Lendas e Causos de Santa Catarina II PDF

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Lendas e Causos fileibe LINN a f] EL MIR BRANDT ISABEL MIR BRANDT. de San e Causos anta Catarina Il cola BASICA wil Mulde Bax Ger ‘98/0385, Sistema trons de Ensino antigo pelo Govern. TO nicipal Rua Uberaba, Sin ee pairo MUS 89." 430-000 ~ indaial 2 929 we WOW Agosto 2005 | fea 90 cou conti, Sin ately seeecmn ae tava estagnada ¢ 28 empress to triime miltar Mas que Pelas elegy, ole 406 “Sm anova Republica, passaria & Guiske poitico econemtca cee ae fortes chelas que assolaram : RE Battie de tristeza © destrulcao, raves? Diumenau, abatada pels fortes chins Sareea Glee povo que sabe. como ninguém, oot a que hoje ea 3 fazer parte mats das suas Indu ram mals fortes que e a ao ¢ transforma tude numa f¢ Si8ee a Pm marco de alegria © superae fale rian do Braall a OKTOBERFEST. Seater ¢: tar sonhos ¢ os or ene PoP vas turbulencias e percalcos deapontam of Risser soos See ea pcialal na localidade de Warnow , Idealizs”” ggande realiador, Cela ede Megtomagio inaustial e a FIEDLER € consolidada, ercilizaaio de produ Pane comprometida © superando todas a= previsees, ha 24 Freee or a eo Fitouts boa Imagem no mercado © Conquistow wing eae ee Hoje: experenci. conhecimento © recursos conquistaos candice de slate Indep eee aca conetruida que exibe uma bem montada loja er, Ext concertos mona ¢ mals 08 fla eapalnadas eM Santa Catarina. nas ciladee Joeal prea evemne: Gagador, Chapecs, She Bento do Sul, Tubario c ainda nse Eldades de Porto Alegre (RS) ¢ Sto Paulo, ‘Petruturada com parceiros de alta tecnologia, sob anélise de uma equipe de engenhetros, «etecnicos tendo como foco a tecnologia de ponta, a FIEDLER AUTOMACAO vende solugies Satu industria ¢ suas areas de atuagao sfo: geracao, tratamento ¢ distributeao de ar Pemprimide, sistemas de controle de fluids, sistemas de automagao pneumatica © ainda mecanica, moveleira, frigori Ungenharias, inddsirlas de papel cclulose e de bebidas, além do segmento plastico ¢ PR a ge ea SL ATO rte ee eiem a alegria de continuar sua trajetoria com a experiencia do passado, a estrutura do presente e os sonhos fuluros, que nunca se esgotam, para uma empresa fella de garra, Célio Fiedler Ditetor Presidente Dedicamos este livro a todos os contadores de historias. ‘As vozes anbnimas que ndo calam suas lembrangas. ‘Aos meus familiares, alunos e colegas de trabalho. A Maria Jose Ribeiro “Tuca” que me despertou para a magia da literatura. Tenbel Mir Brandt Revisao: ‘Teresinha Buan Besen, mustracoes da capa {Isabel Mir Brandt capa: Nova Letra Grafica ¢ Editora / Isabel Mir Brandt Eaitoragio e Impressiio: Nova Letra Grafica e Editora Av. Brasil, 742 - Ponta Aguda - Blumenau-SC Fone/Fax: (47) 326-0500 e-mail: novaletragnovaletra.com.br ISBN: 85-7682.0269 Ficha catalografiea elaborada pela Biblioteca Municipal Dr. Fritz Miller BSI71 Brandt. isabel Mir TLendas eeatsos de Santa Catarina tl / Isabel Mir Brandt. - Blumenau: Nova Letra, 2008, ap. il ISBN 65-7082.026-9 1 Lendas ~ Santa Catarina 2. Polelore - Santa Catarina L Tuo, Shee A COMPREENSAO DE NOS MESMOS 2 m do outro lado preciso perceber o valor de quem vei do mundo para nos ajudar a, no minimo, compre .s e nossa historia ender nossas rai Mir Brandt cresceu em Nascida na Espanha, Isat: ‘Santa Catarina tentando descobrir como e por que se gerou e se formou este estado diverso ¢ rico de causos, lendas, etnias e cidadanias. A grande contribuicao da autora para Santa Catarina, para o Brasil e para a América Latina (abrangéncia de seus estudos) esta exatamente no olhar “estrangeiro” que ela lan- ana historia deste estado e deste pais. Percebemo-nos de uma forma tal que nosso campo de experiéncia permite e nos faz olhar uns aos outros com: 08 vicios e virtudes da cumplicidade, do convivio e do coti- diano. Isabel, embora resida ha mais de 30 anos no norte catarinense, consegue, com técnica ¢ sensibilidade, ver di- ferente, ver melhor, ver sem preconceitos. Fa virtude da Professora, Mestre ¢ Doutora, que di- na raiz, no fundo, no xis da questa, snte chega mais longe. de sua vivencia como pesquisadora vinculada losofia e Educacao ~ Educogitans - do Progra. daticamei ersidade Regional de Blumenay Iggo pode ser resultado ao grupo de pesquisa Fi ma de Mestrado em Educacao da Univ (FURB), onde atua na pesquisa de Ecopedagogia ¢ Filosofia, Bavvirtude da cidada, mae de trés filhos e esposa de engenheiro, que transfere carinho, dedicacdo ¢ afeto ao trabalho que tao bem reali. Za, Aprendemos na escola o quao importante € conhecer 0 pasado, para compreender 0 presente e planejar 0 futuro. Imagino entao 0 va lor de conhecer culturas, pessoas, diferencas e semelhancas, costu- mes ¢ tradi¢es, pensamentos ¢ atitudes Besa virtude, que a autora traz em sua obra, € mais do que uma contribui¢ao para compreendermos o presente. #, na verdade, um ins- trumento para compreendermos a nés mesmos! Julio César Franco Introducao Lendas e Causos de Santa Catarina A linguagem oral é, por exceléncia, a forma de comunica 40 em que os povos manifestam suas alegrias, seus medos ¢. principalmente, se solidarizam ligando o passado ao presente. A literatura oral de outras regides brasileiras nasceu do encon- tro de trés grupos culturais: portugueses. indios ¢ negros. n em Santa Catarina, a partir de meados do século XIX, ela s¢ constituiu com a contribuicao de novas culturas como a italia- na, a alema, a japonesa, polonesa e francesa, que dao novas formas e dinamicidade ao nosso folclore. Esta obra faz parte de uma colecdo na qual o primeiro volume fol escrito em co-autoria € percorre um caminho de experiéncias vivenciadas por intime- ToS sujeitos atores/autores que, transformadas em lendas € cau- sos, constroem um imaginario da cultura popular, numa regiao de Santa Catarina conhecida como 0 Vale do Itajai ¢ que até ento, no tinha o registro escrito da oralidade folelorica cons- truida pela imigracao européia a partir de 1850. Os textos publicados sao parte de um volumoso conjunto de narrativas populares coletadas durante a execugao de um projeto que envolveu grupos de pesquisa formados por alunos dos cursos de Historia, Turismo e Artes da Universidade Regio- nal de Blumenau - FURB. Inicialmente, as pesquisas destina- vam-se a cumprir o programa da disciplina de Histéria da Arte