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Ameaça à economia brasileira

Manter a isenção das importações digitais


pretendida por Rodrigo Cunha ameaça 18
milhões de empregos e milhares de empresas

A intenção do senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), manifestada em relatório, pode


converter-se em uma grave ameaça à economia brasileira. É o que ocorrerá caso o Senado
Federal adote a lamentável e surpreendente decisão de retirar do Projeto de Lei 914/2024 o item
relativo à cobrança de Imposto de Importação de 20% nas compras de até US$ 50 nas
plataformas internacionais de e-commerce.

Caso prevaleça a isenção aos sites estrangeiros, concedida em agosto do ano passado
pelo governo, serão agravados os danos da concorrência desleal provocada pela desigualdade
tributária, que já eliminou dezenas de milhares de empregos apenas na indústria e no varejo
têxteis e de confecção, a imensa maioria, em micro, pequenas e médias empresas. As
plataformas internacionais estão recolhendo apenas 17% de ICMS, ante um pacote de impostos
de até 90% pagos pelas empresas brasileiras. A taxação de 20% seria apenas o primeiro passo
rumo à igualdade, mas ainda não solucionaria a grande diferença. Sem essa alíquota, conforme
consta no texto proposto pelo senador Rodrigo Cunha, a competição torna-se impraticável.

O privilégio concedido às plataformas internacionais é um grande desestímulo a quem


investe, produz, vende e gera empregos em nosso país. A rigor, é um convite explícito às
empresas brasileiras para que fechem suas portas aqui e se transfiram para o exterior, para que
consigam benefícios tributários similares aos dos sites estrangeiros de e-commerce, colocando
em risco 18 milhões de empregos e milhares de empresas. Logo, o relator, Rodrigo Cunha,
infelizmente, com seu relatório, se coloca como defensor da política de zero emprego, zero
investimento, zero renda, zero impostos no Brasil e ao contrário, defensor de geração de
investimentos, empregos e renda na China, verdadeiro absurdo quando defendido por um
parlamentar brasileiro.

Argumentos desprovidos de lógica


Cabe acentuar que nas argumentações, Rodrigo Cunha demonstrou estar desinformado
com relação aos danos provocados pela desigualdade tributária e pareceu descompromissado
com os reais interesses do País e com os empregos de milhões de brasileiros. Suas respostas
contrariaram a lógica. Vejamos:

1) Os empregos gerados pelas plataformas internacionais de e-commerce são em seus


países de origem e não no Brasil. Cabe lembrar que Alagoas, o Estado de Rodrigo
Cunha, há dezenas de milhares de empregos na indústria e no varejo, que foram colocados
em risco por sua iniciativa de não taxar as importações digitais de até US$ 50.

2) Também é falsa a alegação do senador de que dar fim a essa injustiça tributária
prejudicaria a população mais pobre. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
divulgada no último dia 23 de maio, mostrou que apenas 18% da população com renda de até
dois salários-mínimos fez compras internacionais on-line de produtos com isenção de até US$
50. Entre quem ganha mais de cinco salários-mínimos, esse percentual sobe para 41%.
favoráveis ou não a “taxar” essas compras.
A iniciativa do senador de manter o privilégio para os estrangeiros também parece movida pela
intenção superficial de agradar as redes sociais. Tanto assim que, em uma inexplicável entrevista
coletiva prévia à apresentação do relatório, antes da apresentação de seu relatório, ele “abriu uma
enquete” nas plataformas pedindo a opinião dos seguidores sobre se eram favoráveis ou não a “taxar”
essas compras.

3) A postura demagógica de Rodrigo Cunha ao tratar de um tema de imensa relevância


impõe riscos a dezenas de setores, do têxtil ao eletroeletrônico, de cosméticos ao de
equipamentos, de medicamentos ao de brinquedos.

4) Também vale lembrar que as plataformas internacionais de e-commerce disponibilizam


nas suas páginas itens que, aos montes, descumprem normas produtivas e de segurança ao
consumidor, contrariando especificações de órgãos como Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e Instituto Nacional de
Metrologia (Inmetro). Com isso, colocam em risco a saúde e a segurança do consumidor,
com a oferta de produtos como “pomada anticâncer”, “remédios abortivos”, brinquedos que
apresentam riscos a crianças e uma série de outros produtos inadequados. Tal constatação está
em perícia contratada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), apresentada em
pedido de investigação à Procuradoria-Geral da República.

5) Além disso, as plataformas estimulam e cometem seguidas fraudes ao fisco


brasileiro, com a comercialização de itens de maneira fracionada, para fugir da tributação, o que
ocorre, por exemplo, por meio da aquisição de um par de sapatos, com entrega de um pé em
cada remessa. É um verdadeiro absurdo e escárnio contra aqueles que seguem as normas
tributárias e regulatórias nacionais.

6) Por sinal, no último feriado, Rodrigo Cunha usou suas redes sociais para ressaltar o
apoio a projeto com costureiras no interior de seu Estado. Com a legalização da concorrência
predatória como defendeu o senador, que gera riscos na esfera nacional e local, como essas
profissionais conseguirão prosseguir no futuro com as atividades que garantem seu
ganha-pão?

Seguimos confiantes de que o Senado fará o que é certo e justo, que os senadores
defendam os interesses do Brasil e não tenham como norte de sua atuação a defesa de práticas
empresariais que descumprem as normas produtivas nacionais, colocam o consumidor em risco,
praticam ilegalidade livremente e, além de tudo, asseguram a manutenção de empregos do outro
lado do mundo.

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