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if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 A Educagao a Distancia no Ciberespago: por uma Cartografia em Movimento! Hans Peder Behling” Dulce Mareia Cruz* Introdugio Este artigo apresenta alguns elementos tedricos de uma pesquisa que teve como objetivo principal investigar os aspectos tecnoldgieos, econdmicos e pedagdgicos relacionados a educacdo a distancia (EaD) no ciberespago. Segundo Palloff e Pratt (2002), independentemente do método de ensino utilizado, a EaD no ciberespago promove uma transicao da sala de aula tradicional e presencial no campus para a sala de aula nao presencial, mediada por computadores conectados via Intemet, Como outras tecnologias empregadas em ‘comunicagao buscaram integraco, ¢ nio a substituigo das formas presenciais, as tecnologias de EaD no ciberespago, ao invés de inaugurar uma nova educagdo, integram-se as formas ja existentes, buscando auxiliar na resolugio de problemas. Esta integragio nfo significa estabilidade; ao contrizio, significa 0 advento de novas formas de promover testes dentro do paradigma, contribuindo e potencializando-o com mudangas continnas. Para Palloff ¢ Pratt (2002) 0 sucesso da EaD depende de uma selegao ¢ posterior transposigaio das melhores priticas preseneiais. Isso implica numa série de mudangas, segundo Lévy (2005), primeiramente na aclimatagao dos dispositivos e do espirito de EaD a0 cotidiano; depois no reconhecimento das experiéneias adquiridas e, para Belloni (1999), no proprio processo de ensino e aprendizagem. Neste sentido, esta pesquisa foi norteada para investigar os aspectos relevantes na transigdo da educagéo presencial para a EaD no ciberespago, na tentativa de descobrir se a tecnologia ¢ o ambiente eiberespacial contribuem com a reducgio de custos com estrutura, professores, deslocamentos, freqiiéneia e disponibilidade e também para descobrir quais so as novas exigéncias para os agentes, ou seja, 0 perfil mais adequado para professores, alunos e outros sujeitos potencialmente envolvidos com os cursos. A investigagio partiu do pressuposto de que a tecnologia possibilita a reprodugdo e repetigo em larga escala do ensino levando socializagao Este artigo apresenta elementos do referencial tedrico de dissertagio de mestrado defendida junto a0 Programa de Pés-graduacio em Ciéncias da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) sob o titulo “Comumicacdo e Iinguagem no ciberespaco: andlise de curso de educagdo a distancia da UNISUL VIRTUAL Mestre em Cigncias da Linguagem na UNISUL, Professor da Universidade Regional de Blumenaw. Doutora em Engenharia de Produgto na UFSC, Professora do Departamento de Meiodologia de Ensino do Centro de Ciencias da Educagao da UFSC. if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 democratizagio, viabilizando uma educagio mais enxuta, com menos infra-estrutura e portanto, custos muito mais acessiveis. A metodologia utilizada no trabalho foi uma pesquisa bibliogrifica exploratéria. Durante 0 trabalho as questdes econdmicas cederam lugar as questdes pedagégicas: descobriu-se que a mudanga de foco do ensino para a aprendizagem, a exigéncia de planejamento e ao mesmo tempo a flexibilidade na abertura para que todos possam contribuir, a colaboragio € © comprometimento de todos os envolvidos no proceso, as particularidades de cada atividade e de cada grupo, a importaneia dos detalhes na tentativa de construir em todos os envolvidos a sensagdo de fazerem parte de uma comunidade de aprendizagem entre outras coisas revelaram-se como as grandes transformagdes necessiirias para o sucesso na transi¢ao. Nos préximos itens analisaremos alguma das questdes tecnolégicas, econdmicas ¢ pedagégicas que compdem a EAD no ciberespago. Questdes Tecnologicas Tremblay (1995) afirma que a tecnologia é uma caracteristica central desde o inicio dos estudos em comunicagao (com excessio da semidtica, da retorica e poucas outras). Para 0 autor, essa tendéncia deve ser questionada pois a tecnologia ndo pode ser considerada autGnoma em relagio 4 questdes e estruturas sécio-econdmicas, Belloni (1999) chama de NTICS (novas tecnologias de informagao e