Paulo Mateus-Geopolitica Teorias, Doutrinas, Factores

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PREFACIO Geopolitica: Teorias, Doutrinas e Factores é a terceira obra de Paulo Mateus Wache. Com esta obra Wache coloca no mercado académico um contributo valioso para aqueles que se interessam em compreender a relacao entre as variaveis espaco, recursos e poder. Especificamente, nesta obra o leitor tem a oportunidade de encontrar uma explicagéo mais informada sobre como é que 0 espaco geografico, e os seus recursos, podem ser usados para alcangar, manter e expandir o poder do Estado. Tal como sugere o titulo, Wache apresenta a sua obra recor- rendo a trés dimensées de anilise: a das teorias, a das doutrinas ea dos factores. Nas duas primeiras duas dimensGes 0 autor apresenta uma abordagem evolutiva que parte da antiguidade greco-roma- na 4 época contemporanea. Nessas dimensées sao apresentadas teorias e doutrinas que dominaram diferentes épocas da evolucdo da humanidade, mas também sao apresentadas diferentes realida- des geograficas e como os povos dessas realidades fizeram 0 uso do espaco para a construgao das suas respectivas sociedades. Na dimensio dos factores, Wache apresenta diferentes deter- minantes ou elementos do poder. Para esta andlise, o autor pri- vilegiou os factores fisico, humano, econdmico, de circulagdo e militar, Usando uma linguagem simples e sintética, a obra mostra, com evidéncias, como estes elementos podem ser usados para al- cangar, manter e projectar 0 poder de um Estado na arena inter- nacional. Olhando para as dimens6es apresentadas niesta obra, reco- mendo a sua aquisicao e leitura por trés razées. Primeiro, reco- mendo esta obra por razdes meramente académicas. Esta é a pri- meira obra de geopolitica que é escrita, e tornada publica, por um académico mocambicano. Wache coloca nesta obra cerca de dez anos de experiéncia de trabalho na disciplina de Geopolitica no Instituto Superior de Relagées Internacionais. Estao nela reflec- tidas algumas de suas reflexGes nos debates académicos tanto na sala de aulas, como nos meios de comunicagao social ou mesmo em fora de debate onde a ténica se coloca na relacao entre o espa- G0 geografico, e seus recursos, e a projec¢do do poder do Estado, Por essa razao, considero que esta é uma obra obrigatéria para qualquer academia cujo enfoque sao as ciéncias humanas, sociais e politicas. A segunda razio da minha recomendagao prende-se com 0 aspecto inovador que Wache traz na obra. Esta é uma obra que nao sé apresenta o conhecimento geopolitico numa perspectiva evolutiva, como também procura “fugir” da tradicional forma de escrever sobre os assuntos internacionais em que a énfase é somente colocada no eurocentrismo. Wache apresenta esta obra, embora com evidéncias classicas do mundo europeu, procurando fazer a aplicacao do conhecimento tedrico-conceptual a realidade africana, no geral, e 4 mocgambicana em particular. O cerne do meu entusiasmo quando ia percorrendo a leitura da obra esteve na segunda razdo da minha recomendagao. Achei interessante, titil e educativos os momentos em que as diferentes teorias geopoliticas sao operacionalizadas com exemplos da reali- dade africana. Mais interessante ainda é a introducdo que o autor faz das doutrinas dos primeiros dois presidentes de Mocambique independente. Deve ter sido a curiosidade em aprender o teor destas doutrinas que me ter levado a aceitar prefaciar uma obra que aborda uma matéria nao necessariamente das pesquisas que faco no dia-a-dia. A terceira, e ultima, razao da facto desta nao ser somente uma oO! de relagdes internacionais. Ela é uma obra de interesse de estu- dantes e estudiosos de ciéncia politica e, mais, das ciéncias socials e humanas no geral. Ela é, acima de tudo, uma obra naeene para o cidadio comum que nao esta necessariamente interessa lo nas, eventualmente, complicadas questoes de relagdes internacio- nais, ou de questdes de ciéncias sociais no geral. O estudo sobre © espago vital, sobre o seu aproveitamento, sobre o seu uso para 0 minha recomendagio reside no bra de interesse de estudantes INTRODUGAO A iti sccinli tivo wialdedriee disciplina, surge no século XIX com objec- . rn base tedrica 4 vontade expansionista dos estados imperialistas de entéo, Nao admira, que a primeira obra verdadeira- mente geopolitica ~ ‘Antropogeografia’ - tenha surgido em 1882, dois anos antes da Conferéncia de Berlim que iria partilhar a Africa centre os paises europeus. Nesta obra e em outras i . ee que se seguiram emergem teorias que justificam a legitimidade de alguns estados dominarem outros a procura do espaco vital, definido como 0 espago necessario para a completa realizacao de um estado forte e respeitado. Foi no contexto imperialista, caracterizado pela conquista e ocupagio efectiva de espagos validos politica e economicamente que Rudolf Kjellen inventou 0 termo geopolitica em 1899. Kjelen encar- regou-se de definir a Geopolitica como a ciéncia que estuda o am- biente natural onde o estado se implanta. Outros pensadores impe- rialistas entendiam a geopolitica como aquela parte do conhecimen- to ocidental que lidava com a relacao entre a parte fisica da terra e a politica. A Geopolitica foi associada, mais tarde, 4 politica externa Nazista, que procurava conquistar o Lebensraum (espaco vital) para a nacao germanica. No periodo da Guerra Fria (Guerra Morna), 0 termo geopolitica foi usado para descrever a disputa global entre a URSS e os EUA pela influéncia e controlo dos estados e recursos estratégicos do mundo. No periodo do pds Guerra Fria surgiu a nova geopolitica que per mitiu o surgimento de uma nova ordem geopolitica dominada por questées ¢ assuntos geo-econdmicos. Um mundo onde a globaliza- cio da actividade econdmica € as ondas globais de comércio, inves- timento, mercadorias ¢ imagens io a refazer estados, soberanias ¢ estruturas geogral do planeta, Para outros a nova geopolitica descreve um mundo nao m dominado pelas lutas territoriais entre blocos em competigao, mas pelo surgimento de problemas transna- cionais tais como: proliferagao nuclear e choque de civilizagdes. Para er opoulTiCA | Teorias,Doutinas@ Factores | 1 18 outros ainda, a nova geopolitica nao é acerca de assuntos econémi- cos, mas politicos ecolégicos ou ecopolitica. Assim, constata-se que a definigao do que vem a sera geopolitica nao é consensual. E na consciéncia desta dificuldade de definir a geopolitica, de forma monolitica, que este livro procura oferecer as principais pres- pectivas geopoliticas a0 logo da histéria. Para esse fim o livro esta dividido em seis capitulos. O primeiro capitulo define a geopoliticas cas disciplinas correlatas: geografia, a geografia militar, a geografia politica, ea geoestratégia. Para além da definigao o capitulo apresen- ta também os métodos e 0 objecto da geopolitica. O Segundo capitulo apresenta 0 periodo dos estudos ambientais destacando alguns precursores, que 20 estudarem aspectos geogra- ficos acabaram sendo precursores da disciplina que viria a se afir- perialista, a geopolitica. Por questdes didacticas os precursores sao apresentados seguindo uma ordem cronolégica. Por isso, a sequéncia come¢a com 0 periodo Greco-Romana depois segue-se a idade meédia para finalmente abordar-se 0 perfodo que vai renascimento a idade moderna. Faz-se uma presentacao descritiva do pensamento dos autores ¢ em seguida apresenta-se alguns exem- plos para uma melhor compreensao do alcance das teorias. No periodo dos estudos ambientais como o tratamos neste livro, por ser um periodo em que nao se produziu conhecimento geopoll- tico no sentido Kjelleniano mas estudos geograficos precursores do pensamento geopolitico, destacam-se autores que reflectem sobre 0 relacionamento entre a Geografia e a politica, isto 6 0 meio fisico e 0 estado. Fundamentalmente, consideram-se esquemas climaticos gerais, como base para a divisao do mundo entao conhecido. O terceiro capitulo aborda o perfodo imperialista, pertodo do surgimento da geopolitica enquanto ciéncia do poder nacional. Neste capitulo sio apresentadas a principais teorias geopolitica de entio que vio desde as perspectivas do poder nacional aos pode: res continental, naval e aéreo. ‘Todas as teorias deste periodo est preocupadas em responder como o Jo, recorrendo aos factores geopoliticos, pode ganhar vantagens sobre os outros estados. Pode-s? se dizer, com uma margem minima de erro, que a geopolitica imp mar no periodo im (GEOPOLITICA | Teorias, Doutrinas e Factores INTRODUGAO ® ein emmecragciea imperialistas entre 1870 - 1945, quando ‘ ico entraram em choques e fizeram guerra: pela ocupagao