Manual de Covid e Conflitos Contratuais

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NOVO CORONAVIRUS E CRISE CONTRATUAL ANOTACAO AO CODIGO CIVIL Mantis pa dass publlcarSe pode sr soproducida pe pales poocenae cabal, Imecinico oa fowgriticn, inclundo fotocépia, xerocépi oa gravagdo, sem autarizagin préviado editor Excetuamete a rnscrigSes de curiae passagens para efeitos de apresentayio, critica ou discussfo das ideas e opnides contidasno live, Esta exeego aio pode, avestanto, ser interpretada como permaitine a trangerigio de textos ern recalha antoligicas ot similares, da qual posta resulta prejuize para o interesse pela obra (Os Jefbtoees as paasivele de peocedleaate judlela, cs tera As Kl Novo Coronavirus e Crise Contratual ANOTACAO AO CODIGO CIVIL Antigos 227°, 321, 330.",335.', 432." a437.", 762.°, 790." a 795.%, S01." 2 803°, 813." 0 816° Coordenagao: Catarina Monteiro Pires Autores Ana Perestrelo de Oliveira A. Barreto Menezes Cordeiro Catarina Monteiro Pires Dingo Costa Gonealves Madalena Perestrelo de Oliveira Tire EDITORA Lisboa / 2020 Fick Tecnica ‘Tiras: [Novo Carcmavinase Crite Contratual Ancingio we Cidigo Cha E2272, 321%, 3. 3854, 762, 700. 2795/30 ° 280. AAFDL~ 2020 Coordenasie: Catarins Morse Pires 2s 417, Haas! Antares: ‘Aa Pevetrela de Oliveira ‘A. Barreto Menezes Cordero Caarine Monscina Pies Dinga Costa Gongalves ‘Madalena Peresreo se Olives ‘Maria de Lunde Pereira Paiste: ‘AAFDL Alameda de Universidade - 1649-014 Lists Impresch: ‘AAFDL ISB: XXANNAN RAN IARIENI Depésito Legal: [NMA NAN KAN IEARIIENI sexxance | 2020 ‘A pandemia gerada pelo Novo Coronavirus representa provavelmente um dos maiores desafios das iltimas décadas. Des sociedade, as democracias, 20 comércio intemacional ¢, também, a0 Direito. {Em poucas semanas, asistimoas & sprovagdo de vitios diplomas legislativos, impondo regulagGes especiais e excecionais. Ao lado da “nova regulaga dde crise”, permanceem disponiveis mecanismos consolidados ha largas sdécadas no scio do Dircito Privado. Entre estes, emerge, com renovada vitalidade, 0 Cédigo Ci Neste contexto, o CIDP decidiu promover um. conjunto de videocasts ebooks gratuitos, 0 primeiro das quais dedicado 4 parte geral do Direita das ObrigagGcs. Na soquéncia desta iniciativa, cimpulsionada pela Associag3o ‘Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, surgiu depois a ideia de ‘uma anotagio a um conjunto de artigas do Cédigo Civil particwlarmente ‘vocacionados para regular problemas gerais de direito das obrigagdes ‘causados pela pandemia ¢ pela crise Num espace de poucas semanas, ¢ ainda em estado de emergéncia, a ‘equipa que promoveu o primeira videocast realizou o trabalho que agora se publica. Trata-se de anotagdes pensadas para o atual contexto, com referéncias Ici atualmente em vigor e que privilegiam a doutrina nacional ‘Num tempo de exigéncias intensas, c contanda sempre com o apoio da ‘Assaciagdo Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, esta obra ¢ dis- Ponibilizada a titulo gratuito, fazendo os seus Autores votos de que a mesma ‘possa scr itil astudantes, magistrados, arbitros, Advogados c outros juristas. Lisboa, 13 de maio de 2020 Diogo Costa Gonsalves | Aigo 227." [Diogo Costa Gonsalves] Artigo 227.° (Culpa na formacao dos contratos) 1. Quem negoceia com outrem para conclusio de um contrato deve, tanto nos preliminares camo na formago dele, proceder segundo as regras dda boa f8, sob pene de respontier pelos danos que culposamente causar & ouira parte 2..A responsabilidade prescreve nos termos do artigo 498." findice: 1. Enguacramento peral 11. triparticio clissica:infarmaco,lealdade seprotegio [2 radualidad 13. Naturea 2, Polosteleolbgicos da cup in comrahend 2.1, Prevaléneia do ertério funcional 22, Prato in contrukendo 2.3 Tutela da ‘ortade Livre e wc lareida2.4. Efickinea da proceten negoctal 3. Culpa in contrahend cetutela da canfianga 3.1. Arefeséncia & bow (832. Asutonomiada tela ds canfianga 4. Respoiabilidsdecivild 1. Danod 2. Regiiie 4.3. CuniuligSe S, Algurias concie- tizagGee5.1, Ruptura de megociagSes 52. Culpa in comtahenco de erceito 5.3. Culpa th lesado e due diligence Bibliografia: Awrowio Mexezs Conneino, Da boa féno Dineito Civil (984); A modemizagio de Diet Chi M2004, Pratad de Direto Chil, Le, 2012) ¢ U,4Med. 2014), "A efocns ances dos Dirt dss abe gages 20169", RDU O17) 9-29; CasLos PeRKEMA DE ALD, Contraios, 6 ed. (2018), Caxtos Mov Posto, d responsahilidade pré-negocial pela rio conclusdo das conurates (1968); (CATARINA MONTES PRES, Aguisido de empresas e de participarier aetonistas 2018), Lab; Dano Mours Vicenre, Da vesponsabilade préscontratual em Direta Internacional Privade (2001); “Culpa na formagio dos contratos", Comemorages da 35 anos da Césigo Coit, I (2007), 266-284; Bux Sona Moassna oA 30, AE relacdes entre a responsabilidade pré-contratual por informacies e os viiox da vontade ferme dolo} 2010); HssicH EWaLo HoRsTER, A Parte Geral do Cidige (Civil Portugués ~ Teoria Geral do Direto Civil (1902); YoKO BAPTISTA MACHADO, “Tutela da eontianca e evenire contra factam propriums”, Obra Dispersa, 1 (1991), 1HS-423; Jodo Cauvio na Sana, “Neposiayies preparatrias de eontrato-promessa ce responuabilidade pré-contratusl, Extudor de Dirito « Processo Civil(1999), 77-95; Jonce Siine Mowe, fesponsahifdade por eonscthos,eeomendares ou informs (1989); Luss Menezes Lerrio, “NegoctagSes e responsabilidade précomtzatual nes ‘eontratis comervaisinternacionais". 