrativas,
unidades educacionais, de saúde ou em quaisquer outras instituições”; (4) “não autoriza a
impressão de propaganda ou material de cunho político em suas editoras, nem o uso de
espaço publicitário em seus periódicos para veiculação de propaganda eleitoral. Fica

274
igualmente não autorizado o uso da internet, rádio, televisão e publicações da igreja e de
suas instituições para esse mesmo fim, salvo quando impostas obrigatoriamente por lei,
como no caso da Rádio e TV Novo Tempo”; (5) “não autoriza o uso de espaço físico de
templos adventistas e de suas instituições para fixação de cartazes ou propaganda
partidária-eleitoral. Não aprova que sejam organizados encontros e reuniões por pastores
e servidores com propósitos político-partidários, seja em ambientes públicos ou
privados”; (6) “determinará, clara e expressamente, quem deve falar em nome da igreja
para comunicar-se com os órgãos de imprensa e demais meios. Pastores e servidores,
editores das casas publicadoras, apresentadores da Rádio e TV Novo Tempo, jornalistas,
assessores de imprensa e comunicadores não estão autorizados a escrever, postar e falar
em nome dos adventistas sobre temas políticos, e devem ter constante cuidado para não
dar declarações que demonstrem preferências por ideologias, candidatos ou partidos”.
Assim, o posicionamento equilibrado da Igreja Adventista tem se mantido ao longo
dos anos, demonstrando que a denominação está comprometida com a expansão do reino
de Deus, sem ignorar a influência da cidadania cristã, que contribui para a pacificação e o
bem-estar do governo humano.

Princípios editoriais
1. A Igreja Adventista não promove quaisquer ideologias político-partidárias nem
candidatos a cargos eletivos, ainda que pertençam ao seu corpo de membros.
2. Os materiais da editora devem difundir os princípios da boa cidadania,
independentemente das relações políticas, como forma de contribuir para o bem-
estar da sociedade.
3. As autoridades constituídas devem ser respeitadas. Se necessário, serão
apresentadas informações geradas pelos governantes que possam beneficiar o
público-alvo da editora e que não atentem contra a cosmovisão bíblico-adventista.
4. Eventuais menções negativas a decisões governamentais, quando necessárias,
devem ser apoiadas em fatos reconhecidos e fontes confiáveis. A crítica deve ser
dirigida a ideias e decisões, e não a pessoas.

275
5. Deve-se evitar entrevistas com políticos, especialmente se forem candidatos, em
períodos de campanha eleitoral.

Bibliografia:
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2002). A relação entre Igreja e Estado.
Recuperado de https://tinyurl.com/yagab723.

Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista. (2018). Os adventistas e a política.


Recuperado de https://tinyurl.com/y7ejmf86.

Gordon, P. (1980). The right to vote: Shall I exercise it? Recuperado de


https://tinyurl.com/yaw73f5j.

Morgan, D. (2018). Política e votação. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.) Enciclopédia Ellen
G. White (pp. 1163-1167). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2014). Obreiros evangélicos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2015). Mensagens escolhidas (V. 2). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2016a). Fundamentos da educação cristã. Tatuí, SP: Casa Publicadora


Brasileira.

White, E. (2016b). Temperança. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

276
PUBLICIDADE/PROPAGANDA. Por definição de classe, a publicidade/propaganda “é a
técnica de criar opinião pública favorável a um determinado produto, serviço, instituição
ou ideia, visando a orientar o comportamento humano das massas num determinado
sentido” (Código de ética dos profissionais de propaganda, Introdução.I). Quando
utilizada em um contexto cristão, ela deve encontrar intencionalmente o fundamento de
seus princípios e valores nas Escrituras Sagradas.
A Bíblia exalta os princípios da verdade (Sl 15:2, 3; Ef 4:25; Fp 4:8), justiça (Pv
16:16-19; Mq 6:8; Is 61:8), dignidade humana (Gn 1:27; Sl 72:13; Jo 3:16), liberdade de
escolha (Gn 3:2, 3; Dt 30:19, 20; Jr 21:8; Ez 33:11; Jo 3:16; Ap 22:17), mordomia (Sl
24:1; Dt 8:15-18; Mt 25:14-30; 1Tm 6:6-10) e, sobretudo, o amor a Deus e ao próximo
(Dt 6:5; Mt 22:37-39; Rm 12:10; 1Jo 4:19-21). A conduta do profissional cristão pode ser
resumida por meio de uma das mais conhecidas afirmações de Ellen White: “A maior
necessidade do mundo é a de homens – homens que se não comprem nem se vendam;
homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não
temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao
dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda
que caiam os céus” (White, 2008, p. 57).
Comparativamente, os profissionais de publicidade e propaganda citam
tangencialmente esses princípios em suas resoluções morais. Por exemplo, o Código de
ética dos profissionais de propaganda defende que os profissionais utilizem seu
conhecimento e sua técnica somente “em campanhas que visem ao maior consumo dos
bons produtos, à maior utilização dos bons serviços, ao progresso das boas instituições e à
difusão de ideias sadias” (Introdução.II). Além disso, devem agir honestamente, jamais
induzindo o público ao erro, utilizando-se de inverdades ou disseminando a desonestidade
e o vício (Introdução.III/IV).
Isso lança sobre profissionais e instituições de comunicação cristãos uma
responsabilidade ainda maior, considerando-se o fato de que deles se espera que
propaguem esses valores por preceito e exemplo.

277
Princípios editoriais
1. As peças publicitárias ou de propaganda produzidas pela editora devem ser
norteadas por princípios bíblico-teológicos como a verdade, justiça, dignidade
humana, liberdade, mordomia e, sobretudo, o amor a Deus e ao próximo.
2. Não devem ser publicadas ou produzidas peças publicitárias que apresentem
informações falsas, distorcidas ou que obscureçam dados relevantes para o
público, levando-o a um julgamento equivocado.
3. Não se deve admitir o uso de estratégias manipuladoras, que firam o livre-arbítrio
do público da editora e levem-no ao consumo irrefletido e desmedido.
4. É vedado o uso ou a produção de peças publicitárias que exaltem o consumismo, a
vaidade, o egoísmo, a avareza, a intemperança ou que apresentem uma visão
distorcida de Deus, de Sua Palavra e de Sua igreja.
5. Propagandas de produtos cárneos, medicamentos, cosméticos, substâncias nocivas
à saúde, armas, enfim, tudo o que contrarie a filosofia e os princípios adventistas
são inaceitáveis em qualquer material da editora. Assim, espera-se que todas as
propagandas estejam alinhadas à mensagem e ao estilo de vida ensinados pela
igreja.

Bibliografia
Associação dos Profissionais de Publicidade e Propaganda. (2014). Código de ética dos
profissionais de propaganda. Recuperado de https://tinyurl.com/ycfbczk3.

Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. (1997). Ética da publicidade.


