1.Poder, Política e Estado - José Angelo Machado

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CAPITULO 1 PODER, POLITICA E ESTADO José ANGELO MacHaDo: No Sermao do Bom Ladrao, escrito pelo Padre Antonio Vieira (1655), ha um trecho, baseado em textos de Santo Agostinho, recorrentemente citado e comen- tado na literatura politica. Trata-se de um didlogo entre Alexandre, o Grande, € um pirata, recém-capturado, nos seguintes termos: Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquis- tara india, e como fosse trazido a sua presenga um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tao mau oficio; porém, ele, que nao era medroso nem lerdo, respondeu assim. ~ Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barea, sou ladrao, e vés, porque roubais ‘em uma armada, sois imperador? (VIEIRA, 1655, p. 4). 0 trecho ¢ instigante e a afirmacao do pirata nos langa diivida sobre a exis- tencia de um critério absoluto que nos permita distinguir moralmente a aco do Imperador, via de regra, conquistando e mantendo a lei sobre os territ6rios por meio da forca, da aco do pirata, apossando-se de bens antes pertencentes a outros e mantendo seu dominio sobre um “pequeno territ6rio”. Ambos sao sobera- nos em seus dominios, embora as dimensdes destes possam variar sobremaneira num e noutro caso. Estariam ambos exercendo, em seus respectivos dominios, poderes semelhantes aqueles hoje atribuidos ao Estado? Ou, ainda, haveria distin- es substantivas entre o tipo de poder mobilizado por ambos, guardadas as devi- das proporgées? Neste texto apresentamos algumas das diferentes respostas dadas a respeito de como definir os conceitos de poder, politica e Estado ao longo de diferentes momentos e sob diferentes tradigdes do pensamento politico. A pertinéncia de traté-los aqui coloca-se na medida em que o problema acima formulado pelo 1.6) mrrooucho A rroma pemocearica sara a discussdo em torno de uma definicao para aquilo até porque trata-se aqui de uma forma especitica por meio da qual se exerce o poder. Isto significa que, a0 incorporarmos uma concep ao de democracia, estamos também assumindo uma determinada visio acerca do exercicio do poder, dos limites da esfera politica ou, mesmo, da natureza do Estado. Como veremos em seguida, o proprio exame dos termos originais que constituem o vocdbulo democracia ja nos coloca diante desse problema, {A propésito, sendo de origem grega, 0 vocébulo se disseminou a partir do século V a.C,, especialmente devido a atengao que o pensamento politico, até entio envolto em reflexdes filoséficas, devotow a forma de governo instalada na cidade de Atenas. Democracia resulta da combinagao entre os termos demos e kratos, correspondendo o primeiro ao sentido de “povo” ou “muitos” e o segundo ao de “poténcia” ou “forga”. Incorpora-se 0 tiltimo termo, correspondente ao poder, como substantivo eo primeiro, correspondente ao povo, como sujeito adjetivante ou seja, aquilo Ihe dé qualidade ao definir a quem pertence o poder. Em seu sentido origindrio, o termo democracia foi pensado como uma das vvariagdes possiveis na tipologia classica das formas de governo, também oriunda da Grécia antiga. Contrapde-se, nesse sentido, a monarquia (governo de um s6) ea aristocracia (governo dos melhores). Mas, se de acordo com esta tipologia variam 0s sujeitos desse exercicio, nao parece claro, a principio, qual seria a natureza do proprio elemento constante entre as diversas formas, ou seja, do poder. Seria poder politico algo distinto de outras formas de poder? Se afirmativo, em que esta distincao nos ajudaria a pensar na prépria natureza da politica? E, finalmente, quais implicagdes as respostas a essas questdes teriam sobre o entendimento acerca daquilo que seja o Estado? Este texto apresenta algumas das muitas respostas possiveis a essas questdes; respostas essas que, como poderdo conferir, nem sempre so convergentes. Opta- mos por organizar o capftulo em segdes