Gladstone Chaves de Melo - Novo Manual de Análise Sintática

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O QUE £ A ANALISE SINTATICA A aniflise sintatica constituiu a tortura de todos Foi-nos impingida uma terminologia complica- ima, cujos nomes nio sabiamos em que aplicar, razio pela qual os distribuiamos ao acaso e por pal- ‘avar o mal, muitas vézes mandaram- pite. Para a nos exercitar a ignorada andlise em Os Lusiadas, que nao eram suficientemente explicados. Por isso hoje tantas pessoas envolvem no mesmo édio CAMOES e a andlise sintdtica, ou melhor, a analise logica. E’ tempo de fazer as pazes: com a anialise sin- tatica, tornando-a racional e simplificada, por um método que eu chamaria “essencialista”; e com o Poeta MAximo de nossa lingua, pelo estudo estilistico de suas composicées sem par. Muito importante para o primeiro desiderato é bater as estacas maiores, lancar com seguranca os fundamentos sobre os quais se construira o edificio. se * Para vencer prevencées iniciais, direi muito des- pachadamente que quem entende 0 que ouve ou o qué 16 Giapstone CHAVES DE MELO 1é, analisa. Portanto, a andlise nio pode ser tio di- ficil operagdo. Analisa, digo, na consciéncia lingilis- tica espontanea. Trata-se, pois, apenas de transpor- tar para a consciéncia reflexa essa andlise global e instantdnea, que se chama inteligéncia da frase. Em continuacio direi que 86 quem entendew o que ouviu ou leu pode de fato analisar, Isto, que parece uma banalidade, tem particular aplicagiio con- tra certa distorgiio da andlise sintatica — que usa a técnica das substituigdes, dos subentendimentos, das elipses, das zeugmas e outros nomes piores. Temos entio firmado o primeiro ponto: quem entendeu, analisou. Quem entendeu esta frase — “Paulo casou-se ontem” —, percebeu o nexo entre o predicado “casou-se ontem” e o sujeito “Paulo”, per- cebeu que o predicado se referiu ao sujeito, notando, ao MesMo passo, que “ontem” se reporta ao verbo, ex- primindo uma circunstincia da acgio ou do fato por éle indicado. Nao importa que o leitor ou ouvinte desconheca aquela nomenclatura — sujeito, predi- cado, adjunto circunstancial: se entendeu, analisou. Vem a pélo observar nesta altura que as vézes sucede baralhar-se a interpretagio de frases muito simples, o que dA origem a modismos novos, idioma- ticos, ildgicos, embora perfeitamente compreensiveis. Isto aconteceu, por exemplo, com a express4o corri- queira “Fulano” ou “tal coisa levou o diabo”. Ori- Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 17 gindriaménte era esta a estrutura: “O diabo le- vou tal coisa”. Depois, “Fulano levou-o o diabo”. Mais tarde, aquéle 0, pronome pessoal, fundiu-se por crase no o artigo; dai a expressio “Fulano levou o diabo”, em que “levou o diabo” vale como predi- cado, tanto assim que no plural se diz “les leva- ram o diabo”. Déste primeiro principio decorre que deve ha- ver perfeita correlacéo entre a andlise e a expres- sao, de tal arte que a primeira nado possa exceder a segunda. Os analistas profissionais, no seu afa de tudo complicar, nio raro ultrapassam a intengdio ‘lingiifstica do falante. Assim, ha quem veja, numa oracio como “comprei uma casa e um sitio” — duas proposicdes: “Comprei uma casa e comprei um sitio”, sob a falsa alegacéo de que a conjuncdo e deve ligar oracgées. Ora, nao foi isto que eu disse, mas aquilo; nao disse que “comprei uma casa” e que “comprei um sitio”, sendo que “comprei uma casa e um sitio”. O ato da compra foi o mesmo, o dono an- terior foi o mesmo,a casa estava no sitio, o pa- gamento foi global. es * * Outra observacio basica importante: nem todas as frases comportam uma anélise regular, mas s0d- mente aquelas em que o elemento racional predomi- 18 Grapstone CHA\ ne sdbre 0 emotivo ou o ativo. Uma frase como — “Fogo!” — é inanalisdvel, do mesrno modo que o é um anacoluto. Certos analistas procuram contornar a dificul- dade, trocando a frase por uma equivalente e ana- lisando esta. Por exemplo: “Fogo!” — “Esta pe- gando fogo aqui Ora, nesta suposta igualdade realmente ha diversidade de estado psicolégico, por- que ra segunda frase o falante, embora emocio- nado, ainda mantém o govérno franco da razio, tanto assim que construiu uma oracao de estrutura normal, 0 que nao ocorreu no primeiro caso. “Fogo!” continua inanalisada. Debalde tentaremos analisar um periodo como éste de VIEIRA: “O homem que esté em Deus e Deus néle, nenhuma forga, ainda que seja do mesmo Deus, o pode déerrubar nem vencer”. (Sermées, vol. X da ed. facsim. da Anchieta, pag. 81); ou como éste de BILAC: “Porque o escrever — tanta pericia, Tanta requer, Que oficio tal nem hé noticia De outro qualquer”. (Poesius, 12: e4., Aives, Rio, 1926, pag. 7); Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA ou ainda como éste de CARLOS DRUMMOND DE AN- DPADE, “Eta vida besta, meu Deus!” (Fazendviro do Ar e Poesia até Olimpio, Rio, 1955, Quando dizemos que sé se analisam frases con- ceituais, queremos referir-nos 4 andlise racional, di- gamos ortodoxa, que vai discriminar as partes nor- malmente encontradas numa proposi¢: io, Aquela ou- tra andlise intuitiva é claro que se faz de qualquer frase, uma vez que se lhe perceba o contetdo sig- nificativo. ONDE SE SITUA A ANALISE SINTATICA Prépriamente, a andlise é uma parte da Sintaxe, ou melhor, exercicio de aplicacdio de uma parte da Sintaxe. Cabe, portanto, lembrar a divisiio da Gra- matica, para bem entendermos onde fica posta a nossa analise. Segundo a melhor conceituacio, triparte-se a Gramatica, “descricdo de um estado de lingua”, em Fonologia, Morfologia e Sintaxe. A Fonologia é o estudo do material sonoro, o aparelho fonador, os fonemas e sua natureza, com- binagdes de fonemas, acento, prontncia, ortografia. A Morfologia é 0 estudo das formas, ou teoria das formas, como preferem outros. Ocupa-se com a estrutura do vocdbulo (radical, afixos, infixos, terminacéo), com o sistema flexional da lingua e com a classificagéo das palavras, distribuidas por tantas espécies ou “classes” quantos forem os gru- pos significativos genéricos. (2) (2) Cfr. GLADSTONE CHAVES DE MELO, Iniciagdo 4 Filologia Portuguésa, 2* ed. refundida e aumentada, Livraria Académica, 1957, pégs. 227-245, capitulo intitulado “A clas- sificagdo das palavras”. a Guapstone CHAYES PP MELO 22 éa teoria da frase e de aa frase, studa vicco Bronpay A Sintaxe © mo caracterizou ros, 0 “ “ seus membros, como arm que defende “a autono. 