Recuperado de https://tinyurl.com/ybljvols.

White, E. (2008). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

278
RELACIONAMENTO COM OUTRAS RELIGIÕES. A Bíblia revela que Deus é amor (1Jo 4:8),
e uma das faces do amor é a que confere liberdade ao ser amado. Por isso, ao criar a raça
humana, o Senhor a fez livre para tomar suas próprias decisões morais e espirituais (Gn
2:15, 17; Dt 30:19, 20; Js 24:15; Mt 16:24; Ap 3:20). Após a queda, ocasionada pela
desobediência voluntária do primeiro casal (Gn 3), o ser humano se tornou escravo do
pecado (Jo 8:34; Rm 6:1-23). Contudo, Deus, por meio do plano da redenção, proveu o
caminho para a reconquista da plena liberdade.
Essa verdade pode ser observada em uma série de mandamentos, ordenanças e
orientações do Antigo Testamento, como a observância do sábado (Êx 20:8-11; Dt 5:12-
15), a celebração das festas (Lv 23), as leis sociais israelitas (Êx 21:2; Lv 25:40, 41) e as
exortações referentes à genuína religiosidade (Is 58; Jr 34:8-14). No Novo Testamento,
Cristo proclamou a liberdade plena a todo aquele que aceita a salvação (Lc 4:18, 19; Jo
8:36), e os apóstolos destacaram esse aspecto em suas cartas (Rm 6:22; 2Co 3:17; Gl 5:1;
1Pe 2:16; Tg 1:25).
Os cristãos são comissionados a proclamar a mensagem de salvação a todo o
mundo, como evidência de seu compromisso com Jesus (Mt 28:18-20; Ap 14:6-12).
Assim, faz parte da pregação e da conduta cristã a defesa da liberdade de consciência e
religião, ainda que seja para garantir o direito de não aceitar a oferta de libertação plena
que Deus oferece.
Desde seus primórdios, a Igreja Adventista defende o direito à liberdade religiosa e
de consciência. Como parte de seus esforços, a denominação organizou, em 1893, a
Associação Internacional de Liberdade Religiosa, a mais antiga entidade do gênero em
atividade no mundo. Essa bandeira do adventismo leva a igreja a adotar uma atitude
respeitosa em relação às demais crenças e religiões, embora isso não implique a
participação em qualquer acordo ecumênico (ver “Movimento ecumênico”, em
Declarações da igreja, pp. 154-165).
Ellen White (2014) afirmou: “A bandeira da verdade e da liberdade religiosa
desfraldada pelos fundadores da igreja evangélica e pelas testemunhas de Deus durante os
séculos decorridos desde então foi, neste último conflito, confiada a nossas mãos” (p. 68).

279
Em consonância com esse pensamento, a postura dos adventistas do sétimo dia em
relação a outras religiões, por meio do contato pessoal ou de sua produção editorial, deve
ser guiada por dois princípios: (1) compromisso com a Palavra de Deus e (2) respeito por
outras formas de crença.
O equilíbrio entre esses princípios é bem elaborado no pensamento de Ellen White
(2010). Ela destaca que “a preciosa verdade tem de ser apresentada em sua força original.
Os enganosos erros que se acham espalhados por toda parte e que estão levando cativo o
mundo devem ser desvendados” (p. 41). Contudo, a apresentação integral da mensagem
peculiar que está a cargo dos adventistas do sétimo dia não deve ser pretexto para a
publicação de ataques contra outras religiões (p. 41).
Ela cita a atitude de Cristo ao tratar com o adversário e afirma: “em todas as
relações com os outros, jamais façamos contra alguém uma acusação injuriosa; muito
menos devemos empregar aspereza ou severidade para com os que podem estar tão
ansiosos como nós por saber o caminho reto” (White, 2010, p. 40). E ainda: “aquele que é
descuidado e precipitado em proferir palavras ou em escrevê-las para publicação a ser
espalhada pelo mundo [...] está-se desqualificando para receber o legado da sagrada obra
que recai neste tempo sobre os seguidores de Cristo. Os que costumam fazer severos
ataques estão formando hábitos que pela repetição se irão fortalecendo, e dos quais terão
de arrepender-se” (p. 41).
A compreensão bíblica de liberdade e os conselhos de Ellen White quanto ao modo
como os adventistas deveriam se dirigir a outras religiões ecoam em documentos oficiais
da denominação. Em 1926, a Associação Geral aprovou o documento O 75, que,
posteriormente, foi incluído na praxe eclesiástica. Ele orienta sobre o relacionamento da
Igreja Adventista com outras igrejas cristãs e organizações religiosas. Quatro pontos se
destacam no texto: (1) “Reconhecemos aquelas agências que elevam a Cristo diante dos
homens como parte do plano divino para a evangelização do mundo, e temos em alta
consideração homens e mulheres cristãos em outras comunhões que estão engajados em
ganhar almas para Cristo”; (2) “quando o trabalho missionário nos coloca em contato com
outras sociedades missionárias e entidades religiosas, o espírito de cortesia cristã,

280
sinceridade e justiça deve prevalecer em todos os momentos”; (3) “reconhecemos que a
verdadeira religião é baseada na consciência e convicção. [...] Esperamos que outras
entidades religiosas respondam com o mesmo espírito de liberdade religiosa”; e (4) “a
Igreja Adventista do Sétimo Dia é incapaz de limitar sua missão a áreas geográficas
restritas por causa de sua compreensão do mandato da comissão evangélica” (Department
of Public Affairs and Religious Liberty, 2004, Apêndice II).
Em 2000, no documento “Liberdade religiosa, evangelismo e proselitismo”, a igreja
afirmou: “A atividade evangelística e missionária precisa respeitar a dignidade de todos
os seres humanos. As pessoas precisam ser verdadeiras e transparentes ao lidar com
outros grupos religiosos. Deve-se evitar a terminologia que possa ofender as outras
comunidades religiosas. Declarações falsas ou que ridicularizem outras religiões não
deveriam ser feitas” (2012a, p. 137).
Assim, a bem fundamentada compreensão adventista acerca do relacionamento com
outras denominações cristãs ou entidades religiosas deve nortear as iniciativas editoriais
da igreja.

Princípios editoriais
1. Os materiais da editora devem ser reconhecidos pelo compromisso com a causa da
liberdade religiosa e de consciência. Assim, deve-se defender respeitosamente o
direito de crer, ou não crer, de todas as pessoas.
2. Deve-se divulgar a compreensão teológica adventista considerando-a em sua
inteireza e fazendo uso de uma linguagem objetiva, clara e respeitosa. Como
defensores da liberdade religiosa, os adventistas querem usufruir desse direito,
proclamando a mensagem que está sob sua responsabilidade nos dias finais da
história da Terra.
3. Ao confrontar pensamentos teológicos diferentes daqueles ensinados pela Igreja
Adventista, isso deve ser feito com educação e dignidade, por meio da
apresentação bem elaborada de ideias e argumentos bíblicos. Líderes ou entidades
religiosas não devem ser ofendidos.

