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OTEATRO DE GILVICENTE GILVICENTE -VIDA E OBRA Gil Vicente foi 0 primeiro auténtico dramaturgo portugués e um dos maiores génios do teatro no nosso pais.A sua biografia, contudo, esti rodeada de incertezas.Terd nascido entre 1460 e 1470, em Gui- mates ou na Beira Alta, segundo alguns bidgrafos, e poderd ter sido o ourives que criou a Custédia de Belém ou ainda o mestre de Retérica do rei D. Manuel. Sabe-se que foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Depois de uma vida de dramaturgo da corte, morreu, provavelmente, em 1536. Foi a0 servico da Rainha D. Leonor, vitiva de D. Jodo Il, que, no dia 7 de junho de 1502, recitou a sua primeira peca,o Monélogo do Vaqueiro, para comemorar o nascimento do principe, futuro D. Jodo Ill. Depois disto, muitas foram as pecas que, durante cerca de trinta e cinco anos, Gil Vicente escreveu, encenou ¢ por vyezes representou, como organizador das luxuosas festas da corte, enriquecida pelo comércio do Oriente. Os reis D. Manuel e D. Joio Ill apreciavam o seu humor que a todos atingia, mesmo aos mais poderosos, pois isso convinha a estes monarcas absolutistas, desejosos de retirar poder aos nobres para © concentrar nas suas mos. GilVicente escreveu cerca de cinquenta pegas de teatro de diferentes géneros, que poderdo ser classi- ficadas e agrupadas segundo diversos critérios, sendo 0 mais simples aquele que separa os autos religio~ sos (Autos das Barcas do Inferno, do Purgatério e da Gloria, Auto da Alma, Auto da Feira, Auto de Mofina Mendes) das farsas (Auto da India, Farsa de Inés Pereira, Quem Tem Farelos?, OVelho da Horta) ¢ das comédias (Comé- dia de Rubena, Comédia do Viivo). ‘A carreira teatral do dramaturgo terminou com a representagao de Floresta de Enganos, em 1536, no ano em que a Inquisigao foi introduzida em Portugal, mas algumas das pecas continuaram a ser represen tadas na corte depois da morte do autor. Em 1562, os seus filhos Luis e Paula Vicente publicaram a obra completa de seu pai,sob 0 titulo Compilacom de Todalas Obras de GilVicente, com o apoio da rainha viva de D, Jodo Ill, que protegeu os textos da censura inquisitorial. MEDIEVAL OU RENASCENTISTA? E habitual afirmar-se que Gil Vicente € 0 pai do teatro portugués, por ser ele o primeiro dramaturgo literdrio, o primeiro que escreveu pecas para serem representadas. Mas, para isso, baseou-se, em grande medida, nos espetdculos teatrais de tradicao medieval: os momos e as representacées religiosas. Os momos, muito apreciados nas cortes de D. Joao Il e de D. Manuel, eram uma espécie de pantominas em que personagens alegéricas, simbélicas ou cavaleirescas desfilavam, normalmente, sem falar, ¢ utilizando luxuoso guarda-roupa e aderesos aparatosos. As representagées religiosas, que ocorriam sobretudo no Natal,na Péscoa ou no Corpo de Deus, punham em cena, de uma forma muito simples, passagens da Biblia e da vida de Cristo e dos Santos. Havia ainda os sermées burlescos, divertidas satiras a vida de clérigos freiras. , (© teatro vicentino conservou e desenvolveu muitas das caracteristicas medievais destas representa~ G6es, ainda muito apreciadas na época. Um exemplo disso mesmo é o Auto da Barca do Inferno, peca de cariz religioso, na qual duas personagens alegéricas, o Anjo e © Diabo, dirigem um verdadeiro desfile de personagens, a maneira medieval. Também a semelhanga das representacdes da dade Média, o teatro de Gil Vicente tinha como finalidade animar festas cortesas, a0 mesmo tempo que procurava moralizar a sociedade. No entanto, apesar desta origem medieval, o teatro vicentino constitui uma das