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3123..9-36(2016) -- RevCEDOUA =n Sociedade de risco € consumo sustentdvel José Rubens Morato Leite! Kamila Pope? Resumo fosbadr aquest donunasob olan socedade ‘adem faenditerconexesente seo Eos sec testaltaracompleidadedospabienassocoambenal geog Delos uals pacesinustnveis de produ econss, bem omo astntasbs do sta eco pepo Det para ldsream lal probemas. esse sentido, o elementos ebcos que gam £m tomo de nocbes coma precaucdo, wanselpiareda ‘esponsbidade comparinad esldredads, por exenpig Imosramsenecssrios para oveconhetimenta¢gest0 apo Brinda dosticosdaatuaadepormeladocfentment cease fet ride narmat. 1. Introdugao Inicialmente é preciso que se. -esclareca que ajustificativa para a escolha do tema do presente trabalho, embora abrangente, tem o sentido de demonstrat ao piblico que a racionalidade juridica na esfera do ambiente ultrapassa um olhar técnico, dogmético e monodisciplinar, havendo a necessidade de se adotar nocGes oriundas de outras areas do saber, buscando-se com isso compreender a crise ambientaleo consumo através de uma visio transdisciplinar e de um enfoque mais sociol6gico do risco. Acredita-se que, escapando da técnica e da racionalidade juridica tradicio- nal, estar-se-4 examinando temas juridico-ambientais e de consumo de uma forma mais completa, considerando-se principalmente as novas tendéncias trazidas pelas peculiaridades do bem ambiental a ser protegido pelo Estado, Direito e Sociedade. dente do Instituto 0 Direto por Um Planeta 1 Professor Titular da Universidade Federal de Sana Catarina e Presidente de ; Verde. Coordenadr do Grupo de Pesquisa Dirlt Ambiental e Ecologia Politica na Sociedade de sco, cadasrado "0 CNPq/GPDA/UFSC. Consultre Bolsista x do CNPa, seems as 2 Douttnan em otto Paice esecedae pelo Prorana de Pb Sadao em Dt d read Geral de Santa Catarina, Mestra em Dielto, Estado e Sociedade, na linha de pesquisa Dro, isco’ GPDA/CNPa, Secretaria Gerald lnstitutoO Ditto por um Planeta Verde. AdvogadaProfessora de Diceito Ambiental. Bolsista UNIEDU/SC. n 6 conan J estado Centra de Estudos de Dro Orderamento, do base edo Ambient i evCEDOUA Prins Emboramutossejam os autores quetrabalhem coma anise dren de tual, sem dvdaalguma,0socilog alemo Ulich Beck éomsicn da tora da socedade de sce, justamente por isso, 0 seu recente nocomega de 035, oureuma mens lacuna de um penta mp cto da adeidade refer au dud os clement, as agen fundamentagao da teoria da sociedade de risco, repensando a Blobaliza, att demidadeacseambintaleosmodosierentsdpresemsociedsaqp 23 eb, que ve trazendo consequtncas nests naturea ean sr O pensamentobecianoinfenco niueni o Dito de omy nee prova disso 6 enorme uantidadedetrbalos ave podem ser nena sites acadmicos de inderaio', nos qual tera do sociedad de rig rencialte6tico, principalmente nas éreas de Direto ambiental, Dieito cin, internacional, Sociologia jurdicae Direito penal. demas, tal teora ent Stig, bina ina, il Dita eta tema extremamente atuais, como seguranca alimentar, medicamentos e uitsoutgs No entanto, ao abordar a questao do consumo Sob 0 viés do isco, buscaree ‘ ‘no presente trabalho, dar um passo adiante, fazendo-se uma andlise dife, . inovadoradasinterconexdes da teora da sociedade de sco beckianacoma ening Sociedade de consumo de Bauman, com objetivo de possibitaruma comprens, ‘mais aprofundada das caracteristicas e consequéncias geradas pela atual Sociedade e seus padrdes de producdo e consumo. Dessa forma, far-se-4,no primero item, uma breve descrio da teoria da socie dade de consumo de Zygmunt Bauman, utlizando-se, contudo, do suporteteécode outros autores que também trabalham com a temstica. Em um segundo moment, estudando a teoria beckiana da sociedade de risco, pretende-se buscar suasinter conexdes com a questio dos padrées de produco e consumo e com a teria da sociedade de consumo, ambas teorias sobre a segunda modernidade (modernidade reflexiva ou, para Bauman, modernidade liquida). Identificadas as consequéncias dos padrdes adotados pela atual sociedade de tisco e de consumo) e as caracteristicas e limitagdes do Estado e do préprio Direito para lidar com a complexidade dos problemas socioambientais atuais, desenvolver- -Se-d, ao final, proposigdes tedricas que enfrentem esse déficit juridico-normativo enciada e 3 Vie, nest sentido: MOREIRA, Rdmulo de Andrade. Marre Ulich Beck socslogo da socedae de sa. fe Jus avigandi, Teresina, ano 20.4224 24 ja, 2015, Dsponve em: ip us.com./atgos/ 375 NES «28/03/15. No mesmo sentido: RODRIGUES JUNIOR, Otavio Lue. Morre lich Beck um sctog fue ta tea do Ditto In: Revista Constr Jurdico, 2 an. 2015, Disponvel em: itp: fmmcorjucomb05 jan-21/dieto-comparado-more-urc-becksociologo-inluente-aea-eta.Acesso em: 2/01/20 4 Vide Google Acadtmico: tp: /schoa.google com br scholar2l=p-BR&q-ulcheBeckBDInGeBl Nast ue o principal vo de Beck, {UVRO} Rsk soit: Towards 2 new modernity, de 952 fl clad 24724 apenas nesta pubiarie, revCEDOUA Ps poutrna | para a superagao do atual modelo de produsao e consumo, com nogies mats ocrdtico-participativas de gy dem st40 dos riscos socioambientals gerados na atual era do consumo. 2, Sociedade de consumo e consumismo 0 fendmeno do consumo, entendido como o ato de “adquirir ¢ utilizar bens € servigos para atender As necessidades”s, tem raizes tio antigas quanto a historia da humanidade’. Contudo, ao longo dos tempos, houve uma evolugao na forma como o consumo se dé, e segundo Bauman’, qualquer modalidade de consumotipica de um periodo especifico da historia pode ser apresentada como uma versao ligeiramente modificada de modalidades anteriores, Assim, levando-se em consideracao 0 conceito de consumo acima transcrito, Bustamante’ elenca trés tipos de necessidades que sao cobertas pelo consumo: basicas, culturais e do sistema produtivo, As primeiras, icadas pela autora como as necessidades de alimentacao e seguranca, por exemplo, sao insubstituiveis e imprescindiveis para a manutengao da vida humana, Ja as culturais sao aquelas necessidades vinculadas ao sentido de pertenca a determinada classe/comunidade ou relacionadas a habitos, podendo ser reais ou induzidas. €, por fim, as necessi- dades do sistema produtivo se referem tanto aos insumos por ele utilizados quanto a0 consumo do que foi produzido, o que, como se vera adiante, acarreta na criagao artificial de necessidades nos consumidores. importante destacar que o consumo que se vincula a reafirmacao de sentido de pertenca das pessoas, o consumo cultural, nem sempre € induzido. Tais necessida- des podem ter origem artificial, vinculando sua base a necessidades concretas do sistema produtivo, mas podem também ser alheias a este sistema e estar de fato relacionadas & hist6ria de um povo. Tem-se ento que tanto as necessidades ba cas quanto as culturais existem desde os primérdios da histéria da humanidade. Ja as necessidades do sistema produtivo apenas passaram a demandar um consumo especifico com a modernidade’. [LEONARD, Annie, A hst6ra das coisas: da natureza ao lito, 0 que acontece com tudo que consumimes. Rio de Janeiro: Zahar, 208, 158. 6 BAUMAN, Zyemunt. Vida para consumo: a transl 2008, p.37. 7ibider, ‘8 BUSTAMANTE, Laura Perez. Los derechos de a sustent Colihue, 2007.9. 