281
4. Símbolos, rituais e costumes de outras religiões devem ser respeitados, evitando
críticas desnecessárias. Contudo, há casos extremos, como atos de violência e
mutilações de corpos, que merecem repúdio. O bom senso deve nortear a
abordagem do tema.
5. Atos de terrorismo não têm que ver com liberdade de religião, mas com crime. Por
isso, devem ser condenados. No entanto, é preciso ter cuidado para não fazer
generalizações injustas ao associar o radicalismo de um grupo com a religião ou
denominação como um todo.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012a). Liberdade religiosa,
evangelismo e proselitismo. Em Declarações da igreja (pp. 137, 138). Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012b). Movimento ecumênico. Em


Declarações da igreja (pp. 141-151). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Carnassale, H. (Org.) (2017). Manual prático para diretores de liberdade religiosa da


igreja local. Brasília, DF: Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo
Dia.

Department of Public Affairs and Religious Liberty. (2004). The religious liberty leader’s
handbook. Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists.

Diop, G. (2016). The foundations and functions of public affairs and religious liberty.
Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-day Adventists.

Graz, J. (2014). Church ambassador. Silver Spring, MD: General Conference of Seventh-
day Adventists.

White, E. (2010). O outro poder. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2014). Atos dos apóstolos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

282
SAÚDE. Desde seus primórdios como entidade organizada, a Igreja Adventista tem
desenvolvido um conceito equilibrado de saúde integral. Mais do que refletir o espírito
reformatório de seu tempo, os adventistas entenderam que sua missão incluía defender a
aplicação dos princípios bíblicos aos aspectos físicos e mentais do ser humano.
As Escrituras ensinam que a humanidade foi criada à imagem de Deus (Gn 1:26,
27; 2:7), sendo, portanto, plenamente capaz em todas as suas dimensões. O Senhor
proveu tudo o que era necessário para uma vida próspera, saudável e feliz: ambiente (Gn
1:1-25), alimentação (Gn 1:29), núcleo familiar (Gn 2:21-24), trabalho (Gn 2:15) e
descanso (Gn 2:1-3). Apesar de a queda ter transtornado todas as coisas (Gn 3), a Bíblia
indica os princípios que devem ser seguidos para que se possa fruir de melhor saúde, a
despeito da condição pecaminosa do ser humano. Afinal, Deus tem interesse em nossa
saúde integral (1Ts 5:23).
A alimentação ideal é composta de frutas, cereais e castanhas (Gn 1:29); após o
pecado, foram adicionadas as verduras (Gn 3:18). O consumo de carne foi uma concessão
pós-diluviana (Gn 7:2; 9:3). Contudo, a Bíblia apresenta uma distinção entre carnes
adequadas e inadequadas para o consumo humano (Lv 11:2-23; Dt 14:3-21). Além das
orientações dietéticas, as Escrituras trazem também diretrizes referentes à higiene pública
(Dt 23:12-14; Lv 11:32-40; 13:29-59; 15:1-5), que indicam uma posição de vanguarda da
nação israelita no cuidado com a saúde em relação aos outros povos.
Paulo, no Novo Testamento, afirma que o corpo é o templo do Espírito Santo (1Co
6:19, 20); por isso, tudo o que fazemos deve honrar a Deus, incluindo o cuidado com a
saúde (1Co 10:31). Nesse sentido, o cristão, além de se alimentar corretamente e adotar
hábitos higiênicos, deve se abster de qualquer substância prejudicial, como o álcool, o
fumo e as drogas (Pv 20:1; 23:29-35; Gl 5:19-21).
Embora as Escrituras não tenham seções específicas sobre a saúde mental, elas
apresentam conselhos úteis referentes a esse aspecto do ser humano (Pv 17:22; Mt 11:28-
30; Fp 4:5-9; 1Pe 5:7).
Ellen White (2016a) dedicou tempo significativo para promover a chamada reforma
de saúde. Para ela, “a reforma de saúde é um ramo da grande obra que deve preparar um

283
povo para a vinda do Senhor. Ela se acha tão ligada à terceira mensagem angélica como
as mãos o estão com o corpo” (p. 69). Alguns livros da autora evidenciam esse trabalho,
como A ciência do bom viver, Conselhos sobre regime alimentar, Medicina e salvação,
Mente, caráter e personalidade (dois volumes) e Temperança, além de capítulos em
outros livros.
A variedade dos assuntos tratados nos livros demonstra a amplitude de sua
percepção sobre a saúde. Ellen White era adepta de um regime vegetariano balanceado
(White, 2016a, p. 321), promovia atividades físicas revigorantes (White, 2016b, pp. 207-
213), incentivava as igrejas a desenvolverem escolas de culinária saudável (White, 2016a,
p. 472), condenava o uso de substâncias nocivas como chá, café (p. 425), álcool e tabaco
(White, 2016c, p. 72), defendia a relação entre saúde física e mental (White, 2013, p. 441)
e o desenvolvimento máximo da mente (p. 421). Ela incentivou as pessoas a adotar os
chamados oito remédios naturais: “Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício,
regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino” (White, 2016a, p. 301).
Ellen White também acreditava que a Igreja Adventista deveria produzir livros e
revistas sobre saúde (2010, p. 82). Com conteúdos curtos, simples, interessantes e
atrativos, esses materiais deveriam ser uma influência positiva na propagação da
mensagem adventista (p. 84). No entanto, a defesa da reforma de saúde deveria ser
coerente e progressiva. Para a autora, “em matéria de reformas, é melhor ficar um passo
aquém da meta do que avançar um passo além. E se houver algum erro, seja do lado mais
favorável ao povo” (p. 86).
O Ministério da Saúde da Igreja Adventista, por meio de seu site
(http://healthministries.com), disponibiliza diversos recursos e orientações oficiais sobre o
assunto, a fim de ajudar líderes e membros locais a colocar em prática as orientações de
saúde propagadas pela denominação. Na América do Sul, documentos como “Orientações
sobre alimentação em instituições ou programas oficiais da Igreja Adventista” e
“Medicina alternativa” se somam aos esforços mundiais que a igreja tem empreendido em
favor desse assunto sempre oportuno.

284
Princípios editoriais
1. Práticas de saúde que contrariam os princípios encontrados nos escritos inspirados
não devem ser promovidas nos materiais da editora. Isso inclui não estimular
práticas de cura místicas ou espiritualistas.
2. O consumo de alimentos cárneos, estimulantes ou prejudiciais à saúde, incluindo
açúcar e bebidas à base de cola, não deve ser promovido.
3. Deve-se promover uma dieta vegetariana balanceada, inclusive a variação
ovolactovegetariana. Em virtude de sua ideologia e alguns de seus pressupostos
filosóficos, o veganismo não deve ser difundido nos materiais da editora; por
outro lado, também não deve ser atacado.
4. Ao falar sobre pirâmides alimentares ou comparar suas vantagens e desvantagens,
deve-se promover o uso de alimentos saudáveis e cuidar para que não haja
estímulo ao consumo de produtos prejudiciais.

