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Tom M. Apostol CALCULO VOLUME | Calculo com fungoes de uma varidvel, com uma introducao a@ Algebra Linear EDITORA REVERTE LTDA. Rio de Janeiro Barcelona-Bogota-Buenos Aires-Caracas- México Titulo da obra original: Calculus, one-variable calculus, with an introduction to linear algebra Second edition Volum Edicéo original em lingua inglesa publicada por: Blaisdell Publishing Company, Waltham, Massachusetts Copyright © by Blaisdell Publishing Company Tradugéo de: Doutor Anténio Ribeiro Gomes Professor Catedratico da Faculdade de Ciéncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra Propiedad de EDITORIAL REVERTE, S. A. Encarnacién, 86-88 (08024) Barcelona Proibida a reproducao de toda ou parte desta obra, sob qualquer forma, sem autorizacdo por escrito do editor. Reservados todos os Edigéo em portugués reitos © EDITORIAL REVERTE, S. A., 1988 Impresso em Espanha ISBN - 84-291- 5014-5 obra completa ISBN - $4 -291- 015-3 tomo 1 Depésito Legal 8.37529/88 LITOCLUB S.A. - BARCELONA Indice analitico PREFACIO INTRODUCAO 1 Parte 1. Introdugao_histérica LLL.__Os dos conceitos hésicas do céilculo 1 11.2. _IntrodugSo histérica 3 11.3.__O método de exaustio para érea de um «segmento parabélico» 4 +114. Exercicios 9 11.5. _Anilisis critica do_método de Arquimedes 10 11.6. A introdugio ao célculo utilizada neste livro 12 Parte 2. Conceitos jundamentais da Teoria dos Conjuntos 12.1, _Introdugo a teoria dos conjuntos 13 12.2. NotagSes para representar conjuntos 14 12.3. Subconjuntos 14 124. Reunides, intersecgdes, complementos, 16 [25 Exercici g Parte 3. Um conjunto de axiomas para o Sistema de Nuimeros Reais 13.1. _Introdugio __20 13.2. Axiomas do corpo _21 *13.3.—_Exercicios 23 13.4. Axiomas de ordem 23 #13.5._Exercicios 25 136. Nii « soma Ix x Indice analitico 13.7, Interpretago geométrica dos niimeros reais como pontos de uma reta___26 13.8. Limite superior dum conjunto, elemento maximo, extremo superior (supremo) 27 13.9. © axioma do extremo superior (axioma de completitude) 29 13.10, A_propriedade arquimediana do sistema dos mimeros reais 30 13.11, Propriedades fundamentais do supremo é do infimo 31 113.12. Exercicios 33 *13.13. Existéncia de raizes quadradas para os nimeros reais no negativos 34 *13.14. Raizes de ordem superior. Poténcias racionais 35 +15.15. Representagao dos ntimeros reais por meio de decimais 36 Parte 4. _Inducéo matemdtica, simbolo somatério e questées afins 14.1. Um exemplo de demonstragdes por indugdo matemética 39 14.2. O principio da indugdo matemética 40 +143. © principio de boa ordem 41 144, Exercicios 42 14.5. Demonstragdo do principio de boa ordem 44 14.6. © simbolo somatério 45, 14.7. Exercicios 14.8. Valores absolutos ¢ desigualdade triangular 49 eet 414.10. Exercicios varios referentes 20 método de indugdo 53 1, OS CONCEITOS DO CALCULO INTEGRAL 59 11. As ideias fundamentais da geometria cartesiana 59 1.2. Fungdes. Idéias gerais e exemplos 61 +13. Fungées. Definigéo formal como um conjunto de pares ordenados 65 14, Mais exemplos de fungoes reais 66 L5.__Exercicios _68 16. O conccito de area como uma fungao de conjunto 70 17. Exercicios = 73 18. Intervalos e conjuntos de ordenadas 74 1.9. Particdes e fungdes em escada 75 1.10, Soma ¢ produto de fungdes em escada__77 ee 1.12. A definigdo integral para fungdes em escada 79 1.13. Propriedades do integral duma fungao em escada 80 1.14, Outras notagdes para os integrais 85 Ee 1.16. © integral de funges mais gerais 88 L.17,_Integrais superior ¢ inferior 90 1.18. A rea de um conjunto de ordenadas expressa por um integral 91 1.19, Observagdes relativas a teoria e técnica de integragio 92 1.20, Fungdes mondtonas ¢ mondtonas por partes. Definigdes € exemplos 93 1.21. Integrabilidade de fungdes mondtonas limitadas 94 1.22. Cileulo do integral de uma fungio monétona limitada 96 Indice analitico XL 1.23.__Célculo do integral dx quando p é um inteiro positivo 97 1.24. Propriedades fundamentais do integral 97 Int de polinomios 99 1.26. _Exercicios 100 1.27. Demonstragao das propiedades fundamentais do integral 101 2._ALGUMAS APLICACOES DA TEORIA DA INTEGRACAO _ 107 2.1, Introdugio _107 2.2. _A Grea de uma regido compreendida entre dois ficos representada por um integral 107 2.3. ___ Exemplos resolvidos 109 24. Exercicios 115 2.5. As fungdes trigonométricas 114 2.6. Férmulas de integracao para o seno e o cosseno__117 2.7. Descrig&o geométrica das fungdes seno e cosseno 122 28. Exercicios 126 2.9. Coordenadas polares 128 2.10. © integral para drea em coordenadas polares 131 2.11. Exercicios _133 2.12. Aplicagaio da integragio ao cfilculo de volume 133 2.15.__Exercicios 136 2.14. Aplicacio da integraco ao conceito de trabalho _137 215. _Exercicios 140 2.16. Valor médio de uma fungio 140 2.17.__Exercicios 142 2.18. _O integral como fungio do limite superior. Integrais indefinidos 144 2.19. _Exercicios _148 3._FUNCOES CONTINUAS _151 3 Ideia_intuiti a 3.2. Definigdo de limite de uma fungao _152 3.3. Definiggo de continuidade de uma funcao 156 3.4. Teoremas fundamentais sobre limites. Mais exemplos de fungSes continuas 157 3.5. Demonstracdes dos teoremas fundamentais sobre limites 161 6. Exercicios _164 3.7. FungSes compostas e continuidade 166 3.8.___Exercicios _168 3.9. Teorema de Bolzano para fungdes continuas 169 3.10. © teorema do valor intermédio para func6es continuas__171 LLL _Exercicios 172 3.12. __O processo de inversio 173 3.13. Propriedades de fungdes que se mantém por inversio 174 3.14. _Inversos de fungSes mondtonas «por intervalos» 176 Fas Execticl 7 XIL Indice analitico 3.16.__O teorema dos valores extremos para fungdes continuas 177 3.12.__Teorema da continuidade uniforme _180 3.19. Teoremas da média para integrais de fungbes continuas "182 3.20,_Exercicios 183 4._CALCULO DIFERENCIAL 185 4.1,___Introdugio histérica 185 4 Um problema relative & velocidade 186 4. A derivada de uma fungio 189 4 Exemplos de derivadas 1290 4.5. A Algebra das derivadas 193 46, Exercicios _197 4.7, ___Interpretagdo_geométrica da derivada como un declive 199 48. Outras notagées para as derivadas 201 4.9, _ Exercicios 204 4.10. _A regra para a derivacdo de fungdes compostas 205, 4.11. Aplicagdes da regra de derivagaio duma funcio_composta. Coeficientes de variacio ligados ¢ derivacao implicita 208 Evemici 4.13. Aplicagdes da derivacdo A determinacao dos extremos de fungdes 213 4.14. O teorema do valor médio para derivadas 216 4.15. Exercicios 219 4.16. Aplicagdes do teorema do valor médio a propriedades geométricas das fungdes 220 4.17. Critério da derivada de segundo ordem para a determinacao de extremos 221 418. Tracado de curvas 222 4.19. Exercicios 224 4.20. _ Exemplos resolvidos de problemas de extremos 225 4.21. Exercicios 227 *4.22. Derivadas parciais 230 3s Exareicion © 235 5. RELACAO ENTRE INTEGRACAO E DERIVAGAO 237 5.1. __A derivada de um integral indefinido. O primeiro teorema fundamental do célculo 237 5.2.__Teorema de derivada nula 240 5.3. Fungées primitivas ¢ o segundo teorema fundamental do célculo 240 5.4. Propriedades de uma fungio estabelecidas a partir de propriedades da sua derivada 243 3.5.___Exercicios _243 5.6.___A notacdio de Leibniz para as primitivas 246 5.7. Integracio por substituigéo 248 5.8.__Exereicios 253 Indice analitico XU 5.9. Integraciio por partes 254 E10. Exercicios 257 5. Exercicios de revisio variados 259 6. _FUNCAO LOGARITMO, FUNCAO EXPONENCIAL E FUNCOES TRIGONOMETRICAS INVERSAS 265 6.1. Introdugao 265 6.2. Motivacao para a defini¢do do logaritmo natural como um integral 266 6.5. A definigao de logaritmo. Propriedades fundamentais 269 6.4. O griifico do logaritmo natural 270 6.5. Consequéncias da equacao funcional L(ab) = L(a) + (b) 270 6.6. Logaritmos referidos a qualquer basc positiva b= 1 271 67. Férmulas de derivagdo ¢ integragao contendo logaritmos 273 68. Derivacao logaritmica 275 69. Exercicios 276 6.10, Aproximacdo polinomial para o logaritmo 278 6.11 __Exercicios 282 6.12. _A fungio exponencial 285 6.13. Exponenciais expressas como poténcias de e 285 6.14. A definigéo de e* para x real qualquer 285 6.15. A definicéo de a* para a>Oe x real 286 6.16. Derivacio e integracio de férmulas contendo exponenciais 286 6.17._Exercicios 290 6.18. _Fungdes_hiperbélicas _292 6.19, _Exercicios _293 6.20. _Derivadas de funcSes inversas 294 6.21. Inversas das fungdes trigonométricas 295 6.22. _Exercicios _299 6.23. _Integraco por decomposigo en frages simples 301 6.24. Integrais que podem ser transformados em integrais de fungSes racionais 308 6.25.__Exercicios 310 7._APROXIMAGAO POLINOMIAL DE FUNCOES __317 7.1, _Introdugfo__317 7.2. Polinémios de Taylor gerados por uma fungéo 318 73. Célculo de polinémios de Taylor 321 14. _Exercicios _323 . 7.5. Formula de Taylor com resto 324 7.6. Estimativa do erro na formula de Taylor 326 7.7. Outras formas para o resto da formula de Taylor 329 18.___Exercicios 331 7.9. Outras observacdes acerca do erro na férmula de Taylor. A notagéo O 333 7.10. AplicacSes as formas indeterminadas 336 XIV __ Indice analitico i coe —oo, Extensio da regra de L’Hépital 345 715. Limites infini 77 7.16. __O comportamento de log x ¢ e* para grandes valores de x__349 1L12.