primeiras e melhores manifestagdes de um espirito moderno, marcado pelos ventos do Renascimento que entretanto comecava a fazer-se sentir entre nés. E, por isso, um teatro de transi¢ao. SATIRA SOCIAL rani mre As pecas de Gil Vicente séo uma critica ao pais — um pais embriagado pela miragem do Oriente, onde meio mundo engana outro meio e todos preferem © parecer ao ser.Assim, 0 dramaturgo mostra-nos, de uma maneira | muito divertida, mas muito séria,a crise de valores que, | umas décadas mais tarde, haveria de conduzir Portugal 4 ruina. Comico de situagao- resulta danio ‘Adotando o lema latino “Ridendo castigat mores” | adaptacio de uma pessoa a situacio em que {através do riso corrigam-se os costumes), Gil Vicente , | se encontra optou, quase sempre, por um teatro satirico,de critica | Ex:na entrega dos Oscares,a apresentadora social, utilizando varios processos geradores do riso. anuncia 0 prémio de melhor atriz, profe- O cémico, por exemple, foi utilizado, nas suas diver- rindo 0 nome de um ator. sas vertentes: comico de situagéo, comico de cardcter & comico de linguagem (ver calxa). | adaptagao de uma personalidade & sua pré- Visando criticar instituigdes, classes ou grupos socials ria realidade. @ nio individuos, Gil Vicente concebeu as personagens | Ex:0 aluno que, errando sistematicamente | © cémico é conseguido através de varios | processos: uma coincidéncia, um contraste, | um desajuste, ao nivel comportamental ou situacional, Nas suas pecas, Gil Vicente usa, sobretudo, trés modalidades de cémico. Cémico de caracter ~ resulta da nio | com caracteristicas atribuiveis ao grupo aque pertencem, | os exercicios de matemitica, insiste em retirando-lhes toda a densidade psicoldgica e a interiori- | defender que esto corretos. dade que poderia fazer delas casos tnicos e singulares. 25 * - Comico de linguagem — resulta de uma | Séo personagens-tipo que representam uma classe, | = 7 : a ss : | no adaptacio do registo ao contexto. uma profissio, um vicio, uma idade. Os tracos dessas per- a ‘ er | Ex: um jornalista que, em pleno noticirio, sonagens, muitas vezes exagerados para serem bem niti : usa um registo popular para dar informacé dos e percetiveis, fazem delas, frequentemente, caricatu- jestD popular’ is as sobre um acontecimento. TEATRO DE CORTE ‘As pecas de Gil Vicente eram representadas em serées palacianos, em festas comemorativas de nasci- mentos e casamentos reais, em visitas de personalidades importantes, em celebracées religiosas. O cend- rio mais frequente foi o palicio da Ribeira, em Lisboa, mas também, ocasionalmente as residéncias reais de Evora, Tomar, Coimbra e Almeirim, e também igrejas ou mosteiros. Era, pois, um teatro de corte, escrito para ser representado em grandes sal6es, com os atores a movi- mentarem-se ao mesmo nivel que © piiblico. A familia real e 0 seu séquito tomavam lugar sobre um estrado e a representacao desenrolava-se diante deles. © palco apenas era utilizado nas pracas e os efeitos cénicos poderiam variar, como sugerem as indicagées escritas nas pecas, que nos permitem imaginar a utilizacdo de inimeros aderecos. Este ambiente palaciano explica, em parte,a opcdo pelo cémico. Na verdade, pecas mais sérias pode- tiam n&o ser bem recebidas nas festas com que o rei gostava de presentear os nobres que acorriam & magnifica Lisboa, capital do Império, Nem as criticas que Gil Vicente gostava de fazer a todos, ¢ sobretudo 208 mais poderosos, seriam aceites se nao se apresentassem confundidas com 0 riso que provocavam. ATUALIDADE DAS PEGAS Um dos aspectos mais interessantes do teatro vicentino é a sua atualidade. Na verdade, apesar