Parecer 7 Sobre Consentimento Na Intervena Aao Psicolaogica Com Criana As e Adolescentes

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N ORDEM DOS , PSICOLOGOS Parecer 7/CEOPP/2015 Sobre o consentimento na intervengao psicolégica com criangas e adolescentes Relator: Mario Jorge Silva Preambulo: A Comissao de Etica da Ordem dos Psicélogos Portugueses, em reuniao ordinaria do dia 17 de abril de 2015, entendeu elaborar um parecer a propésito da questao colocada por uma Psicéloga sobre o consentimento na intervengao psicolégica com criangas e adolescentes bem como o contexto onde se pode realizar essa intervengao. Este parecer ndo visa arbitrar nenhuma questdo concreta, mas apenas pronunciar-se sobre questdes genéricas tidas como relevantes para a boa pratica da psicologia. Em momento algum, porque nao é esse o objetivo da Comisséo de Etica, bem como por desconhecimento sobre a situagdo, este Parecer pretende constituir-se como um reparo a qualquer situagao concreta. Como ponto prévio, néo pode esta Comissao deixar de fazer referéncia ao Cédigo Deontolégico da OPP como base para a resposta as questées entretanto colocadas, nomeadamente no que diz respeito as questées do consentimento informado, privacidade e confidencialidade, prética e intervencdo psicolégica. Pagina 1 de 6 N 4 ORDEM bos PSICOLOGOS O objetivo fundamental do consentimento informado 6 instrumental, ou seja, visa promover a maior confianga possivel nas relagées entre as pessoas. Nessa perspetiva, a idade nao se deve constituir como a referéncia fundamental para a decisdo do psicélogo em atender uma crianga ou adolescente. Evidentemente, que 0 consentimento exige compreensdo por parte do cliente, pelo que uma crianga teré sempre uma capacidade limitada em exprimir a sua vontade. Nesta perspetiva @ 0 seu representante legal que deve dar o consentimento, uma vez que nenhuma intervengdo tera o resultado adequado se a familia ou responsaveis da crianga nao colaborarem, o que apenas serd possivel se concordarem com a intervengao. Salvo algumas excegées, por principio, quanto mais velha for a crianga, maior serd a sua capacidade em compreender o que est em causa, pelo que deve ser envolvida na informagao e consequente consentimento sobre a natureza e objetivos da intervengdo psicoldgica, tal como estatui o artigo 1.4. Limites da auto-determinagao, do Cédigo Deontolégico. Por definigéo, 0 adolescente ¢ competente e capaz de emitir a sua opiniéo sobre 0 que considera adequado para si proprio. Entéo ele nao pode ser Tetirado do processo de consentimento informado sob pena da intervengao nao resultar. Independentemente de existirem diferentes idades legais para que seja necessario 0 consentimento informado da crianga/adolescente, o mais importante @ conseguir construir uma relagéo de confianga, pelo que o consentimento ser sempre devido. Pagina 2de6 N 4 ORDEM bos PSICOLOGOS ‘A questo complexifica-se quando o adolescente ndo quer envolver os Progenitores ou responsaveis legais nesse consentimento, e consequente Participagao no processo. Na verdade, a nao presenga desses responsaveis poderé comprometer o processo, dado que a intervengdo psicolégica sera muitas vezes dificil se os progenitores ou responsaveis nao colaborarem na mesma Entao independentemente de qualquer enquadramento legal é do interesse do Psicblogo que os progenitores/responsaveis legais sejam envolvidos no processo. Desta forma, se uma crianga/adolescente solicita intervenco psicolégica sem o consentimento e conhecimento dos pais, o psicélogo podera, numa primeira fase, e a luz do Principio Geral da Beneficéncia e da Nao- maleficéncia, presumir 0 consentimento dos pais, recebendo a crianga/adolescente em consulta, tal como estatui o artigo 1.5. Situagées agudas, do Cédigo Deontolégico. Contudo, o seu primeiro objetivo sera sempre avaliar os motivos que levam o jovem cliente a negar a presenca dos pais/responsdveis legais no proceso, tentando resolver essas dificuldades a fim de conseguir autorizagao para envolver os mesmos. Caso tal nao seja possivel o psicélogo poderé optar por um de dois caminhos. Ou avalia o pedido da crianga/adolescente como nao razoavel, e termina com 0 processo, ou entende que existem motives para que o cliente tema que os