Bibliografia
Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista. (s/d). Medicinas alternativas. Recuperado de
https://tinyurl.com/yaxkfepd.

Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista. (2013). Orientações sobre alimentação em


instituições ou programas oficiais da Igreja Adventista. Recuperado de
https://tinyurl.com/y848vrmt.

Fagal, S. (2018). Regime alimentar. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.), Enciclopédia Ellen
G. White (pp. 1217-1219). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

General Conference Adventist Health Ministries, http://healthministries.com.

Haycock, R. (2018). Enciclopédia das verdades bíblicas: Artes e saúde. São Paulo: Acsi
Brasil.

Reid, G. (2011). Saúde e cura. Em Dederen, R. (Ed.). Tratado de teologia adventista do


sétimo dia (pp. 833-869). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Steed, E. (2018). Temperança. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.). Enciclopédia Ellen G.


White (pp. 1321-1323). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

285
White, E. (2010). O outro poder. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2013). Mente, caráter e personalidade (V. 2). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

White, E. (2015a). A ciência do bom viver. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2015b). Medicina e salvação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2016a). Conselhos sobre o regime alimentar. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

White, E. (2016b). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2016c). Temperança. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

286
SEXUALIDADE (ver também Família). De acordo com as Escrituras, Deus criou homem e
mulher, macho e fêmea, para viverem a sexualidade plena exclusivamente no contexto do
casamento heterossexual, monogâmico e vitalício (Gn 2:18-25; Êx 20:14; Lv 18:20; Mt
19:5, 6; 1Co 6:13-20; 7:3-5; Hb 13:4). Quando vivida de maneira adequada, a sexualidade
deve servir para celebrar o amor conjugal, sendo uma lembrança do pacto matrimonial
estabelecido entre um homem e uma mulher (Pv 5:15-18; Ct). Assim, qualquer
relacionamento íntimo pré-conjugal ou fora do casamento (Êx 20:14; Pv 6:32; Mt 5:27,
28), homossexual (Lv 18:22; 20:13; Rm 1:18-27; 1Co 6:9-11), incestuoso (Lv 18:6-18),
com animais (Lv 18:23) e abusivo (Dt 22:25-27) é proibido pela Bíblia. Em diversos
textos, a imoralidade sexual, expressão que engloba essas práticas mencionadas, é
condenada sumariamente (Mt 5:31, 32; Gl 5:19-21; Ef 5:3; Cl 3:5; 1Ts 4:3).
Ellen White afirma o conceito bíblico de sexualidade e a considera uma bênção
divina (2013, p. 124). Quando exercida nos limites apresentados pela Bíblia, trata-se de
uma expressão do amor como “princípio elevado e santo” (p. 50). Por esse motivo, não há
endosso da parte da autora para qualquer distorção do propósito estabelecido por Deus,
como relacionamento íntimo pré-conjugal (pp. 59, 60), adultério (White, 2008, pp. 98,
99), “paixões sensuais” ou práticas degradantes (White, 2015, p. 381), e condutas sexuais
depravadas, como vistas em Sodoma (White, 2008, p. 120).
O tema é sensível na sociedade e, ao longo do tempo, a Igreja Adventista publicou
vários documentos oficiais tratando de diferentes pontos da questão. Uma declaração
ampla, votada em 1987, abordou a decadência dos padrões sexuais da sociedade, quando
comparados aos ensinamentos das Escrituras Sagradas. O documento (2012a) indica que
“sob a influência da paixão não refreada por princípio moral e religioso, a associação dos
sexos tem, a uma extensão profundamente inquietante, se degenerado em licenciosidade e
abuso que resultam em escravidão. Com a ajuda de muitos filmes, televisão, vídeo,
programas de rádio e materiais impressos, o mundo está sendo conduzido a novas
profundezas de vergonha e depravação” (p. 184).
Depois de apresentar as práticas sexuais contrárias ao padrão bíblico, a declaração
termina dizendo: “Os degradantes resultados da obsessão desta era por sexo e a busca de

287
prazeres sensuais estão claramente descritos na Palavra de Deus. Mas Cristo veio para
destruir as obras do diabo e restabelecer o correto relacionamento dos seres humanos uns
com os outros e com Seu Criador. Portanto, embora caídos e cativos do pecado, aqueles
que se voltam para Cristo em arrependimento recebem pleno perdão e escolhem o
caminho melhor, o caminho para a completa restauração” (2012a, pp. 184, 185).
Ao tratar do problema da pornografia, em 1990, a denominação afirmou em
documento considerá-la “destrutiva, aviltante, insensibilizante e exploradora” (2012b, p.
192).
Oito anos depois, a Igreja Adventista, ao tratar sobre doenças sexualmente
transmissíveis, apresentou implicações relevantes para a discussão referente à
sexualidade. A declaração indicou que: (1) “A igreja afirma a visão bíblica de sexualidade
como um atributo saudável da natureza humana criada por Deus, algo para ser desfrutado
e usado de modo responsável no casamento, como parte do discipulado cristão” (2012c,
p. 189); (2) “a igreja está comprometida em compartilhar a perspectiva bíblica da
sexualidade humana de maneira intencional e culturalmente adequada” (p. 190); (3) “a
igreja chama as pessoas a se consagrarem, diante de Deus, a uma vida de abstinência
sexual fora do pacto matrimonial e à fidelidade sexual ao cônjuge” (p. 190); (4) e
“Feridas emocionais e espirituais deixadas pela atividade sexual que viola o plano de
Deus inevitavelmente deixam cicatrizes. Mas a igreja dá continuidade ao ministério de
misericórdia e graça de Cristo, oferecendo o perdão, a cura e o poder restaurador de
Deus” (p. 190).
Em 1999, a Associação Geral votou uma declaração referente à homossexualidade
que afirmou três elementos importantes: (1) “A Igreja Adventista reconhece que cada ser
humano é precioso à vista de Deus. Por isso, buscamos ministrar a todos os homens e
mulheres no espírito de Jesus” (2012d, p. 104); (2) o “padrão heterossexual é confirmado
em todas as Escrituras. A Bíblia não faz ajustes para incluir atividades ou
relacionamentos homossexuais. Os atos sexuais praticados fora do círculo do casamento
heterossexual estão proibidos” (p. 104); e (3) “os adventistas empenham-se por seguir a
instrução e o exemplo de Jesus. Ele afirmou a dignidade de todos os seres humanos e