2014 60 (2000), 1. 49-771; Maratoa Mixasoa Bruno, Higdex de Responsabilidade Civif (2017); Mawuet Casmveino Da Fra, ‘Conaratoe deveres de protege (1998); Lina niercera viaw no Dreto da esponsabitidde iil? (1997); O prablemada impulagde de danas eausadas a terceiras par autres dle sociedades (1997); Teoria da confianga e responsabilidade civil 2004); MABIADA ‘Ganga Trico, Comentario ao Cig Civ | (2014), 227° (S10-S 4); MAREAKA FONTES ‘nx Custa, “O deverpeé-cariratul de informagio", REDUP A (2007), 367-304 MARIO Jeuo Asean Cost, Resporuabildade cid pela rptura das neociayes preparatias eum contraio (1984); "0 ebleulo da iulemmizaeio na responsabilidade ev] pela ruptura as negeciagSes", RLJ 139, 314-3233 Nuvo Posro.oE OLIvEsRA, “xCulpa in contrahendos. Intereise eontrival negative einteresse contratual positive —Ac. Do STI de26.01.2006, Proc. 4063/05", Cadernas de Direto Privado 20(2007), 34-49; Pxcio Moxa Povro, terete contrataal negativa inieresse eontratual paritiva, £2008); Promo Pus De VascoNceos/Penxo Lettio Fals.D# VasCONCELOS, Teoria oral do Bircito Cnt, 9 ed, 2019, ANOTACA 1, Enquadramento geral LL. A tripartigiio informagio, lealdade e prategio Acculpa in contrahendo permite a imputagio de danos acorridos no ‘contexto de uma negociagio com fundamento na violagia culpasa de deveres pré-contratuais impastos pela boa-fé" (informagla, Iealdade & "0 inate foi cunbado-por Fane ~ aur esd de 1861, truss para portugés por PAULO Mar. Pasto e eto pela medina: Culpa i comtrahendo cu inderensagio em conirutos malas ou nde chegades di perfeigdo (2008) ido te AGH com a reforms de 2002 Seite © devenvalvimento hstricn do imetituta © 8s recesdo em Portugal, vejt-se ANTONIO MENEZES CoRDEanO (2014), 207 ss, Diogo Casta Gangalves | Aviso protegdo’). Na formagio do negécio juridico, as partes devem prestar a informagdo pertinente e agir com lisura, evitando a produgio.de danos 4 parte contréria, © agravamento dos custos negaciais, ou a fiustragio do fim desejado pela celebragio do negécio. © triptico debntico encontra coneretizago.em grupos de casosttipicos. Na sistematizagao de Menczes CoRDeIRO, so eles: (if vuncrabilidade pré-negocial; (ii) contratagdo ineficaz; (i) intereup3o injustificada das negociagdes; fi tutela da parte frac ¢ (v) responsabilidade de tereeitos’, 1.2, Gradualidade [As exigéncias ético-juridicas da boa-f@ pré-contratual fazem sentir-se vom graus de intsnsidade muito diversos. A lealdade devida no inicio do process negocial, por exemplo, nfo é mesma que se exige no limiar da sua conclusio, Tio pouco é a mesma se em causa estiver uma relagdo especial de confianca (uberrimae fidei}*. A gradualidade dos deveres pré-contratusis imprime uma acentuada plasticidade na sua concretizaga0, 0 que se reflete na concreta conduta cxigivel ds partes em cada contexto momento negoci 1.3. Natureza Naguele que se afigura 0 enquadramento-dogmatico- mais carreto, a culpa in contrahendo tracuz uma relacdo obrigacional (ex lege) scm deveres ‘primirios de prestagio# 2. exietincia de deverespré contrast cle pros ¢controvers, Param confrante as varia eves, vee ANTONIO MENEZES ComDEMO 2014), 217 ss. ° Com devenvaivimenta ereferéncias, ANToa MENEzES Cowsano (2014), 271, * Mas CARNEIRO DA FAD. (200), 544 * Net sent, or todos, ANTONIO MENEZES ConDeuRo (20) CCamnaino me Fenn (2008), 102 sx ), aT as eM, ‘Antiga 227- | Diggo Costa Googles 2. Fotos teleotigicos da culpa in contrahendo 2.1, Prevaléneia do critério funcion: Mais relevante do que distinguir deveres pré-contratuais é assinalar a ddimensio funcional das condutas normativamente exigiveis*. A esta luz, Canntito D4 Fa..Da identifica trés polos telcoldgicos do instituto, scrvidos por diversas condutas’: (i) protey in contrahendo; (i) tutela da vontade livre e esclarecid; e (i) eficiéncia do processo negocial 2.2, Prategio in contrahende (Uma negocingdo determina um especial proximidade das esferas pessoais patrimoniais das partes contratantes, factor de especial vulnerabilidade c de increment do risco de lesdo. A boa-fé pré-contratual exige, portanto, ‘que durante negociagdo as partes adoptem um concluta que tenha em.conta «a protepio da integridade pessoal ¢ patrimonial dos sujeitos envolvidos, 2.3, Tutela da vontade livre e esclarecida © processo negocial culmina num exercicio positive ou negativo da ‘autonomia privada, que se deseja livre e esclarecida, © desconhecimento ‘ou 0 erro acerca daqueles dados relevantes para o conclusao da negécio ‘que adiligncia normal do interesssdo permite conhecer so, por principio, * Secunlande MANUEL CaRNeak0 DA FRA (2004, 107 > Carmuscar determina fact (deve de infcrmayio) pode erie, pr exemple, para afadar a lesio da pestoa aude patsimn da ours parte. Evita casio de dams no ‘pracesso aegacial dever de protego) pode ser 2 manifeslagde mais relevante de um ‘compartmento lisa eprobo (lealdade) , por 30, pole jusifiew a termode umarelagSo ‘cosa, com hae num liste précondraual, Neste senda, MA. CARNEIRO DA, Feana (2004), 107 (86), Acresento-se ainda que o comperamento précantraal é uno samesma conta pode tocar pols teleologicoedistintoe. Nestex cago, 3 leadade tend a serum clemenioagregador, presentando-se como um deversinese do somporiamento ‘exipivel , par iago, como o fundarmento da iicitude Diogo Cost Goncalves | Ariga 223" risco proprio do contraente (snus de auto-informagao). Um dever de informagio in contrahendo, localiza-se, portanto, a montante desse espago de auto-informagio. Tio pouco é exigivel & partes um comportamento cemulativo deseu proprio interesse. Mas tal nio significa que as partes no devam ter em considerasao os bens ¢ interesses da vontra-parte cxige-o a lisura negocial imposta pela boa-fé. (Osdever préscontratual de aclaraydo ou cxclarocimento (duflrumgspylichi) surge, sobretudo, cm situayées de assimetria informativa ou de vulnerabilidade nnegocial?