de espaco vital. . iene capitulo apresenta a geopolitica de confrontagio ideo- nhecido por Guerra Pi (1945; Peroc aie Lerma! gue este periodo nio 7 5 - 1989/91). Este capitulo argumenta e Jo foi apenas de Guerra Fria, entre as grandes po- téncias, foi também de Guerra Quente, nos territérios das pequenas poténcias. Em tltima instancia este capitulo defende que o periodo que vai de 1945 a 1991 foi um periodo da Guerra Morna, resultante da Guerra Fria para a Grandes Poténcias e Guerra Quente para as pequenas (Guerra Morna = Guerra Fria/Ideologia + Guerra Quente/ Militar). Tendo em conta a abordagem segundo a qual 0 periodo que vai de 1945 4 1991 é de forma holistica um perfodo da Geopolitica de Confrontagio Ideol6gica e Militar, este capitulo esté dividido em trés partes, Na primeira parte apresenta-se a geopolitica de confrontacao ideolégica/guerra fria. Na segunda parte apresenta-se @ geopoliti- ca de confrontagao militar/guerra quente. Por fim na terceira parte apresenta-se a sintese que éa geopolitica de confrontagao ideoldgica e militar ou seja a Guerra Morna. ‘A Guerra Morna é portanto uma abordagem que no fundo contesta 0 conceito de guerra fria ampla- mente divulgado como confrontagao ideoldgica, entre o primeiro eo segundo mundo, ignorando a confrontagao militar, que ocorret! no terceiro mundo. Portanto, 0 conceito da Guerra Morna ssume-se, holistico, abrangente, universal porque abrange tanto a Guerra Fria, entre as grandes poténcias, quanto a Guerra Quente nas pequenas poténcias. Oquinto capitulo apresenta @ geo] do quatro teorias que ¢ ‘adamente; ds guerra morna/ cutem a ordem mundial : teoria do Fim da His- s (1993), teoria da Frag- Multipolaridade Inclusiva dem mundial gerida pelos politi guerra fria trazen vigente no pds gue! téria (1989), teoria do Choque de mentacado das Nagées (2003) ¢ teoria e de (2014). As primeiras trés teorias argumentam que 2° vigente no pés guerra morna/guerra fria € unipolar ra morna nome c-rnnin one | 19 20 inTRODUGAO |tipolar gerida pelos EUA e seus aliad «se opae a teoria da Multipolaridade jy SCiden, te Srgimento das potencias emerge Mclusiya sare dem Multipolar Inclusive, Peso sige vepado pois o debate due apresenta ainda esta one op ado Prana e britanica assim como na escola mt Francis Fukuyama Samuel Huntington, Robe Oca @ Lundin séo apenas proponentes deat Coop eensio de um mundo nao mais bina BUA ou uni-mu! Acstas tres teoria afirma que com internacional vive tulo in nas escolas aa comp! jusivo. at rg, Multipolar Incl tulo trata dos factores geopoliticos definid 108 Cony, Jementos geograficos que influenciam posi obtengao, manutengao e projec me do estado. De forma resumida o capitulo apresenta aa i alguns factores geopoliticos nomeadamente: fisico, fic némico, circulagao € Militar. Todos estes factores si omen de forma sintética tendo em conta que as varias teo1 ates apresentadas nos capitulos anteriores também foe vn oes Jen¢ao ze tes factores geopolitics. Unipolar ou O sexto capi determinantes ou ¢! negativamente para a Gt |EOPOLITICA | Terias, Doutrinase Fact CAPITULO |: CONCEITOS, OBJECTO E METODOS DA GEOPOLITICA Com efeito, conseguir cem vitérias em cem batalhas nao 6 a maior das exceléncias, mas sim subjugar 0 Exército inimigo sem sequer 0 combater. In Sun Tzu, A Arte da Guerra CONCEITOS, OBJECTO E METODOS DA GEOPOLITICA Introdugao ache a da seopolitica exige a compreensao de um conjunto de iplinas. Pois a geopolitica insere-se numa area cientifica em que se cruza com outras disciplinas com as quais estabelece uma relagao de dependéncia miitua. Dentre essas disciplinas o destaque vai para a geografia, geografia militar, geografia politica, e geoestratégia. Sem ser indispensivel, a definicao e distincao destas disciplinas apresen- ta-se como uma tarefa necessaria, Por isso, este capitulo discute os conceitos de geografia, geografia militar, geografia politica, geoestra- tégia e geopolitica. Em seguida apresenta 0 objecto e o método de estudo da geopolitica. Geografia Geografia é a ciéncia que estuda a terra, suas caracteristicas, a distribuigdo da vida na terra, incluindo a vida e os efeitos da actividade humana. [A definicdo da geografia como disciplina académica pode ser feita com recurso a etimologia e ao objecto de estudo. Etimologica- mente o termo geografia vem do grego, geo=terra € grafia=descricao ou estudo, portanto a geografia ¢ a ciéncia que descreve ou estuda a terra. A definicao etimolégica é atribuida a Eratdstenes de Cirene (276 a.C. - 194 a.C) por ter sido ele que inventou 0 termo Geografia e consequentemente té-lo definido etimologicamente. Getis (2013:3) define a geografia tendo em conta 0 objecto de a geografia é definida como a ciéncia que estuda a ter- ra, as paisagens, 0S pOvos, 0S lugares e 0 meio ambiente, ou seja, éa ciéncia que estuda a terra, suas caracteristicas, a distribuicao da vida na terra, incluido a vida ¢ os efeitos da actividade humana. O Institu- to de Altos Estudo Militares (1993:7) define a geografia como a cién- cia do espago. ‘Um espago multidimensional: com uma componente horizontal - aspectos fisicos do espago - uma componente vertical constituida pelo homem e pela influéncia que exerce sobre a com- estudo, assim, georouInica| TerasDowtinas Factores 23 CONCEITOS, OBJECTO E METODOS DA GEOPOLITICA ponente horizontal - as estruturas implantadas e as transformagoes operadas - por tiltimo, uma componente temporal, dada pelo sentido dindmico da variagio ¢ interacgao, em cada momento, das relagbes verticais ¢ horizontais’ (ibid). Em suma, a geografia é a ciéncia que estuda o espaco terrestre eminentemente dinamico e em constante mutagiio provocada pela interacgio das componentes horizontais, vertical e temporal. , A interacgao das trés componentes ¢ descrita por Jules Michelet (1798-1874) no seu livro Historia da Franga nos seguintes termos: ‘A historia € antes de mais geografia. Nao podemos descrever a Epoca feudal ou provincial sem ter caracterizado cada uma das provin- cias. No entanto, nao chega tragar a forma geografica destas diversas regides;é sobretudo pelos seus frutos que elas se explicam, quero dizer, pelos homens e pelos acontecimentos que deve oferecer a sua histéria’ (Defarges, 2012:28). Tomando em consideragdo que é no espaco e no tempo (objec- to da Geografia) que ocorrem as actividades econémicas, politicas, estratégicas conclui-se que varias disciplinas, incluido geografia mi- litar, geografia politica, geoestratégia e geopolitica, subordinam-se 4 Geografia. Portanto a geografia apresenta-se como uma meta-disci- plina da qual emergem varias disciplinas gerando-se assim a inter- disciplinaridade entre os subcampos da geografia (figura 1). A figura 1 representa essa centralidade da geografia enquanto ciéncia do espa- go. E dela que emergem varias disciplinas incluido algumas que nao sdo objecto de estudo deste livro como sejam a geologia, a geodesia, a cartografia, a topografia entre outras. A geografia, enquanto ciéncia é, portanto, um ponto de convergéncia de virios campos de saber. Esta centralidade da geografia deriva do facto de segundo Defarges (2012:26) a geografia procurar encontrar determinismos, leis, por vista os lagos entre 0 homem e o espaco no qual ele vive. Portanto, no contexto da Geopolitica, a Geografia enquanto espago é 0 elo de ligagao entre a Geografia militar, Geografia Politica, Geoestratégia a propria Geopolitica. 