do contexto antigo e ultrapassado, 0 essencial das pegas é intemporal, pois é a vida e as grandezas ¢ misé- rias do ser humano que sao representadas. E por isso que Gil Vicente continua a ser, nos nossos dias, 0 dramaturgo portugués mais representado. AUTO DA BARCA DO INFERNO © Auto da Barca do Inferno foi encomendado a Gil Vicente pela rainha D. Leonor, viliva de D. Joao Il,e foi representado perante o rei D. Manuel |,em 1517. ARGUMENTO (intriga ou enredo) © argumento da peca é a alegoria da chegada dos mortos ao cais de passagem para a outra vida, estando no cais duas barcas, uma que vai para 0 Céu, guiada pelo Anjo, a outra que vai para o Inferno, guiada pelo Diabo. Chegam sucessivamente onze personagens, representantes de diversas classes e gru- POS, que slo julgadas, se defendem quase todas, e sio quase todas condenadas a barca do Diabo, com excegio de um Parvo pobre de espirito e de Quatro Cavaleiros que morreram na luta contra os mouros. ESTRUTURA EXTERNA Embora no esteja dividido em cenas, podemos ter em conta a entrada de cada uma das personagens e, assim, considerar que 0 Auto da Barca do Inferno contém doze cenas.Assim, a primeira é aquela em que © Diabo e 0 companheiro preparam a barca,a segunda, aquela em que o protagonista é 0 Fidalgo, seguindo- -se uma nova cena, sempre que uma personagem chega ao cais. ESTRUTURA INTERNA °ACAO, Segundo as normas do teatro clissico, a agio do drama deverd estar organizada em trés momentos (exposi¢ao, conflito e desenlace). Nao € esta a organiza¢ao do Auto da Barca do Inferno, uma vez que cada um dos quadros é independente e nao existe qualquer relaco entre a historia das diversas persona- gens.Assim,a peca tem varias exposi¢Ses, varios conflitos e varios desenlaces, tantos quantas as persona- gens em julgamento. Apesar disso, apresenta unidade de ago, através do argumento (todas as personagens acabaram de morrer e chegam ao cais de passagem para 0 outro mundo onde sao julgadas pelo Diabo e pelo Anjo, consoante © que fizeram em vida.A circunstancia em que se encontram, 0 espaco ¢ 0 Diabo e o Anjo sio 08 elementos de ligagao e continuidade). PERSONAGENS Processos de caracterizacao Todas as personagens sio caracterizadas através dos simbolos cénicos que transportam e que indiciam a sua identidade ou a sua conduta. So também caracterizadas diretamente através do que 0 Diabo e © Anjo dizem da vida que levaram e também através do que elas dizem sobre si préprias. Sao igualmente caracterizadas indiretamente, através das suas atitudes durante o julgamento, dos argumentos que utilizam e da linguagem que usam. Concecao As onze personagens apresentadas a julgamento séo personagens-tipo, porque sintetizam e repre- sentam classes ou estratos sociais ou grupos profissionais. Sio personagens planas, uma vez que, para funcicnarem como tipos, representando todo um grupo ou uma classe, no podem apresentar tracos profundos e individuais. O Anjo e o Diabo sio personagens alegéricas, pois representam o mal ¢ 0 bem,o Inferno e o Paraiso. Percurso cénico Diabo -+ Anjo -> Diabo: Fidalgo, Onzeneiro, Sapateiro, Frade, Alcoviteira, Corregedor, Procurador. Armaioria das personagens faz 0 mesmo percurso em cena, no entanto, registam-se algumas excecdes. As sete personagens acima mencionadas comesam por se dirigir & barca do Diabo, onde se recusam a entrar; depois dirigem-se a barca do Anjo, onde lhes é recusada a entrada; finalmente, regressam a barca do Cabo, ered cin ten outrn versie warts. crerar: UiS DE CAMOES LUis DE CAMOES -AVIDA EA OBRA Pensa-se que Luis Vaz de Camées tera nascido por volta de 1525, possivelmente em Lisboa. Embora