___Exereicios _351 8. INTRODUCAO AS EQUACOES DIFERENCIAIS 355 8.1, Introdugéo 355 82. Terminologia e notagio _356 83. Equacdo diferencial de primeira ordem para a fungao exponencial 358 8.4. Equagées diferenciais lineais de primeira ordem 359 85.__Exercicios 362 86. Alguns problemas fisicos conduzindo a resolucdo de equacdes diferenciais lineais de primeira ordem 363 8.2.___Exercicios 370 88. Equacio diferencial linear de segunda ordem com_coeficientes constantes 375 8.9. Existéncia de solugdes da equagio y” + 5) Reducao da equagao geral ao caso particular 8.11. Teorema de unicidades para a equacdo y” + By 8.12. Solugdo completa da equagio y”+by=0 379 8.15. Solugdo completa da equagdo y” + ay’ + by=0 379 8.14.__Exercicios 381 8.15. Equagdo diferencial linear de segunda ordem nao homogénea com coeficientes constantes 382 8.16. Métodos especiais de determinagio de uma solugdo particular da equacdo nio homogénea y"+ay'+by=R 386 &.12.__Exercicios 387 8.18. Exemplos de problemas fisicos conduzindo a uma equacdo diferencial linear de segunda ordem com coeficientes constantes 388 8.19, _Exercicios 393 8.20. Observacdes referentes a equacdes diferenciais nao lineais 394 8.21. Curvas integrais e campos direcionais 396 8.22. Exercicios 400 8.25. Equacdes diferenciais de primeira ordem de variéveis separdveis 400 8.24. Exercicios 403 8.25. Equagdes homogéneas de primeira ordem 403 8.26, _Exercicios _407 8.27. Alguns problemas fisicos ¢ geométricos conduzindo no estabelecimento de equagies diferenciais de primeira ordem 407 8.28, Exercicios de revisdo variados 412 9. NUMEROS COMPLEXOS 415 9.1. Introducio histérica 415 9.2. Definigdes e propriedades _ 415 Indice analitico XV 9.3. Os ntimeros complexos como uma extensfo dos nimeros reais 417 9.4. A_unidade imagindria i418 95. Interpretagio geométrica. Médulo e argumento 419 96. Exercicios 422 9.7. Exponenciais complexas 423 98. Fungoes complexas 426 9.9. Exemplos de férmulas de derivagio e integragio 427 9.10. Exercicios 429 10._SUCESSOES, SERIES, INTEGRAIS IMPROPRIOS. 10.1. © paradoxo de Zeno 433 10.2. Sucessdes 437 10.3. Sucessées monétonas de niimeros reais 441 10.4, _Exercicios _442 A ide_da linearidade das séries convergéntes 446 4 Séries telesc6picas 447 10.8. A série geométrica 449 10.9.__Exercicios _452 “ ; ; 10.11. Critérios de convergéncia 456 10.12. Critérios de comparagio para séries de termos no negativos 457 10.13. critério de comparagao com um integral 460 10.14. Exercicios 461 + 10.15. Critérios da raiz e do cociente para séries de termos ndo negativos 463 10.16. Exercicios 465 10.17__Séries _alternadas 467 10.18. Convergéncia simples ¢ absoluta 471 teri encii 472 10.25. Integrais impréprios 48: 10.24. Exercicios 488 11. SEQUENCIAS E SERIES DE FUNCOES __491 11.1. _Convergéncia pontual de sucessdes de fungdes 491 11.2. Convergéncia uniforme de uma sucessio de fungdes 491 113. Convergéncia uniforme e continuidade 494 11.4. Convergéncia uniforme e integragio 495 11.5, Uma condic&o suficiente para a convergéncia uniforme 496 11.6. Séries de poténcias. Circulo de convergéncia 498 11.7. Exercicios 500 11.8, Propriedades das fungdes representadas por séries reais de poténcias 502 119. A série de Taylor gerada por uma fungéo 505 XVI indice analitico 10.10. Uma condigio suficiente de convergéncia da série de Taylor 506 11.11. Desenvolvimento em série de poténcias das fungdes exponencial e trigonométricas 507 11.12. Teorema de Bernstein 508 y porema oe 11.14. Séries de poténcias e equagées diferenciais 511 11.15. A série binomial 514 1L16._Exercicios _515 12, ALGEBRA VETORIAL 519 12.1. _Introdugao histérica 519 12.2. _O espago vetorial dos sistemas de IV nGmeros reais 520 12.3.__Interpretag&o_geométrica n= 3 522 Exercicios 525 Produto escalar 526 .6. Norma ou comprimento de um vetor 528 12.7. _Ortogonalidade de vetores 530 12.8.__Exercicios _531 12.9. Projecgdes. Angulo de dois vetores_num espago a N dimensées 533 12.10. Vetores coordenados unitérios 534 12.11. Exercicios 536 12.12, © subespago de um conjunto finito de vetores 539 12.15. _Independéncia linear _540 12.14. Bases 543, 12.15. Exercicios _545 12.16. © espaco vetorial V, dos nsistemas de nimeros complexos 546 12.17. Exercicios 548 13, _APLICACOES DA ALGEBRA VETORIAL A GEOMETRIA ANALITICA 551 13.1, _Introdugio _551 13.2, _Retas num espago n dimensional 552 13.3. Algumas propriedades simples da reta 553 15.4. Retas em fungdes vetoriais 555 13.5. Exercicios 557 13.6. Plano no espago euclidiano n dimensional 558 13.7. Planos en fungdes vetoriais 562 TR Exercicios 563 50D, ‘al _56 13.10. O produto yetorial expresso_na forma de determinante 566 13.11. Exercicios 568 13.12, O produto misto ou triplo escalar 570 13.13, _Regra de Cramer para a resolugdo de um sistema de tres equagées lineais 572 13.14. Exercicios 573 Indice analitico XVII 13.15. Vetores normais a planos 575 13.16. [quagées lineares cartesianas definindo planos 577 13.18._As seccdes cOnicas 580 13.19. _Excentricidade das secgdes cénicas 583 15.20. Equagdes polares das conicas 584 13.21. Exercicios 586 13.22, C6nicas simétricas relativamente a origem 587 13.23. Equagdes cartesianas das cénicas 588 15.24. _Exercicios 591 13.25. Exersicios variados sobre cénicas 593 14. CALCULO COM FUNCOES VETORIAIS 597 14.1. _Fungées vetoriais de uma varidvel real__597 14.2. OperagGes algébricas. Componentes 597 143. Limites, derivadas e integrais 598 144 Exercicios 601 145. Aplicagdes as curvas. Tangéncia 603 14.6. Aplicagdes ao movimento curvilineo. Vetor velocidade, grandeza do vetor, velocidade e vetor aceleracio 606 14.2.__Exercicios 610 14.8. A tangente unitéria, a norma principal, o plano osculador ‘auma_curva 612 149. Exercicios 615 14.10. Comprimento de um arco de curva 616 14.11. Aditividade do comprimento do arco 619 14.12. A fungao comprimento de arco 620 14.13. Exereicios 623 14.14. Curvatura de uma curva 625 14.15._Exercicios _627 14.16. Os vetores velocidade e aceleragio em coordenadas polares 628 14.17. Movimento plano como aceleragio radial 631 14.18. Coordenadas cilindricas 631 14.19. Exercicios 632 14.20. Aplicagdes ao movimento dos planetas 634 14.21. Exercicios de revisio 638 15. ESPAGOS LINEAIS 641 15.1. _Introdugdo _641 15.2. Definigao de espaco linear _ 641 15.3. Exemplos de espacos lineais 643 15.4. Conseqiiéncias elementares dos axiomas 644 15.5.__Exercicios _645 15.6. Subespagos de um espaco linear _ 647 15.7. Conjuntos dependentes e independentes num espaco linear 648 XVIIL Indice analitico Bases e dimensio 650 Exercicios 651 15.10, Produto interno, espagos euclidianos, Normas 652 15.11, Ortogonalidade num espago euclidiano 656 15.12. Exercicios 658 15.13. Construgdo de conjunto ortogonais. O método de Gram-Schmidt 661 15.14. Complementos ortogonais. Projeccdes 665 15.15. A melhor aproximagao de elementos de um espaco euclidiano por elemento de um subespago de dimenséo finita 668 15.16. Exercicios 669 16. _TRANSFORMACOES LINEAIS E MATRIZES 671 16. Transformagdes lineais 671 16.2. Espaco nulo e contradominio 673 16.3.—_Nulidade ¢ ordem 674 Exercicios 675 Operagées aigébricas relativas a transformagées lineais 677 16.7. Transformagdes lineares biunivocas 682 Exercicios 684 16.10. Representacio matricial das transformagdes lineais 686 16.11. Construgdo de uma representacao matricial na forma diagonal 690 6.12. Exercicios 692 16.13. Espagos lineares de matrizes 694 16.14. Isomorfismo entre transformagées lineais ¢ matrizes 695 16.15. Multiplicagéo de matrizes 697 16.16. Exercicios 700 16.17. Sistemas de equacées lineais 702 16.18. Técnicas de célculo 705 16.19. Inversos de matrizes quadradas 709 16.20. _Exercicios 711 Oo Eancivioe vari oes 72 SOLUCOES DOS EXERCICIOS __715 Introdugdo 215 1 216 2 uz 3 220 4 21 5 126 Capitulo 6 728 Capitulo 7 733 pitulo 8 735 Capitulo 2 239 Indice analitico XIX Capitulo 10 Capitulo 11 Capitulo 12 Capitulo 13 Capitulo 14 Capitulo 15 Capitulo 16 INDICE ALFABETICO 761 ERBBERE INTRODUGAO Parte I — Introdugao histérica 1 1.1 Qs dois conceitos basicos do calculo O notavel progresso conhecido pela ciéncia e tecnologia, durante o ultimo século, foi devido em grande parte ao desenvolvimento da Matematica. O ramo da Matematica conhe- cido por Calculo integral e diferencial é um instrumento natural e poderoso para atacar uma variedade de problemas que aparecem na Fisica, Astronomia, Engenharia, Quimica, Geolo- gia, Biologia e noutros campos, incluindo mais recentemente alguns das Ciencias Sociais. Para dar a o leitor uma ideia dos muito diversos tipos de problemas que podem ser trata- dos pelos métodos do Calculo, expde-se a seguir uma pequena amostra de questées seleciona- das dos exercicios que aparecem em capitulos posteriores deste livro. Com que velocidade deve ser langado um foguetao, para que nao volte a tombar na Terra? Qual ¢ 0 raio do menor disco circular que cobre todo 0 triangulo isdsceles de perimetro L? Qual é 0 volume do material extraido de uma esfera de raio 2r, se for atravessada por um orificio cilindrico, de raio r, € cujo eixo passa pelo centro da esfera? Se uma cultura de bacté- rias cresce proporcionalmente 2 quantidade que existe em cada instante, e se a populagdo duplica ao fim de uma hora, quanto tera aumentado ao fim de duas horas? Se uma forca de dez quilos faz esticar de um metro uma corda eléstica, qual o trebalho necessério para esticar a corda de quatro