comunicagio) os computadores interligados em redes, que recebem de outros autores como Lévy (2005) e Gomez (2004) a denominagao de dispositivos. Diversos autores relacionam as novas tecnologias & EaD e, nesse contexto, Gomez (2004) alerta para alguns cuidados especiais com os dispositivos: a verificagao da efetiva coneetividade das maquinas e a instalagao dos programas e dos plug-ins necessities. Magdalena e Costa (2003) afirmam que o nivel educative de uma sociedade informacional & medido pela alfabetizagao tecnologica, ou seja, pelo relacionamento critico, assertivo e competente com o ambiente; pelas interagdes entre os interlocutores e pelos produtos que os individuos conseguem gerar a partir dos meios. Palloff ¢ Pratt (2002) ressaltam que 0 acesso e a familiaridade a tecnologia (hardware e software) contribuem para ‘uma maior possibilidade de participagao. Para Belloni (1999), a interatividade no contato com bancos de dados e a interagao com outros estudantes proporcionada pela navegagao nas redes pode permitir um novo modo de educagao, s6 que isso vai depender muito da pedagogia de base que inspira e orienta as atividades, pois “o uso destas TICs pode também ocorer de forma mecanica, nada inovadora, interativa, mas nao reflexiva, submetida a uma logica de estimulo/resposta, na qual o programa é quem conduz a agio ou a aprendizagem” (BELLONI, 1999, p.73). De acordo com a autora, a inovacdo esté muito mais nas metodologias & if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 estratégias de ensino do que nas teenologias propriamente ditas, pois elas nao substituem as tecnologias anteriores e nem assumem suas fungdes, embora transformem profundamente seu ‘uso, assim como acontece em diversas outras esferas. A autora conclui que a integragio das NTICs na educagdo jé no é uma opgao, “o que exigira dos sistemas educacionais grandes esforgos de imaginagdo pedagégica e um volume considerivel de investimentos financeiros [...] Sua utilizagdo educativa se integra numa nova concepgao da tecnologia educacional, agora concebida como comunicagao educacional” (BELLONT, 1999, p.104). Questées Econdmicas As questdes econémicas geraram ¢ continuam gerando discusses na érea da EaD no ciberespago, Alguns autores como Lévy (1999) defendem que as escolas virtuais custam menos do que as presenciais. Palloif e Pratt (2002) criticam essa nogio econémica que privilegia um exame superficial, pois a estrutura de um curso virtual é menos explicita, porém no menos onerosa. Para os autores, a economia com estrutura fisica é compensada com o dispéndio com tecnologia, transmisso, manutengdo, infra-estrutura, produgio, apoio e recursos humanos qualificados. Os autores afirmam ainda que pagar menos para um professor a distincia caracteriza outro equivoco, pois a nio necessidade de deslocamento ofusea as exigéncias com preparagao, disponibilidade e freqiiéncia (visitagio e participagao didria) por parte do professor. © que se descobria € que hé uma variedade de formas de pagamento aos professores: desde nenhuma espécie de pagamento, a pagamento a partir de um nimero determinado de alunos, ou ainda eliminagdo do nimero méximo de alunos ‘matriculados ¢ até remuneracdo de acordo com 0 niimero de mutriculas. Algumas instituigdes ofetecem um estipendio pela elaboragdo do curso, adicional pela preparacio da primeira aula (Salomon et al, 1997). F 0 fato de esse campo ser t80 ‘novo para muitasinstituigées que fz com que aqui se reafirme que demoraré algum tempo para que cheguemos a uma frmula adequada para mensalidades e salrios (PALLOFF ¢ PRATT, 2002, p.85) Belloni (1999) ¢ Peters (2003) relacionam a EaD aos modelos teéricos oriundos da economia e da sociologia industrial. Peters (2003) afirma que os pioneiros do ensino a distincia eram empresitios de instituigdes que visavam o luero e aplicavam as concepgdes de producio e consumo de bens educacionais em massa, com cursos que, por motivos econémicos, duravam cerca de oito anos, Esse processo de industrializagtio segundo Peters foi denominado de fordismo da educagao por Raggat Para Belloni (1999), duas orientagdes teérieas ou filosOficas surgiram e coexistiram no campo da educago em