(marcada por uma dependéncia de um contraente face a0 outro!) ou, mais genericamente, quanto Aquelas informagSes em que uma das partes se encenira em vantagem de conhecimento (Wissensvorsprung)" Aidentidade das partes, naturezado negéciae 0 historico do proprio fier negocial so determinantes para a coneretizago dos esclarccimentos ‘normativamente devidos. Expocialmente intensos sioos deveres de escla- recimentos fundados em conduta negocial pretérita, susceptivel de fundar 1 confianga num determinado estado de coisas": * Acompanbande Masur. Coxmsemo Da Fin (2008), 492, * ANrinuo MENEZES CoaDeiko (2014), 271 MANUEL Caanmo oa Faas (2008), 447. © Parque, por exemplo, ot elementos informativos em causa apenas pee sr pa i ‘conhecidos ou pracessados ou porque essa parte se envontra em melhores condisSes de Control risca de desconeimento (para 2 outa parte ou para amas) Nese enti, ‘Vejo-se MASUEL CARS 4 Fal (2008), 488 © dover pré-contratual de exclarecimenio pade conbecer previsio sxpecifics, Nos eatos prevsios ne art. 229-1, por exemplo, © pruponenle esti cbrigado fo acetante que o contrate ve ai conclurt. Também a dever de ebuciag nha at, 253.72 pode eaventrar Fundarento ans exigéncion éice-jusi contratual.O escape, cm ambas os cases, & preventido: oneravse uma parte dover de elucsar para evitar « produgde de um dana decorrents de um est ‘gnorantia que a parte costriria pode, semesforca, evita. Neste seatido ~e apenas reste ~ a calpain contrahendto promove um equilori pre-contratual: nia cuanto a0 ‘conti do negicioqus venta sor celebrado, as quanto ao proceaimente conduczaie 8 vincalagio ‘Aviigo 227° | Dioga Costa Goagaives 2.4, Eficiéneia do proceso negociat Durante toda a negaciago, as partes slo livres de contratar ou niio contratar A boa-f in contrahencfo atende, portanto, a0 comportamento-no Processo de negociagSo (niio tanto 20 seu resultado). Um comportamento probe in contrahendo afasta aquelas condutas que comprometem aeficicia do processo, que agravam injustificadamente » sun onerosidade on que configuram desvios do fim negocial". Exige-se ainda reserva natural sobne ‘contetidi da negaciagao-(mesmo sem acordo de confidencialidade), tanto mais intensa quanto mais lesiva puder sera divulgagio. 3. Culpa in contrahendoe tutela da confianga 3. Areferincia & boa-f6 -Acrientapio maioritéria reconduz a culpa in cantrahendo so principio datutela dacontiangae da primazia da materislidade subjecente, Ss existed, assim, respansabilidade pré-contratual see acharem preenchidos os pres- supostos da tutela da confianea, pondersdos em sistema mével:() sinuagda de confianga, (i) investimenta de conflanea, (i) justificagdo da confianga © (1) imputagaa da comfianga™ 3.2. Aautonomia da tutela da conflanga Negociar ex hona fide cria “estruturas de confianga"* no comércio Juridica, mas tal ndosignifica quea culpa in contraienda se confunda com ‘a responsabilidade pela confianga. A culpa in contrahendo assenta na "Utne npc inept bin iforsaso cused, po endiple, possibilidadechjciva de contatar, ou paraipedira conclusio de octronegécio; eucom firm emmlativo de inteesses au oportunidad abel, ee Awidone Menezes Conneano (2012), 969, “Na exprossda de MANUEL CARNEIRO DA Fabs (2004), 526, Diogo Cosi Goasalves | Aniga 27° ‘violago culposa de deveres de conduta © na imputagio daqueles danos qque conservem com 0 ilicito pré-contratual uma relagdo de causalidade ‘normativa. Na responsabilidade peta confianga, a mputago de danos no cexige um licito culposo. Ai, onde nio existea violagia de uma norma de ‘vonduta, pode ainda assim existirfundamento de imputagio da con fianga a quema crioue frustou 4, Responsabilidade civil 4.1. Dano (© entendimento tradicional segue no sentido de estringir a abrigagio de indemnizar ao interesse contratual negativo. Cam efeito, parece dificil sustentar uma pretenso indemnizatéria equivalente go interesse contratual positive ndo existinds — até & conclusia do negécio juridies — qualquer protensio as cumprimenta, A menos que te concebesse 0 contrato coma tum processs (sem um momenta jurigena individualizad), no qual no ss¢ uma verdadeira distinglo entre a pretenslo as cumpriments ¢ 3 negociagio ex ona fide, que no & 0 caso. ‘Mas tal no significa uma (injustificada) restrigio indersnizatéria™ Adistingiio entre o interesse contratual positive ¢ negativo & instrumental para a concretizagio de um juizo normative de responsabilidade: niio & ‘nem constitutiva, nem limitativa da imputagio, Qualquer apriosricmo con- ‘ceptual quanto & delimitago do dano ressareivel redundaria num equivaco metadoligica!’