24 | @£0POUCA| Tors, Downs Factores CONCEIT 'OS, OF 'BJECTO E METODOS DA GEOPOL| ITica Geografia Militar Geografia Militar é a ciénci ia geografico: que estuda a influd s na condugao d; ida a influéncia dos elementos s ‘a guerra, As definigd ices da geogr: sua 5 wea grafia mili " ideta da utiizacae do a militar variam mas tém em c define a geografia mili AGO para a guerra. Assim, Ribei cane grafia militar con guerra. Assim, Ribeiro (2010:14) dos elementos 5 mo a ciéncia que i : 30 S Zeograficos sobre a gr que estuda as influéncias (2007:1) define a geografia milit guerra. Por seu turno Woodward a i humana aque estuda as formas a 7 como o subcampo da geografia litares so geograficamente con ne as quais as actividades mi- diferente o Insti stituidas ¢ expressas. Sem i tituto de Altos Estudo Mili seas grafia militar como a ciéncia que est 4 itares (193:7) define a Geo- plantar nele sistemas de nee ect alo page ci Se arn anda pecificos ao servigo da guerra. Por- geografia militar é parte da geografia h forma como os elementos geograficos il ioe ete 2 sao utilizados pelos milit: na preparacao e execugao da i ae guerra. Assim, a geografia mili ae - , a geografia militar es- any Pin geografico para, por um lado, saber onde, quando e instalar as infra-estruturas militares tempordrias para a guerra e permanentes para a defesa nacional dos estados e por outro lado, para saber como conduzir a guerra dadas as condigdes geograficas existentes que devem ser do dominio do general que dirige as forcas armadas na guerra. A influéncia do elementos geograficos sido abordada por varios autores 20 Jogo da historia. Um dos mais con- sagrados autores sobre esta matéria & Sun Tau que dedica capitulo X da sua obra, Arte de Guerra, @ descrever seis tipos diferentes de terreno (relevo) que um exército por pos de guerra e diz: na conducao da guerra tem de encontrar em tem] ficado consoante a sua matureza em lentado € distante. Bacessi- mesma facilidade pot Jo ganar vantage jonado em tf ‘0 terreno pode ser classi indeciso, est 1 atravessado com an Neste terren is de ser ter posici acessivel, insidioso, reito, acid vel o terreno que pode se cada uma das duas partes em guers3: + exército que entrar em batalla depois pecpolcA | Tort Doras © Factores 25 26 CONCEITOS, OBJECTO E METODOS DA GEOPOLITICA clecido as devidas linhas de reno clevado, do lado soalheiro, © estab abastecimento. £ insidioso o terreno de onde é facil retirar, mas para onde & terreno, se procurardes avangar Pars Sr se.o inimigo estiver prepa- Mas cles vencer,ficareis em dificul- dificil voltar. Neste tipo d preender o inimigo podeis derroté-l. rado, so enfrentardes €0 70 conseB dade, nao se conseguetirar beneficlo ddesse terreno. FE Indeciso o terreno que comporta dificuldades tanto para o vosso do inimigo, conduzindo a um impasse: Neste tipo levar-vos para fora dele, nao mas abandonara posicao e retiar. Se conseguirdes entio podeis ataci-lo com vantagem. ‘o terreno estreito, deveis ‘bloquear 0s ccupado ¢ bloquead os desf- fez, entio podeis persegui-lo. posigoes exército como para 0 nda que 0 inimigo procure de terreno, ai deveis morder 0 isco, atrair metade das suas forgas, ‘$e fordes 0 primeiro a ocupar aro inimigo. Se ele ao tiver Jo, masseonio do, deveis estabelecer a8 vossas imigo. Se ele ja 0 acessos € espe Jadeitos, nio deveis persegui Em terreno acidentac num ponto alto do lado do soal tiver ocupado, deveis iudi-loretirando-vos, Quando o inimigo esta « alguma distancia, ificil desafié-lo € nfo é vantajoso atacé-Io dda por ele’ (Sun Tzu, 2009: 111-1 14). heiro e esperar 0 ini nio o procures. se as forgas de ambos os exércitos se equivalem, ¢ di numa posigao escolhi ‘ada limita-se somente as questoes de relevo e de distancia, nio fazendo mengao a0 lima, vegetagao, nave- gabilidade, 0 uso do espaco aéreo entre ‘outros elementos geograficos. Contudo, a andlise de Sun Tzu sobre o terreno ilustra de forma clara como a geografia militar é usada para a condugio da guerra. Por isso tle reafirma que o general tem a suprema responsabilidade de se infor- mar das condigées do terreno antes de avangar para 0 combate. ‘A descrigao acima apresenti Geografia Politica Geogralia Poltica 6a ciéncia que estuda a influéncia do espaso na formagao e acco das entidades ou instituigées politicas. LGEOPOLITICA| Too, Doutsnase Factors CONCE! IOS, OBJECTO E METODOS DA, GEOPOLITICA oO termo geografia politica foi criado por Ratzel sua defin o evoluiu com o tempo e tomousse sak sbi Pos ea mantém as principais varidveis: espago ¢ entidades pd itieeen a (2018:100) apresenta as definigées de Re ele "heques Sones De acordo com Ratzel, geografia politica é a ci chase luéncia do espaco na formagio de entidades ot listhiebes tele cas. Por seu turno Soppelsa defi er golluca coo pat ‘ ppelsa definiu a geografia politica como a cién- cia que estuda 0 espago ec as interacgées entre 0 poder politico if suas estruturas, Na mesma perspectiva Saguin citado el Instituto tudos Militares (1993:10) define a Geografia politica ci aciéncia que estuda a formagio e a accio das entidades politicas no espago. Por isso, a geografia politica estuda os poderes locais, as fron- teiras, os limites linguisticos, 0 federalismo e unitarismo, as capitais, os processos eleitorais entre outras entidades politicas. Em siltima instincia a geografia politica procura explicar as opcoes politicas de estabelecimento de entidades politicas no espago € acgao dessas mes- mas entidades nesse espa¢o. Geoestratégia Ciencia que estuda a influéncia dos factores Geostratégia € a geograficos nos interesses supremos dos estado: A geoestratégia € a ciéncia que estuda as constantes ¢ variaveis do espago acessivel a0 homem que, ao objectivar-se na construgao de modelos de avaliagao e emprego, 04 ameaca de emprego, de for- mas de coac¢ao, projecta 0 conhecimento geografico na actividade estratégica (AEM, 1993.61). Também se pode definir a geoestrategia como a como a ciéncia que estuda os factores geograficos, nos seus aspectos qualitativos € quantitativos, com vista a determinar, para os governos, orientagao de esforco ou sugestOes que sirvam a sua estra- iéncia que estuda a geogra- tégia (ibid), Em sumaa geoestratégia éac fia para pd-la ao servigo da estratégia dos governos. , Dada relevancia do conceito de estratégia no entendimento geoestratégia torna-se pertinente, ma breve defini-"o- ainda que de for! georOLch Tot, Donate Factores 27 29 ,roD0$ DA GEOPOLITICA tépia é um terme de origem grega strategig Que ¢ estrategie a (Correi Sigg: Jc uma expedigao armada (Correia, 2018:29) 5 8tig, ee estratégia steve ligado a cam, ta, o periodo contemporaneo, tree deg Mice, % Portanto, va direcgal “ origem o terme i Y aguerra. N ca to, na sua principalmente guerre de estratégia coexistem: ciéncia) de usar a forca para atin, ne edgig @ a arte ( rstratégia € a art a léctic % 05 / Est ica ow arte da dialéctica de duas Vontades oe b. jectivos eA ‘a resolver as suas disputas. Stas ca par usando a forga Patt raci ente organizadora e di Estrategia éa fungao racionalme Bs itectora ¢, talidade das forgas, das entidades sociais me suas fires Tecipro, Estratégia é a arte (ciéncia) de controlar e utilizar 0§ re¢ is — ou de uma coligagio fn a protiver e assegurar efectivamente OS seus interesses sup, mos contra os inimigos, actuais, potenciais ou apenas supostgs (ibi, Percebe-se pelas definigdes apresentadas que a estratégia ; ciéncia ow arte! de assegurar 0 uso da coercao (militar, diplomitic, econémica, cultural etc) para promover e proteger os interesses de uma entidade (estado) contra os inimigos. Na sua acepcio Testritg a coergao refere-se ao uso da forca militar e na perspectiva lata, 2 coercio refere-se ao uso de todos os meios disponiveis para o ests. do incluindo a diplomacia, a economia, a cultura, a tecnologia et Desta apresentacao do conceito de estratégia fica claro que quando anteriormente definiu-se a geoestratégia como a ciéncia que estudaa geografia para por esse conhecimento ao servigo da estratégia signi- fica: pér ao servigo da promocio e preservacao dos interesses vitti do estado contra os inimigos. ay, . UrSos, clusive as suas forcas armada, te Geopolitica Geopolitica é a ciéncia que estuda a influéncia dos factores geograficos no poder dos estados poderdosestades, —— ae Importarealyar que nio hi concensos como Liddell-Hart, Beaufre, Mead FE: bral Couto © Loureiro dos Santos co ancia. AU Catre os outores se a estratégia ¢ arte ou ciency ‘arle consideram a estratégia uma arte, € autor nsideram-na cigncia, | gener ines e definiu-o como conjunto de See Rudolf Kjellen (1864-1929) lecem entre os estados, as suas politi : é ) litica estuda o ambiente natural onde ee 9 seu objecto é a relacio estado-amib, estado se implanta, Por isso, estado um organismo no meio geogra rente Ou seja considerando o ae . grifico (IAEM, 1992: mio. finicao de Kjellen esclarece que o objecto de esti. 1982:28), Esta de- a relagao estado-ambiente, por isso ii ne © estudo da geopolitica é ca preocupa-se em saber que idemeniee'sn a Kjelliana a geopoliti- ao estado, a0 mesmo tempo, que procura ere (ambiente) oferece elementos geogrificos confere ao estado, ou alisar que poder esses natural determina o poder do estado. Peebles Karl Haushoffer (1869- i n cia que trata da eat a i it eee oa Sas Aspira proporcionar as armas e os fe Fi Se eae : a mg principios que servem de guia ac- ao politica. Ou seja, é a arte da actuacao politica na luta de vida e de morte dos organismos estatais pelo espaco vital (ibid). Defarges apresenta a mesma defini¢ao de Kjellen substituindo apenas o termo estado por homo politicus e 0 termo ambiente por espaco. Assim de- fine a Geopolitica como ciéncia que analisa as relagdes entre o homo politicus e o espago (2012:133). Para Flint (2006:13) Geopolitica é uma palavra que evoca ima- gens. Em certo sentido, a palavra provoca