288
estendeu a mão compassivamente a todas as pessoas e famílias que sofriam a
consequência do pecado. [...] Mas fez distinção entre Seu amor pelos pecadores e Seus
claros ensinos sobre as práticas pecaminosas” (p. 104).
Diante do aumento da pressão social acerca da regulamentação da união entre
pessoas do mesmo sexo, em 2004 a Igreja Adventista reafirmou sua posição referente ao
modelo bíblico de matrimônio e família, conforme expresso na crença fundamental 23. A
declaração oficial termina dizendo: “Acreditamos que todas as pessoas,
independentemente de sua orientação sexual, são filhas de Deus. Não toleramos que
qualquer grupo sofra escárnio ou ridículo, muito menos abuso. No entanto, é muito claro
que a Palavra de Deus não aprova um estilo de vida homossexual; como a Igreja Cristã
também não o aprovou, nos seus dois mil anos de história. Os adventistas do sétimo dia
creem que o ensinamento bíblico ainda é válido hoje porque está ancorado na própria
natureza da humanidade e do plano de Deus para o casamento na criação” (2012d, p.
106).
Em 2017, respondendo à complexa questão do transgenerismo, a denominação votou
uma “Declaração sobre transgêneros” que, entre outros pontos, afirma: (1) “Deus criou o
ser humano como duas pessoas que são respectivamente identificadas como homem e
mulher em termos de gênero”; (2) “a partir da perspectiva bíblica, o ser humano é uma
unidade psicossomática”; (3) “a Escritura reconhece, porém, que, devido à queda (Gn
3:6-19), o todo do ser humano, ou seja, nossas faculdades mental, física e espiritual, foi
afetado pelo pecado (Jr 17:9; Rm 3:9; 7:14-23; 8:20-23; Gl 5:17) e necessita ser renovado
por Deus (Rm 12:2)”; (4) “o fato de alguns indivíduos alegarem uma identidade de
gênero incompatível com seu sexo biológico revela uma grave dicotomia. [...] Embora a
disforia de gênero possa não ser considerada intrinsecamente um ato pecaminoso, pode
resultar em escolhas pecaminosas”; (5) “desde que os homens e mulheres transgêneros
estejam comprometidos em ordenar sua vida de acordo com os ensinos bíblicos sobre a
sexualidade e o casamento, eles podem ser membros da Igreja Adventista do Sétimo
Dia”; (6) “visto que a Bíblia considera os seres humanos como entidades integrais e não
faz distinção entre sexo biológico e identidade de gênero, a Igreja veementemente adverte

289
os homens e mulheres transgêneros contra a cirurgia de mudança de sexo e contra o
casamento, se tiverem passado por esse procedimento”; (7) “a Bíblia ordena os
seguidores de Cristo a amarem uns aos outros. Criados à imagem de Deus, todos devem
ser tratados com dignidade e respeito. Isso inclui os homens e mulheres transgêneros”; (8)
“aqueles que experimentam desajuste entre seu sexo biológico e sua identidade de gênero
são incentivados a seguir os princípios bíblicos ao lidar com sua angústia. [...] Com todos
os crentes, os homens e mulheres transgêneros são incentivados a esperar em Deus, e é-
lhes oferecida a plenitude da compaixão divina, da paz e da graça, em antecipação da
breve volta de Cristo, quando todos os verdadeiros seguidores de Cristo serão plenamente
restaurados ao ideal de Deus.”
Considerando a quantidade de orientações bíblicas e denominacionais referentes ao
tema sexualidade, é possível enunciar alguns princípios para o trabalho editorial.

Princípios editoriais
1. Apesar da promoção contemporânea acerca de comportamentos sexuais contrários
à orientação bíblica, nos materiais da editora deve-se defender, com sensibilidade
e respeito, a perspectiva das Escrituras, que implica a vivência da sexualidade em
um relacionamento matrimonial monogâmico, heterossexual e vitalício.
2. Ao tratar de comportamentos sexuais contrários à Bíblia, é preciso deixar claro
que há graça, perdão e restauração para todo aquele que renuncia tais
comportamentos e se compromete a viver de acordo com a vontade de Deus.
3. Não se deve promover produtos da indústria cultural que incentivem uma visão
distorcida da sexualidade orientada pela Bíblia.
4. Em livros didáticos, é preciso cuidar para que as atividades sugeridas não
endossem ou promovam perspectivas enviesadas sobre sexualidade.
5. Nenhum material deve incitar a violência ou qualquer forma de preconceito em
relação a pessoas que vivenciem a sexualidade de maneira diferente daquela
revelada nas Escrituras Sagradas.

290
6. Ao divulgar matérias que incluam relatos envolvendo a sexualidade dos
personagens, deve-se tomar o cuidado de preservar a identidade dos entrevistados
por meio de recursos como pseudônimos, iniciais ou distorção da imagem. Esse
procedimento deve ser observado mesmo quando a pessoa autoriza por escrito a
revelação de sua identidade. Afinal, há outras pessoas envolvidas e o próprio
entrevistado poderá sofrer preconceitos ou se arrepender mais tarde.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012a). Comportamento sexual. Em
Declarações da igreja (pp. 184, 185). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2005b). Pornografia. Em Declarações


da igreja (pp. 192, 193). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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transmissíveis. Em Declarações da igreja (pp. 186-191). Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira.

Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012d). Homossexualidade. Em


Declarações da igreja (p. 104). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2017, Maio). Declaração sobre
transgeneridade. Revista Adventista, 36, 37.

Kis, M. (2018). Sexualidade. Em D. Fortin & J. Moon (Eds.). Enciclopédia Ellen G.


White (pp. 1300-1302). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

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White, E. (2013). O lar adventista. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2015). Testemunhos para a igreja (V. 2). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