nenhum documento © comprove, é quase certo ter estudado em Coimbra, pois a cultura revelada na sua obra sé seria acessivel a quem frequentasse estudos superiores. Terd pertencido a pequena nobreza,o que Ihe deu acesso a corte. Entre 1549 e 1551, participou numa expedi¢io militar ao Norte de Africa, onde perdeu o olho direito. Em 1552, esta novamente em Lisboa, frequenta 0 paco, ao mesmo tempo que vive uma vida boémia. E nesse ano que, numa briga, fere um arrieiro do rei e é preso. Beneficiando de um per- dio real, parte para o Oriente, onde permaneceu cerca de quinze anos. Na India prestou servico militar durante trés anos, desempenhou cargos administrativos e, apesar da protecao do vice-rei, esteve preso por dividas. Tendo estado em Macau, tera sido no regresso a india que sofreu um naufrigio, no qual perdeu todos os bens, salvando-se,a nado, com o manuscrito de Os Lusiadas. Em 1568, parte para Mocambique, onde amigos o encontram na miséria e Ihe pagaram a viagem para Por- tugal, onde chega em abril de 1570. Em 1572, publica Os Lusiadas, dedicado ao rei D. Sebastiao que Ihe concede uma tenca anual nem sempre paga. Além da epopeia, é autor de uma vasta obra lirica que foi escrevendo ao longo da vida e de que ressaltam os sonetos, as can¢6es, as redondilhas. Escreveu também trés comédias ~ E-Rei Seleuco, Filademo e Anfitrides. A quase total inexisténcia de documentos biograficos e a sua obra conjugaram-se para que em torno da vida do poeta fosse crescendo a lenda. Sobre a vida sentimental de Camées muito se tem escrito, mas nenhum documento confirma a relagéo com D. Catarina de Ataide, dama da corte, que morreu muito joven, ou com a infanta D. Maria, irma de D. Joao Il Também no é certo que a escrava imortalizada num poema seu fosse uma Barbara com quem viveu na india ou Dinamene, a chinesa que o acompanhaya e que morreu no naufragio que © poeta sofreu entre a india e Macau. Sabe-se que 05 seus ultimos anos foram de quase miséria, mas ndo é certo que tenha sobrevivido gra- as & ajuda de um criado, Jau, que trouxe do Oriente e que, segundo a tradigo, por ele mendigava por Lisboa. Morreu no dia 10 de junho de 1580 —no mesmo ano em que Portugal perdeu a independénci lépide da sua sepultura, um amigo mandou gravar: “Aqui jaz Luis Vaz de Camies, principe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu.” CONTEXTO: O RENASCIMENTO Poderemos definir, genericamente, Renascimento como um movimento cultural que, articulado com fatores sociais, econémicos, politicos e religiosos, criou uma profunda dinamica de mudanga na Europa dos séculos XV e XVI. berco do Renascimento foram as cidades da Itdlia do século XV, nomeada- mente Florenca, cujo enriquecimento, proporcionado pelo comércio, gerou uma elite de politicos e inte- lectuais responsaveis pelo movimento de renovacdo da cultura. Da Itdlia, o movimento expandiu-se por toda a Europa e atingiu 0 seu ponto culminante nas primeiras décadas do século XVI. Nessa época de poder centralizado e de estados poderosos, reis, papas, nobres, altos dignitérios da Igreja e até ricos comerciantes, desejosos de notoriedade, investiam na arte e a moda do mecenato alastrou a cortes e centros urbanos desenvolvides. ‘Aacao dos humanistas, nome que designa os intelectuais deste periodo, correspondeu a um desejo de abandono dos padrdes medievais, tamando o homem consciéncia da sua capacidade de transformacao do mundo e da vida. Nasce uma mentalidade antropocéntrica, que vé © homem como agente da mudanga, por isso acredita em si mesmo e na sua realizacdo terrena. Através da sua obra, legado para a posteridade, o artista liberta-se