ideias de guerra, impérioe geopolitica é a pratica dos estados de controlar e com- Geopolitica é mais do que que justificam tais ages: Realgou que a geapo. diplomacia: petir por territérios, E acrescenta que a a competicao pelo territério ¢ os meios geopolitica é uma maneira de “ver” 0 mundo. ra Correia (2018:97) citando Yves Lacoste afirma que @ geopoliti- kota 6 Jocinio cujo objective ¢ vencet 0 ca (geoestratégia) € sobretudo 0 raciocinio cujo o ae ‘ tégia) ¢ disponiveis- ede adversério ~ tendo em contaa situagio € 08 meIOS UME a9 (..) é provar a si proprio, ue i monstrar ao mundo, e até pro P Pr eatigaca0 de leis, mas de no se trata portanto de ciéncia, nem de ii sina es eccwoLitca|Teatss O° 29 30 aro espago terrestre eas tas que nele se desentolan, » saber pensar 0° hor nos mistérios do que esta em vias dese ‘at procurat penetrat heig, Esta defini io apresenta a gooy ai 1 definicao. O Instituto de Alte ea geoestratégia COM in chamia atenGao a esse Fespeito ag aint Militares (1993: (0) tar ‘aig sao um diptico h at gue a gopoltict © 8 BeOS SO edad Mhuas ciéncias irmasy ae interpretam a mesma earn ogi mas uma em apoio @ politica € outrs em apoio a estrattgia. Em fn, itica 6 ciéncia que estuda as constantes € aS variaveis do og, a geopoll 9 homem ques 20 objectivarem-se na construcig g, paco acessivel a I modelos de dindmica de poder, projecta 0 conhecimento geogric no desenvolvimento € na actividade da ciéncia politica. O facto dea geopolitica ser uma ciéncia que interpreta areal. dade geogrifica em apoio a politica gera uma necessidade intrinsec, de definigio do termo politica. A Politica pode ser definida comp actividade (arte) € como ciéncia. Como actividade ou arte a politicg &0 processo de administragao dos bens pliblicos com vista a propor. cionar o bem-estar a comunidade (Estado). Como ciéncia a politce estuda os fundamentos do poder, os fins a que se destina, as insti- tuigdes e as relagdes entre estas com ‘os corpos sociais € governados (IAEM, 1993:7). Entendendo-se por poder a capacidade de um actor ‘A influenciar o actor B a fazer aquilo que por si mesmo nio faria Portanto, dado o facto de que a geopolitica analisa e interpreta a geo grafia em apoio a politica, e por sua vez a politica se ocupa do poder entio a geopolitica em iiltima instancia, interpreta as formas comoa geografia confere ou nao poder ao estado. ‘SEOPOLINCA| Teorias, Dotinase Factores Geografia Politic Geogratia Militar TLE: | Geoestratégia Geopolitica Fonte: construgao do autor Objecto e Método da Geopolitica O objecto da Geopolitica ¢ a relacao estado - ambiente ou seja a geopolitica analisa ¢ interpreta a influéncia dos elementos geogra- ficos no poder do estado. Defarges (2012:133) diria que esta disci- e sobre 0 peso dos factores espaciais nas escolhas e em sentido contrario, sobre 0 impacto destes e controlo do espago. O método combinando métodos qualitati- métodos quantita- Jo do seu plina interroga-s e relacées politicas, elementos politicos na organizagao de estudo da geopolitica é eclético, vos (observa¢ao, entrevistas, documentos etc) € tivos (estatistica, Matematica etc) para levar a cabo o estud objecto. -ias,Douinas Feet ger culrca eo 32 CONCEITOS, OBJECTO E METODOS DA GEOPOLITICA, Para lembrar + Distinga a geopolitica da geografia militar, geografia politica e geoestratégia, + Identifique 0 elemento agregador das seguintes disciplinas: Geopolitica, geografia militar, geografia politica e geoestratégia. + Defina a estratégia + Definaa politica Conclusao Este capitulo reconheceu que 0 estudo da geopolitica exige a compreensio de um conjunto de disciplinas. Pois a geopolitica in- sere-se numa area cientifica em que se cruza com outras disciplinas com as quais estabelece uma relacdo de dependéncia mitua. Por isso, definiu a geopolitica e as disciplinas correlatas nomeadament geografia, geografia militar, geografia politica, e geoestratégia. Para além da definigao o capitulo apresentou também os métodos e 0 ob- jecto da geopolitica. Realgou que os métodos da geopolitica sao os mesmos que os das ciéncias sociais. ‘GEOPOLINCA| Terias, Doutinas Factores | CAPITULO II: os ESTUDOS AMBIENTAIS pardes uma posicao & avaliardes avessado as montanhas, Em geral, quando ocu erto de um terreno o inimigo depois de terdes atr os perto dos vales. Acam| uma encosta soall pai P heira. quedai-v In Sun Tzu, Arte elevado, frente a da Guerra vr OStsty an AMBIENTAYS introdugao Neste capitulo Apresenta-se aly orem amraes oe scabaran gn i ina que Viria a se afin 7 ee estbes didécticas 05 proc? iri uma ordem cronolégica, Por iso! tes in eth nd lo a sequénci Greco-Romana i 'quencia coy ‘ rdar-se 0 hana depois Segue-se a idade midis Com 0 perio. abot periodo que vai renascimento a id, ie Para finalmente ade moderna, Fz a. Faz-se uma presentagio descritiva do Pensamento & apresenta-se alguns exemplos que validam r olen Seoiide dactico é iniciar os estudantes a aplicarem Soa ee analisar realidades tanto do passado como do ae No periodo dos estudos ambientais, cba ie aa por ser um periodo em que nao se produz 0 cakes a a tico no sentido Kjelleniano mas estudos geogrificos re aes pensamento geopolitico, destacam-se autores que isin by i. relacionamento entre a Geografia e a politica, isto & 0 mei ico eo estado. Fundamentalmente, consideram-se esquemas climéticos gerais, como base para a divisio do mundo entao conhecido. 20 estu. da disci. Antiguidade Greco-Romana Na antiguidade greco-romana 0 destaque vai para Hecateu de Mileto, Ciro o Grande, Hipdcrates, Tucidides, Platio e Aristételes. Estes autores procuraram explicar 0 comportamento, 0 poder rela- tivo, os conflitos e as dinamicas das comunidades humanas (estado) a partir de factores geogrificos. A relacao estabelecida entre 0 meio eas comunidades humanas ajudou muitos estrategas militares ¢™ varias épocas a fazerem calculos de custos beneficios Haid a rem sobre o destino dos seus estados (impétios)- Impe nn Alexandre Magno, Jilio César César Att César, Napoledo Bonaparte entre outros bene ae ai cimento que com 0 tempo foi se consolidadd : disciplina cientifica, Geop' no século XIX: formar em olitica, coronene cine | 35 os ESTUDOS: AMBIENTAIS Hecateu de Mileto () tragou um mapa (vide mapa 1) que vi Jo em duas partes: no hemisférig h ee sentava o mundo divi iain do a Sibéria e no hemisférig sul < en, : Europa incl a ‘ SUI encon, contrava-se a Eur Mtn Ao utilizar as diferencas de clima n ‘ ; jaca 8 de " trava-se a Asia ea / Juiu que a Europa e a Sibéria corte, base de representagao conc : iam as regides frias do Norte ea Asia ea Africa as de clima Pais : diam asregi 1982:4) Por esta razao, Hecateus afirmou queo amie ee ane por ser favoravel a0 povoamento extenso era mgs roleate a 0 ambiente Euro-Sibérico, cuja rigidez do cli pe, de povoamento extenso. os continentes africano e asiético tem um clima suave quando comparados com a Europa incluido a Sibéria. Outro aspecto importante, é que de facto os dois continentes (principalmente a Asia) s80 mais populosos que a Europa e a Sibéria. A China com 1.4 mil milhées de habitantes e a {ndia com 1.3 mil milhdes de habitantes so os expoentes maximos do povoamento do continente asiatico, em parte, por causa da suavidade do Clima. Dados de 2017 indicavam que a Asia tinha 4.494 milhdes de habitantes, Africa tinha 1.250 milhdes de habitantes, América tinha 1.005 milhdes de Hecateu (séc. OS Esp O05 ny ms Mapa 1: Mapa Pa de Hecateus de ae 0 (500 a, .C) ocean Cottage Africa Fonte:http://mww.ancientportsantiques.com/ancientmaps Ciro, o Grande mais conhecido por Ciro, 0 Gran- de, séc. V.a.C, fundador do Império Persa (550-330 a. C), este duvi- dava se devia ou nao conduzir os seus guerreiros de terras dridas ¢ agrestes de origem, para outras com melhores condigoes (IAEM, 1982:5). Ciro acreditava que 0 acesso 2 terras férteis e produtivas com temperaturas suaves enfraqueceria seu povos retrando“he® rabus tez do guerreiro, dada a transformacao que se operat devidoas vidade das condigées ambientais. No que diz respeito @ Ciro II, wernt | 37 grou 8 : 38 o SESTUDOS AMBIENTAIS de estatura alta e corajosos Apareomt Soni de coragem € 0 préprio AGHO da al haka Zulu. & ste f 20) sobre os Ndwane) pina estatura, Que vivia nas py A estatura @ a sua victoria (1819. ‘ACtO explica, em parte | : We, Povo Nguni, de anicies entre os tog . Depois d Shoshangane, um dos generais de de Mocambique (pl Mfolozi, ditigidos por Zwide, Pongolo e A Morte de Zwide erm 1820, Zwide refugiox \ : MIOU-S© Na regido sul anicies) onde fundou o impétio de Garsecjs uitimo imperador foi Ngungunhe, conhecide mae | Por ser um homem di | estatura baixa, nervoso