9 Ibidem. p. 10. formacdo das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, J: desarole, consumo y ambiente. Buenos Aites: RevCEDOUA 1.2016 rial e 0 consumo sio mi a cultura mater Spec se afirmar que ‘ pode-se as as atuais soci vrsociedade. Noentanto, aPenas.s 10215 Socedades yg, fundamentals de qualau " ciedade de consumo” Isto significa admitirque ge, cioacimaealemdaquela satistardo de necessidgy, ais tipos de soci aes es no reomum atodas.os demas tipos de Sociedade... ; o materiaiseder ; is”. Nesse sentido. \dugao social : Baudrillard" afirma que: a saopontgemqueo “consumo” invade toda avide,em qa, imo vida ches: rvtnidadesseencadeiam domesrmomado cOmIMALio, em que 5 dasa! vefacses se encontra previamentetFa¢ad0, hora a hrs 1 da a gtotal,inteiramente climatizado,organzady, logia do consumo, a climatizacao gera 4, vida, ve bens dos bjectos os servis, d25cOnduS €€35 lai a anta oestédio completo e “consumado” na evoludo que bed simples, através dos feixes articulados de amento total dos actos e do tempo ..), cai se emqueo“envolvimento” € culturalizado. Na fenoment vai da abundancia pura € objectos, até ao condicioni biante disso, com o intuito de realizar uma breve andlise sociol6gica dessa trans. formagao do ato de consumit, embora existam iad autores que trabalhem com esta varidvel, o presente item utilizaré a teoria da sociedade de consumo desenvalvida por Zygmunt Bauman como’ fio condutor do raciocinio a ser tracado, o que nao excluirg a ulizacdo de outros autores como jean Baudrilard que estudam esta mesmate. tméticae dato maior consisténcia efundamentacaoteorica as delas aqui ventiladas, Neste sentido, Zygmunt Bauman (2008), 20 realizar seu estudo sociol6gico sobre asociedade atual, na mesma esteira que Ulrich Beck, como se verd no segundoitem do presente trabalho, identificou duas fases distintas e subsequentes da moderni- dade, as quais denominou de modernidade s6lida e modernidade liquida (primeira modernidade e segunda modernidade, na teoria de Beck), cada qual, embora ambas modernas, com caracteristicas peculiares, ensejadoras de diferentes tipos de socie- dade: sociedade de produtores e sociedade de consumidores (em Beck, sociedade industrial e sociedade de risco), respectivamente. ‘Segundo o Bauman, o proceso civilizador moderno foi desencadeado pelo estado incerteza gerado pela desagregacao e impoténcia das comunidades pré-modernas Para lidar com as emergentes questdes sociais, econémicas e politicas. Tal processo criou o artficio social da “naga que, a semelhanga da “comunidade”, tem como Tahar, 2010. 14 igbes 70, 2008. p. 18-19, RevCEDOUA 3.2016 fevCEDOUA objetivo a regulatizagao ou p, vclronteay As pressdes homogone! 010 condita hy WHALES day ‘ComunIdades pig Na fase sola da moderato, cajy marco i AN denon bons quo principals motivacdes dos dose para a seRUTANEA, Nossa Ora, a Norse dp um existéncla segura, imune aos fituros Mana, nao male submetida Mmadernas, HO1IC0 COMMONLY 6 4 fe Industial, desenvolveuso aque, Cortamente 6 a Revolugan lourdl Harantisnom o con Hose asel08 do ‘0clodade de produtoves! Aaproptlagdo & a posse do iclodade de produtoye Hoo 6 0 Fespelto evan ay 1 socledade, otk frande volume de Aptichos do dos 4 longo pr lentada basicamente hens Insinuava uma tino, Assim, sendo a soguranga 120-0 principal props patwasocledade de produtores,os hens adqutty Imediato ¢ deviam ser protogidos da deprert desgaste eda possibitidade dec fato durdveis, tes sito © .0 valor malor tinavam ao consume go Ou dispersio, resyuardados do ki 4 ‘altem prematuramente mis bens de © Imunes ao tempo poder a sequrangad ° COnsuM OStensivo para essa socledade con stla na exibigio priblica de riqueza com éntfase em sua solider @ durabllidade, Ocorre que, coma aceleragio da Produtividade (aumento da oferta), a5 socleda- des industelalizadas adotaram as leis da economia de mercado como leis socials optaram por investir no crescimento econdmico como e: stratgla (equivocada) para busca do bem-estarsocial. Porém, para concretizagio desse plano: “se de consumidores mais ferozes, sto 6 de um aumento da demanda' rol entio Aue profundas mudancas acorreram no selo dessa sociedad’, resultando em uma verdadetra “Revolugtio Consumista", definida por Bauman’ como: No se dos em des lam oferece jada, de modo que social, precisava- @ passagem do consumo ao “consumismo”, quando aquele |... tornou- se especialmente importante, se nao central, para a vida da maioria | das pessoas, o verdadeiro propésito da existéncia. E quando nossa BUR EM Ob p56 Sten IBAA met p. na Dg “ttm an ceo ans epg is massa nn in coke shen deen eens was ane ur ua are trina ree ri nts nn a pp ier emacetn ann ypradeshcihenetesn i ee fm mire oe i oe ee steno catcher e in barn nn beonn osrpcean sean ponerse ee ese siren fnttrn ssn ns repos one tioeav sepia naps AAA em ek 383 2 RevCEDOUA 1.2016 Antiente est do Cen de Estudos de tad Odenamert, do Ubanlna eo Abi ON fevCEDOUA Poot copacidade de ‘querer, ‘desejar’‘ansiar por’ e particularmente ge experimentar ais emogdes repetidas vezes de fato passou a sustena do convivio humano. a econo Nesta linha, Baudrillard define 0 consumismo como 0 desperdicio produtg, quando o supérfluo” precede o necessario e a despesa precede em valor a acumy, lagGo ea apropriagdo. Por sua vez, Bustamante” afirma que o consumismo tem sug origem nas necessidades criadas artifcialmente pelo sistema de producio, que as molda como necessidades culturais por meio de diversas estratégias como 4 ‘obsolescéncia planejada, por exemplo . A autora aduz ainda que o fendmeno pode ser definido como: tipico da sociedade de consumo em lugares ou setores que nao possuem dificuldades econémicas de acesso, caracterizado pela aquisiggo de produtos e servicos desnecessarios, pelo ‘mero ato de consumir’ cons. titufdo em habito e que é considerado como um importante obstaculo para a utilizagao racional dos recursos naturais limitados.”" J4 Bauman” salienta que, de maneira distinta do consumo, que é uma ocupa¢ao natural dos seres humanos como individuos, o consumismo é um atributo da soci dade. E para que uma sociedade adquira esse atributo é preciso que a capacidade individial dos membros sociais de querer, desejar e almejar seja, tal comoa capaci- dade de trabalho na sociedade de produtores, destacada (alienada) dos individuos e reificada em uma forga externa. Dessa forma, com a Revolucéo Consumista surge um novo tipo de sociedade, caracteristica de uma nova etapa da madernidade, a sociedade liquido-moderna de consumo. No entanto, é importante destacar que, como aponta Orr: 18 BAUDRILLARD, Jean. Ob. cit. p. 40. 49 Adistncdo entre necessidades “basicas”e “supéluas”, ou “desnecesséti das vaiévels adotadas no estudo, como tipo de cultura, a classe social, o sexo, o pressupostoaxil6sico, ee, de forma que se trata de questo extremamente complexa e nebulosa, Nao se entard nesse tema em especTco no presente trabalho, que buscaré abordar, de uma forma geral, os impactos socioambientals do aumento ex90 nencial do consumo nas sociedades contempordneas. 20 BUSTAMANTE, Laura Perez, Ob. cl. 10. 