. “ Sublinhavo als, ANTONO Mexezes Cosnen (2014), 284 38. © Actescea facto dea distnsSe entre iterete contratual positive ¢ negative no ter ar quanto tadss as iupiteses Ge elpa in camraendo, Quan it pé=coetatasl tio comerve qualquer ligayio com. contrto a celehrt, csingo parece dpiciends Do mesmo modo, a resposte pode no sr ismtica em cenisios d liquidgo da relagdo Manual Canto na Fann (2008), 506. Boga Conta Goesalves | Antigo 27° nnegociar ex bona fide impie, portanto, uma adequada gest darexpeetariva da conelusio do negécio™ ‘A violagiode deveres da boa-f8in conrmahendo no se confunde, contudo, com os casos de ruptura de negociagies propria sensu. Nestes, 0 que esti em ezusa éa imputagio do dana de confianca resultante da nto celebragiio de um negécio por aquele que suscitou na outra parte legitima expectativa da sua conclusio. Em causa nio esti um ilicito eulposo — j que néo coniratar nia é ilicito —mas sim a imputago de um concreto investimento de confianga aquele que the deu origem. Esta imputagio ndo carece da natureza lista da ndo eelebragdo do negésio e, porisso, tio pouco-se exige para excluira responsabilidad —que aruptura scjajustificada. O-que esta fem causa ¢ saber se aqucle dano de confianga deve ser alocado a esfera Juridica daquele que a fundou. Por esta razio, arutura de negaciagdes no corresponde, em rigor, a uma hipotese de culpa in contrehendo, uma vez ue no se exige a violagio culposa de ditames da boa-f2" 5.2. Culpa in comtrahendo de terceira £ admissivel a extensio da culpa in contrahende aos terceiros que intervém na negociagao ou na formagio do contrato, com base em das linkas de argumentagdo: (i) 0 reconhecimento da influéncia do terceiro, introdurido nas negociagSes por uma das partes, no process de formagiio dda vontade; e (i) o reconltecimento da existéncia de uma relagio de pro- ‘ximidade entre o terveiro © o negocio em discussao e formagao, refletida ‘num interesse ceonémico préprio (dircto ou indireta}*. ® Materiatizada numa diversidade de condutas juricarenteexigives coma, par exemplars chegera instr negociay exon shandor-s poismente quando ces munifestament inalesncivel; comuniar a supervenitncia de fauooesperurbudares da ‘neyociagdo; desarabizuar posigies que, determinada fase negorsal, poder 130 ‘coresponde i reais possbiaes do nepéeio; es. © Avorpanks-te, esi, MANUEL CARKE D4 FEA (2008), S15 1, 2 Nese sentido, Manet Caxnemo ma Fhana (200d), $1819 © Camrsano oa Fa (19), LOIS, (1997s), 98.5, (2004), 115 45, Jonas Seve ‘Mov (1989), 52 x8, 549 (a. 330), MENEZES ConDeito (1984), 6M © MasALDA ‘Avigo 227° | Diggs Cost Goagalves 5.3. Culpa do lesado ¢ due diligence Nao existe uma obrigacio legal de realizagio de due diligence, pelo quea sua no realizagiondo afasta porsi aeulpa in eonurahendo™. Cantudo, seos usos do.comércia c 2 normalidade do trifego apontarem para arealizagao de uma due diligence como bitola normal de diligéncia suto-informativa, a recusa injustificada da sua realizagio pode concorrer para 2 mitigario ou exclusio de responsabilidade in contrahendo. Realizada a due difigence, to pouco é possivel afirmar que, por tal facto, fica excluida a culpa in contrahendo. Os deveres pré-contratuais mantém-se, ainda que com diversa modelago ou intensidade. Do mesmo modo, uma due diligence check list nio permite concluirna sentido da imrelevincia de qualquer outra informago nem equivale, por principio, qualquer distribuigio de isco. 16 a incorreta realizagio da due diligence parece ser risco préprio daquele que a realiza’”: a esponsabilidade in contrahendo podera ser mitigads ou até liminarmente excluida, ‘Muaivns Baxuosa (2017), M2. No espago slemiin, na egudnca da ceforna de disito as abigagbes, esta extensio passat acorstar expressamentedo §311(3) BOB. Veja-e Eva Sonia Magsata oe Sila (2010), 290. peste sent, veja-se CATARINA MowTHRO Pass (2014). 47 im sentidn coatta, Pau Chau Basra Baste, “O dees agus de pees ums nic", Aguisigae de empresas (2011), 13-66, 29. 3 Neste semtide, voja-te Csaba REONTEIND Pins (2018), 42-43 7 Neste semtide, yuja-ge Cranes REONTEIND Pins (2018), 3948 ‘A. Mreto Menezes Candeita | Argos 821.°6 380" [A. Barreto Menezes Cordeiro] Artigo 321° (Suspensao por motivo de forga maior ou dolo do obrigaday 1 A prescrisio suspende-se durante o tempo em que o titular estiver impedido de fazer valer o scu dircto, por motive de forga maior, nodecurso dos iltimos trés meses do prazo. Artigo 330: (Estipulagdes vilidas sobre a caducidade) 1. Sao vilidos os negoeios pelos quais se criem casos especiais de-ea- ducidade, se modifique o regime legal desta ou se renuncie a ela, contando que nio se trate de matéria subtraida 8 dispontbilidade das partes ou de fraucle ds regras legais da preserigao. 