e indécil ; " Jucidides de Atenas Tucidides (465-395), autor da obra Histéria da Guerra de Pelo- poneso, apresentou aspectos tedricos referentes a influéncia do meio fisico na formagao dos estados e do seu poder. Ao observar a esta- bilidade da Atica e instabilidade de Hélade concluiu que a Atica era estavel porque nao era propria para a invasio devido as suas carac- teristicas de ‘Zona de Refiigio” e a pobreza do solo, o que a tornava indesejavel para outros povos. Ao contrario Hélade era um territorio com terras férteis, razao porque foi local de constantes disputas, de- vido & atrac¢do que exercia sobre outros povos que queriam se esta- belecer naquele espaco para usufruirem dos ecursos provenientes daquelas terras (IAEM, 1982:5). Tucidides realga também as Mates de poder, de temor, de coacao e dos ataques premeditados, como for- ma de fazer valer a autoridade do estado. A Maldicao de Recursos Ateoria de Tt mi e da paz. i di | ‘ausas da guerra ucidides remete-nos a ¢ , nan 1a de recursos ea guerra Realcando que a paz é fruto de ausénci & resultado de abundancias de recursos. De f ae internacional hodierno tém ocorrido muitos con ie ee abundancias de recursos (maldigao de ree an guerra de lraque (2003) e da Libia (201 we eden (uae expressas a abundancia do petrdleo qe atral facto, no sistema devido a os da 1s nao eeumremcneesnane| 39 40 ‘os EsTUDOS: mieNTAIS vadido e Se apossado através das Suag endo este Invé oe Libio. A auséncia de Fecursos. | lian au em parte, a Sua qUase paz perp, seus alias), t Ah esas do petrdlee empl pode explica naturais em Hait! Platao e Aristételes 7 Platao (mestre) € Aristételes (cise i astante ligados , 0° (disc. o a de varios tratados filossficos en eee Se pro. pal) foram a ne espaco-estado, Platéo (429-347 a, ) em relacig nunciado sobrea! tado, limitou-se a opinar que a situagig « influé espago no es ‘ ; oe ieee a sobrevivencia do estado, assumindo, Porta ritima fa id rética - superioridade da posicao terrestre oy cont. ven or re atic (39322 2.0) desenvolveu uma tora ge it lacdo e a estrutura das socied, relacionamento entre o clima, a popula¢: i ; fades politicas, estabelecendo ligacdes entre 0 ambiente natural €0 comport. mento humano e entre aquele ¢ as sociedades politicas, ‘Tendo em conta o clima, Aristételes dividiu o mundo em cinco 29. nas: duas Zonas frigidas, delimitadas pelo Circulo Polar Artico no He. misfério Norte, e pelo Circulo Antartico no Hemisfério Sul, Duas Zonas ‘Temperadas delimitadas pelo Trdpico de Cancer e Pelo circulo Artico, no norte e pelo Tr6pico de Capricérnio e pelo Circulo Antértico, no Sul, Uma Zona Torrida,delimitada a norte pelo Trépico de Cancer, ea Su) Belo Trépio de Capricéznio (ver mapa 2) Aristteles acteditava que a ideal & aquela cujos ‘ume de populacio, dispondo de auto- cométcio mariti um bom port iter 0 e aprovetamen® ARM, 1982:7), al Posiclonane 7 ae a 'mto, torna-la-iam Poderosa e Permiti-la nto, ane -la-iam expandir- ‘SSOPOLCA Tas Data ge, Assim, Aristoteles ¢ geda posigio Maritima, fende g lende a teoria Tal ASC TA Assoc rAtieg “Uperionida, Mapa 2: M ae apa representando as cinco zon do Aristétolos _e frigid zone North Pole _. we Arcticctda = ie zoNe am “Tropic of Capncom Antarctic circle South Pole Fonte: htp://appghst.co.uk/diagram-of important-latitude-and-longitude hm! Teoria Epirocratica de Platao Ateoria epirocratica de Plato defende que a localizagao costeira 6 desfavoravel para a sobrevivencia dos estados sendo por isso recornendavel que os estados se estabelegam no interland (continente). Esta teoria encontra fundamento na inseguranga que enfrentam nomeadamente pirataria, onais. Por exemplo em Mogambique, Ja para o colonialisino factor de ameaga pare fia 27 de Dezembro rose 0s paises costeiros @ insulares colonizagao e crimes transnaci © oceano Indico serviu de porta de entrad portugués. A pirataria também tem sido um f Mogambique. o sequestro do barco Vega 5 nod de 2010, em Sofala revela essa fragilidade dos estados Coste! sulare: carura rete Doone aCe 4) 42 s (0 EsTUDOS AMBIENTA! jstoteles = ne ‘seu Mestre (Plato) defendg que lo ira para ter um bom localizar-se na zona coste af De facto, apesar o estado deve lo comércio internacional. foe ita o i nirentam pela porto que permita os paises costeiros enfrentam p Sua da vulnerabilidade qu icios dessa localizacao. Mocambique 1 “ iram benef . calaé localizagao, oe portos de Maputo, Beira e al . UM actor por exemple or omércio internacional prestando Servicos 4 Sua i vel no ci incontornavel n as economias dos paises do interland da regia q economia e 8s a i, Zambia e Zimbabwe). Com este papel de Africa Austral (Malawi ‘20s paises da regido ganha divisas, Para alén, prestador apnea Mocambique benefciase dos recurs Tee ae plantas medicinais etc). Teoria Talassocratica oe! ‘Aristoteles diferentemen Idade Média Durante a Idade média 0 Pensamento europeu (civil Crista) centrou-se fundamentalmente na tematica teligiosa, egistando uma evolucio marcante no ce consequentemente nao aparece cionando os povos com o ambi zacio a0 se ‘onhecimento Seografico, ¢ neste periodo uma doutrina Tela. lente. Foi neste perfodo que o sul da Europa (territérios da actuais de Espanha, Portugal e Chipre) excluir a Turquia (Istambul tornou-se a sede do império Otomano no século XV) foram colonizados ( (Ocupacio efectiva) pelos Arabes Muculmanos (ver mapa 3) aquando da sua incursao jihadista pelo mundo (Sec, VII-XV), sem. ‘SOPOLNCA ets Dostna Faans os FSTUDOS Arnereterais Mi % i apa 3: Colonizagao Arabe Mugulmana no tempo de Ibn Khaldoum Fonte:http:/wwvrw.muslimheritage.com/article/ibn-khaldun-and-ise-and fallempire Ibn Khaldoum Contrariamente a estagnagao Ocidental, foi durante a idade Mé- dia, que emergiu, no continente africano, 0 Tunisino e Mugulmano (civilizagao Islamica) Ibn Khaldoum (1332-1406) com a sua obra Discursos sobre a Histéria Universal. Correia (2018:1 12) afirma que Khaldoum tinha uma visdo determinista ¢ analisou a influéncia do meio na formacio do homem ¢ dos estados. Acreditava que meio ambiente determina o cardcter € as grupamentos hu- manos que nele habitam. Na sequéncia do seu ra‘ faixa terrestre entre os paralelos os e faculdades dos a m argumentou que # ciocinio Khaldou! jo norte era s 20° e 38° do hemisféri _georouc Torin own HCO 43 8 29, fo a , i ig, ta faixa por serem frigida “ "Ortidg Tey, propicia i At ims de 5 s (frigida e térrida) Climatica, eta Pe Ha a norte &4 condigdes vimento humano en Mant « thy, tuad ite, Estas co desenvolvll 8 se rellectia ne li tivamer . amento ¢ clos 20° & 38° g ) poved alclos para ¢ Feit entre orado tempe Oderacs 5 : rag bn Khaldum defendeu que Os j Ibn Kha ia tog iracdes inham vida propria Porque. oas ¢ civilizagde vos ¢ tinham vida f pessoa i tri Say ismos Vi ». deci. avam e mo; Tia, Jos) eram ey maturidade, ae social ey eat giam ama s econdmicos, sciam, ating’ iclores ¢ crescial fm aos s do Magrebe, cu tambén s estados do eborred 7 nascimento dos esta caro nas explicar ¢ érios | Ascensio e Queda compe impérios ou estados enc = a a £2 Ateori = tes. Os impérios g Ateoria de 2 arios quadrantes, wf is evidéncias ah ali 330 aC) na Asin, Helénieg (32346 eI (626 a.C - 539 hele a.C-330d.C)na Europa, Azteca (1325 ge oe i ner ies dC - 1533 d.C)na sn apa .C),e . : | hance 1760 d.C) e Gaza (1821 d.c 1895 e (1430 d.c - ‘ONtra Variag abil nicg “ropa eo mundo Orizonte ac © Be0grafico @ estado, We O process dos Muculmano e con- rca do homem e da natu- Correia (2018:114) ama S Seguintes implica indo que conta” que deixou dee *SCobrimentos teve a; Mado “ty 4 Niohi consensog soe 8 dtinitacay cl lara estes, Contetidos, Petiodg de me os idade moderna eke "VOLS frances ‘ reensio Priodos, contudo para efitos de comps ie 8cimenty Tefe i $20 periodg, que vai ¢ por -S¢ 20 petiodo quevaiie Le "41453 (Guede de Constantinopla) a 44 SOPOLNCA Tres Ba 0s 0S tea centrado no Mediter raneo, + Criou a consciéncia de w ' dominaria as Telacdes in + Alimentoua interiorizacg branco, do cristianismo, ma centralidad ternacionais (0 da vocacio do hemisféri © curo-att, ME AOS Noss dominadora intica, que 05 dias, dohomem fundamen. nacionais, « Promoveu 0 enorme incremento da cartografia, + Deu lugar as empresas de ¢ he ee ‘olonizagio, que dominio do hemisfério norte, $80. que favoreceram o + Eesteve na origem de primeira divisio do mund nas de influéncia, com as sedes de poder a norte, dea cd Tratado de Tordesilhas, de 7 de Julho de1494, foi goriveirg acto, definindo uma partlha bipolar, tendoa conferencia de. Berlim de 1895 sido 0 acto final, com partilha multipolar. Tomando em considera¢ao as mudangas ocorridas a partir dos