21 Taduedo lve do original “fenémenotipico de la sociedad de‘consumo en lugares osectores sin dfctdes SEembicas de acoso, caracterizado po la adquisicén de productos y servicios innecesarios, pr el me Hero Soran onsiuid en hibit y que es cosiderado como un importante obstacle en orden a uz ‘acional debs intados recursos naturales" BUSTAMANTE, Laura Pore, Obs ch, 22 BAUMAN, Zygmunt bcp. 41 ae. egke David W-The ecology of giving and consuming. n: ROSENBLATT (Org), Consuming Desires: Consum 2h, ltr andthe Pursuit Happiness, Washington: sland Press, 999". ag 5", depende fundamentalmente RevCEDOUA 1.2086 dP date ea : fevCEDOUA Osurgimento da sociedade de consumo ndo foiinevitavel nem acidental. Pelo contrério resultou da convergéncia de quatro forca m conjunto deideias que afirmam que a Terra existe para o nosso usufruto; a ascen- sao do capitalismo moderno; a aptidao tecnolégica; e o extraordindrio acimulo de riquezas pela América do Norte, onde o modelo de consumo massificado langou raizes pela primeira vez, Destarte, foi principalmente apés o término da Segunda Guerra Mundial, quando a capacidade de produzir bens de consumo acelerou e a maior parte da populacao nao tinha renda suficiente para adquiri-los, que o ideal consumista surgiu. Segundo Leonard’, 0 empresario Henry Ford, com sua proposta de consumo de massa, teve papel decisivo nessa Revolugao Consumista. Sobre o assunto, Baudrillard’ afirma que o consumo sistematico e-organizado surge como um modo novo e especifico de socializagdo decorrente do processo iniciado pela emergéncia de novas forcas produtivas, com o ingresso das popula- ges rurais no trabalho industrial, e pela reestruturacdo de um sistema econdmico de alta produtividade. Constitui, conquanto, o equivalente e o prolongamento, no século XX, do processo de racionalizacao das forgas produtivas que ocorreu durante todo o século XIX no setor da producao, alcangando seu termo agora no setor do consumo, Isto 6, O sistema industrial, depois de socializar as massas como forcas de trabalho, deveria ir mais longe para se realizar e as socializar (ou seja, controlé-las) como forgas de consumo. Os pequenos economizadores ou consumidores anarquicos do perfodo anterior & guerra, com liberdade de consumir ou nao, nada tém a fazer em semelhante sistema’*, Porém, além destas estratégias inauguradas por Ford, ainda faltava uma motiva- ¢do para queas pessoasse tornassem consumistas de fato, isto, era necessaria uma mudanga mais intrinseca, capaz de atingir 0 padr4o comportamental dos membros sociais. Nesse sentido, tem-se 0 relato do analista de varejo Victor Lebow*”, que, apés 0 término da Segunda Guerra Mundial, descreveu 0 que era necessario para fazer a populagao consumir: 24 LEONARD, Anne, Ob. cit. p.373. 25 BAUDRILLARD, Jean. Ob. cit . 96-97. 26 biden, 27 LEONARD, Annie, Ob. itp. 173 RevCEDOUA 1.201 aa niin dn enon do Ubansmo edo Ambiente / Wi _poderia ser de outro jeito, ja que oconsumismo, ft ~ \ entre os diversos membros da sociedade, we revCEDOUA —— P poutine Nossa economia altamente produtiva [...] exige que transformemos 0 consumo em nosso modo de vida, que convertamos a compra e 0 uso de bens em rituais, que busquemos nossa satisfa¢ao espiritual, nossa satisfacao egoica, no consumo, [...] Precisamos que as coisas sejam consumidas, gastas, substituidas e descartadas num ritmo cada vez mais acelerado. no caminho que conduz a sociedade de consumo, o desejo humano Desta forma, 1u maior risco. Enao de estabilidade se transforma de principal ativo do sistema em se em aguda oposi¢ao as formas de vida precedentes, associa a ideia de flicidade & possibilidade de uma igualdade material nao tanto pela satisfacao de necessidades bésicas, mas por um volume e uma intensidade de desejos sempre crescentes. ‘Assim, neste novo tipo de sociedade, o milagre do consumo se utiliza de todo le objetos e signos, que, se adquiridos e utilizados, prometem trazer um arsenal d como recompensa a referéncia absoluta da sociedade de consumo, o equivalente auténtico da salvagao, isto 6, a felicidade. ‘Além destas caracteristicas até entdo referidas, segundo Bauman”, uma das pe- culiaridades mais marcantes deste tipo de sociedade é a ressignificacao do'tempo. O tempo na sociedade liquido- moderna de consumidores nao é ciclico nem linear, «pontilhista”. O tempo pontilhista é fragmentado numa multiplicidade de instantes eternos, cada um com potencial infinito de felicidade de uma vida “agorista”, que nao vé o amanha. “Na vida agorista dos cidadaos da era consumista 0 motivo da pressa 6, em parte, o impulso de adquirire juntar. Mas 0 motivo mais premente que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir.” Nesse sentido, segundo Baudrillard, a “abundancia” da sociedade de consumo estd diretamente associada com o desperdicio, que, longe de figurar como um residuo irracional, recebe uma funcao social “positiva”: a de substituir a utilidade racional dos bens materiais. Isso significa que a representaao de abundancia neste novo tipo de sociedade deixa de ser feita pela posse de bens que sejam de fato dteis e passa a ser realizada pelo excesso e desperdicio de bens, sejam eles titeis ou nao. Portanto, para Bauman®, a principal caracterfstica que separa de forma mais, drastica a cultura consumista prevalecente da sociedade liquido-moderna do consu- mo de sua predecessora produtivista parece ser a revoga¢do dos valores vinculados 28 BAUMAN, Zygmunt. Ob cit. p. 50. 29 BAUDRILLARD, Jean. Ob. cit. p. 40. 30 BAUMAN, Zygmunt Ob. cit. p. 138, ReyCEDOUA 1.2016 Revista do Cento de Etudes diet da idenamantn dn tchaniema edn mbet® revCEDOUA respectivamente a duracao e a el a virtude da procrastinacao e da = ae i ae aaa momento posterior (0s dois pilares axiolégicos da so i" einen 2). patn degradar a duragao e valorizar a efemeridade. A eer mul velocidade, excesso e desperdicio. ae Destarte, como se pode perceber, a sociedade de consumo apenas prospera enquanto consegue vincular a ideia de felicidade a aquisigao de bens de consumo, somada i perpétua ndo-satisagio de seus membros. métodoexpliitoparaatingi tal efeito é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido promovidos no universo dos desejos dos consumidores”. Segundo Leonard®, diversas estratégias foram desenvolvidas para que se al- cancasse essa meta, dentre as quais as principais sao: a) passar lojas locais para shopping centers, criando redes de varejo; b) permitir o pagamento posterior (com juros) das compras realizadas pelos consumidores, através, principalmente, dos car- toes de crédito; ¢) eliminar praticas autossuficientes e/ou comunitérias para atender as necessidades basicas; d) fundir a nocao de identidade, status e consumo com a e) desenvolver a indastria da publicidade; ef) maxima “vocé é 0 que vocé compra” sistematizar e normatizar os conceitos de obsolescéncia planejada®. 3. Sociedade de risco e consumo: interconexdes tebricas de uma segunda modernidade Feita esta breve descricdo a respeito da teoria da “sociedade de consumo”, faz-se importante destacar que tal temo & apenas um dos indimeros rétulos que foram cunhados por autores das mais diversas éreas para referencia a sociedade contempordnea. Como visto no item anterior, na teoria da sociedade de consumo, avariavel analisada 6 0 consumo, suas transformagées, cractersticase influéncia sobre a sociedade. Contudo, ao contrério de termos como “‘pés-moderna” ou “pés- “industrial”, que sinalizam a ultrapassagem de uma €Poca, sociedade de consumo mos remete a uma caracterizacao peculiar da sociedade atual como uma transfor- pera¢ao da modernidade. “sociedade de risco”, que, analisando moderna, suas estratégias, caracte- .do atual como uma supera¢ao macao, e nao uma su} De fato, o mesmo ocorre com a teoria da riscos criados pela sociedade a varidvel dos a 0 perio risticas e consequéncias, também nao trat Su BAUMAN, Zygmunt Ob cit 64 32 LEONARD, Annie, Ob. cit 273 Ae ae 73 ada vr MORAES, Kara Guimardes de, Obslecincls pate 35 LEONARD rc plana vt ORME ee Lia go vgn Ee, 204 Ze npsustentablidade do consume produ Bout NOMA 1.2016 evans edo Ablete _ cevCEDOUA - mas como uma segunda etapa des jade reflexiva. Sent te perfodo, isto é, como uma do assim, € possivel afirmar quanto a teoria da sociedade de risco jedade, observada, conquanto, de mentam eauxiliam no mapeamento ade complexa e multifacetada. do desenvolvido no presente trabalho, dade de risco, trazendo da modernidade, lo a mesma Soc pontos devista di porém, se comple t compreensio desta que & Sendo assim, dando continuida farse-s, neste item, uma breve andlse dat as interconexses com a (e0r!a ; eeeraitl as