Historia de Santa Catarina no Curso Magister de Historia!) em Brusque, cidade que esta inserida no conjunto das cidades que {fnteaae lout pm Sdueaeae por ls a formagas de prolesores das reas dftaras Go thagiateno PUBL Siadualermanicoa a no Vale do Itajai. am a partir da imigragao européla , 20 8 a ee a a foi realizar uma leitura do imaginario popu- yuo dessa pesaisa Fn ee ei une lends ecaus, continuindo para o eh Daye ne ceric cee orialexee cater nsece Reale _ mas com 0 formato artesanal que lade clentifica, @, a nosso ver, uma significativa forma de surgir entendime zada com firmeza e objetivid Jembra a literatura de cordel p ceri icagao popular do nordeste brasileiro, em que as tlustracdes em xilo- gravura cristalizam a imagem do texto, A intengio foi de materializar essa frerstura folelériea, que é o lugar que nutre as vivenelas do cotidiano ¢ se traduz como uma linguagem socialment 2 Jogica, com a gramatica e também com os padrdes éticos € estéticos formats. ‘A'mportancia desta obra € que 0 pesquisador ¢ o objeto pesquisado se identificam, porque na maioria das vezes s4o uma s6 lise das lendas ¢ causos ie aceita, descompromissada com a se completam ¢ pessoa. Essa compreensao para a estratégia de an: partiram da oralidade dos proprios alunos compromelidos com a pesquisa, obedecendo as caracteristicas principais dos elementos que compdem a Jo coletiva, o anonimato, a tra- cultura popular como: a oralidade, a aceita: dicionalidade ¢ a funcionalidade. ‘A primeira saida a campo para a realizacio da pesquisa despertou entre os académicos, em sua maioria professores da rede piiblica de ensino vindos de diferentes localidades, um grande interesse pelas Lendas ¢ Causos regionais, a partir da constatacao de que a literatura popular do Vale de Itajai em Santa Catarina néo tinha sua identidade registrada nas bibliografias mais recentes sobre folclore no Vale do Itajai. Durante a pesquisa de campo, esses professores estabeleceram em suas comunidades uma rede de interesses ¢ movimento em busca dos cle- mentos que caracterizavam o contexto sécio-cultural de cada um, na dire- do de um reconhecimento de sua propria identidade. O resultado foi sur- a mntes dos preendente, pois 0 conjunto de registros de lendas ¢ causos ainda se mantinham através da tradigao da oralicade dos descend primeiros imigrantes revelaram elementos importantes para uma leitura da identidade cultural catarinense, resultante de uma dificil, mas faseinante miscigenacao. Essas narrativas nasceram entre 0 povo anonimo que ja ha- bitava a regitio do Vale do Itajai, mesclando-se com a fantasia dos encanta. mentos e das bruxas européias através dos processos de imigracao Os trabathos académicos que inicialmente apresentavam a forma cdo cientifica foram transformados em narrativas populares. Essa fol uma ctapa dificil e também deliciosa que teve a participacao da Maria José Ri beiro que divide a autoria do primeiro volume com esta autora. Houve um processo de contacao das historias, lendas ¢ causos antes da escrita dos mesmos nas diferentes turmas de alunos onde as autoras lecionavam. ‘Acada passo, novos alunos eram integrados ao projeto, como © caso dos alunos do curso de Turismo ¢ Lazer da FURB, que se surpreenderam com a quantidade de histérias que sf contadas no dia-a-dia ¢ fazem parte do folclore de nossa regio, integrando-se ao conjunto de representaces que caracterizam a identidade das comunidades que surgiram no Vale do Itajai a partir do processo de colonizacao. O interesse pela identidade dos atuais habitantes do Vale do Itajai surgiu juntamente com 0 desenvolvi- mento do Turismo na regido, impulsionado pelas festas de outubro. O resultado desse interesse foram imtimeros trabalhos académicos publicacdes sobre 0 processo de colonizagao ¢ as origens da identidade de germanidade ¢ italieniedade da regia do Vale do Itajai"!. Mas como os interesses politicos e econémicos da regio tinham pressa na tentativa de dar uma identidade para ser “vendida’ como produto do turismo cultural, fatarnense, Sobre lore doled ajo ape tas etn populares cara ag os ‘SMEs vate peropetvasistven eens China Pssst Mart roteber ol ements Nova Late, 2000, Nessa. ora costumes do folclore alemao, ai, de boca-em. inda est Por de amigos ¢ nas esquinas, ‘os que revelam como por importar repentinamente us0s © ‘de dos habitantes do Vale do Itajal ai odas de bar, nas festas de familia, as nam as lendas © causos que Figesa ia enteet Sata anteee ON Sea Sear aemete loripta teronen cores catecee formal, como ocorre em outras FesiGes do ‘sibliograficos sobre as Jendas ¢ catisos da fe Turismo realizaram uma investi optaram, ‘A identida boca, nas ‘como campo fértil onde ge: sao, pensam, Como nao possu Iendas, optamos pela literatura di Brasil, para Viabilizar os registros regio, Numa das pesquisas, os alunos sc dag niarrativas, Descobriram que algumas len- m lendas; a realidade ¢ a gacdo sobre a popularidad das pareciam fatos reais, ¢ fatos reais parecias Fab aves arucbinlqudloadaldesrettvatedqutrissejamaycen'dade wnleal vonheciam ou se identificavam com as Intimeras vezes, os entrevistados rec’ je fantasmas, historias. "Assim, esta obra traz dezenas de histérias que falam d sres comuns, em sta maioria, que personagens historicos, homens e mulhe! habitam a meméria coletiva até os dias atuals, ¢ que levam o ouvinte/leitor mais atento a perceber o alerta quanto as questdes do cuidado com a natu- teza, oa reflexao sobre os mistérios da condicao humana diante da morte, da ambicao ou da bondade, entre outras questdes, ouvidas nas diferentes cidades de onde vieram, todas préximas do Vale do Itajai, localizadas no interior ou no litoral. Nasce, portanto, a idéia da publicagao dessas narrativas, ilustradas com xilogravuras produzidas por um grupo de alunos da terceira fase do curso de Artes da Universidade Regional de Blumenau, Sumario _ O casamento das bruxas de Lontras protetor das criangas de Sao Franciseo do Sul. 19 As cruzes de Lages O segredo do Rio Cubatao O sumico das mulas na Hansa Hamonia 29 O espirito que chora em Indaial ... 33 37 © sumico do indio em Ibirama as de Barra Velha . 41 O desterrado Manoel ¢ os pire aes de Pirabeiraba © nevoeiro dos © Buraco negro do Rio Iquererim. ‘As esmeraldas do Morro do T: ‘Assombracoes de Rio do Sul ... 5 A foto do anjo de Timbo «. 