2 » num arrazo: i ree) mia da Sintaxe’- ( 7 ntender, subdivide-se a Sintaxe em Em nosso © grandes capitulos: a) Sintaxe Analitica ou Estratural, que ca- racteriza e discrimina as partes da oragac e as fun- cées sintaticas, — fungdes essencials, acessorias, complementares e desligadas ; b) Emprégo das Formas, que é a contraparti- da da Sintaxe Analitica, 0 reestudo das fungdes a partir das palavras que as desempenham, tanto é verdade que tem como escopo examinar a utiliza- cdo das diversas espécies de palavras dentro da fra- se, assinalando, por exemplo, que 0 substantivo pode ser sujeito, objeto direto e indireto, complemento do verbo e do nome, agente da passiva, predica- trés tivo, ete. c) Sintaxe Relacional, que estuda og vinculos estabelecidos entre as palavras na frase, os pYo- cessos, 0 modo concreto de estabelecé-los. Reparte- se tal estudo em Sintaxe de Regéncia, Sintaxe de Concordancia e Sintaxe de Posicao ou de Colocacio. ee (3) Essai _ Ssais de Linguistique Générale, Copenhague, 1943. NALISN SINTATICA 23 Yovo MANUAL px O exercicio de reconhecer os fonemas e@ clissi- ficd-los constitui a andlise fonct jens; 0 exercicio de reconhecer e separar os elementos estruturnis do vo- cAbulo chama-se anilise morfoldgiea; 0 exercicio de reconhecer, num texto dado, as diversas espécies de palavras chama-se anilise léxica, 0 mesmo que ou- trora, sem razio, se chamava anilise gramatical. Trata-se, em todos ésses casos, de um conheci- mento pratico, concreto, aplicado. Ora, & désse tipo a operacio que denominamos “anilise sintitica”: & © exercicio de decompor a frase-oragio e reconhe- cer-lhe os diversos elementos, identificar as fungée: sint&ticas. E’, portanto, a aplicacio concreta Sintaxe Analitica, verificagio dos conceitos, apura- ¢ao e aprofundamento déles ao contacto de casos novos, de exemplos desconhecidos, de apresentacdes gramaticais ainda nao previstas nos modelos pro- postos, E’ s6 isso a andlise sintitica: conhecimento pratico, exercitado, estimulante, da Sintaxe Analiti- ca; é trabalho paralelo ao da anilise fonética, da morfoldgica ou da léxica. UTILIDADE £ METODO DA ANALISE SINTATICA A anilise sintatica 6, portanto, um dos recur- Sos, um dos processos do ensino da lingua, e nunca sua razio de ser. Serve Para exercitar e apurar uma nomenclatura técnica, univoca e econémica, que fa- cilitara o estudo de téda a sintaxe, tornando claras e racionalmente Perceptiveis as relacgdes entre os membros da frase. E’ mero instrumento de tra- balho da Gramatica, para facilitar-lhe o fim, que € © conhecimento organizado e sistematico da lin- gua literdria. Serve ainda como elemento de verifi- cacéo, quando o autor, na intuigfo, desconfia da sua frase. A_anilise lhe revelara o Ponto fraco, a estrutura mal urdida. Presta ela ainda auxilio nas Ppossiveis perplexidades sébre pontuacdo, mormen- te quando nao teve o autor um aprendizado ! conveniente désse capitulo da GramAtica e da Es- tilistica. es es Portanto, é util e até necessdrio o conhecimen- to da andlise sintdtica, desde que ela se assine no ves DE MELO umento, e nfo queira tudo avas- seu papel de instr salar e tudo dominar. Daremos agora mais um passo, dizendo que a andlise sintatica 6 uma técnica que consiste er re- ir @ simplicidade esquematica do juizo a com- duzir j plexidade vdria da linguagem articulada. Te- sume-se em Ultima instancia nisto: separar os ele- mentos de uma frase, colocando uns do lado do su- jeito e outros do lado do predicado. Coisa bastante simples, portanto. O ensino da analise sintética deve ser racional. H4 de comecar por uma noticia sumaria, mas ni- tida, do juizo e de sua estrutura — capitulo da Logica. Depois se fara ver que ao pensamento cor- responde a palavra — nao, porém, materialmente, de modo que para cada idéia se tenha um vocdbulo. Ha correspondéncia, nao decalque, repercussiio perfeita. Indo & substancia das coisas, tornando eminen- temente racional e anti-psitacista o ensino da an4- lise, 6 possivel ao discente reconciliar-se em trés tempos com o bicho-papiio e aprender facilmente. Tive um caso de aluno inteligente e de espirito in- dagativo, que aprendeu téda a analise sintatica em dois dias. Devo, porém, revelar a situacio do aluno: estava inteiramente cru, era tabua-rasa.’ Estou cer- to que a proeza nao se poderia realizar em quem Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 27 ja tivesse estudado e aprendido andlise — estudado e aprendido mal, ja se vé, porque ai o trabalho seria duplo: erradicar o érro e plantar a verdade. Aqui est4 um roteiro, ouso dizer seguro para 0 estudo da andlise tatica. Os principios basicos vimos serem racionalidade, essencialidade e tendén- ca constante & simplificagdo. Ir ao Amago das coi- sas, nunca distinguir acidentalidades iguais no fundo, como é préprio da gramatigquice, buscar sempre uma nomenclatura facil, leve e sugestiva, escolhendo nomes que por si indiquem o que estado titulando. Despojar-se de demasias intteis e sem qualquer fundamento, como aquela téla dicotomia — sujeito gramatical e sujeito légico —, cuja per- manéncia sé se explica pela lei da inércia, que tem larga atuacao na vida do espirito. Assim praticada, a andlise sintatica tem sua funcio e presta seu servico. Enriquece a seu modo a inteligéncia, explicita o conceito das funcées, torna claro e sistematico 0 conhecimento da frase, fornece a terminologia para o estudo da sintaxe e possibilita penetrar o mecanismo de linguas sinté- ticas, tais como o latim ou o grego. DUAS PALAVRAS DE LOGICA . Recordando brevissimamente uma pagina de Légica, necessdria ao nosso caso, lembraremos que a idéia ou conceito é a simples representacio inte- lectual de um objeto. Ela encontra sua expres: verbal no térmo, que, evidentemente, nio se con- funde com o vocdbulo, tanto é verdade que ha tér- mos com varios vocdbulos: “Freixo-de-Espada-d- Cinta”, “Aquilo foi um deus-nos-acuda”. Na idéia, e portanto no térmo, temos de con- siderar a compreensdo e a extenséio. Compreensdo é a significagao, o contetido da idéia, a informacio, os dados cognoscitivos nela contidos. Assim, a idéia de “animal” sugere, implica éstes componentes: ser, vivo, sensfvel, semovente. “Homem” tem maior compreensdo: ser, vivo, sensivel, semovente, racio- nal, “Brasileiro”, maior ainda: ser, vivo, sensivel, se- movente, racional, nascido no Brasil. Extenséo 6 o nimero de individuos a que con- vém a idéia. Assim, a idéia de “animal”, que convém a papagaio, besouro, pulga, leéo, pato, homem in- 30 Guapstone CHaves DE Mi | clusive, tem maior extensio do que a idéia de “ho- | mem”, que abrange os chineses, os turcos, os tro- gloditas, os assirios e os torcedores do Flamengo. Dai ja se verificou que a compreensdo esté em razio inversa da extensdo: quanto mais rica de elementos cognoscitivos, tanto menos extensa a idéia, porque convém a menor niimero de individuos. A idéia de “ser” 6 muito mais extensa, e por isso muito menos compreensiva, do que a idéia de “niteroiense”. Juizo € o ato pelo qual o espirito afirma ou nega. uma coisa de outra. “A lingua 6 uma i i ale ai temos um juizo, porque a respeito de “lin- gua” se afirmou que ela é “instituicéo social”. No juizo discriminamos trés elementos: sujeito, o ser de quem se afirma ou nega alguma coisa; predicado ou atributo, aquilo que se afirma ou nega do sujeito; a afirmagdo ou a negagao. Sujeito e predicado so a matéria do juizo; a afirmagdo ou negacio, sua forma. Proposigéo é a expressio verbal do juizo. Nela se encontram dois térmos, correspondentes ao sujeito e ao predicado, e uma cdpula ou ligagéo que enlaca os dois térmos. Tal ligacéio é 0 verbo ser, tomado em sentido relacional, nao no sentido substantivo, quan- do entao éle significa “existir”. Deus é bom”; “Deus é” = “Deus existe”. é Muitas vézes, para o légico, o verbo gramatical contém a ligacdo e o predicado. Assim, em Logica, a Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA proposicéo “Os peixes nadam” reduz-se a “Os peixes ae nadantee”; “Eu caminho”, a “Eu sou caminhan- e” . ; Vv emos aqui ja esbocada a diferenga entre a andlise ldgica e a andlise sintdtica, coisas diferentes, formalmente diversas, embora no contraditérias. A anilise sintética é a at e Lingtiistica da expresso verbal como ela se apresenta em cada lingua e em cada caso conereto. Duas expressdes diversas, em- bora de tedo equivalentes, postulam andlises sinta- ticas diversas, mas tém a mesma anilise légica. No entanto, o fundamento primeiro da analise des basicas sio as de idéia sintatica é légico. As n e térmo, juizo e proposigéo, sujeito e predicado. Sem analise sintatica fi- esta fundamentacio na Légica, a caria sélta no ar, seria uma permanente petigao de principio, ndo teria uma bussola, um ponto de refe- réncia. Por outro lado, se se negar a autonomia da (4) Neste apanhado segui muito de perto, transcre- vendo-o por vézes, a R. JOLIVET, Cours de Philosophie, Em- manuel Vitte, Editeur, Lyon-Paris, 1942, pags. 21-22 e 27. Para maior desenvolvimento, pode-se consultar, do mesmo autor, Traité de Philosophie, mesmo editor, vol. I, 3° ed. 1949; de F. J. THONNARD, Précis de Philosophie, Desclée & 1950; de L. VAN ACKER, Introdu- Cie., Paris-Tournai-Rome, ¢Go & Filosofia. Légica. Saraiva e Cia., S. Paulo, 1932. 