cujo contetido se estruture em torno de trés eixos. O primeiro refere-se ao esclarecimento da natureza do poder, que numa democracia deve pertencer ao demos. O segundo, partindo da constatacao de diferentes formas de poder, refere-se a qual seria a especificidade do poder politico frente as demais formas de poder e em que medida essa especificacio contribuiria para elucidar a prépria natureza da politica. O terceiro, considera dos os pontos anteriores, diz respeito ao esclarecimento acerca da natureza do Estado. Ao final, apresentamos algumas consideragdes gerais de carater concli- sivo, incluindo dois quadros-sintese, sendo o primeiro destinado a compilar 0s principais pontos tratados ao longo dos trés eixos especificados acima; o segundo, relacionando algumas questées para reflexdo no ambito dos temas abordados neste texto, pirata produz implicagoes P que chamamos democracia, roots punch etsuoo | 17 Assim como ocorre normalmente com conceitos construfdos e difundidos no campo das ciéncias humanas, existem diferentes maneiras de se definir 0 conceito de poder, Estas maneiras vém sendo afirmadas, contestadas e confrontadas hé séculos, refletindo diferentes concepcoes sobre a organizagao social e politica, ancorando-se em distintos sistemas tedricos. Nao é nossa intencdo, aqui, estabele- cer alguma genealogia do conceito de poder — ou seja, estabelecer os antecedentes da sua “historia familiar” ~ ou exaurir as diferentes possibilidades de defini-lo. ‘Tampouco proporemos uma definicao completa ou, em sentido oposto, minima. Nosso propésito é bem mais modesto: recother algumas definigées e comenté-las no sentido de identificar aproximages ou distanciamentos que possam ser titeis para nos provocar a pensar na sua substancia. Comecando por Aristételes, filésofo grego do século IV a.C., temos 0 poder, defi- nido na sua obra A Politica, sob uma estrutura relacional que comporta um sujeito que 0 detém e outro que é influenciado pelas ages do detentor. E a partir dessa definigdo que Aristételes (1997) vai propor uma tipologia pautada na natureza especifica desta relagdo: o poder do pai sobre o filo; o poder do senhor sobre 0 escravo e o poder do governante sobre o governado. A distincao proposta quanto a natureza do poder foi haseada no interesse de quem o exerce: 0 poder paterno 6 exercido no interesse dos filhos; o do senhor, no seu préprio interesse; 0 do governante, no interesse comum entre ele e os governados. Para Aristételes (1997), a observancia do interesse comum pelo governante, alids, ndo se presta apenas a uma funcao descritiva - distinguindo-o de outras formas de poder como o paterno ¢ o senhorial -, mas também como critério normativo, distinguindo o bom do mau governo (BOBBIO, 2001). Neste iltimo caso, o mau governo seria aquele no qual os governantes visam ao prOprio inte- resse, correspondendo, portanto, a uma degeneracéo do terceiro tipo de poder. Outro filésofo, agora contemporéneo, também propée uma definicao relacional semelhante ao claborar o verbete poder em seu dicionério de filosofia (QUINTA- NILHA, 1996). Também segundo essa definicao o elemento central consiste na capacidade que aquele que detém o poder possui de afetar a outra parte, porém. essa definicdo introduz um novo elemento: [0 poder] é antes uma relagéo: x tem poder sobre y em grau n para fazer z nas circunstincias c. Ou seja, ter poder & a mesma coisa que ter determinado grau de capacidade de fazer algo que afeta alguém em determinadas circunstncias (QUINTANILHA, 1996, p. 221), Anovidade que aqui aparece ¢ o cardter contextual do poder. Uma vez reco- mhecido, somos obrigados a pensar a referida relagao de poder de um sobre outro, nao mais sobre quaisquer circunstancias, além de considerar o quanto as varia- bes contextuals podem modificar a intensidade dessas relagdes. Isso nos leva a pensar o quanto, por exemplo, mudangas nas instituigdes politicas, no sistema ——————— 18) mooveko