57 63 O fantasma do andar de cima. (© misterio do mapa da mesa... ‘A maldigao do rel6gio cuco.. A orquidea negra .. © Portico de Indaial e as lembrancas do velho Wigand : (© wulto negro de Ascurra A santa escrava Maria Baiana 85 85 O-casamento das; bruxas de jLontras Durante muito tempo, a Ilha do Desterro se viu.as voltas com wm determinado bando de bruxas que nao se sabe muito bem de onde vieram ¢ nem como foram parar por aqui. O fato € que elas escolheram Santa Catarina para assombrar. Sao intimeros 0s registros de sua pre- senca. Um morador da Serra Sao Miguel em Lontras sabe muito bem do que elas sao capazes, quando se aventuram a sair da Ilha ¢ excursio- nar pelo interior. O avo dele viveu, na pele, uma dessas aventuras Conta ele que seu avo Manfred, logo que comprou sua gleba de terras em 1927, contratou um agrimensor da Cia Hanseatica da antiga Colo- nia Hamonia para fazer os mapas das terras. No dia combinado seu avo e o agrimensor sairam da pequena a adentro fazer as cabana que ja existia naquelas terras e foram mat: medi¢des. Enquanto seu avo carregava dois facdes, alguns viveres © dois cobertores, caso 0 trabalho nao ficasse pronto e tivessem que passar a noite no mato, o agrimensor levava o equipamento de medi- ao, uma caderneta preta e um lapis para fazer as anotacoes necessa- rias. Levava também uma espingarda e municao para as oncas, se clas parecessem. Como havia sido previsto pelo seu av6 Manfred, 0 servico nao ficou pronto e tiveram de passar a noite no mato. O agrimensor que ja estava acostumado a dormir de qualquer jeito no meio do mato, logo pegou no sono, e também espantava qualquer bicho que se aproxi- masse com seu tremendo ronco. Tendas e Causos de Santa Catarina I! 16 conseguia pregar 08 olhos, a mata Madores, além do mais Seu cora Mas 0 seu avo Manfred 740 uisesse, nao consesuia parar de era chela de sombras e rufdos assu® cao batia tao forte que mesmo que ouvir o préprio coracao batendo- ‘As horas foram ficando cada vez ™3t ecleviu mais agitado. B foi naquela noite qu pee ee ecateenpontoe aes nem tinham escutado 0 ronco do agrimensor 1a, mas percebeu que elas traziam uma sitaram a alguns metros de s longas € 0 avO Manfr ‘as duas bruxas atravessa ia que Apavorado, nem se mexe! pedra enrolada num pano preto, que depos Seer er ae otoegatatn alemtoeagm Cano conn Gameaeicin voltaldalpedea ao) con foumete movimentapgier ae cave a a brilhar como se fosse um gran- ficando mais forte e a pedra comecou er luz propria e as duas bruxas de diamante. Logo a pedra parecia t tamparam cuidadosamente com terra e algumas folhas, até que a luz desaparecesse quase por completo deixando s6 um fiozinho que pare- cia se confundir com um pequeno raio de sol no meio da mata. As duas se preparavam para ir embora quando meu avo as ouviu dizer: - que bom que ta chegando gente nova por essas bandas, deve ter muito ganancioso por ai que vai pegar a pedra ea gente pega a vida dele. ‘Meu Avo viu as bruxas se afastarem rindo ¢ cantando alguma coisa sobre os trouxas gananciosos e se dissolverem nas sombras da Tsabel Mir Brandt mata. Ele percebeu que aquela pedra era uma armadilha para roubar a vida das pessoas que tentassem pega-la pensando ser alguma coisa valiosa, Antes que o agrimensor acordasse, meu avo Manfred tratou de cobrir mais ainda a pedra com terra, e empilhou algumas madeiras tentando disfarcar o lugar onde a pedra estava. Logo que 0 agrimensor acordou, ficou feliz dizendo: - Que bom Manfred que voce ja preparou uma pilha de madeira para fazer 0 fogo do café, deixa que eu ateio fogo. Por essa meu avo ndo esperava, desesperado sem saber o que Podia acontecer com ele, meu avo pegou o facdo e ameacou cortar a mAao dele se ele se aproximasse daquela pilha de madeira, mas para sua surpresa o agrimensor pegou a espingarda e mirou no meio dos olhos do meu avo ¢ foi avisando: - Deve ter coisa muito boa ai escondida, deixa-me ver, senao leva tiro. Meu avo percebeu que nao podia fazer nada que sua vida corria perigo, se afastou o tanto que o agrimensor pudesse chutar com os pés as madeiras, e depois mirando sempre a pontaria da espingarda para 0 peito do meu avo comecou a cavar com os pés até que perce- beu o brilho da pedra. - Bntdo era isso que vocé estava escondendo, um diamante. Mui- Lendas @ Causos de Santa Catarina I! 17 18 pagamento do mex iste eur tevo PFO igual as das duas bry to bem deve ter outros por om virou ped Jo, as risad: mbras Pe rvico. Meu sem brilho. B també saindo das sombras da mata. UM avo ¢ ele sentiu o pior dos seus medos: anos de vida pela vida de um trouxa ganancios® Ss mreblevolacoutaceraneradoncomon mata mem. © pessoal da Cla Hansedtica podia achar a® ele ti omeniculqualquerioutratcolsay Dias an aiitan meu avo foi até sede da Colnta Haménla para tentar se explicar, mas foi cle que rece 9 home 6 viu quando @ ém ouviu, horroriza¢ Be ete con na das $0 assou F neu disse quando car 0 sumico do ho nha matado 0 Diretor da Cla se desculpou pelo fato de o beu a explicacao quando 0 oo trabalho para ir casar com uma linca agrimensor ter abandonad moca de Florianépolis que tinha vindo busea-1o- Jos arredores de Lontras quando alguém. avo olhava desolado para e repetia: De vez em quando, I4 pel dizia que ia pra Florianépolis se casar, meu as pedras que apareciam nas encostas da serra - mais cem anos. Isabel Mir Brandt OoDprotetorodas criancascde; Sao = Francisco;do Suls Um velho pescador de Sao Francisco do Sul que mora perto do Forte, ainda guarda um Iengo de seda que cle diz ter pertencido a Dona Maria de Sanabria, mae do primeiro catarinense chamado Fer- nando que chegou a ser bispo. Esse Ienco tem a imagem estampada de um recém-nascido, feita com 0 préprio sangue do parto de Dona Maria ¢ que ela deixou com um desterrado para ser abandonado em Babitonga, antes de seguir pelo caminho do Peabiru até o Paraguai. Dona Maria pediu para 0 desterrado que ele protegesse 0 pequeno lenco ¢ nao deixasse que nenhuma mulher o Ievasse. Junto com 0 lenco Dona Maria deixou uma carta que explicava o porqué daquele pedido tao estranho. Muitos anos mais tarde, a carta e o lenco foram desenterrados do seu esconderijo, quando o pescador foi cavar um poco no seu quintal. Ele ficou admirado com o teor da carta e passou a protegé-la até da esposa ¢ da filha. O segredo da carta € sobre 0 que