pais/representantes legais sejam informados da consulta. Nesse caso, com individuos menores de 18 anos, tera que desenvolver os mecanismos ao seu alcance a fim de assegurar a protegéo adequada a crianga, dado que constituiré sempre uma situagao de perigo uma crianga nao poder confiar nas. pessoas que a representam. Pagina 3 de 6 N 4 PSICOLOGOS ORDEM bos Se 0 individuo for maior de 18 anos, e o psicélogo considerar a intervengdo pertinente mesmo sem o conhecimento dos pais, podera, evidentemente, levar a cabo essa intervencao. Do mesmo modo, se entender que o envolvimento dos progenitores for importante, deve promover essa possibilidade junto do seu cliente. Assim, considerando que: 1 A intervengao psicolégica deve obedecer aos principios técnicos e cientificos que orientam a profissao exigindo ao profissional uma sélida formagao e premente atualizagdo dos seus conhecimentos; A intervengao psicolégica com criangas e adolescentes reveste-se de algumas especificidades sobretudo no que se refere ao consentimento informado que devera ser prestado pelo responsavel legal da crianga ou adolescente, bem como com a privacidade; A intervengao psicolagica com criangas e adolescentes requer, na maior parte das situagées, a colaboragao dos pais ou de outros educadores; O psicdlogo deve ter em ateng&o o impacto da sua intervengao e a possibilidade de alcangar os objetivos da intervengao de acordo com as necessidades e objetivos do jovem, © psicdlogo tem autonomia profissional para tomar decisées que, devidamente justificadas, possam salvaguardar o superior interesse da crianga e adolescente; ‘As condig6es fisicas onde se realiza a intervengao psicolégica devem ser ‘adequadas que garantam o respeito pela privacidade do cliente e permitam a utilizagéo dos meios considerados necessarios” (principio especifico 5.11 do Cédigo Deontolégico da OPP); Pagina 4 de6 ORDEM DOS | PSICOLOGOS 7. *Os psicélogos devem estar conscientes das limitagdes e dificuldade deste tipo de intervengao” (principio especifico 5.11 do Cédigo Deontolégico da OPP). Somos de parecer que: 1. Na intervengdo psicolégica com qualquer cliente e também com criangas e adolescentes, 0 psicélogo deve obter o consentimento informado do cliente e/ou do seu representante legal; 2. Na intervengao com criangas e adolescentes, para além das questées legais sobre a idade para dar o consentimento informado, que nao tém um enquadramento claro, 0 psicélogo deve, no desenho da sua intervengo, avaliar a possibilidade de sucesso da interveng&o caso nao seja obtido o consentimento nem a colaboragao do representante legal do menor; 3. Caso 0 envolvimento dos representantes legais seja necessario para o sucesso da intervengdo, mas nao seja possivel, nao dever o psicélogo prosseguir um trabalho que nao conseguird aleangar os seus objetivos. Nessas circunstancias deve ponderar altemativas que protejam a crianga ou jovem do perigo a que possa estar sujeito. 4. Como em outros casos, a privacidade e confidencialidade devem ser asseguradas pelo psicblogo assim como discutidos, a partida, os respetivos limites da confidencialidade sobretudo no que se refere aos limites colocados pela propria especificidade da idade do jovem; 5. Dentro da sua autonomia profissional e perante cada caso em concreto, © psicélogo deverd ter sempre em mente o superior interesse da crianga ou adolescente; Pagina 5 de6 N ORDEM bos a PSICOLOGOS 6. A intervengao psicolégica com o consentimento apenas do menor, apenas poderé acontecer se essa intervengao for justificada com 0 superior interesse da crianga ou adolescente e caso os objetivos da intervengdo sejam possiveis de alcangar nesse _contexto, inevitavelmente pouco aconselhavel; 7. O psicdlogo deve também avaliar o impacto que podera trazer a intervengao através de métodos nao presenciais, tomando a sua decisao apenas se tal se revelar estritamente necessdrio e néo comprometer as condigdes de seguranga, confidencialidade e sucesso da intervengao. Lisboa, 30 Maio 2015 Aprovado pela Comissao de Etica da Ordem dos Psicélogos Portugueses Relator do parecer O Presidente da i 4 ib he. Comissao de Etica Mario Jorge Silva Cédula profissional 1891 Cédula’Profissional 6696 Pagina 6 de 6

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