limitagbes do atual sistema juridico-normal i ‘a complexidade dos problemas socioambientais gerados nessa nova fase da mo- demidade, notadamente no que concerne as consequencias perniciosas do modelo vigente edosriscos criados pelosatuais padrées de producfo consume, essaforma,tem-se queosurgimento da sociedade de risco” designa um estagio da modernidade no qualcomecam a tomar corpo as ameacas produzidas até entao pelo modelo econémico da sociedade industrial e sua consequente apropriacao consumista e individualista. ‘Ateoria da sociedade de risco, caracterfstica da fase seguinte ao perfodo in- dustrial classico, representa a tomada de consciéncia do esgotamento do modelo onsumo, sendo esta marcada pelo risco permanente de desastres do bem ambiental de forma ilimitada pela apro- amercantilizacao, o capitalismo sociedade atuala situacdes de de ao estu teoria da socie' da sociedade de consumo, para, por tivo para lidar com consumista de producao ec e catastrofes. ‘Acrescente-se 0 USO 1, a expansao demografica, o consumismo, priaga io - alguns dos elementos que conduzem a predat periculosidade®. Destarte, a sociedade de risco é aquela que, em funcdo de seu continuo cresci- mento econémico, com base no aumento constante de producao e consumo, pode softer a qualquer tempo as consequéncias de uma catdstrofe ambiental. Nota-se, portanto, a ocorréncia de um agravamento dos problemas socioambientals, se- guidos de uma transformacéo da sociedade (da sociedade industrial na primeira modernidade para a sociedade de risco na segunda modernidade), sem, contudo, haver uma adequacao dos mecanismos juridicos de solugdo dos problemas dessa dade, H4, nessa realiadade, consciéncia da existéncia dos riscos, de- nova so ea x8 BECK. anos, Aton Ast, Fens Modernizagio reflexiva: politica, tradicdo e estética na ordem SSUEITE, oe Rens Morao; PLAT Luciana G to; |, Luciana Cardoso; JAMUNDA, Wol it 351 een Pd es are dena. stad de drt ambiental Bs ceuztieaaiares ia ige Teles da; SOARES, Inés V. Prado (Orgs.). Desafios do ar ne “ln eas Peahisies aaaiacioas tspedicheet 1a Case RevCEDOUA 1.2016 8 Revista do Ce oo revCEDOUA === ee ene Es Bestdo e controle dos modelos de produ- mu . it, portanto, o fenémeno denominado de inresponsabilidade organizada», O que se discute, nesse novo contexto, 6 a maneita pela qual podem ser distri buidos os maleficios que acompanham a producdo de bens, ou seja, verifica-se a autolimitacao desse tipo de desenvolvimento e a necessidade de redeterminar 05 padrées (estabelecer novos padrées) de responsabilidade, seguranca, controle, limitagao do consumo e consequéncias dos danos. A isso tudo, porém, somam-se 0s limites cientificos de previsibilidade, quantificagao e determinacao dos danos. Pode-se afirmar que a sociedade moderna criou um modelo de desenvolvimen- to tao complexo e avancado, que faltam meios capazes de controlar e disciplinar esse desenvolvimento e o consumo exarcerbado. Segundo Beck”, “as sociedades modernas so confrontadas com as bases e com os limites do seu préprio modelo”. Em termos similares, Giddens» diz que o risco & a expressao caracteristica de so- ciedades que se organizam sob a énfase da inovacdo, da mudanga e da ousadia. De fato, nessas afirmagées, questiona-se a prépria prudéncia ecautela da ciéncia em lidar com as inovacées tecnolégicas e ambientais, que, mesmo trazendo beneficios, esto causando riscos sociais nao mensuraveis. Sem esquecer que muitas vezes produzi- mos bens destinados puramente ao mero individualismo predatério e a manutencao do sistema produtivo, mas sem qualquer elemento de necessidade basica e social. Afalta de conhecimento cientifico ea sua incerteza implicam uma disfungao, po- dendo ocasionar, segundo Beck, duas formas de risco ecolagico possiveis sobre os quais 0 Estado atua, de forma paliativa, como mero gestor do controle dos riscos*, quais sejam: a) risco concreto ou potencial (visivel e previsivel pelo conhecimento humano); e b) risco abstrato (invisivel e imprevisivel pelo conhecimento humano), significando que apesar de sua invisibilidade e imprevisibilidade, existe a probabi- lidade de orisco existir via verossimilhanca e evidéncias, mesmo nao detendo o ser humano a capacidade perfeita de compreender este fenémeno. Dessa forma, é certo que toda essa difusao subjetiva, temporal e espacial das situag&es de risco e perigo, conduza pensar o meio ambiente e o consumo de forma diferente, superando o modelo jurtdico tradicional. Nesse sentido, orisco, atualmen- cia 6 causa dos prinipats problemas da sociedade industrial. Disponivel em: chttp S7ECK Uti Ac i ia-e-causa-dos-principais-problemas.htmb. Acesso em: 28 si.univali.br/agenda21/contribuicoes-externas/cienc jan. 2035. 38 BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scot. op.citp. 7. 35 GIDDENS, anthony. Mundo em Gescontrle: o que a globalizagdoestéfazendo de nbs. 2. ed. Traducdo: Maria iuiza . de A. Borges. Rio de Janeiro: Record, 2002. P. 44-45. ‘46 LEITE, José Rubens Morato; PILAT, Luciana Cardoso: JAMUNDA, Woldemar. op. ct. » RevCEDOUA 3.2016 - ol fevCEDOUA Poot] te, um dos maiores desafiosenfrentados, quando se objetiva uma eftivaprotecay juridica do meio ambiente e um consumo sustentavel, Nota-se ue a crise ambiental ede consumo tem condigées de projetar seus efeiag rnotempo sem haver uma certeza eum controlede seu grau de periculosidade.Pode.ce Aitar como exemplos: 0s danos andnimos impossibilidade de conhecimento atuap, cumulativos, invisiveis, efeito estufa, chuva dcida e muitos outros. Toda essa prof, feragao das situagdes de risco acaba por vitimizar nao 56 a geragdo presente, como também as futuras geracdes" No que concerne ao elemento tempo, Ayala destaca que o sistema juridico protetivo deve ser apreciado como um elemento fundamental (...)nas opgGes, e selecdo das medidas de controle dos riscos, porquea qualidade global, e o anonimato potencial expdem o desenvolvimento da vida a estados de inseguranca, cujo momento e duracao n3o podem ser cientificamente determinados com a certeza suficiente. ‘Ademais, Beck alerta para a auséncia de publicidade dos riscos, compreendendo- -se af a dificuldade de acesso as informacdes que permitam medir o contedido e a extensdo dos riscos. Nesse sentido, ele estabelece a diferencia¢ao da situagdo em que se sabe que o perigo existe, daquela situacdo em que se corre perigo sem saber sua origem ou extenso". Na realidade, esse anonimato vai refletir na ja mencionada ideia de irresponsa- bilidade organizada*, em que os varios sistemas da sociedade conseguem, através de instrumentos politicos e judiciais, ocultar a origem, as propordes e até os efeitos dos riscos ecolégicos e nos direitos do préprio consumidor. 0s riscos possuem, agora, grande aptidao de expor uma série indeterminada de sujeitos a estados de desfavorabilidade, estendendo-se potencialmenté em uma escala global, ¢ afetando, também, os membros das futuras geragdes, com resul- tados de decisdes atributveis a limitada participagao de membros desta geracio, responsdveis pela proliferacao de riscos globais e intergeracionais*, {i Sobre o tema ver: AYALA, Patryck de AraGjo. Dieltoe incerteza: a protegdojurdica das futuras geracBes no estado de direito ambiental Foriandpolis, 2002. Dissertagio (Mestrado em Direto) ~ Universidade Federal de ‘Santa Catarina. 42 AYALA, Patryck de AraGjo. A protecdo juridica das futuras geracbes na sociedade do risco global: dreito 20 futuro na ordem consttucional brasileira, In: LEE, José Rubens Morato; FERREIRA, Heline Sivin. Estado de drto amblental: perspectvas. Rio de Janeiro. Forense Universtéria, 2003. 43 GOLDBLATT, Davi, Teoria social e ambiente. Taducdo: Ana Maria André, Lisboa: Paget, 1998. 