geral ¢ da EaD na década de 80 do sée. © estilo fordista (edueagio em massa baseada nos prineipios da baixa inovagio dos produtos, baixa variabilidade dos processos de produgio ¢ baixa responsabilidade do trabalho) e o estilo de if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 educagao aberta e flexivel. Tanto Belloni (1999) como Peters (2003) dizem que o estilo fordista passou a ser substituido por modelos pés-modemos ou pés-fordistas de organizagio industrial, menos interessados em homogeneizagdes ¢ mais interessados em satisfazer a muitos desejos especificos dos consumidores, a exemplo do neofordismo. Belloni (1999) afirma que o neofordismo aposta na alta inovagio e variabilidade dos produtos e processes produtivos visando segmentos especificos do mercado, mas conserva do modelo fordista a estratégia de baixa responsabilizagio do traballio (formas de organizagao fragmentadas e controladas) Peters (2003) afirma que, para atingir 0 neofordismo na EaD, seriam necessérias considerdveis mudangas nos processos produtivos e nos conceitos de aprendizagem. Segundo © autor, a produg3o de mercadorias deveria ser: por demanda, sem producio de estoques, eliminando a diviséo do trabalho, substituindo a hierarquia por redes de relacionamento horizontais ¢ a especializagio pela polivaléncia dos funcionarios, promovendo contratagdes temporirias ¢ enxugamento de processos e suprimentos. Ainda parafiaseando 0 autor, a aprendizagem deveria migrar para 0 conceito de estudo auténomo no ambiente de aprendizagem digital. Assim como em diversas esferas nas quais 0 pés-modernismo caracteriza-se muito mais em oposigao as concepgdes do modernismo do que por caracteristicas proprias distintivas, de acordo com Peters (2003), no ensino mio se foge a regra, Para 0 autor, no ensino pés-modemo aparecem deniincias as idéias otimistas do progresso geral da humanidade, a esperanga de um mundo melhor, mais civilizado e culturalmente desenvolvido, bem como critieas a erenga na ciéneia e na supervalorizagio da técnica; & erenga no poder da educagdo de transformar 0 homem, Wood & Zurcher (apud PETERS, 2003) afirmam que a transigdo da edueagdo modema para a pos-modema representa uma mudanga de valores da racionalidade para a irracionalidade: da razio para a emogio; do compromisso social para 0 compromisso consigo mesmo; e por fim, da satisfagao orientada para a gratificagao, De acordo com Palloff e Pratt (2002), as instituigdes de ensino poderao oferecer varias formas de transmissio de conhecimento sem a preocupagio de que elas estejam competindo entre si quando comecarem a reconhecer 0s alunos como clientes. Essas nomenclaturas que utilizam uma metafora importada da era industrial, econdmica, tais como sociedade da informagao, economia da informagio e outras, que tém em sua base atividades de produgdo, processamento e difusio de informacdes, so criticadas por Tremblay (1995). © autor afirma que estas terminologias generalizadoras sto problemiticas ¢ inadequadas pois cada individuo, cada profissional de comunicagio produz, processa e difunde informagao de maneiras diferentes. Para Belloni (1999), a superagaio dos impasses criados pela relagio entre EaD e indiistria pode ser aleangada se a primeira for if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 considerada como atividade do setor terciario (prestagao de servigo), substituindo a logica da estandardizago pela logica da personalizacio. Questies Pedagogicas Gomez (2004) afirma que a EaD no ciberespago valoriza 0s acasos que eram vistos com preconceito, considerados como eros, e até mesmo descartados pela pedagogia tradicional. Para a autora, estes acasos sio préprios da experiéncia e favorecem o apelo simbélico no processo de constituigdo da subjetividade, impedindo que a EaD no ciberespago se baseie em didatismos, modelos prontos ou protétipos. Segundo Palloff e Pratt (2004), no ciberespago as diretrizes € 05 procedimentos educacionais devem ser mais flexiveis ¢ fluir livremente, partindo dos proprios participantes. Magdalena e Costa (2003) afirmam que a busca e selecdo de informagies nos diferentes enderegos pode colocar os alunos diante de enormes desafios: manter 0 fio