32 GLapstona Caves pe Mrto ee anilise sintatica, ter-se-A negado a existéncia da lin- gua, ter-se~io inserido numa ciéncia particular mé- todos e processos de uma ciéncia geral e maior, parte que € da Filosofia. DA ORAGAO "Gn DA ORACAO O que, do ponto-de-vista material, caracteriza uma oracio é conter um verbo (claro ou oculto) em forma finita. Em téda oracdo normalmente constituida exis- te um sujeito e um predicado. Consiste a andlise sin- tatica em distribuir os diversos elementos lingiiis- ticos da proposico, capitulando-os no sujeito ou no predicado: nicleo do sujeito, nticleo do predicado, pertences do sujeito, pertences do predicado. HA quatro tipos de oraga a) declarativa (exemplo) : “Serena e quase luminosa corria a noite”, (TAUNAY, Inocéncia, 3* ed., 1896, pag. 108); b) interrogativa (exemplo) : “Mas, que € dos filhos ou dos netos de seu sinh? les nfo quiseram ficar com isso?” (AFONSO ARINOS, Pelo Sertdo, His- torias e paisagens. Rio, Laemert © Cia., 1898, pag. 120); 36 Guansronn Ciaves pa Mero : a ¢) imperativa (exemplo) : “Corino, vai buscar aquela ovelha, / quo grita 14 no campo, e dormiu fora!” m (CLAUDIO MANUEL DA Costa Obras Posticas, ed. de Joio Rt. peiRo, Garnier, Rio, 1903, 1, pag. 112); : d) optativa (com o verbo no subjuntivo ou no imperativo — traduz um desejo) (exemplo) : “Valha-te 0 sol destas manhiis serenas...” (ALPHONSUS DE GUIMARAENS, Poe- sias, ed. de MANUEL BANbera, Ministério da Educagio e Satde, 1938, pag. 264). Passaremos em seguida a estudar mitidamente cada uma das partes essenciais e acessérias da oragio. ESTRUTURA DA ORACAO I. Do sujeito Na oracio, sujeito é “o ser de quem se diz al- guma coisa”, e predicado é “aquilo que se diz do sujei- to”. Sao definigdes correlatas e simples, que deixam ver a relacio de reciprocidade existente entre os dois térmos fundamentais e mostram que o sujeito é 0 ponto-de-partida. Habitualmente e normalmente, o sujeito tem por niicleo um substantivo ou palavra substantivada: “O marqués de Marialva assistira a tudo do seu lugar” — “De repente o velho soltou um grito sufocado”. (REBELO DA StLva, in Trechos Se- letos, de SOUSA DA SILVEIRA, 4° ed., 1938, pig. 226), Por isso mesmo, tudo que equivale a um substan- tivo — pronome, expressio, conjunto subordinante- subordinado, oracio gramatical — pode ser sujeito: “Nenhum falou logo, posto que ambos sentissem ne- cessidade de explicar alguma cousa.” (MACHADO DE ASSIS, Esati e Jacé, Garnier, Rio-Paris, s/d, pag. 272). Granstonn CHAVES DB MEto 38 apstone CHAYES DB Mito eae ingua portuguesa 6 muito diffeit 6 6 QU s6 ouyg por at aenta omento”. (SHNA RAMOS, In Trechos Sotg, tos, de S. S., pig. 143) ele. “0 amor da patria no pode ser explicado por mats bel e delicada imagem”, (J. M. DE MACEDO, in Antologig Nacional, de FAUSTO Barreto CARLOS DE LAET, 8 ed., 1918, pag. 58). “Era natural que mais de uma menina gostasse déles, (MAcHaDo, Esai e Jaco, pag. 89). O sujeito pode estar claro na oragio, ou entio oculto. Oculta-se o sujeito quando a forma verbal tor- na desnecessiria a sua explicitagio ou quando figura numa oraciio anterio: *Assinalo [eu], contudo, outras razdes... — A Oracdo aos Mogos é, na sua contextura verbal, modélo da mais pura vernaculidade, e, convenientemente lida e estudada, [a Oracdo aos Mocos] constitui precioso fator de Preservagiio da gran- de lingua literdiria comum ao Brasil e Portugal”, (SOUSA DA SILVEIRA, in edigho na- cional da Oragdo aos Mogos, de RUI_ BARbOsA, preparada pelo Prof. ROCHA Lima, Rio, 1949, pags. VIII-IX), O sujeito pode ser simples ou composto. Simples, quando sé tem um niicleo, ainda que expresso por muitas palavras em subordi nagdo, ou quando se coor- Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 39 denam sindnimos, e nos casos de gradagiio e de hen- diadis: ; “Causa-nos involuntaria tristeza a contemplacdo de grande massa liquida a rolar, rolar mansamente, tangida por orca ocuita”. (TAUNAY, Inocéncia, pag. 340). “A boa estimacdo dos cldssicos, 0 carinho ¢ 0 amor com que devemos cerca-los é 0 fruto da madureza do es- Pirito”. (Joxo Riwero, Paginas de Estéti- ca, Lisboa, 1905, pig. 120). _,, Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelagdo da cons- ciéncia a si propria, nunca mais me esqueceu...”. (MAcHADo DE Assts, Dom Casmur- ro, pig. 36 — exemplo in Ligdes de Portugués, de S. DA S., 4* edi- Gao, 1940, pag. 275). “Mas 6 tu, geracio daquele insano [Adio] / Cujo pe- cado € desobediéncia [isto é, “pecado de desobediéncia”] / No sdmente do reino soberano / Te pds neste destérro e triste auséncia...”. (CaMOEs, Lus., IV, 98). O sujeito 6 composto, quando apresenta mais de um nicleo: “Dous lugares e dous pretendentes, um memorial e uma intercessora, um principe e um despacho sio a representa- cdo politica e a historia crista déste evangelho”. (VieIRA, Sermées, I, 1679, 229). col. > Gnapstown Craves DE MELO 40 Ls i ssadas, surdi: ,, a vida, cousas passadas, surdiam » “0 temper eo tivro com que tinham vivido, © Airey i2 espli-lo por det Rio de Janeiro que nao era éste, ou apenas tornando a ver a OEE (MACHADO DE ASSIS, Esai © Jacg, pag. 170). Quando nao é determinado, claro ou oculto = é indeterminado o sujeito, modalidade que cumpre dis- tinguir daquela anomalia de construgao caracteriza- da pela auséncia de sujeito. O que torna indetermi- nado o sujeito é a intencéo ou a situacao do falan- te, que n&o sabe ou no quer individuar, precisar, apontar o agente, o autor da agdo ou da facanha: “Quebraram a compoteira!”