2. SSoapliciveissos casos convencionais de caducidade, nu chvida acerca da vontade das contmsentes, as dispsigiesrelatvas i suspensia da presen. Hadiee: 1. Raguadsisseato 1.1, Peetcrigie ¢ caducidide 1.2. Madalidedes de ‘uspensio da prescrigio 2. Suspensio da prescricko por motive de forga masor 2. Aspetos gerais 2.2 Forga maior 3. Suspensio da caducidade par motiva de focga sealoe 3.1. Aapeton gers ibliggrafia: Ava Fie Morass ANTUNES, Prescrigdo ¢cadaidade: anstagio ans signs 296 "a3," Cio Civil ("a emp e as operas nas rele rica), ed. 201d, Atay Menezes Conte, Trad de Direc V, 30d. (2018}, 155-265, Frananno Paces ne Loa/Joko Awrunes Vase, Cedga Civilanosado, 4d, com colsboragdade M. Heneique Mesquita (1987), 288-289; Jost DUS MARQUES, Prescrigii atin (L 953); ADBIALO Vir Sex, Presenter endeidade, sep. BMI (1861), ‘Antigos 321° 380. | A. Bureto Menezes Cordeiro ANOTACAO: 1. Enquadramento A prescrigfo c a caducidade correspondem, canjuntamente como nio uso, ans trés regimes geraisrelativos Juridicas, artigo 298." A distingo entre a prescriglo c.a.caducidade, estrcita do ponto de vista conceitual, apenas é compreendida através de uma comparagio entre os dois regimes juridioos. Sem propositos cxaustivose salvaguardando todas as exceydcs positivadas, a prescricao: (i) tom um imbito de aplicagio eral, 298."1; (i) tem umanatureza imperativa, 330.*: (ii) opera mediante a verifieago de prazos mais extensos; (iv} suspende-se-¢interrompe- BIR ss.; © (v) ¢imenunciivel, 302°. A caducidade: (i) tem um ambito de aplicagioespecial, 298."/; (i) ¢ sensivel & vontade das partes, 330°/1; (iai) opera mediante a verificardo de prazos mais curtos; (iv) nie se suspendc, nem se interrompe, 328.*; ¢ (v) é renunciavel por acordo, S30, percusso do tempornas situagSes 1.2. Modalidades de suspensio da preserigio (OCédigo Civil prevé trés causas de suspensio da prescrigo: (i) causas bilaterais ~ em fungo da existéncia de uma relacio especial entre as partes —J18-; (ii) eausas subjetivas — na decorréncia da situagao-especial vivida —319°0320.%6 Jjuridicas extraordinérios ~ 321°: forga maior. ccausas objetivas — no decurso da ocarréncia de factos, ‘A. Baureiw Menezes Candcta | Arig S216 330° 2. Suspensita da preserigio por mativo de forga maior 2.1, Aspetos gerais, A suspensio por motivo de forga maior pressupde: (i)-0 inicio da ‘contagem do prazo prescricional ~ ndo se confundido, assim, com a impossibilidade originaria, prevista no artigo 306.*/1; ¢ (ii) a ocoméncia ide um motivo de forga maior, Preenchidos estes dois clementos, a presctigSo suspende-se nos iiltimos tgs meses do prazo, ou sea, apenas pode ser invocada na pendéncia desses ltimos trés meses € permancce conquanto sc verificar o motivo de forga maior, A suspensio nio opera oficiasemente ¢ 0 énus da prova corre, nos termos gerais, par conta do sujeita que dele se pretenda prevalecer”. 2.2, Forga maior Scguindo Menezes Cordeiro, procede-se a uma dircta equiparagio entre ‘e-conceito de forgu maior eo conceito de impossibilidade, Nestes termos, apenas as impossibilidades efetivas, temporsrias ¢ absolutas possibilitam 2 suspensio dos prazos prescricionats!", A suspensio da prescrigo fundads nas consequéncies decorrentes da pandemia COVID-19 encontra-se, consequentemente, dependente do preen- chimento dos pressupostos gerais da impossibilidade”* 2 Pages: Loea“Averunes Vane (2987), 269 STIS [-out-2006 (Faria Antunes), Proc. 259608, = Moveas Conneina (2017), 228 ° Vejase a anolago na presende obra da sulria de Catia MONTEIRO PRES 9 Ariigos 391" €320.* | A. Bareto Mencres Cardeito 3. Suspensio da caducidade par motivo de forga maior 3.1. Aspetos gerais Nos termas do dispostono artigo 328°, "o prazo de caducidade no se suspende nem ser interrompe senibo nos casos em que a lei o determin: Este principio geral encontra no artigo 330.‘/1 uma importante excesio, nna medida em que permite que as partes renunciem d cadusidade —comtando que nfo se trate de matéria subtraida & disponibilidade das partes ou de fraude as regras legais da prescrigao — e modifiquemoregime legal, nomeadamente no que respeita & suspensie e & interrupeio. Onitmero 330.*/2manda aplicar, supletivamente, o regime da suspenso, apenas “na divida acerca da voniade dos contracnies”. A uilizagao desta ‘expresso impede, a luz dos cdnones interpretativos contides no artigo 9°, {que se aplique o regime da suspensio a todos os contratos em que as partes nada disseram-a natureza supletiva do preceite ndo ¢ absoluta,eireunscreve-se 05 casos-em que a ventade dos contraentes suscite dividas. As dificuldades interpretativas decorrentes da solugio legal positivada Icriam sido evitadas caso o legislador tivesse optado por uma das duas solugdes mais légicas: (i) oregime da suspensio no € aplicavel a caducidade ‘onvencional, salvo declarag3o em contririo; ou (ii) regime dasuspensio aplicdvel & caducidade, salvo declaragio em contriria, Mas ni foi essa a decisio legislativa tomada. Em principio, tendo as partes estabelecide um prazo certo — p.cx. ‘6 meses ou 30 de junho —, a oterténcia de um motivo de forga maior send irrelevante, ou seja, no possibilita a invocagio.do regime da suspensio rescricional’®. Nao sc exctui, todavia, que de uma interpretagSo integrada ido contrato ¢ da sua execugdo possam resultar diividas quanto a exata -vontade das partes. Esta fina anélise casuistica no pode, contudo, descon- siderar () que no ambito da caducidade convencional vigora o principio dda autonomia privada;< (it) que-osistema conhece outros mecanismos.que podem permitir o reajustamento ¢ 0 reequilibrio-das relagies contratuais. © Neste seme: STH |7-abe-2008 (Moreira Camilo), Prac. 724/08, Diogo Costa Goosalves | Antigo 335° [Diogo Costa Gongalves] Artigo 335.