metros? Estes exemplos, escolhidos em varios dominios, ilustram algumas das questées técnicas que podem ser resolvidas por aplicagdes mais ou menos rotinadas do Calculo. © Calculo é mais do que um instrumento técnico — é uma compilagiio de ideias atraentes e excitantes, que interessaram o pensamento humano durante séculos. Estas ideias estao rela- cionadas com velocidade, drea, volume, taxa de crescimento, continuidade, tangente a uma curva € com outros conceitos dizendo respeito a uma variedade de dominios. O Calculo obriga-nos a nao ir além, antes de pensarmos cuidadosamente acerca do significado destes conceitos. Outro aspecto notavel do Calculo é o seu poder de sintese. Muitos destes conceitos podem ser formulados de maneira que se reduzam a dois outros problemas, mais especializa- 1 2 Calculo dos, de natureza puramente geométrica. Passamos em seguida a uma breve descri¢ao destes problemas. ‘Consideremos uma curva C situada acima duma reta horizontal (base), como se indica na fig. 1.1. Suponhamos que esta curva goza da propriedade de ser intersetada por cada verti- cal, no maximo, uma vez. A parte sombreada da figura é formada pelos pontos situados abaixo da curva C, acima da horizontal, e entre dois segmentos verticais paralelos que unem C com a horizontal. O primeiro problema fundamental do Calculo é o seguinte: Determinar um mimero que dé a medida da drea da parte sombreada da figura. Consideremos em seguida uma reta tangente 4 curva C, como se mostra na fig. I.1. O segundo problema fundamental pode enunciar-se do modo seguinte. Determinar um nimero que dé o declive desta reta. Linha tangente a C Fig. L1 Fundamentalmente 0 Calculo ocupa-se da formulagio exata ¢ da resolugio destes dois problemas particulares. Permite-nos definir os conceitos de area e tangente, ¢ calcular a area de uma dada regio, ou o dective de tangente a uma curva dada. O Célculo Integral ocupa- se do problema da area e sera discutido neste primeiro capitulo. O Céleulo Diferencial ‘ocupa-se do problema da tangente ser analisado no Capitulo 4. estudo do Calculo requer uma certa preparaciio matematica. O presente capitulo trata desses conceitos basicos e esta dividido em quatro partes: a primeira parte di uma perspec- tiva historica; a segunda refere a notacao e terminologia da teoria dos conjuntos; a terceira trata do sistema dos niimeros reais; e finalmente a quarta parte trata da induciio matematica € da notagao somatéria. Se o leitor esta familiarizado com estes temas pode abordar directa- mente o desenvolvimento do Calculo integral, no capitulo 1. Caso contrario devera familiarizar-se com as matérias contidas nesta introdugao, antes de iniciar 0 estudo do Capi- tulo. Introdugéo 3 11.2 Introdugao histérica A origem do Calculo integral remonta a mais de 2000 anos, quando os gregos tentavam resolver o problema da determinagao de areas por um processo que designaram de método de exausido. As ideias fundamentais deste método sao elementares e podem descrever-se, suma- riamente, do modo seguinte: dada uma regiao cuja area pretende determinar-se, inscrevemos nela uma regido poligonal que se aproxime da regiao dada e cuja area seja de caleulo facil. Em seguida, escolhemos outra regio poligonal que dé uma melhor aproximagao ¢ continua- mos 0 processo tomando linhas poligonais com cada vez maior niimero de lados, de modo a cobrir a regido dada. O método esta ilustrado na fig. I.2 para o caso duma regio semicircu- lar. Este método foi usado com éxito por Arquimedes (287-212 a. C.), para estabelecer for- mulas exactas das areas do circulo e de algumas outras figuras particulares. Depois de Arquimedes, o desenvolvimento do método de exaustdo teve que esperar quase 18 séculos até que 0 uso de simbolos e técnicas algébricas se tornaram parte usual da mate- matica. A Algebra elementar, que hoje é familiar 4 maioria dos alunos dos ultimos anos do ensino secundario, era completamente desconhecida no tempo de Arquimedes, fato que tor- nava impossivel estender 0 método a qualquer classe de regides, sem se conhecer um modo adequado de expressar os extensos calculos numa forma compacta ¢ simplificada. Fig. 1.2 O método de exaustao aplicado a uma regido semicircular. Uma mudanga lenta, mas revolucionaria, no desenvolvimento das notagdes matematicas teve inicio no século xvi. O complicado sistema de numeragio romana foi gradualmente substituido pelos cardteres ardbicos utilizados ainda hoje, os sinais + e — foram introduzi- dos pela primeira vez e comegaram a reconhecer-se as vantagens da notagdo decimal. Durante este mesmo periodo, os brilhantes resultados dos matematicos italianos Tartaglia, Cardano ¢ Ferrari na determinagao de solugdes algébricas para as equagées ciibica ¢ do quarto grau estimularam 0 desenvolvimento da Matematica ¢ encorajaram a aceitago da nova € superior linguagem algébrica. Com a larga introdugao dos bem escolhidos simbolos algébricos ressuscitou 0 interesse pelo antigo método de exaustio, e grande mimero de resul- tados parciais foram descobertos no século xvi por pioneiros tais como Cavalieri, Toricelli, Roberval, Fermat, Pascal e Wallis. Gradualmente, 0 método de exaustio foi transformado no que hoje se designa por Caleulo Integral, nova e poderosa disciplina com uma grande variedade de aplicagdes nao s6 em pro- blemas geométricos respeitantes a areas ¢ volumes, mas também em problemas de outras 4 Célculo ciéncias. Este ramo da Matematica, que conservou alguns dos aspetos originais do método de exaustdo, recebeu 0 seu maior impulso no século xvii, devido principalmente aos esforgos de Isaac Newton (1642-1727) e Gottfried Leibniz (1646-1716) e o seu desenvolvimento conti- nuou até ao século xix, data em que matematicos como Augustin-Louis Cauchy (1789-1857) ¢ Bernhard Riemann (1826-1866) Ihe deram uma base matematica sdlida. Posteriores aper- feigoamentos e extensdes da teoria esto ainda a ser levados a cabo na Matematica contem- poranea. 11.3 O método de exaustio para a area de um “segmento parabolico” Antes de passarmos ao estudo sistematico do Caleulo integral, sera instrutivo aplicar o mé todo de exaustdo directamente a uma das figuras particulares estudadas pelo proprio Arq medes. A regio em questio esta representada na figura 1.3 e pode descrever-se do modo seguinte: se escolhermos um ponto arbitrario na base da figura e designarmos por x a sua dis- tancia a 0, a distancia vertical deste ponto a curva é x. Em particular, se o comprimento da base é 6 a altura da figura é 6, A distancia vertical de x a curva designa-se por “ordenada” de x. A curva assim descrita ¢ uma pardbola ¢ a regiao limitada pela curva e pelos dois seg- mentos de recta chamar-se-a segmento parabélico. Aproximagio por defeito. Aproximagio por excesso. Fig. 1.3 Segmento Fig. L4 parabélico Esta figura pode ser contida num retangulo de base b e altura b?, como se vé na fig. 1.3. Observando a figura é evidente a afirmacao de que a area do segmento parabélico é menor que metade da area do reténgulo. Arquimedes fez a descoberta surpreendente de que a Introdugéo 5 area do segmento parabdlico é exactamente um ‘ergo da irea do retingulo, isto é, A = representando A a area do segmento parabélico. Mostremos como se chega a este resultado. area do rectangulo = ~ Fig. LS Célculo da area dum segmento parabélico. Deve notar-se que o segmento parabilico desenhado na fig. 1.3 no & exactamente 0 que Arquimedes considerou, e que os pormenores dos calculos que se seguem no so exata- mente os utilizados por ele. Contudo as ideias essencias so as de Arquimedes; 0 que apre- sentamos aqui pode considerar-se o método de exaustio exposto com uma notagao moderna. © método consiste simplesmente no seguinte: divide-se a figura num certo niimero de ban- das e obtém-se duas aproximagdes da area da regido, uma por defeito e a outra por excesso, usando dois conjuntos de retingulos como se indica na fig. 1.4 (utilizam-se retngulos, em vez. de poligonos quaisquer, para simplificar os célculos). A area do segmento parabélico é maior que a area total dos retdngulos interiores, mas é menor que a dos retangulos exterio- res. Se cada banda se subdivide, para se obter uma nova aproximac&o com maior niimero de bandas, a area total dos reténgulos interiores aumenta, enquanto a area total dos retangu- los exteriores diminui, Arquimedes compreendeu que se podia obter a area com qualquer grau de aproximagao desejado, bastando para tanto tomar um numero suficiente de bandas. 