. O conceito de sujeito indeterminado tem, pois, de partir da intenc&o ou da ignorancia do falante, j4 que as apresentacées gra- maticais, ao menos em portugués, sio muitas vézes materialmente determinadas. Em “Violaram a car- ta!”, ou em “Vai-se a Petrépolis em uma hora e meia”, a propria estrutura oracional esconde 0 su- jeito; mas em “Alguém falou!”, por exemplo, mate- rialmente “alguém” & um sujeito, cuja expressio nada adianta & idéia. E’ 0 que acontece com os pro- nomes indefinidos ou outros com o mesmo valor: al- guém, outrem, quem, ete. Assim s&o apresentacdes gramaticais de sujeito indeterminado: @) verbo na terceira pessoa do plural, nio re- ferido a nenhum substantivo no plural anteriormen- te expresso, nem ao pronome éles: Novo MANua pe ANALISE SINTATICA 4 ‘Na minha rua estdo cortando frvores" (CARLOS DRUMMOND bE ANDRADR, Poesia até Agora, Rio, 1948, pag. 17). : Cumpre notar que na linguagem coloquial, so- bretudo na plebéia, e até na literdria antiga, apare- cem construgées de sujeito indeterminado com o ver- bo na terceira pessoa do singular: “Diz que as Parcas senhoras sio das vidas”. (Exemplo de P, DE _ANDRADE Ca- MINHA, in Sintaxe Histérica Por- tuguésa de EPIFANIO Dias, 1918, pag. 10); 6) verbo na terceira pessoa do singular ou plu- ral, acompanhado do pronome se (indice de inde- terminagdo do sujeito) : “em téda a parte se pode orar e ser virtuosa, menos neste convento”. (CamILo, Amor de Perdicdo, 1869, pag. 137) “Na nossa terra n&o se vive senfo de politica”. (LIMA Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Rio, 1915, pag. 97) «Procuraram-se os tais livros, e topou-se com um bad cheio de obras.. (TAUNAY, Inocéncia, 3* ed., pag. 64) ——— yaroNe CHAVEM DR MELO “Tinha os olhos negros ¢ um poco nso porom que deviam tor sido vivo adi. (MACHADO, Contos Fluminensea, Garnier, Rio-Paris, 3/d, payga, 92-93); cc) sujeito materialmente constitufdo por pro- nomes indefinidos que nada esclarecem quanto & identidade do agente (ou do paciente, na voz pas- siva) : “Quem féz mal ao guerreiro branco na terra dos taba- jaras?... — Ninguém f6z mal a teu héspede, filha de Araquém" (AteNcAR, Iracema, Rio, 1948, pig. 18); d) sujeito materialmente constituido pela ex- pressio “a gente”, de valor indefinido: “fle Ihe aparecia agora como um désses recantos da mata, proximo a um riacho, num sombrio misterioso e con- fortante, Passando num meio-dia quente, ao trote penoso do cavalo, a gente para ali, olha a sombra e o verde como se fOsse para um cantinho de céu... Mas volvendo depois, numa manha chuvosa, encontra-se 0 doce recanto enlamea- do, escavacado de minhocas, os lindos troncos escorregadios € lodosos, os galhos de redor pingando tristemente”. (RAQUEL DE QUEIROS, Trés Roman- ces, Rio, 1948, pag. 66); e) na lingua antiga, sujeito materialmente re- presentado pelo expressivo pronome homem, de va- Jor indefinido, correspondente ao on francés (ape Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 43 a on “em do nominativo latino homo, ao passo que romme, fr. e@ homem ; > r . , ptg., assentam no i hominem) : , semaune “Mas 0 alto Deus, 0 , que pera longe guarda io castigo daquele que o merece, on Pera que se emende, As vézes tarda, tu por segredos que homem nio conhece...” (CaMOES, Lus., III, 69) “Na verdade, jamais homem ha visto Cousa na terra semelhante a isto.” (MACHADO DE ASSIS, Poesias Com- pletas, 1902, pag. 302); f) em textos literaérios, ao menos classicos, verbo na primeira pessoa do singular com valor de sujeito indeterminado: “Um gosto, que hoje se alcanca, Amanha ja néo o vejo (= ja nao se vé): Assi nos traz a mudanca De esperancga em esperanca, E de desejo em desejo”. (CAMOES, Sébolos rios, WV. 91-95, in SOUSA DA SILVEIRA, Textos Qui- nhentistas, Rio, 1945, pags. 31- 32); g) na linguagem coloquial, numa construgiio semelhante 4 anterior, usa-se 0 pronome de trata- mento vocé para indicar sujeito indeterminado, ten- do o giro o valor estilistico de interessar na narra- 44 GLApstoNe CHAVES DE MELO ¢4o0 o sujeito-ouvinte, do mesmo modo que a pri- meira pessoa do singular com valor de indetermina- do exprime interésse por parte do falante. Sao fre- qiientes os casos em que, contando uma histéria, descrevendo uma viagem bonita, 0 falante diz coisas assim: “Af vocé descortina [isto 6, “descortina-se”] uma paisagem deslumbrante!” — “Ai, ent&o, vocé salta e toma outro trem, que vai subir a serra”, etc. Verifica-se 0 fenémeno de auséncia do sujeito, quando a afirmagiio se concentra no predicado, que, nesse caso, nao se refere a qualquer ser. O verbo 6, pois, tmpessoal. Acontece isso com o verbo haver tomado em sentido existencial : “H& duas espécies de curiosidade”, (GUSTAVO CoRCAO, Licédes de Abis- mo, Rio, 1951, pag. 230); ou com o verbo fazer acompanhado de objeto direto e significando tempo decorrido: “Wao faz mais de trinta anos que as fguas do Prata davam testemunho de proezas inolvidaveis, consumadas por uma esquadra de herdis brasileiros”., (RUI, Antologia, Selecgio, prefacio e notas de Luis VIANA FILHO, Ca- sa de Rui Barbosa, 1953, pag. 190). Novo MAnuat pe ANALISE SINTATICA 45 Nest, y i peeweat casos 0 verbo fica sempre no singular. Im- ee io também é 0 verbo ser na designacio das ho. ‘as o, ; 5 ca lo tempo em geral, mas, neste caso, concorda com o predicativo: “Seriam talvez duas e meia da tarde”. (RAQUEL DE QUEIROS, Trés Roman- ces, Rio, 1948, pag. 60) ‘Era ainda no tempo em que os carros pagavam im- posto de passagem.” (Macitavo DE Assis, Esai e Jacé, pag, 100). Igualmente séo impessoais os verbos que indi- cam fendmenos da natureza, como chover, trovejar, relampejar, ventar, nevar, amanhecer, anoitecer. Por fim, no tem sujeito o verbo de muitas construgédes portuguésas, que seria longo e impertinente aqui enu- merar, pois éste livro nao é de Sintaxe, mas de and- lise sintatica. Exaustivo rol de tais construgdes se cha na Sintaxe Histérica Portuguésa, de EPIFANIO a DIAS (1* edigho, Lisboa, 1918, pags. 4-9; 2* edigio, Lisboa, 1933, pags. 15-20). II. Do predicado JA se definiu o predicado como sendo “aquilo que se diz do sujeito”. Tudo que numa oragio ndo é sujeito ou ndo esta no sujeito é predicado, exce- 46 GLapstone CHAvEs DE MELO tuados, como ao diante veremos, 0 vocativo e o apésto de oracao ou de periodo. No predicado ha sempre um verbo (claro ou ocul- to) em forma finita: no indicativo, no subjuntivo ou no imperativo. Esse verbo é que nos vai indicar se se trata de um predicado nominal, verbal ou misto — distingao muito importante. ee oe No predicado nominal nao ha verbo gramatical propriamente: a significag&io do predicado se con- centra num nome (substantivo ou ad jetivo) referido ao sujeito. Quando digo “Bernardo 6. . -”, Meu in- terlocutor pode formular uma série de contradicées: bom-mau, alto-baixo, democrata-totalitario, branco- préto, doente-sadio. Ora, se o espirito oscila entre opostos, nenhum juizo formula; logo, nio ha ainda predicado. S6 depois de enunciado o nome — “Ber- nardo é bom” — é que se desenha 0 predicado. Entdo © predicado é principalmente aquéle nome, nome predicativo, Dai se esté vendo o equivoco dos que dizem que 0 predicativo & complemento do verbo “ser”, ou dos que ensinam que o verbo “ser” pede predicativo. A fungéio do verbo no predicado nominal é semelhante a das conjuncées, 6 uma funcio conectiva, éle é um liame que vincula © predicado ao sujeito, estabelece Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 47 +o nexo entre ambos. Agora, 6 um liame sui-generis, complexo, compésito, porque, além de ligar, tem duas conotagées, duas categorias, que sao proprias do ver- bo: pessoa e tempo. Assim, “Tu és forte”, “fle esté desgostoso”, “Nés ficaremos, contentes” (5). De crianca aprendemos que o verbo ser € “ver- bo de ligacdo”, o que passamos a repetir como pa- pagaios, sem saber a raziio do nome. “Verbo de liga- ¢40”, porque faz a ligagéo entre o predicado e 0 su- jeito. Melhor, no entanto, dizer “liame verbal”. A nossa lingua portuguésa é muito rica em lia- mes verbais. Assim, funcionam como tais os verbos ser, estar, parecer, ficar, permanecer, continuar, tor- nar-se, andar, etc. Na realidade, do segundo em dian- te sio todos variantes, ynodalidades, aspectos do ver- Estar 6 “ser por algum tempo”, é um ser como se vé da comparacio entre “O me- nino é doente e “O menino