da meada ou perder-se nele; descobrir que existem temas relacionados, até entio insuspeitados: deparar-se com enfoques divergentes om com diferentes niveis de complexidade; decidir, dentre o material acessado, o que vale a pena ler de forma mais detida e 0 que nfo vale o esforgo. que fragmento (s) da leitura selecionar © guardar para uso futuro, como organizar essa sele¢do para uso posterior. (MAGDALENA e COSTA, 2003, p.55) Gomez (2004) afirma que 0 desafio da EaD no ciberespago sera encontrar estratégias para educar na multiperspectividade da rede, na qual a diivida aparece a cada passo e a ago e reflexdo no podem ser descuidadas. Para Belloni (1999), sera quase impossivel para as equipes responsiveis pela concepefio dos cursos de EaD do futuro garantir a qualidade ergonémica (técnica) e pedagégica necessiria, Diversos autores apontam estratégias © 05 problemas que surgem a partir delas, a exemplo dos Projetos Politico Pedagogicos (PPPs) e do Estudo Estruturado, entre outros. Dentre essas estratégias de produgio da EAD, pode-se identificar alguns momentos que serdo descritos a seguir: a etapa do planejamento ou PPP ¢ seu desenvolvimento até o design educative; a mediagao pedagégica que possibilita uma cartografia em movimento ¢ 0 inicio do curso propriamente dito que comega a partir da criagdo de uma comunidade de aprendizagem no ciberespaco. Do PPP Estruturado ao Design Educativo planejamento de um curso a distincia passa geralmente pela criagao de um Projeto Politico Pedagégico (PPP) especifico. Segundo Gomez (2004), niio existe um modelo padrio de PPP para a EaD. Para a autora, o PPP de uma escola virtual deve surgir da participagio if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 democrética dos proprios membros da comunidade virtual, iniciando com alguns acordos preliminares, seguindo com as etapas de pesquisa e preparagio, planejamento e implementagao, sempre levando em conta as possibilidades e as limitagdes metodolégicas do projeto, A autora afirma ainda que a gestdo da educagdo deve acontecer no intuito de garantir @ obtengio dos resultados desejados, envolvendo diversos agentes como professores, coordenadores, alunos, dirigentes entre outros. A estruturagaio do ensino ¢ da aprendizagem nao é novidade, afirma Peters (2003), pois jd acontecia na exposigdio do saber por meio de livros (na subdivistio de componentes em prefacio, introducdo, seqiiéneia dos capitulos, resumo e conclusio), bem como na articulagio das aulas presenciais (planos de aula, ete). Segundo o autor, na EaD, essa estruturagio se da com base em critérios da tecnologia de ensino seguindo um roteiro: anilise, selegio definigdo de objetivos de ensino ¢ aprendizagem; escolha de contetdos ¢ estratégias para atingir estes objetivos; emprego dos meios ténicos que tornem o proceso eficiente; construgio de testes de verificagao de eficiéneia; aplicagao de avaliagdes para promover a otimizagio ¢ melhoria da estrutura. Para Peters, a eficiéncia e 0 controle de sucesso objetivado tornam-se importantes neste proceso estruturado de ensinar e aprender que segue ‘© modelo behaviorista, baseado em premissas positivistas te6rico-cientificas, realizado por meio de procedimentos empiricos, ¢ que, apesar de caréncias e déficits, é extremamente atraente ha mais de vinte e cineo anos. Peters avalia que o sucesso da estruturagdo da EaD levou politicos e pedagogos em todo o mundo a esquecer as desvantagens deste procedimento, por acreditarem, entre outras coisas, que 0 ensino académico poderia ser racionalmente planejado, sistematicamente desenvolvido e controlado como algo produzido industrialmente @ que era possivel manipular 0 comportamento didético objetivado, na perspectiva de poder alcangar praticamente todas as pessoas interessadas e aptas Assim como Belloni (1999) e Peters (2003), Gomez (2004) também relaciona as teorias de aprendizagem aos conceitos do segundo setor (industrial). Gomez (2004) associa as teorias de aprendizagem ao coneeito de DI (design instrucional): fordistas e industrialistas (educagio em série, na concepco de linha de montagem); taxonomia de Bloom (neo- bevahiorismo que considerava importante a classificagao dos