444 BECK, Ulich, Sociedade de isco: rumo a uma outra maderidade. Sdo Paulo: 34, 200. ‘4S AYALA, Patryck de AraGjo. A prote¢dojuridica das futuras geracSesna sociedade do rsco global: drltoa0futu- rona ordem consttucional brasileira. opt. Sobre a globalizagdo do riscos,considerada como o prfilespecifico dos riseas da modernidade, cf, GIDDENS, Anthony. As consequéncias da modemidade, Tradugdo: Rau Fier, 6. reimp, S80 Paulo: Unesp, 1991 p. 126-327. RevCEDOUA 1.2016 eat do Cento de Estos Dio rderamerta, Urbano edo Anbett revCEDOUA a Destarte, € possivel afirmar que tanto a sociedade de produtores de Bauman, quanto a sociedade industrial de Beck, ambas identificadas pelas teorias ora estu- dadas como tipicas da primeira etapa da modernidade, possuem como caracteristica a segurabilidade. Enquanto que a sociedade de produtores busca a produgdo eo consumo de bens que sejam imunes aos caprichos do destino, isto é, resguardados do desgaste e de cafrem prematuramente em desuso, a sociedade industrial lida centralmente com a producao de riscos que sejam concretos e previsiveis, podendo, assim, segurd-los ¢ preveni-los de forma eficaz. Contudo, como visto, 0 aumento da capacidade produtiva e da aptidao tecnolégica foram umas das molas propulsoras para a transformagao social, inaugurando-se uma nova fase da modernidade com a sociedade de consumo, para Bauman, e com a sociedade de risco, para Beck. Em ambas as andlises verificou-se que tal trans- formagao social gerou uma modificagao do padrio comportamental da sociedade. Sendo assim, pode-se afirmar que, para a teoria da sociedade de consumo, 0 niicleo fundamental desta modificacao do padrao comportamental foi a ligagao da ideia de felicidade ao ato de consumo, estimulando-se uma crescente velocidade eintensidade de desejos através da utilizagao de objetos e signos, principalmente Por meio da publicidade, que, ao mesmo tempo, oculta todas as consequéncias socicambientais perniciosas geradas por estes padrdes de producao e consumo. Por outro lado, para a teoria da sociedade de risco, é possivel sustentar que 0 niicleo fundamental da modifica¢do do padrdo comportamental social para acei- taco de riscos nao apenas concretos e previsiveis, mas, agora também abstratos € imprevisiveis, foi a difusao da fé incondicional na tecnologia e no conhecimento cientifico, que, através da divergéncia ou falta de informacées concretas sobre os riscos por partes dos experts (detentores deste conhecimento), gera um estado de incerteza generalizado, acarretando, por sua vez, uma apatia social face aos riscos ecolégicos gerados pelos padrdes de producao e consumo atuais. O fato é que, ambas as estratégias de modificaco dos padrdes comportamentais da sociedade tipica da segunda modernidade (modernidade liquida ou modernidade reflexiva), ligagdo da felicidade ao consumo, para inaugurado do consumismo, e fé na tecnologia para aceitacao de riscos abstratos e imprevisiveis, tm como fim declarado a busca por um completo (¢ talvez ut6pico) bem-estar social. Contudo, como se verd adiante, tal fim acabou por se tornar a promessa nao cumprida dessa Sociedade, que, ao contrario, depara-se com situagGes catastréficas e de risco social © ecolégico sem precedentes, diante das quais a atuacao estatal tem se mostrado ineficaz e insuficiente. RevCEDOUA 1.2016 esa do Centra de Estudos Deo d Oresamete, do Ubarismo edo Ambiente a revCEDOUA Diante disso, percebe-se, laramente, que ha a necessidade de o Estado melhor se organizare facta o acesso aos canals de participacao, informacao, gestig e decisao relativas aos problemas e aos impactos oriundos da irresponsabilidade politica no controle de processos econdmicos de exploracao inconsequente dog recursos naturais em escala planetaria. / Aproiferagio de causas ameagadoras se expressa, agora, na forma de iscos ine. gurdveis, que sao originados de processos de decisdo desenvolvidos em espacosing. titucionais de acentuado déficit democrético, com poder de vitimizar geracdes em uma escala espacial e temporal de dificil determinacao pela ciéncia e pelos especialistass, Sao riscos cujo perfilé caracterizado pela indeterminagdo e, no grau maximo, pelo completo anonimato que paira sobre seus responsdveis, suas causas, suasvitimas, sua extensio, seus efeitos e sobre a propria qualidade perigosa das causas, que se situam em um amplo contexto de incertezas e imprecis6es, impossibilitando a prépria compreensao social, e, principalmente, sua regulacao juridica”. Com efeito, é preciso que se admita os beneficios e o aumento da qualidade de vida que foram proporcionados pelos avancos civilizacionais dos padrées de produ- (0 e consumo da sociedade moderna (de risco e de consumo). No entanto, 6 certo que os progressos clentifico, técnico e industrial impulsionados por este modelo Permitiram, por outro lado, a proliferagao de armas de destruicao em massa (como a nuclear) e provocaram um proceso de degradacao social e da biosfera inédito, suscitando crises em série. Assim, tem-se que a promessa da modernidade foi ape- nas parcialmente cumprida, criando também riscos mortais para a humanidade, em ‘suas presentes e futuras geracdes**. As atuais sociedades ainda créem, em sua grande maioria, que os danos socioam- bientais ocasionados por estes padrdes poderdo ser reparados logo que o desenvol- vimento tenha chegado a um determinado (ut6pico)’ ponto de “equilibrio” (fé na tecnologia), sendo que a manutengao dos atuais padrées de producao e consumo em continua expansao, embora gerem riscos de grande proporgdes e ameacem os {46 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patrick de AraGjo. Di Forense, 2004. a7 bid ‘48 MORIN, Edgar. Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade Rio de janito: Bertrand Brasil, 201, 2.78. 49 Como passar dos anos, esta lgca tem demonstrado claramente a sua inconsisténca, Prova disto &3 cise Sconbimica mundial evidenciada a partir do ano de 2008 e perpetuada até os dias atuals nos EUA e na Europ, {ibs recessdes tm acarretado medidas de austeridade severas, com consequéncias socials preocupantes a. tos niveis de desemprego, mi Niestaq roblemas previdencidrios, etc). Neste ponte, € importante que se destaque que tl ESE so detagrada justamente nos paises ditos desenvolvidos, precusores deste modelo de desenvolvineno ae Sree cae east. ato que force fortes e incontestévesindcos da faléncia deste paradigma, nab 36 al, as, principalmente, na econémica. 50 BUSTAMANTE, Laura Perez. Ob. ct p. 90, ito ambiental na Sociedade de tsco, Rio de Jane: RevCEDOUA 1.2016 Revista do Cento de stash ta neem A fevCEDOUA ee 0K limites biofisicos do planeta, torna-se a mais plena tradugao da nogao beckiana da irresponsabilidade organizada. Tem-se que tais padrdes, em verdade, tém gerado importantes problemas sociais eambientais. Sem dvida alguma, para os patses da periferia do mundo capitalista, tal modelo é especialmente grave quanto ao seu resultado social. Segundo Mon- tibeller-Filho™, 0 mimetismo tecnolégico e dos padrées de consumo dos paises de capitalismo avangado realizado pelos paises em desenvolvimento dirigem 0 grosso dos investimentos para atender a uma demanda cada vez mais sofisticada, restando desconsideradas as necessidades de grande parte da populacdo, notadamente a massa de trabalhadores de menor qualificagao técnica, participante ou alijada do mercado de consumo. Isto 6, além dos graves riscos ambientais, o modelo de produgao e consumo da sociedade nesta segunda modernidade esta alargando profundamente a distancia absoluta entre as nagGes ricas e as nagées pobres e entre as classes mais ricas € as classes mais pobres® Nesse sentido, tem-se que estes padrdes, além de pugnar to é, a e fomentar o consumismo, acarretam, simultaneamente, 0 subconsumo, falta de acesso ao consumo. Dentro deste contexto, veril consumo), determinante da pobreza, como 0 consumo conspicuo (consumismo) gerados pelos padrdes de producao e consumo das atuais sociedades modernas, se encontram em pontos extremos das possibilidades do consumo, sendo ambos malé- ficos. 