da “lei da morte”, tornando-se imortal,ao mesmo tempo que imortaliza 95 seus mecenas, ou os heréis e os feitos da sua patria. ‘A confianga nas capacidades humanas e a busca do saber e da cultura implicou a valorizacao da razao, por um lado, e da experiéncia, por outro. Assim, o Renascimento é um tempo em que o saber resulta do estudo conjugado com a experiéncia e, por isso,um tempo em que se langam as bases do conhecimento cientifico. De entre as muitas descobertas que nessa época o homem realizou, os descobrimentos portugueses ocupam um dos lugares cimeiros, pois os navegadores portugueses nao descobriram ape- has novas terras, eles revelaram povos desconhecidos, plantas e animais nunca antes imaginados e, acima de tudo, desenharam 0 novo mapa do mundo, Tudo isto obrigou o homem europeu a repensar-se na sua relagiio com esse mundo to extraordinariamente novo e diverso. Um dos principais vetores do Renascimento, e dai o seu nome, é a valorizacio e mesmo a imitacao da Antiguidade classica. Os autores e as obras greco-romanas funcionavam como modelos, porque cor- respondiam aquilo que © pensamento renascentista mais apreciava: o equilibrio, a harmonia, o respeito pela proporsio, o realismo naturalista. A mitologia classica passou a ser utilizada como alegoria ou como tema. Portugal e 0 desejo de uma epopeia Sendo a epopeia considerada a expressio mais alta da literatura, os humanistas portugueses, como os de outros paises europeus, ansiavam pelo poema épico que prestigiasse a literatura nacional. No século XVI, diversos intelectuais alertavam para a necessidade de se cultivar o género épico, estimulando os poe- tas 4 criagdo da epopela nacional. Portugal tinha, de facto, no século XVI,as condigées ideais para a criagio de um grande poema épico.As viagens de descoberta de caminhos maritimos e o heroismo dos navegan- tes prestavam-se & compara¢o com as viagens maritimas da Eneida e da Odisseia. O orgulho nacional estimulava a celebracao dos feitos portugueses e 4 prépria corte interessava a apresentacio da politica de expansio ultramarina como forma de dilatagao da Fé crist, para contrariar a ideia de que a verdadeira motivagéo dessa politica fosse meramente comercial. Fazer renascer a epopeia nos moldes classicos e glorificar os feitos histéricos recentes requeria, no entanto, um génio invulgar.E esse génio apareceu. Chamava-se Luis de Camées ¢ escreveu a maior epopeia dos tempos modernos ~ Os Lusiadas. CARACTERISTICAS DA EPOPEIA A epopeia remonta a Antiguidade grega ¢ latina e tem como expoentes maximos a lliada e a Odisseia, Poemas gregos atribuidos a Homero, e a Eneida, poema de Roma da autoria de Virgilio. uma narrativa em verso e,como qualquer narrativa, tem uma ago, que envolve personagens situa- das num determinado espago e tempo. No entanto, a narrativa épica tem caracteristicas especificas. Segundo © modelo clissico,as normas que presidem a epopeia sio: * a acdo épica deve ter grandeza e solenidavle, deve ser a expressio do heroismo; * 9 protagonista (rei, nobre, heréi), além da sua alta estirpe social, deve revelar grande valor moral; * «in medias res» deve ser o esquema narrativo usado, ou seja, 0 inicio da Narragio presenta a aco ja numa fase adiantada; * aunidade de ago ¢ um requisito da epopeia e, para o assegurar,recorre-se as narraces retrospe- tivas e as profecias, para contar factos passados e futuros; + 05 episédios dio extensio e enriquecem a ago, sem quebrar a unidade; * © maravilhoso (intervencio dos deuses) deve participar da aco da epopeia; * a intervencao do poeta, tecendo consideragdes em seu prdprio nome, deve ser reduzida: * 0 estilo