° (Colisio de direitos) 1, Havenda colisio de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder na medida do necessirio para que todos prostuzam igualmente scu efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes, 2, Se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deva considerar-se superior. fndiee: 1. Sentido geral do peeceito 1.1. Noga ¢ ertério geral 12. Ponderagia ‘nioligica dos exerclcias erapresenga 2. Concretizagbes 21, Direitasaxiologicamente idénticos 2.2. Composisia-equitativa 3. Contlitns de deveres e perturbagies da cumprimento 5.1. Q problema 3.2. Hegaldade superveniente da curmprimento 3.3, Perturbagto legal efiker efecto da tncumprimento? Bibliografia: Avrésoo Menezes Comoe, Traada de Direto Chi, W, 3 ed, (2018); “Da colisdo de diretos”, 0 Direito 137 (2005)1, 37.55; Bisa Vaz Ssqvema, as preenyponto ta euro de dretas no Diretio Civil (2004), Comentirio ao Cediga (Chil (2014), at 338." (789-703): “Da distingd emtee mites extrineens do direitos & limites extrinsecas do seu exercicio”, Konudor dedicadas ao Professor Doutor Luis Alberto Carvalho Fernandes, (2011), 441-463; Js DE OUVERAASCENSAO, Dirt (Ctl Teoria Geral, Ill (2002), Pengo Pals be Vascoscrtos!PenRo-LEITAO PAIS BE VasconceLos, Tenria Geral eo Dircita Civil, 9." ed. (2019). a Argo 385° | Dingo Costa Gonsalves ANOTACAQO: 1. Sentido geral de preceito Existeootisdo de direitos sempre que duas ou mais posigScsjuridicasativas —que permitem a cada um dos seus titulares um concrete exetcicio — no podem coexisir, na sua méxima amplitude, no mesmo tempo ccircunstinc Estando em colisio direitos iguais ou da mesma espécie, deve haver Iugara uma mituarestrigo no cxercicio; estando em causa direitas desiguais ‘ude espécie diferentes, prevalece odineito que deva entender-se superior. 1.2, Ponderagio axiologica dos exercicios em presenga Na sua aparentesimplicidade, ocritério cnunciado éde dificil eancretizago, A desiguatdade entre direitos (ou a sua diferente espécie) é um juiz0 con- veptual: exigea recondugdo absiraia de uma situa¢ao juridica.a uma classe ou categoria”. J4 0 critério da superiovidade @axiologico: exige uma pon- erage concreia, denaturcza valorativa, dos diversos vectores materiais em presenga, permitindo conctuir que determinada sitwagio juridica “vale” dn cas mais que outta, Uma ponderago material c axiolégica é sempre normativamente mais relevante que uma classificagdo conceptual. Compreende-s¢, portanto, qué ‘oncrvo central da solugo de uma colisio de direitos resida no critério da superioridade Prima facie, o critério da superioridade s6 seria chamado a intervir nos ‘casos de direitos desiguais (n° 2), Perante direitos iguais, ou da mesma classe, existria um empateaxioligico, o que tomnaria impossivel qualquer hicranquizagio: asolugSo do colisio exigitia, portanio, a reciproca limitagdo dos direitos em presenga (n 1). 2 Nest semi, ANTON: MENEZES Const (2018), 433 @ 436 Diogo Costa Goasalves | Artiga 335 * Nijo é assim, Direitos da mesma classe ou categoria conceptual podem conhecer in concreto valoragies distintas Por cxempla:dirctos de propricdade conceptualmente idénticos podem conhecet, no seu exercicio concreto, valoragées axiolégicas distintas. O mesmo pade scr dito quanto diversas direitos de personalidade (todes da mesma categoria conceptual). Nem sempre existe, portanto, um empate axiolégico. Do mesmo modo, também dircitos de classes diversas podem ter uma hicranguia sxiolégica inversa iquela que sugerida pela sun classificago con- ceptual: 0 dirite de propriedade, uma vez mais, nda sede sempre © em todas as circunstincias ante um dircito de personalidade, por exemplo. A solusSo do confito pode pasar pelo reconbevimento da existincia de posigiesjuridicas cujoexercicioin concreto é axiologicamente idéntico, no obstante os dircitos depersanalidade serem in abstracto valorativamente superiores ipropriedade. ‘Temps, portanta, queo verdadeim critério normativade soluyio de conflitos de interesses reside na ponderagio axiolégica dos exereicios em presenga. Perante uma identidade axiolsgica, haver’ lugar a recipraca limitagio dos direitos (sc, naturalmente, o exercicio dos direitos puder ser parcial): podendo haver uma hierarquizagio, o direito superior prevalece (naquele exercicio) sobre e dircito axiologicamente inferior. 2 Concretizagies 2.1. Direitos axiologicamente idnticos Aponderagio axioldgica daexcrcicio dos dircitos ¢ complexa, MeNezes CoRDeRRO apanta sete critérios, a tomar sem rigidez ¢ sempre atendenda As particularidades do caso adecidir: (i) antiguidade relativa; (i) os danos pelo néo-exercicio; (iti) os lucros do exercicio; (iv) a prevaléncia em abstrato; (v) 0 igual sacrificio; fu#) a composigao aleatéria equilibrada; € (vi) a composigao aleatiria™ Neste sentido, ANTOO MlNEZ35 CODER (2018), 433, © Awrowo Menezes Compeeo 2018), 435 8 2 a Aigo 385° | po Costa Gonsalves Concluindo-se pela presenga de bens juridicos axiologicamente idénticos, o critério da solu¢o do conflitos encontra-se previsto no n* a miitua restrigo no-exereicia-dos direitos em causa, a fim deque “tadas produzam igualmente a seu efeito, sem maior detriment para qualquer das partes” £ pressuposto aplicativa deste critério a possibilidade de um exeveicio parcial do dircito. Se 0 exercicie concreto em apreciago nfo poder ser decomposto noutras condutas, diferentes daquela em aprego, nio sera possivel impor uma miitua restrigdo. Nesses casos, o aplicudor tera ainda assim que decidir qual o excrcicio do dircito que prevalece mime mediante ‘uma composigao aleatéria do conflito™. 