0 clculo efetivo efectua-se como a seguir se indica. Com o objectivo de simplificar os calculos divide-se a base em n partes iguais, cada uma de comprimento b/n (ver fig. 1.5). Os pontos de divisio correspondem aos seguintes valores de x: 6 Calculo A expressio geral dum ponto de divisio é x = ae onde k toma os valores sucessivos k = 0, 1, 2, 3, «1. En cada ponto kb/n constroi-se 0 reténgulo exterior de altura (kb/n)’, como se indica na fig. 1.5. A area deste reténgulo é 0 produto da base pela altura e é igual a (VG Designando por S, a soma das areas de todos os retingulos exteriores, uma vez que a area do k-enésimo retangulo é(b%/n)X?, obtem-se » S,= GP + 24+ 340054 n°). ay 0 Do mesmo modo se obtém a expressio da soma S,, dos rectngulos interiores: 8 aFutgtaeeectan 1) n= 2 - 2) 1” A forma destas somas é de grande importincia no calculo. Note-se que o fator que mul- tiplica b*/n? na equacio (I.1) € a soma dos quadrados dos m primeiros inteiros positivos PH Bpe tat. [0 fator correspondente na equagio (I.2) ¢ andlogo, apenas a soma tem unicamente n-1 parcelas). O calculo desta soma por adigao directa das parcelas, para um grande valor de n, € fastidioso, porém existe uma identidade interessante que torna possivel calcula-la dum modo mais simples; a identidade é Pte ns (1.3) E valida para todo o inteiro m >1 e pode provar-se do modo seguinte: Considere-se a igual- dade (k+1) = kK + 3k? + 3k + 1 escrita na forma 3k° + 3k +1 =(k + 1-H Introdugéo 7 Fazendo k = 1, 2, ..., n — 1, obtém-se as n — 1 formulas 3-P43-1+1=2-1% 3-2 43-2415 3-28 Hn — I 30-1) t= ——1 Somando as igualdades, membro a membro, todos os termos do segundo membro se elimi- nam, excepto dois, resultando SP + 2+ erst (n— D+ 3l +24 --°+@—-—D) 4 @—-YDan-2. A expressiio do segundo paréntesis reto & a soma dos termos de uma progresso aritmé- tica, cujo valor é— n(n — 1). Por conseguinte a titima igualdade di-nos of PHBtec daar ae. 4) Somando n* a ambos os membros obtemos (1.3). As expresses exactas dadas nos segundos membros de (I.3) ¢ (1.4) nao saio necessarias ao ‘objectivo que se persegue. Tudo o que necessitamos é a dupla desigualdade 2 28+ Fons dst aee +nt (Ls) valida para todo o inteiro > 1. Esta dupla desigualdade pode ser deduzida facilmente de (1.3) e (1.4), ou direitamente por indugao (ver Secgdo I. 4.1). Multiplicando (1.5) por 6*/n? e considerando (1.1) € (1.2) obtém-se ” n< 3 <5, a6) para todo o n inteiro e positivo. A dupla desigualdade ([.6) exprime que, para todo o n inteiro € positivo, o niimero 5/3 esti compreendido entre s, e S,. Podemos agora provar que b'/3é © tinico nimero que goza desta propriedade, isto é, que se A é um niimero qualquer que veri- fica 8 Célculo $n 1. Existem, ent&o, unicamente trés possibilidades: Boat, at. 3 Se provarmos que as duas primeiras conduzem a contradigdes, entao necessariamente tera que ser A = 4 uma vez que, no estilo de Sherlock Holmes, se esgotam assim todas as possi- bilidades. Suponhamos que a desigualdade A > b'/3 era verdadeira. Da segunda desigualdade em (1.10) obtém-se Anz <2 (i) Introdugéo 9 para todo o inteiro n >1. Uma vez que A — b*/3 positivo, podemos dividir ambos os mem- bros de (1.11) por A — 6°/3 © multiplicar em seguida por m para obter a desigualdade para todo o n ja referido. Mas esta desigualdade ¢ evidentemente falsa para n 2b'/(4-b'/3). Portanto a desigualdade A > 5/3 conduz a uma contradigao. De maneira analoga se pode provar que A < = conduz igualmente a uma contradigio e por conseguinte devera ser A =b*/3, como ja se afirmara. "11.4 Exercicios 1. (@) Modificar a regio indicada na fig. 1.3 supondo que a ordenada, para cada valor de x, € 2x? em vez de x?, Desenhar a nova figura. Repetir para este caso os passos principais da anterior seco e determinar oefeito desta modificagao no calculo da area. Fazer o mesmo sea ordenada, para cada x, €(b) 3x, (6) 4-2, (d) 2x? + L4(e)ax? +6. 2. Modificar a regido na fig. 1.3, supondo que a ordenada, para cada x, é x' em vez de x. Desenhar a nova figura. (a) Usar uma construgio andloga a indicada na fig. 1.5 e mostrar que as somas exterior e interior S,,¢ 5, sio dadas por Sheet, sp SOE be tO. a ) (b) Usar a dupla desigualdade (que pode ser demonstrada por indugao; ver Sec¢ao 14.2). nt PHBH FIP

1 e todo 0 inteiro k > 1. Suposta (1.13) verdadeira, generali- zar os resultados do Exercicio 2. 11.5 Anilise critica do método de Arquimedes Mediante calculos anilogos aos feitos na Secgao I 1.3, Arquimedes concluiu que a area do segmento parabilico considerado é 63/3. Este facto foi aceite como um teorema matematico, até que, passados cerca de 2000 anos, se pensou que deviam ser analisados os resultados dum ponto de vista mais critico. Para compreender as razGes porque houve quem puzesse em davida a validade da conclusio de Arquimedes, é necessario conhecer algo acerca das impor- tantes mudangas que tiveram lugar na historia recente da Matematica. Cada ramo do conhecimento é um conjunto de ideias descritas por intermédio de palavras € simbolos, ¢ ndo se podem compreender estas ideias sem um conhecimento exacto do signifi- cado das palavras € dos simbolos utilizados. Alguns ramos do conhecimento, conhecidos por sistemas dedutivos, sao diferentes de outros pelo facto de que um certo niimero de conceitos “nao definidos” sao escolhidos d priori e todos os restantes conceitos no sistema sao defini- dos a partir daqueles. Certas afirmagdes acerca destes conceitos no definidos toman-se como axiomas ou pos- tulados ¢ outras relagdes que podem deduzir-se destes axiomas sio chamadas teoremas. O exemplo mais familiar de um sistema dedutivo é a Geometria euclidiana estudada por toda a pessoa culta desde a época da Grécia Antiga. O espirito da primitiva matematica grega, seguindo 0 método de postulados ¢ teoremas como na Geometria dos Elementos de Euclides, dominou 0 pensamento matematico até a época do Renascimento. Uma nova e vigorosa fase no desenvolvimento da Matematica comegou com a aparigao da Algebra no sec. xvi, € os 300 anos que se seguiram foram teste- munhas de grande quantidade de importantes descobertas. O raciocinio logico, preciso,do mé- todo dedutivo, com o uso de axiomas, definigdes e teoremas, esteve manifestamente ausente durante este periodo. Em vez disso, os pioneiros nos séculos xvi, XVII ¢ Xvi recorriam a uma mistura de raciocinio dedutivo combinado com intuigao, mera conjectura e misticismo, ¢ nao surpreendera que se tenha visto mais tarde que alguns dos seus resultados eram incorrectos. Contudo, um mimero surpreendentemente grande de importantes descobertas ocorreram neste periodo ¢ uma grande parte deste trabalho sobreviveu a prova da Histéria — um prémio destreza e engenho daqueles cientistas. Quando 0 caudal de novas descobertas comegou a diminuir, um novo e mais critic periodo apareceu. Pouco a pouco os matematicos viram-se forgados a voltar as ideias classi cas do método dedutivo, numa tentativa de colocar a nova Matematica numa base firme. Esta fase de desenvolvimento, que comega em principios do século xix ¢ continuou até o momento presente, alcangou um grau de abstrac¢ao € pureza logica que ultrapassou todas as tradigdes da ciéncia Grega. Simultaneamente proporcionou uma compreensao mais clara dos fundamentos, nao sé do Calculo, mas de todos os ramos da Matematica. Existem varias formas de estruturar 0 Caleulo como sistema dedutivo. Uma maneira possi- vel é tornar os niimeros reais como conceitos nao definidos. Algumas das regras que regem Introdugao 11 as operages com os nimeros reais podem entéo ser tomadas como axiomas. Um tal con- junto de axiomas esta indicado na Parte 3 desta Introdugao. Novos conceitos, como integral, limite, continuidade, derivada devem entao ser definidos em termos de niimeros reais. As pro- priedades destes conceitos sio, em seguida, deduzidas como teoremas a partir dos axiomas. Considerando o calculo como uma parte do sistema dedutivo, o resultado de Arquimedes para a area do segmento parabdlico nao pode ser aceite como um teorema se nao for dada antecipadamente uma definigao satisfatoria de area. Nao esta provado que Arquimedes tivesse formulado, alguma vez, uma definigao precisa do que entendia por area. Parece ter tornado como presuposto que cada regido possui uma area que Ihe esta associada. Com esta hipétese ocupou-se a calcular areas de regides particulares. Nos seus calculos utilizou certas propriedades da area que nao podem ser provadas enquanto nao se souber 0 que se entende por area. Por exemplo, supés que, sendo uma regio interior a outra, a rea da regiio menor nao pode exceder a area da maior. Do mesmo modo, se uma regiao é dividida em duas ou mais partes, a soma das areas das partes é igual a area de toda a regiao. Estas propriedades é desejavel que a area as possua, ¢, insistimos, qualquer defini¢ao de area deve implicar estas propriedades. E perfeitamente possivel que o proprio Arquimedes considerasse a area como um conceito nao definido e entao tivesse utilizado as propriedades que mencionamos como axiomas da area. Actualmente considera-se a obra de Arquimedes importante nao tanto pelo que nos auxilia no calculo de areas de figuras particulares, mas sim porque sugere uma via razoavel para definir 0 conceito de area para figuras mais ou menos arbitrérias. Acontece que o método de Arquimedes sugere uma maneira de definir um conceito muito mais geral que ¢ o de integral. integral, por sua vez, é usado para calcular no somente areas, mas também quantidades tais como comprimentos de arco, volumes, trabalhos ¢ outras. Antecipando-nos a posteriores desenvolvimentos, ¢ utilizando a terminologia do calculo integral, o resultado do calculo efectuado na Secgao 1.1.3 para o segmento parabélico é mui- tas vezes expresso como segue: “O integral de x? de O a b é b*/3” € escreve-se, simbolicamente, O simbolo f (um S alongado) é chamado sinal de integral e foi introduzido por Leibniz em 1675. © processo que determina o nimero b°/3 diz-se integragdo. Os nimeros O e b que afetam o sinal de integral designam-se por limites de integragdo. O simbolo -/x*dx deve ser considerado como um todo. A sua definigao