Arte nedtratiza as forgas da individualidade que nas prendem as
s6es do nosso Eu e faz-nos participar da insondavel Vol
sal, da qual viverios separados. A intuigdo schopenhauec
conhecimento por participagdo na fonte origindria da vida ¢ da exis
téncia, participacdo que, sob o efeito libertador da Musica, incensifica:
se até a fusdo da vontade particular com o eterno (luxe da Vomiace
dle unive
a é u
universal.
G apolineo ¢ o dionisiaco
Friedvich Nietzsche (1844-1900), influenciado por Schopenhauer
retomou, em sua primeira obra importante, A origem du iragédia,
aidéia de Vontade universal, interpretando-a como poténcia de cria
gio artistica. A vida é um fendmeno estético: a aparéncia importa
mais do que a verdade, $6 pela criagfo da aparéncia artistica pode-
mos dar sentido humano a existéneia.
Dois impuilsos, 0 apolineo eo dionisiaco, que produzeat cleitos
diferentes, condicionando distintas espécies de satisfagdo artistica, re-
fletem o dinamisinu da Ventade universal, O dionistaco € a tendén-
cia para o éxtase, predominante nas orgias dionisiacas ou baquicas,
célula-maier do canto e da danga que deram origem & tragedia, na
efusdo emocional provocada pela musica. Seu efei
cional intensa, vizinha do transe psiquico, produz a descarga das en
gias vitais acumuladas em quem o experimenta, No sentido metafisica,
o impulso dionistaco satisfaria a necessidade de embriaguez espirt
tual, tentativa do individuo para fundir-se com o Todo e participar
do Ser. O apolfneo é a tendéncia da energia vital dos clesejos ¢ dos
sentimentos para se condensar em formas bem delimitadas. us for-
mas exteriorizamn os contetidos da nossa experiéncia, tendo por fur
40 equilibrar og seus contrastes e arrefecer os seus conflitos latentes
ou manifestos. Forga geradora da poesia lirica e das artes plasticas,
espécies de uma mesma expressao de cardter contemplativo, o apolr
neo, ao contrario do dionisfaco, atende a uma necessidade idéutica
ado sonho, cujas imagens, ja de acordo com a interpretagao de Freud
que Nietzsche antecipou, dao forma contida aos impulsos inconscien-
tes e aos desejos reprimidos.
De quaiquer maneira, derivando de um desses impulsas ou de
ambos, as artes, para Nietzsche, surgem da prépria vida, € 0 conhe
cimento que alcancamios por intermédio delas, irredutivel ao pensa
mento légico e conceptual, é mais uma resposta do homem ao “‘earattei
>, vibragiio emo-OUEAD A FILOSOFIA D9 ARTE
pavaoroso ec problematico da existence’, para justificar, camo fend-
meno estético, a realidade que, em st mesma, € irracional e destituida
de valor
0 imtuitivismo vitalista Henri Bergson (1859-1941) distin-
de Bergsan guiu duas espécies de conhecimen-
to: 0 conceptual, que corresponde &
inclinag4o da inteligéncia humana para adaptar-se ao mundo, instru-
mento que é do dominio pratico do homem sobre a matéria exterior,
cistribuida ao espago; o ittuitivo, que segue a diregao da prdépria vi-
da em seu continuo vir-a-ser, o qual podemios experimentar através
da duragao dos nossos estados de consciéncia, que se interpenetram
e mudam sem cessar
Entregues a inteligéncia, podemos conhecer a superficie das coi-
sas, que é 0 quanto basta para garantir a eficacia cla agdo. A Ciéncia
ea Técnica sao afins: os conceitos da primeira, gerais e abstratos.
bem como as suas leis, que traduzem relagdes constantes entre fen6-
menos, sdo utensilios mentais que vao servir 4 segunda, sem a qual
o homem nao submeteria, em seu proveiio, as forcas da Natureza.
A intuigdo concebida por Bergson, idéntica 4 de Schopenhauer, pe-
netra no Amago das coisas. E um elo de simpatia entre o sujeito e
o objeto, uma comunicagao imediata ¢ instantanea, que nos faz coin-
cidir com a individualictade das coisas, transportanclo-nos para o in-
terior daquilo que contemplamos. Esse transporte, essa simpatia
excepcionais, que caracterizam a intuigdo bergsoniana ~ repentina,
sentimental e nao intelectual — s6 se produzem sob a vibracdo de uma
corrente emocional, que desperta a consciéncia ¢ aguga a capacidade
perceptiva.
A, Arte é, segundo Bergson, o meio condutor da emogao, que
a concentra e canaliza, para romper as barreiras comunicativas que 0
hAbito, a inteligéncia e as necessidades praticas ergueram entre nds e
as coisas, impedindo a percep¢ao da plena realicade individual dos ob-
jetos. Conhecimento intuitivo, a criag&o ¢ a contemplacao artisticas
revelam-nos, por tum instante apenas, o que a inteligéncia, a vida de
relac&o ¢ a percepcdo ordindria ocultam. A Arte, seja qual for, resta-
belece a capacidade originaria da percepgdo. Se a nossa consciéneia
pudesse comunicar-se diretamente com a redlidade interior e exterior,
a Arte seria dispensavel. Ou entéo os homens todos seriam artistas.