esté doente”. Parecer é “ser no conceito, no juizo, na impressio de alguém”: “Joaquim parece nervoso” significa que Joaquim est nervoso no modo de sentir, segundo a opiniado de al- bo ser. transitério, em térmos lingiiisticos, gra- maticais. Em Légica é€ um pouco diferente a coisa. Existe apenas um verbo, 0 verbo copulativo, que desempenha esta fungéio no presente. Assim, como alids jé se disse atrds, “Pedro anda” equivale a “Pedro é andante” (Cfr. BRIN, FAR- GES @ BARBEDETTE, Philosophia soholastica, 64* ed., Paris, 1936, 1, pags. 39-40). (5) Falando, j& se vé, 48 GLapsToNE CHAVES DE MELO guém. Ficar e tornar-se significam “passar a ser” ; indicam, pois, mudanga de estado: “Joao ficou [ou tornou-se] sério”. Permanecer indica duragio de um estado: “Eles permaneciam silenciosos”. Andar 6 estar, mas um estar de certo modo projetado no tem- po, incluindo um passado recente e sugerindo um fu- turo proximo; confronte-se: “Tomas esté doente”, “Tomés anda doente”. Continuar 6 manter-se num segundo estado, 6 um “ficar” prolongado: “Jorge continua furioso”. O predicativo pode ser representado por um substantivo, uma palavra substantivada ou por um equivalente do substantivo: “O canto da gaivota 6 0 grito de guerra do valente Poti, amigo de teu héspede!” . (ALENCAR, Iracema, ed. do LN.L., Rio, 1948, pag. 48); “O tema da conversa era invaridvelmente o ausente (= o rapaz ausente)”. (ID., Senhora, Livraria José Olim- pio Editéra, Rio, 1951, pag. 128); por um adjetivo ou expressées qualificativas equi- { valentes : ' “Jandira estéve ausente, 0 que me pareceu de bom tato”, (CIRO Dos ANJOs, O Amanuense Belmiro, 3* edic&o, 1949, pag. 22) Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 49 “As alegrias dos perversos sfio de curta duracdo [ua pouco duradouras]”; “O crime ficou sem castigo [= im- pune]”, (EPIFANIO Dias, Gramédtica Por- tuguésa Elementar, 13% edigéo, 1921, pag. 80) “Imbuido dessa idéia, nfio 6 de estranhar [—estra- nhdvel] que Seixas tivesse em suas expansdes uma exu- berancia que descaia em exageragio”, (ALENCAR, Senhora, ed. cit., pag. 167). A referéncia subjetiva contida no liame verbal possibilita muitas vézes o aparecimento de um objeto indireto: “Flores me sho teus lébios”. (MACHADO DE ASSIS, Poesias Com- pletas, 1902, pag. 81); “Nfio Ihe era [ao Aires] desconhecida esta criatura”. (MACHADO DE ASSIS, Hsat ¢ Jacé, pag. 190); “As doutrinas positivas [das escolas socialistas] pare- cem-me longos rosdrios de despropésitos”. (HERCULANO, Optisculos, II, pag. 139, apud EPIFANIO, Sintaxe His- térica Portuguséa, 2° ed. pag. 14); “A idéia de aparecer ante a moga sob o aspecto de um especulador era-Ihe [ao Seixas] um suplicio”. (ALENCAR, Senhora, ed. cit. pags. 164-165). ina a 50 se 7 Ae Predicadé verbal é assim chamado porque néle, ae iferenca do predicado nominal, o verbo é que con- “m a significacio substancial : “Desperta entio o viajante; esfrega os olhos; distende Preguicosamente og bragos; boceja; bebe uma pouca @’fgua...” (TAUNAY, Inocéncia, 3° ed., pag. 28). Em duas oragées déste periodo — “Desperta en- tao o viajante” e “ [o viajante] boceja” — o predi- cado péde ser constituido apenas do verbo, porque ésse verbo encerra sentido completo: 0 viajante des- perta, o viajante boceja. Nas outras oragées, porém, nado bastou a palavra do verbo, 0 vocdbulo, para ex- primir suficientemente a idéia do predicado: féz-se mister um térmo complementar para integralizar o sentido predicativo. O nome mais sugestivo para ésse térmo é 0 de complemento do verbo: “ {o viajante] es- frega os olhos, distende preguicosamente os bragos, boceja, bebe wma pouca d’égua”. Complemento do verbo é entao a palavra que in- teira o significado do verbo. O complemento é uma subfungdo sintética, de natureza integrante, que for- ma um todo com a palavra de que éle é térmo. H& complementos do verbo que recebem nome especial: objeto direto, objeto direto preposicionado, Novo MANUAL pp ANALISE SINTATICA 51 objeto indireto, agente da passiva, de acérdo com apresentagées gramaticais nitidamente marcadas. oO objeto direto é 0 complemento verbal que in- tegra 0 sentido do verbo, sem auxilio de preposicio. E © caso do acusativo em latim: “Vidi aquam egre- dientem de templo”, “Infandum, regina, iubes reno- vare dolorem”. Séo as seguintes as suas principais caracteristicas de reconhecimento pratico: @) ser complemento de um verbo na voz ativa (verbo transitivo), a exprimir de regra o térmo ime- diato da aco; b) se representado por um substantivo, poder ser substituido pelo pronome pessoal o numa de suas variacgées de forma. Exemplo: ; “Por outro lado, nfo s6 me agradou 1é-la [a carta], como teria sido bom para mim, naqueles dias, receber outras, que me distraissem e mais depressa me devolvessem o interésse pelas coisas imediatas da vida”. (Ciro Dos ANJOS, Abdias, José Olimpio Editora, Rio, 1945, pag. 270). Ai vemos o objeto direto representado pelo pro- nome obliquo da terceira pessoa, la, representado pelo pronome obliquo da primeira pessoa, me, por um pronome indefinido, outras, e por um substantivo, interésse. pp MrLo ‘onado é um objeto direto que vem encabegado pela preposicio a, nao pedida pelo verbo: “amar @ Deus sobre todas as coisas’ > “ale nos convidou a todos”, “nem éle entende a nés, nem nés a éle” (CAMOES, Lus., V, 28). é a necessidade de clareza testa do objeto direto: ee Objeto direto preposici HA situagdes em que que reclama a preposigio & a “O covarde matou-o como a wm cdo”. Noutras, sao tendéncias vitoriosas na sintaxe da lingua moderna, como é 0 caso do objeto direto expresso por pronome pessoal ténico, sempre preposicionado na lingua li- teraria: “Quem vos ouve a mim ouve” (Cfr. 0 arcaico “quen vus ouve, min ouve”). (NuNES, Crestomatia Arcaica, 26, apud SOUSA DA SILVEIRA, Ligées de Portugués, 4° edigéo, pag. 128). Exemplo do primeiro caso, exigéncia de clareza: “{racema saiu do banho; o aljofar d’4gua ainda a ro- reja, como @ doce mangaba que corou em manhé de chuva”. (ALENCAR, Iracema, ed. do L.N.L., Rio, 1948, pag. 11). : 0 objeto indireto 6 0 complemento verbal que indica o ser em favor do qual ou em relacio ao qual Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 53 se realiza a acdo expressa pelo verbo; corresponde ao dativo latino: “Da dexteram misero”, “Pecuniam Dioni dederunt”, “Dixit Iesus discipulis suis”. Pode ser representado por um substantivo, por um pro- nome obliquo em dativo, por um pronome indefinido, etc. Quando representado por um substantivo, vem regido da preposigiio a (ou para), podendo ser subs- tituido pelo pronome lhe ou lhes: “Pelagio entio thes ordenou [isto é, ordenou a uns cavaleiros, mencionados anteriormente] obedecessem 0s guerreiros que os haviam precedido...”