ocorreu com a expedigao de Joao Sanabria: os naufragios, as desavencas © os suces- sivos fracassos da expedicao, bem como 0 casamento de Hernando de Trejo com Dona Maria e a sua gravidez. Alguns trechos da carta estao apagados pelo tempo, outros pela tinta difusa pelas lagrimas que parecem acompanhar as palavras. Dona Maria fala de uma misteriosa mulher que apareceu num dos navios da expedicao. Ninguém a viu embarcar, mas provocou um motim entre os marinheiros que foi condenada a morte e jogada ao mar. Foi resgatada por outro navio que naufragou mais tarde nas costas de Laguna, po- Lendas € Causos de Santa Catarina 1 21 1a chegado a Sao Francisco ¢ Fot acothie wiveu € conta-se 4 no bote, sem A se volt entregu rém ela sobre Sul sozinha num peat por um fidalgo da expedicao 4° A mulher pede a Dona indo pertenc abendo que as bruxas f do parto, preparou um s erianca assim que nascesse, mas n igo com a imagem 4 yasse 0 lenco € 0 en janga que roub: snhuma outra mulher pudess/ ‘contra todos para protege conhecem 05 rece madill cidos pelo cheiro do sangue erlang prometeu que entreg de 0 que ela mandou foi o le pediu a um homem de confi num lugar onde aquela bruxa ou ne! contra-lo. © velho pescador disse que desde aquele tempo, em Sao F cisco do Sul, sempre que nasce uma crianga a bruxa val até ela atr pelo chetro, mas nao a leva embora porque nao reconhecesse a tm gem do len¢o. Asceruzes de Lagess Muito antes da chegada dos europeus em solo catarinense, 0S indios utilizavam um caminho chamado de Peabiru que comecava em Barra Velha e chegava em Assuncao no Paraguai. Em algum trecho dessa estrada, existe uma cruz de cem quilos de ouro enterrada. Esse caminho também foi utilizado pelos Jesuitas espanhéis que fugiram quando foram derrotados nas missoes. Contam os descendentes dos guaranis que, na fuga pelo cami- nho de Peabiru, os jesuitas iam escondendo 0 ouro das missbes den- tro de cruzes de madeira que iam fincando pelo caminho, como se fossem para assinalar os pontos de um mapa que ia sendo confeccio- nado durante a fuga. Quando as terras de Santa Catarina deixaram de pertencer a Es- panha € passaram a pertencer a Portugal, os portugueses passaram a arrancar as cruzes e a joga-las nos riachos ou nas ribanceiras, acredi- tando tratar-se apenas de sinalizacdes das posses espanholas. Sabendo que os portugueses nao haviam percebido que 0 ouro estava escondido dentro das pequenas cruzes que fincavam pelo ca~ minho, 0s ultimos jesuitas que abandonaram as terras das nascentes do Rio Itajai confeccionaram uma grande cruz feita de araucaria, onde esconderam cem quilos de ouro e a enterraram em algum lugar perto da Igreja Matriz de Lages. Ali esta protegida até que alguém encontre o mapa com 0 local exato onde a cruz esta enterrada. Dizem alguns cagadores de tesouros que o mapa é um enigma que deve ser decifrado na propria arquitetura dos alicerces da Igreja. Lendas @ Causos de Santa Catarina 11 O:segredo do Rio Cubatao Em Joinville, tem uma localidade chamada Vigoreli. Muitos pes- cadores do Rio Cubatao, nesta localidade, conhecem as ruinas de uma construcao do tempo dos jesuitas ¢ sabem também o que acontece quando algum aventureiro se arrisca a procurar 0 tesouro em joias que muitos dizem ainda estar enterrado perto das ruinas. Os pescado- res das margens do Rio Cubatao que se aventuraram na busca do tesouro, de um dia para outro sem dizer nada a ninguém simplesmen- te se mudaram de la. O que acontecia ninguém sabia dizer. Foi um grupo estudantes da Faculdade de Engenharia de Joinvi- lle que resolveu construir um detector de metais e se aventurar na busca do tesouro. Acamparam as margens do Rio Cubatao ¢ passaram um final de semana testando 0 novo equipamento. Apesar de terem enfrentado uma noite de chuva intensa com fortes rajadas de vento que nao deixou os jovens dormir nem por uns minutos, nao desistiram. do seu intento. No final da tarde, finalmente encontraram uma peque- na caixa enterrada com algumas joias de enorme valor e um pedaco de pano que parecia ser um mapa com a localizagao de outras caixas de joias. Como as intensas chuvas que caem em Joinville néo deixavam que os jovens continuassem em sua busca ao tesouro, decidiram en- terrar a caixa novamente e voltar outro dia quando 0 terreno estivesse mais seco. No dia marcado, la estavam eles desenterrando a caixa do Lendas Causos de Santa Catarina 27 Jado, 0 que encontram fot y, eebeenlcn ce atens, 2 Urea an mas como um deles ainda ate acusagoes entre eS TUE otras calxas oo oe resolveram prg. tir quem tinha roubado o artede "eles tinham encontrado mais ag fatwas, 86 que dest ram debaixo da barraca que ele, tinham armado para noite, onde todos iriam dormir e, portan, to, 9 contetdo das caixas TAO poderia ser roubado. No dia ee rap arraca e desenterraram a5 Calas, © que € Mase duas cruzes de madeira, quando desmontaram ‘cha dentro das digs canes crane as caixas com 0 contetido € as jogaram “assustados pegaram as tré: dentro do Rio Cubatdo. B fol ness© momento que viram trés cruzes q Suro bailando no fundo das aguas. Um deles mergulhou imediata, once ii ao lo Cubatao para pegar 0 OU7O, mas fol arasta a ig foi encontrado ou se ouviu falar dele, a mati tros que procuram por esse tesouro. ferir 0 conte da primeira a vez me pela correnteza e nunc im como todos os out Isabel Mir Brandi O:sumi¢o das mulassna Hansa Haménia Em Tbirama, antiga Colonia Hansa Hamonia, tem um lugar cha mado Volta Fria, onde ha muitos anos sumiram as mulas: No inicio do século XX, a Colonia Hansa Hamonia atrai colonos pela sua riqueza em madeiras nobres ¢ a promessa da cons trucao da estrada de ferro, Mas enquanto a estrada de ferro nao vinha, 0 jeito era fazer o transporte dos suprimentos para a colonia no lombo de mulas. ia muitos As companhias de tropeiros, como eram chamadas, eram famo- sas € esperadas com muita ansiedade, pois além dos viveres que trazi- am, vinham as cartas dos parentes e amigos que ficaram em Blume- nau, ja que as cartas que vinham da Alemanha os colonos tinham de vir buscar na Administracao da Colnia. Mas 0 que as mocas mais esperavam eram os tecidos. Ter um vestido novo na préxima festa da Colonia, podia significar um futuro casamento. Um dia, veio a noticia de que uma importante companhia de tro- peiros estava para chegar trazendo tecidos e desenhos