des- cobrimentos importa realcar que neste periodo (do Renascimento a idade Moderna) destacam-se autores como Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), Jean Bodin (1530 - 1595), Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon (1749 -1789), e Guillaume Thomas Francois Ray- nal (1713-1796). Nicolau Maquiavel ~ 1527), na sua obra “O Principe” a na Itdlia, no séc XV, por adapta~ me o seu moderno significado. Quanto a Maquiavel (1469 palavra Estado que tinha surgido cio do termo medieval ‘Status’ assu! Se canted Acerca do estado, este autor considera haver correspon i ae distribuigdo da riqueza no seu interior eo fundamento daa i lade das condiges % i firma que a diversidad digo esi ce Maqui ersigade nas formas de organizagao ambientais requer também fs : ‘ow, ainda, Ma- quiavel a debrucar-se sobr ea expansio terri ‘Ge orOUTCA| Toots powrinwerscors | 45 46 os esruD05 AMBIENTAS ara com um dilema: ou Perecer sr percepsao veio a exercer uma 4 ide politica dos estados ey, Wala, Profan Topeys *e pptica, se do a sua Op' ta sua atitu gun ; os seus dominios ape prolongada influéncia er ou Alargar 0S Espagos Peres stado esta em dilema de perece, ously = fal marcante e esté ligada 20 Pensameny obre a ascensao queda dos impérios, € facto, to Ibn Khaldoum s de se defender para ndo perecer, mas nig Precis ° estado precise de se alargar. Todos os estados Contemporango. necessooer g, amrica, Asia € Oceania) precisam de defen, ate a“ eee nao perecer. Portanto, 0 conceito de nag ones é substituido pelo conceito de defesa de so © Dilema de Aassergao de que os espagos (domint der a Perece, berania Jean Bodin Jean Bodin (1530 - 1596), nos seus trabalhos, entre os quais a abr, intitulada ‘Da Republica’ publicada em 1577, considera a influéncia dy clima e das condig6es naturais nas caracteristicas humanas, defenden. do o principio de que cada povo deve adaptar as suas instituigdes a5 especificidades da sua vida, Este autor, inspirado na abordagem de Ibn Khaldoun reafirma a influéncia ‘determinista’ do meio ambiente no montanhas, vales, regides dridas ou férteis, dos ventos, Georges-Louis e Guillaume Raynal Georges-Louis Leclerc, conde me Raynal (1713 — 1796) sao dois eae ; ua andlise sobre o clima Smericano. Buffon na sua obra ‘Historia Ne- tural’ expri te mes fico ne ie Sobre as possibilidades de tirar partido que lhe parecia Produzir um efeito de ‘Contrac ao! AS de Buffon (1707 - 1788) e Guillau- autores que se complementam na SFOFOUNCA Teo, Doutnase cos animais enyi; Midos para Améri A e¢ ese enc AM ori jnferiores aos que s * ig inferiores a08 que se encontravany yy Europa, Os ine! BEM a Produtos uma raga desprovida de Vitalidade, 6 clima €0 solo rates th podendo oferecer a base de uma Suficiente Tiqueza para tee mento extenso. Por sua yer, Raynal na Sua obra ‘Hist inane ria filoséica ¢ nas duas {ndias! legenerescéncia, mérica do Norte i a ainfluéncia do meio fisico local, Os discursos de Buffon e Raynal levaram 0s americanos da Sociedade americana de Filosofia de Filadélfia a Teagirem dizendo; ‘o meio fisico pode ser hostil, mesmo Profundamente mau, mas os americanos iriam demolir toda esta natuteza, suprimir as suas mani- festagdes hostis, incluindo os indios, se necessirio, posteriormente, tendo reduzido a natureza aos seus dados brutos, tendo aprendido a modela-la gracas aos progressos da ciéncia ¢ das maquinas iriam refazer 0 continente e construir um pajs a sua moda. Assim, os ame- ricanos aprenderiam a domar a natureza, as suas leis fundamentais, cumprindo uma missio, nao s6 util, como também piedosa, pois os aproximaria ao criador’ (IAEM, 1982:16). politica do es abelecimento ¢ com defendeu que na América do Nor Assim, os homens livres (Ue se estabelecessem na A nao tardariam em degenerar, sob ercio dos curopeus 1 teha condigées de d Contraccao e Degenerescéncia a ia de Raynal Tanto a teoria de Buffon eae a a : de Boy €ncia) foram muito im| Se eee show do clima, empregaram a ciéncia e a técnic par y ae cegde biente tendo por isso melhorado as oe ae ili asieatls espaco. Portanto, ainda jane iene pel central na vida des comunidns homenee (estado na procuta de soles Pat oP humanas (Esta * mente por ragao da se i iente. A degene! orada. impostos pelo meio ambien rodugao da sement melh la pi exemplo é colmatada pel OS ESTUDOS AMBIENTAIS Para lembrar + Fale da validade do pensamento de Hecateu: « Identifique as causas da guerra & da az em Tucidedes, «+ Distinga a teoria epirocratica da talassocratica / « Discuta a teria de bn Khaldum segundo a qual o estado é um hing, + Buffon e Raynal contribuiram para o progresso dos EUA. Arguments in Concluséo Este capitulo apresentou o periodo dos estudos ambientais ds tacando alguns precursores, que ao estudarem aspectos geo, = acabaram sendo precursores da disciplina que viria a se afirmay ia periodo imperialista, a geopolitica. Por questées didacticas o, Pre. cursores foram apresentados seguindo uma ordem cronolégica Por isso, a sequéncia comecou com o periodo Greco-Romana depois seguiu-se a idade média para finalmente abordar-se © periodo vai renascimento a idade moderna. Fez-se uma Presentacdo descr. tiva do pensamento dos autores e em seguida apresentou-se alguns exemplos para uma melhor compreensio do alcance das teorias, No periodo dos estudos ambientais como o tratamos um periodo em que nao se produziu conhecimento geopolitico no 48 | coroner in CAPITULO III: GEOPOLITICA IMPERIALISTA Aguerra é um assunto de importancia vital para o Estado, a provincia da vida ou da morte, a via que tanto pode evivéncia como & ruina, sendo a fundo. In Sun Tzu, A Arte da Guerra Conduzir a sobr por isso indispensavel estudé-la ‘GEOPOLITICA IMPERIALISTA, Introdugéo A geopolitica com ora dis tlvalldades eee de poder/conhecimento nasceu na pétios em competigio peas ay 1870 ~ 1945, quando os im- ocupagao de espaco, Estas guer tt pena! ¢ fizeram guerras pela fronteiras dentro do mapa polticoe ra San ee caracterizada por expansio coloni a todos os ‘continentes. Umaera italiano, alemao, portugues ees is ov impérios britanico, francés, acompanhada pela moderniza ae A tendéncia expansionists. foi Gimmes incon aon nee industrial a nivel doméstico. lim 1884/5 que resultou n fl a ey foi a Conferéncia de Ber- peias sob o principio d a partilha de ¢ frica entre as poténcias euro- ” pio de ocupacio efetiva. As confrontacoes geoPo" ticas por conquista e ocupacio de territérios resvalaram na Primeira (1914-1918) e Segunda (1939-1945) Guerras Mundiais. Este periodo de disputas territoriais tinha como substracto de actuacao das po- téncias imperialistas as teorias geopoliticas sobre 0 poder nacional, o poder maritimo, 0 poder terrestre € 0 poder aéreo. Portanto, este capitulo apresenta as principais teorias geopoliticas do periodo im- perialista. A variedade das teorias geopoliticas neste periodo é muito ampla, por isso, foram escolhidas aquelas que representam as prin- cipais abordagens deste periodo, com destaque para as teorias das escolas alema, francesa, pritanica, italiana e americana. Teoria do Espago Vital o vital ¢ da autoria de Frederich Ratzel (1844- imo da chamada escola de Munique. Formado em farmacia € zoologia € na geografia que ele se desta- cou. Influenciado principalmente pelo pensamento Charles Darwin. 0 | a vida na terra é determinada pela se- = segundo o qua a 1 cam ae influéncia de Darwin ¢ de outros pn dores como Kant, Ritter, Hegel, Humboldt o pensamento i " resume-se 4 dois aspectos principais: o determinismo gece 7 e estado organico, que se caracteriza aco vital. A teoria do espa¢ é 1904). Ratzel € 0 expoente maxi pela procura do esp: _GeoPOLcA eos, Downe FS 51 GeEOPOLITICA IMPERIALISTA ao determinismo ambiental Ratzel, &M Seu ivy, ‘N Quanto a0 ¢ em 1882, defendeu que O ambiente i tropogeogtalith adeterminante na actividade do homem ena vids? exerce inf Sananie nia aplicagio do seu poder” (Mafra, 200 7 estado, politicar Siecto geogrifico como estudo da influéncig * ) Ratzel definiu 0 obj bie aparnanidaae Eacrescentgne® actua, primeiro, na fisiologia public ado condigdes naturais exerc Psico le a influéncia ca et destes na sociedade, E em segundo jee dos individ eae propria constituigao social, pela riquerg i a Se dos recursos do meio em que a sociedade est loca vada (AEM, 1983:23). A natureza actua en Na Possibilidade de expansio de um povo, obstaculizando-a ou acelerando-a, E ainda, nas possibilidades de contacto com outros povos, gerando assim, igg. lamento e expansao. Ratzel acreditava que o homem é produto do meio Seografico em que vive, e o meio natural exerce uma ac¢4o dominadora sobre o homem que é submetido a ele (ibid). Portanto, o progresso para Rat- zel significaria um maior uso de recurso do meio, logo uma telacio mais intima com a natureza. O progresso implicaria, ainda, a neces- sidade de conquistar novas areas. Em relacao ao Estado Orginico cuja misao principal é a con- quista do espago vital, Ratzel comeca a sua teoriza¢ao afirmando a existéncia na historia de dois elementos relativamente Ppermanentes: © homem na sua versio popular e etnografica e 0 solo. Aqui o solo refere-se ao territério e aos aspectos fisico incluindo a sua localizacao no globo. Ao verificar que estes dois elemento: ficientes para determinar o um terceiro elemento ‘o Sey 's (homem e solo) eram insu- poder das nagées foi obrigado a formular ntido do Espaco’ (IAEM, 1982:34). E este ue lhe : ti Menor aptidio natural para organizar € dinamizar © meio por eles habitado, conduzindo, assim ao natural predominio de alguns sobre os outros, Utilizando uma imagem bioldgica, em que, as caracteristicas congénitas podem evoluir de acordo com modificagdes do organis- GEOPOLITICA IMPERIALISTA mo (como envelheci ened ac Ce e doenga), conclui que a grandeza ea d feels hstoreg Gh Se poderiam explicar por uma espécie ‘de pato, espago. Dai a necesidalede ca Fo eammenta do si ée - lade de cultiv: i , povos nao definhem, ar 0 sentido de espaco para que os Segundo Ratzel a daco a cals que vb cane is tuma comunidade humana e um pe- ente politico, os dois element: ponente principal o homem ¢, como § ‘os basicos sao lhe oferecidos pela geo- grafia fisica: 0 espaco e a posicao. O h eee dois elementos fisicos pelo aa jomem actua entao sobre estes zando esse mesmo espaco. Lo re mes nea ee mente diutmice, igo. Logo 0 conceito de espaco é eminente- O estado, para Ratzel, era, portanto, um organismo fixo 20 solo- um organismo moral e espiritual derivado da imperfeita combina¢ao dos homens; um né espiritual com a terra, com a qual permanece € vive juntamente, no trabalho comum e na necessidade de protec¢ao contra 0 exterior. Assim, a actividade, o caracter e 0 destino dos ho- mens ¢ dos estados sao consequéncias da sua localizagao, extensao, altitude, fronteiras e acima de tudo, do sentido de espaco (AEM, 1983:35). Da sua nogio de estado, Ratzel formulou as leis de espago e localizacao ao afirmar que: + primeiro impulso para o desenvolvimento territorial de um estado vem do exterior, duma civilizagéo mais adiantada. De facto, 0 impulso para as viagens maritimas conhecidas como descobertas, levadas a cabo por Portugal ¢ Espanha no século XV e mais tarde pela Holanda, Franca e Reino Unido vyeio da Asia com maior destaque paraa India. A India erade facto uma civilizagao avangada que impulsionou o desenvol- vimento dos estados europeus que tiveram que descobrir 0 caminho maritimo para terem acesso as especiarias. + Aexpansio de um estado seguem-se outros sintomas de de- z_ senvolvimento: ideias, produgao industrial, actividade mis- siondria e outras. Por exemplo o colonialismo portugués em Mogambique recorreu a assimilagio (ideia) para amansar as elites e serviu-se da Igreja catdlica (actividade missionaria) ‘GEOPOLITICA|Terlas,Dousna Factores 53 GEOPOLITICA IMPERIALISTA. s “comunidades indigenas’, instituido assim o para domar ensino rudimentar. A expansio de um estado inicia-se com a fusio e absorcio de unidades menores, Por exemplo, expansio alema no inj- cio da segunda guerra mundial comegou anexagio de Ans- chluss (Austria) em 1938, dos Sudetos (Checoslovaquia) em 1938, invasio a Poldnia em 1939 que eram estados menores em termos de poder quando comparados com a Franga, Um estado, 4 medida que cresce, tende a anexar regides va- liosas sob 0 ponto de vista econémico ou politico. O reino Zulo, no contexto do Mfecane (1815-1835) procurou ocupar os territérios férteis dos Ngunis ao mesmo tempo que pas- soua controlar as rotas comerciais, repelindo assim os Ngunis para outros espacos com pouca validade econémica e politica, + A absorcao reforca a tendéncia para a expansio, 0 que con- fete maiores possibilidades para a subsequente conquista de mais espaco. Esta lei aplica-se a actuacao do imperador Na- bucodonosor, rei da Babilénia (626 a.C-539 a.C) que quan- do ocupou Israel recolheu os intelectuais para a capital e dei- xou que 0 povo hebreu se misturasse com 0 povo babilénico criando-se assim uma nova identidade, os samaritanos. Nes- ta nova identidade Nabucodonosor podia recrutar homens para novas conquistas em outros quadrantes, + A fronteira como drgio periférico de um estado, evidencia a sua vitalidade ou dinamismo. As fronteiras so portanto, va- ridveis e dindmicas, reflectindo a forca expansiva dos estados. Por exemplo, as fronteiras da Etiépia tiveram novo tragado como fim da guerra da independéncia da Eritreia, em 1992, Posteriormente, Ratzel elabora mais algumas leis complemen- tando suas ideias iniciais, que sio: + A drea mundial esta dividida em zonas de influéncia, den- tro das quais cada Estado tem uma importancia relativa, de acordo com seus aspectos particulares. Os Estados encravados entre outros mais poderosos se veem sempre no dilema de optar pela politica de um deles. ‘GEOPOLINCA | Tevas,Doutina «Factores 54 GEOPOLITICA IMPERIALISTA A posigio iva i de outine oe ee Lachine ade ser rodeado de Estados poderosre, nnn idades Estados fracos, vizinhos : . » correm 0 risco de cair na drbita de influéncia destes; Estados podero i i teneseed Gost f poderosos e vizinhos, mas de in- “" postos, criam ambiente de instabilidade, cuja solu- $40, As vezes nica, ¢a guerra. im aie de excesso de populagao, os efeitos da pres- ho! grifica transpdem as fronteiras e penetram pelos vizinhos; ¢ o efeito expansionista (Bonfim, 2005:21). E no contexto do desenvolvimento da sua teoria que Ratzel de- senvolve a nogo de ‘Espaco Vital’ - territério necessario 4 completa e perfeita realizagao de um ser‘ politico’ forte erespeitado. O estado esta numa constante luta para conseguir o espaco vital, estando por essa via sujeito as leis de seleccao natural, segundo as quais s6 os mais fortes sobrevivem. Ratzel tinha como principal preocupacao a legitimaco das politicas expansionistas, Por isso ele afirmou que % semelhanga da luta pela vida, cuja finalidade basica é obter espaco, as lutas dos povos sao quase sempre pelo mesmo objectivo. Na historia moderna, a recompensa da vitéria foi sempre, um proveito territo- rial” (Mafra, 2006:36). Daqui se compreende a nogio de fronteiras como orgaos perifé- ticos e dinamicos mostrando a vitalidade dos estados. Tal vitalidade conduziria a que unidades politicas menores fossem absorvidas pelas maiores, até que restassem apenas, um pequeno niimero de estados potentes e complexos, os quais viriam a envolver-se numa luta titanica pela hegemonia mundial. Em iltima instancia, 0 espago vital que o estado procura, em Ratzel, visa alcancar a hegemonia Mundial. Sentido de espace e Patologia Historica Ratzel define o sentido de espaco como a aptidao natural que um povo tem, para organizar e dinamizar 0 meio fisico por ele habitado @ a patologia histérica como diminuigdo ou auséncia dessa aptidao natural de organizar e dinamizar 0 meio fisico. Estes dois conceitos ajudam a compreender a existéncia de povos que conquistam espagos (povos com sentido de espago) e outros que perdem GEOPOLITICA|Teriag Doutinas Factores 55 56 GEOPOLITICA IMPERIALISTA atologia historica). Por exemplo, em 2014 a ignificando isso que tem mais sentido nia que perdeu 0 territério, estando por isso "0 caso do Sudo @ Sudo do Sul também Sudao por ter perdido territério estava em Sudao do Sul por ter ganho independéncig povos em Pi ago (| g ac Crimeia si Riissia anexou a de espaco que a Uct em patologia historica se aplica, sendo que © patologia Historica e © ‘om 2011 (tem sentido de espace) eG Hegemonia Universal atinge 0 seu apogeu com a aad ‘Anogao de espaco vital em Ratzel apoge I construgio da hegemonia universal. A hegemonia universal é resultado de absorcao (conquista) de unidade menores pelas maiores até restar um pequeno numero de poténcias maiores que depois entram em guerras titénicas cujo vencedor se torna hegemonia universal. Neste sentido, a hegemonia universal é 0 estado que consegue conquistar 0 espaco vital. Do ponto de vista de validade, a historia tem mostrado que alguns estados tentaram alcangar a hegemonia universal mas fracassaram nas suas investidas, O caso da Alemanha Hitleriana é emblematico. A Alemanha queria concretizar 0 seu sonho de Hegemonia Universal mas acabou derrotada na segunda guerra mundial pelos aliados e a URSS. Portanto, a hegemonia universal no nosso tempo se mostra uma empreitada dificil de concretizar. Teoria do