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A ALIMENTACAC DA CRIANCA AUTISTA: (e@) Aulao Seletividade AUTiisniecle Para muitos pais, nao ouvir o filho chamando seu nome ou nao vé-lo brincando com outras criangas ja seria suficiente para afirmar que a jornada de uma familia com autismo é desafiadora. Mas a situagao se complica, j4 que no Transtorno do Espectro Autista (TEA), em grande parte dos casos, traz consigo também varias outras comorbidades. Uma delas é 0 disturbio alimentar ou a seletividade, que causa um grande sofri- mento para a familia, e para o autista também, pela rigidez do comportamento. Sim, em algum momento, a seletividade alimentar (S.A) acaba se apresentando, de maneira sutil ou extrema. ANOSSA JORNADA COM NOAI Anossa historia nao é diferente da maioria das de tantas familias de autistas. Noah comia relativamente bem até completar um ano de idade. Depois disso, ele comecou a selecionar os alimentos que consumia. A seletividade avancou rapid- amente. Aos 18 meses, ele ja nao aceitava nenhuma fruta, vegetal, textura gelati- nosa, umida ou colorida. Acomida precisava ser clara, seca e crocante. Durante meses, seu lanche consistia em biscoitos de arroz, claras de ovo cozidas ou pedacos da massa do coco seco. Ele adorava macarrao, como muitos, mas sem molho. Arroz era consumido grao por grado e feijao, sem caldo. Nada além disso. OPROBLEMA DA SELETIVIDADE ALIMENTAR Quando a seletividade surge, a angustia se instala. A familia comega a oferecer o que é possivel e o que nao é, na tentativa de que a criang¢a coma. Asvezes, por falta de conhecimento ou mesmo desespero, acabam recorrendoa alimentos ultraprocessados, o que resulta no caos. Esses alimentos se tornam os "preferidos/ideais" das criangas devido a sua tex- tura agradavel e sabor extremamente atrativo. Um exemplo disso sao as batat- inhas do McDonald's ou qualquer tipo de chips. No autismo, devido a alergias alimentares ou disturbios intestinais, uma dieta de baixa qualidade, rica em produtos a base de farinha ou acuicares, provoca des- conforto, inflamagoes, irritabilidade, colicas e até diarreia. Além disso, os com- portamentos problematicos tendem a piorar. Ou seja, “aparentemente” estamos garantindo um aporte calérico satisfatério, mas a um custo muito alto. Na ilusao de nosso “conforto” emocional, estamos vendo nosso filho comer, mas temos de ser realistas quanto a baixissima quali- dade dessa alimentagao. Assim, a seletividade alimentar também resulta em deficiéncias nutricionais, ja que as vitaminas provém de uma alimentacao adequada. Essa equil ientacgao é crucial para ter energia, sintetizar proteinas e manter o rio celular. Uma crianga que nao consome proteina animal tera deficiéncia de vitamina B6, vi- tamina B12, acidos graxos, 6mega-3, ferro, zinco e uma série de outros minerais e vitaminas essenciais para um desenvolvimento saudavel. Portanto, uma alimentagao inadequada causa disbiose e a falta de nutrientes agrava o atraso no desenvolvimento. Para se ter uma ideia, estudos mostram que a caréncia de ferro pode resultar em um coeficiente intelectual (QI) mais baixo em criangas tipicas ao final do quinto ano de vida. Imagine, entao, o impacto da falta de um conjunto completo de vitam- inas! COMO ABORDAR A SELETIVIDADE ALIMENTAR Certas regras so fundamentais para garantir uma alimentagao adequada e, con- sequentemente, um desenvolvimento saudavel. Comece pelo basico. Nao ignore a importancia de uma boa introducao alimentar. Isso é valido para todas as maes! Aos seis meses, ainda nao sabemos se nosso filho sera autista, mas as escolhas alimentares e a forma como apresentamos os alimentos podem influenciar em uma possivel seletividade. Aseletividade é multifatorial, mas, em muitos casos, o transtorno sensorial é uma grande causa. Por isso, criangas que apresentam a seletividade alimentar tém di- ficuldade em sujar as maos ou sentem incémodo com um simples respingo de agua em suas roupas. OTranstorno do Processamento Sensorial (TPS) provoca aversao a cheiros, tex- turas e até a aspectos visuais. Junto a parte sensorial, existe a rigidez em relagao a novos alimentos. Muitas cri- angas autistas querem sempre comer a mesma coisa, evitando mudangas drasti- cas. Ahipotonia (baixo ténus muscular) é muito comum no autismo. Ela dificulta a de- gluticao e também a coordenacao para comer. Basta observar as dificuldades com talheres ou coma ingestao de alimentos durante a introducao alimentar. Percebemos que a seletividade alimentar frequentemente piora apds a poda neural, que ocorre entre ume trés anos. Portanto, quanto mais estimulamos a cri- anga nesse periodo de introdugao alimentar, melhor serao a imitagao e o contato visual e menor serao as alterag6es sensoriais. Compreender como isso acontece é fundamental para saber como lidar com a situacao. Entdo, como resolver isso? ABORDAGEM TERAPEUTICA A SELETIVIDADE ALIMENTAR Para que uma crianga coma, certos requisitos basicos sao necessarios. Uma