objetivos de aprendizagem perseguindo © propésito de oferecer guias claros © compreensiveis para uma avaliagio sistematica e atingir a totalidade do processo cognitive). Para a autora, a concepgio de designer instrucional também possui fragilidades “na pretenso de definir previamente processo educativo a partir de uma teoria do comportamento, o que o fixa no nivel do saber instrumental, deixando de lado a possibilidade de eriatividade e didlogo” (GOMEZ, 2004, p.127). Segundo Gomez, as contribuigdes do behaviorismo, das ciéneias cognitivas ¢ da psicologia do processamento da informagdo so as fontes teérieas de uma proposta que se if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 preocupa com a mudanga de habitos, condutas ¢ conhecimento escolar, ou seja, admite uma concepeao de sujeito como processador ativo da informagio. Além disso, a autora afirma que © DI emerge no ambito educativo da EaD no ciberespago reforgado com as contribuigdes do marketing, da informitica, do mundo dos negécios e da publicidade e da educagio corporativista, experimentando teorias e priticas pedagogicas mais flexiveis como 0 construtivismo e 0 holismo, aproximando-se de um DE (design educativo) atento as mudangas sociais e com a responsabilidade de coordenar as atividades de montagem do curso de EaD na Internet. A CARTOGRAFIA EM MOVIMENTO. Nesse movimento de mudanca da produgio do curso a distincia, a mediagio pedagégica e 0 desenho colaborativo adquirem lugar de destaque na EaD pela Internet. Para Gomez (2004), a vida material da humanidade esté mediada por instrumentos: produgdes culturais técnicas que so produtos sociais dos quais a linguagem € 0 mais importante, ‘Numa perspectiva dialogica, afirma a autora, a mediagao consiste na sabedoria de revisitar € utilizar referéneias, levando em conta a concepgfio de que nada se eria a partir do vazio. Segundo Belloni (1999), a educagio sempre utilizou a mediagio de alguma tecnologia ou meio de comunicagio como complemento ou apoio a ago do professor. Mas, para ela, as tecnologias de mediac3o pedagégica no presencial (a sala de aula, © quadro negro, o giz, 0 livro ¢ outros materiais) diferenciam-se das tecnologias de mediacio na EaD, nas quais a interagao com o professor ¢ indireta e muito mais dependente da mediatizagdo. As mediagdes na esfera digital, de acordo com Gomez (2004), se interpenetram, sio coextensivas do proceso de cringio de estratégias pedagégicas. Segundo a autora, essas estratégias, que ndo podem ser fixas nem neutras, eriam significagdes que remetem a questdes histérieas e sociais cuja mobilidade permite que o mapa do curso modifique-se constantemente com o parecer dos participantes, assemelhando-se muito mais a uma cartografia em permanente movimento do que a um desenho acabado. Gomez afirma ainda que esta cartografia em movimento baseada no desenho participative procura apresentar 0 territério e as estratégias de aprendizagem, e serve como espécie de banco de dados para a elaboragdo de um roteiro, contendo propostas, glossirio do curso, baneo de fotos, baneo bibliogréfico, baneo de curiosidades, banco de instituigdes de ensino da area, revistas da area, e-books, eventos da rea, buscadores internos, links relacionados, ajuda de navegagio, questdes fregiientemente consultadas, entre outras necessarias 4 produgdo e 4 entrega dos cursos, if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 Comunidades de Aprendizagem As questdes tecnolégicas, econémicas € pedagogicas que compdem 0 processo de planejamento e execugtio da EaD convergem na criagio e administrago da comunidade virtual que vai definir se e como a aprendizagem vai ocorrer. E essa comunidade de aprendizagem, segundo Palloff e Prat (2002), tem seus pilares colocados no inicio do curso. Os autores enfatizam bastante a importincia desse momento inicial, no qual € fundamental que as diretrizes apresentadas normalmente junto com o plano de ensino e com o roteiro do curso, sejam bastante claras e, de preferéneia, colocadas em discussio. Segundo os autores, é no inicio que devem ser apresentadas as estratégias necessirias para obter a confianga do aluno: estabelecer diretrizes claras para a