Estado Org: Oo Rudolf Kjellen (1864-1922) discipulo de Ratzel, foi criador do termo Geopolitica em 1899. Para Kjellen geopolitica é a ciéncia que estuda o ambiente natural onde 0 estado se implanta, nao estudan- do as relacées homem-ambiente, mas sim estado-ambiente, ou seja considerando 0 estado um organismo vivo no meio geografico. Por isso Kjellen distingue a geografia Politica da geopolitica nos seguintes termos: geografia politica estuda a terra enquanto morada para os seus povoadores humanos nas suas relagdes com as demais proprie- dades da terra e por sua vez a eopolitica estuda o estado enquanto (GEOPOLITICA|Teovas,Doutins «Factores GEOPOLITICA IMPERIALISTA, fendmeno do espaco” (AEM, 1982:28). Kjellen distancia-se da percepgao do seu mestre (Ratzel) que entendia o estado como uma entidade Jufdica, para Kjellen 0 estado é eminentemente uma entidade geografica. De acordo com Mafra (2006:34) Kjelllen acreditava que na origem do estado estao dois ele- mentos: o direito e forga natural. Este ltimo elemento permite ao estado a sobrevivéncia no mundo que é essencialmente hostil. Por- tanto, o estado é direito por dentro e for¢a ou natureza por fora. Na sua obra, ‘o Estado como forma de vida’ publicada em 1916, compara o estado ao ser humano ¢ define o estado como um ser vital, supra individual, que nasce, cresce e morre num ambiente de lutas e conflitos bioldgicos dominado por trés factores endégenos: (i) 0 Povo cujo estudo designou, primeiro, por etnopolitica e depois por demo- politica, (ii) a sua Estrutura ~ cujo estudo chamou sociopolitica, (iii) 0 Governo cujo estudo chamou de craptopolitica. E por dois outros de natureza externa: (i) 0 Patrimonio cujo estudo chamou ecopolitica, (ii) 0 Territério cujo estudo chamou de geopolitica (IAEM, 1982:28). Baseando-se nos factores enddgenos e exdgenos, Kjellen defen- deu 0 conceito de “veiculagao territorial do estado” segundo o qual “cada estado tem o seu niicleo territorial fixo de uma vez para sem- pre, do qual nao se pode separar sob pena de sucumbir. Por isso, concluiu que ‘como as arvores, cada estado permanece e morre no seu sitio’ (Mafra, 2006:44). Da comparagao entre o estado e o ser humano Kjellen disse que: A capital era a cabega do‘éstado pois € 0 centro das decides, O territério era 0 tronco por abrigar nele todo o patriménio do estado, As areas produtoras eram os membros, porque é a partir dessas areas que o estado se movimenta, Os centros administrativos e econdémicos eram 0 coragao & os pulmées, porque sao estes organismos que dao vida ao estado, * Osrios e as estradas eram as veias e as artérias por onde cir- cula a vida do estado. Kjellen defendeu que a interpretagao geopolitica era feita com {GEOPOLITICA Teoras, Doutrinas «Factores 57 GEOPOLITICA IMPERIALISTA, 0, a forma e ais nomeadamente @ posiga factores sito estudados pela: a da posigio geogrifica base em trés factores princip as riquezas naturais. Estes trés + Topopolitica- que estuda influénc base fisica sobre o poder do estado, + Morfopolitica ~ que estuda a influénc do territério sobre o poder do estado, ¢ + Fisiopolitica - que estuda a influéncia sobre o poder do estado. Assim, estudar geopolitica seri gdes recolhidos a partir da topopoliti po-los ao servigo da politica do estado. De acordo com Bonfin (2005:21) 0 pensamento de Kjellen ser resumido nos seguintes postulados: a da forma e extensio, riquezas naturais nnterpretar os dados ¢ informa- a, morfopolitica ¢ fisiopolitica pode mente fortes, com dreas de soberania limitada, sio do- aminados pelo categorico imperativo politico de dilstar seus territério pela uniio com outros Estados ou pela conquist vada, no mundo da politica no mundo da cultu- Estados vital pela colonizagio, ‘Aos Estados pequenos parece reser nacional, sorte idéntica a de povos primitives inte mantidos em areas marginais ou em ra; sio repelidos para a periferia, zonas fronteirigas, ou desaparecem. Quanto mais o mundo se organiza, sntir sua influéncia e, menor a importancia dos pequenos. mais os vastos espagos como Estados grandes, fazem se quanto maior 0 desen- volvimento dos grandes Estados, era que os estados sao seres sensiveis ¢ racionais, cada dividuo em si, com 0 seu caracter particular, com ficos, a sua forma de actuagio ¢ 0 set sentimen- téncia é no fundo, uma von- Kjellen consid um aparece como in os seus interesses espect to. Por isso ele afirma que, uma grande pot tade dotada de amplos meios de poder que se reflecte em pretensies ¢ influéncias fora das suas fronteiras. As pequenas poténcias tém uma fangio estabilizadora ¢ mediancira. A Soe dade das Nagies (SDN), € uma instituigao que ird revalorizar as pequenas poténcias & refrear as tendéncias imperialistas das grandes poténcias. Este &0 primeiro passe para a formagio do “Estado Universal” que surgird como resultado de GEOPOLITICA| Tooros Dourinas Fate 58 _—— GEOPOLITICA, IMPERIALISTA uma tendéncia natural da humanidade para a unidade Politica, Estado Universal Segundo Kjellen a SDN era uma Instituigdo que iria revalorizar as pequenas poténcias e refrear as tendéncias imperialistas das grandes poténcias. Este seria o primeiro Passo para a formagao do estado universal que Surgira como resultado da tendéncia natural da humanidade para a unidade politica, A pergunta que emerge é dado 0 facto de a ONU ter substitufdo a SDN entdo pode-se dizer que a ONU desempenha a funcao que Kjellen mencionou? A resposta é sim e nao. Sim, porque a ONU tem ajudado a resolver conflitos onde as grandes poténcias tém interesses, os casos de Mogambique e de Angola que a ONU enviou as Forcas de manuten¢ao da Paz - Operacao das Na¢des Unidas em Mocambique (ONUMOZ) em 1992 e Miss80 de Observacao das Nagées Unidas em Angola (MONUA) em 1997- confirmam a afirmacao de Kjellen. Estas forcas (ONUMOZ e MONUA) revalorizaram as pequenas poténcias (Mogambique e Angola) e refrearam as pretensées das grandes poténcias (Estados Unidos de América e seus aliados). Ndo, porque a ONU nem sempre consegue conter a vontade das grandes poténcias. A invasao ao Iraque em 2003 foi sem o aval do conselho de seguranga da ONU. A Intervencao militar na Libia em 2011 foi fruto do desvio do mandato da resolucao 1973 (2011) que era para estabelecer No Fly Zone e acabou sendo o Regime Change liderado pelos EVA, Franca e Reino Unido. Portanto- - nestes casos a ONU nao refreou a vontade das Grandes poténcias. Dada a dificuldade de a ONU fazer-se obedecer nao é possivel © estabelecimento do Estado Universal Kjelliano. | neantan aac | 59 60 (GEOPOLITICA IMPERIALISTA, Teoria das Pan-Regides Karl Haushofer (1869 — 1946), autor do livro Geopolitica da Autodeterminagio publicada em 1923, definiu a geopolitica como a “Consciéncia geogrifica do Estado”, considerando as fronteiras como s estados pela sobrevivencia a razao de permanente conflito entre (Mafra, 2006:154). Houshofer acreditava que somente os estados pe- quenos ¢ isolados podiam manter os seus territérios de forma esta- tica, porque nao tém capacidade de os tornar dinimicos, ao passo que as grandes poténcias tinham a vocagao de se desenvolver e de se expandir até atingir 0 espaco Vital. Houshofer foi influenciado pela Doutrina Monroe que defendia aideia da Pan-América ao afirmar que a ‘América para os america- nos’ rejeitando assim a influéncia de outros actores na América. Esta doutrina defendia, portanto, que a América devia ser influenciada apenas pelos Estados Unidos de América. O pensemento de Hausho- fer assenta sob trés conceitos a saber: + A autarquia ~ que seria a auto-suficiéncia nacional no sen- tido econémico, + OEspaco Vital - como o direito de uma nagao de ampliar seu espaco fisico para satisfazer as suas necessidades, + As Pan-Regides - que sao dreas super-continentais que pos- sibilitariam a realizacao do ideal da autarquia, ou seja auto- ~suficiéncia, Ex: A Pan-Ameértica do Presidente Monroe. Houshofer analisa, igualmente, 0 antagonismo entre 0 Pan-A- mericanismo dos EUA ea 0 Pan-Asianismo do Japao e da URSS face a pretensio dos EUA de chegar ao mercado chines (Doutrina das Portas Abertas). E acrescenta que o Pan-Australismo e 0 Pan-Ind: nismo poderiam contribuir para a degradagao futura do império bri- tanico, 0 que veio a acontecer depois da TI GM. E preciso realcar que para Haushofer as Pan-Regides tém como fundamento as Pan-Ideias, Estas tiltimas ‘© um conjunto de ideias abrangendo nio sé as semelhangas geogriificas e étnicas, como tam- bém as religiosas e raciais. Com bases nesta abordagem Haushofer dividiu 0 mundo em quatro regides a saber; GEOPOLITICA| Teoras, Doutrinas« Factores

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