das novidades em moda que se usavam na Alemanha. As mulheres enlouqueceram € foram falar com o Pastor Aldinger para que este organizasse uma festa para receber a companhia. Todas queriam ver os tecidos e escolher um corte diferente do outro, para que nao tivessem 0 desprazer de irem com 0 mesmo modelo na domingueira que seria organizada para estrear os novos vestidos. Estavam todas reunidas na igreja quando chegou a noticia. “As mulas sumiram na volta fria". E com elas toda a carga de tecidos e desenhos de moda. Lendas © Causos de Santa Catarlaa 31 32 mulas sumiram? Quem Como as. ‘ens que condu. ‘Uma grande confusao se formou. sumiu com elas? Onde esto os tecidos? Cade 08 BA ziam as mulas? Tinha gente que jurava ter visto & 1707! Hereilio em direso a Dalbergia, onde as mulneres esv2¥502 reuntdas, Mais tarde o diretor da Colonia José Dekee * ecebeu uma carta a Alernanha podindo expcayoey wore Sane” mulas € dos sopcirod "a eartalcorntsl resposta eon esis Ce arquivada no Arquivo Publico de Hamburgo, onde se 1é: “As mulas ¢ os tropeiros sumiram na Volta Fria” a seguindo 0 Rio Tsabel Mir Brandt Ovespirito que: chora em Indaial Durante os treinamentos que os “milicos” do ....Batalhao de Blu- fenigattfazem as margens do Rio Itajai em Indaial, acontecimentos mis~ Manes ocorrem € que poucos ousam contar. Mas fol o Sargento Willi- an due fez 0 relato ao seu comandante, na esperanca de que 0 local de fremamento fosse mudado para que tais fatos nao ocorressem mais. ~ Comandante, a gente avisa... mas os milicos nao tomam jeito.. entao é melhor mudar de local. Toda noite quando seleciono quem vai Acar de guarda, ¢ um problema. Os recrutas mais medrosos preferem Acar presos no Batalhao a ficar de guarda durante a noite: ¢ os recru- tas metidos a corajosos sempre se dao mal. E todos dizem que a meni- Es chora a noite inteira e s6 sossega quando algum recruta cai dentro lo rio, Diante do espanto do comandante,/o Sargento Willian explicou que ha muitos anos, a regiao era chamada de Indaia pelos indios/ Foi na época da Guerra do Paraguai/quando os recrutadores dos Volunta- nos da Patria passaram por Blumenau, que alguns jovens que nao queriam ir para a guerra se esconderam nos palmeirais de Indaial com a ajuda dos indios que viviam na regiao. Mas os recrutadores vieram atrés, pois sabiam que os jovens eram bons armeiros e atiradores, j4 que todos freqiientavam os clubes de caca e tiro onde treinavam suas pontarias. Essas habilidades eram muito valiosas na guerra/ Quando os recrutadores chegaram, houve muita confusao, brigas e correria na aldeia./Uma indiazinha apavorada resolveu se esconder entre as pe- dras do rio, énde ficou presa e exausta de tanto lutar para se soltar do Lendas ¢ Causos de Santa Catarina 1 35 meio das pedras pegou No Sono Naquela noite, caiu uma chuva to rencial elevando as aguas do Tie Itajai e cobrindo 0 corpo da indtaat nha. Seu corpo nunca fot ‘encontrado, entao os indios pediram a Tupa que 0 Rio fosse um lugar sagrado, onde seu espirito repousaria. “ tarde, apareceram outros soldados que faziam quela regio ¢ que despertaram 0 pequeno es- nora, apavorando durante a noite. E quando do rio Itajai formam corredeiras Muitos anos mais manobras de guerra na‘ pirito da indiazinha que c alguém se aproxima dela, as 4guas tentando proteger seu pequeno espirito. PE Isabel Mir Brandt Ossumico do indioo em iIbirama, Em Ibirama, antiga Colonia Hansa Hamonia, quando Eduardo Hoerhmann pacificou os poucos indios que sobreviveram aos longos anos de confrontos com os colonizadores das terras do Vale do Itajai. ele os reuniu numa reserva em José Boiteux, chamada Duque de Ca- xias para homenagear seu t1o-av0. Quando vinha alguma autoridade do Rio de Janeiro, de Florianopolis ou mesmo de Blumenau visitar 4 Colonia, ele gosiava de mostrar como tratava os indios sob sua tutela. Foi numa dessas visitas de autoridades, que geralmente eram acompanhadas de uma grande festa, que o Eduardo trouxe um grupo de indios até a sede da Colonia para exibi-los ¢ participarem do ban- quete. Um velho indio, ja cansado da viagem e depois de comer alimen- tos que nao estava acostumado e beber muita cachaca, passou mall vindo a falecer no final da tarde. Como a viagem de volta até a reserva fosse muito longa e cansativa, ainda mais levando um corpo, 0 Eduar- do resolveu enterrar 0 velho indio debaixo de uma figueira que ficava fora do cemitério, pois naquele tempo, quem nao era batizado cristao ou cometia suicidio nao podia ser enterrado dentro do cemitério. Era um costume cristao levar flores nos fins de semana para en- feitar os ttmulos dos entes queridos. Na Colonia Haménia, 0 sabado era reservado para essa atividade, j4 que 0 Domingo era para ir @ mis- sa € apreciar os timulos floridos. As flores da semana anterior geral- mente jam parar no lixo, mas a Frau Schultz, com pena do pobre indio, recolheu as flores que ainda estavam em condicées € ja no inicio da Lendas © Causos de Santa Catarina Il 39 40 ya onde o indio tinha jue sinaliza’ i eqnaiaride custo, quandono missa ¢ grita: toado de terra a ira a ympe a noite enfeitou 0 amon! sido enterrado. E fot ela a prime! domingo seguinte, o coveiro Interro = 0 indio morto sumiu! 1, 56 conjuragoes d= come © corpo podia ter cuasao, cou combinad) Jee ninguém| ‘9 Eduardo, ja que ele tinha ara seus indios. B jum mal P ‘a quem tinha surnido jevasse tiro por conta Nao teve mais miss: sumido. Depois de horas de disc diria nada sobre o sumigo do corpo para ameacado dar um tiro em quem fizesse alé' Lad aizlal cic Gimnrialis comompinevem san com 0 corpo, era possivel que algum jnocente disso. Nas semanas seguintes, 25 sensores)o4 Colonia se revezavam Seg ee oc re sobre 0 as- sunto. Meses mais tarde, Eduardo voltou a Colonia & ao passar pela figueira pergunton ao administrador da Colonia que ® acompanhava: no buraco que eu dei- naquela noite? = Quem € 0 suicida que vocés enterraram xei aberto, quando vim buscar 0 corpo do indio Tsabel Mir Brandt Oidesterrado Manoel e os. O plano consistia em acender uma fogueira no alto do morro do: Cristo para confundir os timoneiros des navios que se aproximavam pensando ser um pedido de socorro. Um dia chegou um boato, por piratas que faziam trocas com © Manoel, de que uma das mais preciosas cargas ja vistas nestas redon- dezas estava para chegar, mas que s6 seria negociada com homens de bem. Um grande esquema de ataque foi arquitetado pelo Manoel com a ajuda dos piratas, que depois de abordarem o navio, mataram toda a tripulacdo para nao deixar testemunhas do saque. Mas 0 navio logo afundou levando a preciosa carga para o fundo do mar. Tendas © Causos de Santa Catarina 11 43. 