cri- anga que nao consegue ficar sentada 4a mesa ou tem um contato visual minimo di- ficilmente fara progressos. A terapia comportamental é crucial para esse processo, ajudando a melhorar o tempo a mesa, a aumentar o contato visual e a ampliar o repertorio social. Aquestao sensorial deve ser tratada por um terapeuta ocupacional. Por exemplo, nao adianta oferecer um puré de abobora se a crianga mal consegue tocar uma massa ou uma substancia pegajosa. Sera preciso superar resisténcias, sensibilidades e comportamentos desa- fiadores! Apos estabelecer a base, as terapias estruturadas e algumas regras se tornam necessarias. Em primeiro lugar, mesmo quando a esperanga e a paciéncia faltarem, NAO DE- SISTA. Lembre-se de que o exemplo é o melhor meio de aprendizado. O fato de seu filho nao comer saladas ou vegetais nao significa que esses alimen- tos nao devam estar 4 mesa. Uma mesa bem posta atrai e aumentaas chances de aceitacao. Tenha em mente que o processo de terapia alimentar é gradual. Comece com um alimento de cada vez. Comece com pequenos pedagos (tamanho aproximado de um grao de arroz), uti- lizando reforcos positivos, como tocar, cheirar e, por fim, experimentar. Amedida que avanca, aumente gradativamente o tamanho e a quantidade dos ali- mentos. Ao final de um ano, pode ser que vocé tenha introduzido 12 alimentos de qualidade na alimentagao de seu filho. “Poxa, mas somente 12?”, vocé pode me questionar. Eu utilizei um numero ale- atério. O que quero dizer com isso é que vocé nao menospreze esse resultado, por menor que lhe parega nesse momento. Cada pequena conquista deve ser cel- ebrada com grande alegria. “Poxa, mas somente 12?”, vocé pode me questionar. Eu utilizei um numero aleatério. O que quero dizer comisso é que vocé nao meno- spreze esse resultado, por menor que lhe parega nesse momento. Cada pequena conquista deve ser celebrada com grande aleg! Pais, serao necessarios criati lade e esforco. Quando Noah sé comia arroz e feijao, era dentro desses alimentos que Gabi es- condia coisas incriveis. Ela cozinhava o arroz com agua de brocolis, adicionava quinoa, uvas passas, cortava e ralava outros alimentos de maneiras quase imper- ceptiveis para enriquecer o arroz. O feijao também era tratado da mesma forma. Por muito tempo, a familia toda comeu feijao com espinafre ou abobora. As vezes, vejo criangas que consomem apenas arroz, farinha, leite e pao branco. Sera que nao seria possivel adicionar proteinas, leveduras e uma mistura de se- mentes bem trituradas a farinha? Torna-la mais palatavel. Dentro do leite, o Pediasure, sera que nao seria possivel considerar leites vegetais enriquecidos? Assim, vocé pode ir ajustando conforme a aceitacao da crianga. Nesse ponto, é importante ter uma nutricionista experiente ao seu lado. AIMPORTANCIA DO AJUSTE D. ROTINAE DO AMBIENTE Outro fator importante na alimentagao é a organizagado do ambiente e da rotina. Isso é fundamental! Primeiro, ajuste o sono. Muitas vezes, as mamadas noturnas atrapalham o pro- cesso, E nao apenas as mamadas noturnas, mas também 0 excesso de leite du- rante o dia. Uma crianga com o estémago cheio de leite nao tera o impulso da fome para se interessar por novos alimentos. Limite 0 uso de telas. E impossivel vencer essa batalha coma televisdo e os celu- lares ligados durante horas. Isso é especialmente verdadeiro durante as re- feicdes. A crianga precisa ver o alimento, brincar e conversar. Nesse momento, a bagunga esta mais do que liberada. Desperte o interesse pelo alimento. Apresente-o de formas exoticas, diferentes, com formatos divertidos, rostinhos e cabelos. Isso gera interesse e reduz a tendéncia a rejei¢ao. De fato, esse é um processo desafiador. Porém, com paciéncia e esforco, a vitoria éalcangavel. COMECE COM A INFORMACAO DISPONIVEL. PESQUIS| Eu sei que, para muitas familias de autistas, é dificil o acesso a bons profissionais, suplementos e uma variedade de alimentos na mesa. No entanto, isso nao significa que vocé esta de maos atadas. Que nao ha nada a ser feito. Os desafios existem sim, mas vocé pode superar muitos deles. Fagao seu melhor com os recursos que tem: @ Comece pelo YouTube, assista a videos que ensinam como lidar com a seletivi- dade; Elimine alimentos e praticas que vocé sabe que nao sao benéficos; @ Converse como pediatra para fazer um check-up, mesmo que seja 0 basico, para verificar os niveis de ferritina, vitamina D, vitamina B, zinco, hemogramae alergias; e@ Suplemente seu filho! Se ele é seletivo, é provavel que esteja perdendo muitos nu- trientes importantes. Peca uma indicacdo para um nutricionista, eles so espe- cialistas nisso. Tentei resumir o maximo de informagées essenciais sobre a alimentagao e sele- tividade alimentar no TEA. Espero ter contribuido para que mais crianc¢as possam melhorar sua alimentacao a cada dia. E para que as familias tenham esperancas e protagonismo no trata- mento de seus filhos.

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