. (HERCULANO, Eurico, 28* edig&o, pag. 262). [V. 0 belo e minucioso estudo que, sdbre o obje- to indireto, féz RocHA Lima em Uma Preposigao Por- tuguésa, Rio de Janeiro, 1954, cap. II, pags. 15-39.] A preposicio a rege também obrigatdriamente 0 objeto indireto representado por pronome obliquo ténico, por pronome indefinido, etc., como se pode ver neste exemplo, em que também vamos encontrar um pleonasmo: “EB a mim, quem me dar& as ligdes de abismo?” (Gustavo CorcAO, Ligées de Abis- ‘mo, Rio, 1951, pag. 227). Eis agora dois exemplos de objeto indireto re- gido da preposigdo para: 54 GLADSTONE CHAVES DE MELO he “Ela [Inés de Castro] com tristes e piedosas vozes Pera o avé crucl assi dizia” (CaMGes, Lus., TIT, 124 “Compre um livro para mim”, (EVIFANIO. DIAs, Gramitica Pore tuguésa Elementar, 1921, pag. 104) O agente da passiva 6 0 complemento de um ver- bo na voz passiva. Sabe-se que o que cteriza a voz passiva é sofrer 0 sujcito a aco expressa pelo verbo. Na voz ativa o sujeito é agente; aqui, é pa- ciente. Em portugués ha trés apresentagées gramati- cais do verbo passivo: a) passiva analitica — oy seja, forma finita seguido do participio p: principal. Exemplo: verbo ser em assado do verbo “Quem com as asas angélicas desliza i Pelo infinito azul de um céu tao casto ¥0i vatizado do Jordio nas aguas...” CALPHONsUs DE GUIMARAENS, Poe- f sias, 1938, pag, 280); b) passiva Pronominal, com a pronominaliza- gio de um verbo ativo transitivo, Exemplo: Novo Manuar, pn ANALIE BINTATICA 55 “batizei-me [a p ee, Ceful batizndo] nm igreja de tio Doe (MACHADO DE Asin, Mer Pontumua do Brdn Cubas, @ eA, pag. 31); , cuscam fos sacerdotes] maneiras mil, busearm deavios que Tomé ndo se ouga [= niio #eja ouvido,}, on ™morto seja”. (CaAMOES, Lua, X, 113); ¢) passiva de infinito, ou seja, infinito com forma ativa mas sentido passivo, Exemplos: “Quantas vézes se viu em Roma ir a enforcar [= ser enforcado] um ladréio por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cénsul ou ditador por ter roubado Ua provincia!”. (Vieira, Sermées, III, Lisboa, 1683, pag. 328). “O mesmo dia os viu batizar [= serem batizados]”. (MACHADO DE ASSIS, Esai e Jacé, pag. 27). “Oh como estou preciosa, tam dina pera servir [= ser servida] e santa pera adorar [= ser adorada]!” (versos 317-319, do Auto da Alma, de GIL VICENTE, in SOUSA DA SILVEIRA, Textos Quinhentistas, Rio, 1945, pag. 300), A alma, seduzida pelo Diabo, “mira-se no espelho e nio pode conter [essa] exclamacao de amor-préprio pe Mrro 56 Grapsronn | CHA’ lisonjendo”, V. ainda Sousa DA aia Dois Au. tos de Gil Vicente, Rio, 1949, pag. 60. Na passiva analitica muitas vézes vem Geclara. do o autor da agio expressa pelo verbo e sofrida pelo sujeito., Ai temos o agente da passiva, fungio sinta- tiea de natureza completiva, e que vem regido da preposicio por ou de (esta tiltima, mais comum na ica): lingua e¢ 8 primeiras cartas do estudante... eram lidas pelas Senhoras comovidamente”. (COELHO NETO, Inverno em Flor, 1928, pags. 34-35); sentei-me na poltrona, para esperar com decéncia, com ordem, a visitante anunciada pelo Dr. Aquiles”, (GUSTAVO CongAo, Ligdes de Abis- mo, pag. 13); “O cedro pendia fulminado pelo fogo do céu”. (HERCULANO, Eurico, pag. 10); “Porém j& cinco sdis eram passados Que dali’ nos partiramos, cortando Os mares nunca doutrem navegados,” (CAMOEs, Lus., V, 37); “H4 em Franca Ua populosa cidade chi i - gada de dous grandes rios”, eee eed (FREI HErtor PINTO, Imagem da Vida Crista, 1843, pag. 193, apud Sousa pa SiLvera, Sintaze da gas bosicao DE, Rio, 1951, pag. aN ae Novo Manuva pn ANAL SINTATICA 57 Boe Sito Lourengo vo a tha afamnad to Madagiiscar 6 dalguns chamnda, (Camoes, Tus., X, 137); i one era amado dos dous g6meos]; gostavam outro tema qute:tog4-lo, pediam-the anedotas politicns de PO, deserigio de festas, noticias de sociedude”” (MACHADO DE Assis, Bsat e Jacé, pig. 133). Nos exemplos seguintes, colhidos em ALENCAR, Tracema, edicio do LN.L., pags. 6-7, ou vem decla- rado © agente da passiva, ou est4 oculto, ou ainda é indeterminado: “O livro € cearense. Foi imaginado [por mim, José de Alencar] af, na limpidez désse céu de cristalino azul... Escrevi-o para ser lido [agente indeterminado] 14, na va- randa da casa ristica ou na fresca sombra do pomar... Mas assim mandado por um filho ausente, para muitos es- tranho, esquecido talvez dos poucos amigos e s6 lembrado pela incessante desafeigio, qual sorte sera a do livro?... Receio, sim, que o livro seja recebido [agente indetermina- do] como estrangeiro e h6spede na terra dos meus. Se, porém, ao abordar as plagas do Mocoripe, for acolhido pelo bom cearense, prezado de seus irmdos ainda mais na adver- sidade do que nos tempos présperos, estou certo que o filho de minha alma acharé na terra de seu pai a intimidade e conchego da familia.” (6) Na lingua contemporanea nunca se explicita o agente da passiva, quando se trata de passiva pro- (6) Preferimos o nome agente da passiva a outros que certas gramaticas adotam, porque 6 mais simples @ su- gostivo. nominal; em contririo, a Hing clAssica 0 tommay, claro © doterminado: “HE vi quo todos os danos So causavam day mudangay [= eram causados polay mudangasy Eas mudangas, dos anos;” (CAMOES, SObolos rios, vs, 21-93 in SOUSA DA SILVEIRA, Textos Qui, nhontistas, pig. 26); “... As terras que so regam Das enchentes nildticas undosas”. (CaMmOrs, Lus., IV, 62); “E bem que diferente em traje e porte, Catarina dos seus se reconhece (Catarina 6 reconhecida pelos seus, apesar do traje diferente com que vinha]" (Santa Rita Duro, Caramuru, X, 40, apud Sousa DA SILVEIRA, Trechos Seletos, pags. 80-81). Eis um exemplo de passiva pronominal com 0 agente indeterminado, como é de regra na sintaxe atual: “Veio abaixo téda a velha prataria, herdada do meu av6 Luis Cubas; vieram as toalhas de Flandres, as gran- des jarras da India; matou-se um capado; encomendaram-se as madres da Ajuda as compotas e marmeladas; lavaram-se, Grearam-se, poliram-se as salas, escadas, casticais, arande- las, as vastas mangas de vidro, todos os aparelhos do luxo classico”, (MACHADO DE Assis, Memérias Postumas de Brés’ Cubas, pigs. 39-40) ; Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 59 “Tudo se explicou & noite, em casa da familia Santos. © ex-presidente de provincia confessou as esperangas de uma investidura nova; a espésa afirmou a iminéncia do ato.” (Ib., Bsat e Jacé, pag. 184) Estudamos até agora as caracteristicas dos com- plementos verbais chamados objeto direto, objeto di- reto preposicionado, objeto indireto e agente da pas- siva. Além désses, ha ainda uma infinidade de outros complementos que nao recebem nome especial. Quan- do é possivel, no entanto, deve-se definir 0 comple- mento, o que é fazer andlise mais completa e mais perfeita. Diremos ent&éo que em “Vieram de Sao Paulo” o complemento indica “procedéncia”, em “Lutaram com animais ferozes” indica “oposigéo”, e assim por didnte. Aqui vao alguns exemplos de com- plementos verbais dos que nado recebem nome es- pecial: “gy como se entrasse numa galeria subterranea, que conduzisse a outra galeria...” (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, Confissdes de Minas, 1944, pag. 106). “Vem para o reino dos bibliégrafos”. (Ip., ibid, pag. 107). “yolva ‘as brancas arelas a saudade que te acompanha”. (ALENCAR, Iracema, pag. 10). 