0 subconsumo por enfraquecer as possibilidades de vida e desenvolvimento dos rejeitados sociais, gerando (e/ou sendo gerado pelo) desequilibrio social. Jé 0 segundo, o consumismo, por provocar, uma toxicodependéncia gerada pelo stress deste modelo de vida. Ambos, contudo, tem gerado uma degradacao ambiental sem precedentes, isto é, uma verdadeira crise ambiental. Entéo, este paradigma moderno tem produzido um afastamento (teérico e prati- co) entre a economia e a natureza, gerando graves equivocos. 0 primeiro deles se refere ao pressuposto de que os recursos e a capacidade de absorcao do planeta sio ilimitados. Além disso, acarreta também em uma falha instrumental, qual seja, a falta de consciéncia da dependéncia basica da economia humana de um vasto conjunto de recursos fisicos e biolégicos enquanto materiais, fontes energéticas e ica-se que, tanto a falta de acesso ao consumo (sub- S51 NONTIBELLER IO, Gilberto, O mito do desenvolvimento sustentivel: meio ambiente e custos socials no mo ermo sistema produtor de mercadorias.Foriandpois: Editora UFSC, 2008, p. 49-51. '52 MEADOWS, Donella Hi eal Lmites do Crescimento: um rlatrio para o projeto do Clube de Roma sobre 0 dilema da humanidade. S30 Paulo: Perspectva, 1978. 40. 53 BUSTAMANTE, Laura Perez. Ob it p. 161-62. w RevCEDOUA 3.2016 estado Centro de Estudos Oreo do Orderamento, do Ubaismo eo Ambiente Ls. gevCEDOUA interdependentes dos alimentos, bem como do equilib 10 dos servicos ecol6gico Li libri ig gi . i demos". ; ais todos nés depen‘ ; inc sanvefato, a crise ecoldgica atual se caracteiza, Pr dos grandes mecanismos r re sfera, ja ques ladores da biosfera, j ides mecanismos regul seoquimicos que estdo sendo per urbados®. Esta crise consiste em um problem 8 le 6 0 e consi exo e multicausal endo ha davidas de que 0s padroes de ne con ae ualmente adotados tém papel fundamental para chegar-se a esta re eae al eel inclusive admitido de forma expressa por todos os paises signatarios da Agenda 21, elaborada na Riog2**. a i: ks, diant Contudo, como visto, segundo Beck”, antagon \ tangadas na sociedade pelos “detentores do conhecimento”, ou experts parte da ~ estratégia da irresponsabilidade organizada desenvolveu-se uma Eo negativa do afastamento” pela distribuigao, rejei¢ao, negacao e interpretacao dos riscos . gerados pela sociedade contempordnea. Segundo o autor, palmente, pela alteracao agora, S20 05 ciclos bio. 1e do antagonismo de informacdes aexisténcia ea distribuigdo de ameacas e riscos sao mediadas de modo invariavelmente argumentativo. Aquilo que prejudica a satide e destréi a natureza 6 frequentemente indiscernivel a sensibilidade e aos olhos de cada um e, mesmo quando pareca evidente aos olhos nus, exigira, segundo a configura¢io social, 0 juizo comprovado de um especialista para sua assercao “objetiva”.* Ocorre que, independentemente das interpretacdes que se fizerem sobre os riscos e danos ecolégicos criados pela sociedade contemporanea, o fato é que, como bem esclarece Foladori® de forma direta e simples, qualquer espécie, inclusive a humana, extrai recursos do meio e gera dejetos. Assim, quando a extracao de recursos ou a geracao de dejetos é maior do que a capacidade do ecossistema de reproduzi-los ou reciclé-los, estar-se-4 frente a depredacao e/ou poluicdo do meio ambiente, o que caracterizaré, por sis6, uma crise ambiental, E é exatamente isto que os padres de Producao e consumo da sociedade de risco e consumo esto ocasionando, 54 Ibidem. p90, 55 BOURG, Dominique, Naturezae técnica, Lisboa: Instituto Piaget, 56 ONU, ORGAN 1997.57 Boba de areas gots MASOES UNIDAS, Programa das Nacdes Unidas para Melo Ambiente. Agenda 21 gaa 4992. Disponivel em: htt: /www.mma.gov-b/port/se/agenzs/agzsglabal). Acesso em: 57 BECK, Ulich. Sociedade de rise 58ibidem. p, 32, 59 FOLADOR: Guillermo. 0 capitalismo e a crise Ree amblental Revista Outubro, v. 5.2008, p. 117418, Disponvel em: fem taoviubro.comebrfedioes/os/outs_ o8.pdh, Acesso em: 26 anc acre, ea ne sPOnNEL 6 Fume a uma outra modernidade. S80 Paulo: 34, 2010. RevCEDOUA 1.2016 J4 em 1972, 0 Clube de Roma, em seu relatorio “Os limites do crescimento”, por meio de um modelo de calculo cientifico previu que, caso mantivéssemos este modelo de desenvolvimento, no maximo até o préximo século” alcancarfamos os limites de nosso planeta € todos os sistemas de nossas sociedades (inclusive 0 econ6mico-industrial) entrariam em colapso devido ao esgotamento de recursos naturais ndo renovaveis”. Ora, as previsdes feitas pelo Clube de Roma jé na década de 1970 nada tém de misticas. Pelo contratio, foram feitas nos mais perfeitos padrdes cientificos e nao é a toa que, guardadas as devidas cautelas e excecdes, vem se confirmando por meio de importantes indicios. Nesse sentido, além das evidéncias empiricas dos limites biofisicos da Terra, cujos recursos nao sao infinitos, existem diversos livros ¢ relatérios de fontes confidveis que documentam a extrapolagao desses limites pelo processo civilizacional moderno, o que poderd acabar com todas as condi¢oes necessarias para manutengao da vida humana®. 4, Complexidade socioambiental: gestdo transdisciplinar do risco ambiental na era do consumo. Viu-se, nositens anteriores, quea sociedade caracteristica da segunda moderni- dade, ou modernidade reflexiva, pode ser analisada e compreendida por diferentes pontos de vista. Observada a partir da varidvel do consumo, contatou-se que, coma revolugdo consumista ocorrida, principalmente, apés a Segunda Guerra Mundial, 0 consumo para manutencao do sistema produtivo passou. superar o consumo voltado 4 satisfacao das necessidades basicas e culturais, acarretando no estabelecimento _de padres de produgao e consumo em constante crescimento. Por outro lado, se vista pela varidvel da producao de riscos, verificou-se que aatual sociedade, diferen- temente da sociedade industrial da primeira modernidade, cujos riscos produzidos eram predominantemente concretos e previsivels, tem produzido riscos cada vez mais abstratos e imprevisiveis. Isto porque, como visto, hd, nestanova sociedade tipica da segunda modernidade, seja ela de consumo ou de risco, uma ressignificagdo do tempo. Nesta nova etapa da modernidade o tempo nao é mais considerado nem como “ciclico” (conectado com o passado, como na pré-modernidade), nem como “linear” (voltado ao futuro, ulo& bastante otimista, pois nio leva Zo rlatorodestaca que océleul de atingir claps até proxino sé a a i ‘que podem exercer influéncia para 0 ‘em consideragio acontecimento descontinuos, como guerras eepidemias, término do crescimento até mesmo antes do prevst. 61 MEADOWS; et al, Ob. cit. p. 123 62 STEFFEN, Wil; et aL; Global Change and the Earth Systems: A Planet Under Pressure, New York: Sprinder ‘Verlag, 2003. - 5. 