2.2. Composigiio equitativa ‘A mittua restrigdo pressupée, na Letra do preceito, uma compasicao igualitéria. Sucede, porém, quea igualdade no exereicio nem sempre ser possivel. O-que se exige, verdadeiramente, é uma compasiciia equitativa ddacotisio:o sacrificio imposto a ambos os titulares pade no ser absolutamente idéntico. A.composigo equitativa da colisie distingue-se, ainda assim, do eritéria dasuperioridade, Com eftito, havendo diferenca axialégica entre os bens em presenga, 0 cxercicio plenade um dircito deve sempre prevalecer sobre o-outro. O exereicia do direito inferior pedera nio ser absolutamente afastado, mas deveri ser restringido mo que seja necessirio para garantir a tutela plena de-bem juridico axiologicamente superior. J4 composigio equitativa pressupsc uma miitua restrigio: ambos os exercicios so contraidas, ainda que o no sejam na mesma exata medida. Neste sentido, Anséio Menezes Conneito (2018), 43 Diogo Cora Gonsalves | Antigo 335° 3. Conflites de deveres e perturbagées da cumprimento 3.1. 0 problema 0 Cédigo Civil nde prevé um critério para as hipdteses em que o mesmo sujeito se encontra adstritea dais deveres ¢ o cumprimenta de um importa © incumprimento do outro, Tem-se entendido, no entanto, que-o critéria ‘normativo para dirimir conflitos de direitos pode lanear luz sobre as hipéteses de conflites de deveres. Um dever legal prevalece sobre um dever contratual: em causa esti a aplicasde do critérin da superioridade supra assinalado, Maiores diividas se colocam quando ndo é possivel uma hierarquizacdo de vineulagées ¢ & necessirio determinar que dever seri preterido ¢ em que medida. 3.2, Ilegalidade superveniente do cumprimento Apmibicdo legal do cumprimentn da obrigagao prevalece sobre o dever de prestar. Foi o que sucedeu, por exemplo, coma proibipae legal da realizagSo de viagens de finalistase outras similares, por cfcito das medidas de contengaa da pandemia (COVID-19}. Os promotores das viagens proibidas encantravam-se contratualmente obrigados a sua realizagio. Viram-se, porém, legalmente impedidos de o fazer, apartir da entrada em vigor do art. L1.* do Decreto-Lei n* 10-A/2020, de 13-mar, Nestes casas, o devedlor deve abster-se do cumprimento do contrata para cumprir a imposigio legal de on facere. Ao destino da prestagio apli ‘car-se-d a regime da impossibilidade legal, por ilegalidade superveniente do cumprimento”’ 3.3, Perturbagao legal ¢ fiber electio do incumprimento? Noutros casas, a proibigao legal niorrecai sobre o cumprimenio propria sensu, mas sobre alguns atos necessirios ao cumprimento, Pense-se nos Remetese para comentisio wes ats. 790" 3, 25 26 Anigo 135° | Dioga Casta Gongabver efeitos das limitagbes legais de atividade econémica durante o period de contengo da pandemia. O legislador no proibiu a realizagdo de certa prestagao, mas a limitagao legal da atividade econémica determinou, para muitos devedores, a impossibilidade de honrar pontualmente todos os Ccompromissos assumidas junto dos seus credores. A.causa do incumprimento continua a ser a adstrigdo a um dever legal deabstengaa, Contudo, do seu acatamento no resulta imediatamente que contratos sao afetados © em que medida. A determinagdo concreta da perturbagdo cube, necessariamente, ao devedor. Nestes casos, pergunta-se: pode o devedor lisremente escolher que prestagéo incumpre ou deve ater-se a alguns eritértos narmativos de eleicde do incumprimento? Por principio, o devedor tem liber electio quanto & preteri¢lo do dever de prestar. Contudo, nao parece que © possa fazer por razdes espirias, absolutamente alheias & economia do contrato, A frivolidade dos motivos no exercicia do uma qualquer posicae juridica, capaz de causar dano a terceiro, choca com uma idea de justiga material que perpassa oordenamento, Mais ainda se em causa estiver um exercicio:emulativo. ‘Neste contexto, poiem convoear-se alguns dos ritérios-como wantiguidade relativa dos eréditos ou uma compasigio paritiria do exercicio (rateando 0 incumprimente pelos diversos credores, quando possivel). Asdmitirtais critérios, nio.cremos que esteja em causa a aplicagiodo art. 335°, mas sim 1s exigéncias ético-jurdicas da boa-fé:na execugio dos contratos (at. 762./2, para cuja anotacio remetemos). Este possivel enquadramento permite duas conclusdes: (# estando na base da composigdo a prevaléncia deum dever legal, nfo sc afastaa cenatio dda ilegalidade superveniente do cumprimento das prestagdes preteridas; (ii) porém, a eventual plicago do regime da impossibilidade poderd scr ‘cumulivel com a violaeao positive do contrato (por inobservincia, pelo devedor, de critérios de electio do incumprimento, exigiveis ex bona fide). ‘Ana Perestela de Oliveira Mindlena Peresrelo de Oliveira | Antigo 432° [Ana Perestrelo de Oliveira e Madalena Perestiolo de Oliveira] Artigo 432." (Casas em que ¢ admitid: 1. admitida a resotuglo do contrato fundada na lei ou em convengio, 2. Aparte, porém, que, por circunstincias nao imputéveisaa outro con- tracnte, nio estiver em condigies de restituir 0 que houver recebide: no tem o direito de resolver o contrato. indice: 1. Conceto de revolugio 2 Resolusia legal. Remissio 3. Resolugio sonvencional: clausulacresoluivas 3.1. Meas cliutula de erilo 3.2. Cliusals que noplism ot fundamecios legit de relugio 3.3.Cunuis de exclusio ou resolu fs eldusulas que restsingem ofundumentos lgais de resoluséo 4. Ds el resolu lal wsolugo conveneiona: cumustvdade malls. Eseries sa dicta de rselugio por quem tbo esti im conde de resis (argo 4322) Ribliografia: Dasara BAPTISTA, Dac liusuda resolutinaespressa, eo Estudos eo shomenagemae Professor Doulor Ewald Horses, Coimbes (2012), 197-226; ANTONIO Menezes Conpesto, Tratado de Direita Civil IY Direto das abvigagses, 3. ed ‘Cotmbra (2017); Jorce Rineiso ne Fanta, A natureza do diretto de indenantzagio tamulivel come diveito de resolucio dos artigos 801.