devera apresentar-se tal como 0 dicionario des- creve a palavra “conferir” sem fazer referencia a “con” e “ferir”. simbolo de Leibniz para o integral foi prontamente aceite por muito entendiam como uma espécie de “processo de somagao” que Ihes permi itematicos, que o ja somar infinitas 12 Célculo “quantidades infinitamente pequenas”. Por exemplo, no caso do segmento parabilico coneebia-se a rea como uma soma de uma infinidade de retngulos infinitamente pequenos, de altura x? e base dx. O sinal de integral representava o processo de adigao das areas de todos esses retingulos. Este tipo de raciocinio é sugestivo e frequentemente itil, mas no é facil atribuir um significado preciso de conceitos de “quantidade infinitamente pequena”. Hoje em dia o integral é definido em termos da nogao de nimero real, sem recorrer a concei- tos como “infinitesimais”. Esta definigdo sera dada no Capitulo I. 11.6 A introdugio ao calculo utilizada neste livro Uma exposigao rigorosa e completa, quer do Calculo integral, quer do Calculo diferencial, depende em iltima analise de um estudo cuidadoso do sistema dos nimeros reais. Este estudo, quando levado a cabo na sua totalidade, é um tema interessante, mas algo extenso de modo a exigir um pequeno volume para a sua exposi¢ao completa. O método utilizado neste livro consiste em introduzir os niimeros reais como conceitos ndo definidos (elementos primi- tivos) € tomar simplesmente algumas das suas propriedades fundamentais como axiomas. Estes axiomas, e alguns dos teoremas mais simples que podem deduzir-se a partir deles, so discutidos na Parte 3 deste Capitulo. Muitas das propriedades dos nimeros reais aqui toma- das como axiomas sao, concerteza, familiares ao leitor pelo seu estudo da Algebra elementar. Porém existem algumas propriedades dos niimeros reais que habitualmente nao sao conside- radas na algebra elementar, mas que desempenham um papel importante no Calculo. Estas propriedades sio consequéncia do chamado axioma do extremo superior (conhecido igual- mente por axioma da continuidade) que se estudara aqui com algum pormenor. O leitor poder, se o deseja, estudar a Parte 3 na sequéncia do texto, ou entio deixar esta matéria para mais tarde, quando entrar no estudo daquelas partes da teoria que utilizam propriedades do axioma do extremo superior. As matérias dependentes do axioma do extremo superior estardo claramente assinaladas. Para desenvolver 0 Calculo como uma teoria matematica completa seria necessario expor, em complemento dos axiomas do sistema de niimeros reais, os varios “métodos de demons- tragdo” que permitirdo deduzir os teoremas a partir dos axiomas. Cada afirmagao, na teoria, teria que ser justificada quer como “uma lei estabelecida” (isto é, um axioma, uma definicao, ou um teorema previamente demonstrado), ou como o resultado da aplicagao de um dos me- todos de demonstragio considerados a uma lei estabelecida. Um programa desta natureza resultaria extremamente longo e enfadonho e néo compensaria na ajuda a compreensio do assunto por um principiante. Felizmente nao é necessario proceder desta maneira para chegar a uma boa compreensao € utilizago do Calculo. Neste livro 0 assunto ¢ introduzido duma maneira informal, fazendo-se um amplo uso da intuigao geométrica sempre que isso é consi- derado conveniente. Simultaneamente procura-se que a exposigao das matérias goze da preci- so e clareza de pensamento proprias da ciéncia moderna. Todos os teoremas importantes esto explicitamente expostos e rigorosamente demonstrados. Para evitar interromper a sucessio de ideias, algumas das demonstragdes aparecem em segdes separadas assinaladas com um asterisco. Pela mesma razio, alguns capitulos sio Introdugéo 13 acompanhados de secgdes suplementares, nos quais se tratam, com pormenor, alguns temas importantes relacionados com 0 Calculo. Alguns deles estéo também assinalados com um asterisco para indicar que podem ser omitidos, ou deixados para mais tarde, sem que assim se interrompa a continuidade da exposigao. A medida em que se devem tomar em consideragao as secgdes com asterisco depende, em parte, da preparagao do leitor e em parte do seu inte- resse. O leitor interessado fundamentalmente nas ideias basicas ¢ na pratica pode suprimir as secgdes com asterisco. Aquele que deseje um curso completo de Calculo, tanto teérico come pratico, devera ler algumas dessas segdes. Parte 2—Conceitos Fundamentais da Teoria dos Conjuntos 12.1 Introdugo a teoria dos conjuntos No estudo de qualquer ramo da Matematica, seja Analise, Algebra ou Geometria, € itil 0 uso da notagao ¢ terminologia da teoria dos conjuntos. Esta teoria, desenvolvida por Boole ¢ Cantor (+) no final do século xix, teve uma profunda influéncia no desenvolvimento da Matematica no século xx. Unificou muitas ideias aparentemente desconexas ¢ contribuiu para reduzir grande mimero de conceitos matematicos aos seus fundamentos logicos, dum modo elegante e sistematico. Um estudo completo da teoria dos conjuntos exigiria uma ampla discussio que consideramos fora do alcance deste livro. Felizmente as nogGes basicas sho em nimero reduzido e é possivel desenvolver um conhecimento pratico dos métodos e ideias da teoria dos conjuntos, através duma discussio informal. Na realidade nao vamos dis- cutir tanto a moderna teoria, como indicar de modo preciso a terminologia que desejamos aplicar a ideias mais ou menos familiares. Na Matematica a palavra “conjunto” é usada para representar uma colegao de objectos considerados como uma identidade tinica. As colegdes designadas por nomes como “rebanho", “tribu”, “multidio”, “equipe” ¢ “eleitorado” sio todas exemplos de con- juntos. Os objetos que constituem a colegdo chaman-se elementos ou membros do Conjunto, ¢ dizem-se que pertencem ou estdo contidos no conjunto. O conjunto, por sua vez, diz-se conter ou ser composto dos seus elementos. Ocupar-nos-emos, principalmente de conjuntos de entes matematicos: conjuntos de nime os, conjuntos de curvas, conjuntos de figuras geométricas, etc. Em muitas aplicagdes con- vém considerar conjuntos em que nenhuma hipétese se faz acerca da natureza dos seus ele- mentos. Tais conjuntos dizem-se abstratos. A teoria dos conjuntos abstratos foi desenvol- vida para tratar com tais colegdes de objectos arbitrarios e precisamente a essa gencralidade se fica a dever o grande alcance da teoria. (4+) George Boole (1815-1864) foi um logico-matemitico inglés. O seu livro “Investigagio das lis do pensamento”, publicado ‘em 1884, assinala a criagio do primeiro sistema praticive! de légica simbélica. George F. L. P, Cantor (1848-1918) ¢ a sua escola criaram a moderna Teoria dos Conjuntos no periodo 1874-1895. APOSTOL—2 14 Célculo 12.2 Notagdes para representar conjuntos X,Y, Zee 0s Os conjuntos designam-se, geralmente, pelas letras maiisculas: 4, B, C, elementos pelas letras minisculas: a, b, ¢, .. x, Ys Z Utilizamos a notagio. xeS para indicar que “x é um elemento de S” ou “x pertence a S”. Se x no pertence a S escreve- mos x ¢ S. Quando conveniente, designaremos os conjuntos especificando os seus elementos entre os simbolos | |; por exemplo, 0 conjunto dos inteiros positivos pares, inferiores a 10, representa-se por |2, 4, 6, 8], enquanto o conjunto de fodos os inteiros positivos pares se representa por |2, 4, 6, 8, ...|, sendo os trés pontos a representagao matematica de “e assim sucessivamente”. Os trés pontos usar-se-o apenas quando 0 significado de “e assim sucessi- vamente” for claro. Este método de representagdo dos conjuntos ¢ muitas vezes de- signado por representagiio em extensao. © primeiro conceito fundamental que relaciona um conjunto com outro é a igualdade de conjuntos: DEFINICAO DE IGUALDADE DE CONIJUNTOS: Dois conjuntos A e B dizem-se iguais (ou idén- ticos) se constam exactamente dos mesmos elementos e, nesse caso, escrevemos A = B. Se um dos conjuntos contém algum elemento que ndo pertence ao outro, dizemos que os dois conjun- tos sdo distintos e escrevemos A # B. ExempLo 1. De acordo com esta definigao, os dois conjuntos |2, 4, 6, 8| ¢ |2, 8, 6, 4] sao iguais, uma vez que ambos sio constituidos pelos quatro elementos 2, 4, 6 € 8. Entdo, usada a representacdo em extensdo para designar um conjunto, a ordem pela qual sio referidos os seus elementos ¢ irrelevante. EXEMPLo 2. Os conjuntos {2, 4, 6, 8] ¢ {2, 2, 4, 4, 6, 8] so iguais, apesar de no segundo os elementos 2 € 4 aparecerem repetidos. Ambos contém os quatro elementos 2, 4, 6, 8 ¢ apenas esses, pelo que a definigao impde que se considerem iguais esses conjuntos. Este exemplo poe em evidéncia que nao € necessario exigir que os elementos dum conjunto, na representagao em extensdo, sejam todos distintos. Um exemplo anélogo é 0 conjunto das letras da palavra Mississipi que é igual ao conjunto | M, i, s, p| formado pelas quatro letras distintas M, i, s, p. 12,3 Subconjuntos Dado um conjunto $ podemos formar novos conjuntos, chamados subconjuntos de S. Por exemplo, 0 conjunto dos inteiros positives menores que 10 e divisiveis por 4 (o conjunto (4, 8}) & um subconjunto do conjunto de todos os inteiros positives pares inferiores a 10. Em geral da-se a seguinte definicio. Introdugao 15 DEFINICAO DE SUBCONJUNTO. Um conjunto A diz-se um subconjunto dum conjunto B, € escreve-se ASB, quando todo