60 GLapstonE CHAVES DE MELO ~ “Iracema saiu do banho”, (., ibid., pag, 11) “Trata-se de casamento”, (CotLHo Neto, Inverno em Flor, pig. 283), “Barroso falou dos netos.” (ib,, ibid., pag. 284-285), “Sbado aqui estarei”. (D,, ibid., pag. 285). “O amor e a morte nio precisam de muito espao”, (Gustavo Corcio, Ligdes de Abis- mo, pag. 13). “Desde menino eu assistia a essa luta surda”, (ib, ibid, pag. 14). “Uma noite eu pensava em ti”, (ALPHONsus DE GUIMARAENS, Poesias, pag. 327). Do mesmo modo que para o sujeito, complementos é constituido por um subst isso, desempenha essa tantivada ou qual clusive, é claro, introduzida por © nticleo dos tantivo. Por subfuncio uma palavra subs- quer equivalente de substantivo, in- uma ora¢do subordinada substantiva, uma conjun¢io integrante. Aqui te- mos nto do verbo falar exercido pelo ad- Jetivo substantivado estranho: Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 61 “Mas o ue ni i pees q fio era natural, continuou ela mudando era atreversme a falar com um estranho”, (MACHADO DE Assis, A Mdo e a Luva, Rio, 1907, pig. 31). Em seguida transcreveremos dois exemplos de objeto direto representado por uma oragiio subordi- nada: ‘Nao sei se Ionge ou perto surge o pérto: Sei que aos poucos me morro em calmaria”. (ALPHONSUS DE GUIMARAENS, Poesias, pig. 335). Finalmente, alguns exemplos de outros comple- mentos também representados por oracdo subor- dinada: “As aristocracias concordaram em que éle tinha uma certa linha” — “José de Sousa queixou-se A policia de que Ihe furtaram o relégio e corrente de ouro” — “Suspeita-se de que tenha havido crime”. (exemplos de MARIO BARRETO, Através do Diciondrio e da Gra- matica, Rio, 1927, pag. 150) “_., se compungia de que os seus pecados passassem acima da sua cabega”. (BERNARDES, Nova Floresta, V, 1728, pag. 216). “Como se esquivasse de falar-Ihe, a moca dirigiu-se a éle e insistiu para que freqiientasse sua casa.” (ALENCAR, Senhora, ed. cit., pdg. 229). 62 GLADSTONE CHAVES DE MELO Quero convencer-te de que nunca fui tao sincero,» “Quer (MALBA TAHAN, Céw de Allah, 11* ed., Conquista, Rio, 1957, pag” 93). Cabe agora falar do predicado verbo-nominal ou misto. Trata-se de predicado constituido por um verbo, mas cujo significado sé se completa, sé se in- tegra com um elemento de referéncia nominal, tipo predicativo, chamado complemento-predicativo. Tal complemento-predicativo tanto pode referir-se ao su- jeito como ao objeto, e distingue-se sempre do atri- buto circunstancial — com que, no entanto, tem in- tima afinidade —, pelo fato de ser necessdério & com- preensao do predicado, ao passo que o atributo cir- cunstancial é acessério, meramente explicador, elu- cidativo, Da caracterizagSo jA se concluiu que temos de considerar;: a) 0 COMPLEMENTO-PREDICATIVO DO SUJEITO: “Estévio mostrou-se surdo, fol ficar com a Be © © mais que Ihe concedeu dia para lé-la depois,” (MacHADO pp ASsIs, Contos Flu- minenses, Garnier, Rio-Paris, s/4, Pag. 117), Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA “Os portuguéses primeiro se chamados) tubales ... e sitanos:” chamararm depois charnaram-e (ViEIRA, Sermées, Il, 16%2, 131). “De So Lourengo vé a ilha afamada, Que Madagascar 6 dalguns chamada”. (CAMOES, Lus., X, 127). “Nas ilhas de Maldiva nace a pranta No profundo das dguas, soberana, Cujo pomo contra o veneno urgente E’ tido por antidoto excelente”. (ID., ibid., DI, 136). b) © COMPLEMENTO-PREDICATIVO DO OBJETO: “um fraco rei faz fraca a forte gente”. (1b., ibid., TH, 138). “tinha a cabeca rachada, uma perna e 0 ombro par- tidos” . (MACHADO, Quincas Borba, pag. 9). “Os vencidos, testemunhas do regozijo piblico, julgararn mais decoroso o siléncio” (., Memérias Péstumas, pag. 39). “Em suma, o discurso era pom, Santos achou-o ez- nte.”” eer (Ip., Esat e Jacé, pag. 129). ft oF GLapsToNE CHAVES DE MELO ss ganrone cunen Mn “ ha os olhos fizos em mim, © com um gosto (1b,, Contos Fluminenses, pag “A rainha Sab4 chamava bem-aventurados 0s que ser. viam el-rei Salam&o em sua presenca”. (Vitra, Sermées, V, — VII da Anchieta —, 1689, pig. 838), (7) Muitas vézes o complemento-predicativo do su- jeito ou do objeto vem regido de preposicio, Exemplos: “Eu, Mamertino, prezei-me de zelozo adorador dos idolos”, (BERNARDES, Nova Floresta, V, pag. 5). “... supondo que, se lhe faltava esta lima [a convivén- cia com o préximo], nio dava por certo ou perfeito o seu polimento”. (D,, ibid., pag. 29). (7) O verbo chumar apresenta uma construcio sin- gular e digna de nota: pode receber objeto indireto com complemento-predicativo. Talvez se trate de alguma con- taminacdo, porque o sentido do verbo Ppostularia objeto di- reo due éle tem, noutra sintaxe — chamd-lo tolo, chamd-lo de tolo, chamar-the tolo e até chamar-lhe de tolo, Mas a lin- fomcit® € losica e sim produto histérico da atividade do homer todo, ser complexo e misterioso, lxemplos. da cons: trucdo apontada: “para isto Ihes dé Cristo por titulo o mesmo (yingr G4 sua obrigactio, chamando-Ihes luz do. mundo” (VIEIRA, Sermées, II, 1682, pag. 129); “A Pedro chamou-lhe Cristo cephas, pedra” (Ip,, ibid., U, pag. 131). Assim 0 Dor prey thor ir ao p cone: prefer de hoje. proclam de Inés © que P Novo MAnvan pe ANALISA SUNTATICA imo féz animosamente Jeremias, porque era man- dado por pregador regibus Iuda et principibus cius” (0 autor grifou o latim). (VinirA, Sermées, III, 1683, pag. 352). “e n&io podem estar tio cegos que néio tenham por me- Thor ir ao paraiso”. (I. ibid., pag. 358). Na lingua literaria, sobretudo a classica, tal conectivo aparece em situacdes ou construcdes ou preferéncias, desconhecidas na linguagem coloquial de hoje. E’ o que vemos em: “arrancam das espadas de ago fino Os que por bom tal feito ali apregoam”. (CaMOrs, Lus., TIT, 130). O feito que os conselheiros do rei consideram, proclamam, apregoam “bom” é a morte, a execucio de Inés de Castro. “N&o o julgava a lei por impossibilitado a restituicio, nem o desobrigava dela”. (vinma, Sermées TI, 1683, pags. 820-1). “e quer que @ crea eu e que tenha por bom e acertado o que me manda, quando assi me desempara”. (Fret Luis pe Sousa, Vida de D. Frei Bertolameu dos Martires, I, Lisboa, 1857, pag. 61). Ys GLADSTONE CHAVES DE MFio — OT Bertolameu] foi eteito em prion “Como [Frei apict 0 vente 2 ‘§. Domingos ¢e& Benfica, € como se Tout? &n .* ~ " cargo” (Ip, ibid., pag. 37, 7 E capitulo V do livro I), Pigrate a amado da rainha Dona Catering 3 fe nomeado por arcedispo de Bragg (p., ibid., pag. 44), “Como fol ch tre Fret Bertolameu HI. Dos outros térmos da oragio. Tratamos até agora dos térmos essenciais dg oracgiio — sujeito ¢ predicado —, €, ao estudarmos 0 predicado, vimos que néle sé podem figurar como elementos integrantes ou como elementos completi- yos o nome predicativo (integrante), e os comple- mentos do verbo (objeto direto, objeto direto prepo- sicionado, objeto indireto, agente da passiva e outros sem nome especial). Resta falar dos outros térmos — completivos, acessorios, ou alheios & estrutura da oracio — dos quais ainda nao falamos, seja porque nado sao ex- clusivos do sujeito ou do predicado (podendo figurar num ou noutro), seja porque n&o se enquadram em nenhuma destas partes essenciais da cracéo. Séo ales: 2) © complements Pletivo) ; plements TT Novo MANUAL DE ANALISE Sryrhtica 67 b) os elementos acessérios da oracgio (adj tos adnominal e circunstancial) ; oS jun- c) 0 apdsto de oragéo; d) 0 vocativo [€stes dois tltimos al e10: es- “ A t tes di Itimos alheios a es. DO COMPLEMENTO DO NOME Como ja ficou dito quando se estudou o predi- cado verbal, complemento é a palavra que inteira o significado de outra. E’ térmo integrante, penetra no Amago da significagao do térmo subordinante, com o qual forma um todo semantico indecomponivel. Aplicando éstes conceitos que j4 possuimos, te- mos que complemento do nome é a palavra que com- pleta o sentido de um substantivo ou de um adjetivo. Cumpre nao confundi-lo com 0 adjunto adnominal, que por vézes tem a mesma apresentacio gramati- cal (8), porque um é integrante, outro é acessério. O complemento do nome vem regido de preposigao e pertence a substantivos e adjetivos de sentido rela- tivo, incompleto. Exemplos: to e adjunto 8) E’ o que ocorre, quando complemento ¢ estas Pegidios ‘ac de: séde de saber” . (compl.), Sea @o bronze (adjunto), “ambigao de gléria” (compl,), “chapeau de palha” (adjunto), “saudades do torrdo natal” (compl.), “ar da serra” (adj.)