participacdo; promover a discussio destas diretrizes até que todos concordem; fiearem claros os quesitos de avaliagao, pesos e notas; eriar com os alunos um plano de ensino claro, flexivel e de ficil compreensio; explicitar 0 tempo necessério para a participacdo; eriar um sire (ou ambiente virtual) de facil navegagao € troca de mensagens ¢ arquivos. Além disso, 0 professor deve dar exemplo de participacao, estando presente diariamente, intervindo prontamente quando a discussio estiver fraca ou indo na diregao errada e telefonar para os que nao estio participando e trazé-los de volta. Palloff e Pratt (2002) alertam para o tamanho ideal na formagio dos grupos de aprendizagem em duas situagdes distintas: nas atividades sincronicas (entre cinco © dez integrantes); nas atividades assincronas (aproximadamente vinte participantes). Para os autores, os grupos criam uma ilusto de privacidade, o que determina a importineia de enviar as diretrizes para uso adequado do material do curso, normas de seguranca, critérios de avaliagio, aceitagao e participago logo no inicio. E também importante que a participagao seja incluida no processo de avaliago, pois os integrantes do grupo tem responsabilidade mitua, prineipalmente porque o sucesso da aprendizagem no curso depende da participagao coletiva ‘Num cendrio de crescimento geométrico da disseminaco de informacdes, Magdalena © Costa (2003) estimam que o volume do conhecimento construido pelo homem dobra a cada dois anos, enquanto que na escola ele continua estético. Para dar conta dessa rapidez do ciclo de producdo de conhecimento, Gomez (2004) afirma que todos os agentes envolvidos em processos pedagégicos deveriam assumir a postura de eternos aprendizes, 0 que Belloni (1999) chama de formagdo ou aprendizagem ao longo da vida, e Peters (2003) de educagio permanente. Todos os autores citados concordam que a educagdo permanente funciona com base em uma série de opgdes oferecidas pelas instituigdes produtoras ¢ distribuidoras de ‘cursos e materiais. if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 A relagio entre ensino a distincia e educagao permanente sio listadas por Peters (2003): valorizacio do estudo na idade adulta; formas alternativas e adicionais de estudo; mudanga do foco da educagio baseada na preparagio ¢ formagdo para educagio como elemento integrante da vida; ensino a distineia possibilitando auto-realizagio; mistura de formas e experiéueias de vida; estudo auto-dirigido; dependéncia da mediagio do ensino e da aprendizagem; universidades a distancia a servigo da igualitarizagao das oportunidades educacionais; motivago por uma escalada profissional e social; contribuigao para uma sociedade estudantil aberta; maior acessibilidade e mais rapidez nas formas de transmissio, a caminho da universidade virtual A aprendizagem permanente também muda. De acordo com Palloff e Pratt (2002), em EaD, a aprendizagem deve ser ativa, ou seja, 0 estudante deve ser responsavel pela sua conexdo ¢ interagir através do envio de seus pensamentos ¢ idéias dentro da comunidade virtual, pois & ele quem deve atribuir sentido aos conhecimentos vinculados a0 curso. Os autores afirmam que o sucesso da aprendizagem em comunidade e da facilitagdo on-line depende de honestidade, correspondéncia, respeito, franqueza e autonomia, Ao descrever processos de aprendizagem organizacionais, os autores afirmam que Chris Argyris eriou 0 termo aprendizagem de Joop simples para referir-se resolugio de problemas ¢ o termo aprendizagem de Joop duplo para referir-se a reflexdo sobre a maneira de resolvé-los. Para eles, ja é possivel ir mais longe pois quando Robert Hargrove criou o temo aprendizagem de Joop triplo se referia a aprendizagem real, transformadora: um proceso de auto-reflexdo que ocorre em vitrios niveis, cuja meta principal ¢ mudar paradigmas adotando novas concepgdes de uma mesma idéia, compreendendo, inclusive, a propria aprendizagem ensino aberto, para Peters (2003), esta relacionado 4 aquisi¢o de conhecimentos, habilidades e atitudes em principio acessiveis para qualquer pessoa, do qual, portanto, ninguém pode estar excluido (principio da igualdade). Segundo Edwards (apud Belloni, 