o elemento de A pertence a B. Diz-se rambém que A esté contido em B ou que B contém A. O simbolo & utiliza-se para representar a relagdo de inclusdo de conjuntos. A afirmao A < B nao exclui a possibilidade de B < A. Com efeito, podemos ter ambas as relagdes A C Be BC A, mas isto acontece unicamente se A e B tém os mesmos elemen- tos. Por outras palavras, A=B see somentese ACBeEBCA, Este teorema é uma consequéncia imediata das definigGes anteriores de igualdade ¢ inclusao. Se A © B, mas A # B, entdo dizemos que A é um subconjunto proprio de B; expressamos isto escrevendo A < B. Em todas as nossas aplicagdes da teoria dos conjuntos, temos um conjunto S$ fixado “a priori” € s6 nos interessam subconjuntos daquele. O conjunto fundamental S pode variar de uma aplicagao para outra; sera considerado o conjunto universal de cada teoria particular. A notagao {xlxeS e xsatisfazaP} designara o conjunto de todos os elementos x de S que satisfazem a propriedade P. Quando conjunto universal, a que nos estamos a referir, se subentende, omitimos a referéncia a S e escrevemos simplesmente {x|x satisfaz a P}, que se 1é “o conjunto de todos os x tais que x satisfaz a P”. Os conjuntos designados deste modo so caracterizados por uma propriedade definidora. Por exemplo, 0 conjunto de todos os nimeros reais e positivos pode representar- -se por (x|x >0};0 conjunto universal $ neste caso subentende-se que € 0 conjunto dos numeros reais. Do mesmo modo, 0 conjunto de todos os nuimeros pares positivos (2, 4, 6, ...) pode representar-se (x|x inteiro par positivo}. Evidentemente, a letra x pode ser substituida por outro simbolo adequado. Assim, podemos escrever {x|x>0} = ty] y > 0} = {r] 1 > 0} ete. Pode acontecer que um conjunto nao contenha qualquer elemento. Designa-se, entiio, por conjunto vazio e representa-se pelo simbolo . Considera-se © subconjunto de qualquer con- junto. Se imaginarmos, por facilidade, um conjunto analogo a um recipiente (tal como uma bolsa ou uma caixa) que contém certos objectos, os seus elementos, entio 0 conjunto vazio ser anilogo a um recipiente vazio. 16 Calculo Para evitar dificultades logicas, devemos fazer distin¢do entre o elemento x e 0 conjunto {x} cujo dnico elemento é x. (Uma caixa com um chapéu dentro é conceitualmente distinta do proprio chapéu). Em particular 0 conjunto vazio @ nao é o mesmo que 0 conjunto {2}. Com efeito, o conjunto vazio @ nao contém elementos, enquanto que o conjunto |@) contém um elemento, @. (Uma caixa que contém uma caixa vazia nao esta vazia). Os conjuntos forma- dos de um s6 elemento dizem-se conjuntos de um elemento ou singulares. Muitas vezes recorre-se ao auxilio de diagramas para tornar intuitivas relagdes entre conjun tos. Por exemplo, podemos considerar 0 conjunto S uma regiao do plano ¢ cada um dos seus elementos um ponto. Os subconjuntos de S$ podem entio ser imaginados como colegdes de pontos interiores a S. Por exemplo, na fig. 1.6(b) a parte sombreada ¢ um subconjunto de A ¢ também um subconjunto de B. As ajudas graficas deste tipo, chamadas diagramas de Venn, sio titeis para comprovar a validade dé teoremas na teoria dos conjuntos ou para sugerir mé- todos de demonstragao dos mesmos. Naturalmente tais demonstragGes basciam-sc nas defi- nigdes e conceitos e a sua validade dependera de um raciocinio correcto e nao dos diagramas. 124 Reunides, intersegdes, complementos A partir de dois conjuntos dados A e B, podemos formar um novo conjunto chamado reu- niGo de A e B. Este novo conjunto representa-se pelo simbolo AUB (ler: “A reunido com B”), OOO (@) AUB (b) ANB @ANB=0 Fig. 1.6 Reunides e intersegdes € define-se como 0 conjunto dos elementos que pertencem a A ou a B ou a ambos. Quer isto dizer que A U B € 0 conjunto de todos os elementos que pertencem, pelo menos, a um dos conjuntos 4, B. Na fig. 1.6(a) a parte sombreada representa A U “B. Analogamente a intersecedo de A eB, representada por AQB (ler: “A intersecgdo com B”), € definida como 0 conjunto dos elementos comuns a A ea B. Na fig. 1.6(b) a parte sombreada Introdugéo 7 representa a intersecgdio de A e B. Na fig. 1.6(c) os conjuntos A e B nao tém qualquer ele- mento comum; neste caso a interseccao é 0 conjunto vazio @. Dois conjuntos A ¢ B dizem-se disjuntos se A B = 2. Dados os conjuntos A ¢ B, a diferenga A-B (também chamada complementar de B em relagdo a A) & definida pelo conjunto de todos os elementos de A que nao pertencem a B. Ento, por definigao A—B={x|xeAd c x¢B}. Na fig. 1.6(b) a parte no sombreada de A representa A — B; a parte naio sombreada de B representa B — A As operagées de reunifo ¢ interseegdo possuem varias analogias formais com a adigio multiplicagiio de nimeros reais. Por exemplo, uma vez que a ordem pela qual se consideram ‘0s conjuntos nao intervém nas definigdes de reuniao e interseccao, resulta que AUB = BUA eque A B=BOA, 0 que sig serem a reuniao ¢ intersecgao operagdes comutati- vas. As definigdes sitio dadas de tal modo que as operagdes so associativas: (AUB)UCH=AU(BUC) © (ANB)NC=AN(BNC). Estes © outros teoremas relativos a “algebra dos conjuntos” so apresentados como exerci- cios na Se¢ao I 2.5. Uma das melhores maneiras para o leitor se familiarizar com a termino- logia e notagdes aqui introduzidas é estabelecer as demonstragdes de cada uma destas pro- priedades. Uma amostra do tipo de argumentago que é necessaria aparece imediatamente apés os Exercicios. As operagdes de reuniio € intersec¢io podem estender-se a colegdes finitas ou infi- nitas de conjuntos do modo seguinte: Seja ¥ uma classe (+) nao vazia de conjuntos. A reunidio de todos os conjuntos de ¥ define-se como o conjunto de todos aqueles ele- mentos que pértencem pelo menos a um dos conjuntos de Fe representa-se pelo simbolo Ua. Ae Se F é uma colecgao finita de conjuntos, por exemplo F = {Ay Az.» Aq} escrevernos UA=U4,=4, UA, U's UA,. ae De modo anélogo, a intersecgao de todos os conjuntos de # define-se com 0 conjunto de (+) Para comodidade de linguagem chamamos classe a uma colecgio de conjuntos. Para representar as classes utilizamos letras maiisculas em cursivo, A terminologia e notagio usuais da toria dos conjuntos aplicam-se, naturalmente, as classes. Por exem: plo 4€ F significa que A & um dos conjuntos da classe F ¢ sf < @ significa que cada conjunto de sf pertenece a, ¢ assim sucessivamente. 18 Calculo todos aqueles elementos que pertencem a todos os conjuntos de F e representa-se por Na. er Para colecgées finitas (como acima) escrevemos MA=NA=4,04,9°'°04,. er As operagdes reuniao ¢ intersec¢ao definiram-se de modo tal que a propriedade associativa é verificada automaticamente. Daqui resulta que nao havera ambiguidade quando escreve- mos A, U Ay U** UA, ou A, AN OA,e 12.5 Exercicios 1. Utilizar a representagiio em extensfo para designar os seguintes conjuntos de nimeros reais A={x[at—1 =o}. D={x|8—-28 +x =2). Ba{x[@-D'=0}. B= {x/(@e +8? = 94}. C= {x[x +8 =9}. F = {x| (x? + 16x)? = 17}. 2. Para os conjuntos do Exercicio 1, observe-se que B © A. Indicar todas as relagdes de incluséo < que sao validas entre os conjuntos A, B, C, D, E, F. 3. Seja A = [1], B = [1, 2]. Discutir a validade das seguintes afirmagdes (provar que al gumas so verdadeiras e explicar porque sio as outras falsas). @AcB @lea. ASB = @1cdA (© AEB. Mick }. Resolver o Exercicio 3 se A = |1| e B = | {I}, 1). we Dado 0 conjunto S = {1, 2, 3, 4], expressar todos os subconjuntos de S. Existem 16 no total, incluindo 2 e S. 6. Dados os quatro conjuntos seguintes A={1,2}, B= {(}, 2}, C= {(1}, 1,23}, D = {{}, 2) (1,2), discutir a validade das afirmagées seguintes (provar que algumas sio verdadeiras e explicar porqué as outras ndo o sao) @A=B. @AEC (BED. Introdugéo 19 (WW)ACB. @) AcD. (h) Be D. OAcC BEC (i) AED. 7, Demonstrar as propriedades seguintes da igualdade de conjuntos: (a) {a, a} = {a}. (b) {a,b} = {b, a}. © {a} = {b,c} se esomente se a = b=. Demonstrar 0 conjunto de relagdes dos Exercicios 8 ao 19 (Exemplos dessas demons- tragdes so dados no final desta Seogio). 8. Propriedade comutativa AU B= BUA,AQB=BOA. 9. Propriedade associativa A UW (BU C)=(A VU BV) UO C,AN (BO O=(AN BNC. 10. Propriedade distributiva A. (B.C) = (A B) (ANC, AUBAO= = AU BN(AUC). N.AUA=A, ADA =A, 12. AG AUB, ANBCA. 13,AUQG =A, AND @ 14, A U(A NB) =A, AN(AUB) =A, 15. SeA © Ce BS CyentiodA UBC. 16. SeC CACCE B,entioC CAB. 17. (a) Sed c Be Bc G, prove qued c C. (b) Se A © Be BC C, prove qued ¢ C. (©) O que pode concluir-se se A < Be BCC? (d) Se xe AeA © B, verificar-se-anecessariamentex € B? (©) Se xe Ac € B,verificar-se-4 necessariamente quex € B? 18. A- (BOO) =(A-B)L(A~O). 