- GLADSTONE CHAVES DE MELO ja nfio movido “vereis amor da pétri . ase eterno”. De prémio vil, mas alto e qu (Camoes, Lus., I, 10) “da patria”, complemento de amor; “de prémio vil”, complemento de movido. “$6 Fido, que de amor por Lise ardia, No sosségo maior ndo repousava”; (CLAUDIO. MANUEL DA_ Costa, Obras Poéticas, ed. de Jo‘o RI- BEIRO,, tomo I, Garnier, Rio, 1903, pag. 110) “por Lise”, complemento de amor. “VYem-se os quatro elementos trasladados, Em diversos oficios ocupados”. (CaMOES, Lus., VI., 10). “em diversos oficios”, complemento de ocupados. “Os cabelos da barba e os que decem Da cabega nos ombros, todos eram Uns limos prenhes d’égua...” (I., ibid. VI, 17) “d’4gua”, complemento de prenhes. “le espreitava as ocasiGes, aproveitava as circunstan- clas, tinha a habilidade de intercalar o pedido em qualquer retalho de conversagdo, onde menos apropriado pareceria a qualquer outro”. (MACHADO DE Assis, A Mdo ea Luva, pag. 134) Novo MANUAL pr AN (tae B SINT ATION 69 “de intercalar o i " de als pedido...", compleme 2 rae it plemento de hae > O complemento do nome também pode ser exer- ciao por uma oracio — do que sejam exemplos: “est ; do snghtou certo que o filho de minha alma acharé na terra le seu pai a intimidade e conchego da familia”, (ALENCAR, Iracema, pig. 7). “o espirito encontrou logo seu equilibrio na convicgio de que, afinal, me chegava eu a conhecer a mim mesmo”. (RUI, Oracéo aos Mogos, pig. 15) “Sempre que tenho oportunidade, mostro os defeltos e os erros filolégicos déste sistema ortografico, na esperanga d que um dia se venham a corrigir”. 60 (SOUSA DA SILVEIRA, no prefacio da 2* edigéo de Trechos Seletos, 1935). “Informado de que havia entre as pérolas que o Rel acabara de adquirir algumas verdadeiras e outras falsus, examinou-as, uma por uma, com meticuloso cuidado”. (MALBA TAHAN, Céu de Allah, Rio, 1957, pags. 109-110). e viu que o complemen- Pelos exemplos citados s ficado de um to do nome tanto pode inteirar o signi substantivo: 1 & amor do bem.” (RUT, Oracdo aos Mogos, pag. 18) “Porque o 6dio ao mai FT GLApsToNE CHAVES DB Meta ee 70 como o de um adjetivo: “ful oficialmente informado que me deveria submeter @ exame de sade”, (Corga0, A Descoberta do Outro, 3* ed., Agir, pig. 50); ° “Abrasada de amor, palpita ao vé-las”. (MacHabo, Poesias Completas, pag. 263). > DOS ELEMENTOS ACESSORIOS DA ORAGAO Até agui temos es Puned ae temos estudado fungdes ou subfungdes antes. E’ tempo de falar nas acessdrias, que ¢X- em acidentes das idéias fundamentais, substan- ‘am, sublinham, focalizam int dD. tivo e verbo, cu intensi um térmo qualquer, principal ou secundario. Sao térmes acessorios da oragio: os adjuntos adnominais e circunstanciais — e 0 atributo cir- cunstancial. Os adjuntos adnominais se referem a substanti- vos, geumentando-lkes, enriquecendo-lhes a compreen- sAo, ou determinando-lhes a significacdo. (9) Todo adjetivo ou equivalente, desde que aumente a com- © edjunto adnominal recebe outras denominacées: adjunto limitativo, adjunto restritivo, ad- distingéo entre adjunto restritivo, empres- (9) adjunto adjeiivo, junto atribut HA até quem faca pinbutive, adjunto limitativo e adjunto tando a esses palavras um valor arbitrério. [A finalidade litar a identificagio do elemento sintatico ¢, cesta nota é faci nZo, multiplicar & terminoiogia]. oN CAVES be Mero preensiio ¢ restrinja a extensiio de um substantiyo com um esclarecimento acidental, qualquer determi- native (artigo, numeral, possessive, demonstrativo, ete.), 6 um adjunto adnominal. Ili que distinguir, insistimos, entre complemen- 40 do nome e adjunto adnominal, embora na aparén- cia n as vézes a mesma coisa: 0 complemento do nome é€ termo completivo, indispensével, penetra no 4mago do significado do térmo subordinante, com o qual forma um todo semantico indecomponivel (“de- sejo de vinganga”, “amor & patria”) ; 0 adjunto ad- nominal 6 térmo acessério, acidental, atinge sé ex- trinsecamente 0 significado do térmo principal (“pa- nela de barro”, “ar da serra”). Assim, pois, funcionam como ADJUNTO ADNO- MINAL: @) qualificativos ou expressdes equivalentes, regidas de preposicéo, Exemplos: “A dama gorda estava evidentemente satisfeita. Dizia seu nome, 0 nome do marido, 0 parentesco remoto... com um alto funciondrio dum ministério, e gostava de se sentir inserida na grande maquina administrativa do pais”. (CoRgA0, A Descoberta do Outro, 3* edico, pag. 54); b) oragées subordinadas adjetivas. Exem- plos: Novo MANUAL DE ANALISE SINTATICA 73 “A hora que vivemos 6 de triunfos e de . es 0 continente que Marti chamava “nuestra dinoneee: Pat (MANUEL BANbEIRA, Oragdo de Paraninfo, Rio, 1946, pag. 33) “nao hesitaria em trocar... a vida confortével da ci- dade pela maravilhosa e surprendente aventura de inter- nar-se... por ésses sertées maninhos onde vivem indios bravos”. (COELHO NETO, Inverno em Flor, pag. 112); e) determinativos: artigos, numerais, posses- sivos, demonstrativos, indefinidos, ete. Exemplo: “Vinte cadéveres estavam lancados por terra. — S0- bre éles no caiu o oprébrio na sua diltima hora: — disse o guerreiro depois de contemplar um momento aquéle es- petdculo”. (HERCULANO, Eurico, pags. 201- 202). “Despe-se Davi das armas, toma outra vez o sew surrao e a sua funda, escolhe cinco pedras de um ribeiro que por Sli corria, e com esta prevencio de tio pouca despesa, es- 1a campanha, faz tiro ao trondo nem aparato, pranta-se ni r gigante, derruba-o em terra, corta-Ihe com a sua prépria e: pada a cabeca, leva a cabeca ao rei e a espada ao templo, (VIEIRA, Sermées, I, 1679, col. 459). O adjunto adnominal recebe 0 nome especial de resso por substantivo nado prepo- apésto, quando é exp: : tte subordinado ao sicionado, apenas ideologicamen' térmo principal. LO ~~ 4 GLADSTONE CHAYES PR Mrio 0 apésto (também denominado apésto exptica~ tivo, ou adjunto atributivo apos 10) & pois um subs tantivo ou expressdo equivalente que, trazendo expli- caciio sdbre outro substantivo, nado se liga a éle por conectivo: “Sete anos de pastor Jacob servia Labo, pai de Raquel, serrana bela;” (CaMOES, Obras Completus com prefacio e notas do prof, HERNANI Cipape, vol. I, Livraria S& da Costa, Lisboa, 1946, pag. 193) No exemplo, “pai de Raquel” 6 apésto de Labéo, e “serrana bela” 6 apésto de Raquel. Todo térmo da oracdo representado por substan- tivo pode ter um apésto. Mas a aposigdo, que é subor- dinagao de substantivo sem conectivo, ndo se restrin- ge a isso, tem campo mais largo. Tanto que pode aparecer um apésto referido a téda a oracgdéo ou a todo o periodo: “Meu pai, a cabeceira, saboreava a goles extensos a ale~ gria dos convivas, mirava-se todo nos cardes alegres, nos pratos, nas flores, deliciava-se com a familiaridade travada entre os mais distantes espiritos, influco de um bom juntar”. (MACHADO DE ASSIS, Memé6rias Postumas de Brés Cubas, pag. 42) No exemplo, “influxo de um bom jantar” 1 rece ser apdsto de todo o periodo.

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