Arena enacts wrais poderiam modular as relagées teristicas sociais e cultw idos ou governantes e governados. emprega: danga nas relacoes de poder ~ seja por varte daqueles que a ele se submetem ~ uais, Determinados ajustes nas der dos governantes econdmico ou nas caract de poder entre sujeitos como patrdes & a projegao da mut ‘exercem, seja por Pi ‘odugao de mudancas context ‘emplo, poderiam restringir © po snados sobre 0s mesmos. jovidade ao ser sistematizada sob Como implicagao, parte daqueles que © teria como foco a intr instituigdes politicas, por ex" ‘a0 ampliar o controle dos gover? Jicagdo, alids, se apresenta como Essa imp] poder: outra definicao possivel acerca do, o de agoes sobre agies possiveis; ele opera sobre 0 ide se inscreve o comportamento dos sujeitos ativos; ais dificil, amplia ou limita, torna le fo poder] ¢ um conjunt: ‘campo de possibilidades on ele incita, induz, desvia, facilita, ou torna mi vrais ou menos provavel; no limite, ele coage ou impede absolutamente, Tempre urna maneira de agi sobre um ou varios sults ativos, o quanto ees ger ato suscetiveis de air. Uma agio sobre agBes (FOUCAULT, 1995 249) ‘ao cunhar a expressio acdo sobre agdes, chamando atengao para o fato de ‘ido por e sobre sujitos ativos, Foucault acrescenta ao aspecto sacional a presungio de que o sujeito afetado pelo poder nao esteja condenado ‘ambém atua assumindo uma entre outras formas possi- eis de agir. Tanto quem exerce o poder quanto quem € afetado por ele, portanto, tem preservadas as faculdades de escolher, ainda que sob conjuntos assimétricos de alternativas, o que fazer diante dessa relacio. Além disso, é um dos elementos ‘constitutivos do pensamento de Foucault sobre o poder a sua aplicagio a diversas InstituigBes como a medicina ou 0 manicomio~e a espagos microssociais como ‘familia —aos quais, até ent, o termo nao se prestava a utilizagao. No campo das ciéncias sociais, uma das definigdes influentes ¢ aquela proposta por Max Weber, segundo a qual o poder seria a “possiilidade de encontrar obedlén- Gia a uma order determinada” ([s.dJ, p. 3). Uma das novidades seria que, para que possa produzir tl feito o poder deveria se apoiar sobre, pelo menos, uma de trés fontes possiveis de legitimidade: um sistema legal racionalmente construldo, a Fors da tradiglo ou o carisma do Uider. Para Weber, alegitimidade seria um conceito-chave para compreender as razées da obediéncia numa estrutura relacional de poder, 0% seja, que aquele que a ele se submete o faca de forma justificada. que o poder é exert um papel passivo. Ele t ‘A definigdo proposta por Weber, aqui na sua verstio genérica, encontra eco em! outras definigdes posteriores, como naquela proposta por Robert Dahl (1957), Pals quem A teria poder sobre B na medida em que consegue fazer com que B faci alg? que de outro modo nao faria, Como novidade, esta tiltima definigo introduz 0 cdlculo estratégico como aquilo que permite a B antecipar as eventuais consequencias nes) Livas decorrentes da sua resistencia &s diretivas de A, levando-o a se submmeter @ eas sem que A venha, necessariamente, despender energia com retaliagoes. cerca da natu Nao esgotamos aqui a apresentacaio das principais definicdes @ a concepsoes reza do poder. Entre aquelas deixadas de fora desta primeira se¢20, el rooee rounckreua0 | 1 bastante distintas como aquela proposta por Hannah Arendt, que seré explorada na proxima seco, quando trataremos do poder politico. Legitimidade Ainda que pudesse merecer uma secdo do presente trabalho, sendo também tributario de uma ampla diversidade de abordagens, optamos aqui apenas por apresentar 0 conceito de legitimidade segundo o Dicionério de Politica (BOBBIO et al, 1986), de modo a evitar estender por demais esta discussio e arriscar prejudicar 0 tratamento dos temas antes propostos. Assim 0 conceito: .) consiste na presenca, em uma parcela significativa da populagao, de um grau de consenso capaz de assegurar