19. Seja F uma classe de conjuntos. Entio B-UA=((B-A =UB-A). Area e Qn ye 20. (a) Provar que uma das duas formulas seguintes é sempre correcta € que a outra alguma vez é falsa @ A-(B-C)=(A- BUC, (i) A-(BUC) =(4-B)-C. (b) Estabelecer uma condigaéo necessaria e suficiente adicional para que a formula que algumas vezes & incorreta passe a ser sempre vilida. Demonstragéio da propriedade comutativa A B= BU A. Sejam X = A U Be Y=B U A. Para provar que X = ¥ demonstra-se que X © Ye Y © X. Suponhamos que x € X. Entio x pertence pelo menos a A ou a B. Logo x pertence pelo menos a B ou a A; logo x € Y. Deste modo todo o elemento de X pertence igualmente a Y o que implica X © Y. Analogamente encontramos que ¥ < X, logo X = Y. 20 Célculo Demonstragio de A 0 BEA. Se x EA OB, entio x pertence aA ea B. En particular, x EA. Portanto todo o elemento de A © B pertence a A e por conseguinte A 0 BS A. Parte 3—Um Conjunto de Axiomas para o Sistema dos Niumeros Reais 13.1 Introdugio Ha varias maneiras de introduzir o sistema dos mimeros reais. Um método corrente con- siste em comegar com os inteiros € positivos 1, 2, 3, .. € utilizé-los como base para construir um sistema mais amplo, possuindo as propriedades desejadas. Em resumo, a idéia deste mé- todo consiste em tomar os inteiros e positivos como conceitos nao definidos, estabelecer rela- tivamente a estes alguns axiomas ¢, em seguida, utilizé-los para construir o sistema mais amplo dos ndimeros racionais (cociente de inteiros positivos). Os niimeros racionais posit vos utilizam-se, por sua vez, como uma base para construir os nuimeros irracionais positivos (nimeros reais como V2 e x que nao sao racionais). A fase final consiste na introdugio dos nimeros reais negativos e do zero. A parte mais dificil de todo este processo é a transigao dos nimeros racionais para os mimeros irracionais. Embora a necessidade de introdugao dos nimeros irracionais fosse ja clara para os mate- maticos da Grécia antiga nos seus estudos de Geometria, métodos satisfatorios de construgao dos numeros irracionais, a partir dos nimeros racionais, so foram introduzidos muito mais tarde, no século xtx. Nesta época foram delineadas trés teorias respectivamente por Karl Weierstrass (1815-1897), Georg Cantor (1845-1918) e Richard Dedekind (1831-1916). Em 1889 0 matematico italiano Giuseppe Peano (1858-1932) apresentou cinco axiomas para os inteiros e positivos que podem ser utilizados como ponto de partida para a construcao total. Uma exposigao detalhada desta construgao, comecando com os axiomas de Peano e utili- zando 0 método de Dedekind para introduzir os nimeros irracionais, encontra-se no livro de E. Landau, Foundations of Analysis (New York, Chelsea Pub. Co., 1951). ponto de vista adotado aqui é nao construtivo. Iniciamos 0 proceso num ponto bas- tante avangado, considerando os nimeros reais como conceitos primitivos verificando um certo nimero de propriedades que se tomam como axiomas, isto é, supomos a existncia dum conjunto R de elementos, chamados niimeros reais, que verificam os dez axiomas que apre- sentamos nas segdes que se seguem. Todas as propriedades dos niimeros reais se podem deduzir desses axiomas. Quando os ntimeros reais se definem por um processo construtivo, as propriedades que aqui se apresentam como axiomas sao consideradas como teoremas a demonstrar. ‘A menos que se afirme 0 contrario, nos axiomas que apresentamos a seguir as letras a, b, ¢, any X,Y, Z Fepresentam niimeros reais arbitrarios. Os axiomas dividem-se, duma maneira natu- ral, em trés grupos que designamos por axiomas de corpo, axiomas de ordem ¢ axioma do extremo superior (também chamado axioma de continuidade ou axioma de completude). Introdugéo 21 13.2 Axiomas de corpo Juntamente com o conjunto R. dos nimeros reais, admitimos a existéncia de duas ope- rages chamadas adi¢do e multiplicagdo, tais que para cada par de ntimeros reais xe y pode- mos formar a soma de x e y, que & outro nimero real representado por x + y, € 0 produto de x ey representado por xy ou x . y. Supde-se que x + y € 0 produto xy sao univocamente determinados por x e y. Por outras palavras, dados x e y, existe um e um sé numero real x + y eum eum sd niimero real xy. Nao atribuimos significado especial aos simbolos +e além do contido nos axiomas. Axioma 1. PROPRIEDADE COMUTATIVA x + y = y + x, xy = yx AxioMA 2. PROPRIEDADE ASSOCIATIVA x + (y + 2) = (x+y) +2, x02) = (xyz AXIOMA 3. PROPRIEDADE DISTRIBUTIVA x(y) + z) = xy + xz AXIOMA 4, EXISTENCIA DE ELEMENTOS NEUTROS. Existem dois mimeros reais distintos, que se indicam por 0 ¢ 1, tais que para cada mimero real x se tem x +0 =xe 1+ x=x. AXIOMA 5. EXISTENCIA DE NEGATIVOS. Para cada mimero real x existe um mimero real y tal que x + y = 0. AxioMa 6. EXISTENCIA DE RECIPROCOS. Para cada mimero real x0, existe um mimero real y tal que xy = 1. Nota: os ntimeros 0 € | dos Axiomas 5 ¢ 6 siio os do Axioma 4. Dos axiomas anteriores podemos deduzir todas as regras usuais da algebra elementar. As mais importantes sio apresentadas a seguir como teoremas. Nestes teoremas os simbolos a, b,c, d representam nimeros reais arbitrarios. TEOREMA I.1 REGRA DE SIMPLIFICAGAO PARA A ADICAO. Sea + b = a + ¢, entdob (Em particular isto prova que 0 nimero 0 do axioma 4 é unico.) TEOREMA I.2 POSSIBILIDADE DA SUBTRACCAO. Dados a ¢ b existe um ¢ um so x tal que a+x=h. Este mimero x representa-se por b-a. Em prrticular, 0-a escreve-se simples- mente —a e chama-se o simétrico de a. TEOREMA 3. 6 — a = b + (-a). TeorEMA 1.4 —(—a) = a. 22 Calculo Teorema LS a(b — ¢) = ab — ac. TeoreMAL6 O-a=a-O=0. TrOREMA I.7 REGRA DE SIMPLIFICACAO PARA A MULTIPLICACAO. Se ab = ac ea # 0, entéo b = c. (Em particular, isto mostra que o mimero I do Axioma 4 é tinico). TeOREMA 18. POSSIBILIDADE DA DIVISAO. Dados a e b com a + 0, existe um e um sé b , x tal que ax = b. Este x representa-se por bla ou --~ e chamase o coeciente de b por a. Em particular /a, que também se escreve a”', chama-se o reciproco de a. TEOREMAL9. Se a # 0, entdo b/a = b- a TeoreMaA 1.10. Se a # 0, entdo (a™ TeOREMA L11. Se ab = 0, entdo ou a = 0 ou b = 0. TeOREMA 1.12. (—a) b = — (ab) e (~a) (—b) = ab. TeorEMA 1.13. (a/b) + (c/d) = (ad + be)/(bd) seb # Oe d + 0. TeoreMa 1.14, (a/b) (c/d) = (ac)/(bd) se b # Oe d + 0. Teorema 1.15. (a/b)/(c/d) = (ad)/(bc) seb # 0,0 # Oe d #0. Para ilustrar como estes teoremas podem ser obtidos como consequéncia dos axiomas apresentaremos as demonstragGes dos Teoremas I.1 até I.4. Sera instrutivo para o leitor ten- tar demonstrar os restantes. Demonstragdo de I.1. Dado a + = a + c. Pelo axioma 5 existe um niimero y tal que + a= 0, Porque a soma ¢ univocamente determinada, temos y + (a + 6) = y + (a+). Uti lizando a propriedade associativa obtemos (y + a) + b= (y + a) + c,ou0 + b= 0 +c, Mas pelo axioma 4 temos que 0 + b= be 0 + c=c, ou seja b = c. Repare-se que este teorema mostra que existe um s6 niimero real tendo a propriedade do 0 no axioma 4. Com efeito se 0 0 possuissem ambos essa propriedade, entao 0 + 0’ = Oe 0 + 0= Oe portanto0 + 0 =0 + 0 e, pela regra de simplificagao, 0 = 0’. Demonstragdo de 1.2. Dados a eb, escolhemos y de modo que a + y= Oe sejax=y+b. Entio a+ x=a + (y + b)=(a + y) + b=0 + b=b. Por conseguinte existe pelo menos um x, tal que a+x = b. Mass em virtude do teorema I.1 existe quando muito um tal x. Portanto existe um e um sé nessas condigdes. Introdugéo 23 Demonstragdo de 1.3. Sejam x = b-a © y= 6+(~a). Desejamos provar que Por definigio de b — a, x+a=be y+a=[b+(—a) +a=b+ [(-a) +a] =b +055. Consequentemente x + a = y + ae, pelo Teorema I.1, x = y. Demonstragio de 14. Temos a +(—a)=0 por definiglo de -a. Mas esta igualdade diznos que a € 0 simétrico de -a, isto é, a = + ~a) como se pretendia demonstrar. 413.3 Exercicios 1. Demonstrar 0s teoremas 1.5 até 1.15, utilizando os axiomas | a 6 € os teoremas I.1 a 1.4. Nos exercicios 2 a 10 demonstrar as proposigdes formuladas, ou estabelecer as igualdades dadas. Utilizar os axiomas 1 a 6 ¢ os teoremas I.1 a 1.15. 31 lL 4. Zero nao admite reciproco. 5. a+ b)=-a-b. 6. -(a—8)=-a +b, 1 8 9 0. |. (a—b) + (6-0) . Sea# 0b #0, entao (aby! =a"'bt. ). (a/b) = (—a/b) = a/(—b)seb + 0. . (a/b) — (c/d) = (ad — be)bd) se b+ Oe d + 0. 13.4 Axiomas de ordem Este grupo de axiomas diz respeito a um conceito pelo qual se estabelece uma ordenagtio entre os numeros reais. Esta ordenagio permitir-nos-a afirmar se um nimero real é maior ou menor que outro. Introduzem-se as propriedades de ordem com um conjunto de axiomas referentes a um novo conceito nao definido dito positividade, para depois definirmos os con- ceitos de maior que e menor que em termos de positividade. Admitiremos a existéncia dum certo subconjunto R* < R, chamado conjunto dos nime- ros positivos, que verifica os trés axiomas de ordem seguinte: AXIOMA 7. Se.x ey pertencem a Rt, o mesmo se verifica com x + ¥ € XY. Axtoma 8. Paracadarealx+0,oux€ R* ou—x€ R*,mas ndoambos. Axioma 9. 0 éR*. Podemos agora definir os simbolos <, >,< =, chamados respectivamente menor que, maior que, igual ou menor que ¢ igual ou maior que, da maneira seguinte: 24 Calculo x x significa que x < y; x S y significa que ou x< you x=y; y 2 xsignifica que x < y. Assim temos x > 0 se € 80 se x é positivo. Se x < 0,dizemos que x ¢ negativo; se x 20 dize- mos que x é ndo negativo. Um par de desigualdades simultaneas tais como x < y, y < z escreve-se frequentemente de forma mais abreviada x < y < z; interpretagdes semelhantes ‘sdo dadas as desigualdades compostas x< y < z,x 0 éac< be. TeoREMA 1.20. Se a # 0 é a? > 0. TeoreMa 1.21. / > 0. TeoreMa 1.22. Sea < bec < 0 éac > be. Teorema 1.23, Se a < b é —a > —b. Em particular, se a < 0, € —a > 0. TeoreMA 1.24. Se ab > 0, entdo a e b so ambos positivos, ou ambos negativos. Teorema 1.25. Sea 6, nem b >a. Se x # 0, 0 axioma 8 diz-nos que ‘ou x > 0 ou x < 0, mas nao ambos; € portanto ou a < b ou b < a, mas nao ambos. Em con- clusio verifica-se uma e sé uma das trés relagdes a = b, a < ba Oe c — b > O. Em virtude do axioma 7, podemos somar e escrever (b — a) + (c — b) > 0, donde resulta c — a > 0 e por- tanto a < ¢. Demonstragéo de I.18. Seja x =a + c,y =b +c. Entio y—x=b—a. Mas b—a>0, pois que b > a. Resulta pois y — x > 0, 0 que significa que x < y. Demonstragdo de 1.19. Se a < b, entao b — a > 0. Se c > 0, pelo axioma 7 podemos multi- plicar ¢ por (b — a) e obter (b — a) ¢ > 0. Mas (b — a) ¢ = be — ac e por isso be — ac > 00 que significa que ac < be, como se pretendia demonstrar. Demonstragao de 1.20. Se a > 0, entao a+ a > 0 pelo axioma 7. Se a < 0, entio —a > Oe daqui (—a).