1999) a EaD, com sua énfase no fornecimento de oportunidades de aprendizagem a distincia, & consistente com o modelo fordista de produgao e consumo de massa. Jé os discursos sobre Aprendizagem Aberta (AA), a0 contrario, colocam a énfase nas necessidades especificas e/ou mercados disponiveis e nos meios necessarios para atender a estes mercados. Peters (2003) defende que os programas de ensino devem estar abertos, e considerar tanto condigdes externas (barreiras educacionais como custos, priticas educacionais, ambiente sociocultural) quanto intemas (abertura para desdobramentos imprevistos na construgao de uma competéncia no ambito individual), ao invés de serem definidos e elaborados antecipadamente 4 maneira cientifico-empirica, Para o autor, as concepcdes do ensino aberto independem do curso ser presencial ou a distancia, porém, na EaD, evidencia-se uma afinidade especial com 0 ensino aberto, por ser tendencialmente igualitirio, basear-se em if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 grande parte na atividade propria de estudantes auténomos, estar mais relacionado com a pritica da vida e da profissio e enfatizar a interago e a comunicagao. Belloni (1999) propde que a AAD (aprendizagem aberta a distancia), caracterizada essencialmente pela flexibilidade, abertura dos sistemas e maior autonomia do estudante, & mais coerente com as transformagoes sociais e econdmicas contemporineas. Para a autora, 0 fundamento deste modelo é 0 foco do processo de aprendizagem no aprendente, ¢ nao no ensino ou nas tecnologias. A autora afirma ainda que EaD e AA referem-se a dois aspectos diferentes do mesmo fenémeno: EaD € mais uma modalidade de educagio, e AA relaciona-se mais com modos de acesso e com metodologias e estratégias pedagégicas. Para a autora, a EaD tem todas as caracteristicas necessirias para favorecer uma postura ativa de educagio permanente aprendizagem auténoma, mas diversos estudos mostram que os tele-estudantes tendem a assumir uma postura passiva, digerindo pacotinhos instrucionais, © que contribui com a renga de que 0 aprendente auto-atualizado é um mito. A questio se & possivel aleangar autonomia e atitude ativa do estudante, condigies fundamentais para aprender a distancia, esto no centro dessa discussio. De acordo com Fiorentini (2003), a concepc%o de aprender a aprender implica na superagdo e reformulago de alguns principios pedagégicos tradicionais, como por exemplo, passar a enxergar o conhecimento como processo, construido a partir da atividade do sujeito sobre © mundo e nao mais como coisa estétiea, Além da importineia da formagao da comunidade ¢ das nogdes diditicas e pedagdgicas envolvendo estratégias e titicas de ensino e aprendizagem, a educagdo no ciberespago envolve ainda questdes nem sempre relacionadas com 0 contetido do programa da disciplina ou do curso, Neste contexto, aparecem as situagdes interacionais, ou seja, as trocas que acontecem entre os diversos integrantes de uma comunidade. Consideragies finais De forma otimista, Lévy (2005) afirma que a grande questo da EaD no ciberespago deixou de ser a transigao do “presencial” para “a distincia” e passou a ser a transigaio da educagao institucionalizada para uma situag3o de troca generalizada dos saberes. Essa visio contribui com a nogdo de que a alfabetizagao informacional ou ciberespacial depende mais do desenvolvimento da visio critica por parte do estudante do que do desenvolvimento de suas habilidades com um computador ou programa informético especifico. Esta transigao é possivel, segundo Belloni (1999), por causa da disseminagio das teenologias de informagio e comunicagdo que levou a uma forma de EaD que utiliza todos os meios anteriores (impressos if, Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién ‘sre wwmeptic.com.br, vol. IK, n. 3, Sep, ~ Dec, 2007 € audiovisuais) mais os novos (computadores, Intemet, ete), implicando mudangas radicais nos modos de ensinar e aprender. A maior parte das vantagens de custo e tentativas de relacionar a EaD no ciberespago a modelos econdmicos mostraram-se paradoxais ou completamente equivocadas: a aio necessidade de estrutura fisiea e toda a logistica diretamente