291
SUICÍDIO. Infelizmente, o índice de mortes voluntárias tem aumentado consideravelmente
nos últimos anos, atingindo, inclusive, a comunidade adventista do sétimo dia. O
fenômeno é sensível, complexo e demanda atenção ao ser abordado em materiais
produzidos pela igreja.
A Bíblia afirma que a vida é um presente de Deus (Gn 1:30; 2:7; Sl 36:9; At 17:25,
28), que criou o ser humano à Sua imagem e semelhança, a fim de que experimentasse a
plenitude da existência (Gn 1:27; 1Pe 1:18, 19; 1Jo 2:2; 3:2). Embora o pecado tenha
entrado no mundo, e com ele a morte (Gn 3; Rm 5:12), o Senhor espera que Seus filhos
preservem e promovam a vida, considerando o corpo como santuário do Espírito Santo
(1Co 6:19, 20) e sacrifício vivo (Rm 12:1-3), em honra ao Seu nome. Por isso, Ele
defende a preservação da vida e condena sua destruição (Gn 9:5, 6; Êx 20:13; Dt 24:16;
Pv 6:16, 17; Mq 6:7; Ap 21:8; 22:13-15).
Ellen White, considerando a ampla dimensão da vida humana apresentada nas
Escrituras, entendia que o suicídio não se limitava ao ato, mas também incluía condutas
que conspiram contra o bem-estar integral da pessoa. Assim, ela afirmava que práticas
nocivas à saúde como onanismo (White, 2015a, p. 452), sobrecarga de trabalho (White,
2014a, p. 520), glutonaria (White, 2015b, p. 416) e alimentação imprópria (White, 2015c,
p. 69) seriam consideradas, no dia do juízo, como suicídio (White, 2004, p. 61). Ao
abordar o ato em si, a autora avaliava que “a descuidada satisfação própria”, escrava da
natureza carnal, torna as pessoas “tão cansadas da vida que se suicidam” (White, 2013, p.
726). Contudo, se a pessoa que está cogitando o suicídio “vier tal qual se encontra,
desamparada e maculada pelo pecado, lançando-se junto à cruz”, “existe ali um Salvador
capaz de erguê-la” (White, 2008, p. 143).
Ao refletir sobre a complexidade do tema, Ángel Rodríguez (2004) destacou dois
pontos fundamentais: (1) “a psicologia e a psiquiatria têm revelado que muito
frequentemente o suicídio é o resultado de profunda revolta emocional ou bioquímica
desestabilizada associada a um estado de depressão profunda e medo. Não devemos
julgar uma pessoa que, sob estas circunstâncias, opta pelo suicídio”; e (2) “a justiça de
Deus leva em consideração a intensidade de nossas mentes perturbadas; Ele nos

292
compreende melhor do que qualquer outra pessoa”. Portanto, diante dos fatores físicos,
psicológicos, sociais e espirituais que podem contribuir para que alguém tome a decisão
de tirar a própria vida, deve-se tomar muito cuidado ao produzir materiais sobre o
assunto.
Paula Fontenelle (2008) propõe algumas perguntas avaliativas para decidir se a
morte voluntária deve ser publicada ou não: “(1) Por que divulgar o fato? É relevante?;
(2) Que tipo de impacto a reportagem pode ter?; (3) Que espaço deve ocupar?; (4) Que
tratamento merece?” (p. 226).
Orientações específicas sobre como os veículos de comunicação devem tratar essa
questão também são encontradas em documentos como Prevenção do suicídio: Um
manual para profissionais da mídia, publicado em 2000 pela Organização Mundial da
Saúde. Em suma, na seção “o que fazer”, a OMS recomenda: “(1) trabalhar em conjunto
com autoridades de saúde na apresentação dos fatos; (2) referir-se ao suicídio como
suicídio ‘consumado’, não como suicídio ‘bem-sucedido’; (3) apresentar somente dados
relevantes, em páginas internas de veículos impressos; (4) destacar as alternativas ao
suicídio; (5) fornecer informações sobre números de telefones e endereços de grupos de
apoio e serviços onde se possa obter ajuda; e (6) mostrar indicadores de risco e sinais de
alerta sobre comportamento suicida.”
Por sua vez, na seção “o que não fazer”, o documento aconselha: “(1) não publicar
fotografias do falecido ou cartas suicidas; (2) não informar detalhes específicos do
método utilizado; (3) não fornecer explicações simplistas; (4) não glorificar o suicídio ou
fazer sensacionalismo sobre o caso; (5) não usar estereótipos religiosos ou culturais; e (6)
não atribuir culpas.”

Princípios editoriais
1. Os materiais produzidos pela editora devem difundir o conceito bíblico de que a
vida é um dom divino, que o Senhor a promove e deseja proporcioná-la de modo
pleno e que sua destruição não é uma atitude aprovada por Ele.

293
2. Ao produzir materiais preventivos relacionados ao suicídio, deve-se tratar o
assunto com o máximo de cautela possível. Assim, não há espaço para explicações
simplistas, estigmatizadas, destituídas de uma discussão científica ou que de
alguma maneira enalteçam o ato, quem decidiu tirar a própria vida ou atentar
contra ela.
3. Por outro lado, deve-se destacar recursos de apoio para quem luta contra esse
pensamento, informações relevantes para discussão do tema e sinais que visam
ajudar as pessoas a identificar essa intenção.
4. A divulgação de algum suicídio em materiais da editora deve, em primeiro lugar,
ser discutida com o superior imediato responsável e, em consulta com ele, caso
haja a intenção de publicar o fato, passar pelos seguintes critérios: relevância,
impacto, extensão e abordagem.

Bibliografia
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White, E. (2015c). Testemunhos para a igreja (V. 2). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

295
TEOLOGIA. Ao longo da história sagrada, mensageiros inspirados compartilharam o
conteúdo da revelação divina conforme o Senhor intencionava que assim o fizessem
(2Tm 3:16, 17; 2Pe 1:20, 21). Por meio de pessoas, recursos, contextos e tempos
diferentes (Hb 1:1, 2), Deus desvelou aspectos de Sua pessoa e vontade
progressivamente. Assim, a compreensão da verdade divina também ocorre de modo
progressivo, à medida que o povo de Deus se aprofunda naquilo que foi revelado por
meio das Escrituras Sagradas (Rm 16:25, 26; 1Pe 1:10, 12). Isso torna ainda mais
impactante a admoestação de Jesus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a
vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5:39). Desse modo, a teologia,
mais do que um exercício teórico, deveria ser sobretudo um aprofundamento relacional
com Deus que leva ao conhecimento, à maturidade espiritual e, finalmente, à salvação em
Cristo.
Considerando a profundidade da revelação divina, é impossível perscrutar todas as
minúcias da Bíblia. Essa ideia parece estar contida na parábola do tesouro escondido (Mt
13:44). Ao comentar esse versículo, Ellen White afirmou que “o campo que encerra o
tesouro representa as Sagradas Escrituras. E o evangelho é o tesouro” (2016a, p. 104). “A
Palavra de Deus deve ser nosso estudo. [...] É um depósito inesgotável; mas os homens
deixam de achar esse tesouro porque não o procuram até adquiri-lo” (p. 109). Ela ainda
disse: “Ninguém pense que não há mais sabedoria para alcançar. [...] Há a imensidade
além de tudo que podemos compreender. [...] A escavação precisa aprofundar-se mais e
mais na mina, e maravilhosos tesouros serão o resultado. Por uma fé correta, o
conhecimento divino tornar-se-á conhecimento humano” (p. 113).
Ellen White acreditava que “em cada época há novo desenvolvimento da verdade,
uma mensagem de Deus para essa geração” (White, 2016a, p. 127). Assim, “jamais
alcançaremos um período em que não haja para nós acréscimo de luz” (White, 2016b, p.
404). Por exemplo, a igreja sempre terá espaço para crescer em “pureza e santidade”
(White, 2015a, p. 534), no conhecimento do “caráter de Deus” (White, 2015b, p. 464),
“do amor de Deus em entregar Seu Filho para propiciação por nossos pecados” (White,