44 ar com os indios fot © Manoel que havia aprendlid ahead primeiro a se aventurar ao interior ido navio © 14 TV punhado de ae eu cage acne one ees indas jovens que vinharaidaEutObA Pia se case? U7as as outra: Colonia e que tinham morrido afogadas abracadas 4) : ‘aye que UNC tos daquelas JOv ge atiramn contra as TO- Al vetha a vao pescar Iguns pescadores de Barra ens ainda se naquelas rochas a noite, porque 05 °SPI" deotenne fndomper sett cara chas do costao. Tsabel Mir Brandt O:nevoeiro dos alemaes dé < Pirabeiraba © Sr. Manske, que morou muitos anos em Pirabeiraba num tre cho da estrada Dona Francisca que liga Joinville a Campo Alegre, dis- se que por 1 aconteceram fatos que nos levam a acreditar que €55@ estrada é habitada por fantasmas. Foi no tempo em que a estrada era chamada de Trés Barras, ha muitos anos na recém-fundada Colonia Dona Francisca, onde os pri- meiros colonizadores enfrentavam a falta de recursos para fazer PFOS~ perar a Colénia, além das constantes chuvas que transformavam 0s terrenos em pantanos, que dois jovens alemaes se aventuram a subir a pé a Estrada de Trés Barras, para estabelecer trocas de mantimen- tos com algumas familias de brasileiros que habitavam a regiao de Campo Alegre, Qs dois jovens foram aconselhados por um guia brasileiro, que recebeu 7 mil réis e 23 vinténs, a fazer a viagem durante os meses de inverno para evitar as chuvas de verao que dificultariam a viagem. ‘Como os jovens desconheciam a regiao e tentando se acostumar ao forte calor dos tropicos, empreenderam a viagem com apenas a roupa do corpo, pois qualquer carga adicional sé iria cansa-los durante 0 trajeto. Quando os jovens chegaram a uma localidade chamada Res- tinga dos Tigres, foram surpreendidos por uma tempestade de neve. O guia brasileiro que estava um pouco distante dos jovens correu para uma gruta a fim de se proteger da nevasca e perdeu-os de vista. No dia seguinte, quando o guia foi procurar pelos dois, encontrou-os abraca- dos no meio de um riacho totalmente congelados. Sem saber 0 que Lends © Cauzos de Santa Catarina I a7 48 fazer, achou que se fizesse Ww em vez disso, transform: aregiao. Até hoje, os viajantes ™ cisca quando sao surpreendidos P os Jovens alemaes evaporande or um deria di forte never! jescongel es da Estrada -los - Mas iro que cobriu toda Dona Fran- dizem que veer Teabel Mir Brandt O=Buraco negroodo Rio Iquererim No inicio da Serra do Mar, no trecho conhecido como Serra Dona Francisca, ha um rio chamado Iquererim. Bm seu leito, tem um buraco negro que muda de lugar desde que um burro carregado de ouro afun= dou com a cobicada carga. Toda a comitiva de tropeiros que era comandada por Kaspar. gue negociava gado na Colonia de Campo Alegre, viu 0 burro afundando no buraco e, logo em seguida, o rio ficar raso novamente. Mas, um dos tropeiros desconfiou que poderia ser um truque para que o Kaspar ficasse com todo 0 ouro dos negécios ¢ nao pagar a tropa. Assim, sem que ninguém percebesse, marcou 0 Iugar € voltou alguns meses mais tarde para buscar a carga, Para essa busca, primeiramente cortou a mais alta taquara que encontrou para medir a profundidade do buraco negro. Fazendo as medi¢es da margem do Iquererim, observou que 0 buraco nao tinha mais do que trés ou quatro metros. Em seguida, amarrou uma corda num tronco préximo e na sua cintura para buscar 0 ouro que era tanto € to pesado que ainda devia estar no fundo do buraco. Ao mergulhar, bateu com a cabeca no leito do rio que nao tinha mais que um metro de profundidade. © buraco tinha desaparecido e surgido em outro lugar. Muitos moradores da regiao falam da existéncia de um velho lou- co, que ninguém sabe exatamente onde mora, mas que todos os dias anda de la pra ca pelo leito do rio Iquererim, com uma corda e uma taquara, batendo com a cabeca nas pedras do fundo do rio. Lendas ¢ Causos de Santa Catarina 1) Ascesmeraldas-=do ‘Morro do, Taié Existe uma espada de ouro totalmente cravejada de esmeraldas que Cabeza de Vaca mandou fazer para presentear o rei da Espanha. como agradecimento por ter sido nomeado Governador de Buenos Al- Tes. Segundo relatos, essa espada teria sido roubada, pois dentro do punho tinha o mapa com a localizagao de um tesouro em esmeraldas que dizem estar escondido no Morro do Tai6. Os ladroes da espada mandaram fazer varios mapas falsos que iam sendo roubados por ou- tros homens que cobicavam esse tesouro para se lancar na sua procu- Ta. Poucos aventureiros conseguiam voltar. Alguns enlouqueceram, outros ficaram mudos ou cegos. O que se sabe é que todos aqueles que chegaram a possuir a espada por um tempo morriam de forma misteriosa ¢ logo apés sua morte, a espada desaparecia vindo a apare- cer anos mais tarde nas maos de outro aventureiro. Alguns anos atras, uns mateiros que trabalham na regiao procurando arvores para uma grande madetreira encontraram uma ossada humana abracada a uma cruz de madeira coberta de musgo verde como a cor das esmeraldas. Lendas © Causes de Santa Catarina I 53 Assombrac¢ées-de-Rio. do Sul Num diario deixado por um homem chamado Pedro, que d¥7 ser filho ilegitimo de David Canabarro e que morava nas redond: de Lages quando essa cidade ainda era uma pequena Vila ¢ que 5© integrou a cavalaria formada para a tomada de Laguna, relata que em uma de suas andancas de reconhecimento pela regiao onde hoje fica @ cidade de Rio do Sul, Pedro se viu as voltas, pela primeira vez navvida, com uma assombracao. ‘Seu grupo era formado por oito soldados, cinco escravos guara- nis e uma india da tribo dos Xoklengs que tinha sido capturada duran- tea viagem e que seria vendida quando voltassem Vila de Lages. Quan= do caminhavam pela picada aberta no meio da mata, encontraram umn hhomem velho que Ihes ofereceu abrigo ¢ alimento em sua casa que ficava a alguns metros dali Na casa, foram recebidos por uma familia alegre. Havia eriancas que brincavam num canto e uma simpatica senhora que cozinhava pinhées numa fogueira feita no meio da casa, que servia também