envolvida (aluguéis. ‘gua, luz, mobilidrio, ete) acaba sendo compensada pelos custos com a compra e manutencao do aparato tecnolégico necessétio no planejamento, desenvolvimento ¢ entrega dos cursos; a nao necessidade de presenga fisica do professor em sala para ministrar as aulas é compensada pela maior disponibilidade, mais freqiiéneia de visitas e mais participagio do professor que a modalidade a distincia exige. Assim, a EaD no ciberespaco escapa da légica da modernidade (estandartizada, industrial) e aproxima-se da légica da pés-modemidade (personalizagio tipica da prestagdo de servigos). As questdes pedagégicas relacionadas a EaD no ciberespago também acompanhiam a logica da personalizacio, valorizando 0 acaso e a criaglo da subjetividade individual, impossibilitando a criagio de didatismos, modelos educacionais e protétipos de projetos politico-pedagogicos. Essa logica exige mais dinamismo e flexibilidade, bem como a patticipagio coletiva de alunos, professores e profissionais envolvidos em atividades administrativas ¢ apresenta o desafio de encontrar novas estratégias para educar, abandonando a ultrapassada visio behaviorista ¢ industrial do design instrucional, em busea de uma visio construtivista e holista do design educativo, atento ais mudangas necessérias, Se na EaD no ciberespago a mediagao tecnolégiea ¢ inevitavel, a mediagao pedagogica € 0 desenho colaborativo merecem verdadeiro destaque, pois nessa modalidade a linguagem € a mediagdo mais importante de todas para a efetivagdo da comunicaclo, A interagdo indireta professor-aluno no ciberespago gera essa mediago que exige € ocasiona menos rigidez no proceso, mais trocas sociais, e, consegiientemente, mais mobilidade, permitindo que o mapa do curso se modifique constantemente levando ao conceito de cartografia em movimento. A cartografia em movimento exige a mudanga de foco do ensino para a aprendizagem, com regras claras, debatidas coletivamente logo no inicio do curso de modo que ninguém fique isolado. A idéia € que todos os envolvidos sintam-se parte de um grupo e consigam perceber a formagdo de uma comunidade de aprendizagem menos hierarquica, menos estruturada, menos autoritiia e possam assuumir um perfil de aprendizagem ativa, aberta, autOnoma e constante, ‘No entanto, mesmo com o aparecimento de quaisquer novos dispositivos tecnolégicos © com as imimeras interferéncias desses dispositivos e de fatores econémicos no processo de ensino e aprendizagem, o grande problema da educacio continua sendo a pedagogia de base e a comunicagdo. A inovagio real & sempre nos campos metodoldgico e estratégico, de modo que © grande desafio passa a ser educar levando em conta as possibilidades e limitagdes Revista de Economia Politica de las Tecnologias de la Informacion y Comunicacién .com.br, vol. IX, n. 3, Sep. ~ Dec, [2007 proprias da mmultiperspectividade do ciberespago. Neste sentido, a EaD no ciberespago diferencia-se de outras formas de educagio (presencial ou a distancia) por impedir 0 éxito de padres que camuflam sua propria ineficécia no destumbramento espetacular, proprio da mera novidade teenoldgica. Referéncias bibliograficas BELLONT, Maria Luiza. Educagao a distancia. Campinas: Autores Associados, 1999. FIORENTINI, Leda Maria Rangero; MORAES, Raquel de Almeida. Linguagens e interatividade na educagao a distancia. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. GOMEZ, Margarita Victoria. Edueagio em rede: uma visio emaneipadora. Sao Paulo’ Cortez / Instituto Paulo Freire, 2004. LEVY, Pierre. Cibereultura. Editora 34: Sio Paulo, 2005 MAGDALENA, Beatriz Corso; COSTA, Iris Elisabeth Tempel. Internet em sala de aula: com a palavra, os professores. Porto Alegre: Artmed, 2003 PALLOFF, Rena M.; PRATT, Keith, Construindo Comunidades de Aprendizagem no Ciberespago. Porto Alegre: Artmed, 2002 PETERS, Otto. Didatica do ensino a distancia: experiéneias da discussio numa visio internacional. (traducao Ison Kayser) So Leopoldo, Editora Unisinos, 2003, TREMBLAY, Gaétan. “The Information Society: From Fordism to Gatesism” In: Canadian Journal of Communication. Quebec: vol.20, 1995, pp.461-482.

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