« 802.*do Cédigo Civil, em Estudos de direito das obrigasdex ediseursos académicos, Porto{2008), 25-62 Luts Mexezes Lerrio, Diretto das obrigagiex, vol Al, 12 ed., Coimbra (2018) Frsocaxpo Piss ne LowalJoAo Axrunss Vax, Cédigo Civil nota, Vol I, 4* ved, Coimbra (1997); Joko Barnista Macuano, 4 reralupdo por incumprimento © indemaizacao, ex: Obra Dispersa, Yo. |, Braga (1991), 195-21; PERO ROMANO Marnse2, Da cessagde do contrat, 3." e., Coittbea (2017), AN PERESTRELO DE ‘OLIVEIR.\/MADALENS PERESTRELO DE QLIVEIRA, Inctumprimente resluério, Una introdugdo, Coimbra (2019); PauLo MOTA PTO, dneresce contratual negative: € inderesse contratual positva, vol. Il, Coitibrs (2008), CATARINA MONTEIRO PIRES, ‘Coniratos , Perturbagies na execugdo, Coicshes (2019); Resolucii de cantrate por incumprimentae imposribtidade de resttuigo em expécie, © Direito 144.°(2012), UL, 653-672; 4 prestagdo restituréria em valor aa resalagde da contrato por a 28 ‘Anigo 432° | Am Perecelo de Otiveir ¢ Madalena Perestela de Olives incumprimenta, em Estudos em homenagem a Miguel Galvao Teles, vol I, Coimbra (2012), 703-722; Jose CaRLos BRANDAO PROENCA, Ligies de cumprimento © nia cumprimento das obrigardes, 2*ed., Posta(2017); A cldasula resolutina expressa como sintese dar autonomia ¢ da heteronomia (cansideragder a partir da andlise dde uma decisdo judicta), Revista Cilncias Empresarinise Juridiess, n° 22 (2012); A resolugie do contrate no direito civil: do enquadramente e da regime, Coins (1982); Jaio EsPimiro SANTO, Resolugd da contrato (Artigos 432-436 do Cadigo Civil).em Menezes Coapeixo (org), Cédigo civil: fivedo cinguentendrio, Coimbra (2019), 745-778; Anan Vax Sema, Reralugdo do contrato, BM) 1. 68 (1957), 153-289; Joo CaLVAO Da SUA, Cumprimente e sanedo pecunidria compulscria (1987), Separata do vol. XXX do Suplemento ao Bolen da Faculdade de Direito de Coimbra 1987, Ieonexcio GaLvio Tete, Direito dax obrigardes, 7+ ed, Coimbra (1399). ANOTACAO: 1. Conceita de resolugio O direto de resolusio constitu’ o dircito potestative de um das eontracnites fazer cesar 0 contrato unilateralmente, em principio com eficscia retroativa (quanto forma do exercicio do direito, vide artigo 436-*; quanta aasefeitos, vide artigos 434." 435.°). No contexto da pandemia Covi incvitavelmente, com frequéncia, o problema do nic cumprimento dos contratos, ainda que muitas vezes ocorrido sob a aparéncia de causas imas de inexecugo, que afinal nfo sc verificam (vide anot_ao artigo 801.°). Nao sio raras as situagdes que, apesar de apresentadas como tal, no configuram impossibilidade a luz da lei, nem casos contratuais de forga maior, antes se traduzem no no cumprimento das obrigagdes negociais. Pense-se. por excmplo, na interrupgo das cadcias de fornecimento que tenha levade ao nde cumprimento dos contratas num eontexto em que cxistia uma fonte de fornecimenta altemativa, Coloca-se, entito,o problema da vigéneia de um direito de resolugo do outro cantraente. Nos termos do artigo 432."/1, a resolugao sexi possivel com bascna lei ou na contrato. 19, coloca-se ‘Ana Perestela de Oliveira e Madalemn Peresteba de Olivera | Aigo 432° 2. Resolugio legal. Remissio 0 artigo 432.1 é uma mera norma de enquedramento, que, por si, no fundamenta o-direito de resolugao. A resolugdo legal depende da identificagao de preccite legal especifico que a suporte. Pode, também, fundar-se no principio geral da boa fé, que fundamenta o direito de resolugio por inexigibilidade de manutengio da relago negocial (vide nat, ao artigo 801."), No contexte dos problemas contratuais decorrentes da pandemia Covid-19, relevara tipicamente a situaglo de alteragio das circunstiincias (artigo 437."), mas também o iacumprimento definitivo, a que é aplicével o regime da impossibilidade culposa (artigo $01."), sem prejuizo de normas especiais apliciveis. Para mais desenvolvimentos, vide anot. ao artige 801. 3. Resolucao convencional: clausulas resoluti A cliusula resolutiva constitui expresso de um poder negocial de autatutela contra o incumprimento. Visa, tipicamente, a dupla fun¢ao de aveleraro procedimento de resolugio do contrato e de predeterminar 0 incumprimento que justfica a cessa¢io™. Noexct privada, os contratantes podem incluir, nos contrates, cléusulas que permitam, a resolugSo.caso se-verifiquem determinadas situagdes, que a lei no tpifica Varias hipsteses sio pensiveis: (i) as partes limitam-se a teproduzit os fundamentos egais de resolugéo, surgindo a clausula resolutiva como mera

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