296
2016a, p. 128), da “cadeia de profecias” (White, 2015c, p. 692) e do “significado da
dispensação judaica” (White, 2016a, p. 133).
O conhecimento progressivo da verdade, contudo, não ocorre de modo
desordenado. P. Damsteegt (1991, pp. 9-11) sistematizou cinco princípios encontrados
nos escritos de Ellen White que norteiam o processo de novas descobertas nas Escrituras:
(1) “Novas perspectivas sobre velhas verdades” (White, 2016a, p. 127); (2)
“desdobramentos das velhas verdades” (White, 2016a, p. 127); (3) “harmonia com os
fundamentos do adventismo” (White, 2015d, p. 102); (4) “harmonia com os marcos
antigos da fé” (White, 2010, p. 21); e “harmonia com a hermenêutica historicista” (White,
1884). Com base no pensamento da autora, ele ainda sugeriu três perguntas para testar
uma nova interpretação: (1) “É cristocêntrica?” (White, 2015e, p. 444); (2) está em
conformidade com “a lei e o testemunho”? (White, 2014, p. 301); (3) “produz frutos de
justiça?” (White, 1890).
Esses critérios ajudam a compreender a atitude de Ellen White quanto à publicação
de materiais teológicos pelas editoras adventistas, especialmente aqueles que apresentam
uma “nova luz” doutrinária. Quando a ideia não passa pelo teste acima sistematizado, ela
deve ser avaliada com alguns outros critérios. Em primeiro lugar, deve-se evitar
“suspeitas e preconceitos” (White, 2010, p. 29) em relação àqueles que apresentam uma
perspectiva teológica diferente. Em espírito de humildade, oração e submissão à Palavra,
os que se acham em posição de responsabilidade “devem estar prontos a analisar, com
sinceridade, todo ponto controvertido” (p. 29). Nesse processo, “irmãos de experiência”
precisam ser consultados, e o parecer deles, considerado (p. 31). Ellen White foi enfática
ao lembrar que “Deus não esqueceu o Seu povo, escolhendo um homem isolado aqui e
outro ali como os únicos dignos de que lhes confie a verdade” (2010, p. 30). Desse modo,
Ele conduz a igreja por intermédio da fé estabelecida do corpo de crentes.
Além disso, é necessário estar atento a discussões secundárias, pois Satanás tem
poder para dar a essas questões uma “falsa aparência” de “beleza e importância”,
tornando o “tema todo absorvente, o único e grande ponto em volta do qual tudo gira”,
desarraigando, assim, a verdade do coração (White, 2010, p. 31). Uma pessoa que tem

297
ideias questionáveis e não consegue mantê-las consigo não deveria encontrar espaço nas
publicações adventistas, pois “não é seguro dar-lhe influência que o habilite a abalar
outras mentes” (p. 31). “O erro jamais é inofensivo. Nunca ele santifica, mas sempre traz
confusão e dissensão. É sempre perigoso” (p. 31).
Finalmente, Ellen White recomendou: “Se um irmão diverge de você em alguns
pontos da verdade, não o exponha ao ridículo, não considere sua luz como sendo falsa, ou
dê um sentido falso a suas palavras, ridicularizando-o; não interprete mal suas palavras ou
tire-as de seu sentido verdadeiro. Essa não é uma forma conscienciosa de discussão”
(White, 2010, p. 33). Em vez disso, “pegue a Bíblia e, com espírito amável, avalie cada
argumento que for apresentado e então mostre-lhe pelas Escrituras se estiver errado.
Quando agir assim, sem sentimentos rudes, estará apenas cumprindo seu dever e o dever
de todo ministro de Cristo” (pp. 33, 34).
Essas orientações parecem influenciar a declaração “Liberdade e responsabilidade
teológica e acadêmica”, aprovada pela Igreja Adventista em 1987. O documento afirma
que “é compatível com a prática administrativa adventista reconhecer o privilégio do
obreiro de estudar por si mesmo a Bíblia, a fim de pôr à prova todas as coisas” (2012, p.
163). Contudo, nenhum obreiro “deve presumir que sua perspectiva pessoal limitada não
necessita das ideias e da influência corretiva da igreja a que serve” (p. 163). Os
adventistas reconhecem que “somente o povo de Deus e a igreja como um todo podem
decidir o que é ou não a verdade à luz das Escrituras. Nenhum membro ou obreiro pode
servir como um intérprete infalível para quem quer que seja” (p. 164). Por isso, não se
deve “receber nem promover nenhuma nova doutrina ou interpretação sem primeiro
submetê-la ao julgamento de irmãos experientes” (p. 164).
A declaração salienta que “mesmo um vislumbre genuíno da verdade descoberto
por um obreiro pode não ser aceito pelo conjunto de crentes em sua primeira exposição.
Se tal ensinamento é divisivo, não deve ser ensinado ou pregado até que seja avaliado”
(2012, p. 164). “Dar tempo para que um princípio ou uma nova verdade traduza-se na
vida diária da igreja mostra respeito pela integridade do corpo de Cristo” (pp. 164, 165).
Quando, porém, “há descobertas e interpretações em que ocorrem diferenças de opiniões

298
dentro da igreja, mas que não afetam o relacionamento de alguém com ela ou com sua
mensagem”, o erudito deve ser “justo em sua apresentação”, deixando clara sua “lealdade
à igreja” e diferenciando “entre hipóteses e fatos, e entre assuntos centrais e periféricos”
(2012, p. 172). Destaca-se, portanto, na compreensão da Igreja Adventista, o equilíbrio
entre a liberdade de pesquisa e a responsabilidade pela unidade da fé e pelo bem-estar do
corpo de Cristo.

Princípios editoriais
1. Interpretações que contrariem os ensinos bíblicos ou que não estejam solidamente
fundamentadas, embora concordem com as Escrituras, não devem ser publicadas.
2. As posições teológicas consolidadas pelo corpo de membros da Igreja Adventista
têm precedência sobre qualquer opinião inovadora. Contudo, não se deve ignorar
o fato de que é possível ampliar a compreensão das verdades bíblicas já
conhecidas pela igreja.
3. Ideias teológicas inovadoras devem ser analisadas a partir das seguintes perguntas:
(a) Trata-se de um desdobramento de verdades bíblicas já conhecidas? (b) Está em
conformidade com os fundamentos bíblicos que sustentam o adventismo? (c) É
consistente com a interpretação historicista das profecias? (d) É cristocêntrica? (e)
Está em harmonia com os escritos de Ellen White? (f) Promove bons frutos na
vida cristã?
4. Nenhum material inovador deve ser publicado sem considerar os critérios
apresentados, nem deixar de ser avaliado por pastores de experiência e
conhecimento do assunto em questão.
5. Mesmo que uma nova ideia seja considerada válida, deve-se cuidar acerca da
pertinência de sua publicação. Temas que possam gerar divergências ou debates
desnecessários no contexto da igreja não devem ser apresentados até que uma
análise cuidadosa de seu impacto seja favorável à divulgação.