(—a) > 0 pelo mesmo axioma. Em ambos os casos tem-se a” > 0. Demonstragao de 1.21. Aplicar o teorema 1.20 com a = 1. "13.5 Exercicios 1, Demonstrar os teoremas 1.22 a 1.25, utilizando os teoremas anteriores ¢ os axiomas 1a Nos exercicios 2 a 10, demonstrar as proposig&es ou estabelecer as desigualdades dadas. Devem utilizar-se os axiomas 1 a 9 € os teoremas 1.1 a 1.25. 2. Nao existe nenhum numero real x tal que x? + 1 = 0. 3. A soma de dois mimeros negativos é um numero negativo. 4. Se a > 0, ento I/a > 0, se a < 0, entio I/a < 0. 5. Se0 0. 9. Nao existe nenhum mimero real a tal que x < @ para todo o real x. 10. Se x verifica 0 $ x < h para todo o numero real positive h, entdo x 1 3.6 Nimeros inteiros ¢ mimeros racionais Ha certos subconjuntos de R que se distinguem porque possuem propriedades especificas de que nao gozam todos os niimeros reais. Nesta secgo trataremos de dois destes subconjun- tos, 0 dos niimeros inteiros ¢ 0 dos mimeros racionais. Para introduzir os inteiros positivos comegamos com 0 nimero 1, cuja existéncia é garan- tida pelo axioma 4. © nimero I + 1 representa-se por 2, 0 mimero 2 + 1 por 3 assim suces- sivamente. Os niimeros 1, 2, 3, . .. obtidos deste modo pela adig&o repetida de 1 sio todos 26 Célculo positivos e chamam-se inteiros positivos. Em rigor, esta descrig&io dos numeros inteiros positi- vos nao é inteiramente completa, porque nao explicmos em pormenor qual o significado das expressdes “e assim sucessivamente”, ou “adigdo repetida de 1”. Embora 0 signifi- cado destas expressdes pareca evidente, num estudo rigoroso do sistema dos niimeros reais torna-se necessario dar uma definig’o mais precisa dos inteiros positivos. Ha varias maneiras de o fazer. Um método conveniente consiste em introduzir primeiro a nogao de confunto indutivo. DEFINIGAO DE UM CONJUNTO INDUTIVO. Um conjunto de mimeros reais diz-se um conjunto indutivo se possui as propriedades seguintes: (a) O mimero 1 pertence ao conjunto. (b) Para cada x pertencente ao conjunto, 0 mimero x + 1 também pertence ao conjunto. Por exemplo, R é um conjunto indutivo. Igualmente o é o conjunto R*. Podemos agora definir 08 inteiros positivos como aqueles mimeros reais que pertencem a todo o conjunto indutivo, DEFINIGAO DE INTEIROS PostTiVvos. Um niimero real diz-se inteiro positivo se pertence a todo 0 conjunto indutivo. Seja P 0 conjunto de todos os inteiros positivos. Entio P é um conjunto indutivo porque (a) contém 1, e(b) contém x + 1 sempre que contenha x. Uma vez que os elementos de P perten- cem a todo o conjunto indutivo, referimo-nos a P como 0 menor conjunto indutivo. Esta pro- priedade do conjunto P constitue a base légica de um tipo de raciocinio que os matematicos chamam demonstragdo por indugdo, que se expora, em pormenor, na Parte 4 desta Intro- dugao. Os simétricos dos inteiros positives chamam-se inteiros negativos. Os inteiros positivos conjuntamente com os inteiros negativos e o zero formam um conjunto Z designado muito simplesmente por conjunto dos nimeros inteiros. Num estudo completo do sistema dos niimeros reais seria necessirio, ao chegar a este ponto, demonstrar certos teoremas acerca dos inteiros. Por exemplo a soma, diferenga ou produto de dois inteiros é um inteiro, mas o cociente de dois inteiros nao é necessariamente inteiro. Nao entraremos, todavia, nos pormenores de tais demonstragdes. O cociente de inteiros a/b (com b + 0) define os niimeros racionais. O conjunto dos nime- 0s racionais, representado por Q, contém Z como subconjunto. O leitor poder comprovar que Q verifica todos os axiomas de corpo e de ordera. Por esta razio dizemos que o conjunto dos ntimeros racionais é um corpo ordenado. Os nimeros reais que nio pertencem a Q chamam-se irracionais. I 3.7 Interpretagdo geométrica dos mimeros reais como pontos de uma recta O leitor esta, com certeza,familiarizado com a representagio geométrica dos nimeros reais por meio de pontos de uma reta. Escolhe-se um ponto para representar 0 0 ¢ outro, a direita Introdugéo 7 de 0, para representar 1, como se mostra na figura I.7. Esta escolha define a escala. Se se adapta um conjunto apropriado de axiomas para a Geometria euclidiana, entdo cada numero real corresponde a um € um s6 ponto de reta e, inversamente, cada ponto da reta co- rresponde a um ¢ um sé numero real. Por este motivo, a reta chama-se frequentemente re- ta real ou eixo real, ¢ € habitual usarem-se as palavras mimero real ¢ ponto como sindnimos, dizendo-se por isso, muitas vezes, ponto x em vez de ponto correspondente ao niimero real x. A relagio de ordem entre os niimeros reais tem uma interpretagio geométrica simples. Se x < y, 0 ponto x esta a esquerda de y, como se mostra na fig. I.7. Os niimeros positivos esto 4 direita do 0 e os niimeros negativos & esquerda. Se a < b, um ponto x satisfaz aa B, uma vez que B é extremo superior; analogamente, B 2 C ja que C é extremo superior. Logo temos B = C. Este teorema diz-nos que se existir um extremo superior para um conjunto S, ele é tinico podemos por isso falar de 0 extremo superior. E habitual designar o extremo superior de um conjunto pelo termo mais conciso su- premo, abreviadamente sup. Adoptando esta convengio escrever-se-a B=supS para significar que B é 0 extremo superior, ou supremo, de S. 1 3.9 O axioma do extremo superior (axioma de compledos titude) Estamos agora em condi¢Ges de estabelecer 0 axioma do extremo superior para o sistema dos numeros reais. AxioMa 10: Todo 0 conjunto ndo'vazio S de niimeros reais, que é limitado superiormente, tem supremo, isto é, existe um nimero real B tal que B = sup S. Insistimos, uma vez mais, em que o supremo de nao pertence necessariamente a S.Com efeito, sup S pertence a S se e s6 se S possui elemento maximo, caso em que max S = sup S. As definigdes de limite inferior, limitado inferiormente, elemento minimo formulam-se de forma semelhante. O leitor devera fazé-lo como exercicio. Se $ tem um elemento minimo escrevemos min S. Um niimero L diz-se inftmo de S se (a) L & um limite inferior de S, ¢ (b) nenhum nimero 30 Calculo maior que L é limite inferior de S. O infimo de S, quando existe, € unico ¢ representa-se por inf S, Se S possui um elemento minimo entdo min S = inf S. Recorrendo ao axioma 10 podemos demonstrar o seguinte: TeoreMa 1.27. Todo 0 conjunto ndo vazio S que é limitado inferiormente tem infimo, isto é, existe um ntimero real L tal que L = inf S. Demonstragao. Seja —S © conjunto dos simétricos dos niimeros de S. Entio —S é nio vazio e limitado superiormente. O axioma 10 diz-nos que existe um nimero B que é supremo de —S. E facil verificar que —B = inf S. Consideremos uma vez mais os exemplos da Secgo anterior. No Exemplo 1, 0 conjunto de todos os nimeros reais positives possui 0 niimero 0 como infimo. Este conjunto nao pos- ‘sui elemento minimo. Nos Exemplos 2 ¢ 3 0 ntimero 0 é 0 elemento minimo. Nestes exemplos foi facil determinar se 0 conjunto S é ou nao limitado superiormente, ou inferiormente, e foi igualmente facil determinar os nimeros sup S e inf S. O exemplo seguinte mostra que pode ser dificil averiguar da existéncia de limites superiores ou inferiores. EXEMPLO 4: Seja S 0 conjunto de todos os mimeros da forma (1 + 1/n)", onde 1,2, 3,.. Por exemplo, fazendo n = 1, 2 3, encontramos que os niimeros 2, pertencem a 2 oF 4°27 S.Todo 0 niimero do conjunto é superior a 1 ¢ assim o conjunto esta limitado inferiormente € portanto possui infimo. Com um pequeno esforgo pode provar-se que 2 é 0 menor elemento deS, de modo que inf S = min S = 2. O conjunto S é também limitado superiormente embo- ra este facto nio seja tio facil de provar (Tente o leitor!), Uma vez sabido que S é limitado superiormente, 0 axioma 10 assegura-nos que existe um ntimero que é o supremo de S. Neste caso nao ¢ facil determinar o valor de sup S a partir de definigao do conjunto S. No capitulo seguinte aprenderemos que o sup $ é um niimero irracional, aproximadamente igual a 2,718. E um nimero importante no Calculo chamado o nimero de Euler e. I 3.10 A propriedade arquimediana do sistema dos nimeros reais. Esta secgGo contém algumas propriedades importantes do sistema dos nimeros reais, as quais so consequéncia do axioma do extremo superior. TeorEMA I.28. O conjunto P dos mimeros inteiros positivos 1, 2, 3, mente. 6 ilimitado superior- Demonstragdo. Suponhamos P limitado superiormente. Vamos mostrar que tal hipétese conduz a uma contradigao. Uma vez que P & no vazio, o axioma 10 garante-nos que P pos- sui supremo, seja b. © nimero b — 1 sendo menor que b no pode ser limite superior de P. Logo existe pelo menos um inteiro positivo n, tal que n > b— 1. Para este m temos + 1> b.

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