6 RevCEDOUA 1.2016 | 25) essa da ent de Estudos de Dh do Odenamenta, do Urbarsmo do Ambiente os de Oke d 35) caracteristico da primeira modernidade), mas “pontilhista”, ou seja, compreende. -se 0 tempo como um instante de infinitas possibilidades, mas que, contudo, perde toda conexdo com o passado (experiéncias, tradicées, etc), bem como toda a res. ponsabilidade com o futuro. Em decorréncia disso, ambas as andlises sociol6gicas demonstram que os riscos, ¢ danos ambientais gerados pela sociedade da segunda modernidade sao defen. didos e aceitos como parte do processo civilizatério por meio do que Beck chama de irresponsabilidade organizada. O desrespeito aos limites biofisicos do planeta a fragilizagao das condicdes de vida pelos riscos socioambientais gerados sao, a0 mesmo tempo, ocultados por uma complexificagdo que supera a capacidade juridico-regulatéria e democrético-participativa desta mesma sociedade. No entanto, a este respeito, Ayala®, ao remeter & questo da regulamentacao do futuro, as responsabilidades e os compromissos, afirma: a possiblidade de um futuro nao promessa, mas compromisso, que sé pode ser realizado mediante uma triade de condi¢Ses estruturadas em tomo da participagao da informacao e da reparticao de responsabilida- des (solidariedade). 0 possivel deixa, desta forma, de ser socialmente Teproduzido como expressao que identifica condigdes de imobilismo ou de impoténcia perante um futuro inacessivel, desconhecido, e in- compreensivel, para assumir a qualidade de objetivo de compromisso juridico tendente & concretizagao, tarefa que dependem de severos compromissos de solidariedade. Eacrescenta, mais adiante: (..) a protecdo juridica de um direito ao futuro, e do préprio futuro, podem ser expressos em sintese, a partir da protecao juridica da vida no contexto das sociedades de risco, cuja concretizacio depende especialmente da gestao solidéria e responsével da informacao e do compromisso de produco do conhecimento indisponivel.** Sendo assim, tem-se que, para se buscar novos caminhos de desenvolvimento ue superem o paradigma do consumismo e do risco, 6 necessério que se faca uma 63 AYALA, Patryck de Arado, A proteglojurdica das futuras geragBes na socledade do rseo global: dieto 20 futurona ordem constitucional brasileira, op. cit. 64 idem, RevCEDOUA 1.2016 revCEDOUA om abordagem ampla, complexa e sistémica da problematica, Nesse sentido Leff (2006, p. 132-133) enfatiza que: Seatransicao até a sustentabilidade se da em uma ponte levadica entre uma modernidade inacabada (irrealizavel) e uma p6s-modernidade que rompe com 0 mito da representagao, tampouco vivemos em um puro vazio ontol6gico, fora de toda necessidade e de toda referéncia. Avolta a0 ser ea transi¢do a um futuro sustentavel estao tensionadas por uma diferenca real: 0 hiperconsumismo, que, regido pela lei da demanda através da manipulagao do desejo, continua remetendo ao imperativo da lucratividade e da necessidade da producao, da exploracao do tra- balho, da espoliagdo da natureza, da contaminacao do ambiente e de uma pobreza que nao consegue esconder seu rosto. Portanto, no que concerne especificamente ao consumismo, mister que se enfren- te esta caracteristica maléfica da atual sociedade por meio, basicamente, de duas ‘amente relacionadas: a modifica¢ao do -los sustentaveis, para frentes, que, embora distintas, esto padrdo de producao e do padrao de consumo, buscando torn que todos, de forma compartilhada, assumam suas responsabilidades socioambien- tais para com as presentes e futuras geragdes. Sobre a questo do padrao de consumo, Lemos* destaca que este pode ser divido em duas espécies: padrio de entropia‘*fisiol6gica, resultante da interagao natural do homem com o meio ambiente, e padrao de entropia patol6gica, relacionada com o atual estilo de vida consumista descrito no primeiro item deste trabalho. Assim, para se ter um padrao de consumo sustentavel, deve-se, sem davida, buscar 0 pa- drao de entropia fisiol6gica. Contudo, importante destacar que “consumo sustentavel” ndo pode ser confun- ~ dido com “consumo verde”. Consumo verde é aquele em que, além das variveis preco/qualidade, inclui, na escolha da compra, a variavel ambiental, deforma que, pormeio dele, os consumidores, por suas acdes individuals, optam por comprarem produtos que consideram menos Impactantes ao melo ambiente, Em decorréncia deste tipo de consumo, focado na “conscientiza¢ao ecolégica” e“responsabilidade” GUROS, Para Fagalelecas. Consume sustentivel eDesateializaciono bio do iret Brasee Revis ta CEDOUA, Coimbra: CEDOUA, n® 29, an0 XV, 2082 30. area a epi epresent a eneria qe 80 pode mais se usada por nenhun dpe fg $6 Sezundo Lema. ei sent saa fora de ala, Pode se lterpetada come me nese os sistema; €a eneria pedis, Ferre aga leis, Consumo sustentvele Desmateraizagon0 Ambo do Dreto Brosileir, Revista CEDOUA, Coimbra: CEDOUA, 29, an0 XV, 2012-P- 30. uw | a > | €a“rotulagem ambien, cevCEDOUA Posts | do consumidor como ator social, praticas como 0 “boicot tal" foram desenvolvidas."” No entanto, segundo Portitho', o simples acesso a conhecimentos relacionadg, A questio ambiental nfo leva a estilos de vida e praticas ambientalmente correta, jf que outras varidveis, como 0 acesso aos recursos ambientais e financeiros pela diversas classes econémicas, também influenclam nos resultados a serem obtidos, Além disso, a perspectiva do consumo verde deixaria de enfocar aspec. tos como a reducdo do consumo, a descartabilidade ea obsolescéncia planejada, enfatizando, ao contrario,areciclagem, 0 uso de tecnologias limpas, a redugao do desperdicio ¢ 0 incremento de um mercado verde, ‘Assim, reconhecidos os limites da estratégia do consumo verde, surgiram pro- postas que, nao descartando as ages visadas por este, dao maior énfase, contudo, a agbes coletivas e mudancas politicas e institucionais, como, por exemplo, a pro- posta do consumo sustentavel. Por essa perspectiva, o meio ambiente deixou de ser relacionado somente a uma questo de como sao utilizados os recursos naturais, incluindo-se também a preocupacdo do quanto se utiliza destes recursos.” Nesta seara, se com o consumo verde, 0 consumidor aparecia como o principal agente de transformacao, com a perspectiva do consumo sustentavel, essa questio se torna mais complexa, pois a ideia de um consumo sustentavel, apesar de ndo exclui-las, nfo se resume a mudangas comportamentais de consumidores individuais ‘ua mudancas de design em produtos e servicos de formaa torné-los “mais verdes", comportando, também, mudan¢as mais profundas”, notadamente as praticas de redugdo do consumo ou mesmo em modificagao da légica de como se consome, introduzindo-se os elementos de prudéncia e precaucao nas praticas consumeristas. J4 no que concerne ao conceito de padrao de producdo sustentavel, o Programa das Naces Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) traz a seguinte definicao: fornecimento de servigos e produtos que atendam as necessidades basicas, proporcionando uma melhor qualidade de vida enquanto mi- rnimizam 0 uso dos recursos naturais e materiais téxicos como também a producdo de resfduos e a emissdo de poluentes no ciclo de vida do ‘6 PORTILO, Fatima. Consumo verde, co 28 Encontro da ANPPAS: GT, Agricultura, 68ibidem.p. 5-6 69 bidem. p. 70 PORTILHO, | biden. 