para iluminar e aquecer. Em volta da pequena casa, uma plantacdo de mi- Tho e mandioca estava no ponto da colheita. Naquela noite, depois de todos comerem os pinhées foi servida uma bebida forte que todos to- maram e logo em seguida adormeceram. Na manha seguinte, quando acordaram, viram que estavam dor- mindo no meio do que restou de uma casa em ruinas que ha muito Lendas e Causos de Santa Catarina 1 55 56 por perto. A planta eles U- a tritha a4 tempo tin! tempo tna sido queimada,¢ no Navid ninguem volta da casa era s6 mato ¢ até a pequen: nham seg X -guido até a casa tinha desaparecido- damente dali € ando fagir duran| india, mas fol aborciado ‘abrigo em sua casa © em idade de casar- O Quando 14 ‘uma fami- Apavorados, os homens fugiram rap! ge esquece- te a noite, arcade agama amarrada par ae pooner voltar para buscar Bon un, velho noua aide picada que ofereceu See ee ee linda filha que estav eRearain Soa enabalee (rater cCloD acess atta shinies jo viu a mesma casa com a5 plantacoes. 2 sm india que Ihe sorria ao lado do £089: ey oom cen do retorno do soldado, © ontecendo. Ao se aproximarem das ruinas ver o que grupo resolveu viram um da casa, tratar de uma casal abrat toca nee que ardia em chamas. Por julgarem se que 0 soldado e a india teriam sido mortos queimados, se ¢ surpreender 0s as- esco1 Set enar eee pa para planejar um ataque Cae ee a ee a ‘no se aproximarem da casa, viram Wma eee fa algumas espigas no milharal € cantando depo- que um soldado e uma jovem india seguravar: Teabel Mir Brandt AAffotocdo anjo de: Timb66 Algumas familias descendentes dos imigrantes italianos ainda guardam fotos de anjos. Esses anjos um dia viveram no meio de suas familias, mas a morte os levou muito cedo para 0 além. Para virar anjo. era necessério morrer ainda crianga, antes dos sete anos quando 0 pecado original sequer tinha se aproximado ou morrer jovem e virgem, © a santidade do anjo cra do tamanho da Tuta que a jovem virgem enquanto viva travara para se manter pura. Quando uma dessas mortes atingia tragicamente uma familia, Jogo vinham as recomendacoes antes do enterro: € preciso tirar foto do anjo no seu leito de morte. Onde quer que houvesse uma igreja catoli- a, ou colégio de freiras, ou uma casa paroquial, sempre havia uma caixa com as roupas dos anjos. Eram tuinicas de um branco impecavel que deixavam de fora apenas 0 rosto e as maos. Os cabelos eram ador- nados com uma coroa feita com flores de papel crepom ¢ cera ¢ dava 0 tom angelical ao corpo inerte pela morte. Os corpos dos anjos vestidos eram colocados cuidadosamente sobre a colcha da cama impecavel- mente arrumada ¢ 0 fotografo registrava a imagem do anjo. Assim, os anjos nao jam embora, ficavam para sempre na memoria de quem tan- to os amava e, aos poucos, a fé na sua pureza e santidade comecava a fazer milagres. B foi um desses anjos que 0 caixeiro viajante Ludovico, sem que- rer, roubou em Timb6. Fazia dois anos que 0 Ludovico vinha de Itajai fazer negécios em Timbé6 e sempre se encantava com a beleza € hospi- talidade das mulheres que residiam por essas bandas. Sonhava, um Lendas © Causos de Santa Catarina 11 59 60 do para um € OU- ‘da mais bela de 10, onde. perguntan‘ sabendo nda do Rio Benedit i, encontrar uma moon para casa tro sobre uma mega para casar ue feo , Cujo retrato enfeitava a parede da vet no dia seguinte iria fechar um negécio. sfarcar, foi perguntando sncontrar a bela jovem mesmo assim foi __ Fol paixao a primetra vista. Sem poder dis eee freqiientador da venda onde poderia ©! eee ae pergunta, mas clipes: fo nal ah erally alee ‘A missa para o Padre be Bre cencg ee ee ee oe cae co fechasse o negécio daria um jeito de roubar 0 retrato da paca eene eam ae Itajai, onde ixia comprar © anel de ‘ado para pedi-la em casamento na proxima viage™ [Ludovico para resga- seu retrato foi ger mais ns Foi em Itajai que a policia bateu na porta do eae anjo que tinha perdido sua santidade, logo que an pelo amor terreno do Ludovico e j4 nao podia prote \inguém, nem fazer milagres. De ile & nada ero © Ludovico se defender dizendo nao saber se Bates ae um anjolecaue estava cego de amor. Seu julgamento estava aa ¢ a pena a cumprir seria dolorosa. Desesperado, Ludovico um navio de car; See ga que ia para Laguna, levando consigo © Dizem aeoirs que Ludovico casou com o retrato do anjo em Laguna, para o Padre que sua noiva estava na Italia e que precisava Isabel Mir Brandt 41. Meses mais falecido no nite, casar para que cla pudesse vir morar com ele no Bi tarde justificou para o Padre que sua Jovem esposa Unha f navio, mas que como cle a amava profundamente Ihe seria flel dur toda a vida. Ludovico morreu com o retra 0 seu lado qu protegeu em sua vida sol to do Tendas © Causos de Santa Catarina 11 61 Lame al O-fantasma do andar de cima Blumenau tem uma assombragao urbana qu de uma tradicional familia, Trata-se da tia avo que durante muitos anos morou com sua sobrinha ¢ a familia dela. inda mora na casi Quando a tia-av6 velo morar com eles, a casa tinha apenas © Pavimento térreo, Bra uma casa de madeira de lei, construida com 0 major carinho e solidez suficiente para durar muitos anos. Como a nova moradora da casa precisava de cuidados especiais, pois estava Presa a uma cadeira de rodas, a familia decidiu pela reforma do s6tao ¢ transforma-lo em mais um pavimento, onde os sobrinhos netos tert am novos quartos com banheiro e uma linda sacada, além de uma pequena sala de telev: A obra custou mais caro do que o previsto ¢ por consequéncia demorou muito mais tempo do que tinha sido planejado. Enquanto a casa se transformava numa bagunca com todo tipo de gente entrando € saindo e fazendo alguma coisa 14 em cima, a tia-avé 6 ouvia falar, mas ninguém mostrava, pois a escada de acesso ao andar de cima era a ultima coisa a ser construida. A impaciéncia da velha senhora presa em sua cadeira de rodas aumentava cada vez mais. Diariamente, ela pedia aos sobrinhos netos que Ihe mostrassem andar de cima ea resposta era sempre a mesma: quando ficar pronto eestiver tudo arrumado a gente leva a tia ld em cima. O tempo passou, Lendas @ Causos de Santa Catarina It 63 64 .guém tinha coragem de egada no colo ¢ podiam a obra ficou pronta, a escada também, mas nin guinte ela iria co evar a tla avo 14 em cima, pols linha de ser can detxé-la cain. Assim tam