A Poética de Hilda Hilst - Aula 1

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A POÉTICA DE

HILDA HILST

Leitura Guiada de “Roteiro do


Silêncio”
com Aline Aimée
• Publicado em1959;
• Publicado em1959;
• 4º livro da autora;
• Publicado em1959;
• 4º livro da autora;
• 1 prólogo e 3 partes;
• Publicado em1959;
• 4º livro da autora;
• 1 prólogo e 3 partes;
• 33 poemas;
• Publicado em1959;
• 4º livro da autora;
• 1 prólogo e 3 partes;
• 33 poemas;
• Nova fase na poesia de HH.
Dois temas:
• Mal-estar;
• Silêncio.
PRÓLOGO
Os amantes no quarto.
Não há silêncio bastante Os ratos no muro.
Para o meu silêncio. A menina
Nas prisões e nos conventos Nos longos corredores do colégio.
Nas igrejas e na noite Todos os cães perdidos
Não há silêncio bastante Pelos quais tenho sofrido:
Para o meu silêncio. O meu silêncio é maior
Que toda solidão
E que todo silêncio.
(p.81)
CINCO ELEGIAS:

• “É tempo de parar as confidências”


• Elogio do silêncio.
CINCO ELEGIAS: Lamentos
• Incomunicabilidade, incompreensão;
• Movimentação inútil, cansaço;
• Farsa, influência;
• Desejo de mudança, de simplicidade e
de estabilidade;
• Desejo de calar o sentido.
PRIMEIRA Resolveu:
(p.83-4) Fazer parte da paisagem
E repensar convivências.
Teus esgares, de repente, Em vão tenho procurado
Teus gritos A glória das descobertas.
Quem os entende? Em vão a língua se move
E todos os teus ruídos Trazendo a tona segredos
Teus vários sons e mugidos Em vão nos locomovemos.
Quem os entende? Para onde pés e braços?
Até quando estas andanças
E foi assim que o poeta E até quando estes passos?
Assombrado com as ausências
Distantes os hemisférios Vestígios de madrugada Depois as visões, as crenças
E as relíquias da memória. Diante dos olhos abertos. Algumas falas a sós
Tão distante minha infância Claridades, esperanças, Premeditadas vivências
Pudor, beleza, invenção Em tudo a cor e a vontade Graves temores na voz.
E o ouro da minha trança De ver além das distâncias.
Não teve sequer canção. Era ou não
Cresci tão inutilmente Abrasada adolescência?
Quando devia ficar
Debaixo das laranjeiras (p.83-4)
À sombra dos laranjais.
Cresci, elegi palavras
Qualifiquei os afetos.
MODERNIDADE:

• Concepção progressista do tempo;


• Consciência do efêmero, aceleração, instabilidade;
• Fragmentação, incompletude;
• A narrativa perde espaço para a informação;
• Valorização do novo e do progresso.
“O paradoxo mais íntimo da modernidade é o fato de que a
paixão do presente, à qual ela se identifica, deva também
ser compreendida como um calvário.”

(Antoine Compagnon. Os cinco paradoxos da modernidade.)


“Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no
entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é
que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em
outras palavras: está a serviço da informação.”

“O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da


experiência. O menor sussurro nas folhagens o assusta. Seus
ninhos — as atividades intimamente associadas ao tédio — já
se extinguiram na cidade e estão em vias de extinção no
campo. Com isso, desaparece o dom de ouvir, e desaparece a
comunidade de ouvintes.”
(Walter Benjamin. “O Narrador”, em Magia e Técnica, Arte e Política)
TERCEIRA Rigores que vêm da terra
(p. 85-6) Lirismos que vêm do mar.
Auroras imprevisíveis
As coisas que nos circundam Entre Platão e Plutão.
(Na aparência desiguais) Entre a verdade e os infernos
Conservam em suas essências Dez passos de claridade
Ai, aquela mesma e triste Dez passos de escuridão.
Parecença. Consinto que me surpreendas,
Difícil é escolher Dizendo palavras densas.
Entre viver e morrer. O não dizer é o que inflama
Difícil é o escutar-se E a boca sem movimento
E ao mesmo tempo escutar É o que o torna o pensamento
Lume
Cardume E sendo assim continuo
Chama. Meu roteiro de silêncio
Não tenho tido descanso Minha vida de poesia.
Do falar de quem ama.
Amor é calar a trama. (p. 85-6)
É inventar! É magia!
As palavras engenhosas
E os teus dizeres do dia
À noite não têm sentido
Quando arquiteto a elegia.
“A comunicação alcança sua velocidade máxima ali onde o igual responde ao igual,
onde ocorre uma reação em cadeia do igual. A negatividade da alteridade e do que é
alheio ou a resistência do outro atrapalha e retarda a comunicação rasa do igual. A
transparência estabiliza e acelera o sistema, eliminando o outro ou o estranho.”