solene conforme a natureza heroica dos factos narrados deve ser o adotado na epopela. an AESTRUTURA DE OSLUSIADAS a ESTRUTURA EXTERNA * As estrofes estao distribuidas por 10 cantos. O numero de estrofes por Canto varia de 87,no Canto Vil,a 156, no Canto X. No seu conjunto, o poema apresenta | 102 estrofes. “AS estrofes sio oitavas (oito versos), apresentando o esquema rimitico abababec. (A este tipo estréfico costuma chamar-se oitava rima, oitava heroica ou oitava italiana.) * © poema esté escrito em versos decassilabicos, com predominio do decassilabo heroico (acentos Principais na 6." e 10." sflabas). E 0 metro mais adequado a poesia épica, pelo seu ritmo grave e vaga- roso. Surgem também alguns, raros, exemplos de decassilabo séfico (acentos principais na 4°,8.*e 102 silabas). ESTRUTURA INTERNA As partes constituintes Os Lusiadas constroem-se pela sucessio de quatro partes: Proposicao — parte introdutéria, na qual o poeta enuncia que vai cantar (Canto |, ests. |-3). Invocasao — pedido de ajuda a divindades inspiradoras (a principal invocacio é feita as Tigides, no Canto |, estrofes 4 ¢ 5;20 longo do poema ha outras invocagées). Dedicatéria ~ oferecimento do poema ao rei D. Sebastiao (nao existe nas epopeias da Antiguidade). Narracao ~ parte principal, é a narrativa das agées levadas a cabo pelos protagonistas, Comeca no Canto |, estrofe 19,¢ termina no Canto X, estrofe 144, apresentando, apenas, interrupgdes pontuais. Quando a narragéo comega, na estrofe 19 do Canto |, a Viagem — acao central — esta numa fase adiantada, pois a armada de Vasco da Gama jé esta no oceano Indico, perto da costa de Mocambique. Esta opcao narrativa segue as regras da epopeia clissica, que determinam que a narracio se inicie “in medias res”. Assim, a maior parte do percurso da Viagem, de Lisboa até a costa oriental de Africa, sera narrada retrospetivamente, em analepse, por Vasco da Gama ao rei de Melinde. Episddios —Também de acordo com as regras da epopeia clissica, a narrativa inclui diversos episé- dios nos trés planos que a compéem. Exemplos: lano da Viagem: Praia de Lagrimas, Gigante Adamastor, Tempestade... * Plano mitolégico: Consilio dos deuses do Olimpo... * Plano da Histéria de Portugal: Inés de Castro... 4 PLANOS NARRATIVOS ! L Historia de Portugal | Viagem de Vasco da Gama _Intervencaio dos deuses (plano encaixado) i (plano fulcral) (plano paraleto) TT | A narragio de Os Lusfadas organiza-se em tr€s planos narratives articulados de forma a nao quebrar a unidade de acao. + O plano da Viagem’ de Vasco da Gama & india é o plano central, ¢ é com ele que os dois res- tantes se articulam. + © plano mitolégico da intervencdo dos deuses do Olimpe na Viagem acompanha sempre o seu desenvolvimento, sendo esta intervengao narrada em alternancia com a narrativa da Viagem, + © plano da Histéria de Portugal surge encaixado no plano central. Durante a Viagem, os nave- gadores séo acolhidos em Melinde e Vasco da Gama, satisfazendo 0 pedido do rei daquela cidade africana, conta-Ihe a Histéria de Portugal. Jé na India,a Armada portuguesa recebe a visita do Catual e, perante a sua curiosidade, Paulo da Gama conta-lhe factos da Historia representados nas bandeiras. Finalmente, acontecimentos historicos posteriores 4 Viagem de Vasco da Gama so narrados por uma ninfa e por Tétis, na Ilha dos Amores. Plano das reflexées do poeta Para além dos trés planos narratives, hé ainda o plano das reflexdes do poeta, maioritariamente situadas nos finais dos cantos, e que constituem criticas, lamentacées, desabafos, exortacées aos portugueses.

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