prometendo que no dia $< nhecer 0 andar de cima. Um dia, quando um dos sobrinhos preendeu: a tia avé estava no andar de cl fazendo uma série de elogios ao novo ambiente © ddquele aiatcre cis Sei eetcomec cetacean varanda da frente da casa. Ble desctl chateado « resolveu especeqcsipasiPonancumnan Cs deciat\ dal tal avcifNaquainltolle Wpacesialancl ccokmeue anaes famflia tinha ee atrasado para ojantar e ele sozinho nao 1a conseguir descer a escada com a tia avé no colo. Quando os pais chegaram em casa, bos tinham chorado, mas o problema da tia logo € 0 jovem foi desabafando para os pais sobre a al -stava dizendo, retrucaram: ‘etos chegou em casa Se SUF ma sentada na sua cama € foi avisando que ainda dava para ver que am- avé tinha que ser resolvido titude da tia avo. Surpresos com 0 que o filho e ~ Nao pode ser verdade, estamos chegando do Hospital Santa Isabel a nossa tia av6, morreu esta tarde. O jovem mudou-se para o quarto do andar térreo eninguém mais usou o quarto de cima, mas a familia ouve a tia-avé empurrar a cadel- ra de rodas de um lado para outro e de vez em quando, ela ascende as luzes da escada e bate a porta do quarto quando sai para passear, pois ela dizia que nao gostava do escuro. ie Teabel Mir Brandt OOrmistério do mapa:daimesa@ Durante a primeira guerra mundial, muitos parentes dos imigran- tes alemdes da Colonia de Hansa Hamonia que ficaram na Alemanha mandavam cartas pedindo ajuda aos parentes que tinham prosperado no Brasil. Os pedidos eram em sua grande maioria de dinheiro. Quem intermediava esses pedidos era 0 Pastor da Igreja Luterana. As familias da Hansa Haménia ficaram comovidas com os relatos de dor e sofrimento de seus parentes e amigos ¢ assim organizarany um plano de coleta de contribuicées para enviar a Alemanha. Um dos mais influentes moradores da Colonia mandou confeccionar uma mesa com um enorme tampo de madeira com 0 mapa de todos os lotes colo- niais entalhado, com as medidas exatas em escala, que ficava exposto na entrada do pequeno Hotel da Colonia. Foi mandado fundir algumas moedas de prata para confeccionar percevejos de um determinado tamanho. Cada percevejo correspondia a um valor do total a ser arré- cadado entre os proprietarios dos lotes. Conforme esses valores tam sendo arrecadados, um percevejo de prata era fincado no mapa da mesa no lote correspondente e a contribuicdo so poderia terminar quan- do todo 0 Iote estivesse coberto com os percevejos de prata. Numa caderneta de capa vermelha, os nomes dos contribuintes, 0 valor © a data da contribuicao iam sendo anotados, enquanto que 0 dinheiro ficava escondido em algum lugar da Igreja sob a guarda do Pastor. Conforme os percevejos iam completando a area dos lotes no mapa da mesa, 0s contribuintes iam ficando impacientes e se pergun- tando: como todo esse dinheiro chegaria 4 Alemanha e como teriam Tendas © Causos de Santa Catarina II 67 68. am os beneficiarios? © solu- acrcenanlevag lone oe tam todo o tote do mapa da contribuindo- certeza d le que os cao vei parentes ¢ ami Soe eck cadr eae oe oe Chania aaa le a 3 ptoisso as familias que ainda nso‘in 0s depois, quant RucinnNenceendstete Sere yotoe pace onasoaes provar EL eaten erpeesoas interessadas © OS sa eS toeNA aces 0 de volta para a Alemanha, de onde nunca pte eae pec eee ineiro das contribuicoes: 8 alhado e a caderneta vermelha fazem parte do Mu: 6 \seu Hist6rico de Ibirama. Tsabel Mir Brandt Armaldicao do relégioocuco° S¢ fala sobre uma coloy seueso da colonizacao do Vale do Itajai, em Witmarsum, € ainda do fracasso da colonia, Muito e tas que se saeenaneS nia de imigrantes menonitas qi Se fala mais Alguns relojoeiros mais antigos da Tegiao saber da maldicao que peieu nat OleOua tai clon oan imigrantes russos trouxeram da Europa. Contam que esse Tel6gio cuco tinha sido encontrado abando- peat Olea coat ohoniefaa ec embarcariam com destino ao Brasil. Fascinados com a beleza do relégio ¢ como tinham perguntado es due se encontravam perto se pertencia a alguem e « Jcduer se interessassem pelo rel6gio, os imigrantes icar com ele, a todas as pesso; todos negassem Tesolveram fi Como a viagem ia ser lo: nga © penosa, guardaram a caixa com 0 Telogio junto com seus perter nces ¢ seguiram viagem. Quando ja esta- Maan Instalados nas terras da colonia brasileira, resolveram colocar o re- Tégio cuco na parede da casa que servicia coms cooperativa para a admi- nistracao da coldnia. Eleito o primeiro administrador, que era um tipo de lideranca religiosa entre as familias novo tempo na nova terra. Mas 0 administrador adoeceu de alguma misteriosa doenca que todos acreditavam se tratar de uma doenca tropical e, portanto, desco- nhecida. Assim, o filho mais velho do administrador, apesar de nao ser um lider religioso respeitado, mesmo assim ficou encarregado de cui- dar do relégio, mas este também adoeceu no dia seguinte, da mesma doenca misteriosa. tendas ¢ Causos de Santa Catarina 11 7 72 Logo, uma das pequenas casas rudemente construidas tinha se eu conta de que os transformado em enfermaria, até que alguém S© homens adoeciam na mesma ordem em que tocavam TO rel6gio. Pot Oe Ae ek eee oe ae ram para Blumenau, levaram o relogio cuco para Um tradicional relo- Bete parai neat cae oe ovelho PelGicis a Geni ceib icyou cena a egret oe mente ¢ disse que eles o abandonassem em algum 1nE97 onde nin- Fees Sccosee i aeesenore ae a eae neira alguma, pois esse relégio tinha uma maldicso: “Abriu um livro das artes do oficio e 14 estava 0 GesenPo do relogio amaldigoado e com a recomendacao de que nunca fosse consertado nem tocado com as mos, pois pertenceu ao ultimo descendente de uma préspera familia de relojociros da cidade de Bremen na Alema- Mitalelqtstroltseasdinacomserumilecrao meee" aes wae maravilhosa maquina. O rel6gio parou no exato momento em dus & relo- Joetro era assassinado e o ladrao morreu dois dias mais tarde acomet do de uma estranha doenca. Muitas pessoas morreram em Bremen até que nunca mais se ouviu falar desse relégio, por 1S5° fizeram seu desenho para ser impresso nos livros de artes do oficio de relejosiro. foram embora da colonia © © que sabemos é que os menonitas io ser entre 0S nunca mais se viu ou ouviu falar do tal relégio, a > velhos relojoeiros de Bremen e de Blumenau. Teabel Mir Brandt

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