“Está comprovado que uma maior quantidade de informações não leva


necessariamente à tomada de decisões mais acertadas. A intuição, por exemplo,
transcende as informações disponíveis e segue sua própria lógica. Hoje, por causa da
onda crescente e até massificante de informações, está se encolhendo cada vez mais a
capacidade superior de juízo. Muitas vezes um minus de informação ocasiona um plus.
Não é raro que a negatividade do abandonar e do esquecer tenha um efeito produtivo.
A sociedade da transparência não tolera lapsos de informação nem lapsos visuais, mas
o pensamento e a inspiração necessitam de um vazio.”

(Byung-Chul Han. A sociedade da transparência)


SONETOS QUE NÃO SÃO
“Sou eu que a mim mesma me persigo”

• Dos sete poemas, dois não são sonetos;


• Poemas sobre identidade;
• Aflição quanto a ser;
• Desejo de ser outra ou de ser indefinida;
• O amor e o desejo de transformá-lo.
I
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
Aflição de ser eu e não ser outra. E sendo água, amor, querer ser terra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela (p.90)
E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.


Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra


E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
VI
Atormenta-me a vida de poesia
De amor e medo e de infinita espera.
Tenho te amado tanto e de tal jeito E se é que te amo tanto mais do que devia
Como se a terra fosse um céu de brasa. Não sei o que se deva amar na terra.
Abrasa assim de amor todo meu peito
Como se a vida fosse voo e asa (p.91)

Iniciação e fim. Amo-te ausente


Porque é de ausência o amor que se pressente.
E se é que este arder há de ser sempre
Hei de morrer de amor nascendo em mim.

Que mistério tão grande te aproxima


Deste poeta irreal e sem magia?
De onde vem este sopro que me anima
A olhar as coisas com o olhar que as cria?
“Derrubar uma barreira é, em si, algo de atraente; a ação proibida adquire
um sentido que não tinha antes, quando um terror, ao nos afastar dela,
cercava-a com o halo da glória. ‘Nada’, escreve Sade, ‘contém a
libertinagem... a verdadeira maneira de espalhar e multiplicar os desejos é
querer lhe impor limites’.”

“De uma maneira fundamental, é sagrado o que é objeto de um interdito. O


interdito que designa negativamente a coisa sagrada não tem só o poder de
nos dar — no plano da religião — um sentimento de medo e terror. Este
sentimento transforma-se em última instância em devoção; transforma-se
em adoração.”

(Georges Bataille. O erotismo.)


“Há pessoas que me falam: ‘É preciso ter os pés na terra’; ‘O seu texto
não tem os pés na terra’, coisas assim. Mas o que significa isso de ter os
pés na terra? Será que eles querem dizer que é necessário estar
‘antenada’ com a terra? Aí fico pensando que é melhor ter os pés na
superfície esplêndida do cérebro; é estar atento à poesia que existe em
tudo e que nem sempre é claramente compreensível. Na poesia, na obra
de arte, há uma terra de ninguém, cantos obscuros que para serem
iluminados necessitam de sensibilidades ‘antenadas’ à nossa. Daí tantos
poetas e escritores demorarem muito para serem compreendidos. Um
Rimbaud ou um Joyce, por exemplo, estão nesse caso. Porque é inútil
ficar dizendo que um poeta, um escritor precisam ser naturais, uma vez
que eles são diferentes, mais atentos, e captam coisas e estados
emocionais que os outros não veem ou não sentem. Porque sabem que
em tudo há sacralidade.”

(Hilda Hilst em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em 1975)


DO AMOR CONTENTE E MUITO
DESCONTENTE
“Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito.”