9.7 sumo Sustentavel ea ambientallza¢do dos consumidores, In: also Riscos e Conltos Ambientais, 2004, p. 4 RevCEDOUA 1.2036 2 Revistad err de Estudos Dito do Ordesmann a evCEDOUA Servigo ou do produto, 4 ‘endo em vista na, ista . dades das futuras geracdes.» "0 colocar em risco as necessi Ou sla, Para que uma produczo passa Ser considerad: ciso que: a) prime pela ecoeticiéncia, produzinay i lerai jacomo Sustentavel é pre- dasnecessitadeshumanos com espns et SES pata sats aredugao da ulizagbo de recursos naturals, adininvigas objetivando tesiduos lids, a otimizacio douso derecaregs oe Poluigdoe descartede logaslimpas a projegdo de produtosduradourosecee pee detecno- ambiental; eb), acima de tudo, que Fespeite os ciclos cenit aixo Impacto ' e resi ica do meio ambiente. Enfim, Preciso que se produza peeeaeaae brecoucdo, respetando-sea dignidade humana, sociale so men ee Portanto,verifica-se que produgao e consume dever adequar-se aos postulad dasustentabilidade, Para o consumo, isto significa que éde feiamete eae cla que politicas pUblicas de conscientizacao e estimulo ao consumo sustentavel efetiva reducdo do consumo de bens e servicos materiais. Por outro lado, no que concerne & questao da produgao, I & certo que as praticas da desmaterializacao e da ecoefi ciéncia nao podem ser desprezadas e, muito me- nos, descartadas, vez que de fato implicam na reducdo da utilizacao de recursos naturals, de fontes energéticas e de geracao de resfduos na producao de cada bem ou servigo. No entanto, tais praticas, quando isoladas, mostram-se insuficientes Para se superar o atual modelo de desenvolvimento (insustentavel), na medida em que nao inibem a propagagao de riscos ecol6gicos, o consumismo, nem as praticas desenvolvidas para manté-los e propagé-los. Seguindo este mesmo raciocinio, alguns autores tém desenvolvido teorias que déem conta da problematica dos padrdes de produ¢ao e consumo. A titulo exemplificativo, tem-se as formulacdes sobre o “elogio a suficiéncia””, “consu- Mo colaborativo”” e a extensdo da ideia de “desmaterializacao” para além das 72 Disponivelemz hitp://www.onubrasil.org.br/agencas-pruma,php, Aeesso em: 10/05/2012. o RevCEDOUA 1.2016 a sn dn Ante al DOUA revCE! proposicées do “deslocamento™™. Para tanto se prope a divisio do conceito gg desmaterializacdo em duas vertentes distintas e ‘complementares, uma de Natureza objetiva € outra subjetiva. A primeira refere-se a reducao, ou mesmo eliminagig da matéria para satisfacao das necessidades humanas, enquanto que a segunda, aprofundando a temdtica, “diz respeito a valoriza¢ao do bem-estar nao material, da busca econcretizagdo de valores e prazeresnao pecuniarios, fundadosina cidadania, no afeto e nas relacdes familiares e comunitérias”™. Talvez a solugo para a atual crise civilizacional nao seja a opcdo por uma nica cortente teérica, excluindo-se as demais. Pode ser que, a0 contrario, a construcag esse novo caminho esteja na unido dos pontos mais fortes de cada vertente, ou seja, ‘em um “pluralismo te6rico””. A este respeito, as construcdes teéricas feitas para se buscar novos padrdes de producao e consumo espelham este entendimento, pois, como um verdadeiro mosaico epistemol6gico, trazem em seu bojo praticas reformistas (consumo verde, ecoeficiéncia e agdes preventivas, por exemplo) aliadas a propos- tas revolucionérias (como a reducao do consumo, o dever de suficiéncia, as agdes precaucionais, etc.), onde o velho e novo se fundem em busca da sustentabilidade, Ocorre que, apesar de haver o desenvolvimento de todas essas teorias, principal ‘mente no que concerne aos problemas socioambientais gerados em decorréncia dos atuais padrées de producdo e consumo, nao se verifica uma regulamentago juridica que densifique essa sustentabilidade nos padres de producao e consumo. Percebe-se “que, atualmente, no Brasil, nao ha uma regulamentacao explicita, coerente e eficaz que relacione as politicas ambiental e de producao e consumo. Nao ha, no atual C6- digo do Consumidor, qualquer mencao a no¢ao de padroes de producao de consumo ‘sustentaveis e nem que obste praticas ambientalmente abusivas, bem como nao ha, na Politica Nacional do Meio Ambiente, instrumentos especificamente voltados para amodificacao dos atuais padrées de producao e consumo insustentaveis.. Nesse sentido, pode-se afirmar que o Direito ambiental (e também do consumi- dor), principalmente no que concerne aos padrdes de producao e consumo, acaba Por exercer uma fun¢do meramente figurativa na atual sociedade, operando de forma simbélica diante da necessidade de uma efetiva protecao social e do meio ambiente. Essa manifestaco representativa do sistema juridico-ambiental cria uma falsa bens, para o consumo de bens de forma compartihada. Segundo esta no¢do, realizando-se esse deslocamento, hhaverd uma modificacao, também, no padrio de producdo que, aoinvés de crar bens descartaves ou pouco dus- ‘els, buscaréaltemativas para que os bens tenham uma maior durabilidade e, assim, possam ser exploados pot ‘mais tempo por meio do consumo compartiiado. 75A nogao de deslocamento significa, basicamente, a produgdo de mais bens, utlizando-se menos mati e ene 76NICOLAU, Mariana. 0 elogio da suicéncia ransformando padrdes de consumo & luz da desmaterializa. In Revista CEDOUA, n® 29, Ano XV, Coimbra: FOUC, 2032. p. 93-94. 77 VEIGA, José El da. Sustentablidade: a legitmaco de um novo valor, So Paulo: Senat S8o Paulo, 2030. 94S: neucenite 42016 impressio de Ue exist Estado. Com isso, Produz-se : Uma rea confiante e tranquil EM Teaco ag, Calidad ct aos Trata-sed Stes de : ite MOquesern Lies ee Ga eC situsio doDteto ambien cul theta ostiscos da atualidad deo de regula 7 sao eo das in umpre ressattar, Entretanto, que, embora Fe capitalist . oun especificos para fomentar 4 modlticagao dos atusig sttumen no ordenamento juri © Patio, notadame, ne ates depo de meio ambiente e biltam a gestao e cont teu ormas, exist lente: Her Mt, as gue ambiental tip) cl i Consumistato, tos explicitos @ Usdoe consumo S80 das potticas NTT Ntenas nor le defesa do COnsumidor, haa Sendo assim, quer-se, neste terceiro eal dos problemas atuais de gestio de risco, © anecessidade de um saber ambiental. timo t6pico, demonstrara complexidade fazendo-se uma interface com o consumo cebiads org). Onovoem Dretoe 78 PAUL Wo. Aesponsbiliade organiza? OLVERAIUNOR, st Aebndet 1) Politica. Porto Ales re: Livaria do Advogado, 1997. p78 € 18 tte ite cena anteater " requ bathenclds qa 6 ese Deten tae ee 2 e ee int rina. p. 31. pte ae nl a 0 | RevCEDOUA 1.2016 oitanamo edo Anbierte eros ae res oom UA revCEDS _ E certo quendo existe risco ambiental zero, pots qualquer atividade de utiliza, derecursosnatuais, de produsdo e consumo ede desenvolvimento provoca dangsy tiscos,Além do que é correo afitmar que existe uma tolerancia socal ecomunityig do risco e do dano ambiental, pois, em sociedade, convive-se com a lesividadee fiscoambienta permitide, como, por exemplo, com a poluigao emanadia pela ai, qual gerariscos ambientais que sio amparados por lei ou por deciso autorzaig de controle e gestao de riscos. No contrale e gestio dos riscos e do consumo, as solugdes de concertacdo pag tuadas e os modelos de coopera¢do, preferem decisées dependentes de formas de Conhecimento cieniicamente limitadas e discipinares, circunstancia que produzig importantes consequéncias na pr6pria forma de organizacao dos sistemasjuridicos na sociedade de risco (e de consumo), podendo gerar catastrofes se ndo houver um olhar criterioso e transdisciplinarem rela¢ao ao presente eao futuro, ou seja,transgeracional, Quando se analisa uma proposta transdisciplinar de investigacao da ctise " ecolégica, da crise dos padrées de producio e consumo e do ambiente, o que se objetiva e o que se prope nao éa simples oportunidade de acesso a uma extensa Pluralidade de possibilidades de recortes e segmentagdes na compreensio desses Problemas, mediante a colaboracao e intervencao de autoridades e agentes dotados de conhecimento especializado, Acultura, a tradigao, 0 senso-comum e a experiéncia sio dimensbes da realidade ue ndo's6 esclarecem ou definem contextos riginariamentejuridicos, mas, paraalém disso, participam, fundamentam e justificam as escolhas e decisées que precisam Sertomadas nas relagées potencialmentecolidentes que trabatham a partirde bases informativas de isco, propondo uma qualidade diferenciada ao conhecimento quese

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