a obediéncia sem a necessidade de recorrer ao uso da forga, a nao ser em casos esporddicos. por esta razio que todo poder busca alcancar consenso, de maneira que seja reconhecido como legitimo, transformando a obediéncia em adesdo. A crenga na Legiti- midade é, pois, o elemento integrador na relacao de poder que se verifica no Ambito do Estado (BOBBIO et al, 1986, p. 675). Poder Poli 0 Polit a A tipologia proposta por Aristételes para disting&o entre as relacdes de poder nos aponta para uma das tentativas mais longinquas visando distinguir 0 poder politico das demais formas. Seria 0 poder politico aquele que o governante exerce sobre o governado, mas com um qualificante: é exercido no interesse de ambos. Esse qualificante atribui um carater normativo a definicdo de Aristételes, dando- -lhe o sentido de uma caracteristica que seria desejavel no exercicio do poder politico, permitindo distinguir o bom do mau governo. Porém, do ponto de vista da sua fungao descritiva, delimitando parametros que nos permitam identificar 0 poder politico, a condigao de “ser exercido no interesse do governante e gover- nado” restringiria por demais 0 alcance dos casos englobados sob esse conceito. Essa restri¢do provoca um problema dificil de resolver: define como nao perti- nente a0 uso do poder politico aquelas relacées entre governante e governado que ndo se pautam pela busca do interesse comum, Assim, deixaria fora da esfera politica aqueles casos em que governantes tratam governados como filhos ~o que seria préprio ao poder paterno, também descrito por Aristételes ~ ou stiditos ~ préprio ao poder senhorial (BOBBIO, 2000). Esse nivel de restrigdio descritiva do conceito empregado por Aristételes é que o torna pouco aplicdvel para distinguir © poder politico de outras formas de poder. Outras tentativas, também originarias da Grécia antiga, tomaram o poder poli- tico por analogia ao funcionamento de um organismo vivo, em que a funcdo de comando sobre a sociedade, similar & da mente, caberia ao governo. Também as ——— 20) wernonugho A roma emocnAmicn cam fonte de anatogia funcional cor © poder politico: este sna, forneceria a protecdo € conduc ma sociedade hum: c i oi pengas socials medica) ou a Rar™monizacRo da profissdes antigas [0 seria aquele que, NU do rebanho (pastor), a cura a comunidade (tecelao). ae vatio, ao propor a metafora do capitdo do 02% na obra A Reptiblica, para periéncia negativa e degenerada de governo, termina por ir renrmula. No caso em questo, conlulos entre eripulan nento na arte de navegar tencam rorar 2 condUuglo da nau, perturbando o governo orientado POF tal sabedoria. Mas essastentativas, paseatlas na analogia das fungdes de governo Com érgéos de um corpo biolégico ou profissdes, também se mostram insuficion\ mio sendo capazes de dstinguir a especificidade da relagdo de ‘comando-obediéncia que se estabelece na esfera ais é comparada. politica em relagio aos demais dominios 208 representar uma x na diregao dessa segun tes egofstas e sem adestra | ine eo capitao do navio | um dos maiores criticos da democracia no mundo antigo, Seu argumento, na obra A Repiilica, valendo-se de um caso fieticio: 9 caso do capitao do navio. ‘Trata-se da est6ria de um capitio que, embora superior ema tamanho ¢ forga aos demais membros da embarcagdo, apresenta limitacdes ~ um pouco Surdo e com problemas de visio, além de restrigdes de conhecimento = tendo que lidar com tripulantes desagregados que brigam pelo controle do eme. Estes tltimos entendem que devem dirigir a embarcacao, a despeito | de ndo terem a devida habilidade profissional. Usam de meios duvidosos ou ilfcitos, bem como tentam influenciar as decisbes do capitao em seu proprio favor. Platdo se vale da estéria para reafirmar a nogdo de que o exercicio do governo deve decorrer do mérito e do preparo, nao sendo possivel encon- trar essas qualidades numa democracia na qual aliberdade se degenera em. | permissividade