• Incomunicabilidade;
• Tragédias, tristezas, desencantos;
• Medo, desilusão;
• Cansaço, ruído;
• O amor e o desejo de transformá-lo.
4 Como me lês
Ou frágil e inexato
(p.99) Como te vês.
Falemos do amor
Falemos do amor, senhores, Que é o que preocupa
Sem rodeios. Às gentes.
[Assim como quem fala Anseio, perdição, paixão,
Dos inúmeros roteiros Tormento, tudo isso
De um passeio.] Meus senhores
Tens amado? Claro. Vem de dentro.
Olhos e tato E de dentro vem também
Ou assim como tu és A náusea. E o desalento.
Neste momento exato. Amas o pássaro? O amor?
Frio, lúcido, compacto
Tudo isso tem raiz, senhor,
O cacto? Ou amas a mulher Na benquerença.
De um amigo pacato? E é o amor ainda
Amas, te sentindo invasor A chama que consome
E sorrindo O peito dos heróis.
Ou te sentindo invadido E é o amor, senhores,
E pedindo amor. (Sim? Que enriquece, clarifica
Então não amas, meu senhor) E atormenta a vida.
Mas falemos de amor E que se fale de amor
Que é o preocupa Tão sem rodeios
Às gentes: nasce de dentro Assim como quem fala
E nasce de repente. Dos inúmeros roteiros
Clamores e cuidados De um passeio.
Memórias e presenças
17 Tive casa e jardim.
E rosas no canteiro.
(p.109) E nunca perguntei
Ao jardineiro
As coisas que procuro
Não têm nome. O porquê do jasmim
A minha fala de amor — Sua brancura, o cheiro.
Não tem segredo.
Queiram-me assim.
Perguntam-me se quero Tenho sofrido apenas.
A vida ou a morte. E o mais certo é sorrir
E me perguntam sempre Quando se tem amor
Coisas duras. Dentro do peito.
“Afirmamos que a descoberta de que o amor sexual (genital)
proporciona ao indivíduo as mais fortes vivências de satisfação, dá-
lhe realmente protótipo de toda felicidade, deve tê-lo feito continuar a
busca da satisfação vital no terreno das relações sexuais, colocando o
erotismo genital no centro da vida. Prosseguimos dizendo que assim
ele se torna dependente, de maneira preocupante, de uma parte do
mundo exterior, ou seja, do objeto amoroso escolhido, e fica exposto
ao sofrimento máximo, quando é por este desprezado ou o perde
graças à morte ou `a infidelidade.”

(Sigmund Freud. O mal-estar na civilização.)


FORMA:
• Familiaridade;
• Estabilidade;
• Atualização de várias tradições.
“Rituais podem ser definidos como técnicas simbólicas de
encasamento. Transformam o estar-no-mundo em um estar-em-casa.
Fazem do mundo um local confiável. São no tempo o que uma
habitação é no espaço. Fazem o tempo se tornar habitável. Sim,
fazem-no viável como uma casa.”
“Poemas são cerimônias mágicas da linguagem. O princípio poético
restitui à linguagem o desfrute, na medida em que quebra
radicalmente com a economia da produção de sentido. O poético não
produz. A poesia é, por isso, uma ‘insurgência da linguagem contra
suas próprias leis’ que servem à produção de sentido. Nos poemas a
gente desfruta da própria linguagem.”

(Byung-Chul Han. O desaparecimento dos rituais.)


Encasamento na forma poética:
• Rimas e rimas internas;
• Anáfora (repetição dos versos
iniciais);
• Repetição de motivos;
• Musicalidade;
Movimento paradoxal:
• Efêmero x estável;
• Silenciar x falar;
• Ignorância x criatividade;
• Frustração amorosa x erotismo do
ausente.
Antíteses e paradoxos:
• Silêncio, na anulação dos contrários:
Falência da linguagem;
• Plenitude de sentidos: silêncio como
o espaço das possibilidades do ser.
“A poesia conduz ao mesmo ponto como cada forma
do erotismo; conduz à indistinção, à fusão dos objetos
distintos. Ela nos conduz à eternidade, à morte, e pela
morte, à continuidade: a poesia é a eternidade. É o mar
partido com o sol.”

(Georges Bataille. O erotismo.)


MUITO OBRIGADA!

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