299
6. Assuntos que não sejam teologicamente consensuais, mas que ocupam posição
periférica, podem ser publicados, desde que em sua exposição considerem-se as
demais opções interpretativas existentes entre os adventistas do sétimo dia.
7. Ideias divergentes da compreensão teológica aceita pelo corpo de membros da
Igreja Adventista não devem ser ridicularizadas por meio das publicações
denominacionais, muito menos seus expositores.

Bibliografia
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. (2012). Liberdade e responsabilidade
teológica e acadêmica. Em Declarações da igreja (pp. 163-172). Tatuí, SP: Casa
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White, E. (2015e). Testemunhos para a igreja (V. 3). Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira.

300
White, E. (2016a). Parábolas de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

White, E. (2016b). Mensagens escolhidas (V. 1). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.

301
APÊNDICE D

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO

1. INFORMAÇÕES GERAIS DO AVALIADOR:

1.1 Sexo
( ) Masculino
( ) Feminino

1.2 Tempo de trabalho na área editorial/comunicação


( ) 0 a 5 anos
( ) 6 a 10 anos
( ) 11 a 15 anos
( ) 16 a 20 anos
( ) Mais de 20 anos

1.3 Formação
( ) Graduação
( ) Pós-graduação lato sensu incompleta
( ) Pós-graduação lato sensu completa
( ) Mestrado incompleto
( ) Mestrado completo
( ) Doutorado incompleto
( ) Doutorado completo

2. SEÇÕES “APRESENTAÇÃO” E “IMPORTÂNCIA DAS PUBLICAÇÕES


ADVENTISTAS”

2.1 Você acredita que as informações fornecidas na seção são suficientes para o
propósito do Manual? Justifique.
Resposta

2.2 Mencione os aspectos positivos encontrados na seção:


Resposta

2.3 Mencione os aspectos negativos encontrados na seção:


Resposta

302
2.4 Que sugestões ou críticas você gostaria de fazer quanto à seção?
Resposta

2.5 Como você avalia a seção em termos de:


Extensão:
Profundidade:
Aplicabilidade:

3. AVALIAÇÃO DA SEÇÃO “VISÃO E MISSÃO EDITORIAL”

3.1 Você acredita que as informações fornecidas na seção são suficientes para o
propósito do Manual? Justifique.
Resposta

3.2 Mencione os aspectos positivos encontrados na seção:


Resposta

3.3 Mencione os aspectos negativos encontrados na seção:


Resposta

3.4 Que sugestões ou críticas você gostaria de fazer quanto à seção?


Resposta

3.5 Como você avalia a seção em termos de:


Compreensão:
Eficiência:
Motivação:

4. AVALIAÇÃO DA SEÇÃO “VALORES”

4.1 Você acredita que as informações fornecidas na seção são suficientes para o
propósito do Manual? Justifique.
Resposta

4.2 Mencione os aspectos positivos encontrados na seção:


Resposta

4.3 Mencione os aspectos negativos encontrados na seção:


Resposta

4.4 Que sugestões ou críticas você gostaria de fazer quanto à seção?


Resposta

303
4.5 Como você avalia a seção em termos de:
Objetividade:
Abrangência:
Convergência com a ética bíblica:

5. AVALIAÇÃO DA SEÇÃO “COSMOVISÃO”

5.1 Você acredita que as informações fornecidas na seção são suficientes para o
propósito do Manual? Justifique.
Resposta

5.2 Mencione os aspectos positivos encontrados na seção:


Resposta

5.3 Mencione os aspectos negativos encontrados na seção:


Resposta

5.4 Que sugestões ou críticas você gostaria de fazer quanto à seção?


Resposta

5.5 Como você avalia a seção em termos de:


Fundamentação:
Clareza:
Relação com a área editorial:

6. AVALIAÇÃO DA SEÇÃO “VERBETES”

6.1 O que você achou da maneira como os verbetes foram elaborados?


Resposta

6.2 Quais verbetes mais lhe chamaram a atenção? Por quê?


Resposta

6.3 Houve algum verbete que não foi bem elaborado? Por quê?
Resposta

6.4 Você sentiu falta de algum verbete? Por quê?

6.5 Você tem alguma sugestão para melhorar a seção de práticas?


Resposta

6.5 Como você avalia a seção em termos de:

304
Fundamentação teórica:
Aplicação prática:
Alcance:

7. AVALIAÇÃO GERAL

7.1 Você foi pessoalmente/profissionalmente beneficiado (a) com a leitura do Manual


Filosófico? Por quê?
Resposta

7.2 Você acredita que o Manual Filosófico será relevante para o direcionamento da
produção editorial da Casa Publicadora Brasileira? Por quê?
Resposta

7.3 Você tem alguma consideração adicional a ser feita nesta avaliação?
Resposta

305
LISTA DE REFERÊNCIAS

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CURRICULUM VITAE

Nome: Wellington Vedovello Barbosa


Informação: Nasci em 17 de fevereiro de 1982, em Campinas, Estado de São Paulo,
Brasil. Conheci a Igreja Adventista do Sétimo Dia enquanto cursava o
Ensino Fundamental no Instituto Adventista São Paulo. Fui batizado em
1999, na mesma instituição.
Família: Casei-me em dezembro de 2005 com Fernanda Aparecida Loiola Barbosa,
mestre em Educação, pós-graduada em Psicopedagogia e graduada em
Pedagogia. Somos pais da Helena, nascida em janeiro de 2019.
Educação:

2016-2021 Doutorado em Ministério pela Andrews University, Berrien Springs,


Michigan.
2011-2014 Mestrado em Teologia Pastoral pelo Seminário Teológico do Centro
Universitário Adventista de São Paulo, Engenheiro Coelho, SP.
2009-2011 Pós-graduação em Aconselhamento Pastoral Familiar pela Sociedade
Paranaense de Ensino e Informática, Curitiba, PR.
2000-2005 Graduação em Teologia e Administração pelo Centro Universitário
Adventista de São Paulo, Engenheiro Coelho, SP.
Ordenação:

2009 Associação Sul-Paranaense da Igreja Adventista do Sétimo Dia (União Sul-


Brasileira).
Experiência:

2014-2021 Editor da revista Ministério e de livros denominacionais na Casa


Publicadora Brasileira.
2012 (jun)-2013 Pastor do distrito Central de Tatuí (Associação Paulista Sudoeste, União
Central Brasileira).
2012 (até maio) Pastor do distrito Central de São José dos Pinhais (Associação Sul-
Paranaense, União Sul-Brasileira).

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2008-2011 Pastor do distrito do Alto Boqueirão (Associação Sul-Paranaense, União
Sul-Brasileira).
2006-2007 Pastor associado da Igreja Adventista do Boqueirão (Associação Sul-
Paranaense, União Sul-Brasileira).

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