e formagao de conluios em que cada facgéo procura obter vantagens para si. Platéo formula u sould : ma contribuigdo que obteve grande impacto no pensamento politico modem? ese ete repr que pode ser utilizad poder, genericamente, como o conjunto de mei?’ se aproxima da estr lo para conseguir a realizago de um fim, a partir do du dos meios para Fee g nana a daminae: aqacte que 0 exarce aispoe croak A Oune erienee os eas tal delinigto & apenas subsite PES hint amin pol fontes da diciedle egere Os GRE en orem social, identiicod ures homens: a competicao por beneficios, a desconfians® rooer rounek eae | 21 do potencial agressor ¢ a busca da gléria. Procedeu, dai, ao experimento mental quanto ao que se passaria com os homens, uma vez movidos na busca de tais objetivos conflitantes: a guerra de todos contra todos! Nesse estigio, em que a vida é cruel e curta, o medo da dor e da morte tornaria os homens suscetiveis a dispor de suas vontades em favor de um “depositario das vontades comuns”, ot seja, entregar parte das suas liberdades a um sujeito que exercesse 0 poder de forma a garantir a vida e a protegao a todos: 0 Soberano. Nesse contexto, 0 poder politico somente torna-se um espaco para gestdo e orga- nizagao social na medida em que é conferido ao soberano, capacitado a impor coercitivamente uma ordem, sendo temido por todos. £ de Hobbes a afirmacao segundo a qual o que torna as leis eficazes nao é a sabedoria incutida nas suas palavras, mas a forga ou as armas daqueles que as aplicam. Hobbes nao esteve sozinho ao associar o poder politico ao exercicio da forga ou a dominacao. Em Marx, por exemplo, esse poder seria, ao mesmo tempo, fundado nas relagdes de classe e destinado 8 manutencio delas, pelo que configurava uma ordem opressiva que valia a pena superar. Entretanto, vale registrar que, embora tenham pontos em comum, as definicdes de ambos se colocam em posigdes bem distintas: se Hobbes toma a producto da ordem, sob 0 poder politico, como um bem necessério para evitar a “guerra de todos contra todos”, Marx toma a produ- go da ordem sobre o mesmo poder como um mal a ser combatido a fim de liber- tar a humanidade da exploraciio de classe. ‘Também tributirio da associacdo entre poder politico e uso da forca, como dito na seco anterior, Weber introduziu o tema da legitimidade. Para ele o poder politico nao seria, propriamente, aquele que faz 0 uso da forga fisica ou da violén- cia, mas aquele que estaria autorizado a fazé-lo legalmente, detendo, no ambito de um territério, o monopdlio legitimo do seu uso (WEBER, 2003). Para Weber, 6 no contexto de uma Juta ou da imposigéo da vontade de uma parte contra a resis- téncia da outra que tal poder se efetiva, ainda que se trate de uma luta que possa ser pacifica, dispensando a realizagao da coergto fisica. De outro lado, a coer¢ao a que se refere é aquela consentida pelos que se submetem a tal poder, visto que reconhecem o direito de se valerem dela (PERISSINOTTO, 2004). Para o exercicio dessa coersao, o poder politico disporia de determinados agentes, como fiscais, investigadores ou forgas policiais, que atuariam sob condigdes e procedimentos previamente definidos em lei. ‘A definigio weberiana infiuenciou grande parte do pensamento sociolégico e politico contempordneo, sendo explicitada por Norberto Bobbio, por exemplo, ao buscar definir o poder politico em contraposicao a outras categorias de poder que fazem uso de recursos de outra natureza, como 0 poder econdmico e o poder ideolégico. 0 poder econémico seria aquele exercido por quem “se vale da posse de bens necessarios, ou como tais percebidos, em uma situagéo de escasse2” (BOBBIO, 2000, p. 221), ou seja, que se utilizaria de valores acumulados para indu- zir comportamentos daqueles desprovidos destes mesmos valores, como ocorreria ra compra de votos em um processo eleitoral. O poder ideolégico seria aquele que

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